quinta-feira, 2 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14825: Memória dos lugares (300): Rio Cacheu, o meu rio...Ia-me engolindo, em 1964, mas continuei sempre a gostar dele. (António Bastos, 1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem, 1964/66)


Foto nº 1

Guiné > Região do Cacheu > Rio Caboiana > 1964 > "Um afluente do Cacheu,  Coboiana, onde íamos lá muitas vezes fazer em psico... O "Pecixe" fazia o transporte de civis do Cacheu para S. Domingos... 

[Ou não será antes o Rio Grande de São Domingos, afluente do Rio Cacheu, margem direita ? A região ou regulado chama(va)-se Caboiana, e não Coboi...ana; na margem esquerda há outro rio, o Churro, e também o Rio Lenhe e outros mais pequenos... vd. aqui carta de São Domingos [Cacheu];  no nosso blogue há vários postes em que aparece o topónimo Coboiana, Coboiana-Churro, mas temos que corrigir... Não consigo localizar nenhum Rio Caboiana, muito menos Coboiana... Por mor da verdade e do rigor, temos que esclarecer e corrigir este lapso... Os nossos cartógrafos não brincavam em serviço, e é bom que se diga que prestaram um alto serviço científico e cultural ao povo da Guiné-Bissau, cartografando ao milímetro todas aquelas terras, do Cacheu ao Cacine... Ainda hoje estas cartas são altamente cobiçadas por muita boa gente!... Para nós, amigos e camaradas da Guiné,  são um extraordinário auxiliar de memória... Já há muito que nos teríamos perdido nos labirintos de memória sem estas preciosas cartas... Vd. também cartas de Pelundo e Sedengal]





Foto nº 2

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1965 > Em Farim, num zebro...


Foto nº 3

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1964 > "Um mergulho no Cacheu", diz a legenda nas costas da foto...



Foto nº 4

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1964 > Um banho à "leão"...




Foto nº 5

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > 1966 > No "barco turra", de regresso a Bissau, em fim de comissão...


Fotos (e legendas): © António Bastos (2015). Todos os direitios reservados [Edição: LG]


1. Mensagem, de 30 de junho último, enviada pelo António Paulo Bastos (ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66):


Boa tarde, companheiro Luís.

Respondendo à nossa sondagem desta semana... O meu rio na Guiné é o Cacheu.

Em 1964, ele ia me engolindo mas continuei sempre a gostar dele.

A 1ª foto é de um afluente do Cacheu é o Rio de Coboiana, onde íamos lá muitas vezes em psico.

As outras estão identificadas.

Um abraço. 

António Paulo Bastos

Pel Caç 953 (1964/66)
Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 1 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14823: Memória dos lugares (297): O Rio Geba e o "barco turra", a caminho de Bissau, no dia em que o homem chegou à lua (20 de julho de 1969) (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

Guiné 63/74 - P14824: Fotos à procura de... uma legenda (57): Evacuação do Uam Sambu, soldado do Pel Caç Nat 52, gravemente ferido em 1/1/1970: quem era a tripulação da DO 27 ? (Miguel e Giselda Pessoa / Rosa Serra)


Foto nº 1

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1 de janeiro de 1970 > Uma enfermeira paraquedista prepara o moribundo Uam Sambu para a evacuação para o HM 241... O camarada, de costas, com o camuflado todo ensaguentado é o Mário Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52.  À saída da Missão do Sono, em Bambadincazinho, nas imediações (menos de 1 km) do quartel de Bambadinca (, onde ficava todas as noites um pelotão "emboscado"), o Sambu foi vitíma de um grave acidente com arma de fogo que lhe custou a vida. Presumivelmente ele já não chegou com vida ao hospital, face ao gravíssimo prognóstico feito logo pelo médico do batalhão, o Vidal Saraiva.

A enfermeira, de costas, usa um pulseira no braço do lado esquerdo.


Foto nº 2

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1 de janeiro de 1970 > Outro pormenor dos primeiros socorros prestados ao Sambu antes de ser evacuado. À esquerda do Beja Santos, sob a asa da DO 27, com a mão direita à cintuta, em pose expectante, parece-me  ser o fur mil enf da CCAÇ 12, o meu amigo João Carreiro Martins, de quem não tenho notícias há uns anos.Assinalado com um círculo a amarelo, está o piloto da DO 27, ujm jovem alferes.


Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


Capa do livro, "Nós, enfermeiras paraquedistas",
de que a Rosa Serra foi a coordenadora
ou editora literária (**)
1. A propósito das fotos acima, já publicadas noutro poste (*), pedimos ao Miguel Pessoa, à Giselda e à Rosa Serra, para tentar identificar a tripulação da DO 27, o piloto e a enfermeira paraquedista, que vieram fazer a evacuação:

Assunto: Fotos com a evacuação do Uam Sambu


Miguel:

Olha, pede à Giselda e à Rosa Serra para verem estas fotos... Há uma enfermeira paraquedista, de costas, debruçada sobre um soldado do Beja Santos. o Uam Sambu, que vai morrer a caminho de Bissau...Foi o primeiro e único morto do dia 1/1/1970 no TO da Guiné...

O camuflado dela era diferente dos nossos... Além disso, usa uma pulseira no pulso esquerdo, talvez de prata, e talvez manufatuara no ouruves de Bafatá,,,

Foi um estúpido acidente, ali perto do quartel de Bambadinca... O ferido veio às costas do Beja Santos...

Outros pormenores: há um alferes, com cara de puto, de perfil, do lado esquerdo da DO... Vê se consegues identificar a malta da FAP, sobretudo a enfermeira paraquedista. (...)


PS - Estive ontem, na Lourinhã com os teus amigos paras do BCP 12... Tive uma grande conversa com o maj gen PQ Hugo Borges, amigo do António Estácio, e que já esteve connosco há dois anos, em Mionte Real, no encontro nacional da Tabanca Grande. Também lá estava, a meu lado, o maj gen PQ Avelar de Sousa, o cor PQ Gaspar da Chirta e mais outros oficiais, sargenrtos e praças do BCP 12, ligados à Associação de Paraquedistas Tejo Norte... Tudo rapaziado do teu tempo. Falei também com o ten gen imf  ref Jorge Manuel Silvério, do exército (n. 1945), e que segue o nosso blogue (embora só tenha feito serviço em Moçambique e em Angola)... É meu conterrãneo mas só o conhecia de vista. O pretexto foram os 10 anos do monumento aos mortos da Lourinhã na guerra colonial.


2. Resposta da Rosa Serra, por intermédio do Miguel e da Giselda:


[, foto à esquerda, a Rosa Serra, graduada em alferes;  integrou o 6.º Curso de Enfermeiras Pára-quedistas efectuado em 1967; devido a um acidente no decorrer da sua preparação, apenas veio a completar o curso em Março de 1968, tendo sido então graduada em Alferes:; passou por diversos teatros de operações:  BA4, na Terceira/Açores, em 1968 e 1972; Guiné, BCP12/Bissalanca, em 1969; Angola, BCP21/Luanda, em 1970; Tancos/RCP, em 1971; Moçambique/Mueda, em 1973; terminou o seu contrato em março de 1974; faz parte da nossa Tabanca Grande desde 25/5/2010].


Date: 2015-07-01 1:19 GMT+01:00
Subject: Re: Fotos com a evacuação do Uam Sambu


Boa Noite Miguel

Eu não sei quem é . Se a data estiver certa eu tenho a certeza que eu estava de serviço, pois tenho outras fotos na Base, nesse dia de ano novo escrito nelas.

Por um lado pareço eu mas não me lembro de alguma vez ter usado uma pulseira no punho esquerdo como mostra na foto. Logo que possa hei-de comparar com outras tentando ver semelhanças. Se não for eu não estou a ver quem seja com aquele estilo de costas e cabelo.

Tenho pena mas não consigo ajudar muito mais. Quando consultar as fotos da Guiné, que estão muitas fora de sitio com a história do livro e que ainda não as organizei, direi alguma coisa. (***)

Beijinhos para vocês e vou dormir que para mim já é tardíssimo. Rosa

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14806: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte III: O grave acidente com arma de fogo que vitimou o Uam Sambu, do Pel Caç Nat 52, na manhã de 1/1/1970

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14823: Memória dos lugares (299): O Rio Geba e o "barco turra", a caminho de Bissau, no dia em que o homem chegou à lua (20 de julho de 1969) (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > 20 de julho de 1969 > Efeméride: no dia que o homem chegou à Lua, eu descia o rio Geba (Bambadinca-Bissau, com passagem no célebre Mato Cão e depois na não menos temível Ponta Varela, a seguir ao Xime)...

Era um barco fretado para levar material usado da tropa. Estivemos parados várias horas: primeiro por causa da maré, depois devido a avaria no motor do barco só resolvido (desenrascado) com uma peça sacada dum carro que seguia no barco para sucata. 

Viagem inesquecível, até ao fim da minha vida!



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel &gt > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > 20 de julho de 1969, dia em que o homem chegou à lua... O Valdemar vai a caminho de Bissau, num barco civil, daqueles a que chamávamos, depreciativamente, "barco turra"...


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Para o Valdemar Queiroz o rio da sua tabanca só podia ser... o Geba (*).  Talvez mais o "estreito" que banhava a lindíssima e pacífica Contuboel do que o "largo", do Xime a Bissau... Mas quem vinha de Bambadinca, também ia lá muito descontraída: as curvas e contracurvas do rio e a passagem por Mato metiam respeitinho... e obrigavam a montagem de segurança por nossa parte.

A propósito da nossa sondagem, reenviou-nos estas fotos que já tínhamos publicado há um ano e tal (**).

O Valdemar Queiroz também viajou de LDG,  Geba abaixo, Geba acima... Quando foi para Contuboel (via Xime - Bambadinca - Bafatá), onde funcionava um Centro  de Recrutamento Militar... E mais tarde, quando levaram os seus "recrutas" (, pessoal do recrutamento local  a quem estavam a dar instrução militar), até Bissau para fazer o juramento de bandeira...Ele não pode precisar a data... Diz que foi "uns meses antes" da tal viagem no "barco turra", que as fotos documentam...

Desta vez a LDG partiu de Bambadinca, o que não era invulgar... "Na LDG encontrei um marinheiro conhecido de Arroios (Lisboa) e saboreei uma boa posta de peixe cozido. Quase todos os nossos soldados nunca tinham saído da zona do Gabu ou de Bambadinca. Estranharam muito. Ficamos em Brá e eles juraram bandeira no Estádio Sarmento Rodrigues com grande entusiasmo e com um empolgante discurso do Spínola."

Ora sabemos, meu caro Valdemar,  que o  juramento de bandeira dos nossos soldados do recrutamento local, que foram incorporados nas nossas duas companhias (CART 2479/CART 11 e CCAÇ 2590/CCAÇ 12), se realizou-se em Bissau em 26/4/1969, na presença do Com-chefe.  As nossas duas futuras companhias faziam parte da chamada "nova força africana" que estava então em formação e era muito acarinhada por Spínola...

Portanto, a viagem de LDG deve ter sido na véspera do juramento de bandeira ou por esses dias... 

Na história da CCAÇ 12, lê-se que os quadros da CART 2479 [futura CART 11 e depois CCAÇ 11] já tinham dado a instrução básica às  nossas praças africanas, "de 12 de Março a 24 de Maio, em Contuboel"... Pelo meio meteu-se a cerimónia do juramento de bandeira.

E continua o Valdemar: "Por lá ficámos, uns dias, a fazer seguranças na região, sem se saber a razão. Com eles a estranharem muito a zona, por não a conhecerem, ao ponto de estarem sempre, quando ficávamos de noite, de olhos bem abertos e sentados sobre os calcanhares a dizer ‘nunca se sabe’ (...)".  (**)


Solo lunar > 20 de julho de 1969 > Peugada de Buzz Aldrin, fotografada pelo próprio, cerca de uma hora depois da saída do módulo lunar. Esta foto, tirada para estudar a mecânica do solo lunar, tornou-se um ícone da conquista espacial. A alunagem foi às 22h 17m 40s, UTC, no mar da Tranquilidade.

Na América,  é no dia 20 de julho que se comemora  a chegada do Homem à Lua. Armstrong pisou pela primeira vez o solo lunar às 22h56 (hora de Nova Iorque) do dia 20 de Julho de 1969.  Mas em Portugal eram 3h56 da manhã do dia 21 de julho... Eu estava na Guiné, teinha acabado de chegar  a Bambadinca, vindo do "oásis" de Contuboel, há dois ou três dias,...   Tinha 1 mês e 3 semanas de Guiné...  E confesso que  não dei por nada,,, O nosso camarada Rui Felício, esse,  estava em Samba Cumbera, e diz que era domingo... Ah!, e lá não havia televisão (***)... (LG)

Imagem: Fonte: NASA (original upload; ALSJ (AS11-40-5877))
Autor:  NASA / Buzz Aldrin, Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipedia > Apollo II

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14821: Memória dos lugares (296): Ganjola e o Rio Cumbijã (ex-alf mil, João Sacôto, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)

(**) Vd. poste de 3 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12790: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte IV): Passaram os quatro primeiros meses... Em Contuboel, ainda longe da guerra...

(***) 1 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10313 Efemérides (108): No dia em que o primeiro homem pisou a lua... Neil Armstrong (1930-2012), um herói do nosso tempo, visto de Samba Cumbera, tabanca fula a sudoeste de Galomaro, longe do Vietname, a 400 mil km de distância do nosso satélite (Rui Felício / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P14822: Efemérides (193): Lourinhã, 28 de junho de 2015: comemoração dos 10 anos do monumento aos combatentes do ultramar - Parte I


Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local


Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local > Lápide com os nomes dos cinco combatentes que psuieram mãos á obra, possibilitando a construção, com o apoio da autarquia local, do monumentos aos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial.


Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local >  A antiga comissão  posando para a fotografia, com o presidente do município, engº João Duarte: da esquerda para a direita: Jaime Bonifácio Marques da Silva (Seixal - Lourinhã); Adílio Braz F. Fonseca (Ribamar - Lourinhã); João M. Rodrigues Delgado (Vila - Lourinhã); João Duarte (CM Lourinhã): José F. Picão Oliveira (Vila -Lourinhã); e José M. Bonifácio da Silva (Seixal - Lourinhã).  (Entre parêntesis, a sua localidade de nascimento)...



Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local > A antiga comissão  posando para a fotografia: da esquerda para a direita: Adílio Braz F. Fonseca (Ribamar - Lourinhã); José M. Bonifácio da Silva (Seixal - Lourinhã);  João M. Rodrigues Delgado (Vila - Lourinhã);  José F. Picão Oliveira (Vila -Lourinhã); e  Jaime Bonifácio Marques da Silva (Seixal - Lourinhã)... (Entre parêntesis, a sua localidade de nascimento)...


Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local > Representação da Associação de Paraquedistas da Ordem dos Grifos63, criada em 1998, com sede em Vila Nova da Barquinha. [Têm página no Facebook].



Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local > Porta-estandartes de outras associações: fuzileiros, comandos, paraquedistas...


Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local > Contámos pelo menos oito associações representadas na cerimónia.



Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local > Um ten gen ref, lourinhanense, Jorge Silvério... E um capitão de abril. Nasceu em Ribamar, em 1945... Fez comissões em Moçambique e Angola. Só o conhecia de vista. Disse-me que gosta de visitar o nosso blogue. Tem uma pequena intervençãoi nesta cerimónia que gravei em vídeo.



Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local >  Um convidado especial, homenageado pela AVECO e pelo município da Lourinhã: o ten cor inf ref, Marcelino da Mata.



Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 28 de junho  de 2015 > Comemoração dos 10 anos da construção do monumento e homenagem à comissão organizadora local > O  António Basto, da vice-presidente AVECO (*), foi mais uma vez o indispensável, prestável e eficente mestre da cerimónia.

Fotos (e legendas) : © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Foi há 10 anos, em 26 de junho de 2005, que foi inaugurado, na Lourinhã, o monumento aos combatentes do Ulramar. Um dos elementos da comissão organizadora, o nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro Jaime Bonifácio Marques da Silva,  antigo oficial miliciano paraquedista, já aqui explicou, há dois anos atrás,  o "significado hstórico e pedagógico" desta patriótica iniciativa (**).

Dez anos depois, a AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste, que tem sede na vila da Lourinhã, e as autarquias locais (com destaque para a Câmara Muncipal da Lourinhã e a União das freguesias de Lourinhã e Atalaia) quiseram homenagear os cinco lourinhanenses, felizmente ainda vivos, antigos combantentes, que formaram a comissão organizadora original. São eles, por ordem alfabética, (i)  Adílio Braz F. Fonseca (natural de Ribamar - Lourinhã); (ii) Jaime Bonifácio Marques da Silva (natural de Seixal - Lourinhã); (iii) João M. Rodrigues Delgado (natural da vila da Lourinhã);  (iv) José F. Picão Oliveira (natural da vila de Lourinhã); e (v) José M. Bonifácio da Silva (natural de Seixal - Lourinhã). (***)

O encontro contou com a presença de largas dezenas de uma centena de antigos combatentes,  dos três ramos das forças armadas, e de diversas associações,  oriundos de diferentes partes do país, da Covilhã a Oeiras,   incluindo sócios e dirigentes (atuais ou antigos) da Associação de Paraquedistas Tejo Norte, com sede em Oeiras: maj gen  PQ Hugo Borges (que é ou já presidente da direção), maj gen PQ Avelar de Sousa (que é ou já foi presidente da assembleia geral),  cor PQ Gaspar da Chica (que é ou já foi tesoureiro).

Esteve também presente na cerimónia o ten gen inf ref, Jorge Silvério, lourinhanense, tal como há 10 anos atrás na inauguração do monumento.

O encontro começou por volta das 9h30 com a concentração e receção dos convidados junto ao monumento dos combatentes, na Lourinhã, no Largo António Granjo.  Seguiu-se, depois, missa de acção de graças celebrada na lindíssima de igreja do Castelo, do séc. XIV, de estilo gótico. Desta vez não possível, por razões de segurança,  realizar-se a prova de saltos de paraquedas no  estádio municipal local, tal como estava previsto no programa.

O convívio prosseguiu durante a tarde com um descontraído almoço, ao ar livre,   nas tasquinhas das festas populares do São João, nas imediações do estádio municipal, que este ano, e mais uma vez,  foram um grande sucesso em termos de oferta e procura.

Temos alguns vídeos (e mais fotos) que apresentaremos num próximo poste.




Lourinhã > Estádio Municipal > Festas populares do São João >Tasquinhas > 26 de junho de 2015 >  A AVECO também esteve presente... Na foto, da esquerda para a direita, (i) o Fernando Castro (presidente); (ii)  um voluntário, natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, que foi fuzileiro (, infelizmente não fixei o nome);  e (iii) o António Basto, bracarense a viver na Lourinhã  (e que,  vim eu a saber agora, foi do mesmo curso de operações especiais do nosso coeditor, camarada e amigo, Eduardo Magalhães Ribeiro).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]
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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P14821: Memória dos lugares (298): Ganjola e o Rio Cumbijã (ex-alf mil, João Sacôto, CCAÇ 617 / BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66)


Guiné  > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Cumbijã > 1965 > O ex-alf mil João Sacôto, num "momento de descontração" (1)...

[Curiosa esta piroga. usada no sul da Guiné, com estabilizador ao meio e leme à popa!... Não me recordo de ver este tipo de piroga nos rios da Guiné!...] [LG]


Guiné  > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Cumbijã > 1965 > O ex-alf mil João Sacôto, num "momento de descontração"...



Guiné  > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Destacamento de Ganjola > Rio Cumbijã > 1965 > O ex-alf mil João Sacôto, num "momento de descontração" (3)...

[Em Ganjola, na época, viva a família do velho Brandão, um "homem grande" de quem se dizia ter sido desterrado para a Guiné... Era natural de Arouca. E por lá passou, também, no destacamento de Ganjola, o meu infortunado primo José António Canoa Nogueira o primeiro lourinhanense a  morrer em combate no TO da Guiné, em 23 de janeiro de 1965;  tinha 23 anos, e era sold ap mort. Pel Mort 942 / BCAÇ 619] [LG].

Fotos (e legenda): © João Sacôto (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. João Sacôto, ex-alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66): 

[foto à esquerda, em Ganjola, 1965, tendo por detrás a LDM 309, a manobrar para atracar; 
nome completo: João Gabriel Sacôto Fernandes; Sacôto é o nome pelo qual, entre amigos e profissionalmente, é conhecido]:

(i) assentou praça em Mafra, em agosto de 1962 após dois anos de adiamento, por ele pedidos, em virtude de estar a estudar no então ISCEF (Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras);

(ii) ficou bem qualificado no curso de oficiais milicianos (COM);

(iii)  foi colocado no RI 1 - Amadora;

(iv) foi mobilizado dois anos depois, em 1964,  para a Guiné;

(v) já era casado,  com vinte e cinco anos, com uma filha que fez 2 anos exatamente no dia 8 de janeiro de 1964, data do embarque para a Guiné no T/T Quanza;

(vi) levou consigo um herói, o cão Toby, de raça boxer,  cuja folha de serviço já foi publicada;

 (vii) está hoje reformado da TAP onde foi piloto e comandante de avião (1970-1998);

(viii) em 1980, voltou à Guiné-Bissau  em "romagem de saudade";

(ix) tem página no Facebook

(x) nasceu em 1938; é tio, pelo lado materno, do nosso camarada e grã-tabanqueiro João Martins.
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Guiné 63/74 - P14820: Memórias da CCAÇ 1546 (Domingos Gonçalves) (12) - Reportagens da Época (1967): Coluna a Farim

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 18 de Junho de 2015:

Prezado Dr. Graça:
Saúde. Mais uma vez tomo a liberdade de remeter um pequeno texto que poderá ser publicado.

Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves



MEMÓRIAS DA CCAÇ 1546 (1967)

REPORTAGENS DA ÉPOCA

12 - Coluna a Farim

Dia 19 de Junho de 1967

Parti de Binta com o meu grupo de combate, e alguns nativos armados, numa escolta rotineira, como tantas outras que temos feito até Farim.
A coluna seguiu normalmente, e sem incidentes, até Canicó.
Ao atravessar essa tabanca abandonada, quando a estrada começa sensivelmente a descer, vi, não muito longe, levantar-se nos ares uma nuvem de fumo negro, e estranho.
Naquele local nada justificava o aparecimento daquele fumo.
Mandei parar a coluna de viaturas, deixei ficar metade do pessoal a manter a segurança dos camiões, e avancei pela estrada adiante, com os restantes soldados, para averiguar as causas daquele fumo insólito.

Binta, localizada na margem direita do Rio Cacheu, próximo da estrada Farim-Bigene. Vd. Carta da Província da Guiné - Escala 1:500.000

Ao fim de algumas centenas de metros, os homens que seguiam mais à frente vieram dizer-me:
- É uma viatura que está a arder.
- Uma viatura?
- Sim, uma viatura. - Confirmaram-me.

Segui adiante com bastante apreensão, e com todas as cautelas possíveis.
A dado momento começámos a ouvir gemidos, vindos ainda de certa distância.
Seguimos adiante.
O primeiro vestígio concreto de que algo de anormal se tinha passado, foi metade do pneu de uma viatura, desfeito no meio da estrada.
Algumas dezenas de metros, mais à frente, estava uma viatura, a arder.
De quando em quando, no meio do fogo detonavam munições.
Cautelosamente, fomo-nos aproximando.

Sob a viatura incendiada jazia, totalmente carbonizado, o corpo de um soldado, que só com muita dificuldade me apercebi de que era de um branco.
Ao lado da estrada, jaziam os corpos de três pretos mortos.
A gemer, desfeito em dores, encontrei o furriel H., do pelotão de morteiros, com o corpo todo coberto de pó, e desfeito pelos estilhaços.
Ali perto, escondidos entre as palmeiras, alguns nativos armados a manter a segurança.
Tropa branca, não se via nenhuma.

Depois, quando se aperceberam da nossa presença, apareceram alguns soldados brancos, bem como o alferes, comandante da coluna, que se dirigia para Binta.
O que ali estava não era uma força organizada, ou a escolta de uma coluna de viaturas, mas um grupo de homens vencidos, desmoralizados, que os turras, se o tivessem tentado, teriam dizimado, sem dificuldades, ou mesmo feito prisioneiros.
Mas ninguém decidia nada.

Perante aquele cenário, mandei avançar para junto do local, com toda a precaução, os meus soldados, que tinham ficado a guardar as viaturas, informei, via rádio, o comando do batalhão, sobre o que se tinha passado, recolhi os feridos, que mandei, de imediato, a toda a velocidade para Farim, e mandei carregar noutra viatura os cadáveres.

Entretanto, os meus homens passaram a pente fino todo o terreno à volta da estrada, e detectaram ainda uma mina anti-carro, que se fez explodir no local.
A mina que rebentou sob o rodado da viatura, bem com a que, depois, se detectou, era comandada à distância, através dum engenhoso sistema de fios.
Afinal, se eu tivesse saído de Binta alguns minutos antes, seria eu a sofrer a emboscada, e os efeitos da mina.

Entretanto, chegaram ao local os “roncos” de Farim, e um pelotão da companhia 1585, com a finalidade de verificar donde tinham vindo os turras, e efectuar a perseguição do grupo.
Quando tudo ficou resolvido dei ordem de marcha aos meus homens, e seguimos para Farim.
Regressei a Binta, fazendo a pé quase todo o percurso, e picando a estrada.
Estou, no entanto, horrorizado.
Doido.

Nunca tinha visto, nem me passava pela mente ver, um quadro humano tão horrendo, e sinistro.
Esta guerra mostra-nos todos os dias cenas diferentes, terríveis, que jamais se apagarão das nossas memórias.
Mas há momentos, que são demasiado sinistros, que escapam às leis da racionalidade, que todos preferiríamos não ter vivido.
Ainda hoje, a companhia de intervenção vai realizar uma operação, que terá por objectivo seguir o trilho que os turras deixaram no capim quando se retiraram, no fim da emboscada.
Só que, a esta hora, eles já estão bem longe, no interior do Senegal, a delirar de satisfeitos, com todo este sofrimento.
A vida não passa de uma grande loucura.

No regresso de Farim, dei escolta aos homens da secção de cinema, do Quartel-General, que vieram dar umas sessões em Binta, e em Guidage. À noite exibiram, efectivamente, um filme, mas não fui assistir. Estava ainda demasiado impressionado com as cenas reais, que de manhã tinha contemplado.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14698: Memórias da CCAÇ 1546 (1967) - Reportagens da Época (Domingos Gonçalves) (11): Buruntuma

Guiné 63/74 - P14819: Os nossos seres, saberes e lazeres (103): Tomar à la minuta (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 2 de Junho de 2015:

Queridos amigos,
O Convento de Cristo tem um polo magnético, atrai e nunca repele. Domina a cidade, é o ADN da Reconquista, do fervor das cruzadas, o alfobre da Ordem de Cristo, indo por aí fora chegamos mesmo à industrialização. E há igualmente a história que se omite ou que se encara como uma acidentalidade: as suas belas quintas, o romanço do Nabão, as capelas, o lugar de encruzilhada. E há também outra evidência, o fervor do Espírito Santo, que se irá manifestar em Julho na grandiosidade desse rio místico que dá pelo nome da Festa dos Tabuleiros.

Um abraço do
Mário


Tomar à la minuta (6)

Beja Santos


Não acredito que exista no mundo uma rotunda tão fluorescente, flamejante, mística e grandiosa como esta. E não é só a rotunda e os seus apelos aos guerreiros da Ordem do Templo que aqui vinham buscar tónus e ardor para a missão que os esperava, algures no Próximo Oriente. E depois é envolvente, a mais estranha simbiose de retábulos dourados, de prodígios da figura flamenga, nunca se viu tão desmesurada convocação do Antigo e do Novo Testamento. É por isso que vou e venho, regresso e parto, com bonomia e vivacidade, sei que há muito a aprender, até gente admiradora da cabala aqui vem fazer as suas preces, à procura de mensagens encriptadas templárias. E o que seria a vida sem este furor misterioso dos segredos templários?


Bom, nesta imagem nada há de transcendente, há mesmo para ali um escusado negrume. É só para vos mostrar como os artistas de D. João III quiseram entaipar os delírios manuelinos, não serve qualquer prédica de moral, mas fico triste como foi possível, sei lá se por pretexto religioso, por zanga de filho contra o pai, este atentado de lesa-cultura, emparedara a beleza do altissonante manuelino.


Isto de ser turista encartado tem as suas vantagens, adquire-se um bilhete sénior e é um regabofe, entra-se e sai-se sempre na mira de apanhar detalhes com luz suficiente. Foi o caso destas lápides, a construção do convento não escapou à regra das reciclagens e confesso que gosto do resultado, é assim em toda a parte do mundo. Já vi uma imponente casa senhorial inglesa construída com pedras pilhadas de abadias medievais, o efeito é surpreendente, lembra certas igrejas de Roma e os aproveitamentos dos templos imperiais. Não faz mal, a gente aprende a ler a História ao contrário, às vezes dá jeito.



À entrada do convento temos esta imagem belíssima, vibro com as cores do panejamento do Pai Celeste e a ternura com que suporta o seu Filho Unigénito. Vou deambulando, vejo túmulos em série, alguns deles encravados em nichos, o resultado é espetacular. Quem não sabe é como quem não vê, é o meu caso mas que gosto gosto, e muito. E não se discute mais.


O que aqui me atrai é o ângulo da charola, parece que se embebe à torre cimeira, e depois há o verde, a Primavera tem o dom de gerar estas luminescências, estes sombreados, até parece que a charola ganha tons púrpura, ao sol do meio-dia, fica uma charola afogueada.




E pronto, voltei à charola, agora sim tenho a luz que preciso para me deslumbrar com este arco mandado fazer pelo Rei Venturoso, é um forrobodó de cores, a seguir temos pintura da muito boa, não só a charola foi restaurada como se limpou toda a arte envolvente, esta capela parece que tem lingotes de ouro, fico enternecido com as dimensões do altar e o equilíbrio que lhe dá a imagem. Questiono se esta disposição vem assim do passado, não importa, o que estou a ver e a emoção estética é que prevalecem.


Do lado de fora está a janela do capítulo, enganei-me na hora para captar a boa luz, peço desculpa, mas há acidentes que ajudam a ver melhor aquelas nervuras que parecem puzzle e que aumentam, por ilusão ótica, a altura da sala do Capítulo. É um bonito acasalamento entre a sobriedade e a espetacularidade de nervuras tão singelas.



Chegou a hora de nos despedirmos do Convento de Cristo, um espaço muito procurado por esotéricos e cabalistas. É uma formosura sem par, está aqui alguma da melhor pedra cinzelada que se pranta no nosso território, lindas galerias e claustros, veja-se este pormenor e pergunte-se o que seria deste monumento se estivesse aprimorado de uma ponta à outra. Agora o turista desanda para outras paragens, quer captar pormenores aquém e além deste vigor transcendental templário. É só uma questão de nos pormos a caminho. Tomar é inextinguível, é uma história interminável.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior da série de 24 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14793: Os nossos seres, saberes e lazeres (102): Tomar à la minuta (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14818: Parabéns a você (930): Silvério Lobo, ex-Soldado Mecânico Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14811: Parabéns a você (929): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 30 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14817: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (IIb Parte) Em Cuntima, na fronteira Norte com o Senegal (2)

1. Conclusão da II Parte de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 20 de Junho de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489 (Cuntima), e Comando do 2.º curso de Comandos do CTIG (Brá), CMDT do Grupo Diabólicos (1965/67).


GUINÉ, IR E VOLTAR - II

Em Cuntima, na fronteira Norte com o Senegal (2)

Coluna para Farim

Viaturas prontas, sacos de areia nos lugares da frente para o condutor e acompanhante, se houvesse voluntário. Os militares, oito a dez, mais nativos com paus, sacos aos ombros, galinhas, porcos, bidões vazios, tudo a monte nas caixas das Mercedes e GMCs.
Como é que todo este pessoal teve conhecimento que havia coluna para Farim, se só ontem à noite fora informado pelo comandante da companhia que a preparasse?

À saída de Cuntima, rumo a Farim com paragem em Jumbembem

A coluna tinha-se posto em marcha de Cuntima para Farim, com uma paragem em Jumbembem para os habituais cumprimentos ao pessoal da CCav 488 e ao comandante, um jovem tenente11, chegado também não há muito tempo.

Pessoal de Jumbembem, amigo e simpático

Cerca de trinta e tal quilómetros em pouco mais de três horas, com impedimentos menores. O furriel Covas descrevera-lhe os procedimentos habituais. Largar o pessoal civil à entrada de Farim, atravessar a povoação rumo ao posto de comando do batalhão e depois como manda a cavalaria, dispor as viaturas em linha, militares dentro delas em sentido, bolsos apertados, e o comandante da coluna deveria dirigir-se para o posto de comando e apresentar-se ao Comandante do batalhão, Tenente Coronel F. Cavaleiro.
Dá licença, meu Tenente-Coronel, apresenta-se o comandante da coluna procedente de Cuntima.
Mande seguir aos seus destinos, encarregue o sargento mais antigo, o nosso alferes fica aqui, almoça connosco.
Apresentou-se aos alferes, capitães e ao major Paixão Ribeiro, 2.º comandante, quase todos com trombas de 18 meses de comissão.
Depois, à mesa, perante o silêncio geral, seguiram-se as perguntas do Tenente-Coronel Cavaleiro. E como vão as coisas por Cuntima? Quando foi a última vez que saíram para o mato? Para onde? O que aconteceu? A que horas? Quanto tempo lá estiveram? Quando foi a última vez que o vosso capitão saiu com vocês? Quando? Com quem? Nem dava tempo a engolir o arroz com frango do almoço.

O rio Cacheu na margem do lado de Farim. © Foto do Autor.

Deu as voltas todas durante a tarde, inteirou-se dos carregamentos, teriam que pernoitar em Farim, os combustíveis vindos de Bissau estavam ainda a ser descarregados.
Uma volta pela povoação, pouca coisa para ver, uma lata de anchovas e uma cerveja numa esplanada para entreter.

Homem Grande da tabanca

O rio Cacheu em Farim

Tabanca de Farim. © Foto do autor.

Onde dorme? No quarto do alferes Mealha, lá tem sempre vaga, respondeu-lhe o capitão Arriscado Nunes.
No meio do silêncio que já se sentia àquela hora, um chinfrim enorme, do quarto que lhe indicara o capitão. É ali que vou dormir?

O Mealha? Excesso, em tudo! Intelecto vigoroso, ironia cortante, um autoclismo a falar, muita cerveja, todas as noites até cair para o lado, ele e quem tivesse o azar ou a sorte de estar nas proximidades. E sempre a suar, como se estivesse a sair do chuveiro. Tudo nota vinte, uma força da natureza, concordavam todos os que com ele privavam.
Nascera com sorte, de boas famílias como então se dizia, latifúndio registado no Alentejo, espigara rodeado de mimos, criadas para quase todas as dependências da casa. Mal dera pela passagem pelo liceu, anos e cadeiras a jacto. Registada na caderneta escolar ficou a suspensão decretada pelo reitor, apesar do respeito reverencial pela família, sanção imposta pelo pai que, nessas coisas primava pelo exemplo.
No decorrer de um campeonato que metia fita métrica, a jovem professora de inglês tê-lo-á apanhado a medir o instrumento, numa cadeira lá para trás de uma turma com 31 rapazes. Corada até nos cabelos loiros, contou o Zé Russo, a professora decidira acabar ali a aula e chamar o reitor, uma medida demasiado drástica no entender de quase todos os alunos e de alguns professores.
E a aula de inglês daquele dia acabou mesmo ali. Parece ter sido este o facto mais marcante da passagem, aliás brilhante em termos de aproveitamento escolar, do Mealha pelo liceu.
O pai, advogado, da situação ainda a somar, despachou-o com uma criada, para uma casa que tinham em Lisboa, ali para os lados do Príncipe Real, naqueles anos ainda um sítio muito calmo.
Nas recomendações iniciais que o pai lhe fizera, a importância em assistir às aulas dos mestres dos direitos todos, sem esquecer claro, a brilhante cabeça do Professor Caetano, uma inteligência de agora e do futuro, que ele, Mealha, deveria ter em conta se quisesse encarreirar. As aulas, como era de prever, passaram depressa, mal deu por elas, as necessárias para medir o pulso dos professores, pedidos de esclarecimento contínuos, tudo entendido até à próxima aula, quando calhasse.
Em cinco anos tinha a licenciatura na mão que era o que o pai queria. A tropa, à espreita, mal acabou o curso, vestiu-lhe um fato zuarte, que ele, como outros, nunca vira nem em sonhos e despachou-o para a escola mais perto de casa, no caso a Escola Prática de Cavalaria em Santarém, onde deu abundantes provas de como montar a sério.

No cais da Rocha Conde de Óbidos estavam todos de escuro, a mãe, as avós, as criadas que couberam nos dois carros, todas com lenços nas mãos, as lágrimas a escorrerem, e o pai claro, comovido, uma oportunidade única na tua vida, a defesa da Pátria, os valores da civilização, foi assim que contou quem assistiu.
Acordou na Guiné sem se lembrar bem de todos os episódios da viagem, salvo uma conversa que fora obrigado a ter no navio, com o Comandante do Batalhão, conversa que não lhe correra lá muito bem. O Tenente-Coronel, militar encarniçado, homem direito e competente, discursara-lhe na cara os valores da Pátria, do Exército, da Cavalaria, até a família nomeara!
Há três dias em Bissau, novo episódio, desta vez com a participação da Polícia Militar. O Tenente-Coronel fartou-se, deve ter concluído que tinha mais que fazer.
E o Mealha continuou o seu percurso, sempre ao lado do batalhão, cervejas até cair para o lado, ele e quem o acompanhava, às vezes com as cadeiras, as mesas, as garrafas vazias, empregados, patrões, polícia militar, o que estivesse na frente. E foi assim que um oportunista, daqueles que aparecem sempre, lhe chamou Medalhas, e logo a seguir, um nome mais abrangente, Medalha com letra grande para abarcar todas.
Os três alferes que partilhavam a enorme sala que lhes servia de quarto estavam a começar mais uma noitada, eram para aí nove da noite, os dois frigoríficos a abarrotarem de líquidos, garrafas já vazias pelo chão, lençóis desalinhados, sumaúma a cair de pára-quedas, camisas desabotoadas até baixo, o Mealha só com umas cuecas, mas até ao joelho.
Cama para mim há?

Mal tinha acabado de adormecer, acordou, a cama molhada, bêbedo de cheiro a cerveja, o Mealha com sabão na cara, ó maçarico dum raio, a coluna está lá fora à tua espera.
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Nota:
11 - Fernandes Thomaz

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Javalis na estrada

A coluna estava diferente, as viaturas atestadas de farinha, vinho do Cartaxo em garrafões, leite condensado e outros líquidos, cunhetes com munições, marmelada em caixotes, latões com chouriço e outros enchidos, outros nativos com outros sacos, outras galinhas, porcos diferentes, uma ninhada acabada de ser parida. Ainda não tinha percebido bem este movimento dos civis, vêm uns para cá, vão outros para lá, mas adiante para o posto de comando, outra vez viaturas em linha, procedimentos idênticos aos da chegada.
Iam a andar bem, mais devagar, claro, até que atingiram a curva da morte, uma história que se contava em todos os lados ter-se-ia passado ali também.


De um momento para o outro sentiu-se empurrado para a berma da picada, uma fuzilaria tão grande que nem nos exercícios da carreira de tiro da Carregueira. Deu por ele deitado, a G-3 em posição, com o dedo no gatilho. Olhou em frente, a bolanha a perder de vista, saltou para o lado errado, claro, foi o que pensou.

Deixa lá ver, deve ser do outro lado, a fuzilaria em bom ritmo, pensou duas vezes, mais uma, aí foi, agachado, quase colado ao chão como lhe ensinaram nas matas de Mafra, ziguezague por entre duas viaturas até à outra margem da estrada, outra vez a G-3 em posição, olhou em frente, tudo capinado, um tronco aqui, outro além, montículos de baga-baga12 ainda pequenos. Então, onde estão os turras? Alguns soldados de pé, gargalhadas nervosas, o Furriel Covas, não é nada, alto ao fogo, não é nada, parem essa merda, porra!
Na caixa da viatura da frente, um soldado da secção do furriel Quadrado atento a todos os movimentos, terá visto uma vara de javalis a atravessar a picada e deve ter-se lembrado da fome que passou no Como.
Que grande reabastecimento, dedo fácil no gatilho, as balas a bater nas rodas das viaturas lá de trás e a resposta concludente, como ainda se ouvia. Quase tudo normalizado, rodas para substituir e um militar não ouvia nem via nada, nem queria, só a G-3, as mãos no carregador encravado, a aflição na cara, não sai, encravou-se!
Quase noite entraram em Cuntima.
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Nota:
12 - Baga-baga é o nome por que são conhecidas na Guiné as formigas térmitas, que constroem ninhos de argila, duros como pedra, com metros de altura.

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Sitató

Um dia destes vou sair com o pelotão, meu capitão, mas a outras horas, se não vir inconveniente, claro. Para onde? Para onde costumamos ir, Faquinas, Sitató, para esses lados!
Tem mas é juízo, pá, o Didi logo. Já tivemos guerra que chegasse, não precisamos de mais sarilhos! Temos tido paz aqui na zona, custou-nos muito ganhá-la. Cuidado, meu capitão!
O pessoal está cá há muitos meses, há muito tempo, já viu e já fez muita guerra. Falta-lhe pouco para regressar à metrópole. Precisa mais de quem o proteja do que gente que o meta ao barulho. Mas Cuntima, meu capitão, isto é um corredor, uma pista desimpedida para a guerrilha, para meterem minas e armas no Oio, vêem-se os trilhos pisados de fresco, passam todos os dias por eles.

A minha ideia, meu capitão? Sair daqui sem espalhafato, a uma hora diferente, permanecer na zona até eles aparecerem. Se vamos sempre para o mesmo sítio montar emboscadas, se nunca os encontramos e se o caminho está sempre pisado de fresco, só não os apanhamos se não quisermos.
Ao princípio de uma tarde daquelas, numa conversa com o Covas, escolheu-se quem deveria sair dali a uma hora. A seguir formou-se o pelotão na presença do capitão, que fez questão de assistir à partida. Vamos dar uma volta por aí, quem quer vir?
Voluntários, só voluntários, atalhou o capitão, e o pelotão todo a dizer, eu vou.
Tu, tem mas é juízo! Mas eu também quero ir, meu capitão, o soldado a insistir!
Dos furriéis só não foi um, que alegou estar um pouco febril e se calhar não tinha muito jeito para voluntário. 22 mais um guia indígena e 5 auxiliares nativos prepararam-se logo de seguida. Saíram da povoação em duas viaturas, em direcção à fronteira, logo ali. Uns minutos depois, apearam-se e internaram-se no mato, por um carreiro que mal se via, de há tanto tempo não passar ali ninguém.

Pelotão a caminho de Sitató, na fronteira com o Senegal. © Foto do autor.

Foram andando com cuidado, devagar, mais separados uns dos outros, sem grandes barulhos. Afinal, o pessoal sabe andar no mato. Avistaram a tabanca de Faquina Mandinga, abandonada há anos. Chegados perto do local onde costumavam emboscar-se, prosseguiram pelas margens do trilho, até à fronteira.
Para os lados de Sitató13, quase em frente a Koldá, no Senegal, da mata avistaram um local descampado e acertaram com um trilho todo marcado com pegadas recentes. Abrigados em arbustos e montes de baga-baga, estabeleceram uma frente em curva de cerca de 100 metros, ao longo do trilho que vinha do Senegal, com a bolanha em frente, um ângulo de visão de mais de 180 graus. Uma volta pelo pessoal para ajustar algumas posições individuais, pareceu estar tudo em ordem.
Todos na expectativa, prontos para o que desse e viesse. E dispostos a esperar, pelo menos até ao meio-dia do dia seguinte. Mas eles devem aparecer antes.
Deitou-se com a G3 ao lado, tirou do casaco a Agfa que recebera de Angra uns dias antes, para o caso de haver motivos.
Eram para aí 17, 17 e 30, quando se ouviu uma voz muito baixa dizer, atenção malta, vêm aí gajos! É agora, o coração a dizer-lhe conta comigo. No meio de um silêncio enorme, ouve-se uma culatra a ser puxada atrás, um barulho que até eles devem ter ouvido. Agora? A que propósito?
Uns tiros, uma rajada, depois uma girândola de rajadas para o descampado em frente, tudo em pouco mais de um minuto. Sacos pelo chão, gritaria, um intruso a mancar com uma bicicleta ao lado, a tentar montar para cima dela, uns tipos caídos a gemer, um nem se mexia, os valentes alentejanos pareciam que estavam a jogar rugby, todos ao monte para cima deles, para aí 5 ou 6, cada um a fugir para seu lado, seus filhos desta e daquela. Sacos, de arroz, sal e cola, duas bicicletas, um caixa com granadas, duas com munições, uma Mauser, portuguesa em tempos, livros de leitura em português e correspondência, no meio de outras tralhas. Uma pequena secção de reabastecimento do PAIGC posta fora de combate em pouco mais de meia hora.
E o trabalhão que foi pegar naqueles alentejanos e pô-los de regresso, com os prisioneiros feridos em padiolas improvisadas? Levou mais tempo a regressarem do que a irem, está bom de ver.
Pelo caminho iam fazendo perguntas aos infelizes que tinham sido apanhados, para onde tanto arroz, para família, e livros, para meninos da família aprender a ler, cola para a família também, e que família é essa? É uma família muito grande, não é?

E quem foi o artolas que puxou a culatra atrás? Quem usa Mauser14 aqui, os milícias, quem havia de ser! Meu alfero, turra vinha lá! Mas porquê, logo quando eles estavam a entrar na zona de morte?
Este sim, foi um baptismo de fogo! Era assim que gostaria que fosse sempre, apanhá-los à sorrelfa, sem darem por ela.
Avistaram Cuntima ao longe, a noite já fechada, os petromaxes acesos, e, junto ao arame farpado, militares e população civil a olharem. O capitão, ao encontro deles, então?
Eu não lhe dizia que era uma questão de horário, meu capitão?
Vamos ver, vamos ver! Vá-me dando pormenores, vamos para o posto de rádio, vá falando15.
Uma desorganização total, meu capitão. Um milícia precipitou tudo, lembrou-se de puxar a culatra da Mauser. E depois, cada um fez o que lhe deu na mona, abriram fogo, a correrem todos a monte, sem segurança nenhuma. Mesmo assim não foi mau, meu capitão.
Espera-lhe pela volta, o Didi a virar costas, quem havia de ser?
Mas a guerra, de facto, tomou conta de Cuntima. Foi como se tivessem mexido num enxame de abelhas. Uma ou duas semanas mais tarde, a outras horas, nova emboscada, e desta vez ninguém puxou a culatra antes. Depois, umas minas, a seguir um ataque a Cuntima. Nunca mais houve paz ali.

A fronteira da Guiné tinha sido riscada num mapa, era mais administrativa que outra coisa, não correspondia a nenhuma divisão real entre as pessoas ou etnias. Familiares viviam de um lado e do outro, às vezes mudavam-se com as famílias todas atrás.
Em Cuntima fazia-se muita psicossocial. O médico, um açoriano da Terceira, era um homem bom, com espírito muito prático, não protestava com as condições precárias. Era preciso, fazia-se. Sempre disposto a dar uma ajuda àquelas populações, eram sempre horas.
Mais que uma vez, o doutor Lourenço tivera que ir ao Senegal ver gente doente. A tropa conduzia-o até à fronteira, depois entregava-o aos guardas senegaleses que o acompanhavam até à tabanca.
No passado, aquela gente nunca tinha tido um apoio tão grande como agora. Ajudavam-se os nativos na construção das casas, providenciavam-se mosquiteiros, faziam-se desinfestações, limpavam-se caminhos, abriam-se outros. Nunca faltavam voluntários para ajudar. Nem precisavam de arregaçar as mangas, andavam sempre quase todos em tronco nu.
De facto, naqueles dois ou três anos, desde que o PAIGC tinha iniciado a guerrilha, estava a fazer-se mais por aquela gente do que nos outros anos todos para trás. Isto, se se levasse em conta o que se via feito até então. Quase nada. A guerra tem destas coisas.
A companhia militar estacionada em Cuntima, Colina do Norte como era agora chamada, tinha um efectivo a rondar os 150 homens, a esmagadora maioria já a meia dúzia de meses de regressar à metrópole.
Alguns, muito poucos, estavam lá em rendição individual, para tapar as falhas que ocorrem sempre. Era o caso do alferes chegado há pouco mais de um mês e de outro chegado dois ou três meses antes.
Os outros alferes, o Didi e o Ferreira tinham partido de Estremoz com o 490.

O Didi tinha o tamanho de um português, um ar de bem-nascido, com o sotaque do Rio, muito pronunciado. Totalmente contra, dava a entender, por vezes, estar tão próximo dos guerrilheiros como das tropas que comandava. Um bom coração para as questões humanitárias, sempre pronto a ajudar, quase sempre de má vontade para tudo o que fosse acção ofensiva contra a guerrilha.
O Ferreira mantinha-se ao largo destas discussões, não se manifestava, por cansaço ou por outro motivo. Falava da namorada e da mãe, com os olhos brilhantes para as fotos ao lado da cama. Tinha ganho no Como a imagem do alferes mais operacional da companhia, os soldados falavam dele com respeito, via-se que tinha ascendente.
Os outros dois alferes da Companhia que com eles tinham partido de Estremoz, já estavam na metrópole, ambos evacuados, o Sequeira por doença incapacitante e o outro, o Monteiro, atingido por estilhaços de um engenho explosivo que obrigaram à evacuação para o Hospital Militar da Estrela.
O alferes que estava a substituir o camarada evacuado para a Estrela, acreditava no Império, em Portugal do Minho a Timor. De mãos dadas com as populações, de arma na mão contra os que se opunham.
Impensável, não via como podiam ter entre eles quem pensasse como o Didi. Tanto choque de pontos de vista em tão pouco tempo, a guerra deixou de ser motivo de conversa, evitavam-na. Limitaram-se a conviver o resto do tempo que permaneceram juntos. Quando, por qualquer motivo, um deles insistia na conversa da guerra, o outro, como se tivessem combinado antes, punha-se a falar do Benfica e do Sporting ou então ia dar uma volta.

O capitão, um pouco sobre o alto, magro, algo distante, olhar desconfiado, deixava as coisas andarem. Via-se nele o desejo de acabar a comissão o mais depressa possível, sem mais chatices, o que não era nada fácil com um Tenente-Coronel daqueles.
O doutor Lourenço falava dos doentes e de Angra, a cidade onde nascera. Agora que tinha ali um recém-chegado da sua terra puxava-lhe pela língua. Conheceste o quê? O Monte Brasil e as Lajes, claro, a Praia da Vitória, a Terra Chã, a Serreta, os Biscoitos, e que mais? Visitaste o Palácio dos Capitães-Generais, o Outeiro da Memória, a Igreja da Misericórdia, os Impérios, o Algar do Carvão? E que gente conheceste? Em que café paravas, ora diz lá! No Internacional do Mário?
Horas de conversa, perguntas atrás de perguntas que lhe serviam para matar saudades da sua ilha. E a namorada terceirense, que tal? Não tens? Então de quem são as cartas que vem de Angra? Como sei? Ora, pelo endereço, calhou ver, só isso, mais nada. Olha, por acaso conheço a família dela, e a ela também, cheguei até a ver-lhe a garganta!
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Notas:
13 - Um dos corredores que a guerrilha utilizava para Canjambari e daí para o Oio
14 - Espingarda de repetição, de origem alemã
15 - Nas regiões fronteiriças, o adversário procura pôr-se a coberto da acção das NT refugiando-se nos territórios vizinhos. Uma emboscada montada nas cercanias de Cuntima, foi bem sucedida e causou dois mortos e vários feridos confirmados. Os bandoleiros fugiram para a República do Senegal, donde flagelaram as NT. Nesta acção foi capturado armamento, munições, material diverso e abastecimentos.’ Do Boletim n.º 6, do E.M.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14814: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (IIa Parte) Em Cuntima, na fronteira Norte com o Senegal (1)