terça-feira, 16 de agosto de 2005

Guné 63/74 - P152: Bibliografia (1): Informação & Propaganda: a Miss Guiné-72 (Marques Lopes)

Texto do A. Marques Lopes, membro da tertúlia de ex-combatentes da Guiné:

Caros amigos:

Um senhor, de seu nome José Manuel Pintasilgo (filho da Maria de Lourdes não era certamente), escreveu um livro intitulado Manga de Ronco no Chão, referindo-se a umas viagens feitas na companhia do Spínola pelo chão manjaco.

O livro saíu em 1972 sem indicação da editora, normal em muitas obras encomendadas directamente pelo regime (1). Dou-vos esta peça maravilhosa sobre a eleição da miss Guiné. Vocês conheceram estas bajudas?... Eu não!

Abraços
Marques Lopes


2. Extractos de : Pintasilgo, J. M. (1972) - Manga de Ronco no Chão.

«Do aeroporto de Biassalanca a Bissau é preciso agora escolta militar... Aquilo está mal!...". Chegaram a este extremo de mentira os boatos postos a correr pelo inimigo na retaguarda nacional, que é o território metropolitano.

De Biassalanca a Bissau anda-se tão livre e descansadamente como da Portela ao Areeiro, na entrada de Lisboa!

No entanto, e apesar de ser domingo o dia da nossa chegada, deparou-se-nos uma «guerra» em Bissau, nesta pacata, provinciana e por isso mesmo muito nossa, muito portuguesa Bissau, onde agora é hábito (o eterno bom humor português...) chamar «guerra» a qualquer acontecimento... Todos têm (e sempre) uma «guerra» a resolver!

Em pleno domingo, foi, na verdade, o rescaldo de uma «guerra» ainda recente.

Tão importante o acontecimento se nos apresentava que nos obrigou a vestir o casaco e a pôr gravata, utensílios que tínhamos abandonado logo que o «Boeing» da TAP aterrou em solo guineense.

Legenda original: "A juventude guineense: presença e confiança no futuro, aliadas a uma indómita vontade de vencer". (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão. Lisboa: s/ed. 1972. 113).

A «guerra» fora, dias antes, a eleição da Miss Guiné-72. O rescaldo era uma cerimónia a que assistiam a eleita e as suas damas de honor: a entrega de prémios aos concorrentes do I Rali Automóvel do Grupo Desportivo dos Funcionários do Banco Nacional Ultramarino da Guiné. Cerimónia solene no salão de festas da U. D. l. B. (União Desportiva Internacional de Bissau), a que presidiu o secretário-geral da província, coronel Pedro Gomes Cardoso.

A eleição da Miss Guiné provocou, na capital da província, acalorado interesse, que atingiu o auge quando veio a notícia de que ao lado da Rosarinho Borges podia desfilar a Zaida Nogueira, sua primeira dama de honor.

A Guiné veria, assim, duas suas representantes a desfilar no Casino Estoril.

Legenda original: "As cinco jovens da Guiné que encontaram a Metrópole" (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão.Lisboa: s/e. 1972. 113).

Mas esta província — exemplo mais pujante do ecumenismo racial do Mundo Português — levou a Lisboa, além das duas concorrentes ao galardão nacional da juventude e da beleza, a segunda dama de honor, Gilda Maria, e duas «chefes de claque», Elisa Pereira e Maria de Fátima Brito e Silva.

O programa entusiasmou, logo de início, as jovens, que se viram cumuladas, por toda a parte, de provas de simpatia e amizade.

No outro sábado, na U. D. l. B., seria o baile da coroação, no qual colaborariam dois conjuntos musicais de grande agrado junto da juventude de Bissau. Foram convidadas as mais altas autoridades da província.

A 6 de Março, no avião da TAP, chegaria a Lisboa a representação da Guiné, que ofereceria no dia 8, na Varanda do Chanceler, uma recepção às outras delegações ultramarinas, às concorrentes metropolitanas e aos representantes dos órgãos de Informação. Amizade verdadeira uniu, em todas as fases desta competição, as três jovens da Guiné: três raparigas estudantes que ansiavam por chegar a Lisboa na qualidade de embaixatrizes da sua província.
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Nota de L.G.

(1) Trata-se de edição de autor. O livro foi efectivamente publicado em 1972. Pintasilgo foi director de A Época e também autor, juntamente com Handel de Oliveira e Acácio de Figueiredo, do livro Nós Não Seremos a Geração da Traição, obra onde se expõe as conclusões do polémico I Congresso dos Combatentes do Ultramar (Porto, Junho de 1973).

1 comentário:

Carlos Vinhal disse...

Como diz o editor Luís Graça, este livro, que eu tenho, é uma edição de autor, logo não sei até que ponto pode ser considerado informação e propaganda.
Respondendo à pergunta do camarada Marques Lopes, eu conheci uma das misses Guiné. Estávamos já em Bissau à espera do regresso à metrópole, fui comprar uma camisa e quem ma vendeu era nem mais nem menos que a Miss Simpatia da Guiné. E esta, hem?
Um pormenor quanto à camisa. Lembrais-vos jovens da minha idade, daquelas camisas de cor bem carregada, de enormes colarinhos redondos? Pois a minha era amarela e tudo.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira