quinta-feira, 8 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)



Águeda > Aguada de Cima > Restaurante Vidal > 2 de Março de 2007 > O Victor Tavares e o Paulo Santiago, fazendo as honras à terra e ao leitão do Vidal (passe a publicidade...). Na foto em baixo, acompanhadas da Alice (esposa do editor do blogue) e da sua mana, Ana (logo, minha cunhada) (LG).
Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Na passada 6ª feira, dia 2 de Março, tive o privilégio, a honra e o prazer de ter sido convidado pelos nossos camaradas de tertúlia Paulo Santiago e Victor Tavares para almoçar na terra deles, estando eu em viagem do Porto para Coimbra.

O encontro era em Aguada de Cima, perto de Águeda. O repasto estava marcado para o conhecido Restaurante Vidal, que serve um belo leitão feito em forno de lenha. Já lá tinha ido uma vez, no verão passado. Mas confesso que me perdi, quase no fim. Infelizmente, este país está mal sinalizado, de norte a sul, pese embora também a nabice do pendura... A motorista era a minha cara-metade.

O Paulo, que é mesmo de Aguada de Cima, jogava em casa e, recebido o SOS e tirado o azimute, lá veio, a mata-cavalos, em corta-mato, em meu socorro, com o Victor. Já chegámos um pouco para o tarde ao restaurante e eu, às quatro horas, tinha que zarpar para Coimbra, onde fui dar um seminário, de três horas, na Faculdade de Ciências e Tecnologia, no Polo Universitário II, no pinhal de ... Marrocos.
Apesar destes contratempos, matámos saudades (tinha conhecido o Paulo na Ameira, Montemor-O-Novo, no 1º encontro da nossa tertúlia, em Outubro de 2006) (2) e sobretudo tive oportunidade de conhecer, ao vivo, pessoalmente, o nosso valente Victor Tavares, ex-paraquedista e agora também autarca, mais exactamente presidente da junta de freguesia de Recardães, eleito por uma lista independente.

Paulo, deixa-me agora falar um pouco mais do teu amigo e vizinho e nosso camarada. O Victor é um digno representante dessa escola de virtudes humanas e militares que foram (e são) os paraquedistas. É sobretudo um valoroso elemento da CCP 121 que, na Guiné, entre 1972 e 1974, sofreu nove baixas mortais: seis na Operação Pato Azul (Gampará, Março de 1972) e três na valorosa 5ª coluna que, entre 23 e 29 de Maio de 1973, rompeu o cerco a Guidaje. Estes espisódios já aqui foram evocados pelo Victor, com dramatismo, autenticidade e rigor (1).

Com todo o mérito, mas também graças ao nosso blogue, o Victor foi convidado a ir, in loco, a Guidaje, reconstituir o episódio da 5ª coluna, incluindo a emboscada no Cufeu, onde perderam a vida os seus camaradas Lourenço, Victoriano e Peixoto. O convite veio do jornalista Jorge Araújo que está a fazer um trabalho de reportagem para a TVI. Anteontem, 3ª feira à noite, eles partiam para Dakar, para uma viagem de cinco dias. Em tempo recorde, tratou-se do passaporte e do visto para a entrada do Victor (e dos demais elementos da equipa).

Como devem imaginar, o Victor aceitou mais este desafio com sentido de missão, com humildade, com naturalidade (e sem se queixar do prejuízo que esses cinco dias representam para a sua vida familiar e profissional, ele que é um honesto trabalhador independente)... Na conversa que com ele tive, ao almoço, deu para perceber que ele é também um grande homem, um grande português e um grande camarada, que não se envaidece pelo seu brilhante currículo como combatente e pelo facto de ainda hoje privar com os seus antigos oficiais, incluindo aquele que foi seu comandante e que atingiu o posto de major-general (se não erro, Bação da Costa Lemos, hoje na reforma), posto esse que é dificilmente alcançável entre as tropas paraquedistas... O Victor foi e continua a ser muito respeitado pela família paraquedista, camaradas e superiores hierárquicos...

Ao Victor, só posso desejar-lhe boa viagem e bom sucesso nas diligências que o levaram de novo a Guidaje, de má memória para a CCP 121 e para todas as unidades (dos três ramos das forças armadas) que conheceram o inferno de Guidaje em Maio/Junho de 1973...

Ao Paulo e ao Victor fico em dívida com um almoço (ou melhor, quatro, já que eu levava mais três penduras, a minha mulher, Alice, mais os meus cunhados, Ana e Augusto). A amizade com a amizade se paga, e eu espero retribuir a sua hospitalidade ou na minha terra de naturalidade (Lourinhã, Estremadura) ou na minha terra de nupcialidade (Marco de Canaveses, Douro Litoral)... ou quiçá, de novo, em Aguada de Cima...

Deixem-me, por fim, fazer uma inconfidência, pouco consentânea com o meu papel de editor do blogue: isto (o blogue...) tem sido uma caixinha de surpresas, e não propriamente a Caixa de Pandora que alguns poderiam imaginar e temer que pudesse vir a ser... Tenho conhecido, directa e indirectamente, portugueses, homens e mulheres, de grande gabarito humano, moral e intelectual... Digo-o sem lisonja nem exagero: é um privilégio ter, como camaradas, pessoas como o Paulo e o Victor...
E já agora, advinhem quem estava à minha espera às 20 horas de 6ª feira, em Coimbra, na FCT/UC, no pinhal de... Marrocos ? Outro camarada fantástico, o Carlos Marques dos Santos, que me veio dar um abraço e lembrar que é altura de começar a organizar o 2º encontro da nossa tertúlia (e de marcá-lo para uma data próxima, antes que venha aí a avalanche dos convívios de ex-combatentes, a partir de finais de Maio/princípios de Junho)... Recordo que o Carlos Marques dos Santos - ainda não foi desta que fui conhecer o teu Café D'Arte, na cidade de Coimbra ! - é um dos primeiro tertulianos, dos mais activos e mais fiéis, estando na altura de recuperar muitos dos seus posts e fotos publicados na 1ª série do nosso blogue...
Aqui ficam, para a memória da nossa tertúlia, duas fotos tiradas na ocasião.
___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os paraquedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gamparà (Victor Tavares, CCP 121)

(2) Vd. post de 15 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será no Pombal (Luís Graça)

1 comentário:

Anónimo disse...

Para dedicar ao meu pai, Victor Tavares

A presença remota do passado,
Nos sentidos, ainda tão vibrante,
Questiona o que se tem apressado
E contido neste peito infante!

O passado é potencial tão presente
Mas passível de transformação,
Naquilo que hoje se sente
Bem no fundo do coração!

Num desenrolar de emoções
Vão passando como um filme na mente
As lembranças que fazem reviver
A ascenção de uma vida tão ardente

São belas recordações que inundam
Com miragem o poder da fantasia
As saudades de um tempo que não volta
Mas invadem a alma de alegria

Lembranças que abrem o caminho
Como luzes que brilham com ardor
E acalentam um grande sonho
De viver um futuro com amor

Osvaldo Tavares