Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Guiné 63/74 - P3174: Em busca de... (38): Causas da morte do Alf Mil Manuel Sobreiro (Mampatá, 1968) Parte I (José Martins)
Mensagem do nosso camarada José Martins, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, de 2 de Setembro de 2008
Assunto: Alferes Sobreiro (1)
Caro Carlos Vinhal e António Pires
Em anexo segue um texto com a correspondência trocada entre mim e o Raul Caetano, acerca do seu tio e nosso eterno camarada de armas Manuel Sobreiro.
Vai para os dois, uma vez que são elementos dos blogues de referência sobre as coisas do ultramar.
1. Caro Raul e Nelson
Não vos conheço pessoalmente, o que tenho pena. Mas, pelo esforço que têm levado a cabo na descoberta da verdade do Sobreirito é mais que suficiente para vos considerar, permitam-me, no mínimo meus "sobrinhos".
Ao Freire, conhecimento recente, um incentivo para trazer ao conhecimento de todos as estórias que viveu e tem para contar.
Aos camaradas, cujo nome desconhecemos e que são muitos, votos de que em breve abram o baú da memória e transmitam para toda a gente a vivência da guerra, para que a história se possa fazer.
A todos um fraternal abraço
José Martins
Guiné > Guileje > BART 1896 > CART 1612 (1967/69) > O Alf Mil de Minas e Armadilhas, Manuel Sobreiro, natural de Leiria, morto numa acidente com um granada defensiva, em Mampatá, em Fevereiro de 1968.
Fonte: Nelson Domingues > Blogue > As Verdades do Sobreirito(2007). (com a devida vénia...).
2. PROCURA de ex-CAMARADAS que estiveram na GUERRA COLONIAL
Mensagem do Raul Sobreira Caetano, com data de 24 de Junho de 2007
Manuel de Jesus Rodrigues Sobreiro Alferes do RAP2/CART 1612. Morto na Guiné em 24 de Fevereiro de 1968. Motivo: Versão Oficial - Acidente
Agradecia informações sobre o meu tio, temos muitas dúvidas em relação à sua morte.
Contacto: E-mail: caetano.raul@gmail.com
Informação:
Contacte os responsáveis pelos seguintes sites:
http://www.cart1525.com/ - Contactos em: http://www.cart1525.com/pagina2.html
No site supra identificado, na sua página - http://www.cart1525.com/historial.htm descrevem operações militares em que esteve envolvida a Companhia de Artilharia 1612.
Por outro lado, no blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné", também falam da CART 1612:
http://blogueforanada.blogspot.com/2006/01/guin-6374-cdxxxvii-memrias-de-guileje.html
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2006_07_16_archive.html
Como habitualmente, e já se conta por anos, depois de ver a caixa de correio electrónico – profissional e pessoal – passo pelas páginas dedicadas à Guerra do Ultramar/Colonial, para ver os textos que vão sendo apresentados, graças não só a quem os escreve, mas, sobretudo, a quem os vai editando dia após dia.
O pedido supra encontrava-se na página de ultramar.terraweb.biz, do nosso amigo e camarada António Pires, que cumpriu o serviço militar em Moçambique. Não podia deixar de dar a minha colaboração!
3. Mensagem enviada no dia 27 de Abril de 2007 a Raúl Sobreira Caetano
Caro Raul Caetano
Vi a mensagem solicitando informações sobre o seu tio MANUEL DE JESUS RODRIGUES SOBREIRO.
Estes assuntos, mesmo para nós que lá estivemos, são sempre dolorosos e difíceis de abordar. No entanto, consultei os meus arquivos sobre OS QUE CAIRAM EM CAMPANHA, e encontro que o acidente, na versão oficial, acrescenta que o acidente foi com arma de fogo e, nas observações, indica que ocorreu na verificação de uma armadilha colocada pelas Nossas Tropas em Leroiel. A CART 16132 era comandada pelo então Cap Art Orlando Ventura de Mendonça, que, provavelmente, hoje é Coronel na reforma.
Infelizmente, estes infaustos acontecimentos, eram frequentes.
No entanto, este mail vai com conhecimento ao editor do blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné", pois pode acontecer que entre os nossos tertulianos ou entre os nossos visitantes do blogue, que sabemos serem muitos, haja alguém que se possa adiantar mais informações.
Louvo a iniciativa da busca de um maior conhecimento sobre um facto ocorrido na Guerra de Africa, pois que contribuirá para que a mesma seja lembrada e, com estes pequenos factos, se coloque [bem alto] o nome dos nossos camaradas que levaram até às últimas consequências, o juramento prestado perante a Bandeira Nacional.
Um abraço do
José Martins
Fur Mil Trms Inf
CCAÇ 5/CTIGuiné
Junho/68 a Junho/70
4. Mensagem recebida em 28 de Abril de 2007, remetida por Raúl Sobreira Caetano
Sr. José Martins
Fico muito feliz pelo seu mail, o qual desde já agradeço.
Sei que se deve lidar com muito cuidado com estes assuntos, pois como o Sr. mencionou são sempre dolorosos e difíceis de abordar, mas acho que as famílias dos que por lá caíram têm o direito à verdade.
A morte do meu tio sempre foi um assunto tabu, primeiro porque a minha avó no espaço de dois anos ficou sem o marido e o filho mais velho. Segundo porque na altura as informações que nos chegavam eram contraditórias, como se vivia numa ditadura talvez não se procurasse a fundo a verdade. Havia a verdade oficial e uma vez por ano vinha um Pelotão ao cemitério homenagear os nossos mortos (entre os quais o meu tio), com salvas de tiro. Provavelmente isto fazia esquecer a procura da verdade.
Sei que alguém da minha família tentou saber mais, mas acho que não o conseguiram.
Há relativamente pouco tempo, veio parar às minhas mãos por acaso um caderno do Expresso com os soldados mortos no Ultramar e por minha surpresa não encontrei o nome do meu tio. Não tenho a certeza se realmente não está ou se eu não consegui encontrar, pois a lista é muito longa e poderia ter-me escapado, já providenciei para a obter. Mas este episódio, despertou a minha curiosidade, e agarrei-me aos meios que possuo, nomeadamente a Internet e encontro uma lista de combatentes que morreram na Guiné, creio que foi o Sr. que a elaborou, na página do Ultramar.terraweb (anexa) [Listagem Guiné - Tombados em Campanha, página 21] onde o nome do meu tio aparece e o motivo acidente. Como queremos ir sempre mais além, enviei uma mensagem para tentar saber mais informações da morte do meu tio. No dia seguinte recebo um mail para consultar os sites http://www.cart1525.com/ e o blogueforanada.blogspot.com (do Sr. Luís Graça e Camaradas da Guiné).
No primeiro site não encontrei nada, mas no segundo encontrei, para grande surpresa minha um artigo escrito pelo Sr. José Neto a descrever pormenorizadamente a morte do meu tio (em anexo) [reproduzido no final deste mail, em itálico].
Agora recebo o seu e cada vez a confusão é maior.
1.º - Morreu a desarmadilhar uma granada defensiva (é uma arma de arremesso, não de fogo??) ou na verificação da zona foi alvejado por alguém?
2.º - Segundo o Sr. José Neto ele era o 2.º Comandante da Companhia, porquê ele a fazer a verificação da zona armadilhada e não um militar com posto mais baixo?
3.º - Segundo os arquivos que consultou a armadilha foi colocada pelas nossas tropas, seria treino ou foi tudo premeditado?
Para já são estas dúvidas que estão no ar, citei só estas pois surgiram depois da consulta do artigo e do seu mail, mas outras subsistem que mais tarde talvez, com mais informação, exporei. O que quero é a verdade, pois só assim a história da Guerra Colonial poderá ser lembrada e escrita.
Um abraço
P.S. Tentei enviar um mail ao Sr. José Neto mas sem sucesso. Deve estar desactivado, se souber maneira de o contactar, agradeço.
[transcreve-se o post mencionado, retirado do blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné] de 12 Janeiro 2006 > Guiné 63/74 - CDXLV: As malditas formigas pretas do José Teixeira
Texto do Zé Neto:
Luís:
A minha intenção era ficar aqui caladinho no meu canto para não entupir a formidável sequência de factos das campanhas da Guiné. (Creio que estamos a construir um monumento histórico e inédito). Mas o José Teixeira tem o condão de me despertar recordações dispersas, pois fala de sítios por onde andei. Admiro-o muito.
E, a propósito das desgraçadas formigas (1), veio-me à memória a morte inglória do meu conterrâneo Alferes Miliciano Manuel Sobreiro (2.º comandante da CART 1612, por ser o mais classificado dos alferes) (2). O Sobreirito (como eu o tratava na intimidade) tinha a especialidade de Minas e Armadilhas.
Em Fevereiro de 1968, precisamente na área de Mampatá, foi encarregado de desarmadilhar uma zona por onde iam alargar uma picada. Quando já tinha bem presa a alavanca duma granada defensiva instantânea e se preparava para introduzir a cavilha foi mordido num artelho por uma dessas formigas. Ao fazer o gesto de sacudir o insecto escorregou-lhe a alavanca e... sucumbiu crivado de estilhaços.
O Alferes Miliciano de Artilharia nº 0022363, Manuel de Jesus Rodrigues Sobreiro, natural de Riba de Aves, Souto da Carpalhosa, Leiria, não morreu em combate. Os senhores da guerra determinaram que foi "morto por acidente". Tanta injustiça que se cometeu!!! Um dia hei-de abordar este tema.
Até breve.
Zé Neto (CART 1613, Guileje, 1967/68, ex-sargento, hoje capitão reformado)
____________
Notas de L.G. [Luís Graça]
Vd post de 11 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXL: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (6): Mampatá, Setembro-Outubro de 1968.
Um das três companhias operacionais do BART 1896 (As outras duas eram a 1613 e a 1614). Segundo o Zé Neto, esta última, a CART 1614 era "a subunidade turista da Guiné que nunca ninguém do Batalhão conseguiu descobrir a razão de ficar sempre de fora dos petiscos que calharam às outras duas companhias operacionais (1612 e 1613)". E acrescenta, com ironia: "Eu desconfio, mas, para misérias do Celestino já basta!"...
5. Mensagem enviada no dia 29 de Abril de 2007 a Raúl Sobreira Caetano
Caro Raul
Acabo de chegar de Pombal, onde se reuniram, pela segunda vez no espaço de seis meses, alguns elementos que fazem parte do blogue do Luís Graça, entre os quais me incluo, participando com alguns escritos e pesquisas, assim como na página de ultramar.terraweb.biz, onde pretendi com a listagem enviada, prestar homenagem a todos aqueles que tombaram.
Talvez por ter visto a morte a rondar-me por três vezes durante a minha estada na Guiné, entre Junho de 1968 e Junho de 1970.
Curiosamente, depois de sair de Pombal, estive em Leiria, donde sou natural e onde ainda tenho família, uma vez que agora resido em Odivelas. Não sabia que o meu amigo Zé Neto, que além do blogue conheço pessoalmente, também era da nossa região. Infelizmente não estive com ele, já que se encontra doente.
Quanto ao nomes publicados pelo Expresso em 30 de Abril de 1994, e que faz parte dos meus arquivos, poderia estar errado por defeito. Ainda há pouco tempo foram acrescentados nomes na parede do Forte do Bom Sucesso, em Belém - Lisboa, por não terem sido incluídos na listagem então elaborada. No entanto o nome do seu tio aparece na página 26, desse caderno, na 15ª posição, tendo um R em vez de Rodrigues.
Mas vamos tentar aclarar as dúvidas que possam existir:
1.º - Foi do 8.º volume da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), página 334, que retirei as informações enviadas. O texto do meu camarada José Neto confirma o que está no livro. No nosso léxico, arma de fogo é considerado todo o engenho que actua através de uma deflagração ou explosão.
2.º - No texto do Zé Neto refere que o seu tio tinha a especialidade de Minas e Armadilhas, uma das razões porque, apesar de ser o oficial subalterno mais antigo e, por conseguinte, o 2.º comandante da companhia, ter sido ele a fazer aquele trabalho. Isto além de, como oficial e como mais graduado, por altruísmo e para preservar os homens que estavam sob as suas ordens, logo sob a sua responsabilidade, serem os mais graduados a executar as tarefas mais difíceis e arriscadas. Eu próprio, como Furriel, substituí os meus homens em diversas tarefas que além de não me serem atribuídas, a tal não ser obrigado.
3.º - Quanto a esta questão, pelo que lí, tratou-se de uma acção real. Se fosse um treino decerto teria feito mais vítimas, pois que teria à sua volta os elementos a quem pretendia passar os seus conhecimentos. Tanto as nossas tropas como o inimigo (o PAIGC) recorriam a esta guerra subterrânea, que tantas vítimas provocaram de ambos os lados.
Os endereços electrónicos do meu camarada José Neto, de que disponho, são zeneto@netcabo.pt ou netoze@clix.pt.
Mais uma vez me congratulo por a vossa geração querer saber a verdade sobre a guerra que nós travamos, mas que durante anos escondemos, como se tivéssemos praticado um pecado capital. Hoje, 37 anos depois de ter deixado o teatro de operações, já falei mais da guerra ao meu neto, que tem 11 anos, do que o que falei aos meus três filhos.
Sabemos que nada poderá mudar o rumo que as coisas do passado tiveram, mas estamos cientes de que quanto mais se souber sobre aquele período da nossa história, pois de história se trata, se poderá melhorar, compreender e ajudar todos aqueles que, a sua participação na guerra afectou, a ponto de os inutilizar, em termos físicos e psicológicos, para o resto das suas vidas.
Como é óbvio e faz parte do nosso (blogistas) código de conduta, este mail vai com conhecimento ao editor Luís Graça, pois que assim também é possível obter outros elementos que possam ser do conhecimento e interesse geral.
Termino, mantendo-me ao dispor para o que possa ser útil, com um abraço
José Martins
6. Mensagem recebida em 2 de Maio de 2007, remetida por Raúl Sobreira Caetano
Mais uma vez agradeço a atenção dispensada.
Saudações de um leiriense (dos arredores) para outro que não esqueceu as suas raízes.
Embora eu não seja natural de Leiria, porque nasci na Alemanha, razão pela qual nunca conheci o meu tio, embora quando ele morreu eu também só tivesse dois anos. Sei que ele uns meses antes do trágico acontecimento esteve em Portugal.
Mas já agora depois de ter lido as suas explicações, que me deixaram completamente esclarecido. Surge ainda uma dúvida, no léxico das forças armadas qual a diferença entre morrer em combate e morrer por acidente? Pois segundo o que li no texto do Sr. José Neto e na sua explicação, acho que o meu tio morreu em combate, ou será que estou errado. Dúvida esta que o Sr. José Neto também levantou no seu texto.
Agradeço informação sobre os endereços do Sr. José Neto, mas não consigo entrar em contacto os mails vêm todos devolvidos.
Um abraço
7. Mensagem enviada em 3 de Maio de 2007 para Raúl Sobreira Caetano
Caro Raul
A pergunta que me é colocada, tem lógica e tem razão de ser.
O que se segue é apenas, e apenas a minha opinião, apesar de dar alguns tópicos que, acredito eu, serem a dita versão oficial.
Na Guiné, desde que púnhamos o pé naquela terra, saudosa para muitos e também para mim, apesar de haver recordações menos boas e/ou mesmo más, até que a deixávamos, o nosso tempo passava a contar pelo dobro. Isto é: eu que estive exactamente 2 anos (2 de Junho de 1968 a 2 de Junho de 1970), o tempo que lá estive, para efeito de antiguidade e reforma, vale por quatro. Toda aquela terra era terra de 100%, ou seja, enquanto em Angola e Moçambique, para falar das três principais, havia zonas de diferente valor percentual, a Guiné era toda igual. Tanto contava no interior do mato como nas Repartições do ZIAC (termo adoptado pelos militares que designava a Zona de Intervenção com Ar Condicionado).
Por estas razões, acrescidas de que um militar se encontrava naquele local por força de uma guerra, e tinha que estar sempre disponível e alerta para qualquer emergência, tudo girava em torno da actividade operacional, ou seja, sempre em estado de prontidão para o combate.
Assim, para mim, qualquer baixa, fosse qualquer que fosse a causa, foi e será baixa em combate.
No entanto, era mais agradável para as estruturas de comando, quer nos teatros de operação quer aqui na metrópole, apresentar as baixas como acidente, sem mais qualquer explicação, havendo quem dissesse que havia mais mortes em Portugal Continental por acidentes de automóvel, do que em combate no Ultramar. Era isto que servia os interesses instalados, e que ainda são uma mola real e justificação para tudo: as estatísticas.
Portanto, para mim, o meu camarada Alferes Manuel Sobreiro morreu pela Pátria, em combate, levando ao extremo aquilo que jurou perante a Bandeira Nacional: lutar até ao sacrifício da própria vida.
Foi o que aconteceu, por isso, todos os que lá estivemos, lamentando as baixas acontecidas, curvamo-nos perante os factos e respeitamos a memória, não só do Sobreiro mas de todos, como Herói Nacional e colocamo-lo ao lado de um qualquer HERÓI PORTUGUÊS, lembrado na História que nós, todos os dias, ajudamos a cumprir e que foi ensinada aos nossos filhos e agora é ensinada aos nossos netos.
Eu próprio, sempre que o tempo e os meios me permitem, procuro obter dados sobre o que foi a vida de um tio paterno que, depois de ter sido incorporado no Batalhão do Regimento de Infantaria 7, de Leiria, e ter combatido em França, ao lado do meu avô materno, na I Grande Guerra, foi parar a Angola onde, apesar dos seus 65 anos, não hesitou em tornar-se o primeiro comandante das milícias civis, que foram criadas em S. Salvador do Congo em 1962.
Concluindo: O Alferes Miliciano de Artilharia Manuel de Jesus Rodrigues Sobreiro, morreu em combate. RIP
José Martins
Apesar de não estar no contexto desta troca de mensagens, a que segue tem grande importância. O nosso Zé Neto talvez tivesse as respostas para este caso. A notícia, que apesar de já esperada, caiu como uma bomba no nosso correio electrónico.
8. Mensagem da Leonor, neta do Zé Neto, com data de hoje, 29 de Maio de 2007
Assunto: Notícias tristes.
Caros amigos:
É com enorme dor que vos escrevo para comunicar o falecimento do meu querido avô, Zé Neto.
(...) Um abraço,
Leonor.
De imediato enviei a seguinte mensagem
9. Mensagem enviada no dia 3 de Maio de 2007 a Leonor (neta do Zé Neto)
Caros amigos
Recebi a noticia.
Sinto a vossa dor, e se vos pode servir de alguma coisa, também vos acompanho na dor.
Conheci o Zé, permitam-me a forma como me exprimo, e apenas alguns momentos bastaram para se cimentar uma amizade que, creio, também era recíproca.
Mais um partiu, quiçá, para preparar a nossa chegada.
Não deixem perder a memória do vosso pai ou avô. É a maior homenagem que se lhe pode prestar.
Para mim, perdurará na minha amizade.
José Martins
Fur.Mil.Trms.Inf.
Canjadude – Guiné
1969 a 1970
10. Mensagem enviada, com a mensagem anterior em anexo para Raúl Caetano:
Caro Raul
É com tristeza que reencaminho o mail que hoje enviei à família do nosso amigo José Neto, já que ele não mais responderá às questões que lhe ainda queríamos colocar.
Um abraço
José Martins
11. Mensagem recebida no dia 30 de Maio de 2007, remetida por Raúl Sobreira Caetano
Sr. José Martins
Agradeço a sua atenção.
É com dupla tristeza que recebo a notícia que me enviou, primeiro pela morte do Sr. José Neto e depois porque, o Sr. José escreveu que um dia falaria sobre a morte do meu tio, e assim a sua voz calou-se.
Agradeço que caso venha a ter novidades deste assunto, quiçá talvez o Sr. José Neto tenha deixado algo escrito (agora não é altura ideal para averiguar), me informe.
Eu tenho um rascunho de um mail escrito para lhe enviar, mas estou numa fase muito complicada do ano, pois é a altura do fecho de contas e não tenho tido tempo de o corrigir nem de falar com a minha avó sobre alguns dos pormenores conhecidos da morte do meu tio.
Um abraço
Raul Caetano
12. Mensagem enviada no dia 31 de Maio de 2007 a Raúl Sobreira Caetano
Caro Raul
Estive ontem com a família do Zé Neto e tomei conhecimento de que ele tem um livro escrito. Não sei se sobre a Guiné se sobre a sua vida militar, já que era de carreira e esteve em Macau (antes de 1961), Norte de Angola (1962/1963), Guiné (1966 a 1968) e novamente Angola (1970/1971).
Não era ocasião de se falar muito sobre isto. No entanto incentivamos, os netos a entrar no nosso blogue, e eles aceitaram. Vamos ver o que vai aparecer.
Outra novidade, no mail, é de que somos colegas. Sou TOC, mas nesta altura já não tenho problemas com as contas. Apesar de as ter de fechar com data de 31 de Dezembro, tenho que ter as contas, já auditadas, ainda no mês de Fevereiro, já que a maioria do capital da empresa é Norueguês, e eles não perdoam.
Entretanto vamos mantendo o contacto.
Um abraço
José Martins
13. Mensagem recebida no dia 1 de Junho de 2007 remetida por Raúl Sobreira Caetano
Sr. José
Mais uma vez agradeço a sua atenção, fico a aguardar novidades.
Quanto à contabilidade, infelizmente em Portugal, deixamos sempre tudo para o fim.
Um abraço
14. Mensagem enviada no dia 15 de Junho de 2007 a Raúl Sobreira Caetano
Caro Raul
Acabo de ler o post n.º 1849 de Luís Graça & Camaradas da Guiné sobre o seu tio e de autoria de Nelson Domingues, da Monte Real, que presumo ser seu primo.
Já trocaram impressões sobre o que foi apurado na nossa troca de mensagens?
Um abraço
José Martins
(Post publicado em blogueforanadaevaotres.blogspot.com) em 14 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1849: Quero prestar a devida homenagem ao meu tio, o Alf Mil Manuel Sobreiro, da CART 1612, morto em Mampatá em 1968 (Nelson Domingues)
Guiné > Guileje > BART 1896 > CART 1612 (1967/69) > O Alf Mil de Minas e Armadilhas, Manuel Sobreiro, natural de Leiria, morto numa acidente com um granada defensiva, em Mampatá, em Fevereiro de 1968. Alguém se lembra dele e das circunstâncias em que morreu ?
Fonte: Nelson Domingues > Blogue > As Verdades do Sobreirito(2007). (com a devida vénia...).
15. Mensagem de Nelson Domingues:
Boa noite!
Espero que se encontre de boa saúde.
Sou sobrinho de Manuel Sobreiro,
(i) Manuel Jesus Rodrigues Sobreiro (1942-1968).
(ii) Tombou a 24 de Fevereiro de 1968.
(iii) Causa (oficial ou oficiosa): Acidente .
(iv) Unidade Mobilizadora: RAP 2.
(v) Ramo das Forças Armadas: Exército.
(vi) Naturalidade: Chã da Laranjeira, Sto. Carpalhosa.
(vii) Posto e nº mecanográfico: Alferes Miliciano de Artilharia nº 0022363.
(viii) Unidade a que pertencia no CTIG: Alferes Miliciano Manuel Sobreiro – 2º comandante da CART 1612.
Eu e a minha família sempre ouvimos falar de muitas verdades sobre o acidente que vitimou o meu tio, mas por mais histórias que haja, o meu desejo é recolher o máximo de informação sobre o meu tio para o homenagear condignamente no dia 28 Fevereiro de 2008, no 40.º aniversário do seu desaparecimento.
Não o vou maçar mais, agradeço desde já a sua amabilidade para consultar o humilde blogue que estou a iniciar.
Os meus cumprimentos,
Nelson S S Domingues
16. Mensagem recebida no dia 21 de Julho de 2007, remetida por Raul Sobreira Caetano
Sr. José Martins
Acabo de receber um mail do Coronel Mendonça, com poucas palavras somente a apresentar-se como ex-comandante da 1612. A informar que conheceu o meu tio, que ele faleceu nos seus braços e que era um amigo que não pode esquecer.
Estou a preparar um mail para enviar mas, nunca sabemos da receptividade por parte dos superiores, por isso vou com cuidado.
Um abraço
17. Mensagem recebida no dia 19 de Agosto de 2008, remetida por Raúl Sobreira Caetano
Bom dia Sr. José Martins
Acabo de chegar de umas merecidas férias, sem telemóveis nem computadores por perto, quando vou consultar o meu mail, dou com esta mensagem de um ex-colega do meu tio, que lhe envio para seu conhecimento.
Á primeira vista coincide com a narração do Sr. José Neto, mas vou entrar em contacto para melhores esclarecimentos.
Obrigado por toda a sua ajuda
(Mensagem referida no texto anterior)
18. Mensagem recebida por Raul Sobreira Caetano no dia 2 de Agosto de 2008, remetida por Jorge Freire
Subject: Informação sobre a morte do alferes Manuel de Jesus Sobreiro
Boa tarde.
Acabei de ver uma página da Internet onde manifestava o desejo de saber as circunstâncias da morte do seu tio Manuel de Jesus Sobreiro (de Monte Real, Leiria).
O meu nome é Jorge Paes da Cunha Freire e fui alferes da CART 1612. Estive com o seu tio na formação da Companhia em Vila Nova de Gaia, em 1966, e depois na Guiné, em Bissorã e em Buba. Entretanto, em Agosto de 1967, fui transferido para Bissau.
Aquando do falecimento do seu tio, eu estava de férias em Lisboa e recebi uma carta do Comandante da Companhia, Cap Orlando Ventura de Mendonça a relatar-me o sucedido e que realmente me deixou muito chocado.
O que se passou foi o seguinte, (em Aldeia Formosa, perto de Buba, onde a Companhia estava destacada na altura) presenciado por soldados da Companhia, que me confirmaram o sucedido. O seu tio tinha a Especialidade de Minas e Armadilhas, tirada em Tancos, depois do 2.º ciclo do Curso de Oficiais Milicianos, tirado em Vendas Novas.
A origem do acidente que lhe causou a morte foi a circunstância em que teve de desmontar uma armadilha. Quando estava a proceder a essa operação, foi instantaneamente coberto por um tipo de formigas muito comum na Guiné, designado localmente por «correcção» ou também por «marabunta». Essas formigas cobrem uma pessoa em segundos e, quando mordem, se as arrancamos ficam as cabeças agarradas à pele, pelos ferrões. Ora isso aconteceu exactamente quando o seu tio tinha a armadilha na mão e que explodiu, quando ele sacudiu as formigas, cuja picada dói bastante. Foi isto que realmente sucedeu.
Espero ter contribuído para o esclarecimento do que se passou, manifestando o meu pesar, pelo desaparecimento do meu companheiro de armas, Manuel Sobreiro, que continua vivo na minha memória ao fim de 41 anos.
Aproveito a oportunidade para lhe apresentar os meus cumprimentos, pondo-me ao seu dispor se quiser contactar-me.
Jorge Freire
A correspondência com o Raul Caetano, para já, está transcrita acima. O seu primo – Nelson Domingues – também procura obter a verdade dos factos. Criou, inclusivamente, uma página – sobreirito.blogspot.com – cuja leitura aconselho vivamente e onde tenta mostrar, por testemunhos e outros textos, a admiração que tem pelo seu tio que, se chegou a conhecer, devia ser muito novo.
José Martins
____________________
(Para não tornar o poste demasiado extenso, proximamente daremos seguimento a este trabalho com a homenagem que José Martins se propõe fazer ao BART 1896:
Por mim, e em jeito de homenagem, transcrevo o que tenho em arquivo sobre o Batalhão de Artilharia n.º 1896 e as Companhias que o compunham, assim como os militares que deram o máximo que se lhes podia pedir: a própria vida!
JM
Co-editor, CV
____________________
Notas de CV:
(1) - Vd. postes de:
14 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1849: Quero prestar a devida homenagem ao meu tio, o Alf Mil Manuel Sobreiro, da CART 1612, morto em Mampatá em 1968 (Nelson Domingues)
20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1861: Homenagem ao meu tio, Alf Mil Minas e Armadilhas, Manuel Sobreiro, do BART 1896 / CART 1612 (Nelson Domingues)
6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2160: Militares mortos em campanha, no sul, entre Fevereiro de 1968 e Janeiro de 1969 (J. C. Abreu dos Santos), onde se pode ler:
Resumo de baixas mortais ocorridas em 24Fev68-27Jan69 no sul da Guiné (Mampatá, Mejo, Quebo, Guileje, Gandembel, Ponte Balana)
– sábado 24Fev68 † MANUEL DE JESUS RODRIGUES SOBREIRO nascido em 1942, na freguesia de Souto da Carpalhosa, concelho de Leiria Alf Mil Art M/A, 2ºCmdt da CART 1612/BART 1896-RAP2 (a 6 meses do final da comissão); morre em «acidente» com deflagração de granada defensiva, na região de Mampatá.
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