Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Guiné 63/74 - P3772: Cancioneiro de Dulombi / Galomaro (2): Tecnil, Tecnil / Eu passei lá muitas noites / Certamente mais de mil (Luís Dias)
Rui Felício, ex- Alf Mil, CCAÇ 2405 (Galomaro e Dulombi, 1968/70) (foto à esquerda): Procura-se vivo ou morto... Anda a monte com os primeiros decalíssabos que deram origem ao famoso Cancioneiro de Dulombi... Dão-se alvíssaras. L.G.
1. Mensagem do Luís Dias, respondendo a um pedido meu ( "Tens mais letras do 'cancioneiro de Dulombi' ? E da Tecnil ? Há mais recolhas de versos ?"):
Os versos que colocaste não são do Cancioneiro do Dulombi (*), nem da Tecnil, fazem parte dos 'poemas' que eu escrevi durante a comissão. Mas não tem qualquer importância.
Do Cancioneiro do Dulombi, só me lembro de um refrão, que era cantado com uma música popular.
Dulombi te deixarei,
Dulombi te deixarei,
e o dia está bem perto,
As tuas bajudas giras
Vamos deixá-las aos piras,
Que nós vamos de regresso.
Da TECNIL (**) havia também este refrão:
TECNIL, TECNIL,
Eu passei lá muitas noites,
Certamente mais de mil,
TECNIL, TECNIL.
Quando aparecem macacos,
Vira jardim infantil.
Quando fazemos o convívio anual, os nossos ex-praças lá cantam estas modinhas. Eles é que têm as letras.
Um abraço
Luís Dias
2. Comentário de L.G.:
Luís:
O seu a seu dono... Vou corrigir... E fazer mais um poste sobre o Cancioneiro de Dulombi... Os versos são teus, mas o que importa é que os teus camaradas se apropriaram deles e cantaram-nos (e continuam a cantá-los nos vossos convívios)...Em Dulombi e em muitos outros sítios da Guiné, havia poetas, como tu, que nos ajudaram a não perder a alma e a manter a cabeça em cima do pescoço e o pescoço em cima dos ombros...
De resto há uma tradição poética, iniciada pelos Baixinhos de Dulombi, a malta da CCAÇ 2405, de 1968/70. Num dos postes, o ex- Alf Mil Rui Felício escreveu isto (***):
"Tinhamos acabado de receber no Dulombi a Companhia de atónitos periquitos que, durante uma semana, iam ficar em sobreposição connosco.
"Acolhemo-los com o aquele ar superior de guerreiros invencíveis, calejados pelos combates, a pele tisnada dos sóis tropicais, e além das costumadas praxes, meio inofensivas, que exercemos sobre eles, dedicámos-lhes, com a proverbial simpatia característica dos Baixinhos do Dulombi, um hino de recepção ao periquito que ainda hoje cantamos em todos os almoços anuais de comemoração que realizamos.
"Fui eu o autor da letra (perdoem-me o orgulho ) que, em versos decassilábicos, procurava transmitir aos novatos o que era o dia a dia que os esperava nos confins do mato onde iriam passar dois anos.
"O Alf Mil Rijo sacou dos seus dotes musicais até aí ocultos e plagiou uma música que se adaptasse à versalhada que em momento de suprema inspiração eu tinha produzido. É ele que hoje guarda religiosamente essa letra que eu, embora seu autor, não sou já capaz de reproduzir na íntegra" (...).
Pois é, meu caro Luís Dias, ainda não consegui sacar ao teu avô Rui Felício essa famigerada letra. Em 5 de Setembro de 2006, mandei-lhe um pedido que ele deve ter arquivado... O actual dono das letras parece ser o ex-Alf Mil Jorge Rijo, que anda incontactável, depois de se reformar dos seguros. Vou-lhes, daqui, solenemente, implorar, a ambos (e aos outros dois Baixinhos de Dulombi, que eu conheço, o Paulo Raposo e Victor David, que não nos esqueçam, a mim, a ti, a todos nós, de modo a slavarmos e enriquecermos o Cancioneiro de Dulombi / Galomaro...
Rui, Jorge, Luís, camaradas !... Seria uma pena que os últimos épicos da Pátria, os derradeiros Camões, que fomos nós, os últimos poetas do Império, deixem perder, por negligência, incúria, esquecimento, cansaço ou qualquer outra razão - por muito válida que possa ser ou parecer -, os últimos versos que escrevemos, a pena numa mão e a espada na outra, nos campos de batalha da Guiné...
Obrigado. Abraço. Luís
_________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 20 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3763: Cancioneiro de Dulombi / Galomaro (1): Adeus, Guiné / É o fim do castigo, / Terminou a comissão... (Luís Dias)
(**`) TECNIL, empresa de engenharia e construção de estradas... Estava por toda a Guiné (ou quase), no tempo do Spínola e depois... da independência. O nosso camarada e amigo António Rosinha trabalhou nela como topógrafo, nos anos 70/80, se não me engano.
(***)5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço
Vd. ainda:
Blogue CCAÇ 2700 > Dulombi, 1970/72, de Fernando Barata
Blogue Histórias da Guiné 71/74 > CCAÇ 3491, Dulombi, de Luís Dias
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2 comentários:
A TECNIL foi uma grande empresa que simultaneamente fazia obras públicas em São Tomé, Angola, Guiné e Açores.
As últimas grandes obras que fez na Guiné, durante a Guerra, foi Gabu-Piche (sofreu ataque com mortes), Bambadinca-Xime, e a ponte-cais (pequena) do Pidjiquiti.
Após a independência com a presidência de Luis Cabral não conseguiu terminar a "Avenida Unidade Guine-Caboverde" tanto pelas políticas guineenses como pela inadaptação da administração aos novos "costumes". Com o fim de Luis Cabral foi tambem o fim e mesmo o desaparecimento completo da Tecnil. Foi doloroso. Vou enviar os versos da Tecnil para um lar de idosos na Figueira da Foz, onde se encontra um meu colega que passou grande parte da vida profissional na Tecnil e na Guiné.
Antº Rosinha
Eu (e o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o José Luís Sousa, o Marques, o Joaquim Fernandes, e o resto da malta da CCAÇ 12) fiz muitas patrulhas e emboscadas na estrada Xime-Bambadinca, em 1970 e 1971, montando segurança aos homens e às máquinas da Tecnil... Um Alfa Bravo, Rosinha.
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