1. Mensagem do Victor Alfaiate, com data de 30 de Outubro, e em princípio privada, mas que entendi dever divulgar como complemento do poste P5415 (*) e como contributo para um melhor conhecimento do seu autor, que foi Fur Mil Trms, CCAV 8350 (Guileje, 1972/73), e é um dos novos membros da nossa Tabanca Grande. Permitam-me apelar, mais uma vez, para a elevação, intelectual e ética, que devemos manter na discussão, franca e aberta, deste dossiê difícil, fracturante, doloroso... (LG)
Olá, Luís, Boa Noite
Li com a máxima atenção o mail que me remeteste e antes de mais quero esclarecer que não é nem foi nunca minha intenção melindrar ou ofender quem quer que seja.
Aliás se contactares os meus camaradas Reis, Seabra, Zé Carvalho ou Major Coutinho e Lima, eles confirmarão certamente que sou incapaz de ofender quem quer que seja, mais que não seja porque me considero suficientemente educado para o não fazer.
No entanto e relendo o meu mail, confesso não ter encontrado nada que possa ofender os Srs. Tenentes Pessoa e Martins de Matos, salvo a alusão às loirinhas e ao ar condicionado, mas se analisares com atenção é o Sr. tenente Martins de Matos que, no P3737, diz que dormia todas as noites no ar condicionado, as palavras são dele não minhas.
Quanto a utilização do tratamento por Senhores, dou-te a minha palavra de honra que não há no mesmo qualquer sentido depreciativo, antes uma questão de respeito. Se reparares, trato todos por Senhores (Sr. Major; Sr. General; Sr. Alferes), aliás na Força Aérea todos se tratavam por Senhores, enquanto no exército era (Meu Capitão; Meu Alferes; Nosso Cabo), na Força Aérea era (Sr. Capitão; Sr. Alferes).
Quanto ao termo "desculpa esfarrapada", não vejo qualquer mal, trata-se de uma desculpa que todos vêem ser falsa (Ex. Empresta-me o teu carro - Não posso porque acabei de o pintar e ainda não secou). Não vejo em que tal termo possa ser ofensivo.
No que diz respeito à ineficácia da Força Aérea no que toca ao apoio a Guileje, tive o cuidado de referir no início que era a minha opinião pessoal, correndo até o risco de poder ser injusto, mas sinceramente é e continua a ser a minha opinião pessoal, e aliás deixo bem explícitos os motivos conducentes a tal opinião.
No que respeita ao diálogo com o Sr. Tenente Martins de Matos, penso não poder fazer qualquer alteração uma vez que o mesmo reproduz na verdade o que realmente se passou.
Entendo perfeitamente que tentes evitar picardias, mas sinceramente não foi meu intuito provocá-las, aliás se vires bem no meu mail digo claramente que não era minha intenção participar numa discussão que, julgo, nunca conduzirá a qualquer conclusão, pelo que se achares que não deves publicar o meu mail, estás à vontade para o fazer, considera-o se assim o entenderes sem efeito mas não me peças para fazer alterações porque isso seria desvirtuar o que sinto e penso na realidade, e já me basta viver num país onde os que fugiram a cumprir um dever que bem ou mal era servir a pátria, são considerados patriotas e democratas e nós, que andamos lá a bater com os costados, somos tratados nalguns casos abaixo de cão.
Este mail é pessoal, pelo que só para ti e, confirmando o que atrás deixo referido, se quisesse provocar picardias, o P3737 do Sr. Tenente Martins de Matos dava pano para mangas, a saber:
- Sr. Major Coutinho e Lima sem perfil para comandar o Cop 5;
- O Homem do rádio, isto sim dito com sentido depreciativo;
- Guileje para os corrécios;
- B-52 - Resposta com raiva;
- Terem fugido 600 pessoas;
- Transformar o Sr. Major Coutinho e Lima num herói, que não foi.
Como vês, a haver alguém que se deveria sentir melindrado e ofendido eramos nós, mas como já estamos habituados, nem ligamos, são bocas que esbarram na couraça da nossa indiferença. Depois do que ouvimos da boca do Sr. Coronel Durão quando chegámos a Gadamael, tudo o que vier a ser dito nos soa quase como elogios.
Não te vou chatear mais, como disse estás a vontade para dares ao mail o destino que quiseres.
Quanto a fazer parte do Blogue, como já disse terei muito gosto nisso, mas as fotografias só as poderei enviar quando for a Portugal.
Um Abraço.
Victor Alfaiate
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de :
7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5417: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (15): Ainda e Sempre Guileje (Victor Alfaiate, ex-Fur Mil Trms, CCAV 8350, 1972/74)
Vd. também: 9 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5432: FAP (39): Guileje, outra vez?!... (António Martins de Matos)
(**) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
13 comentários:
Camaradas
Deixemo-nos de tretas ! Não está em causa a eficácia da acção da FAP. Não está em causa a eficiência da defesa no terreno. Não está em causa se o IN estava perto ou estava longe. Não está em causa se os termos utilizados são estes ou aqueles.
O que está verdadeiramente em causa e é o que separa as águas nesta questão é:
Para uns a saída da NT de Guilege foi um acto de cobardia de soldados, que não honra quem o cometeu, e para outros foi, não direi uma inteligente manobra militar, mas uma forma responsável de salvar vidas humanas.
Encerre-se o assunto de vez !
absolutamente de acordo com o anónimo.
e devo confessar que me incomoda ataques à força aérea.
mas isso é, por um lado uma questão pessoal e por outro lado, a minha certeza de que aquela gente fez o possível e algumas vezes o impossível no cumprimento das ordens e das convicções de cada um, aliás, algumas vezes em meu proveito e dos "meus".
enquanto fui gerente de messe (que palavra horrível) sempre me esmerei em Aldeia Formosa para os receber bem. Na verdade não me lembro se algum bebeu cerveja uma vez que fosse.
mas se algum bebeu, eu que tenho 30 anos de aviação, já as vi beber menos recomendavelmente.
Pede-se aos autores dos dois comentários anónimos o favor de se identificarem, uma vez que estão a comentar dentro das regras da boa educação. Para os validar devem identificar-se, caso contrário serão retirados.
Vinhal
Anónimo das 11:46:00 AM passa a identificar-se no estrito cumprimento das regras do blogue:
JOão Castelo Branco
Ex-Furriel-Milº Atirador de Infantaria
C.Caç 1204/72
Dembos-Angola
Caro camarada João Castelo Branco, obrigado pela tua identificação que espero sirva de exemplo aos próximos camaradas que com comentários construtivos querem colaborar. Ser ex-combatente da Guiné não é condição para se emitir opiniões neste Blogue, pelo contrário, muito nos honra que camaradas ex-combatentes doutros TO nos leiam e venham até nós com os seus comentários e insentivos.
Para ti, um abraço e aparece sempre que aches oportuno.
Carlos Vinhal
Imagino o que terá dito, em Gadamael, o Cor Pára Rafael Durão, aos "retirantes" de Guileje...
Mas já agora gostava de saber, pelo Victor Alfaiate, que ouviu ("com aqueles ouvidos que a terra há-de comer"), quais foram as palavras, a expressão, a veredicto, a invectiva, proferidas pelo novo comandante do COP 5 nomeado por Spínola, em substituição do Coutinho e Lima. Uma coisa é o "eu estava lá e vi e ouvi", outra coisa é "consta que..., parece que..., ouvi dizer que..."
Tudo por mor da verdade, do rigor, da transparência, da validade da informação, etc. Como mandam as boas regras da recolha e tratamento da informação em qualquer domínio (científico, militar, policial, jornaliístico, bloguístico...).
É uma pena que esse testemunho eventualmente se perca, ou melhor, que não aproveitemos a oportunidade de, em primeira mão, ficarmos a conhecer a versão de uma das testemunhas presenciais ("oculares e auditivas")... Admito que o Victor Alfaiate, por um questão de pudor e até de respeito por um superior hierárquico (na época), não queira entrar em pormenores...
Mas a frase é dele (Victor): "Depois do que ouvimos da boca do Sr. Cor Pára Durão, tudo o que vier a ser dito, soa a elogio"... Como não temos o "termo de comparação" (a «citação do Durão), é-nos difícil distinguir onde é que acaba a repreensão e começa o elogio...
Julgo que se trata da mesma pessoa, de quem o nosso amigo e camarada António Graça de Abreu disse com propriedade e assertividade o seguinte no seu "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra e Paz, 2007, pp. 34-35):
"Canchungo, [CAOP1], 29 de Julho de 1972:
(...) Do coronel D., áspero, cem por cento militar, muito duro de nome e de trato, não tenho razão de queixa. Usa um bigodinho, a cabeça quase rapada com uma pequena poupa à frente. Não gostei de saber que, enervando-se e em situações extremas, dá murros nos soldados"...
São estes testemunhos, EM PRIMEIRA MÃO, que nos interessam... Quem não tem histórias para contar polemiza, opina, comenta, esmiúça, analisa... - o que também é legítimo, desde que a análise seja fundamentada no conhecimento...
Desculpa Luís, mas como disse ontem, e só tenho uma palavra, a minha participação no Blogue terminou. Como disse, saio antes de ter entrado. Não quero polémicas, quero manter-me sossegado.
Bom Natal e novo ano de 2010 próspero para todos.
Um abraço
Victor Alfaiate
Ja agora e a talhe de foice, e para
acabar de vez com qualquer ideia que ainda subsista de que algo me move contra os elementos da Força Aérea, agradeço-te que, se possível publiques o Ultimo mail que te enviei em 20 de Novembro.
Obrigado
Um abraço
Victor Alfaiate
Quero apenas lembrar que o Cor. Rafael Durão já morreu, pelo que um pouco de contenção, me parece apropriado.
Teria com certeza os seus momentos menos bons, como cada um de nós teve e tem na sua vida, mas era um militar prestigiado e valoroso.
Abraço camarigo para todos
Tens razão Carlos.
Eu sou o segundo anónimo e só por parolice não assinei.
Já agora que aqui estou, se me permitirem, não deixarei de lamentar que Victor Alfaiate saia antes de entrar e, sobretudo, antes de que possa estabelecer alguma comunicação com ele.
José Brás (agora foi)
"God and the soldier we alike adore
In time of danger...not before
The danger past and all things righted
God is forgotten, the soldier slighted"
(Thomas Jordan, 1612-1686)
ou, mais terra-a-terra,
"há os que fazem, os que a fizeram e os outros";
ditos avulso que ajudariam a fazer reflectir sobre o acto de escamotear tardiamente aquilo que não é passível de discussão em acto - qualquer elemento integrado num exército regular envolvido em acções de guerra não tem postura diferente daquela que define a cadeia de comando.
Isto dito, faria porventura lembrar o que cada homem um era/fazia, lá, 'em África', quando integrado na mais discreta fracção da mais incaracterística sub-unidade cuja acção não terá sabido avaliar e não saberia avaliar ainda hoje.
S.Nogueira
Caro José Brás
Obrigado por teres assinado o teu comentário. De ti, só por esquecimento não aparece a tua assinatura. És um homem integro, frontal e não precisas de te escudar atrás do anonimato.
Recebe um abraço dos editores
Vinhal
Camaradas,
Para que conste:
Em 22.06.1996, através do jornal Expresso, um mecânico de armas pesadas, revelou a sua odisseia em Guilege, e relatou que, já em Gadamael, o TenCor R.Durão, mandou formar a companhia e proferiu "palavras de intimidação chegando mesmo a dizer: vocês são uns cobardes".
Em 13.07.1996, Rafael Ferreira Durão responde à peça anterior. Neste texto, o Brigadeiro insinua conluio do autor com um jornalista da SIC e da Grande Reportagem. Esclarece a seguir que "o que se passou na evacuação daquela posição para Gadamael foi, efectivamente, uma retirada na melhor ordem possível" apesar de unilateralmente tomada. Adiante refere, "depois de falar com C.L. concluí da impossibilidade de reocupar aquele aquartelamento". Perante a formatura, esclarece as palavras "porque o caminho que vos trouxe è aquele que vos há-de levar" "nunca as pronunciei na minha vida, porque...se as proferisse, cumpri-las-ia". Em seguida, diminui a acção do mecânico de armas pesadas, pelo facto de o obus ter ficado em Guilege. Refere ainda, que saberá responder-lhe "se tiver a coragem de repetir esta frase" a propósito de ter referido a classe dos Durões, que imaginava na guerra do ar condicionado.
Em 24.08.1996, também no "Expresso", publiquei a minha opinião sobre o que apreciara de ambos os textos e disse a certa altura, refeindo-me ao Brigadeiro: "a sua opinião deixa perceber que, naquelas circunstâncias, teria adoptado idêntica atitude ( à de C.L.). Para protecção das vidas sob seu comando, na senda, aliás, do que imagino terá determinado o abandono de outros aquartelamentos em ocasiões anteriores. E assim põe-se a questão de saber se havemos de responsabilizar ou de nos congratularmos com quem decidiu drasticamente."
Não sei se o o Brig. Rafael Durão leu, ou não, a minha carta. Não tive conhecimento de qualquer esclarecimento a propósito.
Abraços fraternos
José Dinis
Enviar um comentário