sábado, 12 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5452: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (30): Sector de Buba-Aldeia formosa - 1º Semestre 1970 (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 30ª mensagem, em 11 de Dezembro de 2009:

SECTOR DE BUBA-ALDEIA FORMOSA

1.º Semestre de 1970

Janeiro de 1970

Começo do ano de 1970, as NT, estacionadas no terreno, tem constatado pouca actividade por parte do PAIGC. Por esse motivo empenharam-se em obras de melhoramentos das instalações, suas defesas e infra-estruturas.

Registaram-se algumas flagelações do IN em Aldeia Formosa e Mampatá, simplesmente para marcar presença, sem resultados práticos aparentes.

Na coluna do dia 16JAN1970, Buba-Aldeia Formosa, foram detectadas várias minas anti-carro e anti-pessoal, junto a UANE, tendo sido as mesmas levantadas pelas unidades que prestavam segurança à mesma.

As NT, de acordo com informações recebidas do BCAÇ 2892, no dia 21JAN70, foram emboscar a cerca de 1 km de Iero Saldé, com 2 Grupos de Combate da CART 2519, reforçados com Milícias, a fim de interceptar um grupo do IN.

As NT, foram detectadas pelo PAIGC, quando instalavam um dispositivo de intercepção, por 2 elementos do grupo IN, que vinham de Sare Dibane. Foi aberto fogo tendo os 2 elementos sido abatidos e o seu armamento capturado.

As NT deslocaram-se para Sare Dibane, ao encontro do grupo IN para estabelecer contacto, mas o mesmo debandou para norte de Uane. Na impossibilidade de alcançar o IN, foi pedido
fogo de artilharia para a zona onde eles haviam sido detectados.

Na ZA da CCAÇ 2615 e CART 2521, de Aldeia Formosa, no primeiro mês do ano, as actividades do IN foram quase nulas, apesar dos constantes patrulhamentos sobre as ZA.

A seu cargo os vestígios do PAIGC, não se faziam notar na área, no entanto registaram-se alguns ataques aos "Gilas" (nativos que se dedicavam ao contrabando de bens ao longo das fronteiras).

Existiam informações da presença de um bi-grupo do IN, em Mampatá Bicirgo, vindo de Kandiafara com destino a Kasembel.

Em Buba e Nhala, não se verificavam factos de realce na ZA, apesar da constante actividade das NT. O inimigo não foi referenciado nesta zona.


Fevereiro de 1970

Neste período houve alterações ao plano inicial "Galgos Ligeiros", passando o Sector a norte de Sare Dibane-Unal, a pertencer operacionalmente à CCAÇ 2614 e CART 2521.

A actividade do IN continuava a ser fraca, limitando-se a flagelamentos de curta duração aos aquartelamentos de Buba, Mampatá e Aldeia Formosa.

Foram detectadas minas A/C e A/P, na estrada Buba - Aldeia Formosa que foram levantadas pelas NT.

As NT continuaram a emboscar e a patrulhar todo o trilho de Missirã, a sul de Uane, sem encontrar qualquer movimentação do IN neste período.

Foram também referenciados elementos do PAIGC, junto a Contabane e foi efectuado o levantamento de minas, neste Sector, pelas NT.

Março de 1970

Neste mês notou-se um crescimento operacional do IN, com maior actividade no Sector de Contabane, Bungofé e Sare Amadi.

O inimigo concentrou neste Sector 2 bi-grup
os de combate e um grupo de canhões s/recuo.

Foi inaugurada a nova pista de aviação de Aldeia Formosa, com a sua ampliação e o respectivo alcatroamento.

As forças estacionadas em Aldeia Formosa, nomeadamente a CCAÇ 2615, juntamente com a CART 2521, patrulharam e emboscaram os trilhos do Sector de Contabane, tentando conter as infiltrações inimigas, vindas da fronteira evitando a sua fixação em Kansembel.

No dia 20MAR1970, a CCAÇ 2615 foi reforçada com um grupo de combate da CART 2521, tendo sofrido três emboscadas, junto ao Rio Balana no trilho Bungofé, de que resultaram 2 milícias feridos com gravidadeNo corredor de Missirã, notou-se uma fraca actividade do PAIGC, não se registando vestígios dos mesmos, pelas NT. Este Sector passou a estar mais preenchido a Sul de Uane pela CART 2519 e a Norte pelas CCAÇ 2614 e CART 2521.

Neste período registaram-se flagelações de fraca duração em Mampatá, Buba e Chamarra.

Registou-se neste período e após a época das chuvas, o regresso das populações á actividade agrícola de proximidade.

Abril de 1970

O IN neste período diminui as suas acções de penetração, pelo corredor de Missirã e aumentou a sua presença no Sector de Contabane, reforçando os seus contingentes nesta zona, com a vinda de mais um bi-grupo de Kandiafara, um grupo de morteiros e 2 secções de sapadores.

Os ataques a Aldeia Formosa começaram a ser mais constantes e selectivos, marcando com isso forte implantação do IN na Zona.

Foi nomeado para comandante do Batalhão 2832 e do Sector o Ten. Coronel Manuel Agostinho Ferreira (foto ao lado), o célebre “metro e oito”, que viria a dar uma operacionalidade mais vasta às NT nas suas ZA.

Nhala foi reforçada com um grupo de combate da CART 2521 e, juntamente com a CCAÇ 2614, desenvolveram operações de Norte para Sul, entre o Corubal-Uane, deixando todo o Sul de Uane-Nhacubá a cargo da CART 2519.

À CCAÇ 2615, foi dada a missão de fazer segurança afastada, no Sector entre Contabane e Saltinho.

No dia 20ABR1970, a CCAÇ 2615 sofreu uma tremenda emboscada, junto a Sare Amadi, tendo sofrido 2 mortos.

Em 21ABR1970, foi atacada a Tabanca de Patembaló, sendo a mesma socorrida por forças de Aldeia Formosa.

No dia 26ABR1970, o IN atacou pela primeira vez Aldeia Formosa com foguetões de 122mm, tendo sido auto-transportados em viaturas vindas de Kandiafara.

A CART 2519, detectou um novo trilho do IN, no corredor de Missirá, a Norte de Ierosaldé, junto ao rio Tubaboiel, flectindo em direcção a Uane e Sardonha.

A CART 2519 viria a emboscar uma coluna de abastecimento do IN, neste novo trilho capturando material de guerra diverso e provocando, ao IN, 4 mortos confirmados.

Mais tarde Mampatá viria a ser flagelada à distância com fogo de morteiro e RPG 7.

Em Buba, as NT, conheciam uma acalmia aparente, sem guerra. Nos constantes patrulhamentos da CCAÇ 2616 e dos Fuzileiros, ao longo do rio, não havia sinais do IN.

Maio de 1970

Intensificou-se a acção do IN no Sector, as NT desdobraram-se em manobras de acção conjunta, conforme o delineado pelo comando de Aldeia Formosa.

"A fim de assegurar maior eficiência e permitir maior folga, a contra-penetração passou a ser feita por 1 Grupo de Combate de cada Companhia, no período de 24 horas. As CART 2519 e CCAÇ2614, contavam para o efeito com 1 Grupo de Combate da CART 2521 cada uma delas, que foram postos à sua disposição em Aldeia Formosa. Quando desejassem accionar este GC. deviam fazê-lo por MSG, com 24 horas de antecedência, indicando a hora, local da emboscada, dias e coluna. As Companhias podiam conjugar a protecção descontínua com grupos em contra-penetração, anulando todos os anteriores planos de contra-penetração."

Neste período o IN voltaria a reactivar o corredor de Missirã, deslocando para esta Zona efectivos consideráveis para proteger e manter aberto o itinerário de abastecimento para o Sector de Xitole.

Os contactos com o IN, pelas forças no terreno tornaram-se constantes vindo a verificar-se várias baixas em ambos os lados da contenda.

Foram colocadas minas e armadilhas, por tudo quanto era sítio de passagem do IN de Sare Dibane a Uane, criando-se uma Zona tampão pelas companhias no terreno, com permanecendo as mesmas no local 24 horas/dia.

Apesar de todo o nosso dispositivo no terreno, o inimigo continuava a penetrar para o interior, o que levou o Comando de Aldeia Formosa a idealizar e preparara a operação “Danúbio Azul", já aqui descrita no poste P4817.

O objectivo desta operação era encerrar o corredor de Missirã e para o efeito foi desenvolvida numa vasta área, desde Sambasó-Lenquel-Nhacubá, onde a acção desenvolvida foi classificada como “TOP SECRET” e o Sector foi fechado durante um largo período passando a ZI (zona de intervenção) para o COM-CHEFE.

Neste período de tempo, o IN atacou Aldeia Formosa, chegando a ter efectivos no fundo da pista de aviação e só retirando após a reacção das NT, que para o efeito recorreram ao Pel Rec Fox.

Junho de 1970

Neste mês, a acção do IN não se fez sentir a Sul de Samba Sabali, tendo o mesmo procurado outros itinerários, mais a Norte, o que levava a crer às NT que tentaram arranjar trilhos alternativos para efectuarem as suas penetrações.

Foram referenciados novos trilhos do inimigo junto a Colibuia, contornando a Zona minada pelas NT, aquando da operação “Danúbio Azul”.

O inimigo continuava a atacar Aldeia Formosa com insistência e violência, salientando-se os ataques nos dias 3 e 15 deste mês, em que foram usados morteiros de 120 mm e foguetões de 122 mm, transportados em viaturas oriundas da fronteira da Guiné-Konakry.

Nesta acção o IN acionou 2 minas A/C colocadas pelas NT em Sare Amadi, o que originou a destruição de uma das suas viaturas.

No dia 12JUN1970, na nossa coluna realizada entre Buba-Aldeia Formosa, foi accionada uma mina a seguir a Sare Usso, ferindo com gravidade dois elementos da CCAÇ 2615.

Em 30JUN1970, uma numerosa coluna do IN que se deslocava em Uane, foi detectada e atacada pelas CART 2521 e CCAÇ 2614, resultando a apreensão de considerável quantidade de material de guerra ao PAIGC e causando-lhe 5 mortos confirmados no terreno.

2. Secção - 1.º G. Combate

O inimigo nesta acção fugiu para Sul perseguido pelas nossas forças, vindo a cair numa emboscada que a CART 2519 tinha montada no terreno, mais a Sul de Uane, abandonando todo o seu equipamento que tinham conseguido levar e sofreram mais 4 mortos confirmados.

Registou-se neste período um ataque a Mampatá de fraca intensidade e outro a Buba.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


4 comentários:

Anónimo disse...

Olá

Olá Mário Pinto

Gostei de ver a foto do nosso saudoso Comandante TC Agostinho Ferreira falecido em 2003.
Cmte do m/ Bat Caç 2879 em Farim e por caturrice do Gen Spínola transferido depois para o v/ Batalhão e vosso Comt TC Ribeiro passou a comandar o nosso em Farim por pouco tempo.
O n/ [metro e oito] no regresso vei a comandar novamente o seu Bat Caç 2879.
Como refere o Cor Vasco Lourenço no seu livro "Do Interior da Revolução" era um homem que os tinha no sítio e já agora, outro camarada Paulo Santiago em bate-papo comigo dizia "era um homem com tomates" e eu corroboro e se querem saber mais, podem ler Rumo a Fulacunda Tc Rui Alexandri no Ferreira.
Podes ver aqui no blogue e no meu SITE www.carsilva-guine.com.
Apenas uma sugestão para o nosso Camarada Magalhães, por favor muda a foto para junto do parágrafo a que lhe diz respeito.
Será uma prenda de Natal
Um Santo Natal para todos os bloguistas
Carlos Silva
Ex-Fur CCaç 2548 Bat Caç 2879

Anónimo disse...

Meu caro:
"Fizeram cair" por terra a tua ideia de manif?!!?!??!??
Continuo descrente do blog!!!
Luis Nabais

Anónimo disse...

Amigo
Magalhães Ribeiro

Obrigado pelo reposicionamento da foto do meu ex-Comandante TC Agostinho Ferreira para junto do texto que lhe diz respeito
Um abraço para os restantes membros da equipe extensivo a todos os nossos camaradas
Carlos Silva

vitor disse...

Amigo Mario Pinto.Ao ler as tuas estórias e ao ver a tua foto fiquei a pensar "conheço esta cara". Fui ao meu arquivo de fotos e como estive no Quebo de Maio a Agosto de 1970 encontrei uma que se não és tu é o teu irmão gemeo.Pertence a uma op. heli feita nessa altura em Ald. Formosa.Vou enviar a foto ao Luis para ele investigar.O saudoso "metro e oito" tambem o conheci e de que maneira pois eu era o Fur Mil do STM de Ald. For. e está sempre á perna com ele.Bom Natal para todos.Ex Fur Mil. STM Vitor Raposeiro