sexta-feira, 16 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6749: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (9): Se as peças são para antigos combatentes..., não me deves nada!



Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 26 de Junho de 2010 > O JERO, em segundo plano, em conversa com o António Marques (de costas, meu camarada da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) e com a Alice...Não é rapaz para se deixar apanhar facilmente pela objectiva do fotógrafo... Não foi fácil arranjar-lhe uma chapa com ele, que gosta de cultivar o low profile...

Foto: © Juvenal Amadso (2010). Direitos reservados


1. Texto, com data de 6 do corrente e a assinatura do JERO (acrónimo de José Eduardo Reis Oliveira, ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66):

Ganda Luís

c/c para o Alto-Comissário Joaquim Mexia Alves

Assunto: Uma "cara-nova" no V Encontro Nacional da Tabanca Grande em Monte Real.


1- Desta vez conseguiste surpreender-me e atrapalhar-me com a tua postagem, P6676,  relativa a "caras novas" do V Convívio da Tabanca Grande (13).

Com efeito referir "caras novas" e aparecer um "canastrão" de barba branca não é de todo expectável. Depois como já tinha estado de véspera em Monte Real com o Carlos Vinhal,  ficara a conhecer o "cenário" do V Encontro e, com a minha fácil adaptação às coisas de que gosto, fiquei logo a sentir-me da "casa".

Posto isto,  vamos a agradecimentos. Devido à minha maneira de ser estou mais habituado a dar do que a receber. Mas quando me dão – e ainda por cima sem esperar – fico obviamente muito grato. As tuas palavras calaram-me fundo.

Quando te ofereci a peça de cristal era de facto um reconhecimento que pretendia fazer de forma discreta. A ti e a todos os co-editores. Porque efectivamente a "descoberta" em Agosto do ano passado do "nosso" blogue transformou a minha vida.

Brincaste na altura da entrega da peça "única e personalizada" se foi para melhor. Para mim foi, embora admita que, depois disso, passo tanto tempo ao computador que quem mora comigo em Alcobaça no nº. 17-3º.Dtº da Rua Afonso de Albuquerque não comungue dessa "melhoria" da minha vida. Mas, como dizia um nossa saudoso 1º Ministro… é a vida…e desde há um ano a esta parte tenho uma "família" muito maior. Os tais "irmãos" que cinco minutos depois do primeiro abraço parece que estiveram por ali perto…desde sempre.

2 - A tua referência ao "meu" Diário da CCaç 675 foi muito significativa e importante para mim. Ainda hoje me interrogo como é que fui capaz de escrever 240 páginas, aproveitando o tempo das sestas – de que prescindi – e os intervalos da guerra depois de almoço…. Também me fez recordar o "puto" da Mocidade Portuguesa que havia em mim…Ingénuo como caraças mas... era o que tínhamos ao tempo. E demorei uns bons anos a aprender … a mudar. E neste último ano graças ao "Luís Graça e Camaradas da Guiné" foi um autêntico "mestrado"…

Voltarei a este Diário da CCaç 675 daqui a algum tempo para te contar umas histórias "paralelas" que aconteceram…

3 - Cabe agora a vez ao Alto-Comissário Joaquim Mexia Alves que é de facto a generosidade em pessoa. Ter "participado" nos seu último aniversário em Alcobaça foi um privilégio e gostei muito de conhecer a sua mulher e filhos. Em relação à "sua" prenda vou-lhe hoje contar um "segredo". A garrafa de Ginja de Alcobaça foi arranjada de véspera e à pressa pois nem sempre é fácil conseguir este licor precioso.

Pedi a um amigo que tem uma pastelaria no Centro Comercial de Alcobaça. Não as tinha à venda mas tinha um pequeno stock em casa. Dispensou-me uma garrafa e quando me propunha pagar o seu custo disse-me:
– Se é para uma gajo que esteve na Guiné… não é nada… porque eu também lá estive.

Antes de fazer este apontamento fui confirmar nome, posto, companhia e tempo de serviço do meu "fornecedor": José Fernando de Sousa Santos, Furriel Mil de Infantaria, CCaç 1500 (Jan de 66 a Dez 68), com passagem por Bolama, Cufar, Bafatá, Teixeira Pinto e Saravaca (na fronteira com Senegal).


4 -Volto agora ao Luís para lhe contar como "apareceram" as peças de cristal respeitantes ao V Encontro da Tabanca Grande. Peças únicas e personalizadas…e com "Palanca" em vez de "Tabanca", o que lhe duplica (pelo menos) o seu valor de peças raras…

Foram executadas por um amigo que tem uma pequena oficina de transformação de cristal e vidro, que já conheceu dias melhores. Já teve uns 10 empregados e hoje é o patrão e também o único empregado. Fiz a encomenda dei-lhe os dados que pretendia e no dia aprazado apareci para fazer o levantamento e pagamento das peças. Não perguntei o preço mas sabia que este tipo de peças ronda o preço unitário de 30 euros.
– Fernando,  quanto é que devo?
– Não deve nada.
–Eh pá, és maluco. Quero pagar. Não estás rico e sei que demoraste umas boas horas a fazer estas peças.

O Fernando ficou na sua e rematou:
– Sei que as peças se destinam a ex-combatentes da Guiné e …portanto…não me deve nada!

Dei-lhe um abraço e abalei. Comovido com o seu gesto.

O Fernando Filipe tinha cumprido serviço militar entre 1977 e 79 no  RLL, em Lisboa. No Regimento de Lanceiros onde se "passou" parte do 25 de Novembro, como gosta de recordar.

O Fernando, que desde jovem – devido ao seu "cabedal"  – era conhecido pelo "Tarzan",  foi um Polícia Militar invulgar.  Não gostava de "injustiças" nem de "Chico-espertos". Numa ronda à noite, em Lisboa, apanhou um 1º. Cabo (comandante da sua viatura) que começou a ordenar repetidas paragens para "abordar" militares. A ideia do "nosso" Cabo era mostrar a sua farda de PM e a sua importância .O Fernando não gostou e disse-lhe:
– Eh pá,  ou acabas com essa merda ou levas um chapadão no focinho.

O 1º. Cabo parou com as suas merdas, conta o Fernando com o seu ar tranquilo…

5- Estas duas singelas "estórias" demonstram como é generosa e rica a nossa família de ex-militares. E este património ninguém nos pode tirar …nem aplicar impostos!

Com fraternal estima aceitem um grande abraço do velhote de Alcobaça, "cara-nova" do V Encontro de Monte Real.

JERO


Em tempo:

Para o Manuel Joaquim da CCaç 1419,que deixou um novo comentário na mensagem "Guiné 63/74 - P6676: V Convívio da Tabanca Grande ...

"(...) A minha gratidão pelas palavras amigas e pela recordação da sua passagem por Binta em Outubro de 1965. Tenho uma ideia do nosso encontro pois já nessa altura era o "relações públicas" da Companhia. E obviamente que tínhamos que receber bem quem nos trazia o feijão frade e as latas de atum. Se me deres a tua direcção tenho todo o gosto em te enviar esse 'Diário' de 1965 em fotocópias. Portanto,  caro Manuel Joaquim, até breve, se Deus quiser. JERO"
_____________
Nota de L.G.:

3 comentários:

Juvenal Amado disse...

Caro Jero
è bom ouvir falar de gente que conheço e com quem privei muitos anos.
Tanto José Fernando como o Fernando Filipe são ex colegas da Crisal.
Um abraço para ti e para eles

Juvenal Amado

Anónimo disse...

Caro Jero
Como te disse em comentário anterior " a amizade não têm preço". Nós temos amigos de infância, da escola, do emprego, mas os nossos amigos granjeados na Guiné estão num patamar acima.
Um abraço do tamanho do Corubal.
Ah! Já me esquecia o abraço também é enviado pelo meu amigo e vizinho Ataíde (com quem estive hoje a ver os enxertos que ele me fez na minhas oliveiras).
Luís Borrega

Hélder Valério disse...

Caro JERO

Já pensaste um bocado para poderes verificar que tens essa 'arte' de conseguir cativar com quem te aproximas?

Vem muito de ti, da tua maneira de ser, frontal, amigo, solidário e, por isso, nem chega a causar surpresa por aí além as reacções que contas, essas e outras.

E também, se pensarmos bem, não haverá muita surpresa igualmente no facto de acontecerem 'impulsos' como os que revelaste, relativamente às acções desses amigoe que, no fundo, parece até que se realizaram nesses actos de generosidade, fazendo eles a solidariedade que no fundo parecem ansiar e que ainda vai havendo.

Um grande abraço, amigo JERO.

Hélder S.