1. O nosso amigo e Camarada-de-armas António Brandão, que há muito tempo segue atentamente o evoluir deste blogue, foi Alferes Miliciano OpEsp/RANGER da CCAÇ 2336 (Angola 1968/70) e enviou-nos a seguinte mensagem em 13 de Julho de 2010:
Camaradas,
Soube de uma pequena estória que não posso omitir aos leitores deste cativante e interessante blogue do Luís Graça.
Os intervenientes são o famoso Mexia Alves e um primo meu - Duarte Nuno -, que já trocaram e-mails entre si, pelo que já se encontram apresentados.
Também os contactei dando-lhes conhecimento de que me propunha pedir a publicação desta estória, que se resume em meia dúzia de linhas, e ambos concordaram em que o fizesse.
É ele o Mexia Alves que eu conheci!
Ele aproveitou a “boleia”, já que os selos estão caros e, além de comentar o e-mail, mandava-me um link que me remetia para uma publicação no jornal Correio da Manhã.
Há pessoas que se cruzam connosco cuja forma de estar na vida, de enfrentar os problemas e no modo como se relacionam com os outros seres humanos, se perpetuam na nossa memória.
Foi este o caso que se deparou ao meu primo ao ler o artigo, pois recordou-se de imediato do antigo camarada que, com as malas já feitas, se preparava para partir para a Guiné.
Para aqueles que não viveram aqueles tempos, era assim, nos vários quartéis do nosso país, os militares andavam numa roda viva, saíam uns e entravam outros, e quantas vezes se sobrepunham por algum tempo na mesma instalação, até à hora da movimentação.
Os quartéis eram uma espécie de cama quente dos submarinos.
Por vezes, nestas circunstâncias, os primeiros a chegar ainda tinham direito aos melhores alojamentos no quartel e os últimos eram remetidos para instalações mais precárias, sem condições, longe do ambiente das messes. As sobrelotações aconteciam, por exemplo, quando um quartel mobilizador tinha que albergar, ao mesmo tempo, um Batalhão e uma Companhia Independente.
Foi numa situação de sobrelotação como o referido, que o meu primo conheceu o Mexia Alves e agora me contou assim:
“O Bart3881, que integrei, formou-se no RASP2. Na altura (finais de 1971), estava em fase final de apronte um outro batalhão. O pessoal era fixe. Pressentia-se a tensão decorrente dessa uma unidade que partiria para a Guiné, mas éramos novos e eles revertiam-na com pequenas e grandes loucuras que acabávamos por partilhar com gosto. De todos o mais "louco" era o Mexia Alves. Fora de série no que ao relacionamento castrense respeitava e no que demais se adivinhava
Uma noite em que entrei no quartel de madrugada, passei na messe para tomar o habitual "chá" nocturno e vi este grande castiço, que na ocasião já devia ter na conta, dois ou mais bules do dito “chá”, de pé em cima de uma mesa, a pregar uma… missa.
Nunca mais na vida encontrei "padre" mais etilizado; porém lúcido q.b. para não descambar na "lengua-lengua latinória", tal como na altura eu ainda tinha no ouvido.
De quando em vez lembrava-me do Mexia, e outras tantas tentava imaginar por onde andaria este Homem.
Finalmente descobri uma pista, na afirmação do seu melhor de um verdadeiro “Ranger”, no endereço cibertnético: http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/portugal-desprezou-soldados-africanos, uma crónica “A minha guerra” na revista do Correio da Manhã de 27JUN2010.
Nem mais!
Um abraço,
Duarte Nuno”
Claro que esta estória tão real denuncia (imagino eu) um nervoso que só quem por lá passou, chafurdando nas matas e bolanhas, pode facilmente testemunhar e cujo controle nem com vários bules se conseguia.
Todos conhecemos o protagonista principal deste “filme” e olhando para uma fotografia sua actual, duvida-se… não pode ser ele, não é possível.
Mas, olhando para aquela fotografia em que ele se encontra fardado com (segundo a nova nomenclatura (?) do actual ministro da defesa “traços” de Alferes Miliciano), arranca-nos um sorriso e um “humm… é bem possível… É ele o Mexia Alves que eu conheci!
Um abraço,
António Brandão
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 2336, Angola
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6732: O Nosso Livro de Visitas (93): José Caetano, um português da diáspora (EUA), antigo tripulante do N/M António Carlos, da SG/CUF, que em 1964 levou de volta a casa cerca de meia centena de presos políticos guineenses, detidos no Tarrafal
1 comentário:
Caro António Brandão
De facto, desde que não andemos totalmente alheados de tudo o que nos diz respeito, acabamos por nos deparar com situações como aquelas que nos relataste.
Começa-se a olhar para as coisas, depois reflecte-se um pouco, duvida-se, depois 'parece que sim' e acabamos por nos reencontar, já que encontrar os outros que de algum modo fazem parte da nossa própria história é, de facto, encontramo-nos a nós próprios.
E isto é uma das coisas que este blogue, por exemplo, tem de bom.
Um abraço
Hélder S.
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