segunda-feira, 30 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9831: Tabanca Grande: oito anos a blogar (17): Pode o blogue esquecer a data, 25 de abril, sem a qual nunca teria existido ? (José Belo)


1. Mensagem, de 28 do corrente, do nosso camarigo José Belo [, foto à direita]:



De: Joseph Belo [ joseph.sve@gmail.com]

Data: 28 de Abril de 2012 19:24

Assunto: Um comentário frontal no aniversário do blog.


Caro Amigo e Camarada: 



Considerando-me um membro leal, e entusiasta, do nosso blogue, sinto que,  entre camaradas de armas que tanto sofreram em comum,  deverá haver uma frontalidade nas opiniões e na forma aberta de as exprimir.

O nosso blogue tem conseguido navegar,  ao longo dos seus já muitos anos algumas "pequenas-grandes" tempestades, graças à dedicação,entusiasmo e sensibilidade relacional dos seus Editores. Não tem só "navegado" como tem vindo continuamente a crescer, expandir-se, tendo-se tornado num caso único entre pares.


Um caso único pela vasta soma de documentos que dispõe, e não menos, um caso único pelo relacionamento entre a vasta maioria dos seus membros:todas as divergências acabam por ser ultrapassadas, e, a seu modo, vão enriquecendo em diversidade as perspectivas de cada um dos participantes.

Nas nossas idades (que para alguns será igual a ... certezas feitas) este agitar de opiniões servirá para não nos deixar cair em madrice de intelecto. Dentro deste espírito, e como o assunto está inequivocamente relacionado com a guerra da Guiné, mormente o fim da mesma, gostaria de exprimir uma opinião frontal sobre a data do 25 de Abril de 1974 não referida no blogue. 


É uma data que lembra o fim de um longo regime de ditadura,e consequente liberdade para todos os portugueses. E a palavra "todos" será importante. É uma data que comemora o fim das guerras de África.(E porque não lembrá-lo, é uma data que veio permitir a existência deste blogue). 

Misturar, ou recear misturar,  factos de importância histórica com os criminosos "arrivismos" de alguns, pondo agendas partidárias (e pessoais) ao serviço dos mais variados interesses, internos, e não menos externos, será,a meu ver, algo de injusto para o significado de Abril. Ao contrário das grandes potências, desde logo infiltradas no país e que bem souberam defender os seus interesses noutras áreas, interesses nacionais importantes, e não menos valores fundamentais, foram criminalmente, ingenuamente(?), estupidamente, negligenciados. 


No caso concreto dos ex-combatentes da Guiné, não creio serem muitos os que desejariam para os seus filhos e netos o acabarem por ser arrastados para aquela guerra sem soluções que não políticas. Porque, mesmo que nós e os africanos que nos combatiam tivéssemos encontrado uma milagrosa maneira política de reestabelecer a paz, as tais grandes potências internacionais não o teriam permitido. Os interesses eram outros.

Será esta a não divisionária referência a Abril? Porque o resto, espiado de todos os imediatismos, ficará sujeito ao duro julgamento da História, próxima e distante. 

Um abraço. 
José Belo
Estocolmo, 28 Abril 2012. 

PS - Tenho tentado enviar desde outro computador este e-mail, sem resultado. Daí pedir desculpa se me estiver a...repetir.
_________________


Nota do editor:
Último poste da série > 29 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9829: Tabanca Grande: oito anos a blogar (16): Parabéns (Vasco Pires, no interior do Brasil; ex-cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

8 comentários:

Antº Rosinha disse...

Pois é José Belo, o 25 de Abril todos apoiam em geral, mas muitos pensam que não gostam, mas na realidade do que não gostam(os) tanto, foi do dia 26.

Quando separarmos "todos", o dia 25 de Abril, do dia 26, aí vai todo a gente entender-se melhor.

Mas vai levar anos.

Sabes que na revolução de 5 de Outubro de 1910, o Almirante Reis suicidou-se, e Machado dos Santos heroi da Rotunda, assassinaram-no.

No 28 de Maio de 1926, Mendes Cabeçadas foi deportado para os Açores pelo Gomes da Costa, a seguir este é deportado pelo Carmona.

E o maravilhoso capitão Salgueiro Maia, de uma dignidade incrível, também foi parar aos Açores e nunca pertenceu à Associação 25 de Abril.

Quando estamos longe olhamos para as coisas com mais calma.

Mas se nós os velhotes não nos entendermos, não há grande mal, o pior é os novos que não acertam o passo.

Cumprimentos

Anónimo disse...

25 de Abril, sempre.
Bernardo

Juvenal Amado disse...

O que o 25 de Abril nos trouxe ultrapassa ainda largamente o tal 26 e fica a anos de luz doo 24 .
O 26 de Abril é consequência do que fizeram com o 25 os diversos poderes, que se afastarm dos ediais daquela madrugada inesquécivel.
Só nos podemos queixar de nós proprios.

Por isso faço meu, o comentário do Bernardo.

25 DE ABRIL SEMPRE.

Anónimo disse...

Viva Zé Belo,
O que nos resta do 25 de Abril?
Pouco. Pouco demais para as expectativas daquele dia. por isso secundo o Mais Velho: no dia seguinte tomava-se o pulso à situação. Partidos, ambiciosos, interesses económicos e estratégicos, até o voluntarismo de quem na véspera navegava no ocultismo, e já dava cartas sobre uma coisa ou outra. E logo, logo, o povo dividia-se, deixava-se tolher e amorfanhar, que as coisas para pegarem, não podem acontecer de imediato, até à situação actual, que muitos ainda não intuiram, mas têm opinião convicta. Assim, à parte uma muito relativa liberdade de expressão, um Serviço Nacional de Saúde meio muribundo, um Centro Nacional de Pensões que deve (devia) proteger a todos pelas mesmas regras, mas anda titubiante, de repente, não encontro mais resquicios de Abril.
E sobre soluções, nem é bom falar. De facto, as cabeças pensadoras cá do jardim, ou não têm ideias, ou não lhes convém tê-las.
De uma coisa estou convencido: sem uma democracia participativa, em que os cidadãos possam participar nas decisões que lhes dizem respeito; sem fiscalização do exercício do poder através de mecanismos simples de controle sobre os actos políticos, não me parece que alguma vez nos aproximemos de um modelo social pró-justo, ou alguma coisa similar às sociedades escandinavas.
Já agora, o nosso camarada Zé Martins deu-me uma excelente dica para regeneração política: deveríamos ser obrigados a votar, mas os lugares do Parlamento, ou das Ass.Municipais, seriam preenchidos na proporcionalidade dos votantes. Ora, a registarem-se votos nulos, ou em branco, por censura popular sobre os propostos e os partidos proponentes, poderia haver lugares por ocupar. Actualmente, no Parlamento seriam perto de 50% de cadeiras vagas. E a isso acrescento um esquema punitivo, que, naquelas circunstâncias, não permitiria futuros escrutínios aos candidatos regeitados.
Enfim, coisas que não cabem num comentário, mas que podem agitar as mentes. Um grãozinho.
Abraços fraternos.
JD

A. Marques Lopes disse...

Não se pode baralhar, António Rosinha, e meter tudo dentro do mesmo saco. Ontem, os soldados-cadetes do 1º Ciclo do COM de Janeiro de 1966 encontraram-se no Ribatejo. Aproveitámos e fomos visitar, primeiro, a Casa-Estúdio Carlos Relvas, monárquico dos sete costados, foi, até, padrinho de casamento do rei D. Carlos. Grande e rico proprietário rural da Golegã, foi cavaleiro tauromáquico e dedicou-se à fotografia. Por via, é claro, do trabalho dos seus assalariados rurais e dos seus campinos. Visitámos, depois, a Casa Museu dos Patudos, uma enorme mansão da família Relvas em Alpiarça. O filho José Relvas, herdeiro das grandes propriedades e mais enriquecido com a exploração dos vinhos da região, transformou essa casa em museu, enchendo-a com milhares de obras que adquiriu depois da implantação da República. Lembro que foi o homem que a proclamou da varanda da Câmara Municipal de Lisboa. Os capitães de Abril não era latifundiários, nem o eram os que, a seguir, lutaram por uma sociedade melhor para o povo português. Não se devem fazer misturas.
E conto uma historieta dos ingleses:
Navegando há vários meses sem que os marujos tomassem banho ou trocassem de roupas, o que não era novidade na Marinha Mercante britânica, o navio fedia.
O Capitão chama seu Imediato:
--- Mr. Simpson, o navio fede. Mande os homens trocarem de roupa!
--- Yes, Sir!
Simpson reune seus homens e diz:
--- Sailors, o Capitão está se queixando do fedor a bordo e manda todos trocarem de roupa. David troque a camisa com John. John troque a sua com Peter. Peter troque a sua com Alfred. Alfred troque a sua com Fred...
E assim prosseguiu. Quando todos tinham feito as devidas trocas, ele retorna ao Capitao e diz:
--- Sir, todos ja trocaram de roupa.
O Capitão, visivelmente aliviado, manda prosseguir a viagem.
É fácil de entender,então, o que é que se tem passado depois do 25 de Abril, não é?... E o "capitão" Cavaco manda seguir viagem, claro.

Luís Graça disse...

Meu caro Zé Belo:

A resposta à tua pergunta é, obviamente, não... O nosso blogue não pode esquecer, não deve esquecer nem esquece o 25 de abril, data sem a qual ele nunca teria existido...

De resto, em matéria de datas é o marcador com mais referências no nosso blogue:

25 de abril > 134
24 de setembro de 1973 > 10
25 de novembro > 8...

"Last but not the least", o blogue vive sobretudo dos textos que lhe enviam os nossos amigos e camaradas da Guiné, como tu...

Anónimo disse...

Caro Luís Graça.Ainda dentro do tal espírito de frontalidade lembro que a data que me levou a este poste foi a de Abril/25/2012.Estatísticas referenciais não especificadas,têm o significado que têm de acordo com contextos; sejam eles negativos ou hilariantemente positivos. Um abraço

Luís Graça disse...

O que nós (não) somos... Em dez pontos!

(i) Os amigos e camaradas da Guiné têm como maior denominador comum a experiência de (ou a relação com) a guerra da Guiné, entre 1961 (ou 1963) e 1974 (colonial, para uns; do ultramar, para outros; de libertação, para os nacionalistas guineenses);

(ii) Muitas outras coisas nos podem separar (a ideologia política, a religião, a nacionalidade, a origem social, a etnia, a cor da pele, as antigas patentes e armas, etc.), mas essas não são decisivas;

(iii) Quanto ao nosso blogue, ele não é nenhum porta-estandarte, nenhum porta-voz, nenhuma bandeira de nenhuma causa;

(iv) Somos independentes do Estado, dos partidos políticos e das associações da sociedade civil que de uma maneira ou de outra possam representar e defender os direitos e os interesses dos ex-combatentes portugueses (ou guineenses ao serviço de Portugal);

(v) Somos sensíveis aos problemas (de saúde, de reparação legal, de reconhecimento público, de dignidade, etc.) de todos os ex-combatentes, que passaram pelo TO da Guiné, incluindo os guineenses que combateram, de um lado ou de outro; mas enquanto comunidade (virtual) não temos nenhum compromisso para com esta ou aquela causa por muita justa ou legítima que ela seja;

(vi) Em todo o caso, a solidariedade, a amizade e a camaragem são valores que procuramos cultivar todos os dias;

(vii) Cada camarada e amigo que aqui escreve (incluindo os leitores que comentam livre e responsavelmente no espaço reservado a esse efeito), compromete-se a respeitar a orientação editorial e as normas éticas do blogue, mas representa-se apenas a si próprio;

(viii) Não somos historiadores; também não somos nenhum portal noticioso; não temos jornalistas profissionais; não temos a obrigação de cobrir a actualidade dos nossos dois países, Portugal e a Guiné-Bissau; abstemo-nos, de resto, de introduzir no blogue a actualidade política, em geral, e dos nossos dois países, em particular;

(ix) Somos apenas um grupo camaradas da Guiné, e de amigos (do povo português e do povo guineense), incluindo familiares de camaradas desaparecidos ou mortos, durante e depois da guerra;

(x) Publicamos narrativas, histórias, estórias, documentos, relatórios, fotos, vídeos, etc., relacionados com a nossa vivência comum, a guerra, de que fomos actores e vítimas, protagonistas e testemunhas...

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/08/guine-6374-p8675-o-nosso-livro-de.html