Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > Abril de 1997 > O obus de Bambadinca... Vestígios da guerra colonial: uma peça de artilharia (obus de 140 mm) abandonada pelos tugas. (Foto reproduzida gentilmente autorizada pelo Frederico Amorim. vd. O Mundo de Fred).
Foto (e legenda); © Frederico Amorim (1997). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > Setor L1 > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Um obus 14 (ou peça 11.4 ?) em trânsito por Bambadinca: da esquerda para a direita, o alf mil Ismael Augusto, um furriel não identificado e o furriel José Carlos Lopes...
No tempo dos BCAÇ 2852 e BART 2917, ou seja entre 1968 e 1972, Bambadinca não tinha artilharia... Mas muitos obuses 14 e peças 11.4 passaram por aqui, desembarcados no Xime, ou mesmo no porto fluvial de Bambadinca a caminho de outras guarnições do leste, nomeadamente situadas nas zonas fronteiriças. No final da guerra, estes equipamentos regressaram pelo mesmo caminho. No setor L1, só havia artilharia (3 obuses 10.5) no Xime e em Mansambo.
Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)
1. É uma raridade, esta foto, com o obus de Bambadinca, Foi tirada pelo Fred, o Frederico Amorim, em 1997, e divulgada na Net, numa altura em que ainda havia muito poucos sítios, individuais, dedicados a viagens. "Mundo do Fred", na sua primeira versão, data de 1998.
Como ele explica:
(...) Tendo desenvolvido uma enorme paixão pelas viagens, comecei a criar um site para divulgar as aventuras mas também que me permitisse alimentar essa paixão durante todo o ano e não apenas nas férias. O primeiro site Mundo do Fred foi para o ar em 1998, ainda a Internet, conhecida como World Wide Web, era utilizada por uma pequena minoria. (...)
(...) A minha primeira grande viagem foi aos 15 anos, com uma travessia de carro através de Espanha até chegar ao Sul de França, Itália até Milão, Suíça e regresso a Portugal. Hoje pode parecer banal, mas nos anos 80′ era um grande feito quando ainda se parava em cada fronteira da Europa para mostrar o passaporte. Dois anos depois fomos de carro a Paris e no ano seguinte a Londres. Dez anos depois chegava ao “fim do mundo” na Terra do Fogo.
Hoje, da mesma forma que os meus pais me levaram a viajar desde cedo, tento fazer o mesmo com os meus filhos. Mas hoje as condições de vida em Portugal e a massificação das viagens com a globalização, permitem que as viagens cheguem mais longe e com melhores condições, assim como o acesso a mais informação facilmente. Se os meus pais me levaram até à longínqua Hungria de carro, eu já levei os meus filhos ao México e ao Vietname. (...)
O Fred, foto atual. Cortesia do "Mundo do Fred" |
Como ele explica:
Se não erro, o "Mundo do Fred" estava originalmente alojada no portal português Sapo. O Fred transferiu o seu sítio, em 2006. E criou uma 3ª versão mais recentemente;
.(...) "Por fim em 2018, 20 [anos] depois, coloquei no ar a versão 3 do Mundo do Fred, finalmente com o seu domínio próprio e com a ajuda de ferramentas que hoje estão disponíveis para ajudar neste desenvolvimento de conteúdos." (...).
Perdi o link original da foto do velho obus de Bamadinca, que reproduzi no poste nº 3, de 28/4/2004, no início da nossa aventura bloguística (*). Só hoje, 16 anos depois, a recuperei, com muita alegria, ao redescobrir a última versão, a 3, do "Mundo do Fred".
Explica-nos ele como é que começou essa paixão pelas viagens.
Explica-nos ele como é que começou essa paixão pelas viagens.
(...) A minha primeira grande viagem foi aos 15 anos, com uma travessia de carro através de Espanha até chegar ao Sul de França, Itália até Milão, Suíça e regresso a Portugal. Hoje pode parecer banal, mas nos anos 80′ era um grande feito quando ainda se parava em cada fronteira da Europa para mostrar o passaporte. Dois anos depois fomos de carro a Paris e no ano seguinte a Londres. Dez anos depois chegava ao “fim do mundo” na Terra do Fogo.
Hoje, da mesma forma que os meus pais me levaram a viajar desde cedo, tento fazer o mesmo com os meus filhos. Mas hoje as condições de vida em Portugal e a massificação das viagens com a globalização, permitem que as viagens cheguem mais longe e com melhores condições, assim como o acesso a mais informação facilmente. Se os meus pais me levaram até à longínqua Hungria de carro, eu já levei os meus filhos ao México e ao Vietname. (...)
2. Sabemos que de 20 a 27 de abril de 1997, o Fred foi, com um grupo de amigos, todos jovens, incluindo um amigo guineense, com família em Bissau e em Bambadinca, em viagem até à Guiné-Bissau.
Não sabemos quais eram então as suas motivações, para além do prazer da descoberta e da aventura. Ele deveria ter já nessa altura vinte e poucos anos .E até é possível que o seu pai tenha estado na Guiné, no tempo da guerra colonial, como militar ou como civil...
De qualquer modo, em 1997, a Guiné-Bissau estava longe de ser um "destino apetecível"... E no ano seguinte, 1998, 'Nino' Vieira é derrubado por um golpe de estado e o país é mergulhado numa guerra civil-
O Fred conheceu, portanto, a Guiné Bissau, ainda sob o regime "nitista" e tirou fotos de alguns sítios por onde viajou, incluindo esta foto "patética", que ainda hoje nos causa calafrios, mas também repulsa e compaixão, a de um velho obus, abandonado, esventrado, sem rodas, reduzido ao miserável "esqueleto", esquecido, sem honra nem glória, apontando, cego, surdo e mudo, o teu tubo inútil à grande bolanha de Bambadinca..
De qualquer modo, em 1997, a Guiné-Bissau estava longe de ser um "destino apetecível"... E no ano seguinte, 1998, 'Nino' Vieira é derrubado por um golpe de estado e o país é mergulhado numa guerra civil-
O Fred conheceu, portanto, a Guiné Bissau, ainda sob o regime "nitista" e tirou fotos de alguns sítios por onde viajou, incluindo esta foto "patética", que ainda hoje nos causa calafrios, mas também repulsa e compaixão, a de um velho obus, abandonado, esventrado, sem rodas, reduzido ao miserável "esqueleto", esquecido, sem honra nem glória, apontando, cego, surdo e mudo, o teu tubo inútil à grande bolanha de Bambadinca..
Ele escreveu no seu diário:
"26/4 – Bafatá – Bambadinca – Bissau : Confrontos em Bafatá: tiros e carros incendiados. Houve uma greve dos funcionários públicos, sem salário há 5 meses, que culminou em violência. Visita à cidade. Bambadinca: conversa com um empresário local. Restos de canhão da guerra colonial. Visita à madrasta e irmãos do Serifo. Bissau. Jantar em Quinhamel. Estadia no Hotel Hoti-Bissau. Discoteca Kapital."
Mas foi o "obus de Bambadinca" que me chamou a atenção,quando, em 28 de abril de 2004, andava à procura de uma foto de Bambadinca e então dei com a sua página na Net, com fotos de Bafatá, Bambadinca, Saltinho, com paisagens que me eram familiares,,,
Havia ainda na época muita sucata da guerra (viaturas, peça de artilharia, etc., a par de instalações militares), espalhadas por toda a Guiné, e que eram testemunhas arqueológicas de um guerra já esquecida, a de 1961/74...
Havia ainda na época muita sucata da guerra (viaturas, peça de artilharia, etc., a par de instalações militares), espalhadas por toda a Guiné, e que eram testemunhas arqueológicas de um guerra já esquecida, a de 1961/74...
3. Volto a reproduzir essa foto (, com a devida vénia ao autor...) e as notas de viagens que a acompanham (a esta e a outras, aqui disponíveis no respetivo sítio).
Guiné Bissau / Bafatá e Interior
Bafatá é a segunda maior cidade da Guiné-Bissau com 10.000 habitantes. Fica no interior do país na margem do Rio Geba, 150 kms a leste de Bissau.
Bafatá é a segunda maior cidade da Guiné-Bissau com 10.000 habitantes. Fica no interior do país na margem do Rio Geba, 150 kms a leste de Bissau.
Bafatá é uma cidade surpreendentemente tranquila, caracterizada por uma predominância de edifícios e casas coloniais, infelizmente num estado avançado de degradação. O herói nacional, Amílcar Cabral, nasceu em Bafatá e esse facto está assinalado num pequeno monumento com o seu busto e na casa onde nasceu, perto do Mercado Central. A cidade fica numa colina sobre o Rio Geba. 12 kms a oeste ficam as ruínas de Geba, um antigo entreposto português.
Cussilinta é um lugar mágico onde se pode contemplar uma magnífica paisagem natural num rio de leito rochoso com selva em redor. Nada com um belo banho na água quente…
Saltinho é outro lugar paradisíaco num enorme leito de rio rochoso com cascatas e selva em redor. Fica a 25 kms a sudeste de Xitole (por sua vez, 35 kms a sul de Bambadinca), junto à aldeia de Mampatá. As suas cascatas são muito bonitas e ainda mais na época das chuvas, tornando-se o rio num lago imenso. Saltinho tem ainda hoje uma importante ponte construída pelos portugueses nos anos 60.
Bambadinca é uma cidade a oeste de Bafatá. Foi um importante palco da guerra colonial, encontrando-se ainda vestígios desse conflito, como um velho obus.
Cussilinta é um lugar mágico onde se pode contemplar uma magnífica paisagem natural num rio de leito rochoso com selva em redor. Nada com um belo banho na água quente…
Saltinho é outro lugar paradisíaco num enorme leito de rio rochoso com cascatas e selva em redor. Fica a 25 kms a sudeste de Xitole (por sua vez, 35 kms a sul de Bambadinca), junto à aldeia de Mampatá. As suas cascatas são muito bonitas e ainda mais na época das chuvas, tornando-se o rio num lago imenso. Saltinho tem ainda hoje uma importante ponte construída pelos portugueses nos anos 60.
Bambadinca é uma cidade a oeste de Bafatá. Foi um importante palco da guerra colonial, encontrando-se ainda vestígios desse conflito, como um velho obus.
Obrigado ao Fred por, mesmo sem a sua vontade expressa, nem sequer o seu conhecimento, ser associado à celebração dos 16 anos do nosso blogue... Mas é por uma boa causa... Sei que ele ficou a adorar, em abril de 1997, aquela terra e aquelas gentes. (**)
___________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 28 de abril de 2004 > Guiné 63/74 - P3: Excertos do diário de um tuga (2) (Luís Graça)
(*) Vd. poste de 28 de abril de 2004 > Guiné 63/74 - P3: Excertos do diário de um tuga (2) (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 23 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20892: 16 anos a blogar (2): "Exma menina e saudosa madrinha: Em primeiro de tudo, a sua saúde que eu por cá de momento fico bem, graças a Deus"... Excerto de um aerograma... O nosso primeiro poste, publicado no já longínquo dia 23/4/2004.
4 comentários:
Boa malha, Fred, a viajar é que a gente se entende...
Abraço,
António Graça de Abreu
Olá Camaradas
Estava convencido de que o material de artilharia tinha vindo todo. No fundo eram armas e como tal deveriam vir. Em Bambadinca, que me lembre, não havia material deste (1972).
Qual terá sido o seu percurso?
O que terá sucedido para que para ali tivesse ficado abandonado?
Quem o abandonou? E num quartel?
Este era dos tais que merecia ir para uma rotunda apodrecer até que a guerra não fosse mais do que uma recordação esquecida, como é habitual por aquelas paragens...
Um Ab. e bom Confinamento a lavar as mãos (e os pés, não se esqueçam) a manter a distância (mas a conservar a ligação) e a usar a máscara social.
Também haverá máscaras anti-sociais?
Ah! E não há beijinhos nem abracinhos para ninguém. Só p'ró Marcelo porque o Papa Xico e NSenhor o protegem e os banhos diários na Praia do Peixe, em Cascais, lhe dão muita saúde.
E a gente que o ature!
António J. P. Costa
Luis Mourato
26 abril 2030 16:53
Olá Luis
Espero que estejas pela Lourinhã onde parece tudo correr bem. Eu estou aprisionado num T1 virado a norte e sem varandas e só saio para fazer exercício pedalando por Lisboa.
Respondendo à tua questão posso afirmar que Bambadinca nunca teve artilharia.
Abraço e cuida-te.
Domingos Robalo
26 abril 2020 21:38
Olá Luís Graça, boa noite.
Espero que estejas tranquilo nesta fase de "Covid-19", que começa a ser uma chatice. Estou de quarentena à mais de 40 dias, no Alentejo, para onde vim com o neto para que este não ficasse confinado ao apartamento.
A minha filha mais nova faz hoje (26-04-1974) 46 anos e apenas pude dar-lhe um cumprimento via "internet". Mas, estamos com saúde. Quanto à solicitação sobre a foto em questão, também creio tratar-se de um 14 cm.
O teu texto focou um ponto relacionado com o pouco conhecimento da ação da artilharia pelo T.O.
Embora já um pouco esquecido sobre a realidade que conheci, 69/71, estaria disponível para, conjuntamente com outros camaradas, tentar escrever sobre a artilharia na Guiné. Será que a ideia tem pernas para andar? Não sei. Mas com base e aproveitando o conhecimento de muitos artilheiros talvez fosse possível.
Aguardemos que a pandemia passe e depois poderemos abordar o tema.
Com um abraço de amizade, saudações de artilheiro.
Domingos Robalo
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