1. O angolano Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022), ten cor inf ref, fez duas comissões no CTIG, a última como cmdt da CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, jan 71 / set 72). Depois de ter feito uma última comissão, como capitão, em Angola, regressou em 1975 e fixou residência em Viseu, onde continuou a fazer inúmeros amigos e onde escreveu três livros de memórias....
Além de ter sido um grande operacional, gostava também de pregar as suas partidas e contar as suas cenas pícaras... Esta é mais um delas... Fica bem, seguramente, na série "Humor de caserna" (*)...
A ver a tropa passar...
por Rui A. Ferreira
Destacado para prestar assistência psicológica a uma companhia que havia perdido seis elementos (**), o segundo comandante do batalhão dirigia-se, na sede desta, às forças em parada que nessa noite partiam para mais uma operação:
− Vamos fazer uma grande operação para as nossas tropas,,,
Alguns dos presentes nem cabiam em si de espanto:
− Vamos ?!... Será que ele também vai ?!...
Mas, apresentando-se impecável no seu camuflado, de pistola metralhadora a tiracolo, tudo parecia confirmar o dito "Vamos"...
Mesmo assim alguns duvidavam. E se, por um lado, duvidavam bem, por outro não cabiam em si de espanto, quando lá para as duas da madrugada viram o dito senhor meter-se na fila e avançar para seguir para o mato.
Só que a viagem foi curta, pois mal atingiu a abertura no arame farpadio, aí ficou... a ver a tropa passar!
Fonte: Adapt de Rui Alexandrino Ferreira - "Quebo: nos confins da Guiné". Coimbra: Palimage, 2014, pág. 347
(Título, revisão / fixação de texto: LG)
____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 20 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25584: Humor de caserna (60): O anedotário da Spinolândia (XI): "Continua, meu rapaz, salvas-te tu para que este batalhão não seja a merda mais completa" (Um anedota contada pelo saudoso Rui A. Ferreira,1943-2022)(**) Referência mais do que provável à CCAÇ 1420 (Fulacunda, 1965/67), do BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67). O Rui foi substituir o alf mil Vasco Cardoso, também angolano, dado como "desaparecido em combate".
Vd. poste de 5 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20814: (De) caras (150): Acossados pelo IN, numa agonia de 4 dias, entre 7 e 10 de outubro de 1965: seis camaradas, da CCAÇ 1420 e CCAÇ 1423, no decurso da Op Lenda, em Gamol, Fulacunda, têm um destino cruel: 3 são abatidos, 2 suicidam-se e o último rende-se (Rui A. Ferreira, ex-alf mil, CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67; e ex-cap mil, CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72)
1 comentário:
Não terão sido poucos os senhores oficiais superiores, no CTIG, a ver a tropa passar... Por azar, nem banda marcial havia, no mato, para ajudar a passar o tempo no comando dos batalhões...
Esta situação burlesca não foi seguramente única: deduzimos que se tenha passado em 1965, em Tite, na época em que lá esteve o BCAÇ 1860...E ainda a guerra estava no princípio...
Enviar um comentário