Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Guiné 63/74 - P7852: A minha CCAÇ 12 (12): Dezembro de 1969, tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo (Luís Graça / Humberto Reis)
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/71) > s/d > O Fur Mil At Inf Arlindo Roda (CCAÇ 12, Bambdaionca, 1969/71) junto ao um dos obuses 10.5 que defendiam o aquartelamento e tabanca do Xime... A CCAÇ 12 fez inúmeras operações no sector do Xime (bem como no de Mansambo, a sul, entre Bambadinca e o Xitole).
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) > Algures numa nas numerosas tabancas fulas em autodefesa, o Fur Mil At Armas Pesadas Inf, Henriques, posando para a fotografia com um RPG2, que estava distribuído à milícia local, reforçada (temporiaramente com uma secção da CCAÇ 12).
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) > Algures numa nas numerosas tabancas fulas em autodefesa, o Fur Mil At Inf Mil Luciano Severo de Almeida, posando para a fotografia com um RPG2... O Luciano de Almeida, que era natural de (ou residia em) um dos concelhos ribeirinhos da margem sul do Tejo (Montijo ?), morreu (em circunstâncias violentas, ao que me disseram), anos depois do regresso à Metrópole. Fiquei chocado com a sua morte.
Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da Ponte sobre o Rio Udunduma (dinamitada pelo PAIGC em 28 de Maio de 1969). A partir de Dezembro de 1969, a sua defesa (até então a cargo da unidade de quadrícula do Xime, a CART 2520) passou a ser da CCAÇ 12, do Pel Caç Nat 52 e da CCS/BCAÇ 2852 e mais tarde do BART 2917.
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCS/BART 2917 (1970/72) O Fur Mil Op Esp, Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 (1970/72), no alto da ponte, na "prancha de saltos"... O rio (afluente do Geba) ajudava a matar o tédio dos dias, já que as noites eram infernais (por causa do calor e dos mosquitos, no tempo das chuvas)... Só havia valas, protegidas por bidões de areia e chapas de zinco... No nosso tempo, nunca chegou haver nenhum ataque ou flagelação do PAIGC...
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) (?) > Um militar africano, com a famigerada bazuca 8,9 cm, M20, de origem americana...
Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça
(6) Bamdabinca, Dezembro de 1969: Tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo
(6.1) Op Estrela Grandiosa
A 5 de Dezembro de 1969, 2 Gr Comb da CCAÇ 12, juntamente com forças da CART 2520 [, unidade de quadrícula do Xime,] e do Pel Caç Nat 63 (, Fá Mandinga, comandada pelo Alf Mil Art Jorge Cabral, o nosso querido Alfero Cabral,) efectuam a Op Estrela Grandiosa em repetição da Op Tigre Valente (patrulhamento ofensivo na região de Ponta Varela /Poindon, passando pelo antigo acampamento IN destruído em Setembro passado). Não houve contacto nem se detectaram vestígios do IN.
(6.2) Acção Hindu
A 7, o 1º Gr Comb da CCAÇ 12, comandado pelo Alf Mil Op Esp, Francisco Moreira, e o Pel Caç Nat 52 (Missirá, comandado pelo Alf Mil Beja Santos) levam a efeito a Acção Hindu, patrulhando as tabancas a sueste de Bambadinca (Sinchã Dembel, Iero Nhapa, Aliu Jai, Queroane, Queca e Sare Nhado).
(6.3) Op Lua Nova
A 13, realizava-se uma operação a nível de Batalhão no subsector de Mansambo, a fim de bater a área de Sangué-Bemba (Danejo), Galoiel e Biro (Op Lua Nova).
Desde há muito que estavam referenciados trilhos do IN, vindos de Mina e dirigindo-se para a área de Mansambo, com passagem por Biro e Galoiel. O IN tinha-se aqui instalado montando destacamentos avançados e/ acampamentos temporários. Ainda recentemente, em Agosto, forças heli-transportadas haviam destruído as instalações de Biro, capturando diverso material, na exploração imediata de informações dadas por uma prisioneiro, o Malan Mané, roqueteiro do bigrupo comandado por Mamadu Indjai.
Depois disso, esta era a primeira operação que as NT realizavam a Biro. Admitia-se que o IN voltasse mais cedo ou mais tarde a esta região a fim de levar a cabo acções no subsector de Mansambo, com especial incidência sobre a estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole.
A progressão e batida foi executada por 2 Dest apoiando-se mutuamente. Participaram na operação forças da CCAÇ 2404 (a nova unidade de quadrícula de Mansambo que viera substituir a CART 2339, dos nossos camarigos Carlos Marques dos Santos e Torcato Mendonça; tinha passado por Teixeira Pinto e Binar, pertencendo ao BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), Pel Caç Nat 52 (Missirá) e Pel Caç Nat 63 (Fá), além de 2 Gr Comb da CCAÇ 12.
Como se estava na altura do ano em que a humidade atmosférica é mais elevada, atingindo a temperatura à noite valores mínimos de 15º, as NT foram duramente afectadas pelo frio no decurso desta operação, enquanto ficaram emboscadas em Galoiel. (Pessoalmente, não me lembro de ter rapado tanto frio em toda a minha vida!)
A tabanca de Biro foi assaltada ao amanhecer, verificando-se que estava abandonada há meses. Todos os vestígios do IN eram antigos. Constatou-se que Galoiel e Biro eram uma zona que reunia condições ideais para refúgio e instalação do IN devido ao relevo e arborização do terreno. Os Dest regressaramn a Mansambo ao longo da margem esquerda do Rio Bissari.
(6.4) Destacamento da Ponte do Rio Udunduma
A partir de 16, a segurança da ponte do Rio Udunduma deixa de ser da responsabilidade da CART 2520 (1que tinha ali 2 secções destacadas desde Junho), passando a ser feita pelos Gr Com da CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e outras subunidades afectas ao comando de Bambadinca (como o Pel Caç Nat 63). A importância estratégica deste ponto sensível justificava que houvesse ali um destacamento permanente. No primeiro ataque a Bambadinca, em 28 de Maio de 1969, o IN tentara dinamitar a ponte, a fim de cortar a estrada Bambadinca-Xime.
(6.5) Op Punhal Resistente
A 21, tem lugar outra operação a nível de Batalhão com forças da CART 2520 (Xime), CCAÇ 2404 (Mansambo), Pel Caç Nat 52, além do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (que deixou de ter a comandandá-lo o Alf Mil At Inf António Manuel Carlão , destacado para o reordenamento de Nhabijões, em Novembro de 1969) para uma batida à região de Baio/Buruntoni, onde do antecendente estava referenciado 1 bigrupo. O facto do IN, durante o tempo seco, não ter uma acampamento certo nesta região, pernoitando na mata sempre em sítios diferentes, tornava a missão das NT mais difícil e perigos (Op Punhal Resistente).
As NT, de resto, não chegariam a cumprir a missão uma vez que se perderam. A região de Baio/Buruntoni é de floresta densa, sendo percorrida por numerosos cursos de água. Pontos há em, que não se vê a luz do sol e só se pode andar de rastos. Não se dispondo de guias conhecedores da região, e tornando-se impossível a orientação pela carta e mês,o pela bússola (porque não existiam pontos de referência no terreno e era necessário muitas vezes ir abrir caminho), este tipo de operações (batida com 2 destacamentos partindo um de Mansambo e outro do Xime para se encontrarem no ponto de coordenação) só são realizáveis nos… transparentes do gabinete do comando de operações
Na Op Punhal resistente, os 2 destacamentos depois de terem pernoitado em locais diferentes, só conseguiram localizar-se um ao outro graças ao PCV, tendo-se feito a sua junção com o auxílio de uma granada cujo rebentamento indicou a direcção a tomar.
Não houve contacto com o IN que, no entanto, fez fogo de morteiro ao anoitecer no dia D (21) para zona imediatamente a norte do Buruntoni, pressupondo porventura que as NT pernoitassem ali…
(6.6) Acção Guilhotina e Op Faca Húmida na quadra natalícia
A 24 a 24, 2 Gr Comb da CCAÇ 12, em cooperação com a autoridade administrativa de Bambadinca, onde estava aquartelada a companhia, levam a efeito uma rusga (com cerco) à tabanca de Mero, aldeia balanta, junto ao Rio Geba. Apesar de alguns indícios suspeitos, não foram detectados elementos IN ou população sob o seu conbtrolo, que vem aqui reabastecer-se, oriunda de Madina/Belel (no extremo noroeste do regulado do Cuor).
Para efeitos de controlo populacional, completou-se e actualizou-se o recenseamento dos habitantes de Mero (Acção Guilotina, nome de código da operação). Nas duas semanas anteriores, o IN tinha desencadeado várias acções de intimidação contra as populações de Canxicame, Nhabijão Bedinca e Bissaque, a última das quais levada a efeito por um grupo enquadrado por brancos (cubanos ?) que retirou para a região de Bucol, atravessando o Rio Geba de canoa, para norte.
Escrevi na altura, no meu diário: "Guardo, na memória, a hostilidade passiva com que a população nos recebe, a nós, tugas, e aos soldados fulas… Que pensará esta pobre gente balanta que não tem outro remédio senão fazer o jogo duplo ? De dia, acatam (mal) a autoridade administrativa de Bambadinca; à noite, recebem os seus parentes que estão no mato"...
Por outro lado, prevendo-se a possibilidade o IN atacar os aquartelamentos das NT durante a quadra festiva do Natal e Ano Novo, foi reforçado o dispositivo de defesa de Bambadinca. Assim, além da emboscada diária até às 1 a 3 horas da noite, a nível de secção reforçada num raio de 3 a 5 km (segurança próxima), passou a ser destacado 1 Gr Comb para Bambadincazinho (ou ...Bambadincazinha, como chamávamos à tabanca, em fase de reordenamento, a sul do quartel), todas as noites, no edifício da antiga Missão do Sono, até às 6h da manhã, constituindo uma força de intervenção com a missão de fazer malograr o eventual ataque ao aquartelamento e/ou às tabancas da periferia, actuando pela manobra e pelo fogo sobre as prováveis linhas de infiltração e locais de instalação das bases de fogo do IN, ou no mínimo detê-lo e repeli-lo pelo fogo .
A 26 de Dezembro de 1969, forças da CART 2520 (Xime), reforçadas por um 1 Gr Comb da CCAÇ 12 realizam um patrulhamento ofensivo na região do Xime, Madina Colhido, Chacali, Colicumbel e Amedalai, sem detectarem vestígios do IN (Op Faca Húmida).
A 30, o Comandante Chefe, General António de Spínola, visita Bambadinca para apresentar cumprimentos de Ano Novo a todos os oficiais, sargentos e praças do Comando e CCS/BCAÇ 2852 e sub-unidades adidas, a CCAÇ 12 incluída.
Luís Graça
B. Comentário do Humberto Reis:
(...) A desgraçada da CCAÇ 12, naqueles sectores L1 e L5 (do Enxalé, na margem Norte do rio Geba, até Galomaro e ao Saltinho), era pau para toda a obra.Tinha, em permanência, um pelotão no destacamento da Ponte (estrada Bambadinca-Xime) e tinha que TODAS AS NOITES colocar um outro pelotão nos arredores de Bambadinca a fazer a segurança ao aquartelamento para que "dentro do arame farpado" se pudesse dormir mais descansado.
De manhã, após uma bela noite a alimentar os mosquitos e depois dos Senhores da Guerra já terem feito o seu soninho mais tranquilo, quando o pelotão regressasse estava sujeito a sair para mais uma operação.
Aquando da abertura do novo itinerário Bambadinca-Xime (quando viemos embora em Março de 71, ainda não estava totalmente asfaltado) era exactamente o pelotão que tinha estado toda a noite emboscado que tinha de ir, com mais outro, fazer a segurança ao pessoal civil (era a empresa TECNIL) que estava a trabalhar nesse empreendimento. Só da parte da tarde estes dois pelotões eram substituídos por pelotões do Xime e regressavam então a Bambadinca.
Houve uma altura em que o comando do Batalhão sediado em Bambadinca (tinha a CCS com um Pel Rec, um Pel Sap, um Pel Morteiros, um Pel Daimler, um Pel Intendência e um Destacamento de Engenharia) ainda queria que o pessoal operacional da CCAÇ 12 fizesse serviços dentro do aquartelamento (oficial de dia, sargento de dia, cabo de dia, reforços, etc.).
Claro que eles pagavam HORAS EXTRAORDINÁRIAS, davam SUBSÍDIO DE REFEIÇÃO (em vales da Ticket Restaurante), um mês de férias com SUBSÍDIO, um 13º MÊS e uma mama de fora. Reclamei junto do nosso Capitão Brito (arrisquei levar uma porrada mas não levei por duas razões, nem eu fui malcriado ao ponto de ultrapassar os limites e ele é um bom homem) - Ele lá se convenceu e convenceu também o comando, da injustiça de tal situação e isso acabou logo após alguns dias.
Estórias que ajudam a fazer a História do nosso país, daquele país, daquele povo tão massacrado. Merecem melhor sorte. (...)
Fonte: Luis Graça & Camaradas da Guiné, I Série > 16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXIV: Aquelas noites frias de Dezembro (1) (L. Graça; H. Reis)
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Fontes consultadas:
História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II. 19-21.
História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)
Diário de um Tuga
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Nota de L.G.:
Último poste da série > 22 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7655: A minha CCAÇ 12 (11): Início do reordenamento de Nhabijões, em Novembro de 1969 (Luís Graça)
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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Guiné 63/74 - P7851: Contraponto (Alberto Branquinho) (23): Os milicianos na guerra
1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 22 de Fevereiro de 2011:
Caríssimo Carlos Vinhal
Hoje estou a enviar um texto para o CONTRAPONTO (23), que não é da minha lavra e que gostaria fosse intitulado "OS MILICIANOS NA GUERRA".
Do livro A ÚLTIMA MISSÃO* do Coronel José de Moura Calheiros, retirei, com a devida vénia, um extracto, que estou a enviar digitalizado. Pertence à página 462, parte "31 - A Batalha de Guidage" e dele ressaltam dois aspectos:
1 - O papel desempenhado pelos milicianos na guerra (neste caso, na Guiné) e
2 - O paradoxo de, sendo contra a guerra, se verem confrontados com as realidades da mesma, quando estavam já bem "metidos" nela.
Estes dois parágrafos são uma contribuição para a análise desses dois temas.
Um abraço
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (23)
OS MILICIANOS NA GUERRA
____________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)
e
18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7815: Notas de leitura (205): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (2) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 27 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7684: Contraponto (Alberto Branquinho) (22): Quê?! Catota?!
Caríssimo Carlos Vinhal
Hoje estou a enviar um texto para o CONTRAPONTO (23), que não é da minha lavra e que gostaria fosse intitulado "OS MILICIANOS NA GUERRA".
Do livro A ÚLTIMA MISSÃO* do Coronel José de Moura Calheiros, retirei, com a devida vénia, um extracto, que estou a enviar digitalizado. Pertence à página 462, parte "31 - A Batalha de Guidage" e dele ressaltam dois aspectos:
1 - O papel desempenhado pelos milicianos na guerra (neste caso, na Guiné) e
2 - O paradoxo de, sendo contra a guerra, se verem confrontados com as realidades da mesma, quando estavam já bem "metidos" nela.
Estes dois parágrafos são uma contribuição para a análise desses dois temas.
Um abraço
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (23)
OS MILICIANOS NA GUERRA
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Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)
e
18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7815: Notas de leitura (205): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (2) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 27 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7684: Contraponto (Alberto Branquinho) (22): Quê?! Catota?!
Guiné 63/74 - P7850: Convívios (293): Encontro do pessoal do BCAÇ 2885, Mansoa 1969/71, dia 5 de Março de 2011 em Tábua (César Dias)
1. Mensagem de César Dias* (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71), com data de 22 de Fevereiro de 2011:
Olá Carlos, as cordiais saudações habituais.
Mais uma vez, e caso seja possível, solicitamos-te uma ajuda no toque a reunir para o BCAÇ 2885.
Desta vez será no dia 5 de Março que iremos comemorar as 40 primaveras do nosso regresso da Guiné.
Terá lugar no Restaurante" CHURRASQUEIRA A SABOROSA" em Serra da Moita - Carapinha - Tábua
Os retardatários poderão fazer a inscrição até dia 28 de Fevereiro, é só telefonarem ao José Carlos Ventura da CCAÇ 2588 para o n.º 926 686 206.
Agradeço-te antecipadamente com um abraço amigo.
César Dias
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 13 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7427: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (34): A fama que vamos tendo por aí (César Dias)
Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2011 Guiné 63/74 - P7841: Convívios (208): Almoço de confraternização do pessoal da CCAÇ 2464, dia 30 de Abril de 2011 em Fátima (António Nobre)
Olá Carlos, as cordiais saudações habituais.
Mais uma vez, e caso seja possível, solicitamos-te uma ajuda no toque a reunir para o BCAÇ 2885.
Desta vez será no dia 5 de Março que iremos comemorar as 40 primaveras do nosso regresso da Guiné.
Terá lugar no Restaurante" CHURRASQUEIRA A SABOROSA" em Serra da Moita - Carapinha - Tábua
Os retardatários poderão fazer a inscrição até dia 28 de Fevereiro, é só telefonarem ao José Carlos Ventura da CCAÇ 2588 para o n.º 926 686 206.
Agradeço-te antecipadamente com um abraço amigo.
César Dias
Vista do interior do Quartel de Mansoa
O camarada Ventura da CCAÇ 2588, organizador habitual dos Encontros do BCAÇ 2885, no uso da palavra
____________Notas de CV:
(*) Vd. poste de 13 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7427: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (34): A fama que vamos tendo por aí (César Dias)
Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2011 Guiné 63/74 - P7841: Convívios (208): Almoço de confraternização do pessoal da CCAÇ 2464, dia 30 de Abril de 2011 em Fátima (António Nobre)
Guiné 63/74 – P7849: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (25): Amuleto
1. Mensagem de Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), com data de 21 de Fevereiro de 2011:
Meu Caro Carlos Vinhal
O Silêncio dizem ser de ouro. Vale muito e se o ouro tem subido de cotação.
Certo, certo é que nada tenho dito. Não me apetece necessito de um viagra para contadores de "estórias". Também estive engripado. Mais gripado do que en.
Assim fui vendo as novas modas. Um ou outro comentário. Mesmo assim deve arrepiar ...será? Creio que não.
Ouvia o Benfica ao longe, som de fundo, bonito o som e arrumei umas letras... e por que não um dos meus amuletos??? Pois, meu caro Carlos aí vai, e eu te ofereço a estória deste amuleto. Está ali. Um dia mostro-te. É bonita.
O escrito é teu, é vosso, e dele farão o que entenderem.
Um abraço do Torcato (se recebeste e disseres OK, agradeço)
Torcato Mendonça
ESTÓRIAS DE MANSAMBO II - 25
AMULETO
Soou, quase como um clarim, a voz estridente e ríspida do Furriel, ainda a manhã dormia.
- Está a levantar… está a levantar.
Tudo ainda era silêncio, todos se entregavam nos braços de Morfeu.
Ele não, ele já estava levantado, barbeado, aprumado, pronto. Até o quico estava impecavelmente colocado.
- Está a levantar…fod…
Olhou-o a um só olho. Manteve o outro de reserva, fechado e a resguardar-se, ainda, das lâmpadas alimentadas aos soluços pelos “Lister”.
Que tipo este. Uma máquina, sempre pronto e sem falhas. A continuar assim ainda vai a Sargento. Era isso. O tipo tinha ares de Sargento. Mas dos porreiros, claro.
Abriu então os olhos, aconchegou o material nos calções e espreguiçou-se urrando. Só depois, ainda devagar, se foi levantando.
Todas as gentes do abrigo se aprontavam rápidas, gestos mecânicos, conversas brejeiras, risos jovens, corpos a deixarem a nudez e a sentirem o desconforto dos camuflados duros e envelhecidos. A seguir vinham cinturões e cartucheiras, granadas e outro material. Curiosamente, à medida que se aprontavam, a alegria ia desaparecendo. Iam endurecendo as faces jovens de meninos soldados.
Aprontou-se ele, mais rápido agora, dando um olhar final pelo material preparado de véspera e, agarrando nas armas e no bornal, saiu.
Enquanto comia, ouvia o Capitão. Recebia ordens, papeis, e tomava uma ou outra nota. A rotina habitual.
- Quanto tempo tem disto?
- Eu? Para aí ano e meio, sei lá. Tenho tempo demais, tempo demais.
Saiu e dirigiu-se à coluna já pronta. Um simples menear de cabeça e tudo estava a andar. A pé claro. A pé até perto de Samba Juli, cerca de uma dúzia de quilómetros picando cuidadosamente a estrada, dura e seca naquela época do ano. Não facilitavam nada, nem ele nem os outros. Mantinham as rotinas habituais e a máxima “o suor poupa sangue”.
O olhar a tentar tudo ver, tudo sentir que dessa rotina fugisse.
Iam devagar, um quilómetro e mais outro, a picada de Candamã para a direita.
- Não vamos por Candamã?
-Não.
- Então ainda hoje vamos a Bafatá.
- Se der tempo, se der tempo. Vão vocês e voltam logo. Logo se vê.
O Pontão do Almami aparece e os cuidados redobram. A subida suave, a zona à volta da estrada desmatada. Abre o campo de tiro ao IN ou facilita a manobra das NT? Uma dúvida que se manteve e controversa.
A frente da coluna faz uma paragem breve. O cão, Geba, farejou algo. Picam mais forte e segue a coluna. Redobram os cuidados, ouvidos mais atentos, olhares a entrarem mata adentro.
De repente tudo pára. São décimas ou milésimas de segundo, são o breve instante, a paragem de tudo, o inexplicável, a separação entre a vida e a morte.
De repente tudo parece desabar, acaba o silêncio e tudo explode em sons de morte, de loucura, sons de rebentamentos, tiros, granadas, gritos, berros e a violência extrema está presente. Todos sabem o que fazer, como fazer e, quais autómatos, reagem na explosão máxima, na máxima força.
- O rádio, o rádio….
- Estamos a embrulhar a seguir ao Pontão. Quebec x a Quebec Y varre tudo com os 10.5. O 81 na picada de Candamã. Deviam estar lá. Fogo nesta merda toda.
E o som lindo dos 10,5 e 81 ouvem-se e outro som aparece vindo das garganta daqueles homens. Riem e reagem mais forte, com mais alegria.
Lindo, lindo aquele som e chegam os camaradas vindos do aquartelamento.
Os sons vão perdendo força, a alegria está presente pela ausência de feridos e o rescaldo começa a ser feito por quem veio do aquartelamento.
Emboscada curta, vinte minutos talvez.
Encosta-se a uma árvore e ouve as explicações, o pedido de reforço de granadas e os preparativos de nova partida.
- Olhe aí. Os tipos acertaram em cheio na árvore. Olhe aí. Dia de sorte.
Viu os orifícios das balas. Uma, curiosamente mais saída. Puxou da “Zézinha”, a faca de mato, e extraiu a bala quase intacta. Mirou e remirou. Será de que arma?
- Da sorte. Da sorte que você teve.
- Merda. Merda para a sorte.
Guardou a bala no bolso e a coluna seguiu.
Vinte anos depois, menos. Talvez muito menos mandou-a banhar em prata e colocar uma argola na parte mais grossa.
Desde aquele dia acompanhou-o sempre. Virou amuleto.
Está aqui a olhar-me ou sou eu que para ela olho. Certo é que ainda consigo sorrir, talvez com menos alegria do que outrora.
Seria impossível e faltavam os sons.
Fica só a “sodade, sodade… da Cesária Évora…
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7505: Blogoterapia (170): A Casa da Praia (Torcato Mendonça)
Vd. último poste da série de 2 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7214: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (24): Cabrais
Meu Caro Carlos Vinhal
O Silêncio dizem ser de ouro. Vale muito e se o ouro tem subido de cotação.
Certo, certo é que nada tenho dito. Não me apetece necessito de um viagra para contadores de "estórias". Também estive engripado. Mais gripado do que en.
Assim fui vendo as novas modas. Um ou outro comentário. Mesmo assim deve arrepiar ...será? Creio que não.
Ouvia o Benfica ao longe, som de fundo, bonito o som e arrumei umas letras... e por que não um dos meus amuletos??? Pois, meu caro Carlos aí vai, e eu te ofereço a estória deste amuleto. Está ali. Um dia mostro-te. É bonita.
O escrito é teu, é vosso, e dele farão o que entenderem.
Um abraço do Torcato (se recebeste e disseres OK, agradeço)
Torcato Mendonça
2.º GCOMB/CART 2339
ESTÓRIAS DE MANSAMBO II - 25
AMULETO
Soou, quase como um clarim, a voz estridente e ríspida do Furriel, ainda a manhã dormia.
- Está a levantar… está a levantar.
Tudo ainda era silêncio, todos se entregavam nos braços de Morfeu.
Ele não, ele já estava levantado, barbeado, aprumado, pronto. Até o quico estava impecavelmente colocado.
- Está a levantar…fod…
Olhou-o a um só olho. Manteve o outro de reserva, fechado e a resguardar-se, ainda, das lâmpadas alimentadas aos soluços pelos “Lister”.
Que tipo este. Uma máquina, sempre pronto e sem falhas. A continuar assim ainda vai a Sargento. Era isso. O tipo tinha ares de Sargento. Mas dos porreiros, claro.
Abriu então os olhos, aconchegou o material nos calções e espreguiçou-se urrando. Só depois, ainda devagar, se foi levantando.
Todas as gentes do abrigo se aprontavam rápidas, gestos mecânicos, conversas brejeiras, risos jovens, corpos a deixarem a nudez e a sentirem o desconforto dos camuflados duros e envelhecidos. A seguir vinham cinturões e cartucheiras, granadas e outro material. Curiosamente, à medida que se aprontavam, a alegria ia desaparecendo. Iam endurecendo as faces jovens de meninos soldados.
Aprontou-se ele, mais rápido agora, dando um olhar final pelo material preparado de véspera e, agarrando nas armas e no bornal, saiu.
Enquanto comia, ouvia o Capitão. Recebia ordens, papeis, e tomava uma ou outra nota. A rotina habitual.
- Quanto tempo tem disto?
- Eu? Para aí ano e meio, sei lá. Tenho tempo demais, tempo demais.
Saiu e dirigiu-se à coluna já pronta. Um simples menear de cabeça e tudo estava a andar. A pé claro. A pé até perto de Samba Juli, cerca de uma dúzia de quilómetros picando cuidadosamente a estrada, dura e seca naquela época do ano. Não facilitavam nada, nem ele nem os outros. Mantinham as rotinas habituais e a máxima “o suor poupa sangue”.
O olhar a tentar tudo ver, tudo sentir que dessa rotina fugisse.
Iam devagar, um quilómetro e mais outro, a picada de Candamã para a direita.
- Não vamos por Candamã?
-Não.
- Então ainda hoje vamos a Bafatá.
- Se der tempo, se der tempo. Vão vocês e voltam logo. Logo se vê.
O Pontão do Almami aparece e os cuidados redobram. A subida suave, a zona à volta da estrada desmatada. Abre o campo de tiro ao IN ou facilita a manobra das NT? Uma dúvida que se manteve e controversa.
A frente da coluna faz uma paragem breve. O cão, Geba, farejou algo. Picam mais forte e segue a coluna. Redobram os cuidados, ouvidos mais atentos, olhares a entrarem mata adentro.
De repente tudo pára. São décimas ou milésimas de segundo, são o breve instante, a paragem de tudo, o inexplicável, a separação entre a vida e a morte.
De repente tudo parece desabar, acaba o silêncio e tudo explode em sons de morte, de loucura, sons de rebentamentos, tiros, granadas, gritos, berros e a violência extrema está presente. Todos sabem o que fazer, como fazer e, quais autómatos, reagem na explosão máxima, na máxima força.
- O rádio, o rádio….
- Estamos a embrulhar a seguir ao Pontão. Quebec x a Quebec Y varre tudo com os 10.5. O 81 na picada de Candamã. Deviam estar lá. Fogo nesta merda toda.
E o som lindo dos 10,5 e 81 ouvem-se e outro som aparece vindo das garganta daqueles homens. Riem e reagem mais forte, com mais alegria.
Lindo, lindo aquele som e chegam os camaradas vindos do aquartelamento.
Os sons vão perdendo força, a alegria está presente pela ausência de feridos e o rescaldo começa a ser feito por quem veio do aquartelamento.
Emboscada curta, vinte minutos talvez.
Encosta-se a uma árvore e ouve as explicações, o pedido de reforço de granadas e os preparativos de nova partida.
- Olhe aí. Os tipos acertaram em cheio na árvore. Olhe aí. Dia de sorte.
Viu os orifícios das balas. Uma, curiosamente mais saída. Puxou da “Zézinha”, a faca de mato, e extraiu a bala quase intacta. Mirou e remirou. Será de que arma?
- Da sorte. Da sorte que você teve.
- Merda. Merda para a sorte.
Guardou a bala no bolso e a coluna seguiu.
Vinte anos depois, menos. Talvez muito menos mandou-a banhar em prata e colocar uma argola na parte mais grossa.
Desde aquele dia acompanhou-o sempre. Virou amuleto.
Está aqui a olhar-me ou sou eu que para ela olho. Certo é que ainda consigo sorrir, talvez com menos alegria do que outrora.
Seria impossível e faltavam os sons.
Fica só a “sodade, sodade… da Cesária Évora…
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7505: Blogoterapia (170): A Casa da Praia (Torcato Mendonça)
Vd. último poste da série de 2 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7214: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (24): Cabrais
Guiné 63/74 - P7848: Parabéns a você (218): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Tertúlia / Editores)
23 DE FEVEREIRO DE 2011
1. Alertados pelo Facebook, vêm a Tertúlia e os Editores, no dia do seu aniversário, felicitar o nosso camarada e amigo José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69 .
São nossos votos que o nosso aniversariante tenha um longa vida, com qualidade, para continuar a enviar regularmente os seus textos ao Blogue. Lembremos o seu estilo algo irreverente, mas com muitos leitores atentos e interessados.
Para acederem aos postes do nosso camarada José Ferreira da Silva consultem as suas séries "Memórias boas da minha guerra" e "Outras memórias da minha guerra"
Caro José, desejamos o melhor da vida para ti.
Em nome de todos os camaradas e amigos do nosso blogue, deixo-te um fraterno abraço.
Carlos Vinhal
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6696: Tabanca Grande (227): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)
Vd. último poste da série de 19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7821: Parabéns a você (217): António Carvalho, o Carvalho de Mampatá: é bom fazer anos, mas melhor ainda ter amigos, uma tabanca inteira, para festejá-los...
Guiné 63/74 - P7847: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (69): Na Kontra Ka Kontra: 33.º episódio
1. Trigésimo terceiro episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2011:
NA KONTRA
KA KONTRA
33º EPISÓDIO
Por fim, pela picada de Padada começam a chegar os elementos da operação. Rapidamente os dois Alferes metropolitanos, depois de se cumprimentarem, chegam à conclusão que não há condições para o pessoal de Galomaro ficar dentro da tabanca. Não havia alojamentos e era perigoso, pois em caso de ataque não havia abrigos para todos. Comeriam na tabanca o jantar que o “legionário” estava já a preparar e depois iriam instalar-se, emboscados, na orla da mata, para pernoitar.
É quase noite quando o contingente de quase sessenta homens, metade africanos, começou a sair da tabanca. Não iam em fila indiana mas sim em grupos. Quando os últimos elementos estavam a passar pelo “cavalo de frisa” da picada de Padada, os primeiros estavam já a entrar na mata. Neste momento aconteceu o que se acharia improvável, ou talvez não, como sempre tinha pensado o Alferes Magalhães.
Ouve-se um tiro seco, que não seria de G3, mas não deu tempo a conjecturas como acontecera quando um sentinela disparou sobre um porco do mato. Os sentinelas metidos na mata já tinham abandonado os seus postos. Quase em simultâneo começa um tiroteio infernal. Os guerrilheiros estariam a instalar-se para um ataque e tiveram que iniciar a contenda face ao aparecimento da tropa portuguesa. Esta reagiu de imediato pelo que foi uma autêntica batalha campal. Segundos depois começam a rebentar algumas granadas de morteiro 82 e de RPG 7 mas muito dispersas pois não houve tempo para regular o tiro e era a primeira vez que Madina Xaquili era atacada. Vir-se-ia a verificar que não produziram qualquer estrago material.
Não havendo a certeza, tudo leva a crer que os guerrilheiros vieram no encalço dos homens da operação. Embora com algumas consequências para a tropa que ia pernoitar fora do “arame”, este acto evitou um ataque bem organizado à tabanca, que provocaria com certeza muitas baixas, principalmente civis.
O nosso Alferes apenas se limitou a “acariciar” o seu cano de morteiro 60. A posição das duas facções era tal que não pôde efectuar qualquer disparo. Podia atingir as suas próprias tropas.
Tão depressa começou o recontro, como depressa acabou. Silenciadas as armas e com os guerrilheiros a efectuar a retirada fez-se a contabilidade dos estragos, lamentavelmente, só humanos: Vários feridos ligeiros provocados por estilhaços e um morto africano, que alguém viria a dizer que teria sido atingido pelo primeiro disparo que se ouviu, estando o atirador em cima de uma árvore. Disso, a certeza nunca se teve.
A meio da manhã do dia seguinte chega a coluna de Galomaro que inicialmente era só para levar o seu pessoal que tinha entrado na operação. Dado o ocorrido vinha também remuniciar a tabanca. Manhã cedo seguiu a mensagem do Alferes Magalhães a dar conta do acontecimento pois, como é sabido, de noite não se conseguia comunicar com a sede da Companhia. A coluna já tinha partido para Madina Xaquili. Mas porque em Galomaro se ouviu o ataque, o comandante determinou que se levassem as respectivas munições ainda antes de receber qualquer mensagem.
Também o Comando de Galomaro não esperou pela confirmação do ataque e informou, nesse sentido, o Comando de Bafata. Assim por troca de mensagens durante a noite entre os dois Comandos, a coluna também trazia uma ordem para levar embora, para Bafata, o Alferes Magalhães.
A situação na zona estava a degradar-se pelo que o Coronel de Bafata iria com certeza, a curto prazo, reforçar a guarnição aí sediada e o nosso Alferes não fazia parte de tal quadrícula.
Pouco tempo teve o Alferes para preparar a partida. Andando de um lado para o outro dá as últimas instruções e pôde ver de fugida que, além das munições, também tinham trazido para reforço do armamento, uma velha metralhadora Degtyarev de disco, apreendida ao inimigo.
São tiradas as últimas fotografias, sobretudo com o pessoal africano, com quem o nosso Alferes tinha criado grandes amizades.
O Alferes Magalhães, o João Sanhá e parte do Pelotão de Milícia.
Na reunião com o Furriel, para lhe entregar o comando, o Alferes chega a dizer-lhe que lhe tinha passado pela cabeça ignorar a ordem para ir embora e permanecer na tabanca. Além das boas recordações que tinha dos dois meses passados ali, estava sobretudo com muita pena de abandonar toda aquela gente africana que, independentemente da guerra, dentro de dias iria ficar isolada de Galomaro devido às chuvas. Para permanecer na tabanca, bastar-lhe-ia enviar uma mensagem para o Comando de Galomaro, com conhecimento ao Comando de Bafata a perguntar qual ordem cumpria, se a da coluna para o levar, se a que recebera do Coronel quando da sua visita à tabanca dizendo-lhe que o Alferes só sairia dali quando todos tivessem abrigos. Nesta altura dos acontecimentos os abrigos já não seriam suficientes e sobretudo seria necessário abrir valas entre abrigos.
Iria a mensagem, viria a resposta, entretanto a coluna tinha partido e o Alferes tinha ficado, sem contudo praticar qualquer desobediência. Na tropa as coisas podem assim acontecer.
Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7837: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (68): Na Kontra Ka Kontra: 32.º episódio
Guiné 63/74 - P7846: Em busca de... (156): Paula Simões, filha do Sold da CCAV 1482 (1965/67), César J. Simões, procura notícias de seu pai e dos seus camaradas (V. Briote / J. Martins)
1. Os nossos camaradas Virgínio Briote (ex-Alf Mil Comando – Brá -, 1965/67) e José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos - Canjadude -, 1968/70), têm vindo a recolher e complementar informação sobre o nosso falecido Camarada César Joaquim Simões, que foi Soldado da CCAV 1482, a pedido de sua filha - Paula Simões Viola -, tendo nos últimos dias trocado as seguintes de mensagens.
2. Em 18 de Fevereiro de 2011 o Virgínio Briote, enviou à Paula Simões Viola o seguinte e-mail:Assunto: Locais por onde o César andou
Paula,
O seu Pai pelos vistos passou por aqui (há registos de um militar da Companhia do seu Pai sepultado no cemitério de Bambadinca):
Guiné 63/74 - P3418: Álbum fotográfico de Manuel Bastos Soares (1): Bambadinca, a festa da comunhão solene, Dona Violete e a malta da CCAV 678 (1965/66) [ A CCAV 1482 esteve na zona leste, em Bambadinca, entre Novembro de 1965 e Abril de 1966, depois no Xime até Julho de 1967 e por fim em Ingoré, a norte, junto à fronteira como Senegal).
Agora fico a aguardar informações de Camaradas do seu Pai.
v briote
3. Por sua vez Paula Simões Viola, em 19 de Fevereiro de 2011, retorquiu assim ao Virgínio Briote, também por e-mail:Subject: Locais por onde o César andou
Boa tarde Sr. Briote,
v briote
3. Por sua vez Paula Simões Viola, em 19 de Fevereiro de 2011, retorquiu assim ao Virgínio Briote, também por e-mail:Subject: Locais por onde o César andou
Boa tarde Sr. Briote,
O meu Pai faleceu cá num acidente em 1976, tinha eu seis anos de idade. Só tenho uma Cruz! Não é igual à que me enviou, tem 2 espadas cruzadas, o escudo da bandeira e uma cruz por cima do escudo.
Quando consegui juntar as coisas do meu Pai muita coisa tinha desaparecido.
Tenho muitas fotografias da Guiné com alguns camaradas que ele identificou, outros não. A saber: Raimundo, Monteiro, um camarada da Portela da Ajuda que não diz o nome e um camarada Madeirense - Jorge Arlindo da Silva.
Aparecem muitos mais mas, como disse, não se encontram identificados.
Se fosse possível gostaria de saber se há algum encontro agendado dos seus antigos camaradas e se eu poderia comparecer.
Os meus contactos são: telef. 210 883 239 e telem. 964 216 337.
Mais uma vez agradeço a sua disponibilidade.
Cumprimentos,
Paula Simões Viola
4. Mais tarde, ainda em 19 de Fevereiro de 2011, o Virgínio Briote enviava-nos o seguinte e-mail:
Assunto: César Joaquim Simões: Alguém da CCav 1482?
Paula Simões, filha do ex-Sold da CCav 1482, procura história da CCav 1482 e quer entrar em contacto com Camaradas do Pai.
Caros Luís, Carlos e Eduardo,
Transcrevo abaixo msg da filha do César Simões, da CCav 1482.
v b
Nota: César Joaquim Simões, Sold da CCav1482, mobilizada pelo RC7, comissão na Guiné entre Out 65 e Jul 1967, condecorado com duas Cruzes de Guerra (ou é lapso ou foram mesmo duas). A primeira foi publicada na Ordem do Exército (OE 12/IIIª/67, pag. 281) e a segunda na OE 12/IIIª/67, pag.348.5.
No dia seguinte, 20 de Fevereiro de 2011, recebemos do nosso habitual colaborador – o José Marcelino Martins -, para assuntos relacionados com informações sobre as diversas Unidades e Militares Falecidos, a quem mais uma vez agradecemos a sua preciosa disponibilidade, a seguinte comunicação:
Assunto: César Joaquim Simões: Alguém da CCav 1482?
Caros Camaradas
Segue o texto solicitado, mesmo ao findar o fim-de-semana.
Boa semana de trabalho, para quem o faz.
Semana produtiva, para aqueles "que nada fazem, mas já fizeram
José Martins
Cumprimentos,
Paula Simões Viola
4. Mais tarde, ainda em 19 de Fevereiro de 2011, o Virgínio Briote enviava-nos o seguinte e-mail:
Assunto: César Joaquim Simões: Alguém da CCav 1482?
Paula Simões, filha do ex-Sold da CCav 1482, procura história da CCav 1482 e quer entrar em contacto com Camaradas do Pai.
Caros Luís, Carlos e Eduardo,
Transcrevo abaixo msg da filha do César Simões, da CCav 1482.
v b
Nota: César Joaquim Simões, Sold da CCav1482, mobilizada pelo RC7, comissão na Guiné entre Out 65 e Jul 1967, condecorado com duas Cruzes de Guerra (ou é lapso ou foram mesmo duas). A primeira foi publicada na Ordem do Exército (OE 12/IIIª/67, pag. 281) e a segunda na OE 12/IIIª/67, pag.348.5.
No dia seguinte, 20 de Fevereiro de 2011, recebemos do nosso habitual colaborador – o José Marcelino Martins -, para assuntos relacionados com informações sobre as diversas Unidades e Militares Falecidos, a quem mais uma vez agradecemos a sua preciosa disponibilidade, a seguinte comunicação:
Assunto: César Joaquim Simões: Alguém da CCav 1482?
Caros Camaradas
Segue o texto solicitado, mesmo ao findar o fim-de-semana.
Boa semana de trabalho, para quem o faz.
Semana produtiva, para aqueles "que nada fazem, mas já fizeram
José Martins
© Colecção de Carlos Coutinho
A Companhia de Cavalaria nº 1482 é mobilizada no Regimento de Cavalaria nº 7, em Lisboa (criado em 1755 sob a designação de Regimento de Cavalaria do Cais), embarcando para o território da Guiné em 20 de Outubro de 1965, desembarcando em Bissau a 27 desse mês.
Sob o comando do Capitão de Cavalaria João Ramiro Alves Ribeiro, é colocada em Bambadinca para substituir a Companhia de Caçadores nº 556 e assumindo funções de intervenção e reserva às ordens do Batalhão de Caçadores nº 697. Nestas funções realizou operações nas regiões de Darsalame Baio, Ponta Varela – Poindom, além de escoltas, patrulhamentos e batidas na sua área de intervenção.
A Companhia de Cavalaria nº 1482 é mobilizada no Regimento de Cavalaria nº 7, em Lisboa (criado em 1755 sob a designação de Regimento de Cavalaria do Cais), embarcando para o território da Guiné em 20 de Outubro de 1965, desembarcando em Bissau a 27 desse mês.
Sob o comando do Capitão de Cavalaria João Ramiro Alves Ribeiro, é colocada em Bambadinca para substituir a Companhia de Caçadores nº 556 e assumindo funções de intervenção e reserva às ordens do Batalhão de Caçadores nº 697. Nestas funções realizou operações nas regiões de Darsalame Baio, Ponta Varela – Poindom, além de escoltas, patrulhamentos e batidas na sua área de intervenção.
Guarnece o destacamento de Sonaco entre 17 de Novembro de 1965 e 17 de Janeiro seguinte, às ordens do Batalhão de Cavalaria nº 757.
A 6 de Abril de 1966 envia um pelotão para o destacamento de Quirafo, onde se mantém até Dezembro desse mesmo ano, e a 8 envia outro pelotão para Ponta do Inglês, iniciando, desta forma, a rotação com a Companhia de Cavalaria nº 678, vindo a assumir a responsabilidade do subsector do Xime em 14 de Abril de 1966, mantendo os destacamentos referidos, ficando no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores nº 697, rendido, mais tarde pelo Batalhão de Caçadores nº 1888.
A Companhia de Caçadores nº 1550 rende a Companhia de Cavalaria nº 1482, em 11 de Janeiro de 1967, sendo deslocada para o subsector de Ingoré, rendendo a Companhia de Cavalaria nº 788, assumindo em 15 de Janeiro de 1967 a responsabilidade do subsector, destacando um pelotão para o destacamento de Sedengal. Com esta alteração a unidade fica integrada na área e dispositivo do Batalhão de Caçadores nº 1894.
Por estar a terminar a sua comissão de serviço, é rendida em Ingoré pela Companhia de Caçadores nº 1590, deslocando-se em 15 desse mês para Bissau para efectuar o regresso á metrópole, o que acontece em 27 de Julho de 1967.
[Não tem história da Unidade. No Arquivo Histórico Militar, em Lisboa, tem um resumo de Factos e feitos. Cota Caixa nº 124 - 2ª Divisão / 4ª Secção).
[Não tem história da Unidade. No Arquivo Histórico Militar, em Lisboa, tem um resumo de Factos e feitos. Cota Caixa nº 124 - 2ª Divisão / 4ª Secção).
3ª Classe..............................................................4ª Classe
Medalha da Cruz de Guerra
É criada em 30 de Novembro de 1916 pelo Decreto nº 2870, destinada a premiar actos de coragem e bravura praticados em campanha.
Tem a forma de uma cruz templária, tendo sobreposto, ao centro o Emblema Nacional e teve, desde a sua criação, teve três desenhos diferentes, devidamente legislados em 1916, 1946 e 1971. É suspensa por uma fita de seda ondeada, com fundo vermelho, cortado longitudinalmente por cinco filetes verdes tendo, ao centro, uma miniatura da cruz de guerra.
Divide-se em 1ª classe (Ouro, cercadas de duas vergônteas de louro), 2ª classe (ouro), 3ª classe (prata) e 4ª classe (cobre), por ordem decrescente de importância, e pode ser atribuída individual e colectivamente.
Durante as Campanhas de África 1961-1974 foram atribuídas 2.634 medalhas a militares do Exército, 68 medalhas a militares da Armada e 273 medalhas a militares da Força Aérea.
Condecorados com a Cruz de Guerra
Resenha Histórico Militar das Campanhas de África (1961-1974)
5º Volume - Condecorações Militares Atribuídas - Tomo IV - Cruz de Guerra 1967:
AMILCAR TEIXEIRA
2º Sargento de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 344).
ANSU SANHA
Chefe de Caçadores Nativos e Guia por acção em combate no dia 1 de Dezembro de 1966 (5ª feira), condecorado a título póstumo com a Cruz de Guerra – 3ª Classe.
(Ordem do Exército 12/III/67 - página 007).
CESAR JOAQUIM SIMÕES
Soldado de Cavalaria, condecorado com duas medalhas da Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 12/III/67 - página 7 e Ordem do Exército 22/III/67 - página 328).
CRISTOVÃO RODRIGUES LEBRES
Soldado de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 347).
FERNANDO GONÇALVES MENDES
Soldado de Cavalaria Apontador de Lança Granadas Foguete, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 350).
HIGINO DOMINGUES FERNANDES DA SILVA
Furriel Miliciano de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 080).
JOSÉ ORLANDO SILVA
2º Sargento de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 346).
JUSTO DOS SANTOS MORCELA GAITA
1º Cabo de Cavalaria Apontador de Morteiro, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 348).
MANUEL ANTONIO DOS SANTOS PEIXE
Furriel Miliciano de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 345).
MÁRIO DE JESUS MANATA
Furriel Miliciano de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 12/III/67 - página 268).
Tombados em Campanha
AMÉRICO MATEUS JORGE, Soldado Atirador de Cavalaria número 709/65, solteiro, filho de Henrique Jorge e Maria Venança, natural da freguesia de Sobral da Lagoa, concelho de Óbidos, faleceu em 16 de Janeiro de 1966, vitima de ferimentos em combate, em resultado da explosão de uma mina anticarro na estrada de Amedalai – Taibata, junto do cruzamento para Chacali. Foi inumado no Cemitério de Bambadinca na Guiné, campa nº 8.
FORE SOQUÉ, Soldado Atirador número 321/64, mobilizado do CTIG, solteiro, filho de Imbunhe Soque e Britch Quebi, natural da freguesia de são José, concelho de Bissorã, faleceu em 16 de Janeiro de 1966, vitima de ferimentos em combate, em resultado da explosão de uma mina anticarro na estrada de Amedalai – Taibata, junto do cruzamento para Chacali. Foi inumado no Cemitério de Bambadinca na Guiné, campa nº 6.
JOSÉ LUCIANO MARTINS HORTA RODRIGUES, Soldado Atirador de Cavalaria número 1027/65, solteiro, filho de João José de Araújo Rodrigues e Maria Amélia Martins, natural da freguesia de Baçal, concelho de Bragança, faleceu em 16 de Janeiro de 1966, vitima de ferimentos em combate, em resultado da explosão de uma mina anticarro na estrada de Amedalai – Taibata, junto do cruzamento para Chacali. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Baçal.
CESAR AUGUSTO MORAIS, Soldado Atirador de Cavalaria número 1031/65, solteiro, filho de César Augusto Morais e Beatriz do Nascimento Alves, natural da freguesia de Vinhas, concelho de Macedo de Cavaleiros, faleceu em 12 de Março de 1966, vitima de ferimentos em combate, entre Ponte Verela e Poindom. Foi inumado no Cemitério de Vinhas.
Mensagem retirada da página de ultramar.terraweb-biz, com a devida vénia
2010/12/08
Mensagem de António Vaz, da Companhia de Polícia Militar 1754
Procuro os ex-militares, que ainda não contactaram com os respectivos organizadores dos Convívios Anuais, das seguintes Companhias, Pelotões ou em Rendição Individual:
ENG 1447 e 1448, Angola 1965/1967CENG 1665, Angola 1967/1969CPM 1750, Angola 1967/1969CPM 1751, Guiné 1967/1969CPM 1752 e 1753,
Moçambique 1967/1969CCAV 1482, 1483, 1484 e 1485, Guiné 1965/1967
Todas as Companhias, Pelotões e de Rendições Individuais que estiveram em S. Tomé e Príncipe desde 1961.
espondam antes que seja demasiado tardeUm abraço para todos do companheiro de armas da CPM 1754
António N. Vaz
Contacto: Telefone: 966 444 449
E-mail: kontokontigo@gmail.com
14JAN2010 - Está online o "Fórum da Companhia de Cavalaria 1482 Guiné 1965/1967" criado pela Vanda, filha de um veterano da Companhia de Cavalaria 1482
José Marcelino Martins
20 de Fevereiro de 2011
_________
Nota de M.R.:
Vd. o último poste desta série em:
22 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7838: Em busca de... (155): Camaradas da CART 2477/BART 2865, Cufar, 1969/70 (Ex-Alf Mil Art Francisco Valdemiro Santos)
É criada em 30 de Novembro de 1916 pelo Decreto nº 2870, destinada a premiar actos de coragem e bravura praticados em campanha.
Tem a forma de uma cruz templária, tendo sobreposto, ao centro o Emblema Nacional e teve, desde a sua criação, teve três desenhos diferentes, devidamente legislados em 1916, 1946 e 1971. É suspensa por uma fita de seda ondeada, com fundo vermelho, cortado longitudinalmente por cinco filetes verdes tendo, ao centro, uma miniatura da cruz de guerra.
Divide-se em 1ª classe (Ouro, cercadas de duas vergônteas de louro), 2ª classe (ouro), 3ª classe (prata) e 4ª classe (cobre), por ordem decrescente de importância, e pode ser atribuída individual e colectivamente.
Durante as Campanhas de África 1961-1974 foram atribuídas 2.634 medalhas a militares do Exército, 68 medalhas a militares da Armada e 273 medalhas a militares da Força Aérea.
Condecorados com a Cruz de Guerra
Resenha Histórico Militar das Campanhas de África (1961-1974)
5º Volume - Condecorações Militares Atribuídas - Tomo IV - Cruz de Guerra 1967:
AMILCAR TEIXEIRA
2º Sargento de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 344).
ANSU SANHA
Chefe de Caçadores Nativos e Guia por acção em combate no dia 1 de Dezembro de 1966 (5ª feira), condecorado a título póstumo com a Cruz de Guerra – 3ª Classe.
(Ordem do Exército 12/III/67 - página 007).
CESAR JOAQUIM SIMÕES
Soldado de Cavalaria, condecorado com duas medalhas da Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 12/III/67 - página 7 e Ordem do Exército 22/III/67 - página 328).
CRISTOVÃO RODRIGUES LEBRES
Soldado de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 347).
FERNANDO GONÇALVES MENDES
Soldado de Cavalaria Apontador de Lança Granadas Foguete, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 350).
HIGINO DOMINGUES FERNANDES DA SILVA
Furriel Miliciano de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 080).
JOSÉ ORLANDO SILVA
2º Sargento de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 346).
JUSTO DOS SANTOS MORCELA GAITA
1º Cabo de Cavalaria Apontador de Morteiro, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 348).
MANUEL ANTONIO DOS SANTOS PEIXE
Furriel Miliciano de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 345).
MÁRIO DE JESUS MANATA
Furriel Miliciano de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 12/III/67 - página 268).
Tombados em Campanha
AMÉRICO MATEUS JORGE, Soldado Atirador de Cavalaria número 709/65, solteiro, filho de Henrique Jorge e Maria Venança, natural da freguesia de Sobral da Lagoa, concelho de Óbidos, faleceu em 16 de Janeiro de 1966, vitima de ferimentos em combate, em resultado da explosão de uma mina anticarro na estrada de Amedalai – Taibata, junto do cruzamento para Chacali. Foi inumado no Cemitério de Bambadinca na Guiné, campa nº 8.
FORE SOQUÉ, Soldado Atirador número 321/64, mobilizado do CTIG, solteiro, filho de Imbunhe Soque e Britch Quebi, natural da freguesia de são José, concelho de Bissorã, faleceu em 16 de Janeiro de 1966, vitima de ferimentos em combate, em resultado da explosão de uma mina anticarro na estrada de Amedalai – Taibata, junto do cruzamento para Chacali. Foi inumado no Cemitério de Bambadinca na Guiné, campa nº 6.
JOSÉ LUCIANO MARTINS HORTA RODRIGUES, Soldado Atirador de Cavalaria número 1027/65, solteiro, filho de João José de Araújo Rodrigues e Maria Amélia Martins, natural da freguesia de Baçal, concelho de Bragança, faleceu em 16 de Janeiro de 1966, vitima de ferimentos em combate, em resultado da explosão de uma mina anticarro na estrada de Amedalai – Taibata, junto do cruzamento para Chacali. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Baçal.
CESAR AUGUSTO MORAIS, Soldado Atirador de Cavalaria número 1031/65, solteiro, filho de César Augusto Morais e Beatriz do Nascimento Alves, natural da freguesia de Vinhas, concelho de Macedo de Cavaleiros, faleceu em 12 de Março de 1966, vitima de ferimentos em combate, entre Ponte Verela e Poindom. Foi inumado no Cemitério de Vinhas.
Mensagem retirada da página de ultramar.terraweb-biz, com a devida vénia
2010/12/08
Mensagem de António Vaz, da Companhia de Polícia Militar 1754
Procuro os ex-militares, que ainda não contactaram com os respectivos organizadores dos Convívios Anuais, das seguintes Companhias, Pelotões ou em Rendição Individual:
ENG 1447 e 1448, Angola 1965/1967CENG 1665, Angola 1967/1969CPM 1750, Angola 1967/1969CPM 1751, Guiné 1967/1969CPM 1752 e 1753,
Moçambique 1967/1969CCAV 1482, 1483, 1484 e 1485, Guiné 1965/1967
Todas as Companhias, Pelotões e de Rendições Individuais que estiveram em S. Tomé e Príncipe desde 1961.
espondam antes que seja demasiado tardeUm abraço para todos do companheiro de armas da CPM 1754
António N. Vaz
Contacto: Telefone: 966 444 449
E-mail: kontokontigo@gmail.com
14JAN2010 - Está online o "Fórum da Companhia de Cavalaria 1482 Guiné 1965/1967" criado pela Vanda, filha de um veterano da Companhia de Cavalaria 1482
José Marcelino Martins
20 de Fevereiro de 2011
_________
Nota de M.R.:
Vd. o último poste desta série em:
22 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7838: Em busca de... (155): Camaradas da CART 2477/BART 2865, Cufar, 1969/70 (Ex-Alf Mil Art Francisco Valdemiro Santos)
Marcadores:
Bambadinca,
BCAÇ 697,
BCav 757,
CCAÇ 1550,
CCAÇ 1590,
CCAÇ 556,
CCAV 1482,
CCAV 678,
Cruz de Guerra,
Em busca de,
José Martins,
Louvores e condecorações,
Sedengal,
Virgínio Briote
Guiné 63/74 - P7845: Álbum fotográfico de Vasco da Gama (ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) (2): Aldeia Formosa, 1973; Cumbijã, 1974
Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > Janeiro de 1974 > Foto 12> Da esquerda, Califa, o homem mais velho de Aldeia Formosa com 83 anos de idade, Aliú, chefe da antiga Tabanca do Cumbijã, eu, Sekúna (filho do Cherno Rachide, há pouco falecido, e seu herdeiro no "posto") e o Cherno da República do Senegal ( irmão do falecido Cherno Rachide).
Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > Foto 9 > Com alguns homens grandes de Aldeia. O que tem a
"seta" na mão é o Califa, o homem mais velho de Aldeia
Formosa e antigo chefe religioso. [Em Janeiro de 1973, o Cherno Rachide ainda era vivo, tendo presidido, em Aldeia Formosa, à "festa do carneiro" ].
Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > Foto 13 > A população, na sua maioria constituída por "homens
grandes", segue a leitura do alcorão pelo Cherno Rachide. Os fatos que
envergam não os usam habitualmente mas só em dias festivos como o
"Ramadão" ou "Festa do Carneiro", que significa para eles o
início de um Novo Ano.
Mais três fotos do álbum do Vasco da Gama (ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74), disponibilizadas ao Pepito e, através deste, ao seu amigo Califa Aliu Djaló, filho do falecido
Cherno Rachide) (*).
Recorde-se, aqui, entretanto, as andanças da CCAV 8351 (1972/74) por terras da Guiné, e em especial na Região de Tombali:
(i) Cumeré, entre 27 de Outubro e 15 de Novembro de 1972;
(ii) Aldeia Formosa, desde Novembro de 1972 até inícios de 73;
(iii) a partir daqui, "dormíamos no mato na zona de Colibuía (desértica) quatro vezes por semana";
(iv) "ocupámos o Cumbijã em Março de 1973 e ficámos lá até finais de Junho de 1974";
(v) O Vasco e os seus homens ainda estiveram em NHACOBÁ: "depois de ter assaltado este local em 17 de Maio de 1973, estivemos lá, dia sim dia não, recebendo ordens para aí nos fixarmos em definitivo a 23 de Maio, e tendo abandonado esse local às 22h00 do dia 24 de Maio após ordens superiores");
(vi) finalmente em Bissau, em Julho e Agosto de 1974.
__________
Nota de L.G.:
Recorde-se, aqui, entretanto, as andanças da CCAV 8351 (1972/74) por terras da Guiné, e em especial na Região de Tombali:
(i) Cumeré, entre 27 de Outubro e 15 de Novembro de 1972;
(ii) Aldeia Formosa, desde Novembro de 1972 até inícios de 73;
(iii) a partir daqui, "dormíamos no mato na zona de Colibuía (desértica) quatro vezes por semana";
(iv) "ocupámos o Cumbijã em Março de 1973 e ficámos lá até finais de Junho de 1974";
(v) O Vasco e os seus homens ainda estiveram em NHACOBÁ: "depois de ter assaltado este local em 17 de Maio de 1973, estivemos lá, dia sim dia não, recebendo ordens para aí nos fixarmos em definitivo a 23 de Maio, e tendo abandonado esse local às 22h00 do dia 24 de Maio após ordens superiores");
(vi) finalmente em Bissau, em Julho e Agosto de 1974.
__________
Nota de L.G.:
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Guiné 63/74 - P7844: Blogoterapia (178): Regresso ao passado (Felismina Costa)
1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Felismina Costa* com data de 21 de Fevereiro de 2011:
Boa-tarde Amigo e Editor Carlos Vinhal
Antes que o Inverno acabe e o texto deixe de fazer sentido, envio esta dissertação sobre o meu passado.
É o recordar de um tempo que sempre valorizo, pelo que me foi oferecido, pelo conhecimento adquirido, pelo crescimento acompanhado e pelas lições de vida recebidas.
Carlos, se achar que vale a pena, publique.
Obrigada.
Regresso ao Passado
É a noite fria e ventosa que me leva, (qual máquina do tempo), ao princípio da vida.
À adolescência.
A um passado que ficou meio século para trás, vivido no meu Alentejo, sempre presente nas minhas recordações.
Enquanto aqui em casa, o vento faz bater as persianas das janelas, lá, uivava no alto da chaminé do Monte, passando apressado por entre as frestas da mesma, assobiando uma assustadora melodia, a que me habituei e que hoje, gosto de ouvir.
Cinquenta anos depois, as recordações são tão presentes na minha memória, como se tudo, tivesse acontecido… ontem.
A casa grande, de divisões de cerca de vinte metros quadrados cada, tinha um amplo corredor que as dividia: um arco a meio, ajudava a quebrar a amplidão.
Caiado de branco, à boa maneira alentejana, tinha, pendurados nas paredes, pequenos vasos de plantas pendentes, que quase roçavam o chão e embelezavam naturalmente o espaço pouco mobilado.
Abrigava as nossas vidas, modesta… mas gostosamente.
A lareira, no Inverno, acesa permanentemente, era o lugar de maior conforto.
Era o espaço social por excelência, para os de casa e para quem chegava.
Frente à lareira, um poial suportava as bilhas de água fresca que trazíamos do poço e por detrás destas, encostados à parede, perfilavam-se os alguidares de barro onde se amassava o pão e se temperavam as carnes do porco. Por baixo do poial e em nichos concebidos para o efeito, guardavam-se as panelas de barro de vários tamanhos, onde se cozinhavam os grãos, o feijão e o famoso cozido que me faz crescer água na boca. Decorando o poial, cortinas de chita coloridas embelezavam a grande e acolhedora cozinha, em cuja lareira cabíamos todos e jantávamos nas noites de Inverno.
A panela de ferro, encostada às brasas, sempre cheia de água, funcionava como esquentador, e pela manhã e ao longo do dia, a cafeteira de barro fervia o café que acompanhava, muitas vezes, as fatias de ovos ao pequeno-almoço ou as migas fumegantes em que o pai era especialista.
Sempre acordei bem disposta, fosse qual fosse a época do ano, e depois, o beijo matinal e o sorriso constante de meus pais, criavam e desenvolviam o ambiente propício para a minha alegria de viver.
O trabalho era um prazer.
Durante o Inverno, muitos dias não se podia sair de casa porque a chuva não deixava, mas em casa havia sempre que fazer. O pronto-a-vestir, praticamente inexistente, fazia com que as mulheres tivessem a seu cargo a confecção das roupas da sua prol, o que absorvia imensas horas da sua vida, e assim, o tempo das chuvas, era tempo de costurar, de fazer croché, de fazer tricô, de bordar, enfim, mil afazeres que ocupavam a mulher permanentemente.
Aos serões… crescia-se.
As histórias verdadeiras, eram-nos apresentadas na descrição dos nossos pais, que ao serão recordavam igualmente o seu passado, a sua origem, as suas saudades, no sossego daquele lugar, que só uma guerra em África preocupava já a tranquilidade de todos os lares, quer dos que lá tinham família, como daqueles que estavam ainda a criar os filhos e já sofriam por antecipação a sua ida para lá, uma vez que não se vislumbrava o fim do conflito.
Menina e primogénita, eu era a confidente, a que tinha o maior contacto com a realidade, por ser capaz de compreender melhor, e assim me tornei, grande companheira e amiga da nossa saudosa mãe, cujas dificuldades económicas faziam dela uma mulher dos sete ofícios.
Ninguém como ela engomava e lavava a nossa roupa.
Ninguém como ela fazia do velho novo, dando graça e beleza a cada peça.
Ninguém como ela educava contando-nos poesias moralistas.
Ninguém como ela amava a natureza, que ela própria ajudava a tornar bela e produtiva.
Ninguém como ela alindava a nossa casa.
Ninguém como ela sabia receber e valorizar o ser humano.
Ninguém como ela para nos amar e ensinar a amar o próximo.
Ninguém como ela para valorizar o conhecimento, a formação… os valores.
Jovem ainda, (que jovem era) quarenta anos, tinha à data a nossa mãe, mas sempre que recordo as suas palavras, vejo nelas a experiência de uma pessoa idónea.
Rapidamente a vida nos dá conhecimento, porque tão breve passa.
O que ficou para contar de uma vida breve, é tanto e tão prazeroso, que volto lá com o maior prazer e frequência.
Em dias de Inverno, vejo a sua preocupação em relação ao nosso bem-estar, proporcionando o conforto possível, numa terra, que tanto gelava no Inverno, como abrasava no Verão, mas… nada pesou mais que o seu carinho e toda a sua capacidade de ultrapassar dificuldades… rindo-se delas.
Nesta noite fria de Inverno, fui capaz de voltar atrás cinquenta anos e partilhar convosco o tempo da minha adolescência, tão grato que me perco a recordar.
Obrigada.
Felismina Costa
Agualva, 17 de Fevereiro de 2011
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7781: Blogpoesia (113): Mulher, minha irmã (Felismina Costa)
Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7824: Blogoterapia (177): A minha gratidão, com um abraço do tamanho do mundo, a todos os que se preocuparam com o meu estado de saúde (Rui Ferreira)
Boa-tarde Amigo e Editor Carlos Vinhal
Antes que o Inverno acabe e o texto deixe de fazer sentido, envio esta dissertação sobre o meu passado.
É o recordar de um tempo que sempre valorizo, pelo que me foi oferecido, pelo conhecimento adquirido, pelo crescimento acompanhado e pelas lições de vida recebidas.
Carlos, se achar que vale a pena, publique.
Obrigada.
Regresso ao Passado
É a noite fria e ventosa que me leva, (qual máquina do tempo), ao princípio da vida.
À adolescência.
A um passado que ficou meio século para trás, vivido no meu Alentejo, sempre presente nas minhas recordações.
Enquanto aqui em casa, o vento faz bater as persianas das janelas, lá, uivava no alto da chaminé do Monte, passando apressado por entre as frestas da mesma, assobiando uma assustadora melodia, a que me habituei e que hoje, gosto de ouvir.
Cinquenta anos depois, as recordações são tão presentes na minha memória, como se tudo, tivesse acontecido… ontem.
A casa grande, de divisões de cerca de vinte metros quadrados cada, tinha um amplo corredor que as dividia: um arco a meio, ajudava a quebrar a amplidão.
Caiado de branco, à boa maneira alentejana, tinha, pendurados nas paredes, pequenos vasos de plantas pendentes, que quase roçavam o chão e embelezavam naturalmente o espaço pouco mobilado.
Abrigava as nossas vidas, modesta… mas gostosamente.
A lareira, no Inverno, acesa permanentemente, era o lugar de maior conforto.
Era o espaço social por excelência, para os de casa e para quem chegava.
Frente à lareira, um poial suportava as bilhas de água fresca que trazíamos do poço e por detrás destas, encostados à parede, perfilavam-se os alguidares de barro onde se amassava o pão e se temperavam as carnes do porco. Por baixo do poial e em nichos concebidos para o efeito, guardavam-se as panelas de barro de vários tamanhos, onde se cozinhavam os grãos, o feijão e o famoso cozido que me faz crescer água na boca. Decorando o poial, cortinas de chita coloridas embelezavam a grande e acolhedora cozinha, em cuja lareira cabíamos todos e jantávamos nas noites de Inverno.
A panela de ferro, encostada às brasas, sempre cheia de água, funcionava como esquentador, e pela manhã e ao longo do dia, a cafeteira de barro fervia o café que acompanhava, muitas vezes, as fatias de ovos ao pequeno-almoço ou as migas fumegantes em que o pai era especialista.
Sempre acordei bem disposta, fosse qual fosse a época do ano, e depois, o beijo matinal e o sorriso constante de meus pais, criavam e desenvolviam o ambiente propício para a minha alegria de viver.
O trabalho era um prazer.
Durante o Inverno, muitos dias não se podia sair de casa porque a chuva não deixava, mas em casa havia sempre que fazer. O pronto-a-vestir, praticamente inexistente, fazia com que as mulheres tivessem a seu cargo a confecção das roupas da sua prol, o que absorvia imensas horas da sua vida, e assim, o tempo das chuvas, era tempo de costurar, de fazer croché, de fazer tricô, de bordar, enfim, mil afazeres que ocupavam a mulher permanentemente.
Aos serões… crescia-se.
As histórias verdadeiras, eram-nos apresentadas na descrição dos nossos pais, que ao serão recordavam igualmente o seu passado, a sua origem, as suas saudades, no sossego daquele lugar, que só uma guerra em África preocupava já a tranquilidade de todos os lares, quer dos que lá tinham família, como daqueles que estavam ainda a criar os filhos e já sofriam por antecipação a sua ida para lá, uma vez que não se vislumbrava o fim do conflito.
Menina e primogénita, eu era a confidente, a que tinha o maior contacto com a realidade, por ser capaz de compreender melhor, e assim me tornei, grande companheira e amiga da nossa saudosa mãe, cujas dificuldades económicas faziam dela uma mulher dos sete ofícios.
Ninguém como ela engomava e lavava a nossa roupa.
Ninguém como ela fazia do velho novo, dando graça e beleza a cada peça.
Ninguém como ela educava contando-nos poesias moralistas.
Ninguém como ela amava a natureza, que ela própria ajudava a tornar bela e produtiva.
Ninguém como ela alindava a nossa casa.
Ninguém como ela sabia receber e valorizar o ser humano.
Ninguém como ela para nos amar e ensinar a amar o próximo.
Ninguém como ela para valorizar o conhecimento, a formação… os valores.
Jovem ainda, (que jovem era) quarenta anos, tinha à data a nossa mãe, mas sempre que recordo as suas palavras, vejo nelas a experiência de uma pessoa idónea.
Rapidamente a vida nos dá conhecimento, porque tão breve passa.
O que ficou para contar de uma vida breve, é tanto e tão prazeroso, que volto lá com o maior prazer e frequência.
Em dias de Inverno, vejo a sua preocupação em relação ao nosso bem-estar, proporcionando o conforto possível, numa terra, que tanto gelava no Inverno, como abrasava no Verão, mas… nada pesou mais que o seu carinho e toda a sua capacidade de ultrapassar dificuldades… rindo-se delas.
Nesta noite fria de Inverno, fui capaz de voltar atrás cinquenta anos e partilhar convosco o tempo da minha adolescência, tão grato que me perco a recordar.
Obrigada.
Felismina Costa
Agualva, 17 de Fevereiro de 2011
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7781: Blogpoesia (113): Mulher, minha irmã (Felismina Costa)
Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7824: Blogoterapia (177): A minha gratidão, com um abraço do tamanho do mundo, a todos os que se preocuparam com o meu estado de saúde (Rui Ferreira)
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