quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8749: Tabanca Grande (301): José Romeiro Saúde, ex-Fur Mil de Op Especiais da CCS/BART 6523 (Nova Lamego e Gabú, 1973/74)

1.   Mais um Camarada se junta anos nesta parada virtual (com o nº de entrada 515), o RANGER José Romeiro Saúde, ex Fur Mil Op Esp do 1º turno de 1973, que pertenceu à CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74. Vive actualmente em Beja.

Camaradas,

Depois do almoço em Monte Real comecei a interessar-me pelo blogue. 

Faço visitas diárias e quero ser um novo "sócio".

Sobre mim: Vivo em Beja mas sou natural de Vila Nova de São Bento. Sou do 1º turno de Operações Especiais de 1973. Fui o segundo classificado do meu curso, o primeiro foi o Meireles, do Porto, e fiquei a dar instrução ao 1º grupos de cadetes, depois seguiu-se a Guiné.

Ao longo de mais de 30 anos fui jornalista - A BOLA e DN a nível nacional - tive um jornal desportivo "O ÁS", único no Alentejo, 23 anos, fui pioneiro a fazer rádio, e televisão, em Beja, paralelamente fui funcionário da Segurança Social, e sou, também, escritor. Tenho 3 livros editados, dois sobre futebol, uma modalidade que pratiquei ao serviço do Despertar (Beja), Sporting CP, Desportivo de Beja, FC Serpa e Aldenovense, sendo o tema GLÓRIAS DO PASSADO, onde relato a evolução do futebol na F Beja ao longo do século XX, e o último, a nível nacional AVC NA PRIMEIRA PESSOA - editora MEL de Estarreja - uma temática que aborda a minha infelicidade acometida a 27 de Julho de 2006, e brevemente sairá uma outra obra.

Confesso que me dispercei no tempo não tentando arranjar forma para estes convívios. O jornalismo ocupava-me de todo. Agora rejuvenesci ao reencontrar antigos camaradas. Tento estar presente não obstante a minha debilidade física. Mas um RANGER é uma pessoa FORTE, VENCE. E cá estou.


GRATIDÃO

Pequenas histórias onde as encruzilhadas da guerrilha se cruzavam com a nobreza exótica de gentes que compartilhavam sentimentos comuns. A gratidão do povo guineense no dar e receber era enorme. O confronto, no terreno, sendo real, não eliminava de todo um contacto permanente com uma população civil que se desfazia no acto “de bem servir” a tropa da metrópole.

Não vou, por razões díspares, debruçar-me sobre acontecimentos reais da chamada guerrilha no terreno a qual, na minha modesta opinião, estava condenada ao fracasso. A Guiné apresentava, no seu todo, um cenário físico deveras perspicaz tendo em conta a sua curta dimensão territorial e a forma como o PAIGC controlava o espaço. As emboscadas, ou os ataques aos quartéis, teriam pressupostamente um maior ronco se os guerrilheiros fossem possuidores de conhecimentos mais profícuos sobre a matéria de usar as armas, ou na concepção mais exacta em preparar uma guerrilha que, para nós, se apresentava diametralmente desigual.

Aliás, esta minha análise sintética enquadrou-se em pleno quando pela primeira vez me deparei com a fragilidade do inimigo em dispor os seus trunfos num confronto directo com as tropas lusas. Estávamos no dia 23 de Novembro de 1973. Na transparência de um dia levado ao êxtase, fazia, na altura, 23 risonhas primaveras, sendo que da metrópole tinham chegado queijos de ovelha e enchidos alentejanos, comestíveis enviados carinhosamente pela minha saudosa mãe, “material” devorado pelos meus companheiros e, logicamente, pelos soldados do grupo, deliciámo-nos com os ditos cujos regados primorosamente com um rol de cervejas que pareciam estontear corpos em plena ascensão física. Cerca das 4 horas da tarde, e sem que nada o fizesse prever, fui chamado ao capitão que me colocou a par das últimas novidades acabadinhas de chegar: “Temos conhecimento de um grupo IN perto da tabanca (não me lembro o seu nome), sendo urgente a nossa intervenção. Prepare o grupo de imediato e siga para o terreno”. E assim foi. A estrada ligava Nova Lamego (Gabú) a Piche. Uma hora depois estávamos em contacto com a realidade da guerrilha. Recordo que na ocasião ocorreu-me jogar mãos ao morteiro 60 dado que tive a percepção que o inimigo estava bem próximo. E não me enganei. Decidido tomei a decisão de juntar as granadas disponíveis e utilizá-las de seguida. Em pé, e em passo de corrida, o Géo (guia) aconselhava a deitar-me uma vez que o perigo espreitava. Eu, vincando a minha condição de ranger, tentei apaziguar as hostes e utilizei a pequena arma em direcção do IN que, à primeira vista, me parecia algo disperso. O certo é que o tiroteio serenou e a malta, antes de anoitecer, retirou sem prejuízos de maior monta. No dia seguinte, em reconhecimento ao local, constatámos que se tratou de um bi-grupo, quiçá em instrução, que deixou antever inexperiência, permitindo que o pessoal no terreno não tivesse sofrido sequelas físicas tão-pouco baixas para engrossar o rol de infelizes tombados em combate.

Lembro a maneira como o meu camarada ranger Rui Fernandes Álvares, furriel miliciano, e do meu curso em Lamego, ironizou a situação aquando chegado ao quartel comentou o diabólico contacto: “Vi um turra a fugir, apenas com uma perna, de arma na mão e a dar tiros em todas as direcções. Fugia que nem uma lebre”. Depois, embevecia-se a fazer o filme ao pormenor e a malta ria que se desunhava. O Rui era um rapaz de bom trato, com um coração enorme, e oriundo da freguesia de Boticas. As suas telas cinéfilas, entretanto desenhadas, divinais. O seu nome jamais me fugiu da memória. A sua inclinação para criar um bom ambiente, brilhante. Era um moço “porreiro”. Brincava com as fatalidades da guerra. O Rui, tal como a maioria da rapaziada que pisava o palco da guerrilha, não meditava, talvez, seriamente, e a preceito, com os “buracos impensáveis” que a guerra impunha ao infeliz soldado chamado “carne para canhão”.

Éramos jovens. Não temíamos as adversidades que o rosto da mata adensada, e das estreitas picadas, impunham. E tantas foram as ocasiões em que a despreocupação em cima do “unimog”, já caquéctico, nos conduzia simplesmente a uma pura brincadeira não temendo o momento imediato. Recordo uma tarde a caminho de Piche a viatura que seguia atrás embater na traseira da que rolava à sua frente e a malta a atirar-se para o chão embrenhado entre as granadas da “bazuca”, do morteiro 60 e as G3 que transportávamos nas mãos. Um arrepio entrou-me no corpo dado que os arranhões provocados nas minhas pernas e braços deixaram marcas. Um “acidente” que, no fundo, não causou vítimas de maior a bordo. Tudo correu bem. Mas… ficou o aviso.

Colocando de parte a guerrilha, e as vitimizações que ela provocou, vou referir neste apontamento de abertura uma tese que sempre considerei nobre: A GRATIDÃO! Não me recordo que em tempo algum tivesse sentido a nefasta opinião que a população guineense se mostrasse desordeira sempre que solicitada a um eventual pedido para uma colaboração. Humildemente reconhecia que a nossa tropa era, também, um meio intervencionista para a sua própria sobrevivência. Dar e receber apresentava-se como uma reciprocidade maioritariamente perfeita. Reconheço que a sua posição no meio não se apresentava nada fácil. Lidar com duas frentes de guerrilha uma assimetria desigual. De um lado os guerrilheiros do PAIGC, homens eventualmente conhecidos na tabanca, filhos da terra, familiares, e com quem amiúde trocavam opiniões, assumindo-se estes como os verdadeiros mestres para libertarem o território dos ditos “invasores brancos”; do outro a tropa da metrópole que lutava para defender pressupostos direitos alheios, desconhecendo por completo as razões pelas quais expunha o seu corpo à bala. Uma situação dúbia que determinava a neutralidade de uma população carenciada.

Neste contexto, ter-me-ei apercebido da verdadeira acção do povo. Lidar com as duas faces da moeda não era fácil. Um dia tivemos conhecimento que numa tabanca situada na zona de Nova Lamego o PAIGC ali se havia instalado. A aproximação à tabanca careceu, naturalmente, de cuidados redobrados. Mesmo assim lá chegámos sem problemas que afligissem o grupo. As informações recolhidas no local foram, a princípio, escassas. O chefe de tabanca dizia desconhecer a existência de guerrilheiros inimigos naquele local e era convictamente apoiado por quase toda a população. Só que pelo meio da conversa alguém se descuidou. O Géo, perito nestas andanças e sempre atento, apercebeu-se e toca a pôr o homem que “bufou” a confessar. Ficámos a saber que um grupo de guerrilheiros dormiu na noite anterior na tabanca, mataram uma vaca, comeram e beberam, fizeram uma festa e ao romper da aurora partiram para um novo rumo.

Esta concepção, perfeitamente atendível, sublinha a GRATIDÃO de um povo em guerra que lutava, apenas, pela sua sobrevivência. Aliás, a forma como toda a população se entregava a uma missão plenamente perceptível, deixava antever que o seu sentimento puro de dar e receber não suspendia os começos que a guerrilha, desde o seu início, lhe propusera.

Hoje, e numa viagem pelos corredores apertados da memória, recordo os tempos passados na Guiné em que recebi e dei momentos de eterna GRATIDÃO. 

UM ABRAÇO SENTIDO PARA O POVO DA GUINÉ!

Um abraço,
José Romeiro Saúde
Fur Mil Op Esp / Ranger da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção: © Carlos Coutinho (2011) Direitos reservados.
Fotografia: © Luís Saúde (2011). Direitos reservados.
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Notas de M.R.: 
1. O nosso Camarada José Saúde é do curso do RANGER Pedro Neves e vem-se juntar a outros 4 elementos do seu BART 6523, já integrados nesta nossa tertúlia: o RANGER António Barbosa (ex-Alf Mil Op Esp da 2ª CART), o Ricardo Figueiredo (ex-Fur Mil da 2ª CART), o Alfredo Dinis (ex-1º Cabo Aux Enf da CCS e entretanto já falecido) e o Américo Marques /ex-Sold de TRMS da 3ª CART).
2.   Amigo e Camarada Saúde, é da praxe sem sombra de dúvidas mais suave que a de Penude, que em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal e demais tertulianos deste blogue, te diga aqui que é sempre com grande satisfação e prazer que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras, bolanhas e tarrafos da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no malfadado “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko no meio de uma bolanha.
Pedindo desde já as minhas desculpas, volto a repetir aqui, neste teu poste, porque penso nunca ser demais fazê-lo incansavelmente, até que a voz se nos apague de vez, a mensagem que coloquei também no poste de apresentação do nosso Amigo Ranger António Barbosa: 
“Tal como o Luís Graça já referiu inúmeras vezes, em anteriores textos colocados ao longo de perto de sete mil postes no blogue, que todos aqueles que constituíram a geração dos 'Últimos Guerreiros do Império', têm alguma coisa a contar da sua passagem da Guerra do Ultramar, que permaneça para memória futura e colectiva, deste violento e sangrento período da História de Portugal, de que nós fomos protagonistas no terreno, em alguns casos só Deus sabe em que condições o fomos. Foram 12 anos de manutenção de um legado histórico que muitos ignoram e, ou, ostracizam por motivos diversos (cerca de 500 anos de permanência), à custa de muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sangue, sofrimento, morte… que envolveu a movimentação de mais de meio milhão de portugueses em armas. Como se não tivesse bastado, muitos de nós continuam a sofrer, pelo menos psicologicamente, nos últimos 36 anos com o modo ostracista e laxista como os políticos portugueses nos tratam. 
"Nós que, nos nossos 21/22/23 anos, demos o nosso melhor, como podíamos e sabíamos, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e enfiados em autênticos buracos, construídos no lodo, embebidos em pó, lama, suor, mosquitos, etc., completamente hostis e perigosíssimos, sob vários aspectos, onde, além dos combates com o IN, enfrentávamos as traiçoeiras minas e armadilhas, as doenças a apoquentar-nos (paludismos, disenterias, micoses, etc.) e as nossas naturais angústias e temores, próprios das nossas tenras idades.
"Nós até nem temos pedido muito, além de respeito e dignidade, que todos nós merecemos pelo que demos a esta Pátria, queríamos, e continuamos a querer, no mínimo, que os nossos doentes, física e psicologicamente, sejam tratados condigna e adequadamente, e o tratamento e acompanhamento dos mais carenciados e abandonados pela desgraçada 'sorte' da vida. Oferecendo-te então aqui as nossas melhores boas-vindas e ficamos a aguardar que nos contes episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos. Recebe pois, para já, o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.”
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Nota do editor:

Vd. último poste desta série em:

31 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8714: Tabanca Grande (300): Apresenta-se o Eduardo Jorge Ferreira, lourinhanense, ex-Alf Mil da Polícia Aérea (BA12, 1973/74)


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8748: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (4): As notícias em Bissau - A Presse Lusitânia

1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro* (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal
Depois de algum tempo de interregno, volto às lides e às recordações do meu tempo de Bissau.

Recordo hoje aqui o trabalho diário da difusão da PRESSE LUSITÂNIA, passados que são mais de 42 anos.

A reprodução dos documentos não é a melhor mas a possível. Os documentos estão manchados pelo tempo e eu também não sou grande técnico nas artes de utilizar o scanner. Mas a rapaziada compreenderá, até porque o que conta é a intenção e essa é a melhor.

Se entenderes que este trabalho merece ser publicado, estás à vontade.

Um abração
Carlos Pinheiro


RECORDAÇÕES DOS TEMPOS DE BISSAU (4)

Recordar nunca é demais, para que a memória não esqueça.

As notícias em Bissau – A PRESSE LUSITÂNIA

Naqueles tempos longínquos, quando ninguém sabia o que eram telemóveis e a Rádio não era nada do que hoje é, algumas notícias ouviam-se em Onda Curta, mas sempre com má qualidade e normalmente a horas impróprias. Por tudo isto, as notícias chegavam todos os dias a Bissau, expedidas de Lisboa, para todo o mundo, em Morse.

Era o Destacamento do STM do CTIG que organizava a sua recepção, a sua interpretação, a sua impressão e a sua posterior divulgação pelas Unidades Militares de Bissau.
Tínhamos ali uma equipa pluridisciplinar digna de todo o registo e digna de ser recordada ao fim de todos estes anos.
Tudo funcionava sob o comando e orientação do Comandante do Destacamento, o então Capitão João Afonso Bento Soares, hoje distinto General na reforma.

O 1º Sargento Liberal Silva, coordenava a equipa que muitas vezes já funcionava automaticamente como se estivesse em auto-gestão.

O 2º Sargento Caldas da Silva tratava da Expedição já que era o CMsgs, que ele chefiava, que tinha as viaturas e os estafetas.

Para estes dois últimos amigos que já nos deixaram há muito, vai um abraço de saudade e de uma forma especial para o Sargento Caldas, grande amigo, que naquelas terras passou grande parte da sua vida.

O Radiotelegrafista IRINEU era um especialista altamente qualificado para cumprir esta missão, por isso encarregado diariamente desse serviço. Tinha de facto uma capacidade de recepção muito acima da média e era um companheiro amigo do seu amigo que, mesmo depois do seu trabalho, muitas vezes ajudava a interpretar muitas das letras que escrevia apressadamente. Gostava de saber o seu contacto. Penso que era do Norte, mas não tenho mais referências.

Depois era eu, este modesto escriba, que se encarregava então da interpretação de todos aqueles rabiscos, que passava à máquina todo o trabalho naquelas folhas de stencil e depois era só colocá-las, uma a uma, uma de cada vez, no duplicador Gestetner, meter tinta suficiente, colocar o papel e dar à manivela para que o trabalho saísse.

De vez em quando acontecia um ou outro contratempo. Era o stencil que se rompia e tudo tinha que começar de novo. Era a tinta que borrava o trabalho e tudo também voltava ao principio, mas a noite era nossa e tudo acabava sempre em bem.

No outro dia de manhã, quando o serviço o permitia, eram dirigidos vários exemplares a cada Unidade de Bissau e esse trabalho acabava sempre perto da hora da 2ª refeição. Ia um motorista, normalmente do Recrutamento da Província, e um estafeta do Centro de Mensagens que fazia as entregas mediante Protocolo para que não haver lugar a reclamações.

Por mera curiosidade, para matar saudades e também para a rapaziada do mato que só vinha a Bissau de passagem, vão aqui dois exemplares, sendo o primeiro do dia 13 de Julho de 1969. Nesta primeira página fala-se da visita Presidencial ao Brasil, o Professor Marcello Caetano, da viagem no avião a jacto da TAP, da sua chegada e da recepção.


Nesta segunda página, como poderão verificar, fala-se de futebol, de atletismo, da digressão do Vitória de Setúbal a Angola e a Moçambique e dava-se conhecimento da Chave do TOTOBOLA daquela semana, onde só pontificavam equipas secundárias, possivelmente devido a alguma interrupção do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, quem sabe se motivada por algum jogo da Selecção Nacional.
Mas esta da Chave do Totobola, não deixa de ser interessante recordar.


Agora é a Presse do dia 31 de Julho de 1969.
Nesta página, para além das notícias da política da altura, regista-se a chegada a Lisboa do Paquete “Vera Cruz” com tropas de regresso do Ultramar, mas também se dá nota da VIDA DESPORTIVA que inclui ciclismo – VIII Grande Prémio Robbialac – dum acidente dentro desse Grande Prémio onde esteve envolvido o grande Joaquim Agostinho e termina a página com uma referência ao Campeonato Nacional de Juniores de Andebol de Onze.


Nesta página é dada nota de alguma dificuldade de ligação do grande Eusébio ao Benfica.
A página completa-se com notícias da chamada Vida Internacional.
Era assim que a tropa, neste caso o Destacamento do STM, colaborava na difusão das notícias do mundo junto das outras Unidades Militares.

É mesmo bom recordar, para que a memória não esqueça.
Carlos Pinheiro, no dia 4 de Setembro de 2011, passados 42 anos dos factos.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8448: Blogoterapia (182): A primeira vez! - Em Monte Real (Carlos Pinheiro)

Vd. último poste da série de 13 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8412: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro) (3): Dia de Santo António de 1969

Guiné 63/74 - P8747: Fotos à procura de... uma legenda (14): Ex-Alf Mil Op Esp Francisco Moreira, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): O que é feito de ti, camarada ? Fotos do álbum de Benjamim Durães (CCS/BART 2917, 1970/72)



Guiné > Zona Leste >  Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970> O Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira que vivia, há uns anos atrás, em Lameiras, Lama, Santo Tirso (estive há dias perto da terra dele).  Era o comandante do 1º Gr Comb da CCAÇ 12 e, na prática, o 2º comandante da companhia. Era o homem de confiança do Cap Inf Carlos Brito. O melhor preparado dos oficiais milicianos da companhia. Tinha o curso de operações especiais. Era disciplinado e disciplinador.  Um homem afável, mas algo distante e reservado, muitas vezes escondido sob os então na moda óculos de sol Ray-Ban (um gadget muito apreciado pelo milicianos, que tinham algum poder de compra no TO da Guiné...). Sempre o tratei por você. Fora da actividade operacional, convivíamos pouco, eu e ele. Não era homem de noitadas. 

De acordo com um camarada que há tempos falou com ele ao telefone, hoje não quer mais falar da Guiné, embora tenha boas recordações desse tempo, dos seus camaradas e dos seus valentes soldados africanos. Não creio que conheça o nosso blogue. Já estive tentado a telefonar-lhe, até por que fui colega de trabalho de um cunhado dele, também formado em sociologia como eu (e de quem perdi lamentavelmente o rasto). Gostaria de o ter, por aqui, ao Moreira, na nossa Tabanca Grande. Mas respeito o seu silêncio, o dele e dos demais camaradas que estiveram connosco no TO da Guiné, e têm reservas quanto ao risco de exposição da sua vida privada, decorrente da participação de um blogue como este... Creio que o vi, pela última vez, em 1994, em  Fão, Esposende, no 1º encontro do pessoal de Bambadinca (1968/71). Desejo-lhe muita saúde e longa vida. E daqui vai um Alfa Bravo do tamanho do nosso longo e sinuoso Rio Geba.

As fotos, que são públicas, tiradas num teatro de guerra,  datam seguramente de 1970, uma vez que pertencem ao álbum do Benjamim Durães. A primeira é tirada numa  tabanca fula em autodefesa, que não consigo identificar. As seguintes foram tiradas no Saltinho, junto à ponte sobre o Rio Corubal, e aonde a CCAÇ 12  ia, com alguma regularidade,  em colunas logísticas.

Fotos: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8746: Recortes de imprensa (47): Correio dos Açores: A notícia da morte do Fernando de Sousa Henriques (1949-2011) (Carlos Cordeiro)




In Correio dos Açores, 6 de Setembro de 2011. Recorte enviado pelo nosso camarada Carlos Cordeiro, residente em Ponta Delgada, com a seguinte mensagem:

"Infelizmente é verdade, Luís [, a notícia inesperada da morte do Fernando de Sousa Henriques, que vivia há muito nos Açores]. Está na última página do jornal [, Correio dos Açores]. Foi na ilha de Santa Maria. Bolas!!!!!!!!!! A malta tem que pensar que não tem 20 anos! P... e eu também tenho que pensar nisso. Um grande - e muito triste - abraço, Carlos".

As nossas sentidas condolências à sua família, na pessoa da viúva, Noémia Maria Chaves e filhos, Fernando Melo José Henriques e Cristina Melo Henriques, em nome de todos os amigos e camaradas da Guiné, aqui representados na Tabanca Grande, de que o Fernando era membro. Continuará o seu nome a figurar na lista dos amigos e camaradas da Guiné, na lista dos que da lei da morte se vão libertando, o mesmo é dizer que nos compete, a nós, os vivos, honrar a sua memória, a passagem por esta terra e por este blogue.

Consultar também o blogue do nosso co-editor Eduardo Magalhães Ribeiro > Coisas do MR > 7 de Setembro de 2011 > M363 – Faleceu o RANGER Fernando Henriques do 3º curso de 1971
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Nota do editor:

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8745: Humor de caserna (21): Vocês são danados p'ra brincadeira, diz o Manuel Reis, guilejista (Joaquim Mexia Alves)


O Manuel Reis (hoje professor do ensino secundário, reformado, com o barco ancorado em Aveiro; noutra incarnação, Alf Mil, CCAV 8350, Guileje, 1972/73), apanhado pelo bom humor e talento do régulo da Tabanca do Centro, Joaquim Mexia Alves, anfitrião do 12º encontro,recentemente realizado...

Fonte: Tabanca do Centro (com a devida vénia...)

1. Mensagem de hoje, enviada da Tabanca do Centro, pelo Joaquim Mexia Alves:

Meus camarigos

Ao ler hoje os comentários, todos de grande expressão, saltou aos olhos a expressão do Manel Reis, que me despertou logo a veia humorística.

Espero que não me leves a mal,  Manel, pois por ser teu amigo é que me meto contigo, "obviously"!!!

Aqui vai:



Um abraço

Joaquim


2. Comentário de L.G.:

A Tabanca do Centro vai já no seu 13º encontro, a realizar no próximo dia 28 de setembro... Em Monte Real, pois claro...È, a par da Tabanca de Matosinhos, a mais ativa socialmente falando... Claro que o seu sucesso se deve muito à liderança, ao carisma, à capacidade organizativa e á hospitalidade do seu régulo... Daqui vai um abraço de parabéns para ele, o Joaquim, por ter feito da Tabanca do Centro um polo de atração e um sítio onde amigos e camarigos se sentem em casa...  Infelizmente não tenho podido participar mais vezes do que eu gostaria nesta tertúlia, de gente bem disposta, com sentido de humor e que gosta da vida... 

Aproveito para dar os parabéns ao editor da nova revista social da Tabanca, a Karas de Monte Real, o Miguel Pessoa, presença de resto habitual nos encontros desta tertúlia,  ele e a sua Giselda (vd. nº especial de Agosto de 2011)...

Dos outros tabanqueiros, registo com agrado a presença do Manuel Reis, que vem expressamente de Aveiro...  Fica aqui, com a devida vénia, a expressão plástica, sob a forma de cartoon, da homenagem que o Joaquim Mexia Alves lhe quis fazer. Toda a caricatura é, antes de mais, uma homenagem ao caricaturado. Neste caso, a um grande camarada da Guiné, um verdadeiro Pirata de Guileje... (LG).

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8744: Histórias da guerra (José Carlos Gabriel) (2): Gabriel já não volta, coincidência ou percepção?

1. Mensagem do nosso camarada José Carlos Ramos dos Santos Gabriel* (ex-1.º Cabo Op Cripto da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74), com data de 3 de Setembro de 2011:

Junto mais uma história e algumas fotos com um abraço a todos os camaradas e amigos.


HISTÓRIAS DA GUERRA - II

GABRIEL JÁ NÃO VOLTA (Coincidência ou percepção?)

Em 1973 na chegada a Nhala foi-me apresentada a lavadeira que já tinha prestado o mesmo serviço aos camaradas criptos de campanhas anteriores.

Mulher Grande de uma educação estrema e que se fazia sempre acompanhar da sua Bajuda, miúda linda e educada que na altura teria por volta dos 6 a 7 anos.

Quando eu recebia as encomendas enviadas pela família era normal oferecer à Bajuda as latas de sardinha e atum em conserva (pois de conserva estava já farto) assim como um ou outro sabonete.

Numa das últimas encomendas recebidas em 1974 estavam incluídas umas toalhas.

Quando as mandei lavar, e ao me serem entregues, foi-me pedido pela Bajuda para lhas oferecer porque eram MANGA DE RONCO, pedido a que não acedi.

Dias antes de deixar Nhala para vir de férias, ao me ser entregue a roupa lavada, sou novamente confrontado com a Mulher Grande e a Bajuda a pedirem insistentemente para eu lhes oferecer as toalhas porque eu já não iria voltar, sendo estas as suas palavras:
- Eh Gabriel, dá toalhas porque já não voltas, vais na Metrópole ver Mulher Grande e Bajuda e já não voltas, dá toalhas, dá toalhas prá Bajuda.

Mais uma vez não acedi ao pedido, mas perante tanta insistência separei as ditas toalhas assim como mais uns artigos e pedi ao meu camarada que caso eu não regressasse lhos oferecesse.

A realidade é que já não regressei pelo que as ofertas lhes terão sido entregues.

Nhala > Pelotão de Especialistas

Nhala > Cantina à esquerda e Enfermaria à direita

Nhala > Chegada de coluna com frescos

Nhala > Trabalhos de Engenharia na estrada Aldeia Formosa-Buba

José Carlos Gabriel
Ex-1.º Cabo Op Cripto
2.ª CCAÇ do BCAÇ 4513
Nhala
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 23 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8697: Histórias da guerra (José Carlos Gabriel) (1): Imagens que nunca se apagarão

Guiné 63/74 - P8743: In Memoriam (91): Magalhães Pinto, ex-Fur Mil Vague Mestre da CCS/BART 645 - Águias Negras (Bissau e Mansoa, 1964/66) (Carlos Vinhal)

No dia 6 de Setembro de 2011, Magalhães Pinto, ex-Fur Mil Vague Mestre da CCS/BART 645 (Águias Negras) parte para a eternidade.

Caros camaradas, é caso para dizer Soma e segue. (*)

Há poucos minutos recebi uma mensagem do nosso amigo Albano Costa a dar conhecimento do falecimento de mais um camarada da Guiné, desta feita o (para nós) Dr. Magalhães Pinto, ex-Fur Mil Vague Mestre da CCS/BART 645 (Águias Negras), Batalhão a que pertencia o nosso camarada e tertuliano Rogério Cardoso, da CART 643, a quem aliás já mandei mensagem a dar conta deste acontecimento.

Magalhães Pinto, Economista, pessoa sempre atenta ao que o rodeava, tinha um Blogue, o Poliscópio, nas suas palavras: Os sinais do nosso tempo, num registo despretensioso, bem humorado por vezes e sempre crítico.

Tinha regular actividade cívica e política, além de publicar alguns artigos de opinião em jornais e revistas locais e nacionais.

O seu grande amigo Joaquim Queirós, que durante muitos anos foi director do extinto jornal Matosinhos Hoje, onde Magalhães Pinto colaborava regularmente, já manifestou o seu profundo desgosto na página do facebook do nosso camarada agora falecido.

Autor de vários e variados livros, entre os quais o romance Os Heróis e o Medo, onde, baseado em factos reais, conta a história do seu Batalhão, que foi comandado pelo Coronel Braamcamp Sobral, e dos seus camaradas do BART 645 (**). Este romance foi alvo de uma recensão por parte do nosso camarada Beja Santos.

No próximo dia 14 de Setembro iria ser apresentado o seu último trabalho, Fernando Pinto de Oliveira, um homem além do seu tempo, a biografia de um antigo Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, cujo mandato ocorreu entre os anos de 1958 e 1970, homenagem a que se iria associar o actual Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto.

A este propósito dizia há dias Magalhães Pinto no seu Poliscópio: Não sei que mais admirar: se a qualidade de um Presidente de Câmara durante a ditadura (Fernando Pinto de Oliveira - Matosinhos), se a de outro, actual, que decidiu homenagear essa qualidade (Guilherme Pinto - Matosinhos). Parece mesmo é que a qualidade é matosinhense.

Matosinhos acaba de perder uma pessoa importante e nós, ex-combatentes da Guiné, um brilhante camarada.

O seu funeral sairá amanhã pelas 14h30 da Capela Mortuária de Matosinhos para o Cemitério de Sendim.

À família enlutada apresentamos os nossos sentidos pêsames e a certeza de que têm a solidariedade dos inúmeros amigos que este cidadão e camarada granjeou ao longo da sua vida.
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Notas de CV:

(*) Vd. último poste da série de 5 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8738: In Memoriam (90): Fernando de Sousa Henriques, foi Alf Mil OpEsp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74), faleceu ontem, dia 4 de Setembro de 2011

(**) O BART 645 foi mobilizado pelo RAL 1. Partiu para a Guiné em 4/3/1964 e regressou à Metrópole em 9/2/1966. Esteve em Bissau e em Mansoa. Comandantes:  Ten Cor Art  António Braamcamp Sobral; Maj Art Raul Pereira Baptista.

Guiné 63/74 - P8742: Memórias da CCAÇ 1546 (Domingos Gonçalves) (1) - Reportagens da Época (1966): A caminho de embarque e Embarque

 

1. Primeiro poste da série "Memórias da CCAÇ 1546 (1966) - Reportagens da Época", de autoria do nosso camarada Domingos Gonçalves*, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68), enviadas em mensagem do dia 22 de Agosto de 2011.





Memórias da CCAÇ 1546 (1966) - Reportagens da Época - I

A Caminho do embarque

7 de Maio de 1966

Pelas cinco horas da manhã o corneteiro executou o toque de alvorada.
Os homens da Companhia de Caçadores n.º 1546 levantaram-se, fardaram-se, prepararam as respectivas bagagens e, pelas sete horas da manhã, tomaram o pequeno almoço.

Às oito horas e meia, em formatura, a Companhia despediu-se do Pragal, abandonando o aquartelamento e a povoação em passo de corrida, obedecendo à voz de comando do capitão.
Como era muito agradável o destino que nos esperava, era necessário correr ao seu encontro!...

Para trás, nos olhares saudosos da população que nos via partir, ficavam já muitas histórias de amores passageiros, mas talvez profundos, construídos durante as escassas semanas em que a Companhia permaneceu no pequeno aquartelamento que se debruçava, singelo, sobre o Tejo.

Entretanto, as viaturas do Exército já haviam carregado as bagagens e rumado para as bandas de Lisboa.

Embarcada num cacilheiro, a Companhia desceu o Tejo, até Porto Brandão, onde, no mesmo barco, iniciaram a travessia do rio os homens das Companhias de Caçadores n.º 1547 e n.º 1548, também pertencentes ao Batalhão n.º 1887.

De Porto Brandão o cacilheiro levou-nos ao cais da Rocha, onde se desembarcou e se preparou a formatura do Batalhão para o desfile do embarque.

Gare Marítima da Rocha Conde D´Óbidos
Com a devida vénia ao Blogue Restos de Colecção

Depois foi a cerimónia da despedida.

Houve discursos e recordações para os soldados, oferecidas pelas senhoras do Movimento Nacional Feminino.

Estiveram também presentes no local, bastante discretas, algumas raparigas do Serviço de Apoio aos Milicianos, um movimento pouco conhecido, constituído por gente nova, que prestava alguma ajuda aos jovens que, por causa da guerra, tinham que abandonar estudos, interromper cursos e partir para as colónias.


O EMBARQUE

Eram dez horas da manhã.
O Sol caía, abrasador, sobre a marginal lisboeta, queimando, inclemente, o rosto entristecido de cada homem.
A formatura estava impecável.
A luz incidia, radiosa, sobre a cor das fardas e sobre os galões dourados dos oficiais e sargentos, dando uma alma estranha, mas cheia de nobreza e brilho, ao Batalhão em parada...

De repente, quase angélico, ecoou nos ares o toque de sentido.
De imediato, como se fora um só corpo animado pela força do mesmo espírito, o Batalhão inteiro, mais de setecentos homens, o rosto iluminado pelo sol ofuscante, ficou petrificado, olhando em frente.

E os metais do clarim soltaram nova melodia, desta vez, ainda, mais harmoniosa, e a formatura fez direita volver.

O clarim tocou de novo...
A fanfarra soou...

O eco profundo causado pelo ruído de mais de setecentos homens marchando, espalhou-se, grandioso, ao perto e ao longe, para voltar de novo ao asfalto que as botas pisavam rudemente...
E o desfile prosseguia até se desfazer nas escadas do Uíge, que os soldados, ainda sob a força hipnotizante do toque de fanfarra, subiam a marchar.

Finalmente, quando o último soldado já se encontrava a bordo, a escada do barco levantou-se.



No cais, amontoavam-se centenas de homens, mulheres e crianças, olhos fixos no barco pronto para iniciar a viagem.
Eram os familiares e amigos que ficavam.
No rosto de cada um pairava, tristonha e dolorosa, a imagem da saudade.

No barco, olhando o cais, os irmãos, as namoradas, ou outros familiares, que ficavam, os soldados apenas almejavam o fim do quadro pungente que viviam. Todos desejavam sentir o barco a deslizar rio abaixo, o mais rapidamente possível.

Às doze horas, sensivelmente, o Uíge levantou ferro e, muito lentamente, foi sulcando as águas calmas do Tejo, rumo ao Atlântico misterioso, belo e fundo.

Agitadas pelo vento, desfazendo-se em espuma, as ondas faziam baloiçar o barco que, vagaroso, deslizava nas águas mansamente.

A luz do sol incidia, ténue, na planura das águas e, do Barreiro a Cacilhas, da Praça do Comércio a Belém, o rio era um imenso lençol de prata, um verdadeiro mar a desfazer-se em pérolas.

Bandos de gaivotas pairavam nos ares, poisavam na água, esvoaçavam de novo, enquanto, sempre baloiçando, o Uíge, impelido pela força dos hélices, ia cortando a massa líquida.

A ponte, ainda em construção, o Cristo Rei de Almada, os Jerónimos, o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de Belém, os rochedos da costa, tudo foi desaparecendo do horizonte.

No barco, pensativos, os soldados, rapazes do Minho, de Trás-os-Montes, das Beiras, de Lisboa e das Ilhas, iam contemplando a terra que desaparecia, sem que a esperança morresse em seus corações.

A alma do regresso seguia bem enraizada no peito de cada um.

Quantas promessas à Virgem e aos Santos eles fizeram antes de embarcar! Eles e os familiares... E as namoradas...

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8718: Convívios (361): Relembrando o 1.º Convívio da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, em Fátima, no dia 24 de Maio de 1997 (Domingos Gonçalves)

Guiné 63/74 - P8741: Notas de leitura (271): Contra-Inssureição em África, 1961-1974, O modo português de fazer a guerra, de John P. Cann (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Agosto de 2011:

Queridos amigos,
Este “Modo português de fazer a guerra” tem a ver com a Guiné, trata-se de um estudo em que um distinto oficial-aviador da Marinha norte-americana e professor de conflitos de baixa intensidade procura demonstrar que houve uma singularidade nas soluções encontradas pelos militares portugueses e que poderão servir de exemplo a outros países que tenham de enfrentar situações semelhantes. Aliás, John Cann recorre frequentemente à comparação entre o que se passou nos nossos três teatros de operações com o Vietnam, a Malásia e a Argélia.
Com controvérsia ou sem ela, diz sem nenhuma hesitação que esta estratégia global foi a melhor forma para ditar vitórias e sucessos dos militares portugueses e deplora que tenham sido malbaratados pelo poder político da época, que teimosamente insistiu em não negociar com os guerrilheiros.

Um abraço do
Mário


O modo português de fazer a guerra

Beja Santos

“Demonstraremos como os portugueses desenvolveram o seu próprio e singular modo de lutar, executando a sua estratégia nacional e as práticas que daí advieram: o modo português de fazer a guerra. Compará-lo-emos tematicamente com outras contra-insurreições contemporâneas e esta descrição positiva salientará a sua singularidade. O facto de Portugal ter perdido a guerra por não ter conseguido encontrar uma solução política não nega as suas proezas militares nem a lição que pode constituir para outros conflitos futuros”. Com esta frase temos em toda a extensão os objectivos do trabalho “Contra-insurreição em África, 1961-1974, o modo português de fazer a guerra”, por John P. Cann, Edições Atena, Lda., 1998.

Logo no prólogo o general Bernard E. Trainor recorda que na actualidade as guerras de libertação nacional estão praticamente inactivas mas o mesmo não sucede com as rivalidades étnicas, religiosas, políticas e económicas, particularmente na África subsariana. Estudar o modo português de fazer a guerra é analisar como um país cheio de carências, em 1961 sem prática de contra guerrilha conseguiu conter a violência, proteger as pessoas e impedir com certos limites o acesso de guerrilheiros às populações locais, incutindo igualmente nas chefias rebeldes o respeito suficiente para induzir negociações políticas.

John Cann começa por pôr os dados na mesa quanto aos desafios da contra-insurreição postos a Portugal: refere distâncias entre a metrópole e os teatros de operações, descreve efectivos, o posicionamento dos movimentos de libertação e o volume dos encargos militares. Salta depois para o compromisso com o Ultramar, destacando a política salazarista, a natureza ideológica dos partidos rebeldes e passa à cronologia dos acontecimentos de 1961, a partir das insurreições em Angola, o golpe liderado pelo general Botelho Moniz, a posição frágil e o isolamento de Portugal nas Nações Unidas e a queda de Goa. Centrado na doutrina portuguesa de contra-insurreição, passa em revista a preparação para a guerra subversiva, os fundamentos da doutrina portuguesa e analisa detalhadamente os manuais intitulados “O Exército na Guerra Subversiva”, material que respigava o essencial das doutrinas britânica e francesa, bem como algum material norte-americano.

O objecto de análise seguinte prende-se com a organização, a educação e o treino português para contra-insurreição, encontramos aqui matriz da colocação das tropas, a orgânica dos dispositivos, o modo de coordenação civil e militar (no caso da Guiné unificado a partir de 1964), a natureza dos efectivos progressivamente adaptados à natureza dos efectivos da contra guerrilha e dá o exemplo da instrução de aperfeiçoamento operacional que veio a ser adaptada à cultura e geografia do teatro operacional. E escreve textualmente: tanto na Guiné como em Angola os movimentos nacionalistas que ficaram em 1970 num equilíbrio militar que reflectia, entre outros factores a eficácia destas alterações”. O autor considera que um dos elementos mais significativos na condução portuguesa das campanhas foi a africanização das suas forças armadas, conseguindo assim suprir a gradual escassez de efectivos metropolitanos, premiando as populações fiéis e encontrando até soluções na criação de uma categoria especial de oficiais que respondesse ao desgaste a que estava a ser sujeito o quadro permanente. Descreve todo o desenvolvimento da africanização referindo-se aos milícias guineenses falando em milícias normais como aquelas que tinham um papel defensivo e milícias especiais como as que conduziam operações de contra-insurreição ofensivas longe das defesas locais. E escreve: “Em 1971, foi formado o novo corpo de milícias para integrar todas as milícias e tropas de 2.ª linha no exército regular. O corpo foi organizado por companhias de grupos de combate e juntou cerca de 40 companhias com mais de 8000 homens”. Refere-se igualmente às companhias de comandos e aos fuzileiros guineenses.

A rede portuguesa de informações de contra-insurreição é igualmente descrita com minúcia referindo o reconhecimento do terreno, o reconhecimento aéreo, o estudo dos documentos e equipamentos apreendidos bem como os interrogatórios aos guerrilheiros capturados. Falando da mobilidade, o autor enfatiza o papel dos helicópteros e das lanchas de marinha, a resposta mais adequada à natureza do terreno onde operavam com facilidade os guerrilheiros e as populações por estes controlados. Os aldeamentos portugueses são minuciosamente apreciados, segundo John Cann introduziram uma brecha profunda no aliciamento das populações em muitos casos forçadas ao jogo duplo entre Portugal e o PAIGC.

Dá como demonstrado ter havido uma abordagem específica portuguesa da contra-insurreição, em que o eixo central era constituído pela procura da manutenção de um conflito globalmente de baixa intensidade e refere números que se prendem com as baixas em combate, o custo financeiro da guerra e o papel das informações. E termina o seu estudo dizendo: “As forças militares não poderiam pôr fim à guerra. O general Spínola e todas as forças armadas portuguesas estavam cientes deste facto. Contudo, os líderes políticos de Portugal permaneceram sem visão e afastados da realidade. A verdadeira esperança para a recuperação de Portugal passava pela libertação das suas colónias a fim de resolver as dissensões internas e internacionais e abraçar a prosperidade europeia que então progredia. A posição de Portugal em África fora insustentável desde o início e o exército tinha reconhecido este facto. A liderança do exército português demonstrara presciência quer no planeamento quer na condução da guerra. Administrou habilmente a utilização das vidas e dos bens. Quando os políticos não conseguiram providenciar o necessário apoio complementar, foi o exército que interveio a 25 de Abril de 1974”.

Este estudo de John Cann é o primeiro relato completo das campanhas de África feito em língua inglesa. O autor prestou serviço no comando ibérico da NATO, em Oeiras, entre 1987 e 1992. Fez uma longa pesquisa para o seu trabalho e ouviu inúmeros testemunhos de oficiais portugueses.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8729: Notas de leitura (270): A Pele dos Séculos, por Joana Ruas (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8740: Convívios (372): Tabanca de Guilamilo, 21 de Agosto de 2011: A arte de bem receber da Margarida e do Joaquim Peixoto (ex-Fur Mil, CCAÇ 3414, Saré Bacar e Bafatá, 1971/73)


Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães > 21 de Agosto de 2011 > Não é fácil de lá chegar... O dono da casa foi-nos esperar à saída da autoestrada...

Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães > 21 de Agosto de 2011 >  Os sete magníficos; a contar da direita, António Carvalho (ou simplesmente Carvalho de Mampatá), Zé Rodrigues, Zé Manel Lopes, Zé Cancela, Joaquim Peixoto - régulo da tabanca -, Manuel Carmelita, Brito da Silva;  mais um, Luís Graça, na ponta esquerda...  

Aqui reunem-se, de vez em quando, os amigos da Guiné, diz o letreiro, bem humorado, afixado no alpendre da casa, centenária, cheia de mistério e de história, ensombrada por um irã, que repousa sobre um diospireiro (Diospyros kaki, originário da China) , e que dizem ser a alma (penada) de um frade que terá sido morto durante a guerra civil de 1828-1832...  Em suma, dizem os pergaminhos da casa (que em tempos até serviam para os caseiros fazer os porta-enxertos das vides...) que o casarão já foi convento, extinto provavelmente em 1834, como todos os outros em Portugal...
 


Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães >  21 de Agosto de 2011 >  Algumas das iguarias com que nos brindaram os donos da casa, a Margarida e o Joaquim Peixoto, professores do ensino básico, reformados, a viver habitualmente em Penafiel... O cabritinho (não confundir, com o anho ou o cordeiro a que tinham direito os senhores professores quando no activo...) e o respectivo arroz de forno (com açafrão) eram dignos de uma página de finmo recorte literário do grande gourmet que também era o Eça de Queiroz... Ou melhor, e passe a publicidade: A Margarida teve a nota máxima... Um dia ainda haveremos de editar o livro de receitas de todas as nossas tabancas... E o cabrito de Guilamilo, à moda da professora Margarida Peixoto, deverá lá figurar como uma das nossas maravilhas gastronómicas...
 

Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães >  21 de Agosto de 2011 >  Os aperitivos, cá fora, na antiga eira da quinta... Do lado esquerdo, O Zé Cancela (Penafiel) e  o Zé Manel Lopes (Régua); do lado direito, duas das esposas, a do Zé Cancela e a do António Carvalho (Gondomar)...  (As duas são Luísas, se não me engano... Não fixei todos os nomes, lapso de que peço mil perdões.)

Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães > 21 de Agosto de 2011 >  Em primeiro plano, a esposa do Brito da Silva (cuja entrada, na Tabanca Grande, se aguarda...) e a Alice, da Tabanca de Candoz...  O Brito da Silva, natural de Baião (e, portanto, vizinho da Tabanca de Candoz) vive, por sinal, na Madalena, Vila Nova de Gaia, onde eu (e a Alcie) costumo ir com frequência...
 

Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães > 21 de Agosto de 2011 >  O Joaquim Peixoto - régulo da tabanca - exibindo uma surpreendente oferta do Manuel Carmelita à Tabanca Grande, representada por mim, um relógio de parede com o logótipo da solidária e alegre Tabanca de Matosinhos... 

O Manuel Carmelita, que é um verdadeiro artista, casado com a Joaquina Carmelita, vive em Vila do Conde, ofereceu igual prenda ao Pepito, director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, a passar férias em Portugal (e réguo da Tabanca de São Martinho do Porto),  aquando da sua  visita (muito comentada) à Tabanca Pequena, no passado dia 17 de Agosto...

O Joaquim estava superfeliz, por  uma série de razões: (i) acabava de se reformar; (ii) tinha conseguido, em finais de Julho, realizar o 1º encontro da sua companhia, a CCAÇ 3414 (Sare Bacar, 1971/73), "graças ao teu/nosso blogue"; (iii) trazia a Guilamilo alguns dos seus amigos e camaradas da Tabanca de Matosinhos, mais chegados, incluindo o Brito da Silva (ex-Fur Mil Mec da sua companhia); (iv) tivera a agradável surpresa da vinda dos já velhos amigos Luís Graça e Alice Carneiro, da Tabanca de Candoz; (v) juntava também os seus filhos e genro... E, last but not the least, (vi) através do nosso blogue, um ilustre parente desconhecido contactou-o, por mail e depois por telefone, dando-lhe conhecimento dos desenvolvimentos da árvore genealógica dos Peixoto e da história de Guilamilo...


Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães > 21 de Agosto de 2011 > Os anfitriões, Margarida e Joaquim, na hora dos discursos... Antes do Old Parr ("from Scotland for The Portuguese Armed Forces with love"...) e da aguardente, amarelinha,  do frade, feita outrora na quinta... (O Joaquim fez questão de presentear cada um dos seus convidados com uma garrafa desse precioso líquido, em cuja feitura estava presente o alquimista do frade; a Margarida, por sua vez, e mais uma vez, surpreendeu-nos com os seus delicados mimos, para as senhoras, que também eram oito... No seu brilhante e bem disposto improviso, a Margarida fez questão de sublinhar o quão bem tinha feito ao seu marido o reencontr com os camaradas da Guiné.)
 


Tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães > 21 de Agosto de 2011 >  À hora refeição, em que participou também a família Peixoto (Margarida e Joaquim, mais os seus dois filhos e o genro, marido da Joana).

 A Tabanca de Guilamilo (que já foi falsamente baptizada, por mim, como Guilhomil) dá assim mais um magnífico exemplo de camarigagem e de gosto pela convivialidade, sã e fraterna,  dos camaradas da Guiné que, de norte a sul, se reúnem sob o poilão da nossa magnifica Tabanca Grande... Neste caso, os convivas (incluindo eu) têm uma dupla pertença, são também "tabanqueiros" da Tabanca de Matosinhos, e fazem jus ao slogan, "Uma, duas, três, muitas tabancas"...

O Joaquim Peixoto (bem com os seus convidados nortenhos, acima identificados) reúne-se regulamente, às 4ªas feiras, para o já sacramental e célebre almoço no restaurante  Milho Rei  (A chamada Tabanca Pequena, que tem também uma página no Facebook, é descrita como um "espaço feito para e por ex-combatentes da Guerra do Ultramar na Guiné e que se juntam semanalmente em Matosinhos para perpetuarem uma amizade iniciada na sua juventude em África em tempos de Guerra").


Fotos (e legendas): © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados 

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8739: O Nosso Livro de Visitas (116): Ex-Alf Mil Orlando Silva, CCAÇ 3325 (Os Cobras), Guileje e Nhacra, 1971/72

1. Comentários deixados por um nosso camarada que se identifica como Orlando Silva - Ex-Alferes Cobra, Aveiro, no Poste Poste 5637:

i) - Ao falar de Guileje e do Ultramar Português, vou passar a contar algumas passagens, que suponho farão para uns recordar e para outros sorrir:

Quando da nossa chegada a Guileje (Fevereiro de 1971) para rendição da C.Caç. 2617 que se iria deslocar para Quinhamel, vindos de Gadamael-Porto, e depois dos outros dois Grupos de Combate terem sido recebidos no dia anterior a "foguetão", foi a nossa vez (os outros dois Grupos).

Como não havia camas para todos, calhou-me a fava e tive que pernoitar no Gabinete do Médico (Dr. Acácio Bacelar) que se encontrava, suponho, de férias. Naquela noite, estava eu confortavelmente em cuecas, quando "elas" começaram a cair.

Como eu só me encontrava em segurança dentro de uma Caserna-Abrigo (à prova de 120 perfurante), resolvi de imediato calçar os mini-chinelos, agarrar na cartucheira e na minha companheira G3. Como o meu Grupo (2.º) estava na Caserna-Abrigo mais próxima (à entrada do Aquartelamento do lado de Gadamael), sei que atravessei a voar a distância entre o Gabinete Médico e o Abrigo. Não me lembro se pus os pés no chão ou não. Sei que me senti bem quando entrei naquele Abrigo, e que não me tinha sujado em lado nenhum. Homem feliz!

Mais tarde, no Bar de Oficiais, os sacanas do Capitão Parracho, e dos Alferes Cristina, Cunha, Rodrigues, Almeida e até o valentão do Acácio, fartaram-se de rir com a minha estafeta. Também eu me ri, mas só depois. Nunca fui herói, por isso naquele momento de perigo foi o que consegui fazer, e felizmente não me saí mal. Felizmente também, não acertaram dentro do Quartel, e como o Cristina (Alferes de Artilharia) começou logo a retaliar com os obuses 11,4, a valentia do IN acabou.

Por hoje é tudo. Um abraço.
Orlando-Ex-Alferes Cobra
Aveiro


ii) - Para falarmos de Guileje, convinha primeiro dar a conhecer a sua Zona de Acção:

O Subsector de Guileje tinha a área aproximada de 185 km2 tendo por limite, a Este a República da Guiné, a Oeste a AICC da região de Salancaur, a Norte o Sector de Aldeia Formosa e a AICC do Corredor de Guileje e a C.Caç. 2796.

A ZA tinha sensivelmente a configuração de um rectângulo com a extensão máxima no sentido E-W.
Dos itinerários do Sector, o único que era utilizável para viaturas era a Picada que saía de Guileje para Gadamael.

O único centro populacional que se encontrava na nossa ZA era Guileje, que tinha cerca de 300 habitantes, que viviam dentro dos limites do Aquartelamento.

Na n/ ZA. havia vários rios que no nosso início de comissão estavam secos com excepção de pequenos cursos de água, como o Rio de Áfia e o Rio Mejo que, apesar de tudo, atravessávamos facilmente, e um braço do Rio Cacondo que tinha bastante água mas que se atravessava também embora com muita dificuldade.

Toda a ZA. da C.Caç.3325 tinha uma mata relativamente aberta, excepto a parte compreendida entre a Estrada Guileje-Mejo e o limite Norte em que a mata era bastante fechada.

Era uma zona rica em caça, especialmente porco do mato, gazelas, galinha do mato, cabras do mato, aparecendo com certa frequência elefantes no limite com a República da Guiné.

Os produtos agrícolas eram especialmente a mancarra, batata doce e o arroz, que não chegava no entanto para satisfazer as necessidades da população.

Para ser possível efectuar este relatório, foi preciso percorrermos toda a ZA. Muito trabalho!. Nunca esperámos que o IN viesse ao nosso encontro, antes procurámos qualquer trilho que aparecesse, e por isso muitas vezes lhes aparecemos por trás onde nunca contavam que a tropa portuguesa ousasse sequer entrar. Arriscámos? É verdade, mas só devido a essa nossa insistência foi possível evitar que o IN nos incomodasse muito.

Mais tarde, já na época das chuvas, tentaram finalmente inverter a situação, enviando para a nossa ZA.

Sapadores Cubanos, que montaram vários campos de minas. Mas, os azares que daí surgiram só nos vieram dar mais força: como retaliação, fomos também montar campos de minas nos seus itinerários, incluindo no Corredor de Guileje/da Morte, donde resultaram muitos danos para o IN.

Hoje fico por aqui, meus amigos.
Um abraço.
Orlando Silva-Ex-Alferes Cobra
Aveiro


2. Comentário de CV:
Caro camarada Orlando, muito obrigado por deixares os teus comentários no Poste 5637, mas gostaríamos mais que te juntasses à nossa tertúlia e colaborasses regularmente no nosso Blogue, não só comentando, mas enviando as tuas histórias e fotografias.

Pertenceste à CCAÇ 3325, Os Cobras, formado no BII 19 do Funchal, de onde terás partido em Janeiro de 1971 para a Guiné, e que esteve cerca de um ano no Guileje.
Gostaríamos de conhecer as tuas memórias desses tempos passados nessa zona quase mítica, onde as NT passaram muitos maus bocados.

Para te juntares a nós, envia-nos uma foto do teu tempo de Guiné e outra actual, de preferência tipo passe, em formato JPEG, fala-nos da tua Unidade pois o nosso Blogue não tem praticamente nenhuma referência a ela, fala-nos de ti, tudo isto numa pequena apresentação para te ficarmos a conhecer um pouco.

Esperando o teu próximo contacto, deixo-te um abraço.
Utiliza o endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com ou os dos co-editores.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8672: O Nosso Livro de Visitas (115): António Agreira (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 4544, Cafal Balanta, 1973/74)

Guiné 63/74 - P8738: In Memoriam (90): Fernando de Sousa Henriques (1949-2011), foi Alf Mil Op Esp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74), faleceu ontem, dia 4 de Setembro de 2011







1. Ainda não estamos recompostos do impacto da notícia do falecimento da nossa Camarada Enfª Pára 
Piedade Gouveia e tomamos conhecimento pelo nosso Camarada José Pinho, hoje, pelas 13h19, através de um comentário escrito no poste P8024, onde se apresentou na Tabanca Grande o Fernando de Sousa Henriques, da sua surpreendente e repentina morte:

“O Fernando faleceu ontem, 4 de Setembro 2011, quando fazia aquilo de que muito gostava: caça submarina. Fica a memória de um grande amigo e companheiro. Até Sempre, Fernando.”

Ficou mais pobre a CCAÇ 3545 e o BCAÇ 3883, ficamos mais sós no blogue e o mundo perdeu um homem bom, sempre bem disposto e um excelente Amigo dos seus Amigos.



Recorda-se que o nosso Camarada Fernando de Sousa Henriques, foi Alf Mil OpEsp / RANGER na CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74), nasceu em Estarreja (Aveiro) em 1949, tinha-se formado na cidade Porto em Química e, posteriormente, em Electrotecnia.

Como Alferes do CIOE e adjunto do Comandante de Companhia, partiu, em Março de 1972, rumo à Guiné, de onde regressou em Julho de 1974.

Foi Professor, tendo passado por Empresas como a Mobil Oil Portuguesa e os CTT, até se fixar, como Assessor, na Administração Portuária, em Ponta Delgada, São Miguel, RAA. Mantinha a sua actividade de Engenheiro.




2. O Henriques deixou 4 Obras Publicadas:

- Picadas e caminhos da vida na Guiné

- Um Icebergue chamado 25 de Abril

- No Ocaso da Guerra do Ultramar

- Nandinho - Os primeiros 6 anos dos últimos 60… (Conto infantil)


3. Em nome do Luís Graça, Editores e demais Camaradas da nossa tertúlia da Tabanca Grande, apresentamos à querida Esposa do Fernando Henriques, filhos e restante família enlutada, e porque outras palavras nos faltam, as nossas melhores e mais sentidas condolências.

4. NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA: O corpo do Fernando Henriques, encontrar-se-á na próxima quarta-feira, dia 7, a partir das 08h30 em câmara ardente na nova Casa Mortuária do Cemitério de São Joaquim (contígua ao Crematório). A missa realizar-se-á às 13h30, finda a qual se procederá ao funeral.
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Notas de M.R.:

Vd. Também sobre a literatura do Fernando os seguintes postes:

10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques. (Helder Sousa)

28 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3809: Os últimos dias do destacamento de Copá, Janeiro/Fevereiro de 1974 (Helder Sousa / Fernando de Sousa Henriques)

11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3871: Em busca de... (65): Pessoal de Copá, 1ª Companhia do BCAV 8323/73 (Helder Sousa)

1 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8496: Notas de leitura (252): Picadas e Caminhos da Vida na Guiné, de Fernando de Sousa Henriques (Mário Beja Santos)


Vd. último poste desta série em:

4 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8733: In Memoriam (89): A Enfermeira Pára-quedista Piedade Gouveia faleceu hoje, dia 4 de Setembro de 2011


Guiné 63/74 - P8737: Agenda Cultural (148): Lançamento do livro A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial, de Ana Bela Vinagre, dia 10 de Setembro de 2011, em Leiria

LANÇAMENTO DO LIVRO "A MULHER NAS MALHAS DA GUERRA COLONIAL", DE ANA BELA VINAGRE, DIA 10 DE SETEMBRO DE 2011, ÀS 18 HORAS NA LIVRARIA ARQUIVO, EM LEIRIA



EXCERTO DO TEXTO:
«Quando o conflito armado eclodiu e à medida que os meses se sucediam, crescia nas mães que tinham filhos pequenos, a esperança de que, chegada a hora de os verem envergar a farda para cumprir o servi ço militar, a guerra já tivesse terminado
Quantas se enganaram!...
Nos bastidores duma guerra colonial sem fim à vista, ficavam mães, esposas, namoradas, irmãs, que depois de um doloroso adeus, a que o Tejo já se habituara, à vista de imensos lenços brancos de despedida, na metrópole lutavam, diariamente, contra uma saudade imensurável e o medo do espectro da morte, que a qualquer momento lhes poderia bater à porta. Em silêncio, engoliam as próprias lágri mas, calavam a revolta, escondiam a sua indignação. O sofrimento era atroz.
As namoradas e esposas, povoadas de projectos e de sonhos, vi ram-se traídas e defraudadas na sua juventude, esperando o fim de um pesadelo, que a cada dia, parecia mais distante.»


Ana Bela da Silva Vinagre nasceu no Bombarral a 16 de Maio de 1954, residente em Leiria. Licenciada em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, possui o Curso de Especialização em Ciências Documentais – Arquivo. Directora do Arquivo Distrital de Leiria, em regime de substituição, teve a seu cargo a organização dos seus fundos documentais.
Trabalhos e publicações: Registos Paroquiais do Concelho de Bombarral – Sua análise arquivológica. Leiria, 1991; Manuscritos de Capas de Pergaminho de Livros Paroquiais e Notariais do séc. XII a XIX- Inventário Preliminar. Leiria, 1989, publicado no II vol. De Actas do II Colóquio sobre História de Leiria e a sua Região. Leiria, Câmara Municipal de Leiria, 1995; Guia de Fundos do Arquivo Distrital de Leiria – colaboração técnica. Leiria Arquivo Distrital de Leiria, 1997, Tito Larcher: A Luta do Filantropo Austero e Erudito, co-autora. Leiria, Arquivo Distrital de Leiria, 1997; Relatório Preliminar sobre o Cartório Notarial de Antão de Sá Sotomaior. Batalha 1741-1747 publicado no II vol. De Actas do III Colóquio sobre História de Leiria e a sua Região. Leiria, Câmara Municipal de Leiria, 1999; Dicionário dos Autores do Distrito de Leiria – co-cordenadora. Leiria, Magno Editora, 2004; A Casa do Distrito de Leiria (em Lisboa) publicado nas Actas do IV Colóquio sobre História e a sua Região – História Contemporânea. Leiria, Câmara Municipal de Leiria, 2005; Lar do Soldado Açoriano em Leiria (1970-1975). Açores, Ponta Delgada, Publiçor, 2006; A Casa do Distrito de Leiria em Lisboa. Leiria, Folheto Edições & Design, 2008; A Cruzada das Mulheres Portuguesas de Leiria. Leiria, Folheto Edições & Design, 2008.

|Entrada Livre|
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8613: Agenda Cultural (147): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (Carlos Cordeiro) (5): Apontamento e fotos do dia 22 de Julho de 2011

Guiné 63/74 - P8736: Convívios (371): 8.º Encontro do pessoal da CCAÇ 4540/72, dia 17 de Setembro de 2011 no Marco de Canaveses (Vasco Ferreira)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Ferreira, ex-Alf Mil da CCÇ 4540, Cadique e Nhacra, 1972/74:



Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8722: Convívios (364): Encontro da CART 2412, ocorrido no passado dia 14 de Maio de 2011 em Castelo Branco (Jorge Teixeira)