
1. Em mensagem do dia 29 de Setembro de 2011, a nossa amiga e tertuliana Felismina Costa *, enviou-nos umas notas de leitura sobre o livro de Ana Bela Vinagre, "A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial" que acabou de ler recentemente:
A Mulher nas Malhas da Guerra Colonial
Por Felismina Costa


A autora, faz notar as condições económicas e sociais do País, a aceitação forçada
de uma guerra que a maioria defendia por Patriotismo, incentivando os seus jovens a usar o seu brio Pátrio, como é descrito por vários testemunhos inclusos na própria obra.
Trata-se de um livro, que evidencia o marasmo do País e a pouca preparação cultural da maioria do povo, que era educado para aceitar a estagnação como algo natural e intransponível, valorizando apenas e tão só a mulher enquanto esposa e mãe, à margem do desenvolvimento e do avanço cultural, como ser limitativo. A mulher esposa, a mulher mãe, governada pelo “dono”, capaz apenas de procriar e cuidar do lar, submissa por imposição sem poder de decisão nos destinos do País, que ela, como procriadora, gostaria de ver próspero e culto. Limitada pela imposição, atreve-se a expressar-se e a manifestar-se, aos poucos, decidida a impor as suas ideias e defender os seus direitos, como ser de pleno direito nos destinos do seu País e da sua própria evolução.
Por outro lado, mostra-nos a coragem que as mulheres das décadas de 60/70 dão aos seus jovens em guerra, no apoio moral, nas palavras plenamente sentidas e muitas vezes menos bem expressas, por insuficiente cultura, mas plenas de intenção de ajudar a ultrapassar um tempo de grande preocupação e sofrimento.
A obra é uma retrospectiva das mentalidades e governação da época a que poucos tinham coragem para se oporem.
Revejo-me em toda a sua descrição, revivendo ideias e factos que reafirmo peremptoriamente, porque assim vivi o tempo descrito: exactamente assim!
Ana Bela Vinagre, apresenta-nos testemunhos de mulheres, que, numa entrega enorme tentaram ajudar os filhos de quem estavam longe, oferecendo o seu tempo e a sua hospitalidade, promovendo a sua integração e bem-estar. Testemunhos de mulheres jovens, que, mercê da sua imponderabilidade e da sua vontade, foram capazes de acompanhar os seus homens, durante as suas comissões em teatro de guerra, mulheres que acompanharam e ajudaram a ultrapassar os dias negros dos seus doentes e mutilados, de mulheres que perderam os seus familiares e que ainda hoje os recordam com dor imensa, e de mulheres enfermeiras, que arrojadamente provaram, que a coragem não é a penas apanágio dos homens e, que, como noutras situações da vida, souberam estar à altura das circunstâncias.
Refere igualmente as Senhoras do MNF, no apoio manifesto e intencional de ajudar a vários níveis, o que devia ter sido feito pelo Estado Português.
Refere o sofrimento de todos ligados directa ou indirectamente ao conflito: os familiares, predominantemente, mães, mulheres e namoradas, e a sua importância no moral dos homens em TO.
Creio que este trabalho é uma ajuda preciosa para a construção da história do nosso País, num período conturbado, como foi o da Guerra Colonial e, em que as mulheres, na retaguarda, o tentaram tornar menos penoso.
Felismina Costa
Agualva, 29 de Setembro de 2011
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8817: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (33): Um dia de Verão na Serra de Sintra (Felismina Costa)
Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8840: Notas de leitura (279): Os Anos da Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (Mário Beja Santos)