Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > Natal de 1970 > O presépio construído pelo Alf Mil Capeleão, Arsénio Puim... Na foto, o Fuir Mil At Inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12 (1969/71), junto ao presépio e na capela da missão católica de Bambadinca.
Amigo Luís Graça
Volto hoje a mandar um pequeno trabalho para o blogue, evocando, a propósito, o Natal que passámos em Bambadinca em 1970.
Para ti um abraço, com os meus melhores votos de Natal e de Ano Novo, extensivos à tua família.
Arsénio Puim
2. Recordando os meus Natais na tropa, e em especial o de 1970, em Bambadinca
De todos os Natais que, na minha já longa vida, passei, em localidades e situações muito variadas, não foram menos marcantes e significativos os dois Natais que vivi na Tropa, como alferes capelão.
O primeiro, a que já me referi num texto que escrevi neste blogue há uns três anos, foi vivido no Regimento de Artilharia Pesada 2, na Serra do Pilar, em Gaia.
por Arsénio Puim
De todos os Natais que, na minha já longa vida, passei, em localidades e situações muito variadas, não foram menos marcantes e significativos os dois Natais que vivi na Tropa, como alferes capelão.
O primeiro, a que já me referi num texto que escrevi neste blogue há uns três anos, foi vivido no Regimento de Artilharia Pesada 2, na Serra do Pilar, em Gaia.
Terminado o Curso de Capelães Militares, em Lisboa, eu chegara há um mês àquela Unidade, onde estava a ser mobilizado o Bart 2917, que integrei desde então. Era o ano de 1969.
Uma impressão forte que guardo deste Natal, o primeiro que passei fora das ilhas dos Açores, é a ausência e o vazio causados pelo despovoamento do Quartel em razão da partida da quase totalidade dos militares – penso eu, umas boas centenas – para as suas terras naquela noite. Só ficou atrás um reduzido número de soldados – talvez menos que uma dúzia - necessário para a guarda e o funcionamento mínimo do Quartel.
A consoada foi a grande celebração dessa noite, que aquele «resto» do Regimento do Pilar protagonizou, no Bar dos Oficiais, com todas as praxes e circunstância, discursos e saudações, farturas e magia próprios da noite natalícia. O serão, pela noite dentro, caracterizou-se por boa comida e bebida, muita cordialidade, conversação calma e evocativa e um clima de emoção e saudade, que o horizonte, já próximo, da partida para a Guiné naturalmente aguçava.
O outro Natal foi na Guiné, em Bambadinca, onde havíamos chegado no dia 31 de Maio de 1970.
Aqui, houve Missa do Galo, na capela da Missão, situada na área do Quartel, muito desejada pelos militares e bastante concorrida por estes assim como pelas crianças e civis nativos.
Fizemos um bonito presépio a céu aberto, na parada, com a colaboração do cabo sacristão, Mário Baptista [, ou 1º Cabo Serviço Religioso Mário Augusto Teixeira Alves, de seu nome completo] , e outros soldados, que foi apreciado pelos militares e alguma população nativa.
A gruta do Menino era em forma de tabanca, feita de capim e ramos, albergando as figuras tradicionais do presépio, de boas proporções, tudo inserido num cenário natural de selva africana e dispondo de iluminação coada e música de fundo. Faltou talvez, neste presépio, a integração de algumas figuras de raça negra - para além do Rei Mago Belchior, que até não sei se estava lá presente - para lhe dar um ainda maior enquadramento no meio e um sentido mais universalista.
Organizámos ainda, nesta quadra, um jornal de parede ou de caserna, com colaboração muito inspirada e espirituosa, e promovemos uma festa de Natal, com variedades e um conjunto musical, a qual teve muito brilho e nível. Num mundo de várias centenas de militares, de formação, graduação e origem diferentes, como era o caso das Companhias de Bambadinca, encontram-se sempre elementos com notáveis dotes e capacidades em diversas áreas.
E não faltou também o almoço de confraternização, para todos os militares estacionados na CCS, em ambiente familiar e natalício.
E não faltou também o almoço de confraternização, para todos os militares estacionados na CCS, em ambiente familiar e natalício.
Na ocasião, o comandante do Batalhão [, ten cor art Domingues Magalhães Filipe, já falecido, ] leu uma mensagem do Comandante Chefe e Governador da Guiné, general Spínola. Exprimia, em bom estilo, ideias cristãs de paz, amor e afastamento dos ódios neste dia de Natal, um ideal que, por certo, não pode ser visto a prazo nem pairar acima das guerras que os homens fazem.
Foi assim que, no pequeno e vistoso planalto de Bambadinca - situado no centro da Guiné, tendo o grande Geba a passar por perto e os arrozais, as tabancas e abundantes espaços florestados em redor – foi celebrado em 1970 o Natal de Jesus, num clima, por sinal, isento de acções bélicas, onde não faltou a festa, a magia e também aquela saudade que a quadra natalícia sempre proporciona, com maior razão, entre os soldados destacados em zonas de guerra.
Aproveito a oportunidade para saudar todos aqueles com quem passei estes dois Natais, e todos os companheiros do Batalhão 2917, com os meus sinceros e cordiais votos de Bom Natal e Bom Ano Novo.
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Foi assim que, no pequeno e vistoso planalto de Bambadinca - situado no centro da Guiné, tendo o grande Geba a passar por perto e os arrozais, as tabancas e abundantes espaços florestados em redor – foi celebrado em 1970 o Natal de Jesus, num clima, por sinal, isento de acções bélicas, onde não faltou a festa, a magia e também aquela saudade que a quadra natalícia sempre proporciona, com maior razão, entre os soldados destacados em zonas de guerra.
Aproveito a oportunidade para saudar todos aqueles com quem passei estes dois Natais, e todos os companheiros do Batalhão 2917, com os meus sinceros e cordiais votos de Bom Natal e Bom Ano Novo.
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Nota do editor
Último poste da série > 20 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6193: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69 / Mai 71) (9): Os padres missionários italianos de Bafatá
Último poste da série > 20 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6193: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69 / Mai 71) (9): Os padres missionários italianos de Bafatá