quarta-feira, 16 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9910: Cartas do meu avô (4): Segunda Carta: Em Catió (Parte III) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

Foto à direita: Alemanha, Berlim > Páscoa, 2012 > O J.L. Mendes Gomes com os netos.

Foto: © J. L. Mendes Gomes (2012). Todos os direitos reservados.

1. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigoJoaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66, vivendo presentemente em Berlim.

SEGUNDA CARTA – EM CATIÓ (PARTE III) (*)

Lichtenrade, Berlim, 14 de Março de 2012


5- Inesperada evocação esquecida




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 6 > Porta de Armas  e  ao fundo o edifício da cozinha das praças.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 31  >  Cerimónia militar em Fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART  1689,  da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967.  Com a presença das entidades civis e população. Vista parcial do quartel com as tropas em parada


Fotos (e legendas): Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados

   
Tornaram-se prática generalizada, sobretudo nos últimos anos, os encontros anuais de convívio fraterno dos ex-combatentes, por esse país fora. Uma prática cada vez mais frequente que se afigura, desde logo, muito sadia e consoladora.

O reverem-se em cada encontro e as recordações cruzadas que se trocam, sobre tudo o que se passou, lá atrás, naqueles tempos conturbados, sobretudo durante o almoço, o apresentar dos novos familiares de cada, esposas, filhos e netos, propiciam sublimes alegrias que, para a esmagadora maioria, têm mesmo de repetir-se. Tornou-se uma obrigação e uma necessidade.

Eu fui e sou excepção. Apresentei as minhas razões e desculpas, mas só apareci uma vez. Foi no ano em que o promotor era o comandante da companhia. Nas instalações do Regimento de Évora. Para revisitar o quartel onde tudo começou, e se preparou a companhia e donde partíramos para a Guiné.

As razões eram e são estritamente do meu foro pessoal. Há feitios e feitios…Sentia e sinto uma natural resistência a voltar aos sítios onde fui infeliz, onde sofri. Não tem para mim, o efeito reparador e consolador que a maioria sente. Prefiro manter tudo em suspenso, bem guardado dentro de mim e só lá vou quando é preciso. Foi uma vivência que passou.

Estávamos todos no mesmo barco. A jogar o mesmo jogo. Em equipa que o destino reuniu. É preferível deixá-la onde está. Não a inquinar com novos desafios. Aquele acabou, cada um foi à sua vida.

Esta é a base onde assento a minha atitude. Discutível ou censurável. Mas é assim que sinto. Não me arrisco a agravar feridas que nunca sararam. E foi o que aconteceu, nesse encontro de Évora.

Apareci sozinho. A concentração deu-se no largo à frente do quartel. Abeirei-me dos imediatamente reconhecidos: o Gonçalves e o Arlindo. Uma grande festa. O que era de esperar e me agradou. A rapaziada já era muita, em alegre cavaqueira. Penso que não reconheci ninguém, assim como vi e senti que me olhavam de olhar inquiridor:
- Quem é aquele gorducho de barbas brancas ?- confessaram-no depois, durante o almoço.

Eu estava mais gordo e tinha alargado em todas as direcções. Excepto na altura. Não havia nem há grandes semelhanças com o que então era. Mas isso era a regra geral Só que, as duas dezenas de anos decorridos, sem qualquer contacto, deu para que tudo se modificasse e ficássemos irreconhecíveis.

Entretanto chegou o capitão acompanhado da esposa. A mesma festa recíproca. Sempre tive muita admiração e amizade por aquele superior. Sereno e vertical. Seguiram-se umas palavras vibrantes dele para connosco, de exaltação pelo que fomos e de lamentação pelo abandono e ignorância geral da pátria, sobretudo da gente da política, que entretanto se seguiram, relativamente aos ex-combatentes. - “ A pátria que nos mandou para a guerra, não foi nem é a mesma que nos acolheu…”

Seguiu-se um passeio pelo interior. Guiado pel o comandante da altura, do quartel. A revolução estranha, interior, que se desencadeou dentro de mim, de forma incontrolável, confirmava-me a razão de nunca ter aparecido. Foi uma lufada de de memórias em ccortejo que me fizeram reviver, sobretudo, as horas más do passado.

Pensei mesmo em apresentar minhas desculpas, retirar-me e não ir ao almoço. Mas o Gonçalves convenceu-me a ficar.
- O pessoal pergunta sempre e gosta de ti. – dizia-me ele sinceramente.

Durante o almoço, num monte alentejano, dos arredores, já se tinha desanuviado mais estas nuvens carregadas que me toldavam. Alguns dos meus soldados e sargentos manifestaram o gosto de me ver. Vieram falar-me.

No final dá-se o inesperado. Começa aquele esperado número- soube-o depois- o da leitura de quadras pelos mais habilidosos, trazidos já de casa, como já era habitual. A dada altura, pareceu de propósito. Sou eu que entro na berlinda.

O ex-cabo de transmissões, de que me lembrava muito bem, e por quem não sentia grande simpatia, diga-se- e, ele por mim…, começa a desbobinar em versos de pé-quebrado a descrição dum episódio, passado em Catió, numa manhã, em que eu era o oficial de dia.

Confesso que me sentia ainda mais atónito à medida em que ele avançava. Sinceramente, não me lembrava nada de ter feito o que ele, jocosamente, desenvolveu…acompanhado da hilaridade geral e olhar de soslaio da assembleia para ver como eu reagia. 

Penso que a sinceridade da surpresa que manifestei sentir terá dado para os convencer… Então que é que tinha acontecido?

Eu sempre fui exigente com todo o pessoal. Em todas as situações. Desde Évora até ao regresso da Guiné. Sempre impus respeito e disciplina, cá e lá. Era incapaz de desapertar as amarras e deixar passar toda a bicharada. Tratamentos por tu, com os meus sargentos, muito menos os soldados, nem pensar. Era contra essa prática. Visceralmente.

Então aconteceu, naquela manhã em que iria deixar de ser oficial de dia, tocou a corneta para o pequeno almoço, na forma habitual. Passou-se um pedaço de tempo exagerado para a comparência deles. Apenas uns gatos pingados desalinhados e de olhos mais fechados de sono que abertos. Pegaram no seu caneco de café com leite e no pedaço de casqueiro e retiraram-se. Ninguém aparecia.

Eu estava ali ao pé da cozinha.
- Ai é?!...
- Ó nosso cabo, faça o favor de despejar esse caldeiro de café com leite pelo esgoto abaixo.

O cabo olhou-me arregalado, hesitante, sem saber o que fazer.
- Faça o favor.

E aí foi tudo para o lixo… 
Retirei-me danado. Fiz bem?...Fiz mal?... Ainda hoje, continua a parecer-me discutível. O certo foi que, não perguntem como, esqueci completamente este episódio que me perturbou. E a eles também…

Varreu-se-me da memória… até àquele momento. Voltei a sentir o mesmo. Relembrei tudo. Fora verdade. Não sorri muito como esperariam, certamente.

O certo foi que nunca mais apareci a qualquer convívio.

Guiné 63/74 - P9909: Tabanca Grande (339): João Caramba, ex-1º cabo trms, Pel Rec, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, alentejano de Beja, nosso grã-tabanqueiro nº 558

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano João Caramba (ex-1.º Cabo TRMS do PEL REC/CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 12 de Maio de 2012:

Olá amigos.
Espero ter a honra de pertencer ao grupo.
Se alguma coisa não estiver correta agradeço a vossa correção.

Um abraço
João Caramba


Uma história recordando a Guiné

Decorria o ano de 1973.

Quando soube que tinha chegado um novo batalhão à zona e que nessa unidade vinham alguns patrícios meus conhecidos, resolvi ir-lhes fazer uma visita. Logo que consegui uma oportunidade fui até lá.

Ao chegar ao destacamento começa a história que vos vou contar, a qual, poderia chamar-lhe trágico-cómica.

À porta de armas, todas as viaturas eram identificadas, registando-lhes a matrícula e a unidade onde pertenciam, só depois era levantada a cancela. Qual não foi o meu espanto quando verifiquei que o soldado de serviço, que eu conhecia bem, era analfabeto, não podendo ler nem registar coisa alguma e, mais grave ainda, era que estava com uma G3 em bandoleira,  coisa que não seria possível em situação normal pois era básico e não estava autorizado a manusear qualquer tipo de arma.

A coluna parou junto à cantina, onde eu me desloquei imediatamente, para falar com o cantineiro, que também era da nossa terra,  e contar-lhe o que se estava a passar.

Ficou tão admirado como eu, indo logo de seguida avisar o Oficial de Dia, pois foi o próprio que lá o tinha colocado, entregando-lhe a sua própria arma. Ao ter conhecimento do que se estava a passar o Sr. Alferes saiu do gabinete de braços por cima da cabeça,  esbracejando e ameaçando que lhe dava uma porrada e que o metia na cadeia e outros mimos mais que nem os bichos gostam.

Quando o soldado se apercebe do que se está a passar sai do posto, de arma em punho, puxa a culatra atrás, mete a bala na câmara e mandou-o parar,  ameaçando fazer-lhe um buraco. Claro está que o Sr. parou de imediato,  tremendo, sem saber o que fazer.

Nesse momento, alguém me fez lembrar que esse rapaz me tinha algum respeito, portanto eu tinha que intervir e assim fiz, com muita calma pedi-lhe que me entregasse a arma e, muito devagar, com a arma apontada para o meu lado, veio entregá-la e ao mesmo tempo cumprimentar-me como se nada se tivesse passado.

Só depois da bala fora da arma é que o Sr. Oficial se aproximou para continuar com alguns insultos. Foi difícil fazê-lo compreender que ali só podia haver um culpado e era ele próprio. Então com muito tempo e paciência lá fui conseguindo dar-lhe a volta de maneira que esta história ficasse por aqui sem vinganças nem castigos e acho que consegui.

Termina assim esta história, que podia ter sido uma tragédia, mas acabou em mais um dos muitos acontecimentos da Guiné, que ficaram nas nossas lembranças.

João Caramba



Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 21 de abril de 2012 > Foto de Rui Silva, mostrando em primeiro plano, da esquerda para a direita, o nosso editor Luís Graça e dois alentejanos dos quatro costados, o João Caramba, nosso novo grã-tabanqueiro, e o Belarminho Sadinha. Em segundo plano, à esquerda, outro ilustre grã-tabanqueiro de longa data, o Juvenal Amado. O Juvenal e o João pertenceram à  mesma unidade, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, e são bons amigos.


2. Comentário de CV:

Caro João, bem-vindo à tertúlia. Sabemos que entraste pela mão do nosso camarigo de longa data Juvenal Amado, que se bem me lembro já havia falado de ti em pelo menos um dos seus textos.

Tivemos o prazer da tua companhia, e de tua esposa, no nosso VII Encontro deste ano, em Monte Real, pelo que já és conhecido por muitos de nós.

Já sabes que um dos deveres dos camaradas inscritos na tertúlia é,  dentro da sua disponibilidade,  ir alimentando o Blogue com as suas recordações e fotos. Tens o teu amigo Juvenal como inspirador.

Ao terminar deixo-te um abraço em nome da tertúlia. Passas a ser o tabanqueiro nº 558.

O camarada e amigo
Carlos
_____

Nota de CV:

Último poste da série > 15 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9903: Tabanca Grande (338): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74)

Guiné 63/74 – P9908: Convívios (435): Almoço de homenagem aos ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, a realizar no próximo dia 10 de Junho em Fão, promovido pela Junta de Freguesia local

1. Mensagem do Presidente da Junta de Freguesia de Fão, senhor Luís Peixoto, com data de 12 de Maio de 2012, a propósito da homenagem que aquela localidade do Concelho de Esposende vai promover no próximo dia 10 de Junho aos ex-combatentes da Guerra do Ultramar:

Caros Srs boa tarde,
Permitam-nos que divulguemos a homenagem aos combatentes da Guerra do Ultramar que a Junta de Fão promove desde de 2010.

Venham a Fão nesse dia. Trata-se de um cerimonia em que vocês são os heróis. 

Inscrevam-se para o almoço que é servido em ambiente comunitário e onde as sobremesas ficam a cargo das esposas dos heróis. Certamente que alguns de vocês já participaram nas anteriores duas edições. 

Deixo o programa cuja divulgação agradecemos:


“A Junta de Freguesia de Fão promove mais uma vez, no dia 10 de Junho, Homenagem aos Ex-Combatentes da Guerra no Ultramar. 

O programa é composto por uma missa, de Homenagem e Honra aos já falecidos, no Mosteiro de S. Bom Jesus pelas 11h00m, presidida pela Sr Padre Gaio, ultimo Capelão do Exército Português em terras Ultramarinas. 

Segue-se uma romagem ao cemitério paroquial para relembrar os bravos já desaparecidos. 

O convívio prosseguirá no edifício da Junta, no Largo das Rodas, com um Grande Almoço de Confraternização. 

Serão reconhecidos os que neste ano de 2012 fazem 50 anos de incorporação militar. 

A fotografia de grupo será o ultimo acto oficial desta cerimónia que o ano passado contou com centena e meia de participantes. 

Estão já abertas as inscrições na sede de Junta de Freguesia para participação nesta homenagem, bem merecida, a todos os que lutaram no Ultramar.” 

Cumprimentos
Luís Peixoto
Presidente de Junta
Tlm: 961 754 783
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9899: Convívios (252): Almoço comemorativo do 40.º aniversário do regresso do BCAV 2922, dia 16 de Junho de 2012 no RC 3 em Estremoz (Francisco Palma)

Guiné 63/74 - P9907: Parabéns a você (420): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CMDT da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)

Para aceder aos postes do nosso Comandante Vasco da Gama, clicar aqui
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9902: Parabéns a você (419): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9906: FAP (68): O Óscar e os meus relógios (Miguel Pessoa)





1. Texto e fotos publicados pelo nosso camarada Miguel Pessoa* (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado) na Tabanca do Centro, aqui reproduzidos com a autorização do autor e a devida vénia ao camarada Mexia Alves.






O ÓSCAR E OS MEUS RELÓGIOS

Logo num dos primeiros encontros organizados pela Tabanca do Centro – estamos portanto a reportar-nos aos primeiros meses de 2010 – dirigia-me eu para o local de reunião no Café Central quando dei de caras com um velho conhecido meu, o Óscar. Reconhecemo-nos – eu mais facilmente a ele do que ele a mim… - e trocámos os cumprimentos efusivos de quem não se via há já um par de anos. Bom, não propriamente um par de anos; a última vez que nos tínhamos encontrado terá sido em finais de 1987, há quase quinze anos, quando abandonei as funções que tinha no Grupo Operacional 51, da Base Aérea de Monte Real, e voltei a Lisboa.

Mas já nos tínhamos cruzado há quarenta anos, em 1971/72, sendo eu um jovem tenente colocado na BA5 para ganhar a minha qualificação nos aviões F-86 e Fiat G-91 e assim poder avançar para a minha comissão em África. O amigo Óscar era um dos funcionários que nos “tratava da saúde” na messe de oficiais da Base, pois era um dos empregados de mesa que ali trabalhava.

Sendo solteiro e longe do meu habitat aproveitava o tempo para entabular conversas mais ou menos prolongadas com o pessoal que nos apoiava, e rapidamente descobri que o Sr. Óscar (vamos só chamar-lhe Óscar, que não lhe sei o apelido e não gosto de associar o “Sr.” ao primeiro nome…), bom, o Óscar era um bom relojoeiro e tinha um razoável stock de material para fornecer ao pessoal.

Ora, já me tinham referenciado que o cronómetro do F-86 – o avião que eu ia voar – era de difícil leitura com a trepidação em voo e que seria boa ideia eu dispor de um relógio de pulso com função de cronómetro. O que eu tinha era básico – dava as horas, o que já não era mau – por isso encarei de imediato a hipótese de lhe adquirir um relógio à maneira. E devo dizer que não me arrependi da compra pois ele acompanhou-me em momentos importantes da minha vida, nomeadamente no episódio da minha ejecção e estadia no mato, já na Guiné.

Saímos aliás os dois um bocado maltratados desse episódio, pois se eu tive que recuperar da coluna e da perna, o relógio depois de levar com 18 Gs de aceleração perdeu o botão que accionava o cronómetro e dobrou o ponteiro do cronómetro, que encalhava na marca dos 25 segundos…

Quando regressei da Guiné fiz chegar o relógio ao Óscar, para uma revisão/reparação completa que o tem mantido a funcionar até aos dias de hoje.

Regressei à BA5 para comandar o Grupo Operacional e voltei a encontrar o Óscar, que por lá se mantinha. Achei então que estava na hora de arranjar material mais avançado e decidi comprar-lhe um novo relógio, de quartzo. Estávamos então em Outubro de 1985. Fiquei desconfiado quando ele me disse que a pilha duraria cinco anos e verifiquei que não era bem verdade, pois tive que mudar a pilha em Outubro de 1995, portanto… dez anos depois…

Este relógio está hoje guardado pois esta segunda pilha finou-se ao fim de… mais quinze anos… Desde então aguarda uma decisão minha sobre o que lhe hei-de fazer. Conversando há pouco com o Óscar – agora já reformado e vivendo em Monte Real - este aconselhou-me que não fizesse nada, pois o relógio está exteriormente bastante desgastado e não se justificaria uma reparação cara. Assim, voltei a usar o primeiro relógio que lhe tinha comprado. Só que recentemente o cronómetro deste voltou a pifar. O Óscar já me disse que quando quiser lhe leve o relógio que ele mo arranja. Mas, tenho pensado eu – o Óscar está reformado, eu estou reformado; não será altura de reformar também os dois relógios e deixá-los descansar calmamente na gaveta, com os achaques próprios da sua idade?

Miguel Pessoa
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9168: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (30): Cerimónia de homenagem e comemoração dos 50 anos de incorporação das primeiras Enfermeiras Paraquedistas na Força Aérea Portuguesa (Miguel Pessoa)

Vd. último poste da série de 16 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9751: FAP (67): Os meus STRELAs. Factos e opiniões. (António Martins Matos)

Guiné 63/74 - P9905: Blogpoesia (187): Descansa em paz, Iero Jaló... Poema de Luís Graça, com dedicatória ao Zé Carlos Suleimane Baldé, nosso novo grã-tabanqueiro



Guiné > Zona Leste > Contuboel > Junho de 1969 > CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 > O 2º Grupo de Combate da CCAÇ 2590 (futura CCCAÇ 12), ainda em período de instrução da especialidade.

O 2º Gr Comb era comandado pelo Alferes Miliciano Carlão (co-optado do Curso de Oficiais Milicianos=, se bem me lembro...) que aparece na fotografia, na primeira fila, ajoelhado, olhando no sentido oposto ao do fotógrafo (rectângulo a amarelo). Vive hoje em Fão, Esposende. É casado com a Helena, a única "mulher branca" da CCaç 12 que viveu connosco em Bambadinca. O Carlão é transmontano, não sei se de Mirandela ou Miranda do Douro...

Atrás dele o soldado Arménio, hoje conhecido taxista no Portp (era cabo, antes de embarcar mas foi despromovido, por ter apanhado uma porrada de não sei quem). Um reguila do Porto...

De pé, na terceira fila, os furriéis milicianos António (Tony) Levezinho e Humberto Reis . Na segunda fila, meio agachados, os 1ºs cabos Branco e Alves (de alcunha o Alfredo)

Um grupo de combate da CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) era constituído por 30 homens. Havia 4 Gr Comb. Cada grupo de combate, comandado por um alferes, tinha três secções (1 furriel e 1 cabo e oito soldados, estes africanos).

Casa secção era especializada. Havia a secção dos lança-granadas, com o respectivo apontador e municiador (1 LGFog 8.9, 1 LGFog 3.7). Havia a secção do Morteiro 60 (apontador e municiador ). E havia ainda a secção da Metralhadora Ligeira HK 21 (apontador e municiador). Cada combatente estava equipado com a espingarda automática G-3 e granadas defensivas. Em geral havia ainda dois apontadores de dilagrama (neste caso, 1ª e 3ª secção). O Iero Jaló, que não consigo identificar na imagem, pertencia à 3ª secção, comandada pelo Tony Levezinho.

Foto: © António Levezinho (2005). Todo os direitos reservados

1. Poema que dedico ao Zé Carlos Suleimane Baldé [, aqui na foto comigo, ao centro, e com o Umaru, em Finete, 1969], o primeiro e o último  preto da Guiné, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, que irá figurar na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande... 



Publicado originalmente na I Série do nosso blogue, no  poste de 10 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau









Descansa em paz, Iero Jaló


A guerra.
Essa coisa tão primordial que é a guerra.
Que estaria inscrita no teu ADN,
segundo dizem os sociobiólogos.
A guerra é a continuação da evolução
por outros meios,
dirão os entomólogos,
especialistas em insetos sociais,
para quem a morte de um
ou de um milhão
de formigas ou de seres humanos,
é-lhes totalmente indiferente.
Desde que triunfe o ADN,
um projeto de ADN
musculado.

Para mim, a guerra é
a aprendizagem da morte.
Aos vinte e dois anos.
É a inocência que se perde
para sempre
ao ver morrer pela primeira vez
um homem, a teu lado.
É o impossível luto.
É a descoberta do mal absoluto.

Fight or flight.
Não precisei de fugir nem de lutar.
Recusei o egoísmo genético.
Recusei a lógica absurda
de matar ou morrer.
Recusei o cinismo.
Recusei a fria e calculista resignação
com que se juntam e amortalham
os cadáveres seguintes.
E se contam nas paredes da caserna
os dias que faltam para a peluda.

Trinta e tal anos depois,
venho dizer-te
as palavras que ninguém te disse
no teu grotesco enterro:
- Descansa em paz, Iero Jaló,
meu herói,

meu camarada,
soldado atirador
do 2º grupo de combate,

3ª secção.
nº 82117869,
da CCAÇ 2590
que virá mais tarde a chamar-se
CCAÇ 12,
companhia de tropa-macaca,
A minha companhia,
os meus camaradas,
o meu bando de primatas sociais,
territoriais, 

predadores.
Fazíamos parte da nova força africana
de Herr Spínola, o prussiano,
como eu lhe chamava,
ao nosso Comandante-Chefe.
Não, não ligues,
são outros contos, 

outras histórias,
outros ajustes de contas
com as nossas doridas memórias.

Dscansa em paz,
Iero Jaló,
debaixo do poilão secular
na tua tabanca,
no chão fula,
belíssimo poilão de uma triste tabanca fula,
cercada de arame farpado,
trincheiras,
valas de abrigo.
e cavalos de frisa.
Julgo que eras do regulado de Badora.
Ou seria Cossé,
lá para os lados de Galomaro ?

Desculpa-me ter esquecido
o nome da tua tabanca.
E a cara dos teus filhos
e o rosto das tuas mulheres,
agora órfãos e viúvas,
sozinhos neste mundo.
Os teus campos estão tristes e inférteis,
já não dão o milho painço nem o fundo,
nem a mancarra,
a semente do diabo,
nem a noz de cola.
Os homens partiram para guerra,
voltam agora numa caixão de pinho.
Restam os macabros jagudis,
poisados no alto da tua morança,
cheirando a morte,
pressagiando a desgraça

Sete de Setembro de 1969.
Região do Xime.
Operação Pato Rufia.
Morreste em linha,
aprumado como o teu poilão.
No assalto a um aquartelamento temporário do IN,
uma baraca, como eles diziam,
próximo da Ponta do Inglês.

IN ? Que estranho termo ou expressão…
Uso-o por força do hábito,
por comodidade,
por lassidão,
por economia de análise.

Curioso, nunca soube a tua idade.
Não tinhas bilhete de identidade
de cidadão português.
Eras um bravo futa-fula

e eu levei-te a enterrar na tua aldeia,
mais os teus camaradas,
que foram dizer-te o último adeus.
Com honras militares, 
tiros de salva,
hino nacional,
e a bandeira verde-rubra dos tugas
por cima do teu caixão.
De pinho,
do verde pinho de Portugal.
Nem isto te deixaram fazer
à maneira dos teus.
Só faltou o corneteiro
para o toque a finados.

Portugal ? 
Ainda te lembras,
os senhores que vieram do norte
e do lado do mar ?
Não, já não tens que saber de geografia.
Nem de história. 
Nem de geopolítica.
Nem de guerra fria.
No sítio onde moras, 

debaixo do teu poilão,
já não tens que saber de nada.
Mas eu, mesmo ao fim destes anos todos,
eu deveria saber o nome da tua aldeia,
no chão fula.
O teu nome, esse não esqueci,
Iéro Jaló.
Esqueci foi o lugar onde nasceste,
talvez Sinchã,
ou Madina, 
ou Sare qualquer coisa...
Que importa agora ?
Serás mais um dos milhares de soldados desconhecidos daquela guerra.

O que interessa é que chorei por ti,
confesso que chorei por ti,
que morreste a meu lado,
e que levavas um prisioneiro,
teu irmão,
pela mão.
Chorei por ti,
e não tenho vergonha de o dizer,
mesmo se um homem não chora,
muito menos um tuga ou umn fula.
Chorei por ti,
que nem sequer eras meu irmão.
Nem grande nem pequeno.
Nem tinhas a mesma cor de pele.
Nem a mesma religião.
Nem a mesma língua.
Nem a mesma pátria.
Nem o mesmo continente.
Não comias carne de porco
Nem bebias água de Lisboa.
Eras apenas um guinéu,
Um nharro,
soldado-atirador
de 2ª classe.
Ganhavas 600 pesos de pré.
Um saco de arroz por mês
para alimentar a tua família.
Mas, para mim, eras apenas um homem,
da espécie Homo Sapiens Sapiens.
A única que chegou até aos nossos dias.
A única que conheço.
Foste o primeiro homem que eu vi morrer a meu lado.
Nunca mais chorei por ninguém,
chorei por ti, Iero Jaló.
Chorei de raiva.
Chorei de imensa raiva.

Nascemos meninos,
mas fizeram-nos soldados.
Azar o meu e o teu,
por termos nascido
no sítio errado,
no tempo errado.
Imagino-te djubi,
à volta da fogueira,
na morança do marabu ou do cherno
da tua tabanca,
decorando o Corão.
Uma das cenas mais lindas
que eu trouxe da tua terra,
e que eu guardo no fundo da  minha memória,
são os djubis à volta da fogueira,
soletrando tabuínhas em árabe,
ou pseudo árabe, não interessa.
Lembro-me de quereres aprender
as letras dos tugas
para poderes ser soldado arvorado
e um dia chegares a cabo,
e quem sabe sargento,
e quem sabe oficial,
e quem sabe general.

E de repente, o capim.
O capim alto.
O sangue.
O capim pisado e empapado de sangue.
Pobre Iero,
morto por um dilagrama dos nossos.
Alguém branqueou a tua morte.
Alguém salvou a honra da companhia.
Um dilagrama rebentou no ar,
na tua cara.
Acidente de serviço
no auge da batalha,
quando avançavas em linha,
no assalto ao acampamento
do IN, do turra,
Levando pela corda
o teu turra, o teu guia, o teu prisioneiro,
ainda mais djubi do que tu.
Malan Mané, mandinga,
tão crente como tu,
tão observador dos preceitos corânicos
como tu, 
meu querido nharro
Iero Jaló.

E agora, meu camarada,
morto e enterrado,
que foste poupado
à humilhação da derrota
e não viste o teu país
sentar-se de pleno direito
à mesa do mundo,

dos senhores do mundo...
Nem tiveste que fugir para o Senegal...
Que farias tu com esta independência
contra a qual lutaste
sem querer,
sem saber,
sem poder ?

Onde estarão hoje os teus filhos, 
e as tuas mulheres ?
E os teus netos ?
E os homens grandes da tua tabanca de Badora ?
E os líderes do teu povo
que te obrigaram a combater ao lado dos tugas ?
Herr Spínola, o homem grande de Bissau,
esse já morreu há uns anos atrás.
Não lês os jornais,
não chegaste a aprender o alfabeto latino
e a juntar as letrinhas 
e ler,
com a torre de Belém ao fundo:
- Esta é a minha pátria amada…
Pois é, o homem grande de Bissau morreu,
não de morte matada, como a tua,
mas de acordo com a lei natural das coisas.
Quanto ao teu régulo,
foi miseravelmente fuzilado
na parada de Bambadinca,
o poderoso régulo de Badora,
tenente de milícias,
que havia trocado o cavalo branco
da gesta heróica do Futa Djalon,
por uma prosaica motorizada japonesa
de 50 centímetros cúbicos,
oferta do Homem Grande Bissau...
Era dono de centenas cabeças de gado
e de uma harém de cinquenta mulheres,
uma em cada aldeia de Badora…
Dizia-se que o puto Umaru
era filho dele,
o Umaru e mais djubis da CCAÇ 12.

Hoje os heróis do passado sucumbem
sob o peso das cruzes de guerra.
Ou pedem esmola nas ruas de Bissau,
tal como os teus filhos e netos.
Ou morrem de desespero e inanição
às portas do templo da deusa Europa,
em Ceuta e em Melilla,
em Lisboa ou em Paris.
Que voltas o mundo deu, meu soldado,
desde esse dia já distante
em que a tecnologia da guerra
ou a lotaria do ADN
te ceifou a vida.
Porquê tu, meu herói,
três meses depois de jurares bandeira
e te comprometeres, por tua honra,
a defenderes uma pátria 
que te disseram ser a  tua,
até à última gota do teu sangue ?

E do Malan Mané não tenho notícias,
se é isso que queres saber,
mas duvido que ele tenha sobrevivido
aos graves ferimentos do dilagrama dos tugas.
E agora deixa-me dizer-te, amigo,
à laia de despedida:
não sei se um dia
ainda terei coragem de voltar
à tua terra, 
ao teu chão.
Mas se porventura o fizer,
gostaria de perguntar pela tua aldeia,
e de procurar-te
e de ter tempo para conversar contigo,
só tu e eu,
debaixo do teu poilão.
Descansa em paz, Iero Jaló.

Luís Graça,

[revisto nesta data]


2. Originalmente este poema foi escrito tendo por tema a morte do sold at inf nº 82117869, Iero Jaló, de etnia futa-fula, do 2º Gr Comb, 3ª secção, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, ocorrida em 8 de setembro de 1969, no decurso da operação Pato Rufia, na região do Xime... Este meu camarada morreu ao meu lado, no meu próprio batismo de fogo.

Mais tarde emendei o nome, e substitui-o pelo nome do Iero Jau, apontador de dilagrama, do 3º Gr Comb, 1º secção, nº mecanográfico,82109569, este sim, fula. Na realidade fui induzido em erro pela história da unidade (a CCAÇ 12), escrita por mim próprio: no relato da Op Pato Rufia, vem o nome do Iero Jau... Mas quem morreu de facto foi o Jaló, futa-fula: aliás, é o Iero Jaló, nº mecanográfico 82117869, que vem no fim na lista dos mortos da companhia... Foi a nossa primeira vítima mortal. E aliás é este nome que consta da lista oficiosa dos nossos mortos no Ultramar.

Corrigi, nesta data, o título e o corpo do poema... Espero que, no Olimpo dos guerreiros, o Iero Jaló me perdoe. O mesmo peço ao Iero Jau, que muito provavelmente já não estará entre nós. Estima-se que mais de 80% dos soldados do recrutamento local que tiraram a recruta e a especialidade em Contuboel, em 1969, e vieram depois integrar a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ12), já tenham morrido.
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 15 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9749: Blogpoesia (186): Registo (Felismina Costa)

Guiné 63/74 - P9904: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (22): Havia mais "PALOP" (entendimentos) antes das independências

1. Mensagem do nosso camarada António Rosinha, (ex-Fur Mil em Anagola) topógrafo na TECNIL na Guiné-Bissau, depois da sua independência, com data de 11 de Maio de 2012:

Havia mais "PALOP" (entendimentos) antes das independências

Guerra colonial portuguesa, Guerra do Ultramar, Luta de Libertação Nacional de Angola, Guerra de Independência da Guiné-Bissau, Luta de libertação de Moçambique, sem falarmos nos casos de São Tomé e Cabo Verde, são tantos os nomes da guerra da geração dos que nasceram nas décadas de 40 e 50 do século passado, que todos os nomes se podem ajustar a cada circunstância.

Mas se quisermos balizar a guerra entre as datas que provocam a frase “para Angola e em força” de Salazar, até à entrada de Marcelo Caetano no Chaimite de Salgueiro Maia, então se quisermos ser realistas com a história, foi como “Guerra do Ultramar”, nome com que no continente e ilhas era alcunhada a guerra pelos soldados que embarcavam no continente e ilhas, a caminho das colónias.

Mas para os movimentos que lutaram contra os que iam do continente e ilhas e imensos que eram naturais das colónias, essas datas dizem muito pouco, pois eles próprios, que são vários movimentos, cada qual tem as suas datas, ignorando mesmo as datas importantes dos outros movimentos irmãos.

E exigem para cada um, o seu próprio protagonismo, e hoje, até fazem por ignorar os feitos dos “irmãos” e assumiram as suas próprias datas comemorativas, exclusivas e isoladas uns dos outros, quando na realidade foi em conjunto que trabalharam.

Esta é uma realidade que se quer varrer para debaixo do tapete pelos 5 PALOP, que estiveram sempre associados na luta contra o colonialismo português, e hoje quase se ignoram.

Claro que podem ser encontradas razões para esse afastamento entre os governos MPLA/FRELIMO/PAIGC/PAICV
(Não incluo aqui São Tomé nem a UNITA nem FNLA nem RENAMO porque estes foram secundarizados por aqueles).

É que o protagonismo dos dirigentes desses movimentos “vitoriosos” que se relacionavam entre si a nível internacional, era tão excessivo que apagaram o sacrifício que os povos sofreram, tanto dos que acreditaram nesses movimentos como aqueles que ainda hoje não acreditam.

E como esses dirigentes, que se conheciam todos uns aos outros e se entendiam bem, eram tão poucos que rapidamente foram sendo apagados e excluídos politicamente e até eliminados fisicamente alguns, e hoje “desconhecem-se” mutuamente, após as independências e as vicissitudes que se seguiram, porque os dirigentes que “sobraram” eram desconhecidos uns dos outros.

Ao contrário do que se passava no tempo colonial, que havia uma união entre os principais protagonistas da luta anti-colonial, e mesmo entre eles e a oposição política portuguesa metropolitana, e agora não há CPLP nem PALOP “que lhe valha”, e é uma pena que a tal elite tradicional que existia se tenha apagado tanto, embora fosse previsível que tal acontecesse.

Era uma mais valia enorme para todos os 5 PALOP, pois havia muito entendimento entre eles e é a união que faz a força, pode ser que um dia reapareça essa união que existiu, o que parece difícil.

A conjugação de esforços e entendimento entre os dirigentes dos referidos movimentos era tal que no caso de Amílcar Cabral é considerado nos relatos históricos como co-fundador de MPLA, angolano, e do PAIGC.

E após as independências, no caso da Guiné é bem conhecida a colaboração de guineenses e cabo-verdianos do PAIGC que se prolongou durante bastantes anos, e acabou essa colaboração com maus resultados para o futuro da Guiné.

Mas sabemos que não era a colaboração que estava errada, mas as políticas “importadas” e completamente erradas e contrárias ao espírito dos povos e que não diziam nada às pessoas, e que acabaram num virar de costas, mau para todos.
(Absurdos como ideologias guevaristas em balantas, Ganguelas e macuas ou beirões e algarvios, nem em Cuba foi bom)

Ainda no caso da Guiné, conhecemos no tempo de Luís Cabral, um angolano como ministro do governo guineense, Mário Pinto de Andrade, que foi, durante a luta anti-colonial um dos presidentes do MPLA.

Mas como todos os casos semelhantes a Mário Pinto de Andrade, que já era um “exilado” de Angola, tornou-se exilado também da Guiné, foi péssimo a fuga dos mais informados.

E foram milhares de angolanos, guineenses, e de todos os PALOP, que se “exilaram” em Portugal, no Brasil e por todo o lado. Por cá, ainda há quem chame a alguns de retornados. Mas periodicamente, durante estes 38 anos de independências, os mais informados vão-se afastando dos seus países.

Embora muitos países em África descolonizada tenham problemas semelhantes, no caso das ex-colónias portuguesas têm uns problemas específicos, à vista de todos.

Menciono dois:

Um desses problemas mencionava-o Samora Machel numa visita a Portugal num discurso com Ramalho Eanes, presidente, dizia Samora que: “…todos têm pai, só nós (moçambicanos) não temos pai", referia-se à colaboração dos vizinhos com a Inglaterra. (neocolonialismo???), chame-se o que se queira, mas da parte de Portugal era impossível impor-se à “bola de neve” que esses movimentos criaram, que até os próprios dirigentes esmagou.

O outro enorme problema específico é o êxodo quase total da tal elite que Amílcar falava como a “burguesia “ que corria o risco de se suicidar, mas que tanta falta fazia viva, mas bem viva, porque eram patriotas, bem formados e formavam uma sociedade sã e adaptada aos vários ambientes étnicos, religiosos e culturais e já não se consideravam nem eram vistos pelas etnias, como simples colonos, embora a maioria fossem brancos ou mestiços e muitos eram negros já desintegrados da respectiva etnia.

Não se suicidou, mas exilou-se contra a vontade da maioria deles que não viram maneira de contrariar as forças internacionais, tremendamente malignas para todas as etnias africanas, que a “demagogia das independências” atraiu naquele momento errado.

Claro que esta gente que (conheci e fui colega de centenas) teve que se “exilar”, também deita muitas culpas para cima da tropa e dos políticos tugas, por certas coisas correrem tão mal.

Mas para a “morte ter desculpa”, quando vemos as revoluções e os massacres por motivos étnicos, religiosos, fronteiriços ou políticos em África, se for nas ex-colónias portuguesas pode-se dizer que a culpa foi do atraso em que Portugal deixou aqueles territórios, noutros casos fica à responsabilidade da ONU, essa abstracção.

Quando digo que havia mais PALOP (entendimento) entre aqueles cidadãos desses futuros países, havia mesmo uma irmandade tão saudável e até com alguma rivalidade competitiva e orgulho na própria terra que era entusiasmante e saboroso conviver e assistir ao entusiasmo daquela gente, antes do terrorismo do Norte de Angola e mesmo depois.

Mas há certos motivos para explicar a diminuição de um sentimento “PALOP”, mas deixo para momento mais propício,

Claro que a Europa colonialista cansada da guerra da Índia, da guerra da Indochina, da 2.ª Grande Guerra, optou por ver os outros em guerra, sozinhos.

Alguns de nós portugueses, assim como em tudo, seguimos sempre a Europa um pouco mais atrasados, tinha que ser.

Um abraço e coragem para os editores “editarem sempre”
António Rosinha
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9655: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (211): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte III)

Guiné 63/74 - P9903: Tabanca Grande (338): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74)

Sonhei com Portugal
[poema de José Carlos Suleimane Baldé]

Era uma noite,
calma,
serena!
Um ambiente bem silencioso!
Vejo os céus de Portugal.
Alguém disse:
- Levanta a cabeça!
Nos céus sem nuvens
vi variadíssimas estrelas
que nunca vira antes!
De repente soou um grito,
dizendo:
- Não tenhas medo,
que aqui é Portugal!




1. José Carlos Suleimane Baldé, simplesmente Zé Carlos (*)... O "morto-vivo" da CCAÇ 12!...  Já te deram por morto e ressuscitado, não sei quantas vezes!... Parafraseando Mark Twain, podemos pois dizer que a tua notícia da tua morte, logo em 1974, foi manifestamente exagerada. 


De qualquer modo, não tenho tido notícias tuas desde o ano passado, na altura em que  realizaste o teu grande sonho de vir conhecer Portugal, terra que tu tanto amas (ou amavas) mas que  te tratou com ingratidão.  A ti e a outros milhares de combatentes guineenses que estiveram sob a bandeira portuguesa.  Essa viagem foi possível graças à generosidade de muitos camaradas, e sobretudo da Odete Cardoso e do Jaime Pereira. (Abrindo um parênteses, não confundamos Portugal e a sua gente, com o Estado e a elite dirigente; eu também não confundo a tua terra e a tua gente, com os que mandam e falam abusivamente em seu nome).

Quando chegámos a Contuboel, em 2 de junho de 1969, depois de desembarcarmos em LDG no Xime, e de seguirmos em coluna auto por Bambadinca e Bafatá, descobrimos que dos 100 soldados do recrutamento local que se juntaram aos 50 quadros e especialistas da CCAÇ 2590 para vir a formar a futura CCAÇ 12, nenhum deles falava português... A única exceção eras tu, Zé Carlos!... Serias aliás o único soldado arvorado que chegaria  a 1º Cabo,  no meu tempo (Foste promovido logo a seguir, em setembro de 1969., lembras-te ?). 


José Carlos Suleimane Baldé, o dedicadíssimo, delicadíssimo, educadíssimo Zé Carlos, uma joia de rapaz!.. 

Terias na altura 18 anos, não ? A gente não sabia a vossa idade, vocês fintavam os tugas, só para ir para a tropa!... Tínhamos de tudo, djubis e homens grandes, alguns já mesmo velhotes... Lidei, convivi bastante contigo, no 4º Grupo de Combate (por onde passei mais tempo), considerei-te, desde logo, como "secretário particular, intérprete, cozinheiro, guarda-costas, e sobretudo amigo e camarada".  Emprestei-te livros, dei-te cadernos, ajudei-te a melhorar o domínio do português. Falei-te da minha terra.

Pertencias à 2ª secção, comandada pelo Fur Mil At Inf António Marques, até àquele fatídico dia, 13 de Janeiro de 1971 -lembras-te ? -,  em que caímos todos juntos, uma GMC inteira, numa potente mina A/C às portas de Nhabijões. 

Estive contigo  em muitas operações. E em várias tabancas fulas em autodefesa. Tu ajudaste-me a perceber melhor a tua gente, a tua história, a tua língua, a tua cultura e até a tua religião. 

Até há um ano e meio atrás, eu não sabia nada de ti nem do curso da tua vida, depois da independência. Sempre receei pela tua segurança. Hoje sei, sabemos, que vives perto do Xime, com a tua família. Voltei a rever-te e a abraçar-te, com grande emoção, em Coimbra, no dia 21 de maio de 2011. 

Zé Carlos: abandonados por nós, ostracizados pelo teu Governo, os nossos antigos camaradas guineenses vão desaparecendo rapidamente, vítimas da perseguição, da doença, da miséria, da discriminação, do abandono, do esquecimento, e até da falsificação da história... Recordá-los, recordar os seus nomes, publicar as poucas fotos que temos deles, é o mínimo dos mínimos que podemos fazer no nosso blogue!... 

Da nossa CCAÇ 12, dos meus antigos 100 camaradas, do meu tempo de Contuboel e de Bambadinca (junho de 1969/março de 1971), restarão muito poucos, menos de duas dezenas. Entre eles, felizmente, estás tu, Zé Carlos.

 Em 29 de maio de 2011, tu vieste à minha escola para te despedires de mim, depois de umas férias fantásticas no teu querido Portugal.  Vinhas acompanhado pelo António Marques e a Gina. Dessa vez achei-te  abatido, apreensivo, na véspera de partires.   Não te mostraste tão expansivo, como em Coimbra. Pedi-te para fazer uma saudação para os teus antigos camaradas da CCAÇ 12, que eu gravaria em vídeo, mas tu recusaste polida e delicadamente. Acredito que o teu estado de espírito estivesse associado à ansiedade e tristeza da partida, além da  convição  de que na tua terra continuarias a ter  muitas poucas ou nenhumas perspectivas de futuro. 

Por outro lado, voltavas amargurado: em Portugal, os teus papeis da tropa (portuguesa) de nada te valeram. Devem ter-te explicado, um burocrata qualquer: o sr. Suleimane Baldé nunca fizera descontos  para  a Caixa Geral de Aposentações; além disso, não era cidadão português... 

Esta era talvez  a maior decepção que tu levavas da tua primeira (e provavelmente última) viagem a Portugal... Os cinco anos e duzentos e tal dias que estiveras ao serviço do exército português  não te davam quaisquer benefícios nem constituíam quaisquer direitos... 

E, no entanto, tu guardas (ou guardavas) religiosamente a bandeira verde-rubra na tua morança!... Por essa bandeira, pela tua aliança com os tugas,  estiveste em risco de ser condenado e executado nos tempos de brasa, possivelmente por volta do 11 de março de 1975 (altura em que terão sido  executados o Jamanca e o Abibo Jau, da CCAÇ 21,  em Madina Colhido )... "Valeram-me os anciãos de Bambadinca que, em pleno tribunal popular, me defenderam, a mim,  Suleimane Baldé, como um bom homem, um bom professor, um bom fula,  e um bom guineense" - confidenciaste-me tu, o ano passado...

Disseste-me com  alegria  que irias, dentro em breve, casar a tua filha com o filho de um antigo camarada e amigo da 2ª secção do 4º Gr Comb da CCAÇ 12, o Sori Baldé...

Constatei, com amargura, que tu já não pertencias ao meu mundo, pertencias a um outro mundo, o teu mundo, para o qual regressavas, definitivamente... Ainda pensei, num impulso de generosidade e de camaradagem,  em convidar-te  a integrar o nosso blogue... Mas percebi a tempo, numa fração de segundo de lucidez,  quão atrozmente ridícula era a minha proposta!... 

Na tua tabanca tu não tens nada, para além de um telemóvel e de uns óculos, para ler,  que te deu a Odete Cardoso, esposa do Jaime Pereira, casal que são padrinhos da tua filha mais nova, e que te acolheram em Portugal...

Aliás, o que é que tu tens, no ocaso da vida ? Uma família para sustentar,  uma morança, alguma terra para lavrar, uma saúde precária, uma velhice incerta... Antigo professor ou monito escolar (tarefa que te terá sida atribuída, depois de ferido em combate), não tens computador nem email nem internet nem sabes o que é isso... Não tens nada. Tens medo, continuas a ter medo, medo da palavra "política" e dos grandes inquisidores que te levaram a "tribunal popular" em Bambadinca... 

Na altura, em 29 de maio de 2011, eu escrevi ou pensei: "Confesso que fiquei deprimido por sentir que há homens que podem ter medo do medo... E  que podem ainda, hoje, quarenta anos depois do fim da guerra colonial, sentir medo... E eu tenho medo de escrever mais e complicar a vida de antigos camaradas meus, que foram meus camaradas de armas"...

Afinal, um blogue, para quê ?,  perguntarias tu...  O que é isso, de blogue ?... E que resposta te poderia eu dar, meu velho Zé Carlos  ? Não saberia dar-te nenhuma, naquele momento... Em suma, desisti da ideia de te "atabancar" numa Tabanca Grande que não te diria nada, e que tu nunca reconhecerias... porque é uma coisa virtual, uma ideia abstrata, com um suporte digital, que nem tem cor, nem cheiro, nem sabor...

Mas hoje, passado quase um ano, e depois de voltar a ver  o teu nome numa lista de fuzilados da CCAÇ 12, deu-me ganas de voltar a pegar na ideia e de concretizá-la. Não tenho poder, não tenho nenhuma varinha mágica para te poder trazer para Portugal (como tu sempre sonhaste, e confessavas ao António Marques, com quem te correspondeste regularmente entre os anos de 2000 e 2004... e o Marques tem essas cartas!)... Nem sei se  tu aqui serias mais feliz do que na tua tabanca... Tenho todas as dúvidas, hoje mais do que nunca.... 

Mas há uma coisa que eu posso fazer por ti,  Zé Carlos, para além de prometer visitar-te (quando,  e se,  um dia voltar à Guiné-Bissau, e nessa altura conhecer a sua família, e se possível rever mais alguns camaradas da CCAÇ 12, os poucos que restarem vivos)... Ora o que eu posso fazer por ti, é da mais elementar justiça: é admitir-te  na nossa Tabanca Grande e sentar-te  à sombra do nosso simbólico, mágico, secular, portentoso, protetor,  fraterno poilão!...  

Para que o teu nome e o teu arreigado amor a Portugal não sejam esquecidos, para que a nossa velha amizade e camaradagem  continuem a ser celebradas, apesar da distância, apesar das nossas diferenças, apesar das nossas tristezas, qpesar das nossas desilusões. apesar das nossas memórias doridas!...  Faço-o à tua revelia, mas na convicção de que um dia destes  tu vais aceitar e compreender o meu gesto.  Se alguém, guineense, da CCAÇ 12 merece estar aqui, és seguramente tu. E serás o primeiro e muito possivelmente o último.

Sê bem vindo, Zé Carlos, à Tabanca Grande. És o grã-tabanqueiro nº 557. Peço à dr. Odete Cardoso que te vá dando  notícias nossas, por telefone e carta.  Devo dizer-te que não és o único "morto-vivo", o nosso António Batista também o é; além disso,  também não tem e-mail, mas foi acolhido, com todo carinho, neste espaço vritual onde se reúnem os velhos combatentes da Guiné, portugueses e guineenses, independentemente do seu passado, do seu presente, das suas crenças, e das suas perspetivas de futuro...  


Que Alá te proteja, meu bom amigo e camarada Zé Carlos! És e foste sempre um grande homem e combatente!


Luis Graça, ex-fur mil at armas pesadas inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971)


PS - Não combinei nada com ele,  mas peço ao António Marques  [, foto à esquerda,  ladeado por ti e pela Gina, Lisboa, no parque da minha escola, em 29 de maio de 2011,] que seja o teu "padrinho" na Tabanca Grande, e que te "empreste" o email dele...  Espero poder encontrá-lo mais logo, aqui ao pé de casa, em Alfragide, na missa do 1º aniversário da morte da nossa amiga Teresa Reis (1947-2011), esposa do Humberto Reis.
__________________________


Notas do editor:

(*) Vd. postes referentes (ou com referências) ao Zé Carlos:

4 de junho e 2011 > Guiné 63/74 - P8372: Os nossos camaradas guineenses (33): O Zé Carlos regressou ao seu mundo, à sua tabanca, à sua morança... (Luís Graça)

22 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8311: Os nossos camaradas guineenses (32): José Carlos Suleimane Baldé... Pensando na CCAÇ 12, em Coimbra, em Amedalai, em Bambadinca... Andando pelo Planaltod as Cesaredas, à procura de amonites e orquídeas-abelhas... Celebrando a biodiversidade, a etnodiversidade, a camarigagem, os nossos encontros e desencontros... (Luís Graça)




Guiné 63/74 - P9902: Parabéns a você (419): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

Para aceder aos postes do nosso camarada António Eduardo Ferreira, clicar aqui
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9877: Parabéns a você (418): Daniel Agostinho Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2861 (Armando Pires)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9901: Em busca de... (188): Pessoal da CCAÇ 417 (Empada, 1963/65) (Jorge Soares Branco)

1. Mensagem do nosso leitor e camarada José Soares Branco (que esteve em Empada,  e noutros sítios da Guiné, 1963/65) [, Foto á esquerda, Empada, vista aérea, 1974; foto de António Graça de Abreu]:


De: José Soares Branco [mailto:soares.branco@laborial.com.pt]
Data: domingo, 13 de Maio de 2012 23:32
Assunto: Guiné (1963/1965)


Caro Amigo Luís Graça,


Estive na Guine, incluído na Companhia de Caçadores 417. como Furriel
Miliciano. 


Salvo raras exceçoes, não tenho contacto com colegas de então.


Pode ajudar-me ?


Estivemos no aquartelamento de Empada mas, enquanto companhia de
intervenção, actuámos em vérios pontos da Guine, tambem mais a norte.


Chegámos à Guine em Fev de 1963.


Um abraço amigo,


José Soares Branco


2. Comentário de L.G.:


Sê bem vindo ao nosso blogue, camarada do caqui amarelo!... Perante tanta velhice, nós, piras, temos que piar três vezes. As nossas saudações para ti e restante rapaziada, hoje septuagenária, da CCAÇ 417,  de quem infelizmente não temos ninguém inscrito na Tabanca Grande. Tu podes ser o primeiro se nos mandares as duas fotos da praxe e nos contares uma história... Diz-nos também onde vives e o que fazes nos tempos livres...


Pois é, Jorge, vejo que apanhaste os anos de chumbo da guerra. Daí haver por  certo coisas (boas e más) que guardas na tua memória... Uma das poucas  referências que temos à tua companhia vem num poste do ex-cap George Freire, hoje a viver na América.



(...) 15/3/63: 


Chegou um pelotão da CCaç 417 que seguirá para Caboxanque. Enviei uma grande coluna de 10 viaturas para Emberem [Jemberém]  para trazer o resto dos víveres pertencentes aos Fulas.


16/3/63: 


O pelotão da CCaç 417 seguiu para Caboxanque para render o Pelotão 859. (...)


Consulta também este poste do pira  Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, que esteve em Ingoré, Aldeia Formosa, BubaEmpada, entre 1968 e 70): 

(...) Conjugando os testemunhos já dados, com as acções havidas no Subsector de Empada, pela CCaç 153 – Fulacunda 1961/63 sob o Comando, ao tempo, do Cap Inf José dos Santos C. Curto, e, também,  da CCaç 417 - 1963/64, esta por ter sido colocada na sede deste Subsector sob o Comando ao tempo do Cap Inf Carlos F Delfino:

“Por elementos da população também fora-me dito, que ao tempo as Autoridades Militares e Administrativas, condicionaram a população residente a ficarem controladas por nós ou a refugiar-se em Tabancas no mato, Sic.”
Entre outros fora o guerrilheiro Nino que escolhera refugiar-se no mato, ouvia-se dizer por ele ser de Empada e que ali tinha familiares não se lhe oferecia a flagelações. (...).

Há notícias de um camarada teu, António Ferreira, de Gindomar no blogue do nosso camarada Carlos Silvca. Consulta aqui (vd. foto de 2009).

Mas o pessoal da Tabanca Grande, teus camaradas da Guiné, de 1961 a 1974, vão-te dar uma ajuda a localziar mais malta da tua CCAÇ 417. Até uma próxima. LG


PS - A CCAÇ 417 foi mobilizada pelo RI 15, partiu para a Guiné em 6/2/63 e regressou a 18/7/65 (?)... Esteve em Empada e Bissau. Comandante: Cap Inf Carlos Figueiredo Delfino.

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 13 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9893: Em busca de ... (187): Maria Luísa procura ex-combatentes da CCAV 1693 e do BCAV 1915, camaradas de seu marido, falecido recentemente

Guiné 63/74 - P9900: Agenda cultural (200): Apresentação do livro de Mário Beja Santos, "Adeus Até ao Meu Regresso" na Biblioteca Municipal de Pedrógão Grande, dia 18 de Maio de 2012, pelas 21h30

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9841: Agenda cultural (199): Intervenção de Mário Beja Santos na Tertúlia sobre o livro de sua autoria "Adeus até ao meu regresso", realizada no passado dia 26 de Abril em Lisboa

Guiné 63/74 – P9899: Convívios (434): Almoço comemorativo do 40.º aniversário do regresso do BCAV 2922, dia 16 de Junho de 2012 no RC 3 em Estremoz (Francisco Palma)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Palma (ex-Condutor Auto Rodas da CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72), com data de 11 de Maio de 2012:

Estimados Camaradas e Amigos, Luís e Carlos
Venho por esta solicitar a vossa melhor colaboração no sentido de divulgarem no Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné o programa anexo que tem para além do habitual reencontro e convívio, um incentivo especial, ou seja a celebração dos 40 anos do regresso do nosso Batalhão e que se realiza dentro das instalações do Regimento de Cavalaria 3 em Estremoz, local onde se formou o mesmo antes da partida para a Campanha na Guiné.

Um muito obrigado
Saudações de Amizade e Camaradagem
Francisco Palma


____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9884: Convívios (251): 7º Encontro da CCAÇ 1426, 7 de Julho de 2012, em Vila Amélia (Fernando Chapouto)