sexta-feira, 17 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11581: Notas de leitura (481): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Janeiro de 2013:

Queridos amigos,
Creio não me exceder ao tratar este livro de António Carreira como uma obra ímpar no panorama das historiografia da Guiné.
É uma síntese muito bem elaborada destes séculos de presença portuguesa. Carreira desmistifica e chama os bois pelos nomes.
Deixa bem claro que se precisou de esperar pelo acordo luso-francês de 1886 para encontrar as potencialidades económicas da Guiné, a partir do novo quadro de fronteiras começa o comércio das sementes destinadas a óleos e sabões, que tanto interessarão a CUF, um pouco mais tarde. E as alianças dos portugueses com os Fulas serão estabelecidas nas operações de pacificação.
Para ler e para não perder.

Um abraço do
Mário


Os portugueses nos rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (2)

Beja Santos

Na recensão anterior, destacou-se a importância deste título fundamental de António Carreira, é uma investigação tão pertinente e rigorosa que merecia, com a maior urgência, e na falta de manuais históricos acessíveis, a sua republicação. Carreira destaca algumas das causas do fracasso da ocupação dos rios da Guiné, enumera as pontas, presídios e praças de tratos e resgates, faz uma súmula da situação até finais de 1600.

Temos agora o período que vai de 1700 até meados de 1800, caraterizado pela desorganização das trocas comerciais, avolumam-se as queixas, é um tempo de semiabandono, como alguém escreveu “As praças da Guiné viram-se na primeira parte do século XVII abandonadas de quase todos os brancos, que dantes ali mantinham considerável comércio, muito dele transportado para o Brasil”. Em Junho de 1707, o capitão-mor Paulo Gomes de Abreu de Lima informava Lisboa “Que em Cacheu não havia em pé um baluarte, nem restavam vestígios de fortificações; chamavam fortalezas a uma casa que de forte só tinha o nome”. Todos os depoimentos coevos apontam para a ruína das fortificações, insuficiências de guarnições militares, um estado de recessão comercial, ausência de navios de longo curso, falta de rendimentos para as mais elementares despesas. A despeito desta situação crítica, a documentação relativa ao período de 1788 a 1794 mostra que saíram de Cacheu e Bissau mais de 6 mil escravos encaminhados para o Maranhão e Pará.

Quando se chega a meados do século XIX, as praças existentes são: Bissau, Geba, Fá, Cacheu, Farim, Ziguinchor, Bolor, Bolama e Ilhéu do Rei. É neste período que se dão importantes lutas étnicas que levarão a novas arrumações da população. Segundo Carreira, é indispensável analisar o que era então o povoamento das regiões a partir do baixo Casamansa até ao rio Corubal e a sul deste até ao rio Cacine. A área que se designa por Grande Cabú era ocupada (crê-se) desde os séculos XIII/XIV por Mandingas do ramo Soninqué que se espraiavam para ocidente, até Farim e o Oio. O alto e o baixo Geba estavam ocupados por Beafadas e a oeste destes o território tinha predominantemente Balantas.

Por Bolola era conhecido todo o território compreendido até sul do Corubal até entestar com o rio Cacine, este a sul ocupado por Nalus e Landemãs, até então designados por Cocolis. No segundo quartel do século XVIII os Fulas penetraram no Cabú, os Mandingas deram o seu assentimento à fixação deles, a população Fula foi crescendo acentuadamente no tempo seguinte. Um ramo destes Fulas, os Fulas-Pretos, para escapar à escravização iniciou, em meados do século, o seu êxodo para o sul, atravessaram o Corubal, no território de Bolola. É um período de grandes batalhas em que o poder no Cabú fica na mão dos Fulas-Forros. Os Fulas-Pretos, mal chegados ao chão dos Beafadas quiseram, instalar-se, houve novas lutas étnicas. Entretanto, cerca de 1863-1864, Mussá Moló, invade o Cabú vindo de Casamansa. Anos depois o régulo suserano do Cabú decretou a anexação do território de Bolola (já então designado por Forriá). A luta transformou-se numa autêntica guerra santa e os derrotados foram submetidos pelos grupos islamizados dominantes: os Fulas-Forros e os Futa-Fulas. Sem se entender o papel conciliador das autoridades portuguesas com estes dominadores Fulas não se percebe a aliança que os Fulas irão estabelecer com as autoridades portuguesas até à independência da Guiné-Bissau.

No norte, fruto de uma total negligência das autoridades portuguesas, foi crescendo a influência francesa, como Carreira observa: “Com a ocupação pela França, em 1827, da barra do Casamansa, seguida da de Selho, em 1838, a assinatura do acordo de 1886 ratificou o poder francês na costa ocidental, designadamente no Futa-Djaló”. As autoridades portuguesas e francesas entenderam-se e foram cerceando o poder dos régulos. Os conflitos, com o novo traçado das fronteiras, não pararam. Carreira deplora o facto: “O traçado das fronteiras foi feito arbitrariamente, alheando-se das realidades, sem nenhum respeito pela posição dos grupos étnicos nem obediência a limites naturais do terreno”.

Findo o tráfico de escravos, as potências coloniais lançaram-se num novo quadro económico, vai ser o período da conquista de sementes para a produção de óleos comestíveis e para o fabrico de sabões. Carreira estudará aprofundadamente esta matéria na sua obra “Os documentos para a história das ilhas de Cabo Verde e rios da Guiné”. Como se compreenderá, a mancarra, o óleo de palma e coconote só se poderiam obter quando as populações abandonassem as guerras. É esse o móbil principal para as operações da pacificação e para lógica das alianças que as autoridades portuguesas irão estabelecer na Guiné.

António Carreira resume assim a situação entre 1700 e meados do século XIX: em pouco mais de século e meio, os portugueses tinham esgotado toda a capacidade de iniciativa, expulsos lentamente das várias zonas da costa, para depois se emprenharem no tráfico de escravos, já então como meros intermediários ou agentes de estrangeiros. A partir de 1886, ficaram encurralados num espaço geográfico cuja posse lhe veio a ser reconhecida internacionalmente e que na realidade se mostrava mais proporcionado com a sua efetiva capacidade realizadora.

O comércio na Guiné mudara radicalmente. As guerras e razias fizeram cessar em definitivo as caravanas que a Geba e a Buba vinham vender marfim, cera, bandas de algodão, couros, e a adquirir sal e bens de consumo corrente. Sem esse fluxo de negócios, urgia estimular novos processos agrícolas, data desse tempo uma série de iniciativas para potenciar a agricultura da Guiné. A título exemplificativo, recorda-se o famoso documento que o general Dias de Carvalho escreveu depois da sua prolongada estadia na Guiné e onde alvitrava uma série de culturas que se dariam bem com os solos guineenses. Essa tónica presidirá a um conjunto de tentativas que se estenderão até ao século XX, é o caso da tentativa de cultura açucareira no rio Gambiel, que será retomada ainda que sem êxito, no tempo de Luís Cabral.

O trabalho de António Carreira prossegue com a análise da situação de 1850 até ao dealbar do novo século. Regista que nesse período existia uma praça, quatro presídios, uma ponta ou um posto e a ilha de Bolama. E avança com dados retirados de vários relatórios, alguns deles com números desencontrados mas que surpreendem. Geba teria cerca de 3 mil habitantes, um forte núcleo cristão e uma guarnição de 6 praças. Em Fá havia uma casa comercial e um destacamento com 3 praças, o que mereceu a observação de Honório Pereira Barreto “pequeno e ridículo posto”. Cacheu era uma sombra do passado, mas mesmo assim tinha 150 habitantes brancos ou mestiços e uma guarnição de 41 praças. E à volta de Bissau a tensão era permanente, os régulos de Intim e Bandim não davam descanso à guarnição e aos comerciantes que viviam dentro da fortaleza.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11562: Notas de leitura (480): Os Portugueses nos Rios da Guiné (1500-1900), por António Carreira (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11580: Blogpoesia (337): Meu testament (J. L. Mendes Gomes)



Meu testamento

por J. L. Mendes Gomes



[ex-alf mil, CCAÇ 728,
Cachil, Catió e Bissau, 
1964/66]



Se Deus um dia 
Quisesse fazer de mim uma árvore,
Só Lhe pediria para nascer 
Em Trás-os Montes.
Ao pé das pedras,
No meio das urzes.

Daria sombra e paz,
Respeitaria o sol
E bebia das fontes.
Cobriria meus ramos
Com muitos ninhos.
Beijaria as estrelas.
Todas as noites.
Passaria toda a minha vida,
De braços abertos,
Orando a Deus
Pelos meus vizinhos. 
Eternamente.
Oferecia minhas folhas mortas,
Para encher as camas
Daquela gente. 


E quando, um dia,
De velho, eu morresse,
Far-me-ia de lenha seca em brasa,
Para aquecer os lares
No rigor do frio.
E semear ao vento,
Em nuvens de fumo,
Minha alma acesa
De amor ardente.

Ouvindo canções dos Andes
Ovar, 16 de Maio de 2013
20h6m
Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11529: Blogpoesia (336): Suadê, nome de mãe (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P11579: Parabéns a você (576): António Pinto, ex-Alf Mil dos BCAÇ 506 e 512 (Guiné, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11570: Parabéns a você (575): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11578: In Memoriam (150): Henrique Rosa (1946-2013), ex-fur mil inf, Op Esp., CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Qubeo, 1969/71), e ex-presidente da República da Guiné-Bissau, interino (2003/05) (Francisco Barroqueiro / Manuel Amaro)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCAÇ 2614 (1969/71) > O fur mil ifn, op esp, Henrique Rosa, na margem esquerda  do Rio Corubal, nas proximidades de Aldeia Formosa.



Um homem, um empresário, um cidadão, um político que deixa saudades na Guiné-Bissau


Fotos: © Francisco Barroqueiro (2013). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de 15 de maio, do nosso leitor (e camarada) Francisco Barroqueiro, amigo do Facebook. vivendo em Castelo de Vide:


Henrique Pereira Rosa 1946-2013

Natural de Bafatá;
Residente em Bissau:
Cidadão Luso-Guineense:
Falecido hoje na cidade do Porto após doença prolongada.
Ex-fur mil,  CCa. 2614 / BCaç 2892, Guiné 1969-1971
Ex Presidente da República da Guiné Bissau.


Caro Luís,

De facto, assim foi, estivemos na Guiné, eu, tu e o Henrique Rosa que foi a pessoa mais marcante que conheci naquelas andanças.

A ideia é mesmo publicar a notícia no blogue. Poucos o conhecem mas é justo que a notícia chegue a alguns mais. Haveria muito a dizer, mas por manifesta incapacidade tenho que deixar isso para outros mais capazes. Se o Manuel Amaro aqui estivesse, daria uma ajuda. É só uma notícia pequena, para memória, num sítio digno e relevante como é "nosso" blogue.
Creio que a legenda da foto (um sítio lindo) e o texto marcado são suficientes para a edição. O restante texto é pessoal.

Um abraço.
Francisco Barroqueiro


2. Mensagem do nosso tabanqueiro Manuel Amaro (ex-fur mil enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971), em resposta a um pedido de esclarecimento meu, sobre o Henrique Rosa:

Meu Caro Luís Graça:

O Henrique Rosa, falecido no dia 15 de maio de 2013, no Hospital de S. João, no Porto, era um cidadão guineense, de origem portuguesa.

Foi Furriel Miliciano de Infantaria, com a especialidade de Operações Especiais,  da CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Nhala e Quebo, 1969/71).

Conheci-o em Évora, antes do embarque [do batalhão]. E aí começamos a construir uma relação de amizade, que se manteve ao longo de toda a comissão de serviço.

Era um jovem desportista, com uma cultura política e social muito acima da média, no nosso escalão etário. Gerador de consensos, coisa tão necessária, naquele tempo, tal como hoje.

Nas minhas memórias da “Tropa”, anotei os nomes de alguns cidadãos de excecional qualidade humana: Henrique Rosa, Zé Teixeira e José F. Boita, são os primeiros.

Terminado o serviço militar, o Henrique Rosa regressou à sua vida familiar e empresarial, na Guiné. Em 2003 os autores do golpe de Estado que derrubou Kumba Ialá, convidaram-no e ele aceitou, a desempenhar o cargo de Presidente da República, interino, no período de transição até às eleições de 2005.

Desempenhou esta missão, como todas as outras, ao longo da sua vida, com grande competência e dedicação. Em 2009 e 2012, contra a sua vontade, acedeu à vontade dos amigos e candidatou-se, mas não foi eleito.

Um problema grave de saúde, que tratava em Portugal, há vários meses, levou-lhe a vida, no dia 15 de maio de 2013. Um dia destes, o corpo de Henrique Rosa fará a última viagem entre Portugal e a Guiné Bissau.

Um Abraço

3. Comentário do editor:

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné apresenta à sua família, em Portugal e na Guiné-Bissau,   bem como aos seus antigos camaradas de batalhão sentidas condolência pela perda do homem bom, cidadão de referência e saudoso camarada que foi  o Henrique Rosa.

Infelizmente não temos ninguém, aqui na Tabanca Grande, a representar a CCAÇ 2614. Temos o Manuel Amaro, da CCAÇ 2615, que foi seu amigo, tendo esatdo juntos em Évora e depois em Aldeia Formosa. E podemos vir a ter o Francisco Barroqueiro se ele aceitar o nosso convite para formalizar a sua entrada nesta grande família bloguística que se reúne à sombra de um velho, mágico, frondoso, fraterno, solidário e protetor poilão, o da camaradagem criada e cimentada na Guiné, nos idos tempos de 1961 a 1974. (**)

A CCAÇ 2614 pertencia ao BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71), partiu para a Guiné em 22/10/1969 e regressou em 6/9/1971. Esteve em Nhala e Aldeia Formosa. Foi seu comandante o cap mil inf José Manuel Baptista Rosa Pinto.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 8 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11542: In Memoriam (149): Maio de 1973 - Guidaje - Campo da morte para os: 1.º Cabo Mil Bernardo Moreira Castro Neves e Soldado António Júlio Carvalho Redondo do BCAÇ 4512; Fur Mil Arnaldo Marques Bento e Soldado Lassana Calissa da CCAÇ 14 (Manuel Marinho)

(**) Em 12/8/2011, o Francisco Barroqueiro mandou-nos a seguinte mensagem:
"Caro Amigo: Só há minutos descobri o blogue. Incrível! Trabalho fantástico. Lá está o camarada Manuel Amaro,  da 2615. Bons tempos! Maus momentos. Ou nem tanto. Tenho uma encomenda para ele, será possível obter o contacto do professor? Um Abraço."

Guiné 63/74 - P11577: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (49): Respostas (nºs 105/106/107): João Ruivo Fernandes (CART 3494, Xime, dez 1972 / jan 1973; e depois, Nova Lamego, 1973/74), Juvenal Candeias (CCAÇ 3520, Cacine, Cameconde, Guileje, 1971/74); e José Figueiral (CCÇ 6, Bedanda, 1970/72)


Resposta nº 105; João Ruivo Fernandes  [ex-fur mil, de rendição individual, CART 3494, Xime, dez
1972 / jan 1973; e depois, Nova Lamego, 1973/74]

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Em Fevereiro de 2013.

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

 Através da Internet.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Desde 12 de Fevereiro de 2013

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Semanalmente.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Sim, vou enviar brevemente.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

 Sim, conheço.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Vou mais vezes ao Blogue.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

 As histórias que falam dos locais que me são familiares.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Não gosto nada de menos em especial.

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

Representa o manter viva a memória dos locais e tempos que passei na Guiné.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Ainda não participei em nenhum.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Já pensei nisso mas não conheço camaradas que estivessem comigo no Xime ou Nova Lamego.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Penso que sim, mas eu sou um novato.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

Devemos continuar a alimentar o Blogue.

Resposta nº 106 >  Juvenal Candeias
[ex-alf mil,  CCAÇ 3520, Estrelas do Sul, Cacine, Cameconde, Guileje, 1971/74]

Olá,  Luís!
Espero que estejas bem! Vamos lá vencer esta vergonhosa preguicite e, finalmente (já que não desistes!), responder ao teu questionário!



1) Descobri o blogue há cerca de 6 anos!

2) Uma cunhada terá ouvido falar da existência do blogue e, sabendo-me entusiasta das coisas e das gentes da Guiné, anotou e transmitiu-me o endereço.

3) Sou, há precisamente quatro anos, porque coincidiu com o meu 60º aniversário. [, desde 6 de maio de 2009]

4) Varia muito! Por vezes, várias vezes ao dia, outras vezes passo alguns dias, não muitos, sem por lá passar.

5) Tenho mandado alguma coisa, embora nos últimos tempos ande um pouco preguiçoso.

6) Claro que sim, e muitas vezes passo dela para o blogue.

7) Actualmente talvez.

8) Posso passar um dia no blogue a explorar sempre o mesmo tema! O facebook tem a vantagem de ires lá para qualquer outro assunto e acabares sempre na nossa página!

9) No blogue... gosto de tudo! Então? Não é um grande blogue? Verdade! O trabalho e esforço de todos que ali colaboram é demasiado bom para que me permita notar coisas menos boas! Quanto ao fb, ele não te dá para aprofundares os temas!

10) não tenho sentido essa dificuldade [, de acesso ao blogue].

11) O blogue permitiu-me, ao fim de muitos anos, escrever sobre coisas que ao longo dos anos tinha vindo a falar sobretudo com antigos camaradas e com os meus filhos, e sobre algumas de que nunca tinha falado e que estavam camufladas cá bem no fundo! Permitiu-me ainda recuperar antigas amizades e fazer outras com camaradas com quem nunca tinha falado! Enfim, permitiu-me viver e reviver Guiné! A página do facebook é, para mim, essencialmente uma via para o blogue!

12) Participei o ano passado.

13) Estive inscrito, mas a mudança de data caiu em cima de outro evento combinado há muito! Estou ainda a ver se consigo dar a volta para estar presente... e levar mais alguns!

14) Enquanto houver um ex-combatente da Guiné vivo... vai haver blogue!


Grande abraço Luís e vou ver se ainda consigo que nos encontremos no dia 8.
Enviado via iPad


Resposta nº 107 > José Figueiral [, ex-alf mil da CCÇ 6, Bedanda, 1970/72]


1) Suponho que em 2010.

2) Através de um camarada amigo.

3) Sim, desde 2010. [, membro da TG desde 8 de fevereiro de 2011]

4) Inicialmente,todos os dias. Agora, de tempos a tempos.

5) Os meus fracos conhecimentos de informática impedem-me de participar mais.

6) Sim e visito-a diariamente [, a nossa página no Facebook].

7) Ao facebook, diariamente e essa é a razão pela qual vou menos vezes ao Blogue.

8) O Blogue vale pelo imenso conteúdo nele existente.O Facebook é mais fácil de consultar, porque aparece diariamente.

9) Nada tenho a apontar.

10) Efectivamente, considero o acesso lento [, ao blogue].

11) O Blogue continuará a ser o livro aberto ou a Bíblia da Guiné. O Facebook é o jornal diário.
12) Não.

13) Não,mas participei e participarei sempre no Encontro Anual dos camaradas de Bedanda.

14) Continuar, sempre. Acabar,nunca. «Tudo vale a pena,se a alma não é pequena». Um abraço e o meu reconhecimento pelo vosso trabalho e dedicação.

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Guiné 63/74 - P11576: Agenda cultural (271): No dia 8 de Maio foi apresentada no Porto a edição fac-similada do livro "Tarrafo" de Armor Pires Mota (Carlos Vinhal)

No passado dia 8 de Maio foi apresentado no Porto o "Tarrafo", na versão fac-similada, talvez o mais famoso livro do grande escritor e primeiro repórter da guerra do ultramar, que dá pelo nome de Armor Pires Mota.

Fui encontrá-lo, ainda antes do início da sessão de apresentação do seu livro, no hall de entrada do edifício da Messe dos Oficiais do Porto, rodeado de alguns camaradas e amigos que lhe solicitavam o seu autógrafo nos livros que iam entretanto adquirindo.

Momento em que Armor Pires Mota dedicava o seu livro a um camarada de Unidade, tendo já em fila de espera os nossos tertulianos Marques Lopes (à esquerda), António Tavares (de costas) e o editor deste Blogue que estava por detrás da objectiva.

Abertas as portas do salão onde iria decorrer a sessão de apresentação, os lugares disponíveis foram ocupados na totalidade.

Deu início aos trabalhos o Coronel Manuel Barão da Cunha que fez uma retrospectiva das tertúlias sobre o "Fim do Império" que decorreram também fora da grande Lisboa. Na sequência desta iniciativa foram publicados vários livros, que o Coronel Barão da Cunha aproveitou para exibir aos presentes, que estão já no mercado livreiro à disposição de quem os quiser comprar.

Face ao êxito alcançado, estas tertúlias vão-se manter, com a expectativa de que a participação, principalmente a dos ex-combatentes, aumente de forma significativa. Vem a propósito deixar aqui a notícia de que nesta sessão de apresentação do livro do nosso camarada Armor Pires Mota foi batido o recorde de presenças no Porto, exactamente 50 pessoas.

Entretanto foi dada a palavra ao Dr. Barroso da Fonte, amigo pessoal de Armor Pires Mota, que iria fazer a apresentação de Tarrafo. Na nossa modesta opinião, não foi bem sucedido, talvez por estar um pouco adoentado e não ter preparado convenientemente a sua intervenção.

O Dr. Barroso da Fonte falando do autor do Tarrafo, seu amigo de longa data, realçando as suas qualidades de escritor e repórter de guerra. De destacar a presença, na Mesa, do Presidente da Liga dos Combatentes, General Chito Rodrigues, que se posicionou junto a Pires Mota.

No extremidade direita da Mesa, o Coronel Manuel Barão da Cunha, o grande impulsionador das tertúlias sobre o "Fim do Império".

Armor Pires Mota, autor das crónicas publicadas no Tarrafo, descreve a situação em que escrevia, as mesmas e como as mandava para a sua terra natal para serem publicadas no Jornal local.

A intervenção de Pires Mota foi de certa forma dramática, apesar dos anos volvidos, porque lembrou os momentos terríveis que as suas crónicas descrevem e as condições em que as escrevia. A terrível operação Tridente e outras situações, são narradas a quente, sem exageros ou disfarces e enviadas para a Metrópole para serem publicadas no Jornal da Bairrada. Estávamos em 1964. Mais tarde foram transformadas em livro que rapidamente foi retirado dos escaparates porque o regime não queria que os pormenores da guerra fossem do conhecimento público.
Ele, a sua família e os seus amigos, foram perseguidos pela PIDE até terem sido aprendidos todos os exemplares existentes. Armor confessa que deu todos os que tinha em seu poder, tal o medo de que foi apossado. Não queria que a família e os amigos pagassem a factura que iria ser pesada para todos. Milagrosamente escaparam alguns livros, graças a um amigo que os escondeu numa arca de cereais.

O General Chito Rodrigues fala de Armor Pires Mota, do "Tarrafo", da Guerra do Ultramar, da condição militar, dos ex-combatentes (afinal combatentes até aos fim dos seus dias) e do respeito que lhes é devido. O ponto mais alto da sessão.

Grande surpresa, quando o General Chito Rodrigues, tomando a palavra, fez aquilo que poderemos considerar a verdadeira apresentação de "Tarrafo". Exibindo um exemplar, "vítima" da censura, que retirou da Biblioteca da Liga, comparou-o com esta versão fac-similada, integral. Na sua opinião os dois livros devem serem lidos e comparados para se ter a verdadeira percepção da censura e da adulteração da obra original. Segundo Chito Rodrigues, além dos cortes, foram acrescentados ou alterados alguns parágrafos.

Leu partes do livro, nomeadamente as páginas 12 e 13, quando o Alf Mil Pires Mota tinha ainda pouco tempo de Guiné e mal entendia os naturais.

Para terminar, o General Chito Rodrigues dissertou sobre a condição militar, a guerra do ultramar e a condição de ex-combatente. Palavras apaixonadas e inflamadas que agradaram aos presentes, militares do QP e civis que temporariamente empunharam as armas ao serviço da Nação e agora estão botados ao esquecimento.

Deu por terminada a sessão o Coronel Barão da Cunha, que se despediu com um até breve. O Fim do Império há-de voltar ao Porto.

Já no hall de entrada, neste caso de saída, o editor do blogue trocou algumas palavras com o Coronel Barão da Cunha.

(Texto e fotos: Carlos Vinhal)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11558: Agenda cultural (270): Seminário: A Polícia Militar e o Direito Penal Militar no Estado de Excepção e de Guerra, dia 22 de Maio de 2013, pelas 09H00, na Academia Militar - Amadora (Coutinho e Lima / José Costa)

Guiné 63/74 - P11575: Op Lança Afiada (Setor L1, Bambadinca, 8 a 19 de Março de 1969): I Parte: Cerca de 1300 efetivos: 36 oficiais, 71 sargentos, 699 praças, 106 milícias e 379 carregadores

Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Ilustração de António Levezinho para a capa da História da CCAÇ 12 (1969/71).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005)

Foto nº 41 >



 Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 45 >  Reabastecimento de um heli, provavelmente por ocasião da Op Lança Afiada (8 a 19 de março de 1969). Durante semana e meia, Bambadinca foi um correpio de helis, T6 e DO-27.



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 42 >   A presença do ainda brig António de Spínola, que acompanhou pessoalmente a Op Lança Afiada.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 45 >  Invólucros de granadas de canhão s/r 82, usados pelo PAIGC na noite de 28 de maio de 1969, no ataque de 40 minutos a Bambadinca, menos de dois meses e meio depois da Op Lança Afiada. O PAIGC utilizou dois brugrupos e 3 canhões s/r, aém de morteiros, RPG, metralhadores ligeiras e pesadas, e armas automáticas de assalto. Fotos do álbum do José Carlos Lopes, fur mil reabast, CCS/BCAÇ 2852 (1968/70).


Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)
A. Iniciada em 8 de Março de 1969 com a duração de 11 dias, a Op Lança Afiada foi uma das grandes operações que se realizaram na época, ainda no início do consulado do brigadeiro António Spínola (1968-73), um mês depois da trágica retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios).

A Op Lança Afiada envolveu cerca de 1300 homens, entre militares, milícias e carregadores: 36 oficiais; 71 sargentos; 699 praças; 106 milícias; 379 carregadores Houve cerca de duas dúzias e meia de flagelações das NT por parte dos guerrilheiros, os quais no entanto se furtaram ao contacto direto.

As populações sob controlo do IN (balanats e beafadas) passaram, com alguma segurança, para o lado do rio Corubal, margem esquerda. Os fuzileiros não puderam ou quiseram participar nesta operação, que também não envolveu outras tropas especiais (comandos e páras). Foi, pois, uma operação só com tropa macaca, embora a nível de comando de agrupamento (nº 2957), sendo comandada pelo cor inf Hélio Felgas [1920-2008]. Quase um terço dos efectivos eram carregadores.

Pensava-se que em Mina, junto ao Rio Corubal, na margem  estaria sedeado o Comando do Sector 2, da estrutura político-militar do PAIGC. Pensava-se também que havia, na mata do Fiofioli, um grande hospital, com médicos e enfermeiras... cubanos!

Do ponto de vista militar, a operação foi, senão propriamente um fiasco, uma frustração para as NT. Em contrapartida, houve inúmeras evacuações (n=110) dos nossos combatentes, devido a problemas de desidratação, desnutrição, esgotamento físico e stresse psicológico... É interessante a análise do autor do relatório sobre os sucessos e os insucessos desta megaoperação de...limpeza.

Damos hoje início à publicação do relatório da Op Lança Afiada (Na I Série do nosso blogue já publicámos alguns excertos substanciaos). Tratando-se de uma fotocópia de um documento dactilografado e  policopiado a stencil, com data de 1970, há erros e omissões que eu procurei colmatar ou corrigir, sempre que possível. Também substituímos algumas abreviaturas para tornar o texto mais legível para os nossos leitores, os  paisanos ou os que não fizeram tropa nem estiveram na Guiné.

É importante esta operação no seu contexto. Estava-se então em plena época seca: o capinzal já não resiste às granadas incendiárias e as clareiras, abertas pelas queimadas na savana arbustiva, deixam entrever a imensa mole de vegetação tropical para além da qual fica tabanca di bandido, em florestas sombrias onde coabitam dginé & najoré, e que na algaraviada dos meus queridos fulas  (da CCAÇ 12) queria  dizer irãs, diabos, diabretes, duendes e toda a espécie de espíritos (bons e maus)…

O objectivo da operação é, como sempre, aniquilar, capturar ou, no mínimo, expulsar o IN, destruir todos os seus meios de vida e recuperar a população sob o seu controlo... (À força, se a dita população não quiser voltar a viver sob a nossa bandeira e a nossa soberania).

A ideia de manobra é simples: da Ponta do Inglês (antigo destacamento da CART 1746, evacaudo em 7/8 de outubro de 1968) à mata do Fiofioli, da estrada Mansambo-Xitole à Ponta Luís Dias (outrora um florescente entreposto comercial à beira rio) um enorme cilindro compressor irá empurrando tudo o que for balanta, beafada e bicho do mato para o Rio Corubal onde os esperam os pássaros de fogo dos tugas, os hipopótamos, os jacarés, as formigas carnívoras, os jagudis...

Oficialmente o dispositivo do IN na área compreendida entre a linha geral Xime-Xitole e a margem direita do Rio Gorubal foi desarticulado — um eufemismo, de resto, muito utilizado nos nossos relatórios militares para justificar resultados mais morais e psicológicos do que materiais em operações desta envergadura, e que quando muito só se realizam de dois em dois anos (Na verdade, não era todos os dias que nós podíamos, no TO da Guiné,  dar ao luxo de mobilizar o equivalente a um agrupamento, ou seja, 8 companhias, fora os carregadores civis).

Na prática, os roncos não foram espectaculares: para além de algumas toneladas de arroz destruídas e de umas tantas casas de mato ou cubatas queimadas, enfim, para além de alguns contactos com o IN, sempre à distância, “o que contou sobretudo foi termos penetrado em santuários do IN tão míticos como a mata do Fiofioli” (dizia-me um furriel da velhice com quem gostava de conversar do passado recente, em Contuboel, em junho de 1969).

B. Em Contuboel, verdinho que nem um periquito, fiquei a saber que o Fiofioli era um sítio tão temível para os tugas da Zona Leste como, noutros sectores, o Boé, o Cantanhez, o Morès, o Choquemone, o Caresse ou a ilha do Como.
— Afinal, nem hospital nem enfermeiras cubanas nem sequer o fantasma do Nino vestido à cowboy — comentava, entre irónico e desapontado, à mesa da lerpa, um outro furriel da velhice de Contuboel — Foi só por dizer que estivemos na mata do Fiofioli… Nem sequer fiz o gosto ao dedo!

O que eu na altura, pira,  pude concluir destas conversas entre velhinhos de barba rija, no meio de rodadas de cerveja e de uísque, é que depois do inferno de Madina do Boé (em 6 de fevereiro de 1969), a Lança Afiada teve um certo sabor a vitória para as NT.

0 que se passara, entretanto, é que, na impossibilidade de resistir abertamente à contrapenetração das NT, a guerrilha ensaiara algumas manobras de diversão pelo fogo, enquanto as populações sob o seu controlo, previamente alertadas, se metiam na arca de Noé (quiçá com alguma a bicharada do mato, os porcos, as galinhas, que puderam salvar), cambando o Rio Corubal e pondo-se a salvo na outra margem... Em suma a velha táctica do conhecido mestre escola chinês, Mao Tsé Tung: “dispersar quando o inimigo ataca, reagrupar quando o inimigo retira”…

Um mês depois, e quando os tugas voltavam a dormir de cu para o ar, preparando-se para hibernar nos seus campos fortificados durante a estação das chuvas, os diabos negros da floresta desencadeavam uma série de acções que culminariam no ataque em força, inesperado e espectacular, a Bambadinca, a sede do comando do setor L1 até então inviolável...

Foi a 28 de Maio de 1969, à noite, estávamos nós a chegar a Bissau. Quando passámos por Bambadinca, oito dias depois, a caminho de Contuboel, não se falava de outra coisa…
— Podíamos ter sido todos mortos ou apanhados à unha, tal era a bandalheira em que estava o quartel  — confidenciava-me o meu conterrâneo e amigo, o Agnelo Ferreira, 1º cabo telegraf inf da CCS.

Ao que parece, a tranquilidade era tanta que se faziam quartos de sentinela... sem armas! Era o que se dizia, nunca apurei a verdade... Ao que soube mais tarde (e confirmei na história da unidade), o comandante do batalhão (ten cor inf Pimentel Bastos), o major de op e inf  Viriato Amílcar Pires da Silva, o comdante da CCS (cap inf Eugénio Batista Neves)   e o comandante da CCAÇ 2405 (cap mil inf António Dias Lopes) serão, pouco tempo depois,  transferidos por ordem do Com-Chefe, "por motivos disciplinares". Era o tempo em que o ainda brigadeiro António de Spínola se tornou o terror dos comandos de batalhão. (LG)

Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969) - I parte

1. Situação: Inimigo



1.1. Desde há anos que a região da margem direita do Rio Corubal até à linha Xime-Xitole, é considerada uma zona de refúgio e preparação do IN [inimigo]. A profundidade continental da região, a sua espessa arborização (excepto na franja marginal do Rio), a falta de trilhos e caminhos, a grande distância a que ficam os aquartelamentos mais próximos (Xime, Mansambo e Xitole), tudo isto são características que convidam o IN a permanecer na Zona, em relativa tranquilidade.

O IN sabe que detecta facilmente qualquer tentativa de aproximação das nossas Forças Terrestres. Se a aproximação terrestre é difícil, a actuação das FN [Forças Navais] parece facilitada pela existência do Rio Corubal. E a tal ponto que, em estudo realizado por este Comando, a área da margem direita do Rio Corubal, desde a Ponta do Inglês a Cã Júlio, foi considerado uma área que devia ser batida pelas NT [Nossas Tropas] em operação conjunta de meios navais e helitransportados.

A deficiência destes meios contribuiu para o quase completo sossego em que o IN tem vivido na área, controlando uma população de balantas e beafadas que o alimenta e que se reputa numerosa. E determinou a realização da Op Lança Afiada com o emprego exclusivo de forças terrestres.


1.2. O reconhecimento aéreo e as poucas operações realizadas não dão uma ideia muito clara acerca do IN na região considerada. Admite-se no entanto que existam na região pelo menos 5 bigrupos e um grupo de artilharia.

As acções ofensivas do IN tem sido relativamente espaçadas e dirigidas contra o Xime, Mansambo e Xitole, além de emboscadas nas estradas Xime-Bambadinca e Mansambo-Xitole e de penetrações contra tabancas fiéis na direcção do [regulado do] Cossé e na área entre o Xitole e Saltinho.

Embora apresentando bom potencial de fogo (canhão s/r, mort 82 e 60, LGFog, etc.), o IN continua a mostrar uma execução deficiente. As reacções à actividade das NT não têm sido muito fortes. Mas os poucos trilhos de acesso estão normalmente armadilhados. O IN embosca por vezes as NT quando regressam a quartéis. Além disso tem tiro de Mort 82 preparados sobre os seus próprios acampamentos, executando-os quando as NT os ocupam. E as arrecadações de material e armamento encontram-se em geral afastados dos acampamentos.

De uma maneira geral podem considerar-se as seguintes áreas principais de concentração IN:

1 – Poindon;
2 - Baio-Buruntoni;
3 - Gã Garnes (Ponta do Inglês);
4 - Ponta Luís Dias (Calága) – Gã João;
5 - Mangai -Tubacuta;
6 - Madina Tenhegi;
7 - Fiofioli;
8 - Cancodeas;
9 – Mina – Gã Júlio;
10 – Galo Corubal – Satecuta;
11- Galoiel.


1.3 [Vd. cartas do Xime, Fulacunda e Xitole]

a) Área de Poindon:

Localização aproximada – (1500 1155 B2). RVIS efectuado em Novembro de 1968 revelou que toda a área se encontrava muito povoada tendo sido referenciadas mais de 15 casas de mato,  distribuídas por 2 núcleos. As bolanhas estavam cultivadas.

b) Área de Baio-Buruntoni:

Baio – Localização aproximada: (1500 1150 G7); deve ser uns dois a três km a Oeste. Chefe: Mário Mendes. Efectivo aproximado: 1 bigrupo dividido com Varela.

Burontoni – Localização aproximada: (1500 1150 G7) e (1455 1150 A 7). Efectivo aproximado: 100 homens: Armamento: MP, Mort 82 e 650, LGRFog.





c) Área de Gã Garnes (Ponta do Inglês):

Localização aproximada – (1500 11540 B5-5) com trilhos de acesso a Baio e à Ponta João da Silva. O itinerário a seguir quando se vem da Ponta do Inglês atravessa o Rio Buruntoni em (1500 1150 A2 -82). Efectivos e armamento: mais de 15 homens com Mort, LGFog, etc.




d) Área de Ponta Luís Dias – Gã João:

Ponta Luís Dias – Localização: (1505 11?3 F3 ou G2 G0-44). O itinerário mais fácil parece ser pela margem do Rio Corubal mas na época seca pode ir-se partindo de Gã Garnes. Efectivos: Cerca de 25 (?) elementos, armados de MP, ML, Mort 82 e 60, LGFog., etc. Consta talvez (?) 1 Canhão s/r em Ponta Luís Dias, apontando para o Corubal.

Gã João - Localização: (1505 1150 H5 ou I6 ou 13-55).Acessos idênticos ao acampamento de Ponta Luís Dias. Pode ficar à direita da picada Ponta Luís Dias – Ponta do Inglês sobre um trilho que parte desta. Foi localizado um grupo de casa em 1505 1150 G9-2.





e) Área de Mangai – Tubacuta:

Mangai – Localização: (1505 1145 G8). O acesso é mais fácil pela margem do Corubal. Por terra o acesso mais fácil parece ser por Madina Tenhegi (1500 1150 E2). Efectivos: 1 Gr Artilharia, parte em Tubacuta.

Tubacuta – Localização: (1500 1145 B9 B6 ? ), entre a tabanca e a Casa Gouveia, ao pé da bolanha. O acesso é mais fácil pela margem do Rio Corubal ou partir de Madina Tenhegi. Efectivos: mais de 100 homens com cubanos.

f) Área de Madina Tenhegi:

Não há referências sobre acampamentos IN.

g) Área de Fiofioli:

Localização: (1500 1145 E4 ou D5). Não são conhecidos os acessos à área. A mata do Fiofioli é muito [ densa ? ] e está praticamente cercada por bolanhas que o IN provavelmente baterá. Efectivos: talvez 1 bigrupo. Consta existir um hospital, com médicos cubanos.

h) Área de Cancodeas:

Cancodea Balanta – Localização: (1500 1145 E3). Efectivos: 50 homens armados.

Cancodea Beafada – Localização: (1500 1145 G2)




i) Área de Mina – Gã Júlio:

Mina – Localização: Em (1500 1145 h6 ou I6), na mata próxima da tabanca, dividida em dois núcleos, afastados cerca de 400 metros. Um núcleo é formado pelas instalações de pessoal e pelo posto de rádio. Parece ser aqui o comando do Sector 2 do IN. Consta haver uma enfermaria com cubanos. Há quem diga existir 200 elementos IN. Mas há quem diga serem poucos. A reacção à operação dos páras em 16 de Dezembro de 1968 foi nula. Em Novembro de 1968 foi indicada a existência de canhão s/r, 10 LGFog, 5 metralhadoras Degtyarev, 1 morteiro 60, etc.

Gã Júlio – Localização: (1500 1145 D4 ou E4). Não há outras indicações.


j) Área de Galo Corubal – Satecuta:

Galo Corubal – Localização (1455 1145 D4 ou E4), no fundo do palmar e a cerca de 300 m do Rio Corubal. O acesso tem sido feito pelo Norte do Rio Pulon desde a estrada Xitole-Mansambo, mas as NT têm-se perdido por vezes. O acesso, através do Rio Pulon, próximo da foz, por Seco Braima, pode ser efito na época seca. Efectivos e armamento: Considerados poucos, mas com MP, ML, Mort LGRFog.

Satecuta – Localização (1455 1145 D2 ou E2 ou F2), a oeste de Seco Braima. Acesso idêntic o ao de Galo Corubal. Em meados de 67, apresentava grande actividade IN. O acampamento foi detsruído em Maio de 68, baixando a actividade IN. Efectivos: ignoram-se mas parecem dispor de MP, ML, Mort LGRFog.



l) Área de Galoiel:

Localização (1455 1150 F1) próximo de Galoiel. Ataque das NT em 28 de Novembro de 1968 repelido pelo IN. Novo ataque em 23 de Dezembro não tendo o IN oferecido quase resistência. Efectivos entre 20 a 30 elementos, armados com LGRFog, Mort 82, ML, etc.


Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).



1.4. Admite-se que, sendo a Op Lança Afiada, uma operação demorada, o IN tenha possibilidade de reforçar os seus bigrupos, exercendo um esforço sobre este ou aquele dos nossos destacamentos. Admite-se também que quer as populações civis sob controlo In quer o próprio IN atravessem de noite o Rio Corubal, furtando-se assim ao contacto com as NT.


2. Missão:

- Atacar e destruir ou capturar o IN em toda a região da margem direita do Rio Corubal, entre este rio e a linha Xime-Xitole;

- Nomadizar na região procurando trilhos que serão imediatamente explorados;

- Capturar a população civil;

- Destruir todos os meios de vida encontrados e que não possam ser oportunamente transportados.


Carregadores do PAIGC. Fonte: Regiões Libertadas da Guiné (Bissau). Pequim: Edições em Línguas Estrangeiras. Agência de Notícias Xinhua. 1972.© Agência de Notícias Xinhua (1972).


3. Força executante

a. Comandante: Coronel Hélio Felgas.

b. Comandantes das sub-unidades:

[Vd. Caixa a seguir]



[Observações: O ten cor inf Pimentel Bastos era o cmdt do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70; Dest A: CART 2338: Não temos ninguém que a represente no blogue: é contemporânea da CART 2339, passou por Fá Mandinga, Nova Lamego, Buruntuma e Pirada, 1968/69; Dest B: CART 1746, Xime; Dest C: CART 1743, passou por Tite, Bissássema, Jabadá, Nova Sintra, Bissau, 1967/69; Dest D: CCAÇ 2403, passou por Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga,  Olossato, Mansabá, Bissau, 1968/70; era comandada pelo cap inf Hilário Peixeiro, nosso tabanqueiro] (LG)





[Observações: Agrupamento tático sul: Ten Cor Jaime Tavares Banazol; Dest F &gt: CART 2339 (Mansambo): um  dos oficiais listados é o nosso camarada Torcato Mendonça;  Dest G: CCAÇ 2405 (Galomaro): os dois alf mil referidos são membros da nossa Tabanca Grande: Paulo Raposo e Victor David.:Dest H: CART 2413 (Xitole); Dest I: CCAÇ 2406 (Saltinho).] (LG)



c. Meios



d. Organização

Foram constituídos 2 agrupamentps táticos, o do Norte e o do Sul, cada qual com 4 Dest. O Dest E reforçou sucessivamente os 2 Agerupamentos Táticos,

e. Alterações feitas à organização regulamentar

(1) Pessoal - [Omisso]
(2) Armamentio - Nada
(3) Equipamentp - Nada
(4) Munições - Nada
(5) Material especial distribuído - Potes fumo, redes mosquiteiras e pomada repelente, tudo contra ataques de abelhas. Sacos de linhagem para o arroz capturado.
(6) Material de transmissões - Utilizados  postos ANPRC (Ar-Terra), DHS (Terra-Terra e Ar-Terra), AVF ou AVP. OS postos ANGRC-9 com que se inicvou a Operação  froam recolhidos ao segundo u terceiro dia por inúteis.

(continua)


Fonte: Extratos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Cap II. 48-54. Classificação: Reservado  [Agradeço ao Humberto Reis ter-me também facultado uma cópia deste documento em formato.pdf e em papel]

______________

Nota do editor:

(*) I Série > poste de 15 de outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11574: Guiné-Bissau, manga di sabe (1): Vídeo: dança das crianças da Escola de Verificação Ambiental (EVA) de Djufunco, em chão felupe (José Teixeira)


Vídeo (3' 27''): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados. Alojado em You Tube > José Teixeira...

O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira regressou recentemente da Guiné-Bissau onde fez alguns vídeos que disponibiliza para visualização dos  visitantes do nosso blogue. No dia 12 mandou-me um mail: "Acabo de chegar. como sempre, venho apaixonado. Guiné-Bissau, sabe!!!". Desta vez, foi na companhia de outro nosso tabanqueiro, o Francisco Silva, cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra.  E aproveitou para visitar algumas das aldeias que têm beneficiado do trabalho solidário da Tabanca Pequena de Matosinhos e seus parceiros. (LG).


1. Reproduzido com a devida vénia do sítio Tabanca Pequena ONGD > Sementes e água potável > Djufunco

Na tabanca de Djufunco, em pleno chão felupe, junto ao oceano Atlântico e à entrada do rio Cacheu, a Tabanca Pequena ONGD e a Camara Municipal da Maia, de Portugal, decidiram dar um importante apoio às crianças e alunos da Escola de Verificação Ambiental [EVA] de Djufunco, para que passassem a dispor de água de boa qualidade e facilmente acessível.
A partir de agora, esta fonte vai permitir aos alunos beber boa água, fazer um viveiro de plantas frutícolas para plantar nas casas dos pais, criar um pomar de sombra na escola e melhorar a sua higiene e a da escola.

Esta escola foi há 1 ano vítima de um violento tornado, cujos ventos descobriram o telhado, estando agora em fase de reconstrução. A fonte de água serve assim de um forte estímulo a estas populações tão isoladas.
O Complexo de Ténis da Maia,  na pessoa do Prof. Nuno Carvalho e dos alunos Sandra Ribeiro e Pedro Barros, com o apoio da Câmara Municipal da Maia,  organizaram um Torneio de Ténis com objetivo de angariar fundos que foram canalizados para liquidar a construção deste poço e respetivo fontanário. Bem hajam amigos. Contamos convosco para futuras iniciativas.​​​


2. Além de Djufunco, no norte, as tabancas do sul, Amindara (500 habitantes), Medjo (740), Farim do Cantanhez (620) - em pleno antigo  carreiro da morte (ou corredor de Guileje) -  e Cautchinké (população numerosa, incluindo cerca de 100 crianças), são alguns dos aglomerados populacionais que já beneficiaram do projeto "Sementes e água potável" da Tabanca Pequena, com apoio técnico e logístico da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, de que é diretor executivo o nosso amigo Pepito.

Tabanca Pequena também está no Facebook, além de ter um blogue.

Guiné 63/74 - P11573: Em Mansoa, nem mezinha má nem picada de mosquito boa... Ou as nossas doenças em tempo de guerra (1): Um mosquiteiro barato para um pira (Magalhães Ribeiro)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > Abril de 1968 > Fase de construção do aquartelamento (que o PAIGC, através da rádio Libertação, em Conacri, chamava "campo fortificado de Mansambo")... Os alferes milicianos Cardoso e Rodrigues apanham banhos de luar... Mosquitos ? Rede mosquiteira ? Não há... Estamos na época seca...

Legenda do Carlos Marques dos Santos, o primeiro dos Viriatos a chegar ao nosso blogue, tendo depois trazido com ele o Torcato Mendonça: "A propósito!... Sabem onde foi tirada esta foto? Em Mansambo, a céu aberto. Camas de ferro nos fossos que iriam ser o aquartelamento fortificado de Mansambo. Data: Abril de 1968. A foto é do Henrique Cardoso, alferes da CART 2339 e seu comandante. Os 3 Capitães, que comandaram a Companhia anteriormente estiveram sempre doentes !!! Ele assumiu o comando. Era miliciano e responsável. Podes publicar, se quiseres. O Cardoso autorizará. Tenho o seu aval".

Foto: © Henrique Cardoso / Carlos Marques Santos (2005). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Os comentários ao poste P11556 (*), encorajaram-nos a abrir uma nova série sobre um  tema até aqui pouco abordado: a nossa experiência de doença em tempo de guerra...

Eu próprio comentei:

"Amigos e camaradas, ora cá está um bom tema para a gente discorrer, escrever, comentar, acrescentar, melhorar, aumentar, delirar... 

Temos falado pouco, muito pouco, nestes nove anos a blogar, da nossa experiência (pessoal, única mas transmissível...) de doença em tempo de guerra...  Como é que a gente lidava com os esquentamentos, os ataques de paludismo, as lesões cutâneas, as depressões, as diarreias, os problemas musculoesqueléticos... E, mais do que isso, como é que a gente viveu e sobreviveu nos hospitais militares (Bissau, Estrela/Campolide...), aqueles de nós que foram feridos gravemente em combate ou evacuados por doença grave (por ex., hepatite, tuberculose; felizmente ainda não havia o HIV/SIDA)

O meu primeiro ataque do paludismo, em Bambadinca, já no final da época das chuvas ou até mesmo no princípio da época seca (já não posso precisar, talvez no último trimestre de 1969), foi uma experiência brutal para mim... Um pesadelo. A imagem que ainda tenho é a do ciclo (curto) da temperatura do corpo que ia do muito baixo (abaixo dos 36!) ao muito alto (quase a roçar os 42!)... Pensei que morria...Sozinho, no meu quarto (que aliás não era só meu, era de mais 4 ou 5), com o meu amigo 'Pastilhas' (ex-fur mil enf João Carreira Martins, da CCAÇ 12, que se reformou como enfermeiro chefe do Hospital Curry Cabral e é hoje pai de 2 médicos) a vigiar-me de tempos e a medicar-me com doses de cavalo...

Como se tratava o paludismo, na época, não sei... Mas a sensação que tinha, era a de abandono, solidão, desespero... Ora ardia em febre, ora tiritava de frio, entrando em hipotermia... Um dia vou ter que transfiormar esta "descida ao inferno" em posia... Emfim, não sei quantas vezes tive paludismo na Guiné... E cá tive ressacas (ou recidivas, em linguagem médica), como muita malta... Por outro lado, trouxemos o fígado em mau estado, de tanto uísque, água da bolanha, gin tónico, cerveja, tintol, brancol e outras merdas que emborcávamos. (...)

Até ao séc. XIX dizia-se que "em Lisboa nem sangria má nem purga  boa", ou mesmo é dizer que as técnicas terapêuticas da época eram agressivas, invasivas, brutais e ineficazes... Chegava-se a sangrar um doente dez, vinte, trinta vezes... E quanto purgas, bom, "purgai-o e purgai-o e se morrer enterrai-o"... Parafraseando este dichote, podia dizer-se que, no nosso tempo, "em Mansoa, nem mezinha má nem picada de mosquito boa"... Em Mansoa, em Catió, em Cacine, em Bedanda, em Nova lamego, em Bissorã, e por aí fora... havia a crença de que a Guiné não era para brancos...

As principais doenças que afetam hoje a Guiné-Bissau não serão muito diferentes das do passado colonial, com exceção do HIV/SIDA: são o paludismo, a diarreia, as doenças respiratórias agudas, a tuberculose, as doenças sexualmente transmissíveis (incluindo o HIV/SIDA), as parasitoses intestinais, a oncocercose (ou "cegueira dos rios")  e outras endemias tropicais. Estávamos expostos a estas doenças, mas também tínhamos problemas de saúde específicos da nossa "condição militar", devidas à duras de condições de vida e às deficiências da alimentação e do abastecimento de água potável...
Fica aqui dado o mote para a elaboração, remessa  e publicação de postes sobre o paludismo [ou malária] e outras doenças que nos afetaram no TO da Guiné, a sua prevenção, profilaxia, tratamento... Recorde-se que algumas dava direito a evacuação imediata para a Metrópole: estou-me  a lembrar da Hepatite.

O pontapé de saída vai ser dado pelo nosso coeditor, Eduardo Magalhães Ribeiro: fomos recuperar um velho e delicioso texto seu,  da I Série do nosso blogue (**).


2. Um mosquiteiro barato para um pira
por Magalhães Riberio [, foto à esquerda, Mansoa, setembro de 1974]


Uma das características na Guiné é a variação bidiária da sua área total de território seco de 31 800 Km2 — devido à subida das águas do mar, nas marés altas —  para cerca de 28 000 Km2. Isto acontece devido a dois factos: a cota territorial média que é muito baixa e a existência de múltiplos rios.

Por isso, durante a maré baixa, ficam a descoberto, mais ou menos 3 800 km2 de zonas pantanosas que, localmente, se designa por “bolanhas”.

Ora, este é o habitat natural da mosquitada, que por ali prolifera aos milhões e se espalha por todo o lado em busca de alimento. Um dos seus “pratos” favoritos é o sangue humano.

Durante a Guerra do Ultramar as vítimas preferidas por estes parasitas incomodativos e asquerosos, eram sem dúvida os incautos periquitos ou piras (nome dado pelos tropa mais velha aos recém-chegados à Guiné).

Dizia a sabedoria destes velhinhos — talvez com alguma razão —  que os mosquitos eram atraídos, pelo tom de pele branquinha e/ou pelo sangue fresco e puro dos periquitos. E, acrescentavam mais:
— Do nosso sangue, envenenado e apanhado pelo clima como está, os mosquitos até fogem!.

Acredite-se ou não nesta teoria, a verdade, é que de cada vez que um pira se expunha à fúria daquela praga com asas,  ficava completamente crivado das picadelas.

Estas picadas,  além de dolorosas e irritantes,  eram temidas porque através delas se transmite ao ser humano, o paludismo, uma doença muito debilitante fisicamente e, consequentemente, muito perigosa.

Em Mansoa, quando entrei pela primeira vez na camarata verifiquei que nas cabeceiras das camas todos tinham, de maior ou menor tamanho, ventoínhas, e adaptadas nas armações das camas encontravam-se estruturas de tubos e verguinhas metálicas, com cerca de 0,75 metros de altura, todas revestidas até ao chão com redes de malha muito fininha.

O velhinho e meu grande amigo Furriel Ranger Marques, com a sua calma e longa experiência de vinte e muitos meses,  deu-me, então, uma lição sobre “Como dormir sem zumbidos nem picadas dos mosquitos na Guiné”, assim:

1º) Não se faz mal às osguinhas e salamandras que deslizam ali no tecto — estavam lá três de vários tamanhos —,   apesar do seu aspecto repelente elas são nossas amigas, e ajudam-nos a eliminar os mosquitos que, à noite, abundam e atacam muito mais, comendo-os;

2º ) O "aparelho de ar condicionado" está com problemas de falta de ar e foi para consertar para o continente há onze anos, pelo que, para dormir fresquinho só com as janelas todas abertas; mas em contrapartida os mosquitos entram e picam-te durante toda a noite;

3º ) Evitas os mosquitos e as respectivas picadelas, fechando todas as janelas e frinchas, mas ficas sujeito a morrer aqui abafado;

4º ) Pedes para ir a Bissau, compras o material (verguinha de aço, e rede ou tule) e constróis um mosquiteiro;

5º ) Como estou para ir embora, podes fazer como eu fiz quando cá cheguei, compras a um de nós o mosquiteiro e só pagas o material, com desconto e tudo; olha, o meu está bem conservado !?... Novo custou 570$00, mas devido ao uso e tal, vendo-to por 350$00.

Os mosquitos continuavam à minha volta a comer-me vivo! Que fazia [um gajo]  no meu lugar?...

Eu também fiz! Comprei logo!

RANGER Magalhães Ribeiro
Fur Mil
CCS/BCAÇ 4612/74
Guiné, Mansoa, 1974
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11556: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (3): Era do caraças o paludismo

(...) Comentário de José Brás:
Não me lembro exactamente quantas crises de paludismo sofri na Guiné nem de quantas recaí já civil. Lembro-me que a primeira me aterrou em febre/frio e dores de cabeça.  Na altura, deitado no meu catre que ficava no último edifício na parte mais alta do quartel de Aldeia Formosa, comecei a ouvir uns soldados a abrir latões de gasolina para chapas à porrada de martelo e o barulho rebentava-me a cabeça. A custo vim à porta pedir-lhes que fossem fazer aquilo para outro lugar e responderam-me que eram ordens superiores. Pouco me importavam tais ordens e avisei que não aguentava aquilo. Pararam um pouco, voltei à cama e ouvi recomeçarem. De novo me levantei, peguei na G3, meti um carregador e fui à porta pedir de novo mas já de canhota na mão. Disseram-me que seria melhor ir falar com o Alf PG e eu já nem pensei mais, culatra atrás e bala na câmara, um tiro pró ar. 'Tá bem, chamem lá o PG'... Foram embora e o PG veio ao meu quarto e percebeu tudo. Recaí duas vezes,  dramaticamente, já a voar na TAP, uma no hotel no Algarve e outra em Nova Iorque, assustando ingleses e americanos, mas isso fica, talvez, para uma próxima.  (...)

 (**) Vd. I Série, poste de 7 de dezembro de 2005 >  Guiné 63/74 - CCCXLVI [346]: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira... [Magalhães Ribeiro] 

Guiné 63/74 - P11572: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (48): Respostas (nºs 102/103/104) : Carlos Fraga (3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973); Francisco Palma (CCAV 2748, Canquelifá, 1970/72); e José Alberto PInto (CCS/BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74)

Resposta nº 102 > Carlos Fraga [, ex-alf mil, 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, em 1973, indo depois comandar uma companhia em Moçambique, a seguir ao 25 de abril de 1974].

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Há poucos meses (3 ou 4).

ápoucos meses
(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Através do nosso camarada Jorge Canhão.


(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

Sim, desde 16 de abril de 2013.


(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Diariamente.


(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

Tenho mandado.


(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

Sim.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Ao Blogue.

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

Tudo tem interesse mas o que gosto mais são a narrativa das experiências vividas e a análise das situações.  Aderi à página no Facebook há poucos dias. É cedo para me pronunciar. De qualquer forma não sou assíduo no Facebook. 

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Não há nada que goste menos

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Não.


(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

Penso que o Blogue é muito importante como forma de partilha de experiência no teatro de guerra que foi a Guiné e como reconstituição na 1.ª pessoa de experiências e situações que se viveram. Para além disso permite que os ex-combatentes se expressem e tragam a público muita coisa que, a não ser assim, não seriam conhecidas. Por mim falo. Não fora o Blogue e os meus slides e fotos da Guiné não passariam do álbum de família. Por último, creio que se está a construir a História e a fornecer material preciosos para investigadores que se debrucem sobre o que foi a guerra na Guiné.  Xii, escrevi muito, quase uma dissertação…

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Creio que me será difícil embora tivesse muito gosto em rever pessoas que não vejo há muitos anos como, por ex., o anfitrião ex-alf mil Joaqum Mexia Alves [, que esteve em Mansoa, na CCAÇ 15, em 1973].


(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

Creio que sim. Enquanto houver quem queira partilhar as experiências da Guiné e fazer História.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.


Resposta nº 103 > Francisco Palma [, ex-sol cond auto, CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72]

(1) Quando é que descobriste o blogue ?

R. Desde Setembro de 2007 que sou membro e Tabanqueiro [, 5 de novembro de 2007]

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

R. Soube através de outros camaradas ex- combatentes da Guiné

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ?

R: Sim,  sou membro da Tabanca Grande (tertulia) creio que desde 2007 ( salvo erro ou omissão)

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

R. Visito de tempos em tempos e sempre que preciso de consultar e ler os artigos expostos por camaradas combatentes .

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

R: Tenho mandado vários textos e fotos e pedidos de publicações de Convívios,

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

R: Sinceramente não a tenha consultado até esta data , talvez por falta de informação da sua existência.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

R: Vou mais vezes ao Bloque e á Tabanca Grande do que ao Facebook.


(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

R: Gosto de ler os relatos de vivências de guerra narrados no bloque , que acho alguns interessantes, quando simples sem demasiada literatura "oca" .

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

R. Não aprecio algumas narrativas demasiado extensas, histórias pessoais, que não mexem com os combatentes, e que talvez contivessem matéria para compor um Livro, Não gosto de não poder aceder directamente ao bloque e publicar as minhas narrativas , sem passarem, pela apreciação dos co-editores. Acho demasiado usadas/repetidas as narrativas alongadas dos acontecimentos de Guileje, Gadamael. Haverá mais sitios com tão graves acontecimentos~. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

R. Nota-se com frequencia uma enorme lentidão nos CPU a 100% dos PC na abertura da pagina do Bloque. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

R: O bloque representa sempre um arquivo das memórias e vivências passadas no TO da Guiné.embora o julgue ultrapassado em certa medida pela constante aparição de vários (demasiados) Grupos e outras Associações de Combatentes .no FaceBook, repito não tenho consultado o Blogue no FaceBook.

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

R: Até hoje ainda não participei.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real ?

R: Não está nos meus planos comparecer, este ano, no encontro em Monte Real. que acho um optimo local para o evento.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

R: Penso que tem força para continuar ,o fôlego tem que ser dado com inovações a curto prazo ou seja adaptado com actualizações, face á "concorrência" dos Grupos e Associações atrás referidas-publicadas no Facebook e de facil participação e "desabafo" abertos a todos os combatentes, neste caso seria exclusivo aos da Guiné.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.

R: Creio que nas varias respostas acima já indiquei algumas críticas a serem tomadas em conta , para além do reforço de que deve haver maior facilidade de acesso ao blogue. nem que se tenha de atribuir uma "password" de segurança e privacidade, por parte dos membros, deste blogue. Reduzir um pouco as Histórias pretençamente intelectuais , mas de rara cultura , por vezes aqui publicadas, sempre pelos "mesmos escritores ".

Melhores cumprimentos fico ao dispor no caso de qualquer assunto menos bem entendido , já que as respostas foram dados com pouco tempov de analise ás mesmas .


Resposta nº 104 > José Alberto Pinto (foto do lado esquerdo), que foi 1º Cabo Escriturário na CCS do BCAV 8320, Bula e Cumeré, 1971/74.


Quero manifestar o meu agradecimento, por tudo o que tenho tido oportunidade de recordar, os meus agradecimentos aos promotores, com votos de muita saúde, para todos!!! Continuem!!!

Abraços, José Pinto. [, Membro da Tabanca Grande, desde 16 de junho de 2012]

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Nota do editor: