quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12227: Efemérides (144): A minha chegada à Guiné - 28 de Outubro de 1968, já lá vão 45 anos (Carlos Pinheiro)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 28 de Outubro de 2013:


Já lá vão 45 anos

A minha chegada à Guiné - 28 de Outubro de 1968

Ainda de manhã, já perto da costa africana, a cor das águas deixou o azul do mar alto e uma certa cor acastanhada começou a acentuar-se. Estávamos no quinto dia de viagem e fartíssimos do UÍGE devido à falta de condições das camaratas improvisadas nos porões nauseabundos. As refeições tinham sido razoáveis e o tempo bastante bom para um Outono do hemisfério norte.

Almoçámos naquela sala de jantar de estibordo a bombordo, já tínhamos o saco pronto e fechado, bem fardados, dentro do possível, ansiosos por ver e sentir aquilo que nos esperava.

Cerca das três da tarde começámos a vislumbrar Bissau e uma ilha à sua frente. Passado pouco tempo o UÍGE lançou ferro e ali ficou fundeado frente a Bissau. Num instante, foi rodeado de barcos e barquinhos e toda a gente a subir pelas escadas que o barco lançou.

NM Uíge - Foto: Navios no Sapo, com a devida vénia

Começou o desembarque passado pouco tempo. A unidade maior, o BCAÇ 2856, penso que terá embarcado directamente numa LDG, ou talvez duas LDM. O resto da rapaziada foi descendo as escadas e embarcado naquelas barcaças que nos levavam à Ponte Cais onde estavam muitas viaturas GMC - vim a saber que eram da Companhia de Transportes - que depois nos levaram para várias unidades, mas a maioria para aquele hotel fantástico que eram os Adidos.

Já era noite quando chegámos a Brá. Ali fomos logo cercados por vários “velhotes” que nos impingiram as suas histórias, muitas delas possivelmente verdadeiras e outras talvez nem por isso. O jantar foi inimaginável. Cantina para ajudar a distrair a “malvada”, nem sabíamos onde era e quando a descobrimos já estava fechada.

Camas, claro que também não havia. Cada um desenrascou-se como pôde. Foi uma noite fantástica para a mosquitada. Sangue fresco com fartura. De manhã tudo picado sem saber o que fazer. Organização por aqueles sítios não era sentida.

Foram assim, mais ou menos, as primeiras horas da Guiné.

Carlos Pinheiro
28.10.2013
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12052: Efemérides (143): Passados 41 anos o reencontro com o camarada d’armas Eduardo Ferreira do 1º Pelotão da CART 3494 (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P12226: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (3): A minha primeira viagem em 1998 - A descoberta da nova realidade

1. Terceiro episódio da série do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72), dedicada às suas viagens de saudade à Guiné-Bissau, a primeira efectuada em 1998.




CRÓNICAS DAS MINHAS VIAGENS À GUINÉ-BISSAU


A PRIMEIRA VIAGEM - 1998

3 – Acompanhem-me na descoberta da nova realidade, porventura imaginada, entre Bissau e Bafatá.

Bem cedo, porque tínhamos pela frente uma viagem de 150 quilómetros até Geba, a cerca de 10 quilómetros de Bafatá, e ainda era preciso trocar escudos por francos CFA, descemos ao piso térreo do Hotti Bissau para o pequeno-almoço. De seguida, à porta do hotel, fomos receber o jipe que havíamos contratado. Para meu espanto, aparece-nos uma Pick-Up que sabia ser muito incómoda e sem o ar condicionado exigido. Recusei com veemência a viatura, exibindo cópia do fax em que constava o que tínhamos acordado. Após alguma discussão e, com a ajuda de Candé, o nosso condutor, guia e segurança, conseguimos que nos entregassem um jipe Nissan Patrol, praticamente novo e todo artilhado de cromados, imagem a condizer com o estatuto que o seu proprietário aparentava. Fomos até ao mercado, zona comercial no centro da cidade de Bissau.

Aqui adquirimos os necessários Francos CFA e percebi que as viaturas eram a imagem da ostentação na cidade. Neste percurso, tivemos que passar junto do mercado de Bandim. Era uma imensa confusão de viaturas misturadas com pessoas. Ultrapassagens sem regras, buzinadelas constantes e nas bermas de tudo se vendia. Plásticos, calçado, roupas, mobílias, frutas, etc. etc. etc.
A caminho do centro da cidade, fui registando imagens de abandono e degradação de vivendas, edifícios e estabelecimentos comerciais. O que não tinha utilidade para a vida possível, foi definhando ao longo dos anos. As necessidades agora eram outras.

Partimos para Bafatá. Estava previsto chegarmos ao Club Capé a tempo do almoço que nos esperava. A estrada era alcatroada mas, em muitos troços, era um verdadeiro calvário de cavernas, o que obrigava a circular pelas bermas por ser o mal menor. Enquanto se ouvia música guineense e notícias no rádio do jipe, a imagem mais marcante em muitos quilómetros deste trajecto, para além das tabancas, das bolanhas e cursos de água, eram as verdadeiras florestas de cajueiros. O sol a pique, um calor abrasador que o ar condicionado tornava suportável, especialmente para as senhoras, e uma vegetação que lutava contra a secura, compunham a paisagem que desfilava perante o nosso olhar. Já próximos de Bafatá, a rádio anunciava a decisão do Presidente Nino Vieira de demitir Ansumane Mané da chefia do Estado Maior por alegada venda de armas aos guerrilheiros de Casamanse.

De Bafatá e até ao Club Capé, aldeamento turístico em que iríamos ficar alojados durante três noites, o trajecto era efectuado em picada, a espaços bastante maltratada. Chegamos tarde, cerca das quinze horas para almoçar e muito cansados pela dura viagem. Após um delicioso e retemperador banho, foi-nos servida uma deliciosa refeição de bife de gazela acompanhada da “nossa” indispensável Superbock bem fresquinha. Esta unidade turística era composta por quartos bungalow inseridos num belo jardim, com vários mangueiros e com os seus frutos ali bem à nossa mão. Num bungalow central ficavam a sala de estar, de jogos e a sala de jantar. Uma bonita e bem cuidada piscina completava o equipamento. Um pequeno paraíso na Guiné. Após a refeição, o “nosso” Candé iria regressar a Bissau. Ajudou-nos a resolver o problema do jipe, fez baixar as cordas das ”fronteiras” que fomos passando e transmitiu-nos um grande sentimento de segurança.

Saciado o apetite e relaxados do corpo, surgiu o espaço e o tempo para os primeiros comentários sobre as aventuras até aí vividas. Para o meu irmão e esposa que já tinham estado no Senegal dois anos antes, o que mais salientaram, pela negativa, foi a pobreza das infra-estruturas patente nas cidades de Bissau e Bafatá. Para a minha esposa, tudo era estranho. Desde a elevadíssima temperatura, à hora em que almoçámos, até à paisagem, que ela jamais imaginara. Para ela, o mundo era a imagem da terra que a viu crescer e eu não esperava outra reacção. Até esse momento fui “bebendo” todos os sinais que tocavam os meus sentidos. Sentia uma enorme alegria interior. Há momentos na vida para os quais não se encontra explicação razoável. Eu estava a viver um desses momentos. Passámos o resto da tarde confortavelmente instalados nas espreguiçadeiras da piscina. Ao jantar, junto à piscina, foi-nos servido um grelhado de caça, que incluía porco de mato e rolas. As senhoras estranharam o paladar da carne de caça. Olhando o horizonte, afastado das luzes, contemplei aquela noite tão escura, tão escura. Até isso ficou gravado.

Amanhã será um dia muito especial. Irei visitar o “meu” quartel, as tabancas e a “minha gente”. Carrego no peito o desejo incontido de abraçar a população do Xitole e, tentar encontrar alguém que tenha partilhado comigo aquela fase da minha vida. Este desejo esteve aprisionado anos demais e iria finalmente ser solto. Quantos de nós não sufocam perante a impossibilidade de o fazerem.

Fomos dormir. Amanhã será o dia de todas as emoções. Até me assusta o que me espera.

(Continua)

Negociando a troca da viatura

Na cidade, para trocar moeda

A caminho de Bafatá

Picada entre Bafatá e o Hotel Capé

Já próximo do Capé, paragem para recolher e saborear Caju

Fim de tarde, na piscina do Capé

Clube Capé, arredores de Bafatá

Avenida principal de Bafatá

Este filme mostra os momentos da partida do aeroporto de Sá Carneiro, as primeiras impressões de Bissau e a ida até Bafatá
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12195: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (2): A minha primeira viagem em 1998

Guiné 63/74 - P12225: Agenda cultural (293): Estreia do filme da jovem realizadora portuguesa Catarina Laranjeiro, "Pavia de Ahos", sobre memórias guineenses da guerra de libertação / guerra colonial. Doclisboa'13, hoje, 5ª feira, 31/10/2013, 17h00, Cinema São Jorge, Sala 3


Fotograma do filme "Pavia de Ahos", da jovem realizadora portuguesa Catarina Laranjeiro, que estreia hoje, no Doclisboa'13, 11º Festival Internacional de Cinema.


1. Pavia de Ahos / Because of Today
Realizadora: Catarina Laranjeiro
Duração: 57'
País: Portugal
Ano: 2013

Secção: Verdes Anos (*)

Sinopse:

Na Guiné-Bissau, quarenta anos depois da guerra, aqueles que aderiram ao movimento de libertação e aqueles que lutaram no exército colonial põem em cena uma multiplicidade de discursos e memórias irreconciliáveis.

A realizadora irá estar presente na sessão de 31 de Outubro.

31 de Outubro de 2013, 5ª feira, 17:00
Cinema São Jorge, Sala 3



2. Mensagem enviada por Catarina Laranjeiro, com data de  23/01/2013

Chamo-me Catarina Laranjeiro e atualmente estou a frequentar o mestrado de Antropologia Visual e dos Media [, na Universidade Livre de Berlim]. A minha tese de mestrado focará artefactos visuais (fotografias e outros) que antigos
combatentes da guerra de libertação na Guiné, sejam do PAICG, ou do exército português,  ainda conservem, explorando a representação que têm hoje desse período histórico.

Desta forma, a minha proposta de investigação é sobre fotografias de guerra/luta. Sobre fotografias que antigos combatentes e guerrilheiros guardam da guerra/luta e sobre as histórias que as fotografias congelam e transportam. Sobre o que as fotografias revelam e sobre o que escondem. E sobre como foram conservadas ou negligenciadas até aos dias de hoje.

Assim, para além da construção de um arquivo iconográfico e de uma pesquisa histórica sobre estas fotografias, proponho-me também a registar que memórias transportam e que histórias contam, consolidando-as num filme etnográfico.

Esta investigação já está a ser realizada em Portugal onde com relativa facilidade tenho encontrado antigos combatentes e antigos comandos africanos com muitas fotografias para mostrar e muitas
histórias para contar.

De qualquer forma, e tendo em visto o imenso trabalho que tem sido feito através do blog, gostaria de saber se têm alguns conselhos para mim ao nível da pesquisa histórica, pessoas que me indique que possam ter fotografias importantes e que gostariam de participar no meu trabalho.

Muito obrigada pela sua atenção.


3. Sobre a realizadora, Catarina Laranjeiro [, foto  à esquerda, retirada com a devida vénia do blogue Novos Talentos de Guimarães; dados recolhidos na Net]

(i) Nasceu em Guimarães, em 1983, vindo para Lisboa aos 18 anos;

(ii) Licenciada em Psicologia Social pelo ISCTE - IUL;

(ii) Mestre  em Antropologia Visual e dos Media,  pela Universidade Livre de Berlim.;

(iii) Atualmente é doutoranda em Pós-Colonialismo e Cidadania Global, pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra;

(iv) Trabalhou em diferentes Associações de Imigrantes em Portugal e em Educação para o Desenvolvimento na Guiné-Bissau;

(v)  Desde 2010, dedica-se a projetos de investigação e criação que cruzem o cinema e a antropologia.

4. Comentário de L.G.:

Catarina: Obrigado pelo convite e pelo lembrete. Mas por azar, hoje, à hora de estreia do seu filme, estou a dar aulas!... Vou, entretanto, e com muito gosto, divulgar o evento, na nossa série Agenda Cultural (**).  Terei depois oportunidade de ver o  filme em DVD e falar dele, com mais detalhe no nosso blogue.

Desejo-lhe boa sessão, e boa sorte para o filme. Convido os nossos leitores a darem um salto ao São Jorge, hoje, às 17h00, para ver o seu filme, conhecê-la pessoalmente e trocar algumas imoressões consigo.

Ainda há dias, no passado dia 27, vi lá um notável filme, do realizador português Mário Patrocínio, "I Love Kuduro", de produção angolana [Vd. aqui o sítio oficial].  Gostei imenso. Temos hoje gente jovem, muito talentosa, a fazer grande cinema documental. 

Parabéns, Catarina. Espero, enfim, que o nosso blogue lhe tenha dado também ideias, pistas e sugestões interessantes para a feitura do seu filme, cumprindo também a sua missão de ser uma fonte de informação e conhecimento, nomeadamente das pessoas da sua geração que já viveram, felizmente, o drama da guerra colonial.  Afinal, temos em comum, entre outras coisas, o gosto pelo trabalho de (e sobre) a memória da guerra e dos seus combatentes. Boa saúde, bom trabalho. Boa continuação do seu doutoramento. LG

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Notas do editor:

(*) A secção Verdes Anos apresenta filmes produzidos no contexto de escolas de vídeo, cinema, audiovisuais e comunicação, bem como em cursos de pós-graduação relacionados com o cinema e em particular o cinema documental.
Verdes Anos procura sobretudo abrir uma plataforma de diálogo e reflexão em torno dos filmes produzidos bem como do ensino destas áreas. Pretende-se dar a oportunidade aos jovens realizadores ainda em contexto de formação de mostrarem o seu trabalho a um público alargado facilitando, com isso, a sua entrada futura para o contexto profissional, bem como o seu enriquecimento enquanto realizadores.

Guiné 63/74 - P12224: Facebook...ando (30): Memórias de Binar, 1969, e do capelão Augusto Baptista (João Diogo da Silva Cardoso, ex-fur mil, CCAÇ 2404, Teixeira Pinto, Binar e Mansambo, 1968/70)






Guiné > Região de Cacheu > Binar > CCAÇ 2404 (1968/70) > "Penso - diz o João Diogo - que o padre que está a celebrar é capelão Augusto Pereira Batista".



Guiné > Região de Cacheu > Binar > CCAÇ 2404 (1968/70) > O fur mil João Diogo da Silva Cardoso em Binar, em 1969, com o fur mil Fernando Manuel.  Foto que consta da sua página no Facebook.

Fotos: © João Diogo Silva Cardoso (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

1. O João Diogo da Silva Cardoso é um camarada nosso, nascido em 25 de Fevereiro de 1945, no Funchal, embora com raízes em Porto Santo. Em 1969 estava em Binar, na CCAÇ 2404 / BCAÇ 2852, e eu devo tê-lo conhecido... em Mansambo, entre novembro de 1969 e maio de 1970.

Publicou duas fotos no Facebook da Tabanca Grande, com a celebração de uma missa campal, em Binar, em 1969. Diz ele que o celebrante era o capelão Augusto Baptista... que entrou recentemente para a nossa Tabanca Grande (sob o nº 631).

A CCAÇ 2404 foi mobilizada pelo RI 2, partiu para o TO da Guiné em 24/7/1968 e regressou a 16/6/1970. Pertencia ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), da qual a minha companhia, a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (1969/71) foi subunidade de intervenção, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970. 

A CCAÇ 2404 esteve em Teixeira Pinto, Binar e Mansambo. E aqui, no subsetor de Mansambo, Setor L1, Zona Leste,  fez operações com a minha CCAÇ 12... Era também a CCAÇ 12 que fazia a segurança à colunas logísticas para Mansambo, Xitole e Saltinho.

A CCAÇ 2404 teve nada mais nada menos do que 6 comandantes de companhia, dos quais eu conheci pelo menos o penúltimo, o cap inf Eugénio Baptista Neves, anteriormente comandante da CCS/BCAÇ 2852. 

No nosso blogue tinha até agora 7 referências à CCAÇ 2404. Num dos postes escreve-se:

(...) A  CCAÇ 2404/BCAÇ 2852 substitui a CART 2339 (Mansambo) entre Novembro de 1969 e Maio de 1970... Foi, por sua vez, rendida pela CART 2714 ("Bravos e Leais"), pertencente ao BART 2917 (1970/1972). 

Confirma-se, por outro lado, a transferência do Cap Inf Eugénio Batista Neves, "por motivos disciplinares", em Agosto de 1969, para a CCAÇ 2404 / BCAÇ 2852 que comandou até Fevereiro de 1970... A CCAÇ 2404 foi transferida para Mansambo em Novembro de 1969. (...)

2. Comentário de L.G.:

Pela consulta da HU do BCAÇ 28252 (Bambadinca, 1968/70, Cap I, pág 7), constato que o João Diogo da Silva Cardoso era fur mil ap armas pesadas inf, com o nº mecanográfico 07140466. Na lista do pessoal da CCAÇ 2404, aparece como comandante da secção de morteiro...

Por seu turno, o seu amigo Fernando Manuel M. da Silva (/que aparece na foto em cima) era tambémn furriel milciano, mas atirador de infantaria, comandando uma secção.

Como vês, camarada Cardoso, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. És nosso amigo no Facebook [, foto à esquerda], mas isso não chega. Quero que te juntes a este "batalhão" (somos já 631) que se sentam sob o poilão da Tabanca Grande, ou seja, do blogue que tem 10 regras, simples, de convívência, com as quais por certo estarás de acordo...

Contrariamente ao que se passa no Facebook aqui há... menos "liberdade de expressão"... É um blogue de "partilha de memórias e de afectos", à volta da guerra colonial na Guiné (1961/74) onde em princípio não entra a nossa  atualidade (política)...Podes ler essas regras aqui.

Há algumas coincidências curiosas entre mim e ti: (i) éramos ambos de armas pesadas de infantaria; (ii) tínhamos o mesmo posto: (iii) estivemos juntos, algumas vezes, em Mansambo e em Bambadinca; e (iv) possivelmente também te puseram uma G3 nas mãos, em vez do morteiro 81 (, no meu caso, foi isso que me aconteceu, não tínhamos aquartelamento, não éramos undiade de quadrícula, logo não tínhamos armas pesadas)...

Devo acrescentar que  a CCAÇ 12 (, uma companhia africana, independente, de intervenção), também tinha um furriel miliciano, atirador de infantaria, da tua terra, Funchal, o José Luís Vieira de Sousa, hoje mediador de seguros, com escritório aí na baixa do Funchal, na centralíssima Rua do Bispo... Estivemos na casa dele (ou dos pais), na Rua do Comboio, em março de 1971, quando regressámos da Guiné e o N/M Uíge parou uma tarde no Funchal. Fomos recebidos principescamente,  de braços abertos pela família, numerosa. Com muita alegria e muita música.  Recordo-me que ele tinha diversas manas. Depois disso,  já nos encontrámos mais vezes.

Temos diversos representantes do teu batalhão, o BCAÇ 2852,  no nosso blogue, en especial da CCS e da CCAÇ 2405, mas ninguém da tua CCAÇ 2404. Espero que tu aceites ser o primeiro. Temos muito que falar. Escreve-nos para o nosso endereço de email: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com.

PS - O capelão Augusto Baptista vai adorar ver as tuas fotos! Como sabes, entre fevereiro de 1969 e dezembro de 1970 ele foi alf mil capelão do BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70). E foi nessa circunstãncia que ele deve ter ido dizer missa a Binar.

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12223: In Memoriam (165): Sargento-Chefe na Reforma Fernando dos Santos Rodrigues (1933-2013), ex-2.º Sargento "Gato Preto" (José Martins / Arménio Estorninho)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de hoje, 30 de Outubro de 2013:


IN MEMORIAM

O “GATO PRETO" SARGENTO RODRIGUES DEIXOU-NOS ONTEM!

Fernando dos Santos Rodrigues era Sargento-Chefe, na reforma

No “Clube Militar de Canjadude”, com o Sargento Rodrigues, na foto, à direita 
©Foto: Do arquivo de José Martins

Apesar de começar a ser recorrente, nunca estamos preparados para receber tais notícias.

Depois de ter estado com o Rodrigues em Canjadude, voltei a encontrar-me com ele em Lagoa, numa deslocação ao Algarve há mais de 15 anos, estava ele no seu hobby preferido: confecção e pintura de louça regional algarvia.

O último contacto que tive com ele, foi através do telemóvel do Estorninho, quando se encontravam em “amena cavaqueira” e o Rodrigues falou no Martins, o que originou uma imediata chamada telefónica vinda de Lagoa. Foi o último contacto.

Pelo que fizeste ao serviço da Pátria, servindo o Exército em África e na Índia, bem mereces o “repouso do guerreiro”. Um soldado não morre. Ou tomba no Campo da Honra, ou é mandado apresentar no Batalhão Celeste.

Foi o que aconteceu. Até sempre CAMARIGO.


Fernando dos Santos Rodrigues

2.º Sargento de Infantaria, número mecanográfico 50151111, natural de Lagoa, prestava serviço no Regimento de Infantaria 4 quando foi mobilizado.

Foi aumentado ao efectivo da Companhia em 20 de Junho de 1969, assumindo as funções de Encarregado do Material de Aquartelamento e de Guerra, assim como a responsabilidade dos serviços de secretaria na ausência do 1.º Sargento.

Foi louvado pelo Comandante de Companhia em Ordem de Serviço n.º 17 datada de 21 de Março de 1970, “porque prestando serviço na Companhia há nove meses tem desenvolvido um trabalho excepcional na sentido da regularização de todas as cargas de material da companhia, graças à sua competência, honestidade, qualidades de trabalho e sentido do dever. Muito disciplinado e disciplinador, metódico e com apurado sentido de organização, respondeu ainda pela companhia na ausência do 1.º Sargento, com tal eficiência e sem prejuízo dos serviços do antecedente a seu cargo. Mercê das suas extraordinárias qualidades pessoais e profissionais, soube o 2.º Sargento RODRIGUES granjear a estima e consideração de inferiores, camaradas e superiores, pelo que os serviços prestados à Companhia são considerados excepcionais e de muito valor. O Comando da Companhia considera-o pois como o seu mais precioso auxiliar administrativo, pelo que o aponta como exemplo a seguir”.

O referido louvor foi considerado como tendo sido conferido pelo Comandante do Batalhão de Caçadores 2893, sendo publicado em Ordem de Serviço n.º 76 datada de 31 de Julho de 1970, e transcrito na Ordem de Serviço n.º 20 datada de 9 de Abril de 1970 da CCaç 5.

Foi abatido ao efectivo da Unidade em 4 de Junho de 1970 por ter sido transferido para o Centro de Instrução Militar / CTIG.

A notícia da sua morte chegou, via telefone, através do nosso camarigo Arménio Estorninho (foto à direita), que foi nosso contemporâneo na Guiné, e que sempre privou com o nosso camarada e amigo, que agora partiu.

José Martins
30/10/2013

OBS: -
Informação complementar do camarada Arménio, refere que o Sargento-Chefe Rodrigues estará em Câmara Ardente a partir de amanhã de manhã na Igreja da Misericórdia de Lagoa-Algarve, estando previsto o seu funeral para a manhã de sexta-feira, dia 1.

Em nome dos editores e da tertúlia deste Blogue, endereço à família enlutada os nossos sentidos pêsames.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12194: In Memoriam (164): Faleceu o Jerónimo Jesus da Silva, o "rebenta-minas", sold condutor auto da CART 2519 (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71) (Mário Pinto)

Guiné 63/74 - P12222: Estórias cabralianas (81): Em Vendas Novas, de ronda, na Tasca das Peidocas (Jorge Cabral)

1. Estórias cabralianas (81) > De ronda, na Tasca das Peidocas

por Jorge Cabral

[, foto à esquerda, em Sobreiro, Mafra, 1968,   ainda cadete, num jantar comemorativo do fim da recruta, na EPI- Escola Prática de Infantaria] (*)

Em Janeiro de 1969, eis-me garboso aspirante na E.P.A. [Escola Prática de Artilharia], em Vendas Novas.

Ao contrário dos outros aspirantes, encarregados da instrução no C.S.M. [, Curso de Sargentos Milicianos], eu fui colocado na Secção de Justiça e na Acção Psicológica, sendo ainda nomeado árbitro de andebol da Região Militar.

Tantas eram as tarefas que não fazia nada... Quando me calhava em escala, era oficial de piquete ou oficial de ronda.

A força de piquete contava com doze soldados e sempre que soava o respectivo toque, tinha que os reunir para irem... descascar batatas. Gostava mais de estar de ronda. Saía do quartel, bem ataviado, de arreios e pistola à cinta, seguido por uma praça, para fiscalizar a postura e o comportamento dos militares. Corríamos os cafés junto ao quartel rapidamente, seguindo depois para os arrabaldes da vila, onde abundavam tascas com belos petiscos.

Entre as muitas tascas existentes, a melhor era a das Peidocas. Foi lá que conheci o Senhor Ladrão, homem muito considerado que só roubava em Lisboa. As Peidocas, eram mãe e duas filhas gémeas, Isménia e Leocádia, uns amores de raparigas. Tão estranho apelido fora herdado do pai e avô, um Cabo Artilheiro, que ganhara um desafio, realizado há muitos anos, no dia de Santa Bárbara, patrona da Artilharia. O desafio consistira..... pois, "ventosidades anais", curiosa terminologia que aprendi num Acordão do Tribunal da Relação de Évora, que sempre referi aos meus alunos:
- Expelir ventosidades anais em direcção de outrem consubstancia o crime de injúria!

E não é, que quando dava esta aula, me lembrava sempre das adoráveis raparigas Peidocas!...

Jorge Cabral
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12035: Estórias cabralianas (80): As mulatas de Luanda (Jorge Cabral)

(...) Numa noite, no início de Maio de 1968, apareceu-me irritado o meu amigo Filipe. Ia para a tropa.
– Tens a certeza Filipe? Olha vamos passar por lá, pela Junta de Freguesia. (Onde à porta afixavam as listas).

E fomos. Corri os olhos pelo edital e era verdade. Lá constava, Filipe Narciso Gonçalves da Silva. Só que, um pouco mais abaixo, encontrei o meu nome, Jorge Pedro de Almeida Cabral. Devia ser engano, um erro, eu tinha direito a adiamento. Que o Filipe fosse, não era para admirar. De igual idade e entrados ao mesmo tempo na Faculdade, ele não passara do primeiro ano, enquanto eu contava acabar o curso no ano seguinte. (...)

Guiné 63/74 - P12221: Agenda cultural (292): Uma exposição de brado obrigatório, acontecimento ímpar: O brilho das cidades, a rota do azulejo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2013:

Queridos amigos,
Vê-se e fica-se sem fôlego, como é que é possível um país depositário de um acervo patrimonial único em azulejaria ter esperado tanto tempo para ver azulejos de todo o mundo, de altíssimo valor, uma exposição com uma história de milénios de um objeto frágil que as civilizações opulentas não dispensam? É um bom ensejo para tonificar o nosso orgulho à volta de uma riqueza de que somos a camisola amarela, encontrar uma exposição que contribui para o amor à cultura portuguesa e o desvelo aos valores perenes da cultura universal.
Vão por mim, a exposição é imperdível!

Um abraço do
Mário


Uma exposição de brado obrigatório, acontecimento ímpar: 
 O brilho das cidades, a rota do azulejo

Fundação Gulbenkian, 25 de Outubro de 2013/26 de Janeiro de 2014

Beja Santos

Somos uma superpotência do azulejo e não fazemos gala disso, o que é lamentável e incompreensível. O azulejo é usado há milénios, primeiro como material meramente comemorativo, mais tarde como elemento ornamental, depois didático, a Revolução Industrial fez dele um uso maciço, integrou-o profusamente na arquitetura e na paisagem urbana, é um desafio aos artistas que se mantêm fascinados por esta placa de cerâmica que tem uma superfície vidrada e que nos faz parar pelo envolvimento que cria, pela harmonia e bem-estar que suscita. Pelo menos desde o século XV que o azulejo faz parte do nosso património material e imaterial. E com resultados magníficos.

A exposição da Gulbenkian é um acontecimento único, põe em diálogo espécimenes representativos da azulejaria de todos os tempos, é uma verdadeira rota do azulejo que se pode visitar, desde do Egito e da Mesopotâmia, viagem deslumbrante que chega ao século XX, e aponta para o futuro, mais do que certo e glorioso.

Viagem deslumbrante? Sim, permite conhecer o modo como esta técnica foi conhecendo atualização e adaptação a novos gostos e também o modo como diferentes civilizações tiraram partido deste objeto para enriquecer os seus espaços. Viagem que se faz através de secções temáticas onde se abordam questões como o mito da cerâmica dourada, as conquistas da geometria, a importância da heráldica, o peso da cultura figurativa clássica, o valor da mitologia cristã, entre outras.

Logo na secção referente às origens do azulejo, o visitante é confrontado com exemplares provenientes do Egito, da Mesopotâmia, da Assíria e da Pérsia, depois Bizâncio, até à Idade Média. Percebe-se como o Mediterrâneo era o centro do mundo, o azulejo contribuía para o diálogo de diferentes civilizações onde o cristianismo e o Islão pontificavam.

A segunda secção intitula-se “Paredes que falam”, é um deslumbramento de novidade: azulejos persas e azulejos turcos, textos inscritos nas paredes das arquiteturas religiosas; espaços públicos convertidos em lugares carregados de mensagens icónicas.

Na terceira secção, intitulada “Ornato e mensagem”, enfatiza-se o papel do ornamento como informação entre os povos e as suas culturas. Como se escreve na brochura a que o visitante tem acesso, “Há intenções deliberadas na própria escolha das fontes de inspiração deste universo, nas transformações plásticas a que são submetidas as formas da Natureza, na beleza da sua própria geometria subjacente, na repetição infinita dos motivos, nos ornamentos fantasiosos que evocam gloriosos tempos passados”.

E chegamos a uma outra dimensão, “Poéticas e narrativas”, aqui encontramos chaves de entendimentos das poéticas narrativas, desde o mundo antigo até ao presente, é um espetacular transcurso por mitos gregos e romanos, histórias bíblicas, vidas e mortes de profetas e mártires, os grandes heróis da literatura universal, tudo se reflete nestas grandes e pequenas páginas ilustradas que dão pelo nome de painéis de azulejos.

E assim se chega ao azulejo encarado como signo do progresso, desde a revolução industrial aos nossos dias. O visitante é confrontado com obras soberbas, um painel onde participou o genial William Morris, um magnífico pavão de Max Laeuger e mesmo um painel de azulejos recente que evoca o período assombroso da cerâmica Iznik.

Azulejos portugueses “conversam” com azulejos chineses, magrebinos, italianos, espanhóis e belgas. As potências do azulejo participaram com peças de grande qualidade, caso do Irão, Síria, Tunísia, Holanda, Inglaterra, Alemanha, instituições internacionais do maior prestígio cederam obras. E há azulejos portugueses provenientes do Museu Gulbenkian, Museu Nacional de Machado de Castro, Museu Nacional do Azulejo, Museu de Artes Decorativas Portuguesas, Museu Bordalo Pinheiro, Museu de Alberto Sampaio, Coleção Berardo, entre outros.

Momento ímpar, talvez irrepetível para nos integrarmos num diálogo fabuloso e tomar consciência de que a História também se faz com a rota do azulejo.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12216: Agenda cultural (291): Livro de poesia "Baladas de Berlim", do nosso camarada J. L. Mendes Gomes: Lisboa, 2/11/2013, às 19h00, na livraria/bar Les Enfants Terribles, do Cinema King. Apresentação da obra e do autor a cargo de Luís Graça e Paulo Teia

Guiné 63/74 - P12220: Em busca de... (232): Ex-alf mil cav Alexandre Costa Gomes e ex-fur mil cav Manuel Vitoriano, José Soares, Joaquim Manso, José António Barreiros e António Rio, do Pel Rec Fox 2260, Gadamael, 1970/72 (Manuel Vaz, ex-alf mil, CCAÇ 798, Gadamael, 1965/67)




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2796 (1970/72) > Ao fundo o saudoso cap inf op espe Fernando Assunção Silva, tendo:  (i)  à sua direita,  alf  Campinho e  alf Manso, ambos da CCAÇ 2796, e alf Costa Gomes, do Pel Rec Fox 2260 (um "benemérito" de Guileje, pois fazia a segurança das colunas de reabastecimento) (aqui assinalado com um retãngulo a vermelho); e  (ii) à sua esquerda alf Vasco Pires (camiseta branca) e alf Rodrigues, da  CCAÇ 2796: os restantes são furriéis da CCAÇ 2796 e Pel Rec Fox 2260, que por estarem parcialmente retratados não dá para identificar.  Me perdoem os camaradas, se quarenta anos depois errei algum nome." (*)

Foto (e legenda): © Vasco Pires  (2013). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.] 



Guiné > Região de Tombali > Mapa de Cacoca / Gadamael (1960) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bricama, Tambambofa e Caur.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)


1. Mensagem do Manuel Vaz (ex-alf mil, CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67) [, foto à esquerda]

Data: 29 de Outubro de 2013 às 00:24
Assunto: Localização de Tambambofa


Caro Luís:

Boa noite. Estava eu desesperadamente à procura de qualquer referência que me permitisse chegar ao ex-alf mil Alexandre Costa Gomes ou seus subordinados no Pel Rec Fox 2260, quando dou com o poste P11223 (*). 

Aí aparece uma fotografia com o procurado e outros graduados do seu tempo em Gadamael, enviada para o blogue pelo nosso conhecido Vasco Pires que também a integra. Ao centro,  o malogrado cap inf op esp Assunção Silva. 

Li os "comentários",  pois poderia encontrar elementos de alguém que procurava (Pel Rec Fox 2260). Apesar do poste, de que não me apercebi na altura, ser de Março deste ano, os "comentários" apelam a dois esclarecimentos que me parecem pertinentes e atuais: (**)

(i) Tambambofa [, e não Tamabofa,] fica na estrada que parte de Bricama (estrada Ganturé-Sangonhá) para Caur,  na frontei[, e ra com a República da Guiné-Conacri. 

Quando a 15 de Agosto de 1966, fiz um reconhecimento ofensivo a Caur, o guia, ao chegarmos a Tambambofa, dizia que já estávamos na Fronteira! Continuamos e em Caur foi pisada uma mina A/P pelas NT. Ele lá sabia... que continuar era perigoso, era melhor não continuar !...

(ii) As circunstâncias da morte do cap inf op esp Fernando Assunção Silva não são conhecidas em pormenor, mas ao consultar a HU da CCAÇ 2796, encontrei que uma patrulha de reconhecimento ofensivo caiu numa emboscada com lança-rocket, RPG7 e armas ligeiras, tendo sofrido um morto e 3 feridos (milícias).

Dedicar um poste às circuntâncias da ocorrência, como homenagem ao Cap Assunção, acho uma boa ideia!

E agora,  amigo Luís Graça, uma vez que tenho de continuar à procura de alguém do Pel Rec Fox 2260, se conheceres algum contacto, diz,  para não emperrar o trabalho sobre Gadamael. 

Um abraço. Manuel Vaz

2. Comentário de L.G.:

Há mais referências ao alf mil cav Alexandre Costa Gomes e ao Pel Rec Fox 2260, que ele comandava, bem como aos seus furrieis Manuel Vitoriano, José Soares, Joaquim Manso, José António Barreiros e António Rio (**).

Por certo que conheces os postes do nosso malgrado camarada Daniel Matos (1950-2011). Ele era meu vizinho, aqui de Alfragide.  Pertenceu à madeirense CCAÇ 3518, que esteve am Gadamael (1971/72).

Vamos ver se alguém responde ao nosso apelo (***). Quanto ao poste de homenagem ao cap inf op esp Assunção Silva, vamos também ver se reunimos materiais novos. Talvez o cor António Carlos Morais Silva nos possa ajudar, mesmo não pertencendo à nossa Tabanca Grande, como sabes. Pode ser que ele tenha dados, inéditos, sobre a morte do seu antecessor, na CCAÇ 2796, e seu camarada de curso na Academia Militar. Julgo que estás em contacto com ele.

Um abraço. Boa saúde, bom trabalho. LG
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Notas do editor:


(...) “Os Marados de Gadamael” foi a divisa – não muito abonatória, é certo, – escolhida para e pelo pessoal da Companhia de Caçadores Independente nº 3518, formada no Funchal (no Batalhão Independente de Infantaria nº 19/BII19) durante o segundo semestre de 1971 (...).

Com destino à Guiné Portuguesa, a companhia embarcou na cidade do Funchal no dia 20 de Dezembro desse ano, às 3 da madrugada (!), tendo chegado a Bissau no dia 24 seguinte (embora já estivéssemos ao largo do rio Geba desde as 23 horas do dia 23, quem poderá esquecer-se de tão bela consoada?). 

No mesmo paquete, – o Angra do Heroísmo, – e com igual proveniência, viajaram a CCaç 3519 (que iria parar a Barro) e a CCaç 3520 (cujo destino foi Cacine), mais o BCaç 3872, que já embarcara em Lisboa e que viria a instalar-se em Galomaro. Pisámos terras da Guiné a partir das 15 horas.

Passámos o dia de Natal a desfazer malas e no dia 26 registou-se a cerimónia de boas-vindas, presidida pelo comandante-chefe, – General António de Spínola, figura grada entre os soldados, ou não fosse também ele um madeirense e, ainda por cima, um líder – perante quem desfilámos e que em seguida nos passou revista. 

A 22 de Janeiro de 1972 terminámos o IAO (Instrução e Aproveitamento Operacional) no CMI (Centro Militar de Instrução), situado no Cumeré. No dia seguinte, a bordo de uma LDG, às 19 horas, abalámos do porto de Bissau – ao lado do histórico cais de Pindjiguiti, – para Gadamael Porto.

Após o transbordo em Cacine para uma LDM, (aí se despedindo dos camaradas da irmã gémea CCaç 3520 – “Estrelas do Sul”), e em duas levas de dois pelotões cada, a primeira alcançou o pequeno desembarcadouro de Gadamael, no rio Sapo (afluente do Cacine), pelas 15 horas do dia 24 de Janeiro, onde a companhia ficou uma temporada em sobreposição com a unidade que foi render (a CCaç 2796, que depois marcharia para Quinhamel), integrada no dispositivo de manobra do BCaç 2930, depois do BCaç 4510/72 e, depois ainda, do COP 5 (Guileje).

Juntamente com Os Marados, estiveram em Gadamael os homens do Pelotão de Reconhecimento Fox nº 2260 “Unidos Venceremos” (comandado pelo alferes miliciano de cavalaria Alexandre Costa Gomes e pelos furriéis milicianos Manuel Vitoriano, José Soares, Joaquim Manso, José António Barreiros e António Rio). 

A 28 de Abril de 1972, após cerimónia de despedida, presidida in loco pelo governador e comandante-chefe Spínola, o pelotão marcha para Bissau, a fim de aguardar aí transporte de regresso à metrópole.

O Pel Rec Fox 2260 foi substituído oito dias antes (21 de Abril) pelo Pelotão de Reconhecimento Fox 3115/Rec 8 (comandado pelo alferes miliciano de cavalaria José Manuel da Costa Mouzinho e pelos furriéis Sérgio Luís Moinhos da Costa, Alfredo João Matias da Silva, José de Jesus Garcia e Fernando Manuel Ramos Custódio).

Também em Gadamael, estiveram adidos à companhia o 23º Pelotão de Artilharia, (comandado pelo alferes miliciano de artilharia José Augusto de Oliveira Trindade e pelos furriéis milicianos Armando Figueiredo Carvalheda, António Luís Lopes de Oliveira (este, logo substituído pelo furriel miliciano João Manuel Duarte Costa), e ainda os Pelotões de Milícias 235 e 236. 

O comandante de pelotão 235 era Mamadú Embaló e os comandantes de secção, Camisa Conté, Abdulai Baldé e Mamadú Biai; o comandante de pelotão 236 era Jam Samba Camará e os comandantes de secção, Satalá Colubali, Amadú Bari e Mussa Colubali. 

O Camisa Conté, – quanto a mim a mais bem preparada de todas as milícias, de grande inteligência, disponibilidade constante e invulgar simpatia, – morrerá na célebre “batalha” de Guileje, diz-se que num “acidente com arma de fogo”, (ouvimos em Bissau alguém contar que foi a tentar desmontar uma mina) a 12 de Maio de 1973. Por outro lado, o Jam Samba viria a morrer em combate, dias mais tarde, também em Guileje, a 18 de Maio de 1973. (...)

Enquanto em Gadamael, o território operacional e os locais de minagem, patrulhamento e montagem de emboscadas foram essencialmente os seguintes: antigas tabancas de Viana, Ganturé, Bendugo, Gadamael Fronteira, Missirá, Madina, Bricama Nova, Bricama Velha, Tambambofa, Jabicunda, Campreno Nalú, Campreno Beafada, Mejo, Tarcuré, Sangonhá, Caúr e Cacoca.

A zona fronteiriça com a Guiné-Conacry e a picada para Guileje (estrada que outrora ligava a Aldeia Formosa e ao Saltinho) foram os locais com mais frequente número de operações. 

Todo o abastecimento por via terrestre às unidades e população instaladas em Guileje se efectuava, durante a estação seca, através de colunas efectuadas a partir de Gadamael Porto, sendo o nosso pessoal responsável não só pelas viaturas que transportavam para Guileje os géneros que os batelões descarregavam em Gadamael, mas também pela segurança de metade do percurso.

 Por diversas vezes, pelotões da companhia, o pelotão Fox e os pelotões da milícia passaram temporadas em reforço das unidades locais (como, por exemplo, da CCaç 3477, “Os Gringos de Guileje”, até Dezembro de 1972, e a CCav 8530, na parte final da nossa estada no sul). (...)

(***) Último poste da série > 13 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12182: Em busca de... (231): Casimiro Silva procura camaradas do Centro de Mensagens, em Bissau, dos anos 1971/73

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12219: Convívios (545): Uma festa em cheio, na sessão de lançamento do livro do José Saúde: Lisboa, Casa do Alentejo, 26/10/2013 (Parte I): Atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa, que nos emocionaram, com a moda "Lá vai uma embarcação / Por esses mares fora, / Por aqueles que lá vão / Há muita gente que chora"



Vídeo (2' 46''). Alojado em You Tube / Nhabijoes

Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) (Preço de capa: 10 €).

Atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa. Um homenagem sentida a um combatente da terra, o José Romeiro Saúde, nascido em Vila Nova de São Bento (em 23/11/1950), mas que foi cedo para Beja, a sua segunda terra, onde ainda hoje vive e onde nasceram as suas duas filhas.  Os dois concelhos viram sacrificados no "altar da Pátria", 69 dos seus filhos, durante a guerra do ultramar/guerra colonial: 35, de Beja; 34, de Serpa...

A "moda" que acima se reproduz evoca esses duros tempos em que os mancebos partiam para o Ultramar, ìndia, Angola, Guiné, Moçambique ... Ver, mais abaixo, a respetiva letra que começa assim: "É tão triste ver partir / Um barco do Continente, / Para Angola ou Moçambique / Lá lai outro contingente"...(LG)


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Um salão de cheio de gente, entre os quais diversos antigos combatentes, incluindo uma meia dúzia de membros da nossa Tabanca Grande: além do Luís Graça e do José Saúde, o Augusto Ismael, o Fernando Calado, o Manuel Joaquim, o José Vermelho, o Pedro Neves... Enfim, cito de cor, e corro risco de omitir mais alguém...  Sem esquecer, uma presença muito especial, que me emocionou, a de  Adelaide Gramunha Marques (ou Adelaide Crestejo), irmã do nosso malogrado Martinho Gramunha Marques, alf mil morto numa emboscada em 30/1/1965 em Madina do Boé. Era camarada e amigo do nosso António Pinto (a quem mando um abraço afetuoso  em meu nome e em nome da Adelaide, e em nome de mais dois manos que a acompanhavam, um irmão e uma irmã; tirámos uma foto, juntos, que hei-de publicar num próximo poste).



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > A segunda parte da sessão, com a apresentação do autor e do livro. A mesa foi presidida pela dra. Rosa Calado (, esposa do nosso camarada Fernando Calado, e professora de história, e ambos naturais de Ferreira do Alentejo), que tem, na direção da Casa do Alentejo, o pelouro da cultura e do patrimómio. Em segundo plano, o Zé Saúde e o Luís Graça. (Um agradecimento é devido ao José Vermelho, que foi um precioso auxiliar do fotógrafo... Foi ele nos tirou as fotos, durante a segunda parte da sessão: é outro alentejano da diáspora: nascido em Marvão, foi depois para Castelo de Vide e, aos 18 anos,  abalou sozinho para Lisboa...).


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Felicíssimo, o Zé Saúde, com tantos amigos e camaradas à sua volta. Aqui apreciando, na primeira parte da sessão, os seus amigos "Os Alentejanos", que vieram de propósito de Serpa, para atuar na Casa do Alentejo... No foto, o Zé está à mesa com uma amiga de Beja, que o veio ajudar na sessão de venda de livros; e mais à esquerda a sua esposa.


Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa, amigos do José Saúde, e que animaram a primeira parte da festa, antes da apresentação do autor e do livro pelo nosso editor Luís Graça e por Rosa Calada (diretora da Casa do Alentejo, com o pelouro da Cultura e Património).

Este grupo de música tradicional alentejana é um naipe de cinco vozes magníficas cuja atuação  nos alegrou, encantou e emocionou a todos... Fica aqui um registo para os nossos queridos leitores.

Vídeo, fotos e legendas : © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados


Lá vai uma embarcação

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora,
Com mágoas no coração,
Por esse mares fora
Lá vai uma embarcação.

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora
Com mágoas no coração,
Por esse mares a fora
Lá vai uma embarcação.

Letra: 

Reproduzida, com a devida vénia,  do sítio Joraga Net > O Cante do Cante: Grupos Corais Alentejanos, página criada e mantida por José Rabaça Gaspar.

[Obrigatório visitar esta página, que contem um repositório riquíssimo de dezenas de "modas" da músicas tradicional Alentejana. Letras e  músicas recolhidas e gravadas por Francisco Baião e Manuel Aleixo, São Matias, Beja, 2011]

Contacto de "Os Alentejanos", 
música tradicional Alentejana, 
Serpa

Telem: 962 766 339 / 938 527 595

Email: joaocataluna@gmail.com

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12202: Agenda cultural (290): O nosso amigo e camarada de Beja, José Saúde, convida os camaradas da região de Lisboa para a sessão de apresentação do seu livro de memórias do Gabu (1973/74): Casa do Alentejo, sábado, 26, às 15h30... Há depois animação e convívio!

(**) Último poste da série > 28 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12212: Convívios (544): Magnífica Tabanca da Linha: 5ª feira, 17 de outubro de 2013 (Parte IV): Silêncio, meus senhores, que se vai cantar o fado!... Não se cantou, mas ficou a promessa (ou a ameaça ?) de, no 10º aniversário da Tabanca Grande, se fazer uma grande tarde (ou noite) do fado... Um dos nossos fadistas estava lá, e deu um arzinho da sua graça, o Armando Pires

Guiné 63/74 - P12218: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (4): Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas




1. Historial da Escola Prática de Artilharia, localizada em Vendas Novas, trabalho de compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), integrado na sua série Historial das Escolas Práticas do Exército.



















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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12204: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (3): Escola Prática de Cavalaria de Abrantes