Em anexo (p. IV), vem um comunicado do Comando Regional Xitole-Bafatá sobre o ataque à Base Central do Sector de Xime (que era então em Baio / Buruntoni, a sudoeste do aquartelamento e tabanca do Xime). Fixação de texto: L.G.(*)
____________
Relatório
Região de Xitole Bafatá, 22/12/1966
Situação militar
I
Por falta de não reunir [sic] condições – falta de atiradores de canhão, obuzes de bazookas [sic], e de “morteiro”, além de medicamentos – , não foi realizada operação nenhuma desde o mês de Novembro [de 1966] até à presente data. (**)
Somente efectuaram-se sabotagens com minas nas estradas e outras nas áreas controladas pelo inimigo, das quais ainda não obtemos [obtivemos] informação concreta.
Durante este período sofremos quatro ofensivas do inimigo das quais segue o comunicado.
II
Nas duas últimas tivemos perdas de armas.
- Contra a Base Central do Sector de Corubal, no dia 22 de Novembro, o inimigo apanhou uma pistola P.A. 7, 65 mm nº 220526.
- Contra a Base Central do Sector do Xime, no dia 15 do corrente mês, numa ofensiva de surpresa pela sua forma mas causada pela falta de vigilância dos n/ [nossos] camaradas, o inimigo conseguiu apanhar duas carabinas semi-autom[áticas] nºs 2773, 42.708, duas pistolas P.M. [Pistola Metralhadora,] Patchanga 7,62 mm, nºs 2042 [e] 318, duas carabinas de repet[ição], nºs 887 [e] 3578, um[a] Gurianov [Metralhadora Pesada Goryounov 7,62 mm M-943] nº 131, uma pistola P.A. 7,62 mm, nº 22526. (**)
Foram gastas, da nossa parte, nestas quatro ofensivas as seguintes quantias de munições:
- 475 balas de carabina de semi-autom[ática] (carabina) 7,62;
III
- 1188 balas de (Patchanga) [Shpagin, cal. 7,62 mm M-941 (PPSH)];
- 239 balas de carab[ina de] repet[ição];
- 140 balas de P.M. (rico jazz) [Pistola Metralhadora Thompson, cal. 11,4 mm]:
- 300 balas de mauser semi-autom[ática];
- 30 balas de mauser de repe[tição];
- 2 obuzes [granadas] de baz[ooka] 40 mm;
- 4 obuzes [granadas] de bazooka P.A. 27 [Pancerovka];
- 4 obuzes [granadas] de bazooka mod[elo] americano;
- 4 obuzes [granadas] de morteiro 60 mm.
[Assinado:] Brandão Mané
IV
Comando Regional Xitole Bafatá
22/12/1966
Comunicado
O Comando Regional comunica que no dia 15 do corrente [mês de Dezembro] houve uma ofensiva inimiga, desencadeada pela infantaria inimiga, contra a Base Central do Sector de Xime (Baio), onde conseguiram destruir uma meia dezena de barracas depois de capturarem oito armas. (Citadas no relatório). Tivemos onze feridos, dos quais cinco graves.
Seguindo os vestígios deixados pelo inimigo, mostram [sic] que tiveram baixas.
[Assinado:] Brandão Mané
Fonte: (1966), "Relatório sobre a situação militar na região Xitole-Bafatá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40103 (2013-10-31)
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07200.170.012
Título: Relatório sobre a situação militar na região Xitole-Bafatá
Assunto: Relatório sobre a situação militar na região de Xitole-Bafatá, assinado por Brandão Mané. Em anexo um comunicado do Comando Regional Xitole-Bafatá sobre o ataque à Base Central do Sector de Xime.
Data: Quinta, 22 de Dezembro de 1966
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Diversos. Guias de Marcha. Relatórios.
Cartas dactilografadas e manuscritas. 1960-1971.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
2. Comentário de L.G.:
Por outro lado, é intrigante o nome do comandante, Brandão Mané (que pode ser apenas um nome de guerra). Brandão é apelido portuguguês. Mané é apelido mandinga ou beafada... Trata-se de alguém escolarizado, que fala e escreve português corretamente.
Seria alguém ligado ao vasto clã dos Brandão ? O ramo mais conhecido era o dos Pinho Brandão, de Catió. O patriarca da família poderia ter sido o velho Manuel de Pinho Brandão, da ilha do Como, Catió e Ganjola, natural de Arouca, desterrado para a Guiné possivelmente no final dos anos 20 ou princípíos dos anos 30, uma figura já aqui evocada diversas vezes, por camaradas como o Mário Dias (que esteve na Op Tridente, no Como, jan/março de 1964) e o J. L. Mendes Gomes (que esteve no Como, Cachil e Catió, entre 1964 e 1966).
Mas também havia uma família Brandão em Bambadinca, com ligações a Catió. Provavelmente, eram parentes. Falando, ao telefone, há uns anos atrás (2008) com Inácio Semedo Júnior, ex-guerrilheiro e quadro do PAIGC, ex-embaixador aposentado, apurei o seguinte:
Mas também havia uma família Brandão em Bambadinca, com ligações a Catió. Provavelmente, eram parentes. Falando, ao telefone, há uns anos atrás (2008) com Inácio Semedo Júnior, ex-guerrilheiro e quadro do PAIGC, ex-embaixador aposentado, apurei o seguinte:
(i) na altura com 65 anos de idade, deveria ter nascido, portanto, por volta de 1943);
(ii) era natural de Bambadinca;
(iii) era filho de Inácio Semedo, um histórico do PAIGC;
(iv) a família tinha propriedades na região; nomeadamente o pai tinha uma destilaria de aguardente de cana, tendo costume comprar arroz aos Brandão, de Catió, para alimentar os seus trabalhadores balantas de Bambadinca (possivelmente de Nhabijões, Mero, Santa Helena...);
(v) trocava-se, naquele tempo, aguardente por arroz, sendo o arroz do sul, do celeiro da Guiné, o melhor;
(vi) A Guiné era pequena e todo o mundo se conhecia.
A família Brandão, de Catió, também deu pelo menos um militante do PAIGC, que ele, Inácio Semedo Júnior, irá conhecer na luta de guerrilha, no sul. Seria este Brandão Mané ? Em Bambadinca também havia uma família Brandão (com quem os Semedo seriam aparentados, se bem percebi...).
O pai, Inácio Semedo, agricultor, proprietário, foi um nacionalista da primeira hora, que andou a conspirar com o Amílcar Cabral e outros históricos do PAIGC, e que como tal foi preso e torturado pela PIDE e condenado a 2 anos de prisão.
O pai, Inácio Semedo, agricultor, proprietário, foi um nacionalista da primeira hora, que andou a conspirar com o Amílcar Cabral e outros históricos do PAIGC, e que como tal foi preso e torturado pela PIDE e condenado a 2 anos de prisão.
O filho, Inácio Semedo Jr, estava então, em 2008, a ver se ainda recuperava parte do património da família em Bambadinca... .
Aos 16/17 anos[[, por volta de 1959/60,] veio estudar para Portugal, onde fez o liceu. Deve ter aderido ao PAIGC nessa época e/ou saído de Portugal nessa época. (Segundo o Leopoldo Amado, o Amílcar Cabral foi padrinho de casamento do pai, numa cerimónia que se realizou justamente em Bambadinca, antes do início da guerra).
Em 1964 [, com c. 21 anos,] vamos encontrá-lo, ao Inácio Semedo Jr, na guerrilha, no sul, sob as ordens do comandante Manuel Saturnino da Costa. Nunca andou na sua terra natal, Bambadinca, zona leste. A orientação do PAIGC era,. compreensivelmente, pôr os guerrilheiros em regiões diferentes daquelas onde tinham nascido e vivido.
Mais tarde (não percebi quando, exactamente) o jovem Inácio Semedo foi para a Hungria, onde tirou o curso de engenharia e fez o doutoramento em Ciências. A seguir à independência trabalhou no Ministério das Obras Públicas, cujo titular da pasta era o Arquitecto Alberto Lima Gomes, mais conhecido por Tino, e que viria a morrer, mais tarde, num acidente de caça, actividade de lazer de que era um apaixonado.
Aos 16/17 anos[[, por volta de 1959/60,] veio estudar para Portugal, onde fez o liceu. Deve ter aderido ao PAIGC nessa época e/ou saído de Portugal nessa época. (Segundo o Leopoldo Amado, o Amílcar Cabral foi padrinho de casamento do pai, numa cerimónia que se realizou justamente em Bambadinca, antes do início da guerra).
Em 1964 [, com c. 21 anos,] vamos encontrá-lo, ao Inácio Semedo Jr, na guerrilha, no sul, sob as ordens do comandante Manuel Saturnino da Costa. Nunca andou na sua terra natal, Bambadinca, zona leste. A orientação do PAIGC era,. compreensivelmente, pôr os guerrilheiros em regiões diferentes daquelas onde tinham nascido e vivido.
Mais tarde (não percebi quando, exactamente) o jovem Inácio Semedo foi para a Hungria, onde tirou o curso de engenharia e fez o doutoramento em Ciências. A seguir à independência trabalhou no Ministério das Obras Públicas, cujo titular da pasta era o Arquitecto Alberto Lima Gomes, mais conhecido por Tino, e que viria a morrer, mais tarde, num acidente de caça, actividade de lazer de que era um apaixonado.
Inácio Semedo vivia, em 2008, em Portugal, retirado da vida pública do seu país. Tinha um filho bancário. Confessou que não conhecia o nosso blogue, por não estar muito familiarizado com a Internet. Tinha endereço de e-mail mas era o filho que o ajudava a gerir a caixa de correio.
Continuava ligado ao seu partido de sempre, o PAIGC. Prometemo-nos voltar a contactar (, o que nunca mais voltou a acontecer), quando houvesse maior disponibilidade, de parte a parte. Para falarmos da nossa Bambadinca ("hoje tão decadente, tão triste, tão morta"...), do nosso Geba Estreito ("onde já não circulam os barcos que lhe deram vida, cor e movimento"...), enfim, da "nossa Guiné" (onde o Inácio Semedo continuava a ir regularmente...).
Sobre a tipologia, designação e evolução do armamento do PAIGC temos diversos postes no nosso blogue (**).
________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 23 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12192: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (4): O anúncio,em 4 de janeiro de 1961, do envio para a China, para a Academia Militar de Nanquim, dos futuros dez primeiros comandantes do PAIGC, João Bernardo Vieira [Nino], Francisco Mendes, Constantino Teixeira, Pedro Ramos, Manuel Saturnino, Domingos Ramos, Rui Djassi, Osvaldo Vieira, Vitorino Costa e Hilário Gomes.
(**) Sobre a tipologia, a evolução e a designação do armamento do PAIGC, vd. poste de 7 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3032: PAIGC: Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)
Lança Granadas-Foguete RPG-2 > BAZOOKA CHINA, BAZOOKA LIGEIRO, LANÇA PEQUENO
Lança Granadas-Foguete 8,9 cm (M20 B1) > BAZOOKA CUBANA
Metralhadora Pesada DEGTYAREV (DSHK) Cal. 12,7 mm M-38/56 > DEKA, DESSEQUE, DCK,
Metralhadora Pesada GORYOUNOV Cal. 7,62 mm M-943 SG > TRIPÉ, GORRO NOVO
Metralhadora Pesada ZB – 37 ZDROJOVSKA > TRIPÉ, TRIPÉ BESSA
Metralhadora Ligeira DEGTYAREV DP Cal. 7,62 mm > BIPÉ DISCO ou DISCO BIPÉ SOVIÉTICO
Metralhadora Ligeira DEGTYAREV RDP Cal. 7,62 mm > BIPÉ CHECO, BIPÉ PACHANGA
Metralhadora Ligeira M-52 Cal. 7,62 mm > BIPÉ CAUDO, BIPÉ MAQUESSEN
Metralhadora Ligeira BORSIG Cal. 7,92 mm > BIPÉ
Espingarda Automática KALASHNIKOV (AK) Cal. 7,62 mm > AKA ou ACAG3, PM SOVIÉTICO
Espingarda Automática SIMONOV (SKS) Cal. 7.62 mm > CARABINA AUTOMÁTICA ou CHIME AUTOMÁTICA, CANHE BALE (JOL), CARABINA SINECE, CARABINA CHINESA, E.S.A SIMA
Espingarda M-52 Cal. 7,62 mm > CARABINA CHECA
Espingarda MAUSER K98K > MAUSER
Espingarda Semi-automática M-52 Cal. 7,62 mm > CHIME AUTOMÁTICA, CARABINA BOMBARDEIRA
Carabina MOSIN-NAGANT M-944 > CARABINA RÔSSIA (SOVIÉTICA)
Pistola-Metralhadora M-23 > MERENGUE
Pistola-Metralhadora M-25 > MERENGUE ou RICON RICO
Pistola-Metralhadora SHPAGIN Cal. 7,62 mm M-941 (PPSH)> PA[T]CHANGA, METRO ou METAR
Pistola-Metralhadora SUDAYEV Cal. 7,62 mm M-943 (PPS) > PM de FERRO,
Pistola-Metralhadora THOMPSON Cal. 11,4 mm > RICO JAZ[Z]-THOMPSON
Pistola-Metralhadora BERETTA N-38/42 e M-38ª> BERETTA
Pistola-Metralhadora SHMEISSER MP-38 e MP-40 > COPTER
Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 7,65 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA
Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 6,35 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA PEQUENA
(**) Sobre a tipologia, a evolução e a designação do armamento do PAIGC, vd. poste de 7 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3032: PAIGC: Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)
(...) Tipo de Armamento
> DESIGNAÇÃO
Foguetão 122 mm > GRAAD ou JACTO DO POVO
Morteiro 120 mm > BADORA
Canhão S/R B-10 > BEDIS
Foguetão 122 mm > GRAAD ou JACTO DO POVO
Morteiro 120 mm > BADORA
Canhão S/R B-10 > BEDIS
Canhão S/R 75 mm > TECHONGO
Lança Granadas-Foguete PANCEROVKA P-27 > BAZOOKA BICHAN, LANÇA GRANDE, PAU DE PILA, BAZOOKA CHINÊS
Lança Granadas-Foguete PANCEROVKA P-27 > BAZOOKA BICHAN, LANÇA GRANDE, PAU DE PILA, BAZOOKA CHINÊS
Lança Granadas-Foguete RPG-2 > BAZOOKA CHINA, BAZOOKA LIGEIRO, LANÇA PEQUENO
Lança Granadas-Foguete 8,9 cm (M20 B1) > BAZOOKA CUBANA
Metralhadora Pesada DEGTYAREV (DSHK) Cal. 12,7 mm M-38/56 > DEKA, DESSEQUE, DCK,
Metralhadora Pesada GORYOUNOV Cal. 7,62 mm M-943 SG > TRIPÉ, GORRO NOVO
Metralhadora Pesada ZB – 37 ZDROJOVSKA > TRIPÉ, TRIPÉ BESSA
Metralhadora Ligeira DEGTYAREV DP Cal. 7,62 mm > BIPÉ DISCO ou DISCO BIPÉ SOVIÉTICO
Metralhadora Ligeira DEGTYAREV RDP Cal. 7,62 mm > BIPÉ CHECO, BIPÉ PACHANGA
Metralhadora Ligeira M-52 Cal. 7,62 mm > BIPÉ CAUDO, BIPÉ MAQUESSEN
Metralhadora Ligeira BORSIG Cal. 7,92 mm > BIPÉ
Espingarda Automática KALASHNIKOV (AK) Cal. 7,62 mm > AKA ou ACAG3, PM SOVIÉTICO
Espingarda Automática SIMONOV (SKS) Cal. 7.62 mm > CARABINA AUTOMÁTICA ou CHIME AUTOMÁTICA, CANHE BALE (JOL), CARABINA SINECE, CARABINA CHINESA, E.S.A SIMA
Espingarda M-52 Cal. 7,62 mm > CARABINA CHECA
Espingarda MAUSER K98K > MAUSER
Espingarda Semi-automática M-52 Cal. 7,62 mm > CHIME AUTOMÁTICA, CARABINA BOMBARDEIRA
Carabina MOSIN-NAGANT M-944 > CARABINA RÔSSIA (SOVIÉTICA)
Pistola-Metralhadora M-23 > MERENGUE
Pistola-Metralhadora M-25 > MERENGUE ou RICON RICO
Pistola-Metralhadora SHPAGIN Cal. 7,62 mm M-941 (PPSH)> PA[T]CHANGA, METRO ou METAR
Pistola-Metralhadora SUDAYEV Cal. 7,62 mm M-943 (PPS) > PM de FERRO,
DECÉTRIS, MODELO PACHANGA, PM CHINESA
Pistola-Metralhadora THOMPSON Cal. 11,4 mm > RICO JAZ[Z]-THOMPSON
Pistola-Metralhadora BERETTA N-38/42 e M-38ª> BERETTA
Pistola-Metralhadora SHMEISSER MP-38 e MP-40 > COPTER
Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 7,65 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA
Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 6,35 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA PEQUENA