sexta-feira, 11 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12968: 10º aniversário do nosso blogue (4): Para além do Mário de Oliveira e do Arsénio Puim, terá havido mais capelães militares expulsos do CTIG... Terá sido o caso do alf mil capelão, também de nome Mário, do BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1973-74), ainda em Bolama, na IAO... (Testemunho de um leitor e camarada nosso que pede reserva de identidade)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > s/d> O Alf Mil Capelão Arsénio Puim, expulso do Batalhão e do CTIG em Maio de 1971.

Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Todos os direitos reservados



Guiné-Bissau > Região do Oio > Mansoa > 1995 > O jornalista Mário de Oliveira com o padre missionário que foi encontrar em Mansoa.

Foto: © Padre Mário da Lixa (2003) (com a devida vénia...)


1. Mensagem de um nosso leitor (e camarada) que não quer ser identificado, por razões que me apresentou e que eu aceitei como válidas, estando esta situação prevista nas regras originais do nosso blogue. 

Será apenas identificado pela última letra do alfabeto, Z (*). Tenho os contactos de telefone e endereço de email. Vive na região Centro.


Data: 27 de Março de 2014 às 03:07

Assunto: Capelães militares expulsos

Caríssimo Luís Graça.

Antes de mais, permite-me que me apresente. Sou [Z...],  ex-Alf.Mil. da 2ª CCaç. do BCaç. 4513 (Aldeia Formosa-Nhala-Buba - 1973-74), actualmente reformado.

Hesitei bastante antes de me decidir por este contacto, duvidando se valeria a pena. Mas, tudo vale a pena, vale sempre a pena... Isto, porque, li ontem (dia 25 de Março) no Blog que tão bem "comandas", e que visito diariamente desde que o descobri por acaso, há já uns anos, li, dizia, o seguinte: [vd. poste P12897]: «Em toda a história da guerra colonial, no CTIG, houve dois casos de capelães militares que foram "expulsos"», a propósito das referências ao Padre Mário da Lixa. 

Ora, acho que vale a pena corrigir esta afirmação e pôr em dúvida se, estaremos nós, hoje, em condições de saber quantos padres e não padres terão sido subtilmente, (ou com mediatismo como é o caso do Padre Mário da Lixa), afastados do território da Guiné sem deixar rasto. 

É preciso ter presente que a PIDE agia sem espalhafato e com muito profissionalismo. O caso que conheci de perto, o do Alf Mil Capelão que integrava o meu Batalhão no início, e que ainda não vi referido no Blog, é um indício de que podem ser muitos mais os padres que "desapareceram", ou foram afastados.

 Este que cito, e com quem me dava muito bem, "desapareceu" da noite para o dia, literalmente. Ao princípio, com ingenuidade e a medo, alguns ainda perguntavam: «Viste o Capelão? O que é que lhe aconteceu?». Mas a compreensão veio rápida e também o silêncio tácito e sensato. Todos pensaram: «O caso não me diz respeito». Caso abafado!

Tudo isto aconteceu apesar de, no dia de apresentação do Batalhão ao General Spínola em Bolama e na reunião que se lhe seguiu com ele e com todos os oficiais, ele lhe ter dito: «O nosso Alferes pode falar à vontade, dizer o que pensa, porque daquela porta - e apontou - não sairá uma palavra. (O Cmdt do Batalhão, enfiado, transpirava e bufava...). 

O General, antes, interpelara-me a mim. Queria saber o que eu pensava da nossa presença em África, da nossa acção na Guiné, do contributo dos militares naquela sociedade, etc. E eu, cobardemente, (sensatamente?), recitei-lhe a cartilha oficial, a que me ensinaram, sem introduzir originalidades nem virtuosismos, enfim, pensando que era o que ele queria ouvir (e não era), mesmo se o meu pensamento estava nos antípodas do que lhe dizia, devido à minha sólida politização, muito anterior à entrada para o Exército. 

O General ouviu-me em silêncio (e eu a ler-lhe o pensamento: «Mais um idiota!»), e depois interpelou o Alf Capelão. Quando este começou a falar, sem tibiezas e com uma audácia a roçar o desaforo, para as circunstâncias e para a época, eu não sabia onde me havia de enfiar... Foi então que o Gen. Spínola o interrompeu para o pôr à vontade, como citei antes. E ele continuou, pondo em dúvida o colonialismo e a legitimidade de tudo quilo que a maioria entende por legítimo, natural, a ordem das coisas..., mas também questionando o estado social da colónia, em pleno século XX, depois de 500 anos de colonização. 

Era um valente. E não apenas intelectualmente: vi-lhe dar um murro nos queixos a um soldado que apalpou o rabo a uma adolescente estudante de Bolama que seguia à nossa frente no passeio, que ele até voou!. Ficámos amigos e com muito respeito mútuo: ele era padre católico e eu ateu empedernido. Desapareceu depois de uma distribuição clandestina de panfletos à tropa sobre, creio, a má alimentação que era distribuída aos soldados, (ou a toda a tropa?).

Há uns anos comecei na Net a fazer tentativas de o encontrar, mas em vão. Nem do seu nome já estou certo, apenas me recordando que era Mário. Daí que tenha entrado em contacto com o Padre Mário da Lixa, nome que já conheço há muitos anos, mas apenas o nome, na esperança de que fosse ele próprio, (tinha muitas reservas), ou que me soubesse dar pistas. Ele foi muito amável comigo, mas não me pôde ajudar. Foi então que dei conta do desfasamento das nossas passagens pela Guiné. Desisti.

Muito mais teria para dizer, mas acho que já me excedi. Poderás, se o entenderes, fazer uso deste texto, (ou eliminá-lo), desde que não seja referido o meu nome. 

Porquê? Porque fiquei mal impressionado e muito preocupado quando, em tempos li no Blog referências a um "caso" que foi mediático e que se passou na minha Companhia, entre os alferes e o capitão e, desde aí, fiquei sempre a pensar que, pese embora a nobreza e os objectivos do Blog, e de ser um veículo honesto para o reencontro das pessoas e das ideias, também pode permitir intromissões despudoradas e mal informadas (intencionadas?), que foi o que se passou no caso da minha Companhia. 

Senti-me visado. Vi pessoas vangloriar-se de actos que não praticaram e outros fazerem críticas sem conhecimento de causa. Tudo foi mais complexo do que as pessoas pensam. E mais melindroso. As pessoas que opinaram não sabem, por exemplo, que a dada altura esteve eminente um acto da maior violência, que poderia ter "descambado" e provocado muitos mortos. Porque o caso gerou partidários e, no envolvimento, vieram ao de cima as piores qualidades humanas, traduzidas em vinganças, traições e cobardias, mesmo de quem não se esperaria. Imperou o bom-senso, felizmente. 

Sei do que falo porque estive directamente envolvido. (Foram precisos 40 anos para eu falar assim abertamente. E não sei se a despropósito). No Blog, apenas um veio a terreiro, honesto e sem papas na língua pôr os pontos nos iis: um furriel miliciano da minha Companhia, que não citarei. E ninguém falou mais no assunto. Por tudo isto, prefiro "não dar a cara". Não esquecerei o assunto mas não quero polémicas. E não só eu, pelos vistos... De toda a Companhia, que eu saiba, apenas um antigo camarada "dá a cara". Não é por acaso.

Caro Luís Graça. Repito que podes simplesmente apagar este relato sem qualquer melindre da minha parte. A menos que aches que traz alguma novidade em relação aos capelães afastados.

Se o entenderes, podes usar este mail para dizer alguma coisa.

Um abraço deste admirador do teu excelente trabalho (bem coadjuvado é certo),
o ex-combatente,  Z [...]


 2. Caro camarada:

Obrigado pela tua desassombrada e oportuna mensagem... Agradeço-te igualmente a sinceridade das tuas palavras. Devo dizer-te, desde já, que quero publicar o teu poste, sem te identificar pelo nome (conforme teu pedido)... É mais um contributo, importante, para este dossiê, delicado, que tem a ver com a "santa aliança" Estado Novo-Igreja Católica, nomeadamente em África e durante a guerra colonial...

Tens toda a razão em contestar a minha afirmação segundo a qual «em toda a história da guerra colonial, no CTIG, houve dois casos de capelães militares que foram "expulsos"... Em boa verdade, eu não me exprimi de maneira clara, concisa e precisa: queria eu dizer que apenas conhecia "dois casos", de que o blogue, de resto, já se tinha feito eco... No fundo, o que eu queria é que aparecessem mais depoimentos sobre os "nossos capelães", e eventualmente mais casos como os do Mário de Oliveiraário e do Arsénio Puim... Falamos de testemunhos em primeira mão, como o teu...

Falas-me do capelão do BCaç 4513 (Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1973-74),.. Que desapareceu sem deixar rasto, e cujo primeiro nome seria Mário...Vamos tentar descobrir o seu paradeiro, E para isso é importante a divulgação da tua mensagem. Não é habitual publicarmos mensagens sem identificação do autor, mas eu entendo a tua relutância e o teu melindre em dar a cara...Preciso, em todo o caso de saber em que data e em que poste foi abordado ou comentado o caso que referes:

(... ) Porque fiquei mal impressionado e muito preocupado quando, em tempos li no Blog referências a um "caso" que foi mediático e que se passou na minha Companhia, entre os alferes e o capitão e, desde aí, fiquei sempre a pensar que, pese embora a nobreza e os objectivos do Blog, e de ser um veículo honesto para o reencontro das pessoas e das ideias, também pode permitir intromissões despudoradas e mal informadas (intencionadas?), que foi o que se passou no caso da minha Companhia. 

Senti-me visado. Vi pessoas vangloriar-se de actos que não praticaram e outros fazerem críticas sem conhecimento de causa. Tudo foi mais complexo do que as pessoas pensam. E mais melindroso. As pessoas que opinaram, não sabem, por exemplo, que a dada altura esteve eminente um acto da maior violência, que poderia ter "descambado" e provocado muitos mortos. 

Porque o caso gerou partidários e, no envolvimento, vieram ao de cima as piores qualidades humanas, traduzidas em vinganças, traições e cobardias, mesmo de quem não se esperaria. Imperou o bom-senso, felizmente. Sei do que falo porque estive directamente envolvido. (Foram precisos 40 anos para eu falar assim abertamente. E não sei se a despropósito). (...)

Sobre o teu BCAÇ 4513 (e as suas várias companhias), temos apenas 18 referências... e não me lembro do tal "caso" (de insubordinação ?) a que te referes. É natural, o blogue tem 10 anos, 13 mil postes, 652 camaradas registados, fora os "visitantes", e mais de 45 mil comentários... Tens que me ajudar a identificar essa "cena"... de eu não me lembro:

(...) No Blog, apenas um veio a terreiro, honesto e sem papas na língua pôr os pontos nos iis: um furriel miliciano da minha Companhia, que não citarei. E ninguém falou mais no assunto. Por tudo isto, prefiro "não dar a cara". Não esquecerei o assunto mas não quero polémicas. E não só eu, pelos vistos... De toda a Companhia, que eu saiba, apenas um antigo camarada "dá a cara". (...)

Sim, o ex-1º cabo cripto José Carlos Gabriel, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74)... Há outro camarada, o Fernando Costa , ex-fur mil trms, mas esse pertenceu à CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, mar73 / set74)...

Sobre os nossos capelães, há dois Mário Oliveira, o da Lixa (1967/68), que esteve em Mansoa, e um outro que andou por Catió (1971/72)... E este último era tenente miliciano...  Mas nenhum deles é do teu tempo.

Se tiveres um telefone fixo, diz.me, que eu ligo-te... De qualquier modo, vou ter um intervenção cirúrgica, a partir de 3ª feira, dai 1 de abril... e devo ficar uma semana no "estaleiro", sem poder editar o blogue... Mas os coeditores continuam de serviço... Se me quiseres contactar (ou responder por esta via), fico-te grato. Gostaria de publicar, até lá, o teu texto.... Tens os meus contactos: . Diz-se se posso (e devo) referir a tua companhia e batalhão omitindo o teu nome e posto... Concordas ?

Um alfabravo (ABraço). Luis

3.  No dia 30 de Março último, o nosso camarada Z... responmdeu-me nestes termos:

(...) Olá, caro amigo Luís Graça.

Fiquei muito contente ao abrir o Mail e ver logo que te deste ao trabalho de me responder.
É uma honra muito grande. Porque já sou teu amigo há algum tempo, mesmo sem o saberes nem me conheceres e porque tenho uma grande admiração (e respeito) pelo gigantesco trabalho que tens feito, mesmo ajudado, para manter em funcionamento este "veículo" que leva a todo o lado e a toda a gente uma mensagem, uma recordação, um abraço e muita divulgação. (***)

Como é possível? Como consegues ter tempo para me dar atenção em particular e ainda disponibilizar os teus contactos pessoais? Por tudo isto, espero que a "tal" intervenção cirúrgica não seja nada de especial... já agora, desejo-te uma rápida recuperação.

Ainda tentei à tarde ligar-te para casa, para te poupar o trabalho de leres estas linhas, mas não resultou. Eu também não me sentia muito à vontade para devassar a tua privacidade.
Sobre as questões colocadas, gostaria de as separar em duas partes: a questão dos alferes de Nhala [, sobre a qual peça reserva e é só para teu conhecimento].

Sobre a questão da publicação do texto sobre os Alferes Capelães, tem menos que saber: podes publicar todos os elementos menos o meu nome, embora para os daquela "guerra" seja facilmente identificável. Os Capelães que me referenciaste são anteriores à minha comissão. Já agora só mais uma curiosidade: tal como o Alf Capelão não chegou a sair de Bolama onde fazíamos o IAO, também o Cmdt. do Batalhão, Ten Cor Andrade e Sousa seria substituído (nunca soube as razões, ou não recordo), pelo Ten Cor. Carlos Ramalheira até ao fim da comissão. Cordelinhos do Spínola...

Não te roubo mais tempo. Muito gostaria de te dizer como, não "dando a cara", perco horas esmiuçando o "nosso" blog no prazer de rever as terras da Guiné e as suas gentes (tão maltratadas ainda hoje), rever caras conhecidas e rever amigos que não me conhecem. Outro deles, é o Mário Beja Santos, de quem já li tudo o que havia para ler, e que continuei a acompanhar no seu regresso à terra e às pessoas que ama, lá onde todos nós deixámos um pouco da pele, mas de onde trouxemos muito mais do que levámos.

Para me contactares, para além deste mail; fica com o meu telefone fixo e telemóvel [...]

Boa recuperação e um abraço.

Sempre ao dispor (...)

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Notas do editor:

(*) Vd. página II Série do Blogue > Como entrar para a Tertúlia dos Amigos e Camaradas, ex-combatentes, da Guiné (1963/74)

(...) Os autores são sempre identificados pelo seu nome (excepcionalmente, por pseudónimo, ou iniciais, em caso de razões ponderosas) e são responsáveis pelo que escrevem ou editam. O mesmo acontece [, utilização de pseudónimo ou iniiciais] com militares ou combatentes, de um lado e de outro, ainda vivos, cujo comportamento possa ser objecto de crítica, por razões criminais, éticas, disciplinares ou outras. (...)

(**) Sobre o Mário Oliveira, tenente miliciano capelão que esteve em Catió, ver aqui:

30 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1474: O capelão Mário Oliveira, de Catió, que ia a Bedanda (Mário Bravo)

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1469: Bedanda, manga de saudade ou uma dupla sinistra, o padre e o médico (Mário Bravo, CCAÇ 6)

Guiné 63/74 - P12967: Estórias avulsas (78): O meu amigo cigano Zé Beiroto (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 7 de Abril de 2014:

Estava em Buba há pouco tempo quando recebi um aerograma do Zé Beiroto, o filho mais velho da Raquel cigana, onde me comunicava que tal como eu se encontrava em comissão na Guiné e pedia se eu lhe poderia arranjar um bom lugar para passar melhor o tempo por lá. Respondi-lhe que como amigo dele, desejava-lhe uma boa estadia mas que nada poderia fazer para a melhorar pois eu pouco mandava e não tinha amigos influentes.

O Zé, mais velho 3 anos do que eu, teria ido como refratário para a tropa, situação muito comum aos da sua etnia.
Não sabia ler nem escrever, portanto o aerograma terá sido escrito por um camarada a seu pedido. Não sei como terá conseguido o meu SPM. Na altura isso não me preocupou muito. Hoje penso que terá sido através da mãe dele, a Raquel cigana.

A Raquel era uma mulher robusta e larga, que pedinchava pelas portas mais do que todas as ciganas. Tanto entre adultos como entre jovens ela despertava pouca simpatia.
A Raquel parecia daquelas pessoas que não se conformando com a sua má sorte têm inveja e quase ódio às pessoas melhor instaladas na vida. Fosse porque deixasse transparecer isso ou por tanto a verem a pedir de porta em porta,  a garotada mandava-lhe ditos pouco agradáveis a uma distância conveniente para não serem agredidos. Este era o mais conhecido: "Quem me dera uma canhona morta para lhe tirar a pele comia-lhe a chicha toda e dava-lhe os ossos à Raquel".

Ia muitas vezes pedir à minha casa uma esmolinha, por amor de Deus. Recordo-me de pedir muitas vezes azeite para temperar o fiolho. A minha mãe, contra a vontade de alguns de casa, dava-lhe sempre alguma coisa. Tal uma como a outra tinham muitos filhos e isso devia mexer com a sua bondade e o seu instinto maternal.

Vista parcial de Brunhoso
Com a devida vénia a http://www.bragancanet.pt/brunhoso/

Nesse tempo Brunhoso era uma aldeia densamente povoada com muitos habitantes por casas de habitação. A acrescer a isso havia ainda muitos ciganos que não tendo residência fixa, passavam a maior parte do ano na aldeia em instalações improvisadas. Essas instalações eram alguns palheiros ou curraladas no inverno, que os lavradores lhes cediam. Já no verão preferiam instalar-se ao ar livre, no Pereiro, um terreno baldio perto do povo, com muitos olmos debaixo dos quais se abrigavam à noite e de dia nas horas de mais calor.
O olmo grande, onde a cegonha tinha o ninho, talvez o maior olmo da terra, dava abrigo a várias famílias. 

Nesse tempo os ciganos pelo seu modo de vida preguiçoso, a sua pedinchice e alguns roubos sobretudo nas hortas, eram expulsos, por vezes mesmo escorraçados da maior parte das aldeias. Em Brunhoso eles eram aceites e por isso muitos consideravam-na como sua. Havia outras aldeias, raras, onde eles se instalavam provisoriamente pois como povo errante não gostavam de estar sempre no mesmo sitio.
Há uma tendência entre muitos homens de abusarem do seu sentido critico para julgar os seus semelhantes. Entre os meus conterrâneos esse sentido critico devia estar muito esbatido ou então era o seu sentido de humanidade que era muito grande para aceitarem não só os seus iguais mas também os "outros", os que tinham hábitos e tradições tão diferentes que por vezes chocavam com as suas.

O povo de Brunhoso embora ordeiro e trabalhador devia sentir uma certa atração pela liberdade e despreocupação com que aquele povo de maltrapilhos vagabundeava pelo mundo vivendo ao ritmo da natureza mais selvagem, segundo o aconchego que as estações do ano podiam dar, de preferência mais perto dela e das estrelas, colhendo as plantas e frutos selvagens que a natureza dava tais como o fiolho, comendo os animais. vacas, ovelhas, porcos etc. que morriam de doença aos aldeões (não ciganos), procurando também a ajuda da população mais caridosa.

Esse tempo de muito trabalho, muita fome, muita gente, muitas festas, feiras e ciganadas em trânsito, era também o tempo da jovem mulher mais esbelta e donairosa, muitas léguas em redor, essa cigana, a mais bela da caravana, que só a evocação do seu nome alimentava sonhos eróticos nos lavradores do nordeste transmontano e sonhos de pesadelo nas suas mulheres. Dela dizia-se que já teria provocado a falência de várias casas de lavradores. Conheci, fui muito amigo dum camarada nosso, soldado noutro TO que depois de ter regressado dessa África longínqua se gabava de ter gozado dos seus favores.
Acho que depois 28 meses de sacrifício, de canseiras e de sustos merecia essa recompensa.

Ciganos
Coma devida vénia ao Blogue A Defesa de Faro

Os marinheiros de Vasco da Gama também tiveram como doce recompensa dessa longa e tormentosa viagem à Índia as ninfas da Ilha dos Amores, tal como nos conta Luís de Camões nos Lusíadas:

Que famintos beijos na floresta, 
E que mimoso choro que soava! 
Que afagos tão suaves, que ira honesta, 
Que em risinhos alegres se tornava 
O que mais passam na manhã e na sesta, 
Que Vénus com prazeres inflamava, 
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo; 
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo 

"Os Lusíadas" 
Canto nono 

Meu grande amigo, a vida é tão curta. como sabemos, cheia de sacrifícios e tristezas é bom que também proporcione por vezes algum prazer.
Seria mais velha que eu quatro ou seis anos. Vi-a algumas vezes e admirei-a pelo seu porte altivo, elegância e beleza . Eu e o Zé sempre fomos amigos talvez tenhamos herdado essa amizade das nossas mães.

Contrariamente aos da sua etnia, mostrava ser bastante ambicioso, trabalhando um pouco mais do que os outros e sendo também mais activo noutras actividades noturnas ou clandestinas. Casou com uma aldeã, contra a tradição do seu povo e penso que ao fazer o registo do casamento foi "apanhado" para cumprir o serviço militar.
Os casamentos entre ciganos eram muito festejados mas não tinham cerimonia civil nem religiosa. Nesse tempo, segundo constava, entre os aldeões, eram realizados pelo método do chapéu ao ar. Se o chapéu caísse com a copa para cima, os noivos ficavam casados, se caísse com copa para baixo ficavam também. Na realidade não havia chapéu, nem cerimónia, havia somente festa maior ou menor, conforme a comida disponível.

Já perto do final da minha comissão e estando já eu na CART 2732 em Mansabá, apareceu-me lá o Zé da Raquel que estava de passagem, para me cumprimentar. Ainda hoje não sei muito bem como conseguiu oportunidade para estar comigo e como sabia sempre onde eu me encontrava. Enfim instinto de andarilho e cigano.

De 1969 a 1973 estivemos na Guiné seis naturais de Brunhoso em comissão. Que eu saiba e recorde não houve outros, nem antes nem depois.  O José Beiroto, ou Zé da Raquel, soldado; o Joaquim Fermento, furriel da CCAÇ 3327, em Bachile e Teixeira Pinto; o Francisco Magalhães, meu primo, alferes da mesma companhia; eu, Francisco Magalhães Baptista para usar também o apelido Magalhães que muito prezo e pelo qual sou primo do outro Francisco já que tínhamos o mesmo avô, também Francisco e logicamente Magalhães; o António Francisco Beiroto, soldado e o José dos Santos Carvalho, soldado.

Com o meu primo e com o Joaquim Fermento cruzei-me uma vez em Bissau, talvez quando eles chegaram à Guiné e eu ia para a CART 2732 em Mansabá, depois da CCAÇ 2616 ter regressado em fim de comissão. O António e o José eram primos do José Beiroto, filhos do António Francisco Gordo, mais conhecido pelo Mudo Cigano, que aos baldões pela terra, morreu recentemente com 98 anos. A mãe chamava-se Isaura dos Anjos Beiroto. O pai embora cigano era muito trabalhador. O casal tinha muitas bocas para alimentar, criaram 13 filhos, e ele sendo mudo não podia dedicar-se ao negócio dos ciganos de compra e venda de burros, cavalos e mulas. Nesse negócio eles eram peritos, conseguindo enganar frequentemente os compradores, vendendo burro velho por burro novo.

A mãe deles era uma mulher humilde e resignada que eu recordo de andar a pedir esmolas pelas portas, quase sempre grávida. O Zé Beiroto morreu de doença há cerca de 30 anos. Paz à sua alma!

Com o desenvolvimento da Espanha no pós-franquismo, os ciganos emigraram a maior parte para lá. Os olmos do Pereiro, e de toda a aldeia, morreram através duma doença que os ventos trouxeram da Europa alguns anos após a sua debandada. Quando morrem os ciganos, muitos familiares trazem os corpos para Portugal para serem sepultados no cemitério de Brunhoso. É a melhor homenagem que podem prestar a essa terra de mulheres e homens ilustres, pobres e ricos que deixaram essa grande herança de solidariedade e tolerância aos seus filhos.

P.S.
Se algum camarada conheceu o José Beiroto ou os primos na Guiné, gostaria que me desse informações sobre as suas vidas por lá.

Um grande abraço
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12945: Estórias avulsas (77): A história do dia seguinte! (João Alberto Coelho)

Guiné 63/74 - P12966: 10º aniversário do nosso blogue (3): Resultados preliminares (n=67) da nossa sondagem ("Camarada, com que regularidade falas da guerra, aos teus filhos?")... Mais de um terço admite que nunca falou ou raramemte fala, da guerra, aos seus filhos...



Cartaz dos 10 anos da nossa Tabanca Grande 
Conceção do nosso "designer" © Miguel Pessoa (2014)


1. No dia 23 de abril, completamos 10 anos de existência. São cinco comissões na Guiné. O que é obra...

A efeméride já começou a ser comemorada (*), contando com a boa vontade, o entusiasmo e a participação de muitos dos nossos amigos e camaradas que já têm, lugar cativo à sombra (ou ao sol) do nosso mágico poilão...

E uma das formas de participar é responder `à sondagem que está em curso, "on line"  (vd. canto superior esquerdo do blogue) e que tem como pergunta: "Camarada, com que frequência falas da guierra aos teus filhos ?"...

Em boa verdade, deveríamos fazer duas sondagens, cada uma com um pergunta ligeiramente diferente: (i) "Camarada, com que frequência falavas da guierra aos teus filhos, antes de entrar para o blogue ?"; (ii) "Camarada, com que frequência falas da guierra aos teus filhos, hoje, depois de entrares para o blogue?"...

Eu penso que muitos de nós só há dez anos para cá tirou q  rolha da boca, ou a pedra do vulcão, ou abriu o baú das memórias há relativamente pouco tempo, agora que a guerra acabou há 40 anos, os filhos cresceram, e as vidas profissionais chegavam ao fim...Temos hoje não só outra distância (em relação aos aconmtecimentos) como outra disponibilidade (nomeadamente mental) e até outyra sabedoriam, sob a forma de ver as coisas e verno-nos a nós próprios.

Eu próprio deixei de pensar e de falar na guerra, mal regressei. Ou tentei fazê-lo. Sói depois de acabar o meu curso de licenciatura em sociologia, em 1980, é que comecei a escrever e a publicar ar os primeiirso textos (no extinto semanário "O Jornal")... Mas lá em casa a guerra caontinuava tabu...Não se falavaa dela...até ao aparecimento e desenvolvimento do blogue  e a o envolvimento da família nos nossos primeiros encontros...

Julgo que o mesmo se terá psssado com muitos outros camaradas... 

2. O tema desta sondagem surgiu-me a partir do título do livro da jornalista e nossa amiga Catarina Gomes, ela própria filha de um combatente, já falecido ("Pai, tiveste medo?", Lisboa,  Matéria-Prima Edições, 2014, 248 pp). 

Admito que eu muitos casos os nossos filhos nos façam perguntas insólitas e difíceis: (i) pai, andaste na guerra ? (ii) pai, mataste alguém ?; (iii) pai, viste morrer camaradas teus ?; (iii) pai, tiveste medo ?... E admito que tenham curisidade em saber: (v) pai, temos algum mano oui mana na Guiné ?... São perrguntas que os meus filhos já me fizeram...

Em geral, as nossas recordações entre camaradas, nos convívios anuais, da unidade ou subunidadee a que pertencemos. Podemo levar a família, mas as conversas mais íntímas deixam de fora a mulhere e os filhos... Felizmente que as coisas se estão a alterar e que a nossa comunicaç
ão melhorou, no seio da famíli, dos amigos e dos camaradas, com a nossa maior exposição pública através do nosso blogue e dos blogues que depois se foram criando e mais recemetemente atarvés do Facebook...

Mas, mesmo assim, não deixa de ser motivo de preocupação o fato de mais de 1/3 dos primeiros respondentes à nossa sondagem admitir que nunca  ou muita raramente ter falado com os filhos sobre a guierra...

Camaradas, que ainda responderam, façam-no, com toda a liberdade e sinceridade... Ainda temos 4 dias para "fechar a urna"... E é uma forma, útil e generosa, de participara nas comemorações do 10º aniversário do nosso blogue...  Escrevam também, aqui, os vossoscomentários....Obrigado. LG

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SONDAGEM >   CAMARADA, COM QUE FREQUÊNCIA FALAS DA GUERRA AOS TEUS FILHOS ?

Respostas preliminares (n= 67, às 13h00,  dia 11/4/2014),  nos dois primeiros dias, e quando ainda faltam quatro para encerrar a urna

1. Nunca falei / 2. Falei uma ou duas vezes  > 23 (34%)

3. Falo com alguma frequência  > 29 (43%)

4. Falo com bastante frequência / 5. Falo com muita frequência >  10 (15%)

 6. Não aplicável, não tenho filhos  >  2 (3%)

7. Não aplicável, não passei por situações de guerra >  3 (4%)


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Nota do editor:


Vd.postes anteriores da série > 



1 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12922: 10º aniversário do nosso blogue (1): 10 anos a blogar... 652 camaradas e amigos registados... 13 mil postes publicados... 5,5 milhões de visitas... 50 mil comentários... Obrigados ao Miguel Pessoal pela prenda que já nos mandou!... Obrigados aos nossos editores, colaboradores permanentes, autores, leitores, comentadores!...

Guiné 63/74 - P12965: Convívios (580): XV Encontro do pessoal da CCS/BCAÇ 2930 - Catió, dia 4 de Maio de 2014 em Fátima (Manuel Dias Pinheiro Gomes)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Dias Pinheiro Gomes (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM / Agrupamento de Transmissões da Guiné, Catió e Bissau, 1970/72), com data de 6 de Abril de 2014: 

Camarigo Carlos Vinhal
Envio o programa do Convívio da CCS do Batalhão 2930.
Por favor, com a tua grande paciência publica na tabanca muito grande.
Fico agradecido
Um grande abraço.
Até breve
Manuel Gomes




XV CONVÍVIO DA CCS DO BCAÇ 2930 - CATIÓ 

FÁTIMA - Domingo dia 04 de Maio de 2014 

 Convite e Programa 

Caros camaradas e amigos, 
Decorrido outro ano, aqui vos vimos convidar para com família e amigos nos juntarmos e participarmos no XV convívio dos ex militares da CCS do Batalhão de Caçadores 2930

Desta vez realiza-se a 4 de Maio de 2014 na cidade de FÁTIMA com o programa seguinte: 

Encontro junto ao Restaurante Ponto de Encontro, situado na Rotunda Sul, a partir da manhã cerca das 9.30 /10 horas. (Há parque de estacionamento suficiente junto ao Restaurante) (Em alguns mapas o local é designado por Rotunda de Santa Teresa de Ourem).

Pelas 10,45 partida a pé, perto de 1 km, para quem queira participar na Missa Dominical no Recinto do Santuário, no Altar do Recinto, seguida da procissão do "Adeus”, quem porventura não deseje participar nas cerimónias, pode ficar junto ao Restaurante, onde regressaremos cerca das 13horas, 13 e pouco, seguindo-se o Almoço e Convívio durante a tarde. (O Recinto do Santuario requer Silêncio).

Lembro que além das vossas intenções particulares, façamos uma oração pelos companheiros que já fizeram sua viagem e nos aguardam. Escolhemos este local devido as acessibilidades, parqueamento e possibilidade de percorrer a pé o trajecto, por outro lado pode haver quem aproveite deslocar-se via expresso da rodoviária para o terminal de Fátima se existir horário compatível. Como é um Domingo, atenção porque há menos ligações, e circular a pé em Fátima.

Pelas indicações que temos, esperamos ter connosco camaradas que vem de muito longe, e que gostariam de vos ver a todos pois as oportunidades com o tempo tendem a escassear. Quem entre em Fátima pela A1 pouco depois da portagem, vira a direita a Rotunda Sul fica a cerca de 1 kilómetro. De outros locais também é fácil dirigindo-se sempre para a Rotunda Sul. do Restaurante ao Santuário a pé pode fazer em 5 minutos, contudo e como alguns de nós já temos problemas de mobilidade, convém ter cerca de 15 minutos. 

Não estabelecemos local de encontro no Recinto do Santuário, porque depende da afluência de pessoas, contudo entramos a pé pelo lado oposto a Capelinha, pelo que e como existem grades a meio, penso deveremos ficar o mais a frente possível desse lado. Havendo Sol costuma haver alguma sombra, mas convém levar algo para a cabeça. 

Um forte abraço e tudo de bom para todos, destes vossos camaradas 
Serafim Carvalho e 
Pedro Rocha Pais 
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EMENTA 
Restaurante Ponto de Encontro: 

Aperitivos: 
Martini, Porto, Ricardo, Moscatel, Favaios 

Entradas: 
Pão, Azeitonas, Queijos, Pasteis de bacalhau, Rissois, Morcela de arroz, Chouriço assado

Sopa de legumes

Salada mista

Prato de peixe:
Bacalhau à Ponto de Encontro 

Prato de Carne:
Lombo assado no forno com arroz salteado

Sobremesa:
Doce da casa, Pudim caseiro, Salada de Fruta

Café Bebidas:
Vinho da casa Tinto ou Branco, Água, Sumo de laranja 

PREÇOS
Por favor tenta trazer dinheiro certo evitando trocos 
Preço por pessoa 
Adulto: 25.00€ 
Criança dos 8 aos 12 anos: 12.50€ . 
Criança dos 0 aos 8 anos Não pagam, mas precisamos saber que existem. 

Agradecíamos a confirmação de pessoas até ao dia 25 de Abril de 2014, para os seguintes contactos:

Serafim Carvalho - Telef: 249 111 089 - Mov: 961 472 372 e 911 783 510 - Mail: serafcarvalho@sapo.pt
Morada: AV. D. JOÃO I, Nº 28-A R/C – CARVALHOS DE FIGUEIREDO 2300-330 TOMAR 

Pedro Rocha Pais - Telef: 241 361 048 - Mov: 967 076 638 - Mail: rochapais@gmail.com

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VERIFICA POR FAVOR TEUS DADOS, SE NÃO ESTÃO CERTOS INFORMA O PAIS
Email - rochapais@gmail.com 
Rua Infante D. Jorge, nº 8 2200-089 ABRANTES 
Telef: 241 361 048 
Móvel: 967 076 638 

Se tiveres contacto de email envia-lhe um para retirar o endereço para nossa lista. 

POR MAIL A COMUNICAÇÃO FICA MAIS RÁPIDA, MAIS SIMPLES E MAIS ECONÓMICA, SE ALTERARES O MAIL AVISA. 

PASSA A PALAVRA A TODOS OS QUE CONHEÇAS, PORQUE PODE SUCEDER ATRASO DE COMUNICAÇÃO
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12959: Convívios (579): XV Encontro do pessoal da CCAÇ 3491, dia 10 de Maio de 2014 em Fátima (Luís Dias)

Guiné 63/74 - P12964: Notas de leitura (580): "Os Portugueses Descobriram a Austrália? 100 Perguntas Sobre Factos, Dúvidas e Curiosidade dos Descobrimentos”, por Paulo Jorge de Sousa Pinto (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2013:

Queridos amigos,
Por uso e costume, não descambo dos temas da Guiné, esta é o eixo central do que aqui vos escrevo, em nome dos princípios do blogue. Acontece que este livro surpreendente sobre a História dos Descobrimentos ajuda a perceber mitos e preconceitos em que incorremos e até em que participamos. Tem uma organização prodigiosa este livro que não se destina a especialistas mas ao grande público. Questiona polémicas, confronta mistérios e controvérsias, põe os descobrimentos face aos espelhos da memória, engrandece o que foi verdadeiramente grande e faz risota dos chavões postos em voga a partir do liberalismo do século XIX.
Em termos de cultura geral sobre os Descobrimentos Portugueses não conheço nada de mais original nem de mais vibrante. E o autor até questiona problema doutrinários da guerra em que participamos.

Um abraço do
Mário


Os Descobrimentos Portugueses contados engenhosamente a leigos

Beja Santos

Chama-se “Os Portugueses descobriram a Austrália? 100 perguntas sobre factos, dúvidas e curiosidade dos Descobrimentos”, por Paulo Jorge de Sousa Pinto, A Esfera dos Livros, 2013. Não hesito em considerar um acontecimento editorial este livro em que o especialista em História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa desvela ao grande público a trama dos Descobrimentos sob o manto diáfano das curiosidades e aspetos intrigantes do conhecimento histórico para os quais queremos obter resposta. O especialista comunica com vivacidade e não foge às questões escaldantes, tormentosas e mesmo aquelas que, como soe dizer-se, são fraturantes. Um exemplo: a imagem que construímos sobre África e o africano. Vale a pena uma citação abundante.

Em 1935, a escritora Maria Archer escrevia que “os negros pertencem a raça indolente, são destituídos de arquitetura, não têm monumentos, vivem mesquinhos de arte, sem escrita, e parcos de desenho ou pintura” e também manifesta o seu consolo “de ter escrito uma obra que vem demonstrar quanto negro selvagem, o bárbaro nu, desprotegido, retardado em civilização, a mão-de-obra indígena das colónias – pensa e sente como um homem”. Isto está escrito em África Selvagem. Nestas frases está condensada uma da ideias-chave que marcaram o paternalismo europeu sobre os Africanos, e que ainda hoje ecoa nos estereótipos e nos preconceitos que guardamos sobre o seu passado e a sua cultura: a de que o continente negro viveu num caldeirão de História amorfa e vazia e que as suas populações viviam em estado natural, em sociedades tribais, de costumes selvagens e economias de subsistência e penúria, até à chegada dos Europeus. E não havia civilização porque não havia cidades como as nossas, nem estradas nem monumentos.

Mais adiante observa o autor. "A imagem do continente africano foi sempre construída à medida dos Europeus: primeiro foi um espaço desconhecido a Sul do Sahara, de onde provinham caravanas que traziam ouro, produtos exóticos e informações nebulosas que afluíam ao mundo mediterrânico. Depois, conhecidos os seus limites naturais por ação das viagens portuguesas, passou a ser uma espécie de grande ovo de que se conhecia a casca mas muito pouco do seu interior, que era tomado por um grande espaço de movimentação de povos selvagens que periodicamente invadiam os reinos e dizimavam as populações. Aliás, é muito curioso olhar para a cartografia até ao século XIX e constatar o quase total desconhecimento ou irrealidade dos mapas de África. De seguida, na segunda metade do século XIX, o continente passou de mistério a galinha dos ovos de ouro, fonte de recursos para economias e potências europeias em concorrência entre si pelo domínio mundial e a necessitar de matérias-primas e mercados, mão-de-obra e prestígio imperial; a reboque de tudo isto, a superioridade intelectual, civilizacional e rácica de uma Europa que considerava seu dever arrancar os pobres negros à barbárie e partilhar um pouco do seu progresso e da sua ciência”.

O historiador compartimenta com muito acerto esta história dos descobrimentos escrita à forma de um guião: o papel pioneiro dos portugueses nos descobrimentos; alguma da grande mitologia que por vezes arrasta tanta polémica, caso da Escola de Sagres; um esclarecimento muito bem urdido sobre protagonistas e o porquê de certas decisões políticas (porque razão recusou D. João II o projeto de Cristóvão Colombo? O que aconteceu a Pêro da Covilhã? Camões esteve em Macau?); mistérios e controvérsias que deliciam os eternos polemistas (por exemplo, que tem de extraordinário o mapa de Piri Reis?); onde e como se cruzou a expansão portuguesa com a expansão europeia (questões tão curiosas como porque sucumbiu o Estado da Índia aos assaltos holandeses?); o pano de fundo de políticas e tratados (matéria vastíssima onde cabe perguntar se houve inquisição no Oriente, porque motivo foi D. Sebastião a Alcácer-Quibir ou quais eram os planos de Afonso de Albuquerque); “e se mais mundo houvera, lá chegara”, aqui as questões passam por obstáculos naturais, como a frequência dos naufrágios, se houve portugueses no Tibete, ou onde ficava a Cochinchina; histórias de encontros e desencontros, em que se questiona se foram os portugueses que introduziram a espingarda no Japão e qual o interesse dos biombos Namban; dúvidas e curiosidades (porque eram as especiarias orientais tão caras na Europa? Por que razão começou tão tarde a colonização no Brasil?); e, por fim, descobrimentos e memória.

À despedida, Paulo Jorge Sousa Pinto, apresenta, um balanço desta grande epopeia, não esquecendo de nos alertar que em cada época há sempre uma outra coloração no registo com que revistamos a História. Por exemplo, a seguir ao 25 de Abril de 1974, era o passado recente que importava, havia que denunciar a guerra em África, as suas causas e raízes, expurgar fantasmas coloniais, estabeleceram-se ligações por vezes simplistas e caricatas: de heróis, os Portugueses passavam agora a vilões, e os descobrimentos, de gesta a maldição para Africanos, Ameríndios e Asiáticos. Veio depois a Comissão Nacional para a Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, a seguir à catarse colonial era chegado o momento de redescobrir o passado. A temática regressou aos manuais escolares. Malbaratou-se muito do espólio documental e fotográfico produzido pela Comissão das Comemorações. Também aqui se cometeram esbanjamentos criminosos, como lembra o autor: a ópera composta por Philip Glass para evocar a viagem de Vasco da Gama desapareceu; custou cerca de 1,5 milhões de euros, foi representada três vezes na Expo 98 e nunca foi gravada. E termina deixando-nos uma reflexão mais do que incómoda: “A relação dos Portugueses com o seu passado colonial – ou ultramarino – vagueia ainda por entre os velhos estereótipos, entre uma imagem de heroicidade e uma lenda negra, continuando a prevalecer alguma dicotomia entre um certo sentimento saudosista e pseudopatriótico e um complexo de culpa mal assumido, expresso, de um modo geral, de forma contraditória e nem sempre saudável”.

Escusado é dizer se classifico este lançamento como um evento editorial relevante, este livro é obrigatório nas nossas estantes, estou absolutamente seguro que os leitores se renderão a esta prosa fascinante e a esta arquitetura prodigiosa da obra.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12941: Notas de leitura (579): "A Literatura na Guiné-Bissau", de Aldónio Gomes e Fernanda Cavaca (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12963: Parabéns a você (718): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav Allouette III - BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12952: Parabéns a você (717): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Guiné, 1967/68) e Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref, ex-Tenente Pilav da BA 12 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12962: Agenda cultural (308): O livro de Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos, "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro" vai ser apresentado em Tomar no dia 12 de Abril


O LIVRO "DA GUINÉ PORTUGUESA À GUINÉ-BISSAU: UM ROTEIRO", DE AUTORIA DE FRANCISCO HENRIQUES DA SILVA E MÁRIO BEJA SANTOS, VAI SER APRESENTADO EM TOMAR, NO DIA 12 DE ABRIL, PELAS 15H30



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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12906: Agenda cultural (307): Melech Mechaya, novo disco, "Gente Estranha": Apresentação, em Lisboa, FNAC Colombo, 6ª feira, 28, às 22h00, FNAC Chiado, 31, 2ª feira, às 19h00,. (E ainda... hoje, no programa da RTP1, "Portugal no Coração", c. 15h00)

Guiné 63/74 - P12961: Fotos à procura... de uma legenda (27): Oh Elvas, oh Elvas, Badajoz à vista!... (Parte I) (Luís Graça)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 663 > Aqueduto da Amoreira (1)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 441 Aqueduto da Amoreira (2)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 444 > Aqueduto da Amoreira (3)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 445 Aqueduto da Amoreira (4)


Aqueduto da Amoreira:

(i) Desde sempre a população de Elvas teve problemas com o abastecimento de água; a sua posição estratégica no alto de uma colina levou a que desde a ocupação islâmica os elvenses sobrevivessem através de poços situados intra-muros e de fontes nas redondezas que em caso de guerra se tornavam inacessíveis;

(ii) com o aumento populacional a situação tornou-se gravíssima durante a segunda metade do séc. XV. É em 1498 que os procuradores de Elvas pedem a D. Manuel I que lhe resolva o problema; seria então lançado na povoação o imposto do Real d’Água que recaía sobre bens de consumo para futuramente ser construído um aqueduto; a obra seria monumental e dirigida por Francisco de Arruda já no séc. XVI, que ao mesmo tempo trabalhava também na futura Sé da cidade;

(iii) as despesas enormes da construção fizeram com que ela pouco avançasse até 1537; a obra só estaria pronta em 1622 quando a água começou a correr na Fonte da Misericórdia; nos anos seguintes as obras de manutenção ao nível dos contrafortes aumentou o custo já por si enorme da construção;

(iv) O Aqueduto da Amoreira é um verdadeiro ex-libris da cidade (....):; trata-se de uma obra gigantesca que se desenvolve desde a nascente principal em galerias subterrâneas numa extensão de 1367 metros e depois ao nível do terreno e em arcadas por mais de cinco quilómetros e meio que chegam a superar os 30 metros de altura. (Fonte: Adpat. do sítio CM Elvas > Turismo > Lociais a visitar > Património civil) (com a devida vénia).


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 468 > Antiga Sé Catedral  e praça da República


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 497 > A praça da República, vista da antiga Sé Catedral.


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 599 > A belo calçada portuguesa da praça da República



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 487 > Antiga Sé Catredral > O magnífico  silhar de azulejo policromo  do séc.XVII



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 468 > Antiga Sé Catedral 


Antiga Sé Catedral, hoje Igreja de N.Sra. Assunção


(i) A construção da então igreja de Nossa Senhora da Praça foi principiada em 1517 segundo o traço do arquitecto régio Francisco de Arruda que trabalhava ao mesmo tempo no Aqueduto da Amoreira;

(ii) o espaço ocupado pela nova igreja tinha-se erguido até então a igreja de Santa Maria dos Açougues; a nova igreja abriu ao culto finalmente em 1537 mas tendo continuado as obras até final do século sob a direcção do mestre pedreiro Diogo Mendes;

(iii) a mestria de Francisco de Arruda fez com que fosse possível a construção de um majestoso edifício com um carácter fortificado e uma torre como fachada; Francisco de Arruda teve ainda a ajuda de outros mestres (...);

(iv) em 1570 com a criação do bispado de Elvas pelo Papa Pio V, a igreja de Nossa Senhora da Praça transformou-se na Sé de Elvas, título que viria a perder em 1881;

(v)  em termos artísticos a Sé de Elvas é um templo originalmente manuelino mas que perdeu alguma desta traça durante os séculos após alterações mandadas fazer nele pelos bispos da cidade; são de salientar no exterior o seu portal neoclássico e os portais laterais manuelinos; no interior, em redor de todo o corpo da igreja corre um silhar de azulejo policromo mandado ali colocar no início do séc. XVII pelo Bispo de Elvas D. António de Matos de Noronha; a capela-mor, mandada construir em 1734, é da autoria de José Francisco de Abreu em mármore de várias cores e em estilo barroco;

(vi) uma palavra como não poderia deixar de ser para o soberbo órgão situado no coro-alto mandado elaborar pelo bispo D. Lourenço de Lencastre em 1762 ao organeiro italiano Pasqual Caetano Oldovino que o completa em 1777. 

(Fonte: Adapt do sítio CM Elvas > Turismo > Locais a visitar > Património religioso) [Com a devida vénia].


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 599 >  




Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 513 > Igreja do antigo convento das domínicas... A sub iddae à sua torre sineira é obrigatória...  Um dos melhores miradouros das cidade...



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 533 > Um dos sinos da torre sineira da igreja das domínicas...



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 523 > Pormenor do centro histórico da cidade, vista da torre sineira da igreja das domínicas...


Igreja das Domínicas

(i) Antigo convento feminino da Ordem Dominicana fundado em 1528;

(ii) a igreja que hoje observamos foi principiada em 1543, tendo as obras terminado em 1557 no local onde outrora se situava a Igreja da Madalena;

(iii) é um edifício de rara planta octogonal com um pórtico renascentista e um interior completamente revestido a azulejos;

(iv) a talha dourada dos altares é obra do final do séc. XVII;

(v) Com a  extinção das ordens religiosas em 1834, levou ao o abandono do convento que no entanto viria a durar até 1870, altura em que falece a sua última freira Ana Inácia de Gusmão;

(vi) No início do séc. XX é decidida a demolição do convento, excepto da igreja; no seu lugar foram construídos um cine-teatro, casas particulares e uma escola primária; 

(vi) Da sua torre sineira tem-se uma vista magnífica sobre Elvas e redondezas.

(Fonte: Adapt do sítio CM Elvas > Turismo > Locais a visitar > Património religioso) [Com a devida vénia].


Fotos (e legtendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Pois, claro, que "as fotos á procura de legenda"... que publicámos no poste anterior (*), só podiam ser de Elvas, a "raínha da fronteira!... A bela cidade raiana do alto Alentejo, rica de história e património (civil, religioso e militar), tem hoje cerca de 16 mil habitantes.

Foi considerada a cidade mais fortificada da Europa. Orgulha-se de possuir o maior conjunto de fortificações abaluartadas do mundo. As muralhas de Elvas, em conjunto com o centro histórico da cidade,  são Património Mundial da Humanidade, de acordo com a classificação da UNESCO em 30/6/2012.

No tempo do escudo e da peseto, do Salazar e do Franco, Elvas eram apenas uma porta de entrada em Espanha (e na Europa) por Badajoz...Tempos duros, de repressão, de guerra civil espanhola (1936-1939), de contrabando, de emigração clandestina (anos 60/70,), de serviço militar obrigatório... Alguns de nós, como o Hernrique Cerqueira, passaram, por lá (BC 8)...

Passei por lá, mas desta vez com olhos de ver... Não é uma cidade para ... mancos!... Quando lá fui ainda não tinha a "anca nova"...Deixo aqui algumas fotos dessa visita "turístico"...

No passado, a caminho do "estrangeiro de fora", passei por lá, a correr, como cão por vinha vindimada... Era no tempo em que os portugueses, pobretes nas alegertes,  pouco ou nenhum valor davam a si próprios, à sua história e ao seu património cultural...E de Elvas sabíam o refrão da canção "A minha cidade", do elvense Paço Bandeira (n. 1945) e nosso camarada (fez o serviço militar em Angola, como 1º cabo trms inf, CCS/BCAÇ 1903, 1967/69, segundo li algures na Net):

(...) Ó Elvas, ó Elvas
Badajoz à vista.
Sou contrabandista
De amor e saudade,
Transporto no peito
A minha cidade,
A minha cidade,
A minha cidade, (...)


Excertos de comentários ao último poste da série, organizados por ordem lógica e  cronológica (*)

Veríssimo Ferreira:;

(...) Sobre as fotos, sei mas não digo, para que a rapaziada descubra. Talvez todavia e plagiando se possa dizer para a 1ª "tocam os sinos na torre da igreja". (...)

Henrique Cerqueira:

(...) Quanto ás fotos em busca de legenda: Pois a verdade é que mais uma vez são fotos de grande qualidade e a fortificação que se vê ao fundo tanto pode ser no Alentejo como no Alto Minho. Em fortificações o nosso país é tão rico que de repente eu dou comigo a pensar que nos habituamos tanto a essas belezas arquitetónicas que nem reparamos devidamente nelas.

Bom, mas não serve de desculpa e vê lá se dás uma dicazinha. (...)

Luís Graça:

(...) Obrigado, Veríssimo, obrigado, Henrique...  O Veríssimo, que joga em casa, já descobriu. Não é difícil... A terra tem sido. até agora, uma daquelas de "passagem" onde a gente nunca para(va)... Há agora motivos de sobra para a gente a redescobrir e saborear, com tempo e vagar... Toda ela é amuralhada... E hoje é motivo de orgulho para todos os portugueses., pelo seu pattrimónio edificado...

Sim, a arquitetura militar (no caso do forte...) não é medieval...

Mais dicas para o Henrique: fica naquela parte do país que tem mais de um terço do território (é equivalente à Guiné) e pouco mais de 7% da população...

Não te vou dizer o nome da igreja... Subi à torre sineira, a coxear de uma perna, para tirar estas e outras fotos... Justamente a pensar em camaradas, como tu, que por lá passaram, no tempo da tropa, há manga de tempo...

Henrique, também estás a jogar em casa, que eu sei!... Só me falta dizer o nome da terra, pá! (...)

Manuel Joaquim:

(...) Quanto às fotos, conheço bem o sítio: "Ó El... ó El..., ...oz à vista!" ... A foto dos sinos da Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Sé) recorda-me que alguém "cá de casa" foi responsável por obras de conservação e restauro realizadas no seu interior há poucos anos atrás, altura que aproveitei para visitar a cidade. (...)

Henrique Cerqueira:

(...) Luís Graça: É imperdoável da minha parte não ter identificado de imediato a localidade e qual o campanário que utilizaste para tirar as fotos.

É claro que foi na Cidade de Elvas e na Igreja da Nossa Senhora da Assunção.

Na verdade eu estive no BC8 em Elvas e também é verdade que quando lá estive eu via a cidade com outros olhos que não hoje em dia. Passados muitos anos, voltei a Elvas e fui visitar com a família essa igreja e lembro-me de ter subido umas escadas apertadas até ao campanário para admirar as vistas que são maravilhosas.

Também nunca tinha visto a fortificação de Elvas do mesmo modo que a vejo agora e até tive de me socorrer do Google para melhor compreender as imagens.

Bom um grande abraço e continuação das tuas melhoras e espero que quando coxeavas ao subir a torre sineira não nos chamasses muitos nomes feios. (...)

Guiné 63/74 - P12960: "Uadi-Bélaá" (Odivelas) (2): Conclusão - A terra da memória e da saudade... (José Martins)




1. Conclusão da apresentação do anexo à mensagem, com proposta de monumento, que o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou ao Presidente da Junta de Odivelas, Presidente da Liga dos Combatentes e camaradas de armas:





PROPOSTA DE MONUMENTO - 2

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Nota do editor

Poste anterior de 8 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12951: "Uadi-Bélaá" (Odivelas) (1): A terra para viver..., a terra de oportunidades..., a terra de acolhimento..., a terra com Jardins de Pedra (José Martins)

Guiné 63/74 - P12959: Convívios (579): XV Encontro do pessoal da CCAÇ 3491, dia 10 de Maio de 2014 em Fátima (Luís Dias)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Dias (ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74), com data de 8 de Abril de 2014:

Caro Amigo Carlos Vinhal
Remeto-te o aviso do convívio da minha Companhia, a fim de nos fazeres o favor de o publicar no nosso Blogue da Tabanca Grande, para conhecimento dos interessados.

Um abraço.
 Luís Dias




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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12935: Convívios (578): Almoço de confraternização do pessoal da CCAV 2748 (Canquelifá, 1970/72), dia 31 de Maio de 2014 em Almeirim (Francisco Palma)

Guiné 63/74 - P12958: Comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril (1): AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste, Lourinhã, com a presença do capitão de abril Jorge Silvério, natural de Ribamar, Lourinhã (António Basto)



Cartaz desenvolvido por António Basto

1. Mensagem do atual vice-presidente da direção da AVECO- Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste

De: Avecocombatentes

Data: 9 de Abril de 2014,  07:39

Assunto: 25 de Abril - 40 anos - Fim da Guerra Ultramar

Caro amigo Luís Graça:

Por este meio venho convidar-te para as cerimónias que vamos levar a efeito no 25 de Abril, para além de homenagearmos os Capitães de Abril, na pessoa do ten-gen Jorge Silvério (lourinhanense, de Ribamar),  vamos também relembrar o inicio do processo que conduziu ao final da Guerra do Ultramar. Espero que possas aparecer, para a festa e para o almoço.

Junto cartaz para divulgares.

Abraço
António Basto
AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste
Rua dos Bombeiros Voluntários - Centro Coordenador dos Transportes - Piso 1 – Sala 2
2530-147 LOURINHÃ
e-mail: avecombatentes@gmail.com
web: http://avecocombatentes.weebly.com


2. Comentário de L.G.:

António, obrigado pelo convite, para mais sendo a cerimónia na minha terra. Ainda é cedo para te dar uma resposta, uma vez que estou  em casa, em recuperação de uma cirugria à anca da perna direita. Mas tenho o maior prazer em divulgar esta e outras iniciativas para comemorar os  40 anos do 25 de abril e do fim da guerra em Áfica.  Acabamos por abrir, assim,  uma nova série, destinada à divulgação  de programas comemorativos desta efeméride histórica, desde que sejam da  iniciativa  de associações, organizações ou grupos de antigos combatentes.

Acabei de ler, também, no "Alviarad", que a AVECO já tem novos corpos sociais para o triénio de 2014-2016. Desejo-vos um bom trabalho, de preferência em rede com as demais associações e organizações que represetam os veteranos de guerra. (LG)


Brasão da AVECO
3. Notícia do jornal Alvorada

[Reproduzido com a devida vénia]


Novos corpos sociais da AVECO tomam posse este sábado
Última alteração dia
2014-01-03 às 11:56:00


Está agendada para este sábado, dia 4, a tomada de posse da nova direcção da AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste, que foi eleita em assembleia-geral eleitoral no passado dia 10 de Novembro. A cerimónia decorrerá nas instalações da Junta de Freguesia da Lourinhã, às 15h00.

O lourinhanense Fernando Castro será, após a tomada de posse, o novo presidente da direcção desta instituição. António Basto será o novo vice-presidente da direcção, seguido do tesoureiro José Henriques, do secretário Joaquim Domingos, do vogal António Batista e do primeiro suplente Esmeraldo Ferreira. Na mesa da assembleia-geral, Manuel Pereirinha ocupará o cargo de presidente enquanto Júlio Leandro e António Marteleira ficaram como primeiro e segundo secretários, respectivamente. No conselho fiscal o presidente eleito é Manuel Santos, o relator Joaquim Malaquias, o vogal Jaime Silva e o primeiro suplente José Gonçalves.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12957: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (15): O meu amigo Fur Mil Bento Luís, ou a amizade através dos tempos

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 6 de Abril de 2014:

Caros camaradas Editores
Dando cumprimento ao apelo do nosso Editor-Chefe Luís Graça que pediu para 'alimentar o Blogue' durante os tempos que iria ficar no 'estaleiro' devido à intervenção à anca, aqui fica um modesto contributo com este pequeno episódio que me 'tocou' e que ocorreu na passada 3ª feira.
Penso que pode ser inserido na série que, em certa medida, me 'pertence' e a que dei o título de "Histórias em Tempo de Guerra".
Em anexo remeto também uma foto minha actualizada, uma foto relativamente recente do amigo a que me refiro, o nosso camarada da Guiné, Furriel Mil. Bento de Jesus Luís, uma foto em que estou a almoçar com ele no "Enfarta Brutos" em Bissau e uma outra foto em que estou com a moto que utilizava nas minha deslocações a Nhacra, na companhia do meu amigo e também trabalhador na "Escuta", o Fur. Mil TSF Manuel Martinho.

 Abraços
Hélder Silva


HISTÓRIAS EM TEMPO DE GUERRA

15 - O MEU AMIGO FUR MIL BENTO LUÍS
ou
A amizade através dos tempos

Hesitei um pouco sobre como enquadrar este meu artigo. Na verdade, o motivo próximo, foi uma recente intervenção de carácter público que esse meu amigo fez em Vila Franca, mas como o que a motivou teve a ver com algo passado aquando das nossas vivências na Guiné, não será de todo desenquadrado do teor do título que fui dando às minhas memórias, que chamei de “Histórias em tempo de guerra”.

Eu e o Bento já nos conhecíamos há muito. Desde os tempos do exame de admissão à Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira, corria o ano de 1959. O Bento, que tem por uma das suas características principais a discrição (por feitio, por formação, por necessidade), teve o azar de nas vésperas ter tido um problema que o fez apresentar-se nessas provas de ambulância, maca e perna engessada. Para quem não gosta, nem quer, ‘dar nas vistas’, convenhamos que ‘melhor’ seria difícil!

Ex- Fur Mil Bento Luís

A partir daí, em que era fácil ser referenciado, e pelo facto de termos ficado na mesma turma nesse ano inicial, de arranque, da Escola Técnica, fomos estreitando, desenvolvendo e cimentando a nossa estima e amizade. Foi-se mantendo ao longo dos tempos, mesmo tendo cursado áreas diferentes pois eu fiz o curso de montador electricista e ele o de formação de serralheiro (tempos em que se procurava obter formação para trabalhar….). Terminada essa fase os nossos destinos originaram um afastamento. O Bento foi ingressar no mercado de trabalho e eu fui continuar os estudos em ‘modo diurno’ para a Machado de Castro, em Lisboa, com vista a obter a formação complementar para tentar o ingresso no Instituto Industrial.

Ao longo do tempo fomos tendo vivências diferentes, convergindo contudo na procura de respostas para se encontrar caminhos para uma sociedade mais justa, mais feliz. O ano de 1969 fez-nos reencontrar em Santarém, na EPC, sendo que ele foi na 2ª incorporação e eu na 3ª mas como ficou na Cavalaria acabámos por ser contemporâneos, sendo que nessa altura estava com ele outro colega da EICVFXira, o meu amigo Joaquim Pedrosa, jogador da Académica de Coimbra e que aí foi colega do Brasfemes, Vítor Campos, Costa, Gervásio, etc.. O ano de 1971 foi o do reencontro em Bissau.

O Bento pertenceu à CCAV 2721, que esteve na Guiné entre 69/71 e que andou pelo Olossato, Companhia a que pertenceu, entre outros o nosso “tertuliano” Paulo Salgado. Tenho a ideia que inicialmente teve um Capitão a comandar a Companhia mas foi substituído (por falecimento?) pelo Capitão Mário Tomé e terminaram a comissão em Nhacra.

Fruto dessa proximidade a Bissau e tendo em conta que desde o final de Maio de 71 já me encontrava na “Escuta”, o Bento, na sequência da sua ida ao Hospital, procurou-me e eu dei-lhe o apoio possível. É dessa época a foto que anexo em que estamos a comer no restaurante da Estrada de Santa Luzia, o “Enfarta Brutos”, julgo que eram umas omeletes de camarão, e cuja foto foi tirada por outro camarada que estava connosco, o Fernando Roque.

Bissau > No Enfarta Brutos com o Fur Mil Bento Luís

A partir daí fui algumas vezes a Nhacra, com o Roque, de moto. Na foto que anexo está a moto que utilizava, embora o camarada que está comigo seja o Manuel Martinho outro “Ilustre TSF” que estava comigo na “Escuta”. Em Nhacra não se vivia só da guerra e para a guerra. Havia conversas, perspectivava-se o futuro, iam-se ‘formando vontades’. Havia também sessões culturais, leitura de poesia, etc.

Setembro de 1971 > Hélder Silva e Manuel Martinho

Quando ele acabou a comissão, em 1971, eu ainda fiquei quase até ao final de 1972 e portanto deixámos de nos ver pois as nossas vidas familiares, profissionais e até de residência eram diferentes. Mas, mais do que isso, foram as diferenças nos nossos “entendimentos” de como se chegar a uma sociedade melhor, que não nos deixaram aproximar mais, permanecendo apenas a amizade e estima ‘à distância’, consubstanciada tantas vezes de forma colateral, já que o Bento manteve a amizade com o meu pai, a quem visitava com frequência e a quem deixava sempre um abraço para mim.

Um dia destes, na passada 3ª feira, dia 1 de Abril, calhou estarmos presentes numa sessão em Vila Franca de Xira promovida pela Junta de Freguesia, integrada nas actividades destinadas a comemorar os 40 anos do 25 de Abril de 74, dando voz, na ocasião, a alguns dos vilafranquenses (naturais ou adoptados), meus contemporâneos, que experimentaram a repressão e a ignomínia da prisão e da tortura pela execrável polícia política.

No final das intervenções dos quatro elementos do painel, em que se falou de resistência, de coragem, de determinação, de solidariedade e de mais outras coisas, foi dada a palavra à assistência, que apesar da noite fortemente chuvosa lotava o auditório da Junta. Numa delas, para minha surpresa e algum embaraço, o Bento resolveu citar-me como um exemplo de solidariedade, forjado na guerra, na medida em que lhe cedi alojamento e outros apoios aquando da passagem dele pelo Hospital de Bissau e de como isso lhe tinha sido marcante e agradável, a ponto de o estar ali a referir.

Confesso que nunca me tinha apercebido do efeito que, de forma natural e impulsiva, fui causador. Para mim, o que fiz foi uma coisa simples, auxiliando um amigo, sem qualquer esforço. Fiquei a pensar que muitas vezes os nossos gestos têm um alcance muito maior do que aquilo que julgamos. E que o “fazer bem” não só não é difícil como é compensador.

No final ficámos a rever as nossas vivências e, mais uma vez, a ‘teorizar’ sobre a necessidade de nos empenharmos, de novo, no combate por um mundo melhor. E, naturalmente, celebrámos a amizade!

Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE NOVEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10613: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (14): Um poema-despedida da Naty, dedicado ao seu companheiro a caminho da Guerra Colonial