quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13971: Inquérito online: as primeiras respostas: Máquinas fotográficas e fotografia; prova de vida; votos de boas festas 2014/15




Guiné > Região de Tombali > Setor S2 (Aldeia Formosa) >  CCAÇ 18  > c. 1973/74 > Uma saída para o mato.. Foto de Antero Santos , que têm lá mais 300, (que já mandou digitalizar, para partilhar com a Tabanca Grande... Eis uma bela prenda de Natal!).


Foto: © Antero Santos  (2014).Todos os direitos reservados [Edição: LG]


As primeiras respostas à nossa sondagem, envaidas ontem, e também provas de vinda e votos de bopas festas 2014/15 (*)...


(i) Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda e Bolama, 1963/65]

 Luis, meu amigo

Máquina fotografica ?? Que é isso ?? Nunca usei ... granadas defensivas, ofensivas, incendiárias, de morteiro,  de bazuca ... isso sim mas nunca atirei com essa ... máquina, apenas fui "atingido" por máquinas de outrèm.

Mas acho piada a quem foi para o mato ... fotografar.

Bom Natal, mas antes encontramo-nos na "Gala dos galos" [, dia 18 de dezembro, na ADFA].

Abraço, Rui Santos (o verborreico)


(ii) João Lourenço [, vive em Matosinhos; ex-alf mil, PINT 9288, Cufar, 1973/74]

Meu caro Luís,

Foi na Guiné que comecei a fotografar, por causa do comércio de máquinas de boa qualidade a preços razoáveis. A minha foi comprada,  salvo erro,  no TAUFIK SAAD,  em Bissau;   era uma Canon FTb, se não erro.

Tenho algumas fotos a preto e branco, mas poucas,  porque vinham revelar a Lisboa, e nem sempre havia portador do mato para a metrópole.

São memórias que guardo com carinho, dos bons e maus momentos

Um alfabravo, João Lourenço



(iii) Rui Vieira Coelho

[médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74, e subdelegado de saúde da zona de Galomaro-Cossé [, foto à esquerda, em 1973, em Galomaro, da autoria de Juvenal Amado]

Tinha máquina fotográfica comprada nos Açores onde estive a fazer inspecções militares,  e era uma Aza Pentax Spontamatic II,  semi- profissional

Tenho fotografias a preto e branco. Tenho a cores. Tenho slides a cores

Um abraço do
Rui Vieira Coelho





(iv) Armando Fonseca 


[, ex-Soldado Condutor, Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64]



Levei da metrópole uma máquina tipo caixote que era minha e de mais dois camaradas, e que no final foi sorteada e não me calhou a mim, mas na altura , como hoje, o dinheiro era pouco e não dava para investir em muitas fotografias, mas hoje tenho pena de não ter feito mais

Armando Fonseca

(v)  José Manuel [de Melo Alves] Lopes [Josema]

[vitivinicultor, duriense, poeta, ex-fur mil, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74]


Sim, tinha uma Kodak, prenda de meu pai no natal de 1971. A Kodak, um lápis e um caderno me acompanhavam para todo o lado. Os rolos eram revelados em Aldeia Formosa, eté o batalhão ser rendido em 73. Havia lá um "habilidoso" que percebia da poda. Depois, passaram a ser revelados em Bissau, quando havia portador.


josema


(vi) Ricardo Almeida 

[, ex-1.ºcabo, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]

Respondi:

1. Nunca tive máquina no CTIG

4.  Às vezes emprestavam-me uma máquina ou tiravam-me fotos

7.  Tenho bastantes “slides”

(vii) Guilherme Ganança


 [ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932,
 CabedúCatió eFarim
1967/69]

Olá, Luís Graça

Em relação à sondagem sobre fotografias: eis as minhas respostas:

1 - Nunca tive máquina fotográfica no TO da Guiné.
5 - Havia um «fotógrafo de serviço».
8 - Tenho algumas fotos a preto e branco.

Desejo-te, desde já, um Bom Natal, bem como a todos os camaradas da Tabanca Grande.

Eu estou recuperado e sinto-me bem. Só tenho de cumprir as «ordens de serviço» emenadas do IPO, atarvés da médica que me acompanha.

Alfa-bravo. Guilherme Costa Ganança


(viii) João [José de Lima Alves] Martins

[ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, 
Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69 ]


Respostas:


3. Comprei uma máquina na Guiné


7. Tenho bastantes “slides” [, que partilhei no Facebook e no blogue].


(ix) Antero Santos [ex-Fur Mil Atirador/Minas e Armadilhas da CCAÇ 3566 e da CCAÇ 18 - Empada e Aldeia Formosa -, 1972/74]


 Caros Amigos Luís Graça e demais editores

Relativamente a máquinas fotográficas informo que:

2 - quando parti para a Guiné levei uma máquina da marca Kodak, das mais baratas, toda em plástico.
3 - Comprei depois a um gila, em Empada, uma melhor, da marca Halina, ainda em 72. Em 73, já em Aldeia Formosa, vendi a Halina e comprei ao 1º sargento Pires (da CCAÇ 18, a minha unidade) uma Canon QL 17 (ou 19); esta Canon "foi-se" no Aeroporto Sá Carneiro por volta de 1994; deixei-a numa cabine telefónica e desapareceu. Em 73, numa das idas a Bissau, comprei um projector de slides (que ainda tenho);

6 - tenho algumas fotoa a preto e branco (40 a 50);

7 - tenho slides (cerca de 300) que já mandei digitalizar.

Em 73 comprei em Bissau um projector de slides (que ainda tenho).

Junto uma foto (transferida de um slide) do meu grupo de combate; como sempre saíamos do quartel mais ou menos a granel e quando chegávamos ao posto avançado antes do arame há que agrupar e sair - "vamos a eles antes que eles venham a nós" - frase que eu dizia sempre imediatamente antes de passar o arame farpado. Nos 18 meses que estive em Aldeia Formosa, comandei o grupo de combate por não ter Alferes,

Um abraço

(x) Martins Julião [, empresário, Oliveira de Azxemeis; ex-alf mil inf, CCAÇ 2701, Saltimnho, 1970/72]

Camarada,

Comprei uma no Saltinho, sob encomenda aos gilas, uma Canon,  formidável; no meio da confusão cheguei a Portugal sem ela.

Um furriel da CCaç 2701 era o fotografo de serviço: Furriel Mil Alves.

Uma saudação cheia de tempos idos.

Martins Julião


(xi) Fernando Chapouto 

[ex-fur mil op esp, CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67]


Quando entrei no Niassa,  a primeira coisa a comprar foi uma garrafa de whisky só para saber como era, não me dei mal com ele, só um bocadinho mais forte do que a minha aguardente de bagaço.

No mesmo dia comprei a máquina fotográfica e foi tirar fotografias sem fim até chegar a Bissau.
Como era fracota quando cheguei ao sector de Bafatá,  comprei uma melhor por dois contos no meu amigo e conterrâneo Eduardo Teixeira, que era o dono da drogaria ao, lado onde se comiam uns bons petiscos e em frente à porta de entrada  do quartel, que passou a revelar-me os rolos, por isso ainda ganhei algum patacon com as fotografias.

È esta a história da máquina fotográfica.

Ficaste elucidado quanto à BOR?

Um forte abraço
Fernando Chapouto

Guiné 63/734 - P13970: História da CART 3494 (3): A ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494 (XIME / ENXALÉ–[N]AS DUAS MARGENS DO GEBA) - A única presença no Enxalé (Jorge Araújo)

 1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 4 de Novembro de 2014: 


Caríssimos Camaradas Luís Graça e restantes Tabanqueiros,

Os meus melhores cumprimentos.

Durante treze meses, espaço temporal em que a CART 3494 marcou a sua presença no Aquartelamento do Xime [margem esquerda do Geba], muitas foram as flagelações que sofreu, quase todas elas com armas pesadas e, maioritariamente, à noite, período que era aproveitado para escrever algumas linhas, nos aerogramas ou cartas, para enviar para a “Metrópole”… muitas vezes como prova de vida.

O primeiro ataque de armas pesadas ocorreu num domingo [19MAR1972], cinco dias após concluída a sobreposição com a CART 2715, e o seu início verificou-se por volta das 23 horas, com uma duração superior a meia hora.

A narrativa que hoje vos trago ao conhecimento é uma dupla efeméride, por um lado está relacionada com o primeiro e único ataque ao Enxalé [margem direita] onde se encontrava instalado o 2.º GComb e, por outro, relata com imagens aquela que acabou por ser a minha primeira e única passagem por esse Destacamento.

Obrigado.

A ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494
(XIME / ENXALÉ–[N]AS DUAS MARGENS DO GEBA)
-A única presença no Enxalé-

I– O DESTINO DA CART 3494 EM 1972

I.1–XIME E ENXALÉ

ACompanhia de Artilharia 3494, a terceirae última unidade operacional do contingente do BART 3873, chegouà localidade do Ximeno dia 28JAN1972, 6.ª feira. Na margem esquerda do Rio Geba, sede do Aquartelamento, ficaram instalados três GComb [1.º, 3.º e 4.º] e na margem direita, para se fixarem no Destacamento do Enxalé, seguiu o 2.º GComb, sob o comando do Alf. Mil. Art. José Henriques Fernando Araújo [1946-2012], coadjuvado pelos furriéis: Luciano José Jesus, Manuel Benjamim Dias e António Sousa Bonito e mais vinte e duas praças.


II – A ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494

II.1 – XIME / ENXALÉ – [N]AS DUAS MARGENS DO GEBA

Em 19 de Julho de 1972 – uma quarta-feira – já lá vão quarenta e dois anos, encontrava-me em trânsito de Bissau para o Xime, viagem realizada à boleia em barco civil, na sequência de me ter deslocado ao Hospital Militar Principal [HM241] para extracção[cavalar: - método utilizado sem anestesia; porque esta cá tem] de um molar que, volta e meia, me tirava o sono e alguma tranquilidade.

A opção pelavia marítima era, com efeito, a única alternativa que dispunha para chegar ao Leste de forma expedita e, consequentemente, à minha Unidade e à minha Tabanca – o Xime.

Depois de algumas horas sulcando as águas do Geba passadas à torreira do sol, resistindo ao ruído dos motores da embarcação e lutando com os mosquitos que, tal como nós, aproveitaram esta oportunidade de viagem, avistámos, na margem direita, o Aquartelamento de Porto Gole onde “residiam”, à época, os camaradas da CCAÇ 3303. Faltava, então, percorrer uma dúzia de milhas marítimas [22 kms.] para o final da prova.

À medida que íamos avançando na navegação, a intensidade do sol ia diminuindo, e do nosso lado direito [margem esquerda] começámos por avistar Gampará, as águas do Corubal a fundirem-se com as do Geba e a orla mítica da Ponta Varela até ao Xime.

Estávamos com o pontão do cais no horizonte visual, por isso quase a chegar ao destino. Até lá… chamou-nos à atenção a quantidade de canoas que se deslocava no Corubal em direcção ao Xime, seguindo depois em direcção ao Enxalé. Havia mais mulheres que homens e a maioria delas transportavam à cabeça, cobertos com panos tradicionais, recipientes redondos tipo cabaças. O que tinham no seu interior?… Não dava para ver… mas levantou-me muitas dúvidas. Será que esta movimentação tinha/teve alguma relação com o narrado no ponto seguinte? Talvez…, pois ocorrera entre uma hora e uma hora e meia antes.

Chegado a “casa emprestada” [quartel], e logo a seguir a ter dado sinais de vida distribuindo as naturais saudações por quem surgia no meu itinerário, impunha-se tomar um merecido duche com água[escura] do poço, antecedendo o normal jantar de “arroz de estilhaços”,na messe.

Logo… logo… quase em simultâneo… começou o arraial. Os camaradas do 2.º GComb, no Enxalé, estavam a embrulhar… e de que maneira… com armas pesadas e ligeiras… a coisa estava/esteve mesmo muito assanhada.

II.2 – ATAQUE AO ENXALÉ COM ARMAS PESADAS E LIGEIRAS

- 19 DE JULHO DE 1972 -

Eram aproximadamente vinte horas e trinta minutos quando se iniciou o combate, em que a adrenalina subia a cada batimento cardíaco, mesmo para quem não estava a viver deperto aquela situação.

Como apenas fomos testemunhas oculares… da outra margem; a esquerda,socorremo-nos, neste contexto, do documento dactilografado da História da Unidade [BART 3873], no 4.º fascículo; Julho de 1972, ponto 31. «INIMIGO»; alínea d) Subsector do Xime; em que se refere o seguinte [P13488]:

- “Em 192030, o Destacamento do ENXALÉ foi intensamente atacado e durante 20 minutos. A nossa reacção surgiu pronta e ajustada. Sofremos 1 morto [Milícia] e 2 feridos [Milícias]. O inimigo: 4 mortos, 7 feridos e 1 prisioneiro. Salienta-se o tiro acertado de Artilharia do XIME em apoio às forças atacadas.Em 241130, 1 elemento da população, recém-apresentado, quando se dirigia a MADINA para trazer a família sob controlo IN, accionou 1 mina A/P reforçada, em [Xime 3A2-83] que lhe provocou morte imediata” (p.22).

No mesmo documento, ponto 33. «NOSSAS TROPAS», alínea b); conclui-se que a acção contra o ENXALÉ foi uma retaliação à Operação «AGARRA CABRITOS», realizada de 10 a 12 de Julho pelos GEMIL’S 309 e 310, mais uma Sec do COE, com percurso ENXALÉ-MADINA, em que os resultados foram 1 morto e 3 feridos IN e capturada 1 «Kalashnicov», sem consequências para as NT.


Foto 3 – Enxalé [Julho/1972] – Panorâmica exterior do Destacamento após o ataque.

II.3 – A MINHA ÚNICA PRESENÇA NO ENXALÉ

- 21/22 DE JULHO DE 1972 -

Já não sei precisar as razões que levaram a deslocar-me ao Destacamento do Enxalé dois dias após o ataque sobredito. Talvez para substituir alguém provisoriamente… ou…?O que é facto, é que por lá passei uma única vez e onde dormi uma noite. Esta primeira e única travessia do Gebafoi uma experiência marcante pois foi feita em canoa [bailarina], como as imagens abaixo documentam.

Navegar naquele tronco de árvore “desventrado”, em que tudo podia acontecer nomeadamente por influência do fenómeno da natureza designado por «macaréu», só deve ser comparável com a sensação de um funambula quando se movimenta no cimo de um fino arame, particularmente na actividade circense.

É que vinte dias depois desta primeira experiência no Geba, outra ocorreu como foi o caso do «Naufrágio no Rio Geba - 10AGO1972», esta mais dolorosa e violenta, e que já tive a oportunidade de narrar [P10246 + P13482 + P13494].

Eis algumas imagens da única viagem e estadia no Enxalé em JUL/1972.


Foto 4 – Rio Geba [Julho/1972] – Travessia em canoa entre o Xime e o Enxalé. Ao fundo é a margem esquerda, observando-se a embarcação “Bubaque”, antiga LP4 [Lancha Patrulha 4 – 1963/1964], antiga traineira de pesca algarvia…comprada como sucata à Marinha [P13914, com a devida vénia], em direcção a Bambadinca. Esta embarcação, depois de abatida ao efectivo, foi comprada pelo pai de Manuel Amante da Rosa, hoje embaixador da República de Cabo Verde, em Roma. 


Foto 5 – Enxalé [Julho/1972] – Margem direita do Geba… agora em terra firme.


Foto 6 – Enxalé [Julho/1972] – Na companhia do Furriel Benjamim Dias e dois elementos da população, que desconheço, em visita de cortesia. 


Foto 7 – Enxalé [Julho/1972] – Tabanca… com o Furriel Benjamim Dias em amena cavaqueira com alguns elementos da população.


Foto 8 – Enxalé [Julho/1972] – Tabanca... elementos da população em interacção com os camaradas militares do 2.º GComb.


Foto 9 – Enxalé [Julho/1972] – Ruínas de uma destilaria de aguardente de cana que foi pertença de um português, de nome Pereira, natural de Seia, e que ali funcionou até 1962. 


Foto 10 – Enxalé [Julho/1972] – Imagem das ruínas de uma destilaria de aguardente de cana que funcionou no Enxalé até 1962.


Foto 11 – Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartelamento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Sr. Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana [P6116-LG com a devida vénia].
Foto 12 – Enxalé [Julho/1972] – Imagem de despedida daquela que foi a primeira [e única] passagem pelo Enxalé.

Agora que cheguei ao fim de mais uma viagem pelas memórias do Xime e do Enxalé, nos idos anos de 1972/1973, espero que tenham gostado de as recordar, não só os camaradas membros da CART 3494, como todos aqueles que por lá passaram.

No nosso caso, foram treze meses em que, aqui,nas duas margens do Rio Geba, se contabilizaram um número significativo de grandes emoções e tensões, nomeadamente pela perda de vidas humanas – quatro: três no Geba e um na Ponta Coli.

Um abraço,
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
___________
Nota de M.R.: 


Guiné 63/74 - P13969: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (91): Foto do ferryboat BOR que levou a CART 730, de Bissau para Bolama, um dia depois de desembaracar do T/T Niassa (João Parreira, ex-fur mil op esp e cmd, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; Gr Cmds Fantasmas, CTIG, Brá, 1965/66)


Guiné > s/l [Possivelmente, Bissau] > s/d  > O ferryboat Bor que, em 1964, levou, de Bissau a Bolama,  o pessoal da CART 730, acabado de desembarcar do T/T Niassa.

Foto: © João Parreira (2014).Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem, com data de ontem, do João Parreira [ex-fur mil op esp, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; ex-fur mil comando, Gr Cmds Fantasmas, CTIG, Brá, 1965/66]


 Caro Luís Graça,


Aqui vai uma fotografia do "BOR" que levou a minha companhia para Bolama, um dia depois do Niassa atracar em Bissau com o batalhão.

Nessa viagem o "BOR" encalhou pois a maré vazou mais do que o habitual, julgo eu, o então o "mestre" desviou-se um pouco da rota, e aí ficámos várias horas.

Um abraço amigo.

João Parreira

2. Comentário posterior de Manuel Amante e de LG:

Luis, esta foto do "BOR" é de alguns anos após a Independência da Guiné. Início possível do seu desmantelamento. Uma sombra triste e desolada de uma embarcação que, sob qualquer tempo ou contingência, muito navegou pelos rios e canais da Guiné. Manuel Amante.

Já pedimos ao João Pareira para, se possível, nos elucidar sobre onde, quando e por quem foi tirada esta foto, rara, do "BOR".

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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13968: Inquérito online sobre as nossas máquinas fotográficas e as fotos que tirávamos há 50 anos...





Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Nos arredores de Bambadinca, à civil, em dia de repouso do guerreiro... O fur mil at inf,. do 3º Gr Comb, Arlindo T. Roda, batendo as suas chapas. Tem  cerca  de 300 "slides" que nos ofereceu e nos tem ajudado a  alimentar o blogue... Já não me recordo qual era marca e o modelo da sua máquina fotográfica, mas são dele, Arlindo T. Roda,  as melhores fotos, até agora divulgadas, de cenas no mato, em operações, e em helievacuações...

Arlindo Teixeria Roda, natural de Leiria, nasceu em Pousos, em 1/9/1947, vive em Setúbal, é apaioxando pelas damas e pelo xadrez, sendo atualmente o presidente da direção da Federação Portuguesa de Damas, onde continua a "fabricar campeões". Já não o vejo há séculos. Para ele vai um fraterno abraço natalício.




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca ) >  CCAÇ 12 (1969/71) >  No decurso de um operação... algures do subsetor do Xime: atrevessia de uma lala, alagada... O Arlindop Roda é o primeiro do laedo esquerdo; por detrás dele o alf mil op esp Francisco Magalhães Moreira, comandante do 1º Gr Comb,  e o apontador de LGFog 3.7, Mamadú Silá, fula, da 2ª seção do 1º Gr Comb, (comandada pelo fur mil at inf, Joaquim João dos Santos Pina, natural de Silves, que será ferido em combate no decurso da Op Borboleta Destemida, em 14/1/1970)...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



A. Mensagem enviada hoje pelo correio interno da Tabanca Grande:

Assunto - Sondagem: Máquinas fotográficas & fotografias, há 50 anos

Camaradas:

Em comentário a um poste, do passado dia 29 de novembro,  em que se pedia uma fotografia do "heróico" ferryboat "BOR" que fez a guerra e a paz (*), o João Silva, da CCAÇ 12 (Xime, 1973) dizia que conheceu o "BOR", velhinho, em fim de vida, ainda a trabalhar mas já rebocado... No entanto, "fotografias do BOR ká tem", que nesse tempo a máquina fotográfica ainda era um luxo ou uma "ave rara"...

Respondi-lhe que, com o patacão da guerra, alguns de nós, milicianos, comprámos as primeiras máquinas fotográficas, japonesas, que nos chegavam à Guiné (Bissau, Bafatá, Nova Lamego...), via Macau, a preços muito mais acessíveis do que na metróple...

Mas, mesmo assim, era de facto um objeto de luxo. Da malta da CCAÇ 12, do meu tempo (1969/71), poucos tinham máquina (que me lembre, os fur mil Arlindo Roda, Humberto Reis, Tony Levezinho)...

Depois havia, sempre um ou outro militar que montava o seu negócio de fotografia, e que inclusive tinha um pequeno estúdio para revelação... Houve quem ganhasse bom dinheiro com o negócio da fotografia... (Temos alguns camaradas, membros da Tabanca Grande, que podem dar o seu testemunho: estou.me a lembrar por exemplo,  do Albano Costa, o "fotógrafo de Guifões", Matosinhos).

Ao fim e ao cabo, estávamos longe de casa,. A Guiné era "fotogénica" (as bajudas, os macacos-cães, as bolanhas, os palmeiras, as tabancas, os trajes...), e toda a gente gostava de mandar um "postal ilustrado" para a metrópole, a família, os amigos... Quanto mais não fosse pra fazer a "prova de vida": mãe, pai, irmão, irmã, minha querida, meus amigos, nós por cá todos bem...

Pessoalmente tenho muito pena de, na altura, não me intersssar pela fotografia... Não tinha máquina, e muito menos disposição para me dedicar à fotografia... As poucas fotos que tenho foram tiradas e cedidas por camaradas...

A sondagem desta semana tem a ver com este tema....Podem dar mais do que uma resposta... Conto mais uma vez com a vossa valiosíssima colaboração. E, por favor, não deixem que as vossas fotos e "slides" acabem, ingloriamente, no contentor do lixo. Camaradas, não deixemos que nos tratem como lixo...

Respondam, não por email, mas diretamente, no blogue, no canto superior esquerdo a esta sondagem (vd. ponto B].

Um abraço a todos. E não se esqueçam nos mandar um gracinha de Natal como "prova de vida"... Há camaradas de quem já há muito não temos notícias... Esperamos que estejam bem, Boa saúde, e força para o novo ano que aí vem...

Um alfabravo, Luís Graça (e demais editores)

B. Sondagem: "TINHAS MÁQUINA FOTOGRÁFICA NO TO DA GUINÉ ?"

[Resposta múltipla: podes dar mais um resposta]


1. Nunca tive máquina no CTIG

2. Já levei uma, da metrópole

3. Comprei lá uma

4. Às vezes emprestavam-me uma máquina ou tiravam-me fotos

5. Tínhamos um "fotógrafo de serviço"

6. Tenho bastantes fotos a preto e branco

7. Tenho bastantes “slides”

8. Tenho algumas fotos e/ou "slides"

9. Não tenho fotos e/ou "slides"

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 29 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13959: (Ex)citações (255); A minha aventura (e da minha mulher, grávida) a bordo da BOR, numa viagem atribulada entre Bolama e Bissau (Rui Santos, ex-alf mil inf, 4ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)

Guiné 63/74 - P13967: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (90): Finalmente uma foto do BOR (António Bastos / Manuel Amante / Rui Santos / João Silva)


Foto nº 1


Foto nº 2


Fotos: © António Bastos (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem do n osso camarada António Bastos:

Data: 1 de dezembro de 2014 às 14:57

Assunto: Será o Bor?

Companheiro Luís, boa tarde.

Luís,  têm-se falado muito no BOR, eu não me lembro de ouvir esse nome dos colegas da marinha que passavam pelo Cacheu em 1964.

Mas como tinha esta foto [, foto nº 1,] ,  enviada por um colega que infelizmente já se foi, lembrei-me de a mandar, assim como esta outra, de uma embaecação   [, foto nº 2,] que ainda ninguém se lembrou de falar: era o Pecixe,  fazia o transporte de civis do Cacheu para S. Domingos e tinha como tripulação o grumete fogueiro,  motorista nº 8838,  de nome José País (, ainda vivo,  mora em Mem Martins,) e o cabo Candeias, que nunca mais soube dele.

Este barco também era da marinha, e foi um barco de pesca [, tal como o "Bubaque"], bom isso deixo para os colegas da marinha para falarem sobre o mesmo.

Companheiro Luís,  é tudo,  um abraço e até breve.

António Paulo [Bastos],
ex 1º cabo do Pelotão Caçadores 953,
1964 Cacheu , Farim, Canjambari, Jumbembem, 1966


2. Mail enviado ao Rui Santos, com conheciumento ao Torcato Mendonça, Ismael Augusto e Manuel Amante:

Meu caro e veteraníssimo Rui:

Será que este ferryboat que fazia a carreira de Bolama, é o mesmo (o BOR) onde tu e a tua "bajuda" fizeram a tal viagem dramártica de Bolama a Bissau, no princípio [ou final ?] da tua comissão ?

 O Bastos é um rapaz de 1964/66... que andou pela região de Cacheu e Farim, "periquito", quando comparado contigo que és de 1963/65...

Fico a aguardar os teus doutos esclarecimentos... Aproveito para mandar estas fotos (a outra é de uma outra embarcação usada no Cacheu) à malta que se lembra do BOR...porque andou nela (caso do Torcato Mendonça, do Ismael Augusto e do "nosso" embaixador Manuel Amante).

Um muito obrigado ao Bastos. Esta nossa partilha de informação e conhecimento só é possível porque o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (**).

Um alfabravo. Luis


3. Resposta pronta, de Manuel Amante,
 a partir de Roma [, onde é embaixador do seu país, Cabo Verde]:

Data: 1 de dezembro de 2014 às 16:52

Assunto: Será o Bor?

Luis, a primeira foto, a mais pequena [, foto nº 1,]  é mesmo o "Bor".

Já passei horas a ver se apanhava uma foto desta embarcação.  Percorri vários sites,  inclusivé do Arquivo Histórico Ultramarino e outros,  em vão. 

Sabendo do estaleiro de construção ou da data de chegada a Bissau,  talvez se pudesse saber de outros pormenores e características deste ferryboat que era pau para toda obra nos rios da Guiné.

Abrcs.
Manuel

4. Comentário de Rui Silva (*), com data de 1 do corrente, 18h37:

Amigo Luis, de certeza que era o Bor, foi em Fevereiro de 1965, dias antes do nascimento de nossa filha, o Bor nessa altura ja navegava de "bengalas" e "boias nos braços", enferrujado, velho combatente mas navegando à superficie dos canais e rios limitrofes de Bolama e Bissau.
Abraço
Rui Santos
[ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]


5. Comentário de João Silva, ex-fur mil, CCAÇ 12, 1973. Xime (*):

Uma achega, a Bor pifou de vez e passou em 1973, em meados de junho, a deslocar-se atrelada a um rebocador. Numa das viagens que fiz, Xime-Bambadinca, por deferência do comandante do rebocador, foi bem mais confortável e com direito a bebida a bordo do rebocador. Curiosamente nunca fiz a viagem inversa de barco.

João Silva, CCaç 12, 1973
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de outubro de  2014 > Guiné 63/74 - P13729: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Revivendo, 48 anos anos depois, a tragédia de Jumbembem, a morte do cap mil inf Rui Romero, da CCAÇ 1565, em 10/7/1966 (Ana Romero / Artur Conceição)

(**) Vd. poste de 29 de novembro de 2014 >Guiné 63/74 - P13959: (Ex)citações (255); A minha aventura (e da minha mulher, grávida) a bordo da BOR, numa viagem atribulada entre Bolama e Bissau (Rui Santos, ex-alf mil inf, 4ª CCAÇ,  Bedanda, 1963/65)

Guiné 63/74 - P13966: Parabéns a você (823): Herlânder Simões, ex-Fur Mil da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13961: Parabéns a você (822): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil CAV, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13965: Conto breve (António Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513) (1): Pesadelo

1. Mensagem do nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 19 de Novembro de 2014:

Caríssimos camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal.
Envio-vos em anexo duas imagens e um texto, em Word, que é uma estorinha tirada de um "filme" que me revisitou nos primeiros tempos após o regresso da Guiné.
Ficcionei, para me permitir omitir nomes, datas e detalhes. Por estas razões ou por falta de dados concretos, ou porque sejam irrelevantes, assim farei no futuro. Chamar-lhes-ei "contos breves". Tudo o resto serão crónicas, memórias, etc.
Deixo à vossa consideração a publicação ou não do texto anexo e o mais que aqui vai. Isto é válido para todas as situações futuras, não vale a pena estar sempre a mencioná-lo.
Caso optem pela publicação, gostava que fosse precedida por uma pequena homenagem ao único soldado falecido da minha Companhia.  

Era o Jerónimo de Freitas Martins e era do meu GComb. 

Morreu em Bissau em 29-01-1974, vítima de um acidente de viação quando aí se encontrava para tratar dos dentes, ou para consulta hospitalar, não recordo. Caiu de uma viatura quando integrava um piquete de recolha de lixo. Dele, junto uma fotografia que lhe fiz em pleno mato quando fotografei, um a um, todos os elementos do meu GComb. A mágoa que me deixou a sua morte foi maior por se tratar de um homem exemplar: corajoso (com ar tímido), humilde e bom. De uma simplicidade a roçar a timidez, estava sempre disponível com um sorriso no lábios. Nunca soube o que seguiu à sua morte. Tão pouco se veio para ser sepultado na sua terra natal. Hoje penalizo-me por não ter recolhido informações sobre ele naquela altura e, se o fiz, ficaram os meus escritos em Nhala, a onde não regressei após as minhas férias de Agosto de 1974. Certo é que nunca pude contactar os seus familiares e depois enterrei o assunto juntamente com todos os assuntos relativos à Guiné.
E agora é tarde de mais.


Da pág. 255 da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974 - 8.º Volume - Mortos em Campanha - Tomo II - Guiné - Livro 2:

Jerónimo Freitas Martins, Soldado Atirador da 2.ª Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 4513/72
Unidade Mobilizadora: Regimento de Infantaria 15 de Tomar
Data do Falecimento: 29 de Janeiro de 1974 no HM de Bissau
Causa de Morte: Acidente de viação
Estado civil: Solteiro
Pai: Manuel Martins
Mãe: Josefa Freitas
Freguesia: Atães
Concelho: Guimarães
Local de Operações: Bissau
Local da Sepultura: Cemitério Paroquial de Atães

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Conto breve

1 - Pesadelo

Caminhavam em fila-indiana há várias horas, por um carreiro muito apertado a cortar a mata cerrada. Há muito que se dissipara a frescura da manhã e o calor já se fazia sentir com alguma intensidade. A partir daí, não mais pararia de aumentar, tornando apreensivos os caminhantes, já ensopados mas ainda dando mostras de alguma desenvoltura. O mesmo não se passava com o alferes, muito trôpego e com o suor a pingar do queixo. O movimento das suas pernas tornara-se automático e bastava o tropeço numa raiz, para o desequilibrar e fazer dar largas passadas, projectado para a frente, quase a estatelar-se. A carga que o alferes levava também não ajudava, tal como aos demais, mas para uma operação de vários dias havia que acautelar uma logística a condizer.

Ia, pois, trôpego, pesadão e absorto, pois na sua cabeça ia um turbilhão. Desde o início questionara-se sobre a utilidade daquela operação de tropa macaca, com uma Companhia reforçada de vários grupos de combate de outras unidades, fora a quantidade de carregadores nativos. Apeados, denunciariam a sua presença assim que saíssem da orla da mata. Estendiam-se por centenas de metros, e mais metros teriam quando guardassem maiores distâncias entre si, logo que entrassem em campo aberto. Mesmo dentro da mata, que aconteceria se a cabeça da coluna caísse numa emboscada? Ou fossem atacados os da cauda? Que apoio teriam dos restantes camaradas? Achava que era uma operação condenada ao fracasso.

Mas, então, não era assim em todas as deslocações? – Perguntaram-lhe. Não! Aqui estão demasiadas pessoas a movimentarem-se em pleno território inimigo, que controlam à vontade e que fazem pagar caro qualquer intromissão, como já acontecera no passado. Nem os postos avançados vamos conseguir ultrapassar! Então deixam-se à vontade e permite-se-lhes que continuem, a partir do centro daquele território, a reabastecer as suas bases, a infiltrarem-se nas imediações dos nossos aquartelamentos, a cortarem-nos as vias de comunicação, a emboscarem-nos, sei lá... Não!!!, porra! – Interrompia o alferes – nós não vamos fazer um golpe de mão a uma casa de mato, nós vamos fazer um assalto a um santuário inimigo no coração do seu território, onde já repeliram as nossas tropas especiais..., que haviam sido lançadas de surpresa sobre as suas cabeças!... Ou não foi por o caso ser sério que deixaram passar estes anos todos desde então? Até se lembrarem agora de novo assalto, nesta operação ridícula e que seria trágico-cómica não fossem as consequências para centenas de pessoas.

O alferes deu por si a falar alto, meio descontrolado, quando lhe deram duas palmadas nas costas: era um dos furriéis do seu pelotão a fazer-lhe sinal para se calar e não perder de vista o homem da frente que já tinha sumido. Por breves instantes acompanhou-o lado a lado e perguntou-lhe se estava tudo bem com ele, ao que o alferes respondeu com um olhar vago, meio surpreendido. De volta à realidade, teve ganas de abrir o cinturão, largar a carga, deitar fora a G3 e embrenhar-se na mata sem destino. Mas não teve coragem. Caralho! – disse para consigo – até para ser cobarde é preciso ter coragem!...

Acelerou o passo com dificuldade, todo suado. O batimento cardíaco a demorar o ritmo normal, parecia retornar de um sonho mau. Um sonho dentro de um sonho? A festa ainda não tinha começado e já receava não aguentar. Bebeu dois goles de água quente do cantil e fez uma careta olhando o relógio. Perdera a noção do tempo, caramba! Porque não paramos para descansar um pouco? – Pensou. Fazia tensão de vir atrás falar com o capitão, quando se apercebeu, pela claridade à sua frente, que se aproximavam da orla da mata. Prosseguiu. No carreiro à sua frente, em zigue-zague, não conseguia vislumbrar em simultâneo mais de dois ou três dos soldados do seu pelotão. Pela sua posição no grupo, calculou que os três primeiros estariam a chegar à clareira, por onde o pelotão da frente já devia progredir. Era uma clareira traiçoeira, que ele conhecia bem. Nos seus patrulhamentos de rotina, apenas com o seu pelotão, era a fronteira para além da qual, nem morto... O terreno era bastante plano, não muito largo mas muito comprido, acompanhando um riacho, às vezes seco, mais próximo da orla da mata em frente. Ao sair da mata, sabia, tinha no máximo cem metros até ao riacho, que se apresentava atravessado na sua frente. Para ultrapassá-lo havia um tosco pontão de madeira com três tábuas largas a fazer de tabuleiro. Bastava arrancá-las e atirá-las para a água e estava feita uma armadilha para quem já estivesse do outro lado.

Acelerou o passo logo parando, para dar passagem a uma coluna de carregadores cujos passos restolharam atrás de si. Deduziu que foram mandados para a orla da mata com os cunhetes de munições, tubos dos morteiros de 81 mm e respectivos assessórios, grandes garrafões de água e até macas. Percebeu as intenções e aguardou a passagem do furriel para o incumbir de levar para a orla da mata a secção do morteiro e a da bazuca. Agarrou para junto de si o 1.º cabo das transmissões e fez sinal ao outro furriel, que já se aproximava, para fazer passar adiante todo o pessoal com as granadas. Começou de novo a andar e disse ao cabo do rádio para ligar ao capitão da sua companhia.

Ia o cabo a começar a falar e, de repente, rebenta lá na frente um foguetório de pôr os cabelos em pé, com rajadas prolongadas e cruzadas, rebentamentos de granadas um pouco por todo o lado, mesmo até ao lugar em se encontrava. Passados os instantes de surpresa e arrepio, deu uma corrida na direcção da orla da mata e ficou encostado a uma árvore de pequeno porte, meio curvado, tentando avaliar a situação. Na base da árvore, um dos seus furriéis estava agachado e parecia calmo. Atrás de si, e ao logo do carreiro dentro da mata, o pessoal era pouco visível, e aguardavam protegidos. Movimentando-se curvados, passaram por si o capitão e alguns alferes, na direcção da saída da mata. Lá na frente, não dava sinais de abrandar a contenda, ouviam-se berros, palavrões e insultos. A metralha estava no auge. O alferes continuava de pé, apreensivo, mas o furriel fazia-lhe sinal que os homens do pelotão, mais à frente, estavam em segurança (?) junto à orla da mata a fazer fogo de morteiro. Os rebentamentos dentro da mata, atrás de si, começaram a rarear mas, à sua frente na mata do lado de lá da clareira e do riacho, parecia até que aumentava. Mas estava lá o pelotão que tinha avançado à frente e, agora, tinha a sensação que os disparos se deslocavam muito para a direita. Talvez estivessem já a debandar esses turras do caralho! – pensou. Ponderou então ir a corta-mato pela direita até à orla e ver das condições aí para instalar o morteiro e, quem sabe, com o resto do pessoal, esboçar um envolvimento...

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Mas, num ápice, uma rajada cortou as folhas que lhe roçavam a cabeça, num ramo baixo. Precipitou-se, com toda a sua carga, sobre o furriel na base da árvore. Este, com um lamento de dor, empurrou-o à bruta para o lado. Ainda atónito, incrédulo, numa fracção de segundo, perpassou-lhe o espírito, uma certeza: fora alvejado. Não foi para assustar, foi para matar! A ele, à sua pessoa! Outros que ele não conhecia, a quem nunca fizera mal, podiam tê-lo matado... Já tinha estado várias vezes debaixo de fogo, mas fora diferente. Eram ataques ao colectivo, não à sua pessoa em particular. Nunca tinha sentido isto com tanta crueza: jamais se sentira tão vulnerável. De repente, atrás de si, ouve um tiro de G3. Nem teve tempo de se voltar, porque à sua esquerda, a dois metros, um jovem carregador nativo, quase uma criança, começou a berrar com a mão direita a segurar o pulso da outra mão, vazada de um lado ao outro. Então, cresceu-lhe uma raiva cavernosa nas entranhas, a subir até à garganta. Num impulso decidido, o alferes pôs-se de pé como uma mola e, temerário e meio louco, desatou a correr para fora da mata a urrar a plenos pulmões enquanto fazia rajadas para a direita da mata em frente. Corria, clareira fora, em direcção ao riacho e ao pontão. Mas não chegou lá. Estava a ser alvejado com rajadas que, bem via, faziam fiadas de impactos na terra à sua volta, obrigando-o a correr para a protecção de um tronco de velha árvore caída no chão. Lá na frente, onde jamais chegaria, entre palavrões, ouviu berrar «estão em cima das árvores!». Ainda aí estão, os cabrões!

Abrigado, a cara perto do chão, desapertou o cinturão e pôs todo o material do seu lado esquerdo, a arma do outro lado. Sentiu alguma estranheza por não ter notado alívio na cintura. Também lhe tinha parecido que não sentira as pernas na corrida para ali chegar. Ficara-lhe uma sensação estranha de ter vogado, talvez só a alma..., talvez que o corpo o não tivesse acompanhado, ainda estivesse caído em cima do furriel... Certo é que começou a ouvir tudo muito vago, difuso, longínquo, como se estivesse submerso... Continuava a ver, aqui e ali, colunas de fumo que logo desapareciam mas mal ouvia as detonações. Mas também a visão começava a ficar turva, quase só via ténues sombras na claridade ofuscante. Confuso e prostrado pela astenia, a ouvir mal, quase não se dava conta de um ronronar vindo dos céus. Fez um esforço e, pesadão, ergueu a cabeça para cima. Mal definido na névoa luminosa e com o ronco cada vez mais próximo, viu uma sombra que lhe pareceu um Fiat ou outro avião qualquer. «Haja Deus!», pensou. Deixou-se cair, para logo se soerguer e tentar confirmar a “salvação”, elevando com muito esforço a cabeça acima do tronco. O avião picava directo ao solo, lá muito para a direita, ao fundo, mas descrevendo um arco na sua direcção. Conseguiu distinguir a largada de duas bombas e, num arco ascendente, o avião passou sobre si e perdeu-se nos céus. Logo viu a coluna de fumo do primeiro impacto dentro da mata, mais longe do que supusera. Teve a sensação de que, até muito longe, toda a mata fora soprada. Até o tronco que o abrigava, pareceu-lhe, rolou contra o seu corpo. Mas..., faltava uma deflagração! Ou não eram duas bombas? Ou teria a segunda bomba sido travada no riacho?

Com um esforço tremendo espreitou de novo sobre o tronco e não queria acreditar no que viam (viam?) os seus olhos. Porque a impressão que teve, mesmo difusa, era que a bomba deslizava no chão, silenciosa, na sua direcção. Abriu muito os olhos. Sim, está cada vez mais próxima, parece um grande bidão com focinho de bomba. E não se ouvia qualquer ruído, embora, é certo, se percebam projecções laterais de terra e pequenas pedras à sua passagem... Pensou, confusamente, que talvez fosse o mundo que estivesse a acabar e, por instantes, sentiu uma coisa gelada percorrê-lo todo por dentro. Ainda olhou para trás, para a mata de onde viera, mas já só viu luz e sombras esbatidas. Tudo a preto e branco. Espreitou de novo para a frente e viu, com espanto e pânico, que uma sombra negra, já sem contornos definidos, acabava de se encostar ao outro lado do tronco.

Num reflexo frouxo, meio apagado, encostou a cara ao chão. Os braços abertos, uma crispação de dedos cravados na terra, um calhau na garganta contra o qual batia, desordenado, o coração prestes a rebentar. E esperou... Mas não aconteceu nada. De súbito, trum!-trum!-trum! Deu um salto e ficou sentado na cama, ofegante, comprimindo os ouvidos com as mãos. De olhos muito abertos olhou em redor, na penumbra, mas de imediato não percebeu onde estava. Percebeu, sim, que estava todo suado e com dificuldade em respirar. Tentava normalizar a respiração quando, estremecendo, ouviu de novo: trum!-trum!-trum! Deu um salto da cama, abriu com violência as portadas de madeira da janela que dava para o quintal, nas traseiras, e berrou:
- Mãe!!!!!! Quantas vezes já te pedi para não me acordares a bater nos vidros da janela?!!!
- São que horas! Anda almoçar!

************

Ao jeito de posfácio: o que sucedeu termina ali mesmo naquele anterior ponto de exclamação. Mas, cuidando o narrador que, nesse ponto, ficou algo suspenso, incomodamente descontinuado, ainda adianta que o nosso alferes, a tiritar e em grande desconsolo, ainda fez tensão de se meter de novo nos lençóis, mandando às urtigas o dispensável almoço de fim de tarde, mas, apercebendo-se de que a cama estava um pântano gelado, deixou-se cair de bruços sobre ela e, dando murros desesperados, lançou um cavernoso e potentíssimo urro, como surgido das profundezas das trevas, a encorajá-lo a entrar de novo naquela clareira de luz e de morte. Mas não. Apenas o fez entrar na realidade.

António Murta

Guiné 63/74 - P13964: Agenda cultural (362): Apresentação do livro "Os caminhos de Gadamael Porto - Guiné, 1970/72", da autoria do nosso camarada Manuel da Silva Fernandes, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2796 - Gaviões de Gadamael, dia 7 de Dezembro de 2014, pelas 15h00, no edifício sede da Junta de Freguesia de Arcozelo, Ponte de Lima


Do nosso camarada Manuel da Silva Fernandes recebemos a seguinte mensagem datada de 22 de Novembro passado:

Por motivos de ordem pessoal, alguns deles já dissecados nas curtas conversas através do P9994(1) e P10689(2), o livro em tópico será apresentado em Ponte de Lima (Arcozelo) no dia 7 de Dezembro, às 15H00, no edifício da sede da Junta da vila de Arcozelo. 

Há diligências para que o mesmo desiderato ocorra na “Casa do Concelho de Ponte de Lima” em Lisboa em data ainda não calendarizada, vicissitude que em devido tempo farei chegar ao conhecimento de todos. 

Um abraço 
Manuel da Silva Fernandes 
Ex. Operador Cripto
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Notas do editor:

(1) Vd poste de 4 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9994: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte VII: Despedida de Bedanda, a caminho de Gadamael e Guileje, aos 18 meses

Comentário de Manuel da Silva Fernandes:

CARO VASCO PIRES:
Tenho acompanhado a dinâmica do "Blog" e, natutalmente, estou ao corrente da vida de tanta gente que pisou as terras de Gadamael-Porto. Evitei até agora qualquer participação na "Tabanca" para fugir à tentação de comentar alguns disparates que foram ditos nas disserções entre o senhor "Coronel" Morais e Silva e o "Alferes" Amaral Bernardo. Aparentemente está tudo sanado, para sossego das nossas consciências - CCAÇ.IND.2796 «Os Gaviões de Gadamael», Pelotão de Art.ª 23.º e Pelotão de Reconhecimento Fox 2260 -.
Sobre a vida de Gadamael-Porto e Quinhamel (onde este assunto também é tratado)- apresentarei em Dezembro, em Ponte de Lima, o livro "Os Caminhos de Gadamael-Porto" em memória dos meus camaradas que cairam na frente da guerra e dos que já partiram depois da aurora de Abril. Para além da solidariedade e respeito para com todos aqueles que de forma desinteressada têm permitido dar voz aos mais humildes, expresso aqui a minha enorme admiração por quem abraçou tão grande projecto.
Ao Vasco o meu abraço por sabermos que ainda vai andando por aí; já houve uma ou duas oportunidades em que os homens da CCAÇ.2796 partilharam essas emoções com as tropas de artilharia e Fox.
Ex - 1.º Cabo Operador Cripto 
Silva Fernandes da CCAÇ. IND. 2796.
31 de Outubro de 2012 às 19:18

(2) - Vd. poste de 18 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10689: Em busca de ... (208): Vasco Pires, ex-comandante do 23º Pel Art pede a Manuel da Silva Fernandes, ex-1º cabo cripto da CCAÇ 2796, contactos dos seus antigos furrieis, que estiveram com ele em Gadamael (1970/72)

Comentário de Manuel Fernandes:

Em data oportuna respondi à pertensão do Vasco Pires. Ao que parece o "email" titulado pelo "Luís Graça" não entrou. 
Por motivos de indole profissional e alguma debilidade física não estive disponível durante este tempo todo pelo que me penitencio pela ausência e - há razão para isso -, pela deslealdade com alguém que nos é próximo. Continuo muito empenhado em satisfazer as expectativas do Vasco, quer através da "Tabanca" quer directamente. 
Um abraço 
Manuel Fernandes 
(Op.Cripto Ccaç. Ind. 2796 - Gaviões de Gadamael). 
Um abraço. 
4 de Abril de 2014 às 21:00

Último poste da série de 27 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13951: Agenda cultural (365): Dia 29 do corrente, sábado, 15h30, na Biblioteca Municipal de Oeiras: sessão de apresentação (e debate): "Militares e Política: o 25 de abril", livro de Luísa Tiago de Oliveira (ed. lit)

Guiné 63/74 - P13963: Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2014:

Queridos amigos,
As andanças num mercado de tralha deixam sempre o doce travo de que quando não há acasos felizes naquele dia fica-se com a secreta esperança de agradáveis imprevistos para a viagem seguinte.
Recolher umas fotos, examinar um mapa de 1960 longe da verdade do espaço e dos lugares, ter acesso à dimensão epistolar íntima daquele que, depois de Amílcar Cabral, terá sido a cabeça melhor organizada dos lutadores do nacionalismo nas colónias portuguesas, é uma gratificação impagável, é dimensão luminosa que acompanha estas buscas, tão mais grato quanto se pode comunicar dentro do nosso blogue.

Um abraço do
Mário


Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (2)

Beja Santos

Falemos um pouco deste ideólogo e filósofo angolano que deixou uma impressionável obra dispersa e de incalculável valor. Por exemplo, foi responsável pela redação das Atas do Simpósio Internacional dedicado à atualidade do pensamento de Amílcar Cabral; responsável pela Antologia da Poesia Africana de Expressão Portuguesa, para a coleção da UNESCO. Está editado em português, caso de A guerra do povo na Guiné-Bissau, Sá da Costa Editora, Lisboa, 1974. Editou a obra de Amílcar Cabral na Seara Nova, a seguir ao 25 de Abril. É um importante ideólogo da negritude e foi seguramente um intelectual africano que mais tempo e mais perto conviveu com Amílcar Cabral, designadamente em Conacri. A filha mais velha dedica-lhe uma escolha de correspondência que trocou com o grande amor da sua vida, Sarah Maldoror e com a sua filha Henda, aqui revela a sua ternura, o amor às filhas, a luta, o exílio e a solidão.

Vejamos a sua correspondência de Bissau, estamos em Janeiro de 1978: Sarah, o novo ano não pronuncia para mim bons auspícios. Sinto-me submerso num oceano de solidão e tristeza. Por um lado, se o meu estado de saúde me deixa inquieto, por outro não alcanço a mínima satisfação no desempenho do meu trabalho quotidiano. Tinha-me dedicado à tarefa que me havia sido confiada no quadro da preparação do Congresso (do PAIGC), tarefa gigantesca. Em seguida, após a sua conclusão, instalou-se uma grande lassidão que me arrastou para o abismo do desânimo. E dois meses mais tarde: Sarah, meu Amor, continuo triste e solitário, depois de me teres deixado repentinamente. É necessário que eu ultrapasse este problema de solidão afetiva que me avassala. Em Julho, escreve à sua filha mais velha: Henda, minha muito querida filha, Na véspera do teu aniversário, os meus pensamentos mais profundos voam para ti. Gostaria de partilhar o belo dia de amanhã contigo e de te rodear de todo o meu afeto. Todavia, mantenho a esperança de festejar em breve os teus catorze anos com a Mamã e a Annouchka, juntos em Bissau. Em Agosto de 1980 escreve a Henda, que está em Paris: Saber-te feliz enche-me de alegria. Não te deixes porém deslumbrar pelas luzes do capitalismo, o acesso fácil ao consumo, etc. Abre também os teus olhos críticos sobre as realidades sociais. És suficientemente crescida, adulta e responsável para avaliar com serenidade o mundo que te rodeia.

Em 1983, em Maio, escreve a Henda a partir de Lisboa: Minha filha, Não deixei de pensar em ti desde a minha chegada a esta cidade, a pequena casa lusitana. A vida é um longo processo de conquista de objetivos que devemos impor a nós mesmos. Se admitires este princípio terás de exercer um verdadeiro e constante controlo sobre ti, um confronto permanente entre a realidade e a perspetiva que se desenha no horizonte. Em termos concretos, parece-me que devias escolher melhor os objetivos que pretendes realizar.

Os últimos anos de vida de Mário Pinto de Andrade decorrem sob o signo da doença. Em 1984 escreve de Lisboa a Henda dizendo que está na Biblioteca Nacional a descobrir elementos importantes para a redação da sua obra “O discurso da libertação nacional”. No ano seguinte escreve de São Tomé e diz à filha: dedico-me à minha pesquisa que constitui o centro da minha atividade intelectual: a história da emergência e do desenvolvimento das ideias nacionalistas nos cinco países africanos (antigas colónias portuguesas). Em Janeiro de 1988, escreve da Praia, sente-se que está irrequieto quando diz a Henda: O meu maior desejo, no limiar deste novo ano, traduz-se na materialização da intenção de retomar o contacto contigo, de te ver e te escutar longamente: bem-entendido dialogar sobre a vida e os projetos para um futuro imediato. Confesso que a minha consciência não está tranquila. Tenho como que uma certa impressão de te ter perdido um pouco, à margem do meu horizonte. Podes crer que estás intimamente presente em cada instante da minha existência. Mas faço por corresponder (e de manifesta a consciência do lugar que o meu espírito e o meu coração te reservam). A vida caminha para o fim, e em Agosto de 1989 escreve à filha em Maputo: O tempo é demasiado curto para realizar os projetos que tracei: escrever a história dos discursos nacionalistas e dedicar-me à redação das memórias de uma geração, traçando o meu percurso pessoal. Mas evito essa tentação. Morre em Agosto de 2009 aquele que, segundo Sarah Maldoror escreveu “não queria culturas de empréstimo, mas sim um intercâmbio na reciprocidade de conhecimentos. Se no início o combate foi desigual, a sua coragem foi grande, já que tinha para consigo a abnegação e o orgulho da reconquista da liberdade”.


Eis o produto de uma vinda à Feira da Ladra, uma agradável safra, encontrei pepitas guineenses e colaterais.
E fiquei enternecido com este Mário Pinto de Andrade na intimidade.
Ponto final.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13954: Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13962: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVII: Boas vindas à equipa da RTP que foi gravar as mensagens do Natal de 1969: Benvindos!... Jamgarte!... Welcome!... (José Luís Sousa, ex-fur mil, 1º Pelotão)






1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Hoje a história vem na página 90, e é  contada pelo ex-fur mil José Luís Simões (também do 1º pelotão):  tem por título "o especialista"... Mais um exemplo  do nosso sentido de humor, posto à prova nas condições adversas em que se desenrolaram as nossas "comissões de serviço" no TO da Guiné...  ( LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13893: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVI: O finório e o 1º sargento (José Luís Sousa, ex-fur mil, 1º pelotão)

Guiné 63/74 - P13961: Parabéns a você (822): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil CAV, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13943: Parabéns a você (821): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)