quarta-feira, 9 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15836: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (22): O “Galã de Nhacra” e “Conquistador de Guimarães”


Quartel de Nhacra




1. Em mensagem do dia 23 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), mandou-nos mais uma das suas excelentes histórias para a sua série "Outras Memórias da Minha Guerra". Para quando o prometido livro?


Outras memórias da minha guerra

21 - O “Galã de Nhacra” e “Conquistador de Guimarães”

Entre os camaradas daquela Companhia, era voz corrente que o Furriel Martins era oriundo de família rica, muito ligada à indústria têxtil. Dizia o maqueiro Soares, de Guimarães, que se lembrava bem de ver um MG vermelho, descapotável, a passear pela cidade, e a acelerar por perto do Toural e, também, junto do Liceu de Guimarães.
Também quem se lembrava bem do Martins, era o Furriel Moura, que estava “sediado” em Mansoa. É que, além de o ter conhecido nas Caldas da Rainha, também o acompanhou em Tavira. Enquanto nas Caldas quase passou despercebido, já o mesmo não se pode dizer do tempo em que esteve em Tavira. Aqueles meses quentes de Junho e Julho proporcionaram-lhe várias exibições pelas praias mais próximas.

Tudo levava a crer que o Martins seria um conquistador nato, mas o certo é que poucos o viram acompanhado de miúdas, a não ser com a Marilu, uma jovem bastante conhecida, naquele ambiente castrense, por “Miss Punheta”. Por outro lado, pouco mais dele se sabia, já que o Martins não gostava de conviver com os demais camaradas.

Na Guiné, o Martins mantinha aquele ar petulante de superioridade, especialmente diante de subalternos. Aliás, esse complexo de superioridade provocou os seus custos: de gozo, por uns e de aversão, de outros.

Quem não podia com ele era o Moreira, o Cabo Cripto que, mercê de um certo à-vontade, de uma evidente popularidade e de uma boa aparência física, lhe causava alguma inveja e muita antipatia.
Por coincidência, um e outro optaram pelos serviços da mesma lavadeira, que, por sinal, era uma miúda bastante gira, corpo curvilíneo, mama firme, cabelos esticados e de feições arredondadas. Por experiência, sabemos que, com tais predicados nas lavadeiras, a roupa raramente regressa bem lavada e com a mesma cor de origem. Porém, os “galãs”, pareciam perdoar tudo para merecer as atenções da melhor miúda de Nhacra.

Aparentemente, o Moreira adiantou-se rapidamente, uma vez que, ao fim de pouco tempo, já ia para a tabanca da Sami, passar os serões.

Por sua vez, o Furriel Martins, julgando-se seguro da sua importância, quando soube que o Cabo Moreira estava na tabanca, foi lá para o deitar abaixo. E, logo que o viu junto da Sami, interpelou-o em voz alta:
- Ouça lá, ó nosso Cabo, que anda por aqui a fazer?
- Vim aqui à lavadeira, procurar uma camisa. - Justificou-se o Moreira.
- Qual camisa, qual caralho! Não sais de trás dela.

E continuou:
- Vieste incomodar a Sami, a esta hora? Deixa-a em paz e desaparece. Vai para o quartel, de onde não devias ter saído.
- Mas ainda não tocou a recolher. Posso estar cá fora. - Respondeu o Moreira.

Irritado, o Furriel Martins gritou:
- Podes, o caralho! Põe-te a andar! É uma ordem! Ouviste bem? É uma ordem!

Ferido no seu orgulho, o Moreira dirigiu-se directamente para a caserna do 1.º Pelotão. Como não tinha arma distribuída, agarrou numa G3 que estava pendurada pela bandoleira nos ferros de uma das primeiras camas. Rapidamente regressou à parada e aproximou-se da porta de armas.

O Furriel Martins acabava de entrar e o Moreira, que já o esperava, apontou-lhe a arma.
- Ouve lá, ó Galã de Merda, eu vou ficar cá mas tu, vais co caralho, seu grande filho da puta!!!! .

Puxou o gatilho e ouviu um estalido. Insistiu e o som repetiu-se. Nessa altura, já o sentinela gritava:
- Acudam! Acudam! Estes gajos estão malucos! Querem matar-se!


Quartel de Nhacra

Desesperado, o Cabo Moreira atirou-se ao Furriel a murro e a pontapé, até que chegou o Oficial Dia, Alferes Bastos e o levou para a Casa da Guarda. Não levou muito tempo para aparecer o Capitão Alves, que indicou o seu gabinete e logo perguntou:

- Então Bastos, que é que se passou?
- O Cabo Cripto puxou de G3 para matar o Furriel Martins. A sorte é que não havia bala na câmara. O Martins pensa que é tudo dele e ficou fodido de ver o Cabo Cripto na tabanca, junto da lavadeira, uma boazona que anda por aí.

O Capitão interrogou de novo:
- Não me diga que é a Sami? Olha o engatatão! Por sinal ela também me lava umas coisas.

E continuou:
- Realmente ela é jeitosa mas, como lavadeira é muito fraquinha. Esse Furriel é um merdas, parece que ninguém gosta dele.
- Pois é Capitão, mas agora estou fodido. É que já meti o rapaz na cadeia e agora nem sei como me safar. Ele é de lá, da Povoa, é vizinho da minha mulher, até andou a estudar com ela. E a mãe, que tanto me pediu que olhasse por ele!

E continuou:
- É educado e bom moço. Nunca se mete com ninguém, mas é um bocado casmurro e ficou pior desde que o pai morreu num acidente. Foi à inspecção, não deu as habilitações porque não queria responsabilidades de chefia. Agora acontece isto e tinha que ser eu a condená-lo.

O Capitão levantou-se, pousou a mão no ombro do Alferes e disse:
- Não faça qualquer participação. Deixe o Cabo passar lá a noite, mas deixe a porta aberta. Deixe-o sentir a responsabilidade do que fez e amanhã eu trato disso. Entretanto, mande avisar o Furriel, para que se apresente aqui às 9 horas.


Quartel de Nhacra

Numa das vezes que visitei o Cemitério de Nespereira, a dois quilómetros de Guimarães, quando estava a olhar a foto do Faria (Furriel Enfermeiro da nossa CART 1689), colocada sobre um jazigo, lá ao fundo, do lado direito, ao mesmo tempo que recordava, em catadupa, grandes momentos vividos juntos na Guiné, ouço uma voz:

- O senhor não é de cá, pois não? Conheceu o Domingos Faria?
- Fomos muito amigos, lá na Guiné. Devo-lhe muito do que de melhor lá passei. Quando chegámos, fomos uns para cada lado e mortos por esquecer aqueles dois anos de guerra. Só ao fim de cerca10 anos é que sentimos necessidade de nos revermos nesse primeiro encontro,que veio a ser realizado no Restaurante D. Sancho, em Anadia. Foi um choque muito grande quando, todo entusiasmado, o fui convidar para esse primeiro encontro da nossa Companhia, então, soube que ele havia falecido.

O senhor voltou a falar:
- Era muito bom rapaz, muito alegre e um grande técnico de debuxo. Trabalhei junto dele e sinto muito a sua falta.

E eu, acrescentei:
- Sim, era do melhor! Tinha um coração de oiro! Era Enfermeiro, mas até lhe chamavam doutor. Estava sempre disponível para ajudar. Ele fazia milagres. Por isso, para os civis, ele era considerado um santo.


Junto à Campa do Domingos Faria

O senhor, emocionado, limpou os olhos e voltou:
- O filho mais novo do meu ex-patrão Martins, também esteve na Guiné. Esse safou-se lá, mas aqui tem passado das dele. Imagine, um rapaz a quem não faltava nada. Podia escolher a melhor moça da região e acabou por casar com uma galdéria que lhe fugiu, para Lisboa e lhe deixou um filho deficiente. Ele não era grande coisa mas tenho pena dele.

O Jorge, então com 12 anos, era o irmão mais novo de uma família de bons artistas de tecelagem. Quando, nos finais dos anos 50, se aperceberam dessa importância, aliada aos ventos favoráveis daquela indústria, no Vale do Ave, resolveram estabelecer-se. Cada um dos 4 irmãos ocupou a chefia de um sector e em pouco tempo, a empresa deu um salto enorme. Seguiram-se anos de ouro para a empresa. Em poucos anos, já todos os irmãos casados tinham boas moradias, bons carros e bons apartamentos de férias.

Agora o Jorginho vivia nas nuvens com o seu descapotável. Ainda não tinha feito os 18 anos e já andava na Escola de Condução e como chumbou 2 vezes, foi comprar a carta à Ilha da Madeira. E se ia mal nos estudos, pior ficou, porque começou a sentir vergonha de se ver ultrapassado pelo seu sobrinho José, filho da Celeste, a irmã mais velha. Já não ia às aulas. Só se via a passear de descapotável pelas ruas movimentadas de Guimarães e à saída das miúdas do Liceu. Apesar do fracasso como estudante, ele vincava bem a sua superioridade económica, capaz de provocar desejos e invejas na generalidade da juventude.
Foi à inspecção militar e ficou apurado. A família ainda pensou livrá-lo, mesmo que ele tivesse que viver uns tempos lá fora. Porém, ele recusou e armou-se em patriota.

O Jorge Martins regressou da guerra em princípios de 1973. Com o estatuto de guerreiro e possuidor de grandes histórias de valentia. Agora, era mimado não só pelos familiares e amigos mas também por uma variedade de jovens casadoiras. Digamos que ele se tornou num partido bastante disputado.

Experimentou vários namoros mas nenhum lhe despertou a chama da paixão. Parecia que ainda não descobrira mulher que o merecesse. Até que um dia, por altura das festas Gualterianas (no início de Agosto), conheceu uma loiraça que lhe deu a volta à cabeça.

Sentado na esplanada do Largo da Oliveira, ali no coração da cidade berço da nossa nacionalidade, o Martins assistia desinteressadamente a mais uma discussão, sobre a verdadeira identidade do D. Afonso Henriques. Um garantia que Afonso era o filho enfezado da D. Teresa de Leão e de D. Henrique de Borgonha e o outro, alegava que o verdadeiro Afonso era filho de Egas Moniz, um rico fidalgo de Entre Douro e Minho, sediado em Cinfães, a quem incumbiram de cuidar e educar o príncipe, que logo ficou órfão de pai e afastado da mãe, que se relacionara amorosamente com o galego Conde Fernão Peres de Trava. No Mosteiro de Cárquere, na encosta norte da Serra de Montemuro, por cima das famosas Caldas de Aregos e ao lado do Rio Cabrum, bem conhecido pelas suas águas límpidas e pelas suas trutas, conta-se a história baseada num milagre.

Ali se mostra e se conta que o menino Afonso, deficiente das pernas, então com cerca de 5 anos de idade, entrou ao colo, por uma porta lateral da Igreja, directamente para uma sala de adoração. Poisado sobre uma pedra altar, foi rodeado de velas que acesas, se foram gastando enquanto se rezava pedindo um milagre. Os oradores acabaram por adormecer enquanto as velas se consumiram e atearam um incêndio. O menino Afonso, desesperado, levantou-se e saiu a fugir pela porta principal. Ora, ali pelas terras de Cinfães e de Resende também é voz corrente, reforçada e bem apoiada por documentos, a garantir que não houve milagre algum e houve sim, uma troca dos miúdos, sobressaindo desde então, o Afonso forte e robusto que se notabilizou pelas suas conquistas na fundação e expansão do Reino de Portugal.


Mosteiro de Cárquere

Sempre com os olhos atentos ao desfile de beldades que ali passeavam, o Martins fitou uma jovem loira bem atraente, quer pelas suas formas esbeltas, quer pelas suas vestes leves e insinuantes. Logo que ela se começou a afastar, parece que foi atingido por um relâmpago. Levantou-se de repelão e foi atrás dela. Por sinal, o carro dela estava perto do seu, e isso proporcionou o início de uma conversa baseada nas características desses bons carros. A loira, aquele monumento de mulher, deixou-o preso pelo beicinho. Deu-lhe o endereço de Lisboa, da casa onde vivia com um tio que a levara de Trancoso, para estudar em Lisboa e para o ajudar nas suas empresas ligadas ao ramo hoteleiro.

Pouco tempo depois, já ela o contactava pelo telefone. Ele, ansioso, lançou-se para Lisboa e acabou por dar largas à sua paixão. Com a abertura dela (Joana) e com as disponibilidades dele, rapidamente o namoro se desenvolveu. O Jorginho ficou doido com o ambiente lisboeta que ela lhe mostrou. Que grandes noitadas! Tudo era fácil e tudo parecia amor. A família Martins compreendeu esse namoro e tudo fez para que o Jorginho se enquadrasse rapidamente na gestão da empresa e trouxesse a Joana para o norte.


 Igreja e Largo da Nossa Senhora da Oliveira - Guimarães

Estava tudo bem encaminhado para casar. Somente se mantinha o tal problema: a Joana não tinha muita vontade de sair de Lisboa. Porém, como já engravidara, nada podia travar esse casamento, fosse o que fosse. Foi montada uma boa moradia nas encostas da Penha e a mãe do Jorginho cedeu-lhe a Margarida, uma empregada da casa. E fez-se um casamento em grande.

A Joana cultivava muito a sua beleza e tinha receio de a perder com a gravidez. Ainda chegou a falar em provocar um aborto. Porém, foi contrariada quer pelo Jorge, quer pelos seus familiares. O Carlinhos nasceu um bebé lindo e aparentava boa saúde. Veio na melhor altura. Veio preencher um certo vazio da Joana, que acusava bastante as suas saudades de Lisboa. Também ajudou a unir a família Martins, que vinha acusando algumas fissuras.

Enquanto o negócio da empresa foi prosperando, tudo parecia perfeito. Nem aquele período de greves e reivindicações do pós-25 de Abril, parecia ter alguma influência nociva na sua estabilidade. Mas, o pior estava para vir: as alterações políticas nas nossas Províncias Ultramarinas. Para além de serem os nossos grandes clientes (com a protecção do governo central), era deles que recebíamos o algodão. Este foi rareando de tal forma que implicou na redução drástica da produção (normalmente a trabalhar em três turnos), vindo a provocar a derrapagem no financiamento das máquinas, adquiridas com a previsão de elevados valores de produção. Por outro lado, os novos países africanos, a troco de alegados prejuízos com a colonização de Portugal, negavam-se a pagar os produtos já recebidos. Agora, libertos, passaram a comprar produtos oriundos directamente da Índia e Paquistão, a preços das matérias-primas. E, enquanto os portugueses esperavam soluções financeiras e políticas, os juros bancários acumulavam-se e estrangulavam essas empresas.

Os tempos seguintes foram aterradores. A empresa Martins veio a ter problemas de sustentabilidade financeira, entrando em situações litigiosas com bancos, Finanças e Segurança Social. E as acções judiciais começaram a confiscar os bens e os valores, comprometidos com a empresa. A dimensão da empresa estava agora reduzida a poucos encargos de laboração, mas com responsabilidades financeiras muito elevadas. Coube ao Jorge e ao Elísio, seu irmão mais próximo, agora com as quotas dos irmãos, lutarem até a exaustão. O sogro do Elísio ajudou-os financeiramente, mas segurou-se por forma a poder vir a beneficiar de qualquer descontrolo mais indesejável. O Carlinhos não se desenvolvia e veio a acusar uma doença degenerativa que o levaria em poucos anos. Valeu-lhe o carinho da avó, uma vez que a mãe se afastava cada vez mais. Agora, sem a folga financeira de outrora, sem segurança quanto ao futuro, a saúde do filho (já condenado) e sempre afastada da sua Lisboa, resolveu desaparecer.

O Jorge, que fizera constar que ela fora ver o tio doente, não aceitou a decisão e foi procurá-la a Lisboa. Quando se encontrou com o tio da Joana, foi esclarecido de que ela queria lá ficar e que, até, já estava a trabalhar. Abriu-se mais um pouco e confessou-lhe que ela regressara ao seu ambiente e à profissão que mais gostava. Além disso, justificou que ela ganhava bem nessa actividade, com futuro e que o casamento rico não passara de uma grande ilusão.

Passaram-se alguns meses. A empresa sobrecarregada de compromissos financeiros, continuava sem as encomendas e sem os pagamentos, necessários para a recuperação. A sua aparente sobrevivência devia-se ao apoio financeiro do sogro do irmão Elísio que, cada vez mais, parecia assumir-se como o principal credor dos haveres ainda disponíveis.

Em finais de Março de 2013, trinta anos depois da sua chegada, a Companhia reuniu na Mealhada para assinalar o evento. O Bastos (ex-Alferes) aproveitou a boleia do Moreira (ex-Cabo Cripto) e lá foram acompanhados das respectivas esposas. Durante a viagem, o Moreira indagou:
- Ouve lá, que será feito daquele Furriel engatatão, conhecido por “Galã de Nhacra”?
- Nunca mais o vi. Mas há uns 10 anos, encontrei o Sousa de Santo Tirso que me disse algumas merdas sobre ele. – Respondeu o Bastos.
- Creio que nunca veio aos encontros da Companhia. – Disse o Moreira, que continuou:
- Nunca me falaste disso, penso eu.

O Bastos esclareceu:
- Talvez tenha evitado mexer no assunto ou terei esquecido. Parece que a vida lhe correu mal, que ficou na miséria e que a mulher o deixou e foi lá para Lisboa. Ele até disse que ela era uma profissional da noite e que trabalhava nos bares de alterne.
- Foda-se, isso não pode ser verdade. Deve ser o desejo de alguns que o conheciam. – Disse o Moreira.

Chegados à Mealhada, foram directamente para o Restaurante dos Leitões. Tal como nos outros encontros, a malta dispersa-se em abraços e mais abraços, deixando as respectivas mulheres entregues à sua sorte, ou melhor, entregues umas às outras. No topo do salão, junto do balcão, entre alguns camaradas, sobressaía uma jovem senhora, bastante bela e de formas atraentes. Com gestos compassados, puxava do seu cigarro extralongo, enquanto intervalava com um scotch de aperitivo.
O Moreira, mal se apercebeu desse monumento, arregalou os olhos e encaminhou-se nessa direcção.

Valeu-lhe o Bastos que se intrometeu a tempo de o desviar e de lhe dizer:
- Ó meu caralho, olha que lá na Guiné, safei-te mas, aqui, nem a tua mulher te salva.

Nota final - Segundo o Sousa, de Santo Tirso, com quem conversámos, o Martins, depois de ter perdido mulher e filho e de ter falido, ficou a trabalhar, parcialmente, para o sogro do seu irmão Elísio. Perdeu os pais e ficou a viver com a empregada Margarida, que bem o conhecia desde miúdo e que sempre o acarinhou. Todavia, mantém ainda algum do orgulho que sempre o caracterizou. Por isso, sempre que pode, refugia-se em boites e, por vezes, aparece a exibir-se com alguma conquista de ocasião. Está na miséria, mas gosta de mostrar que ainda é um galã.

Silva da Cart 1689
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15678: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (21): Amores e Desamores

Guiné 63/74 - P15835: Inquérito 'on line' (41): "Nunca apanhei um pifo de caixão à cova na tropa ou no TO da Guiné"... (Comentários de Luís Graça, Abílio Duarte, Francisco Baptista e Valdemar Queiroz)

Valdemar Queiroz, CART 11, Nova Lamego, c. 1969-70
Enquanto está a decorrer esta semana mais um inquérito 'on line', aqui ficam alguns comentários ao poste do Valdemar Queiroz, P15827 (*)

(i) Luís Graça, editor 

Valdemar, meu camarada de Contuboel (, que pena não termos uma foto em conjunto, foi escasso o nosso convívio, de menos de dois meses!), acompanho-te na pergunta: quem nunca apanhou um pifo na Guiné, daqueles de caixão à cova, pois que levante, não o copo, mas a garrafa vazia!...

Até os oficiais superiores apanhavam pifos, na nossa guerra!... E até os puritanos que pregavam a lei da abstinência (alcoólica e sexual): "Quem não sabe beber vinho, que beba merda!"... Ora merda era o que a gente comia e bebia quando ia para o mato... Ou dentro do "quartel" (, melhor dizendo, bu...rako, para muitos de nós)... Merda era, afinal, aquela guerra a que fomos condenados!...

É uma boa pergunta para um próximo inquérito de opinião... (**)


(ii) Abilio Duarte:

Nós, na CArt 11, éramos uns sortudos, pois tínhamos vinho e whisky, como mato, como a companhia era de africanos, e eles não bebiam bebidas alcoólicas, e tínhamos a mesma dotação, que uma companhia de brancos, era uma alegria. Eu tinha uma embalagem de morteiro 60, carregada de garrafas, pois, além das 2 obrigatórias, podia comprar as que quisesse.

Como andei muito no mato, e sempre fui bem recebido, por toda a gente, quando esses amigos passavam, pelo nosso Quartel em Nova Lamego, tinha muito gosto em retribuir, essa amizade com uma garrafa do dito escocês. Muitas vieram para Portugal, ainda vieram comigo quase quarenta garrafas, a maior parte de whisky. Mas fui apanhado no Aeroporto de Lisboa (lembras-te, Queiroz?), mais o Matias e tu, e tivemos que pagar imposto. Tu que escreves bem, conta aí essa nossa aventura no Aeroporto.


(iii) Francisco Baptista:

Estava à espera do testemunho de outros camaradas para ganhar coragem. Afinal só apareceu o nosso professor e mestre Luís Graça a confessar esses pecados mas o testemunho dele traz a compreensão e absolvição do sociólogo. Isso me basta.

Em Buba, uma noite, com o quartel cheio de gente, pois a coluna de reabastecimento do batalhão não pôde regressar por causa do mau tempo, houve uma bebedeira geral com muito alarido. Imaginem o exemplo e o espectáculo de um capitão e alguns alferes aos tiros para o ar. O capitão seria conduzido à enfermaria para levar uma injecção. Eu não tive necessidade disso mas fiz bem o meu papel.

Em Mansabá contrariamente aos soldados da companhia de madeirenses que gastavam todos os trocos em cerveja os graduados eram no geral bastante abstémios. Lá nunca participei em grandes festas de cerveja mas passei a beber muita água do castelo com gelo e whisky. Era um refresco que me dava boa disposição físíca e mental. Com a companhia já quase de partida para Bissau, a aguardar o regresso, roubei uma garrafa de whisky ao Marques, furriel enfermeiro, de quem era amigo, convidei-o para beber dela e ele quando soube não gostou nada desse meu abuso. Mais tarde fiquei com remorsos, que ainda hoje não me largaram, já procurei o Marques para lhe dar uma boa garrafa para o compensar mas o Carlos Vinhal, também dessa companhia, já há decadas que lhe perdeu o rasto. 

Tu camarada, Valdemar Queiroz, curaste-te, pelos vistos com uma garrafa. Eu como sofria dum mal maior, gastei muitas com o tratamento.

O camarada Abílio Duarte diz que comprou muitas, confessa que trouxe muitas e que ofereceu a amigos mas não diz se ele as bebia como remédio para a dor de dentes ou para brindar à vida e esquecer a puta da vida que nos tinha calhado na roda da fortuna.


(iv) Abilio Duarte:

Francisco Baptista, bebi muitas,e hoje ainda bebo, e posso dizer, que é o que me traz de pé.
Muitas noites na varanda da nossa messe, em Nova Lamego, onde a malta que estava de descanso, ao som de uma boa música, no meu leitor de cassetes, conversando e jogando umas partidas de Copas, ou King, lá passamos bons bocados.

Não me esqueço de um dia em que estava de Sargto. de Dia, e o Furriel Macias, chegou de férias do continente, trazendo uns enchidos, da terra dele, Aldeia Nova de São Bento, apanhei, uma piela de todo o tamanho. Durante uns tempos nem podia tocar no whisky, e virei-me para o Gin.
Mas em Paúnca, voltei a apreciar o escocês até hoje.


(v) Valdemar Queiroz

Viva, meu camarada Luís Graça.

É verdade: quem nunca apanhou um grande pifo que levante o primeiro copo. (excelente revisão Luís).

Uns mais outros menos, por lá se apanharam grandes bezanas, umas por festejos, outras por nem tanto, muitas pelo stresse e outras por nenhuma razão.

Suas excelências também se atiravam aos copos, daí não vem mal nenhum, também por lá andavam, por profissão, o mal era quando os senhores da guerra com uns copos a mais faziam perigar muita gente. 

Vendo bem, já na altura nos parecia que por cá todas as extraordinárias excelências estavam com uma grande e prolongada bebedeira. Ao menos podiam ter procedido como qualquer bêbado e apenas dar vivas à república, mas não. Era uma bebedeira sem lucidez, era uma bebedeira violenta, era uma bebedeira de guerra.

Nós na CArt 11, nesses momentos, sempre trauteávamos ...Ó bioxene... ó bioxene, fazendo lembrar a letra da canção do John Lennon 'Give a chance ...'

Quanto ao nosso relacionamento em Contuboel, com certeza que tivemos troca de opiniões. Para ser franco eu não me lembro com nitidez da rapaziada da futura CCaç 12. Lembro-me das vossas tendas (Tarrafal), lembro-me do Sargento Piça e, principalmente, do Levezinho,  por ser familiar dum colega de trabalho e julgo que do râguebi na Amadora, mas não mais que isto a não ser que os soldados do meu pelotão de instrução foram todos para a vossa Companhia, ex.,  Umaro Baldé, Sori,  J. Carlos Suleimane Baldé, Cimba, Cherno e muitos outros.

Quanto às garrafas de bioxene que o Abilio Duarte se refere na Alfandega do Aeroporto da Portela, já contei o episódio no blogue, mas qualquer dia volta à cena por ser absolutamente delirante.

PS - A grande canção e grande música de John Lennon é "GIVE PEACE A CHANCE" [, 1969,][clicar aqui aqui para o vídeo no You Tube].

Oiçam e digam se não parece que é cantado: Ó bióxe..ne ... Ó bióxe..ne. ..Ó bióxe..ne...Ó bióxe...ne. (Era assim trauteada, quando se estava mais ou menos com os copos. Oiçam e arranjem uma tradução da letra). (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15827: (De)caras (35): Quem nunca apanhou um pifo, de caixão à cova, que levante o primeiro copo!... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

(**) Último poste da série > 6 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15825: Inquérito 'on line' (40): Num total de 126 respostas, quatro razões principais são apontadas em termos de "problemas" das NT logo no início da guerra: (i) Deficiente instrução (73%); (ii) Deficiente equipamento (63%); (iii) Cansaço (62%); e (iv) Instalações inadequadas (61%)

(***)  Eis a letra original e uma tradução [, Cortesia do sítio brasileiro Vagalume]

Give Peace A Chance

Two, one two three four
Ev'rybody's talking about
Bagism, Shagism, Dragism, Madism, Ragism, Tagism
This-ism, that-ism, is-m, is-m, is-m
All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

C'mon
Ev'rybody's talking about Ministers
Sinisters, Banisters and canisters
Bishops and Fishops and Rabbis and Pop eyes
And bye bye, bye byes

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Let me tell you now
Ev'rybody's talking about
Revolution, evolution, masturbation
flagellation, regulation, integrations
meditations, United Nations
Congratulations

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Ev'rybody's talking about
John and Yoko, Timmy Leary, Rosemary
Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper
Derek Taylor, Norman Mailer
Alan Ginsberg, Hare Krishna
Hare, Hare Krishna

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance


Dê uma chance à paz

Um, dois, três, quatro
Todos estão falando sobre
Bagismo, Shaguismo, Draguismo, Madismo, Ragismo, Tagismo
Esse ismo, ismo, ismo
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Qual é
Todos estão falando sobre Ministro
Sinistro, Corrimãos e Latas
Bispos, Peixes, Coelhos, Olhos Abertos
E tchau, tchau

Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Vou falar agora
Todos estão falando sobre
Revolução, Evolução, Masturbação
Flagelação, Regulação, Integrações
Mediações, nações unidas
Parabéns

Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Todos estão falando sobre
John e Yoko, Timmy Leary, Rosemary
Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper
Derek Taylor, Norman Mailer
Alan Ginsberg, Hare Krishna
Hare Hare Krishna

Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz
Tudo o que dizemos é dê uma chance à paz

Guiné 63/74 - P15834: Os nossos seres, saberes e lazeres (144): O ventre de Tomar (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
Aqui se fala de panos bordados, de uma figura maior da pintura surrealista e abstracionista, Marcelino Vespeira, de lojas de velharias, de casas de reparação de roupas e de panejamentos floridos imaginem que fui à Casa Costa, onde pontifica o senhor Zezinho, o mais velho comerciante de Tomar e ali ficámos à conversa acerca do modo como ele exerce a responsabilidade social-empresarial oferecendo largas vitrinas para pôr mensagens de procura-se e oferece-se, de lançamentos de livros e festanças regionais.
É todo este encadeado de singularidades que me enche a alma e que gera esta estreitíssima relação com uma cidade e a sua envolvente, talvez porque todo este poderoso casco histórico tresanda ao mundo verdejante que serpenteia o Nabão.

Um abraço do
Mário


O ventre de Tomar (8)

Beja Santos


Lojas de reparação de roupa, lojas de bordados, lojas onde se fazem mantas, fardas, equipamentos, lojas em que do velho se faz novo, como este pano que parecia sem préstimo mas aquela bordadeira que tem as mãos afogueadas mostra que há outra coisas para além dos lenços dos namorados quem vêm do Minho, veja-se esta ternura de uma artista que faz colchas com restos de tecidos e tudo brilha, que pega em cortinas em estado ruinoso e as borda, com finura. Isto é um prodígio de talento, assim penso.


Consola-te com os teus erros, ó fotógrafo-amador, querias um altar todo iluminado e ele sai-te escuro para realçar a Senhora da Piedade, uma Mãe agigantada abraçando, com o maior sofrimento do mundo, aquele filho que lhe foi resgatado e que em breve se encaminhará para os céus. O que me deslumbra, desculpem lá esta curtíssima vaidade, é a perfeita iluminura do que é essencial esbatendo na sombra o puro acessório. Mãe esplendente, a quem ordenaram o supremo desígnio; como por ironia deram-lhe a graça com a mais horrível dor que a uma mãe se pode oferecer.


São dos mais belos azulejos portugueses, bem sei, mas o que me atraiu foi a mísula, nunca certamente lhe prantaram uma imagem ou um tocheiro, aquela alvura da pedra toda ricamente trabalhada é um corpo único, por desconformidade entre a pouca luz do dia e o clarão expelido pela câmara resultou assim uma mísula esplendente, uma luz que parece acompanhar bem de perto a Senhora da Piedade.


Tive a dita de visitar várias vezes a retrospetiva de Marcelino Vespeira (1925-2002) que esteve patente no museu do Chiado entre Junho e Setembro de 2000, e adquiri mesmo o soberbo catálogo da obra pujante deste singularíssimo artista que foi amigo de José-Augusto França. Este óleo pode ser desfrutado pelos tomarenses, está no núcleo da arte contemporânea. Chama-se “Parque de insultos”, obra de 1949. Escreveu o investigador David Santos neste catálogo: “Riscadas sob uma superfície apressadamente tratada, as figuras de Parque de insultos dividem-se entre a condição animal e humana e o delírio surreal erotizado da sua manifestação plástica. Simultaneamente, esta obra marca o início de uma fase que se prolongará até ao final de 1950 em que Vespeira abandona o processo tradicional da pintura a óleo”. Sou regular peregrino desta casa bendita onde é possível usufruir contacto com grandes mestres, ali estão grandes obras de que Tomar se deve orgulhar em poder contemplar quase todos os dias.


É um estabelecimento onde preponderam as cores berrantes, ali se vende o novo mas também se repara, quando entrei uma jovem senhora manejava um daqueles ferros de engomar à antiga, pedi licença tinha uma certa fome de coloridos da nossa raça, panos feitos e panos para acabar, e zás, tive a fortuna de enquadrar o todo misturado.



Não escondo o meu pendor pelos trastes velhos, por incontornáveis velharias, bules sem tampa, chávenas sem pires, santos abandonados. Há um senhor que me recebe habitualmente, não tem ilusões que eu venha para comprar, dá-me sugestões de cantos e recantos que lhe parecem sugestivos para imagem de jornal. Desta vez dividimos a iniciativa ao meio, gostei daquele tampo cheio de imagens santas num abandono sagrado, algumas delas muito mal tratadas, havia mesmo um Sagrado Coração de Jesus com a cabeça rachada, mas fotografei-os como se estivessem em descontraída conversa. O anfitrião falou-me neste Santo André, não se pode negar que é uma imagem singular, vejam bem a convicção que lhe emana do olhar, indiferente àquele braço direito decepado, a sua fé está para além do tempo, é bem provável que se prepare para sair da loja e rumar até à Escócia onde será crucificado naquela cruz que se chama de Santo André, e que até já vi em mosteiros gregos. E daqui abalo para o calor da manhã, chegou a Primavera, há já ramos a florescer, deu-me no goto em descer até à pedreira, não a povoação em si mas àquele rasgão na terra de onde sai a matéria que embelezou Tomar, pondo-a nos píncaros da Lua.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15817: Os nossos seres, saberes e lazeres (143): O ventre de Tomar (7) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 8 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15833: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (41): Estação de Tomar, 28 de Julho de 1983 e Uma White cansada da guerra

1. Em mensagem do dia 5 de Março de 2016, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma das suas Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

41 - Estação de Tomar, 28 de Julho de 1983 – (quinta-feira)

Decorridos 10 anos e cinco meses, revejo hoje o local de embarque, rumo a Lisboa e à África desconhecida, de umas centenas de jovens condenados à guerra colonial, que no RI 15 desta cidade se constituíram como Batalhão. Sento-me numa das enormes esferas de pedra que ornamentam e ladeiam a escadaria de acesso a este terminal ferroviário e por mim passam, indiferentes, em correrias despreocupadas, magotes de jovens que se apressam a ir comprar bilhete para as suas viagens de fim-de-semana. Nos seus semblantes não pairam as nuvens que ensombravam os jovens de há dez anos atrás.

Foto 1 - Estação de Tomar [Foto tirada de gelasbrfotografias, com a devida vénia]

O facto de estar novamente aqui, hoje, faz-me sentir uma estranha serenidade. Vêm-me à memória, com impressionante nitidez, as imagens do meu embarque, aqui mesmo nesta gare. E posso imaginar também como teria sido a enorme confusão do embarque do meu Batalhão, a que eu não assisti por ter partido dois dias antes para Lisboa com a missão de inspeccionar e aceitar o navio que nos levaria para a Guiné. Imagino ainda o movimento das viaturas militares neste largo da estação, as gares a transbordar de jovens angustiados, as vozes de comando, os comboios apinhados a partir. Foi assim que os recebi no Cais da Rocha do Conde de Óbidos em Lisboa umas horas depois.

Para tranquilizar os pais, e num gesto atencioso, o Comandante do Batalhão, Ten-Cor Inf César de Andrade e Sousa, enviou-lhes uma longa carta pouco antes do embarque. Transcrevo algumas partes:

REGIMENTO DE INFANTARIA N.º 15 

Tomar, 27 de Fevereiro de 1973 

Exmo. Senhor, 

Desejaria ter escrito por meu punho e individualmente aos familiares mais próximos e muito particularmente aos Pais, de tantos quantos comigo vão partir para o Ultramar constituindo o Batalhão de Caçadores 4513. (...).

É meu único e firme propósito, dado a vossa qualidade de Pais, tentar minorar-lhes o desgosto da próxima separação do vosso filho, procurando com todos os meios ao meu alcance descansá-los em tudo e em tanto, quanto os meus préstimos possam alcançar e ser-lhes útil. (...). 

Primeiro que tudo e a partir deste preciso instante, podem ficar certos, que neste Batalhão tudo se fará para que o vosso filho se sinta dentro dele como numa sã e autêntica família, que a todo o custo procurará substituir os senhores – os seus próprios PAIS – (...). O vosso filho e meu soldado, será a meus olhos alguém que me diz muito e a quem oferecerei com todo o entusiasmo, o melhor que seja capaz de encontrar em mim, incluindo claro, a minha amizade, a que já tantos direitos tem. (...). 

Outro ponto que desejo focar, é que os Senhores não necessitarão, seja de quem for para saberem ou para que melhor se cuide do vosso filho, pois estarei sempre pronto a atendê-los e servi-los, logo que se me dirijam. Ele próprio lhes dirá como escrever-me para o Ultramar onde ficarei à vossa inteira e absoluta disposição. (...).

Para terminar desejo ainda informá-los que todos os Senhores Oficiais e Sargentos que comigo orientarão a Unidade e as suas Companhias estão animados dos mesmos propósitos, (...), que o vosso filho encontrará sempre à sua volta um grupo de graduados que muito o estimam, e que tudo vão fazer para o devolver ao vosso lar como um homem de carácter, são e brioso, e um SOLDADO que soube servir PORTUGAL honrando o nome que usa e o dos Pais que tão bem o souberam criar e educar. (...). 

Que aos Senhores e ao vosso filho tudo corra bem e que dentro em pouco tempo seja ele próprio que junto de vós comprove tanto quanto acabo de vos afirmar. 

Por Portugal, para todos nós e especialmente para vós, as maiores felicidades. 

O Comandante do Batalhão 
CÉSAR EMÍLIO BRAGA DE ANDRADE E SOUSA 
Tenente-Coronel de Infantaria 
SPM - 7088 

[O Ten-Cor Andrade e Sousa abandonaria a Guiné, por doença, logo no início da comissão, sendo substituído pelo Ten-Cor Carlos Alberto Simões Ramalheira].

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Agora tudo está calmo aqui no largo, nesta quentíssima tarde de Verão. Olho em redor e tudo parece estar rigorosamente na mesma, e está, mas tudo é diferente. O grande relógio no frontispício da estação é o mesmo, marca as mesmas horas, mas de um tempo novo. Na minha frente, no largo fronteiriço, o Monumento à Grande Guerra é o mesmo, mas o soldado que o encima já não é: antes, para os jovens de futuro incerto que passavam a seu lado ao dirigirem-se à Estação, era um marco de pesadelo por representar outras gerações que a guerra ceifou. Era um fantasma e uma premonição. Hoje, embora ainda corcovado sob o peso do equipamento, lembra apenas os que tombaram na Primeira Grande Guerra, sem qualquer outra conotação. Daqui a alguns anos quem se lembrará dos que tombaram na Guerra Colonial?

Foto 2 - Monumento aos Mortos da Primeira Grande Guerra (1914-18), junto à estação de Tomar. [Tirada de olhares.com, com a devida vénia].

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Histórias marginais (8): Uma White cansada da guerra

A imagem que sempre me ficou ligada à White, desde que um dia a vi à distância a deslizar de mansinho numa picada com um vulto em pé, foi a de um desfile numa parada com Hitler, hirto nela, de braço estendido. O nosso cérebro tem destas coisas. Ainda mais, um perfeito disparate, porque o Hitler não gostava muito de viaturas americanas. Mas associei-a sempre à Segunda Guerra Mundial, está claro. Porém, quando a conheci mais de perto sem que pudesse disfarçar as suas fraquezas, percebi que estava redondamente enganado. Afinal, devia ter sido numa White, e não a cavalo, que o D. Afonso Henriques em 1169 partiu a sua perna ao passar as portas de Badajoz na sua fuga precipitada. No que resultou ter ficado prisioneiro do seu genro D. Fernando II de Leão. O caso ficou conhecido por desastre de Badajoz, não pela derrota militar ou pela fractura da perna do nosso rei, mas sim porque lhe ficaram com a White, obrigando-o mais tarde a ir a cura de águas nas termas de Lafões sentado numa cadeira de rodas, diminuído e vexado aos sessenta anos de idade.

Isto vem a propósito de uma visita que ela, a White, nos fez em Nhala já muito derreada. Melhor: quem nos visitava eram duas fogosas Chaimites, essas sim, visitas importantes, cabendo-lhe a ela fazer a sua protecção, mas que acabaria por ser o alvo das atenções relegando para segundo plano o resto da Cavalaria e acompanhantes, nada menos que o Comandante do Batalhão Ten-Cor Carlos Ramalheira e o Capitão da CCAV 8350 António dos Santos Vieira que viria a comandar o destacamento de Colibuia e que um dia fora meu instrutor em Mafra com a alcunha de Ferro-bico, por qualquer coisa que tinha a ver com o seu nariz.

Tarde belíssima em Nhala, aproximam-se as visitas e eu corro a buscar a máquina fotográfica, pois não eram todos os dias que a Cavalaria nos visitava com todo o seu esplendor. Passo pelas duas Chaimites já paradas e avanço para ir cumprimentar o pessoal, mas fico de frente para a White que se aproxima na minha direcção. Eis senão quando, estupefacto, vejo sair um dos rodados da frente que, adiantando-se à White, vem oscilando, cai-não-cai, até se encostar mansamente a um poste providencial. A White ainda andou uns metros no encalço da roda rebelde, mas depois estacou e inclinou-se sobre ela numa reverência, parecendo dizer-lhe: “Deixa-te de amuos, rodinha... Volta para o teu lugar”. Fotografei tudo com a frieza possível, para mais tarde digerir o episódio insólito a que acabava de assistir. Muito mais tarde, quando de Espanha me chegaram os slides, não tive dúvidas de que tudo acontecera assim mesmo. A comprovar, deixo a reportagem a seguir.

Foto 3 – Nhala, 1974 – A White e a sua roda rebelde.

Foto 4 – Nhala, 1974 – Militares da Cavalaria (?) avaliam a delicada situação.

Foto 5 – Nhala, 1974 – Dois meninos de Nhala observam à distância a assembleia à volta da White.

Foto 6 – Nhala, 1974 – Enquanto se aguarda a evolução dos acontecimentos, o Alf Mil Murta faz uma pose junto de uma das Chaimites.

Foto 7 – Nhala, 1974 – As visitas, sem outro remédio, aguardam a reparação da White junto à messe de oficiais. Em primeiro plano na foto e fixando-se na objectiva, um militar que não recordo. Por trás dele olhando o chão, é o Alf Mil Tibério Barros de Nhala; no alpendre e de camuflado novo, o Cap. Santos Vieira, tendo à sua esquerda o Cap. Mil Brás Dias de Buba e o Alf Mil Carlos Lopes de Nhala; à direita na foto e de mãos nas ancas, o Cap. Mil Braga da Cruz tendo à sua direita, meio encoberto, o Comandante do BCAÇ 4513, Carlos Ramalheira. Em audiência, um soldado de Nhala com um problema qualquer.

Foto 8 – Nhala, 1974 – Finalmente, a partida dos camaradas da Cavalaria, escolta e ilustres visitas.

Foto 9 – Nhala, 1974 – Grupo de escolta que julgo ser da CCAÇ 18 de Aldeia Formosa. Alguns habitantes da tabanca assistem à partida, talvez decepcionados, creio, a avaliar pela mercadoria no chão que ficou sem boleia desta vez. Não se vislumbra a White nesta partida, mas não recordo se ficou em Nhala, ainda desconseguida de seguir viagem.

(continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 1 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15814: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (40): A moeda relíquia e as mães dos combatentes

Guiné 63/74 - P15832: Controvérsias (130): O "nosso Cabo Miliciano", que em 1965 ganhava 90 escudos de pré (34,24 euros, hoje), fazendo o serviço de sargento... (Mário Gaspar)


Artigo do nosso camarada Mário Gaspar, publicado na revista da ADFA, "Elo", de 15 de janeiro de 2016. Foi-nos na mesma altura também enviado para publicação no blogue. Ficou em lista de espera... 

Achámos por bem publicá-lo agora, na nossa série Controvérsias (*)... Por curiosidade, o 1.º Cabo Miliciano em meados dos anos 60, no tempo do Mário Gaspar, ganhava 90 escudos de pré... Ficam os nossos leitores a saber quanto equivalia essa importância hoje, em euros, conforme o ano: em 1960, 38,72 €; em 1965, 34,24€; em 1970, 25,64 €; e 1974, 14,58 €... Já em tempos recuados o nosso camarada Libério Lopes escreveu um poste semelhante (**), nesta série (que tem tido pouco uso, ultimamente) ...

1. Mensagem,  com data de 20 de janeiro de 2016,  do Mário Gaspar,

[Foto à esquerda: Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; lapidor de diamantes, reformado; cofundador e antigo dirigente da APOIAR - Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra]

Camaradas,

Enviei este texto para o Jornal ELO, e foi publicado. Se considerar ser de publicar no Blogue podem fazê-lo

Mário Vitorino Gaspar
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12402: Controvérsias (129): Pequena reflexão (António Matos)

(**) 26 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4584: Controvérsias (26): Cabo Miliciano: Cabo, Sargento ou Soldado? (Libério Lopes)
(...) Dizia o Manuel Maia, há alguns dias, que o único país do Mundo onde existiu o posto de Cabo Miliciano foi em Portugal. E tem razão. Só em Portugal isso podia acontecer e foi devido à lucidez brilhante de um Ministro do Exército do Governo de Salazar que isto podia acontecer. Se não me engano foi o Santos Costa. Se não for, e se alguém souber ao certo quem foi, é bom transmitir a todos os camaradas para lhe prestarmos as nossas homenagens…

Foi um indivíduo inteligente ao tomar esta atitude, poupou milhões ao Estado, só que criou inúmeros problemas.

Com o vencimento de um soldado, tinha um Cabo a fazer um serviço de Sargento. É claro que alguns comandantes usavam e abusavam do seu poder discriminatório para rebaixar os Cabos Milicianos.

Fui Cabo Miliciano no Batalhão de Caçadores 6, em Castelo Branco, desde Janeiro de 62 a Abril de 63. Dei salvo erro três recrutas e, por falta de aspirantes muitas vezes comandámos pelotões de 100 recrutas.

Neste quartel aconteceram, com o comandante de então, coisas interessantes. Ao Cabo Miliciano era proibido frequentar o bar dos soldados, porque faziam serviço de Sargento. Só que os sargentos do QP não nos deixavam entrar no seu Bar.

Houve, inclusivamente, um Cabo Miliciano de Sargento de Dia ao Batalhão que, ao querer tomar café no Bar de Sargentos, durante a noite, foi posto na rua por um 1.º Sargento. Isto serviu para que os Cabos Milicianos se juntassem e conseguissem uma pequena sala onde se reuniam e tinham uma máquina de café.

Como defesa da classe, deliberamos só responder quando nos tratassem por Cabo Miliciano e não por cabo. Ainda estou a ver o Comandante a chamar o Silva… gritando: ó nosso cabo… ó nosso cabo - e o Silva… não lhe respondia. O comandante aproxima-se dele e pergunta-lhe se não o tinha ouvido chamar. O Silva retorquiu-lhe: O meu comandante desculpe mas chamou nosso cabo e eu sou Cabo Miliciano. O Comandante engoliu e calou. Serviu de exemplo para todo o quartel.

Esse mesmo senhor quis aplicar-me como castigo, de me ver à civil na rua, uma carecada (”écada” no meu tempo).

Em Março de 1963 fomos promovidos a Furriéis Milicianos. Nunca nenhum de nós entrou alguma vez no Bar de Sargentos. (...)

Guiné 63/74 - P15831: Prova de vida (2): Ainda cá estou e continuo de pé!... Mas ainda não resolvi se este ano vou estar presente no XI Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, dia 16 de abril (José Augusto Miranda Ribeiro, ex-fur mil da CART 566, Ilha do Sal - Cabo Verde, Outubro de 1963 a Julho de 1964, e Olossato - Guiné, Julho de 1964 a Outubro de 1965)

1. Mensagem de 5 do corrente,  do nosso camarada José Augusto Miranda Ribeiro [ex-fur mil da CART 566, Ilha do Sal - Cabo Verde, Outubro de 1963 a Julho de 1964, e Olossato - Guiné, Julho de 1964 a Outubro de 1965; professor do ensino básico, reformado, que vive em Condeixa]

Olá, camarada Luís Graça, eu ainda cá estou e continuo em pé.

Obrigado pela tua mensagem que certamente vai dando ânimo a todos. De vez em quando vou à Tabanca Grande, mas nem sempre tenho tempo para responder. Já sou um pouco velhote para estar atento a tudo. 

Cá em casa continuo a ser o taxista de três netas e da minha patroa que deixou de conduzir e anda sempre doente. Cheguei a convencê-la a ir comigo este ano ao Encontro de Monte Real mas, de repente, teve que fazer uma cirurgia e logo a seguir outra. Por isso ainda não resolvi se este ano vou estar presente.
Em Dia Internacional da Mulher,
mandamos um beijinho para a Adriana,
com votos de boa recuperação. 

Não vamos falar em coisas tristes porque tristezas não pagam dívidas.

No domingo passado fui à Serra da Lousã, que disseste um dia que conheces. Que maravilha! Fui só com a mulher. Vimos neve com abundância e almoçámos num restaurante típico em plena Serra.
Ainda me recordo que ali era um moinho. A moleira dava-nos broa de milho amarelo. As minhas férias eram passadas a caminhar pela serra. O meu pai era professor e com 6 filhos não nos podia levar para a praia. Só me lembro no ano em que acabou a II Guerra Mundial, em 1945, tinha eu 6 anos, que o meu pai foi fazer exames na escola primária da Figueira da Foz e fomos todos para Buarcos durante um mês ou mais.

Noutra ocasião tentarei contar algumas histórias da Guiné.

Bem, Luís Graça, vão aqui dois grandes abraços, um para ti e outro para o camarada Carlos Vinhal, por quem também tenho muita estima.

JRibeiro
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15596: Prova de vida (1): Fantasias de Natal... (Manuel Luís R. Sousa)

Guiné 63/74 - P15830: Parabéns a você (1043): António Marques Lopes, Cor Art Ref (DFA), ex-Alf Mil Art da CART 1690 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15803: Parabéns a você (1041): José Rodrigues, ex- Fur Mil TRMS da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

segunda-feira, 7 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15829: Agenda cultural (467): Apresentação dos livros "O Combate de Naulila", da autoria de Pedro Esgalhado e "Farda ou Fardo", da autoria de Carlos Jorge Mota, dia 10 de Março de 2016, pelas 15 horas, na Messe do Militar do Porto, Praça da Batalha (Manuel Barão da Cunha)

 

Em mensagem de hoje, 14 de Março de 2016, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, deu-nos conta da apresentação de mais dois livros da colecção Fim do Império, sobre Angola, a levar a efeito no próximo dia 10 de Março na Messe Militar do Porto.





O Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes vem, por este meio, enviar o convite para a tertúlia de lançamento e apresentação dos livros: “O Combate de Naulila” de Coronel Pedro Esgalhado, e “Farda ou Fardo?”, de Carlos Jorge Mota, que terá lugar na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, no dia 10 de Março de 2016, pelas 15 Horas. 

O Presidente do Núcleo do Porto 
José Manuel da Glória Belchior 
Cor. Inf. CMD

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Nota do editor

Último poste da série de 27 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15801: Agenda cultural (466): Integrada no 15.º Ciclo das Tertúlias Fim do Império, dia 2 de Março de 2016, pelas 15 horas, apresentação dos livros "Mousse de Manga", da autoria de Helena Pinto de Magalhães e "Moçangola", da autoria do Coronel Castro Figueiredo, no Palácio da Independência, em Lisboa (Manuel Barão da Cunha)

Guiné 63/74 - P15828: Notas de leitura (814): “Crónica de Uma Viagem à Costa da Mina no Ano de 1480", por Eustache de La Fosse (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Maio de 2015:

Queridos amigos,
A todos recomendo que saboreiem esta obra, editada em 1992, pela Vega, hoje editora Nova Vega, adquiri recentemente a tradução portuguesa.
Manda a verdade que se diga que conheci este relato de Eustache de La Fosse quando li "Lá Découverte de L'Afrique", de que a seu tempo se fez a competente recensão.
Estas desventuras de um mercador na Mina, com tráfico de escravos, pilhagens, a descrição das ilhas Encantadas, uma condenação à morte em Lisboa e as peripécias da fuga até regressar a Flandres são um verdadeiro assombro, e com a Guiné ao fundo.
Não percam.

Um abraço do
Mário


Crónica de uma viagem à Costa da Mina no ano de 1480: 
A narrativa assombrosa de Eustache de La Fosse

Beja Santos

As desventuras de um mercador flamengo nas costas da Guiné no século XV é um cativante relato que se aprecia melhor quando se conhece o ambiente em que tudo ocorreu. Nestas costas que iam sendo progressivamente descobertas, na sequência do projeto henriquino, afoitavam-se alguns comerciantes que conheciam a tentativa do monopólio português. Estes mercadores vinham municiados de verdadeira pacotilha como pratos de cobre e estanho, latoaria, com que procuravam trocar por ouro ou escravos. Recorde-se que o primeiro mercado de escravos fora estabelecido em 1448 na baía de Arguim. Um dos pontos altos deste mercado ocorrerá no século XVI quando as plantações se desenvolveram na América; no século XV havia escravos que iam para a Madeira para o cultivo da cana-de-açúcar, o grosso deste tráfico era feito entre reinos africanos que pagavam com ouro.

É uma verdadeira economia de troca, com combates, pilhagem e a deslealdade sem limites. O reino português sentia-se legitimado pelas bulas pontifícias que prefiguraram a partilha do mundo feita em 1493 pelo papa Alexandre VI entre Espanha e Portugal (Tratado de Tordesilhas).

Eustache de La Fosse, mercador flamengo natural de Tournai, intermediário de um rico mercador de Bruges, chegou a Sevilha em 1479 e subiu para uma caravela carregada de mercadorias de troca. Irá viajar até à Serra Leoa, será preso pelos portugueses e a sua mercadoria apresada, trazido para Portugal, onde será condenado à morte por fazer contrabando, e descreve as peripécias da sua fuga. O texto foi publicado em 1897, e o responsável pela publicação R. Fouché-Delbosc tece os seguintes comentários:
“O navegador aporta a Espanha por mar; desembarca em Laredo, e atravessa Burgos, Toledo, Córdova e Sevilha. Aqui toma conta das mercadorias que deveria transportar até à Costa do Ouro. Visita Safi, as Canárias, o Rio do Ouro, o Cabo Branco, Cabo Verde, a Serra Leoa, a então chamada Costa das Sementes, e, finalmente, a Costa do Ouro. Aqui, e quando principiava a relacionar-se com os indígenas, quatro caravelas portuguesas assediam a sua embarcação, metralham-na, apossam-se dela e pilham-na. Feito prisioneiro, é obrigado a ajudar os portugueses a vender as suas próprias mercadorias.
Depois de terem capturado em diversos locais indígenas de todas as etnias, de La Fosse é levado para Portugal. Aqui, e sem mais delongas, o rei condena-o a ser enforcado por ter estado na Costa do Ouro sem a sua autorização. Consegue fugir para Espanha. Muitas aventuras mal sucedidas até que, por fim, consegue chegar a Corogne, na Flandres.
Um dos principais atrativos desta narrativa reside no facto de ter sido escrita pelo próprio navegador. Da mesma época, e referindo-se, se não às mesmas regiões, mas pelo menos a regiões próximas, só temos, como termo de comparação, nela avultando idênticas particularidades, a obra de Cadamosto (1455)”.

É uma empolgante narrativa de aventuras em que se fala da semente do Paraíso (a pimenta), as descrições geográficas, pela sua vivacidade, recordam-nos André Álvares de Almada, Eustache de La Fosse vinha para mercadejar e tudo conta ao detalhe:
“E também eles nos traziam mulheres e crianças para venda, que nós comprávamos, e depois revendíamos nos mesmos sítios ou onde nos aprouvesse. Custavam-nos mãe e filho uma navalha de barbear e ainda três ou quatro anéis de latão no ato da compra. Depois quando estávamos já na Mina, vendíamos mulheres e crianças por uns bons doze ou catorze pesos de ouro, e cada peso valia três estrelinos de ouro”.

Fala dos diferentes linguajares da Mina, do seu aprisionamento por Diogo Cão, o mesmo que chegara ao rio Combo. Refere os negócios da mourama na Mina. Garante que viu leprosos a besuntarem o seu corpo com sangue de tartarugas, assim ficavam curados. Aportaram a Cabo Verde e mais adiante falam-nos das ilhas Encantadas:
“Fizemo-nos de vela para Portugal, e tivemos vários dias de vento não favorável mas outros dias vieram em que o vento soprava de boa feição, e enquanto assim navegávamos vimos algumas aves a voar. E os marinheiros diziam que essas aves eram das Ilhas Encantadas, ilhas essas que nunca surgiam sobre as águas, tal se devendo a um bispo de Portugal que, com todos quantos o quiseram seguir, se sublevou e se apresentou a Carlos Magno, dizendo que todas as Espanhas tinham sido conquistadas pelos Sarracenos, como Aragão, Granada, Portugal, Galiza. E então o tal bispo, mais os seus sequazes, fizeram-se ao mar e foram até às ditas ilhas. E foi o caso que o dito bispo, que era um grande clérigo, e conhecendo a arte da negromância, encantou as tais ilhas, declarando que elas nunca se mostrariam a ninguém enquanto todas as Espanhas não passassem para a nossa boa-fé católica. E os marinheiros viam sempre as aves já ditas e reditas, mas nunca aos seus olhos viram as tais ilhas”.

Chegados a Lisboa, começam as novas tribulações de Eustache de La Fosse, uma fuga ousada com mil expedientes, peripécias mil, até os seus manuscritos desapareceram, e um dia aporta a Bruges, e deste modo dá fim o seu relato: e assim terminou a minha viagem, de corpo salvo, mas com todos os bens perdidos. Graças a Deus, ámen. Um documento precioso que traz um excelente contributo para o conhecimento de uma época ainda mal conhecida. Aqui se misturam a precisão das descrições geográficas, à luz dos conhecimentos da época, e se fala do encantamento, na crença das Ilhas Encantadas.

Que maravilha!
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15821: Notas de leitura (813): “A revolução portuguesa e a sua influência na transição espanhola”, tese de doutoramento de Josep Sánchez Cervelló, Assírio e Alvim, 1993; e Revista Africana, publicada pela Universidade Portucalense, número de Março de 1992 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15827: (De)caras (35): Quem nunca apanhou um pifo, de caixão à cova, que levante o primeiro copo!... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)





Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > Nova Lamego > c. 1969/70 >  O Valdemar Queiroz, de ter "dado de beber à dor"...

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz  (2016). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de anteontem, do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]


Assunto: Quem nunca apanhou uma bebedeira, que levante o primeiro copo.

Em Nova Lamego, depois de receber notícias, embebedei-me.

Já estava na varanda do  refeitório (oficiais e sargentos) a beber uns uisques, à espera de notícias (aerogramas).

Beber uns uisques é diferente de beber uma garrafa de Antiquary (*)... E foi uma grande bebedeira.

- Então, Queiroz? Passa-se alguma coisa? - perguntou-me o 1.º Sargento Ferreira Júnior.
- Meu primeiro, isto passa com mais uns copos, isto passa  - respondi, mas já com uma lágrima no olho.

Foi a garrafa toda e que mais houvesse.

Depois levaram-me a tomar banho à fula, num bidão que  havia na nossa casa de banho e deitaram-me dormir, até de manhã.

De manhã, estávamos escalados para irmos a Cabuca levar víveres e munições. E lá fomos, numa manhã fresca do cacimbo... Nada como o cacimbo do leste da Guiné para curar um pifo de caixão à cova...  A caminho de Cabuca senti que já me estava a passar a imagem da Ilda... a minha namorada. (**)

Valdemar Queiroz
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5672: Estórias avulsas (23): Old Parr e Antiquary a 90$00 (Luís Dias)

domingo, 6 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15826: Atlanticando-me (Tony Borié) (9): Aguarela de Miami

Nono episódio da nova série "Atlanticando-me" do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66).




Aguarela de Miami

Quando se menciona o nome Flórida, logo se associa a Miami, dizem logo, “ho, sim Miami”, é talvez o efeito da publicidade de Hollywood, cidades como São Francisco, Los Angeles, Miami, Nova Iorque, Washington, Las Vegas, Paris, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Colónia, mesmo Lisboa, quase todos as conhecem, embora nunca lá tivessem ido.

Quando se menciona o nome Miami, quase todos nós lembramos os edifícios a sair da água da baía, os barcos de recreio, as praias locais, os corpos de jovens bronzeados, o seu clima quente durante todo o ano, os barcos de cruzeiro a saírem o canal, enfim um certo número de coisas e factos que nos foram vendidas pelas agências de informação, com a colaboração dos média, que todos os dias nos entram pela casa adentro.

A verdade é um pouco diferente, se caminharmos pelas ruas de Miami, encontramos muitas coisas, mesmo muitas, que qualquer pessoa comum, a viver numa cidade, encontra ao sair de sua casa, existem alguns “sem-abrigo”, empurrando todos os seus haveres num carrinho do supermercado, áreas debaixo de pontes e outras infraestructuras, não muito recomendáveis para se caminhar por lá, carros de polícia ou de bombeiros, ambulâncias a toda a velocidade, com sirenes em funcionamento, avisando para que os deixem passar, algumas ruas fechadas ao trânsito, só para comércio e frequentadas por muitas pessoas, de todas as idades, curiosas, algumas fazendo perguntas a que ninguém sabe responder, alguns bairros típicos, que nós, vindo de outras paragens, temos curiosidade em conhecer, portanto, talvez pela curiosidade, como já mencionamos, gostamos de caminhar por lá, como por exemplo, única e simplesmente parar em frente a uma “tasca”, no bairro da “Little Havana”, (Pequena Havana), a que também chamam de “Calle Ocho”, (Rua 8), que é um bairro social, cultural e de actividade política, de refugiados que em tempos vieram de Cuba, onde se pode comer um pão com carne assada de “cerdo”, que nós chamamos porco, beber um “tinto”, que é um café negro, numa caneca sem asa, feito com meios ainda artesanais, adoçado com açúcar da verdadeira cana de açúcar.

Ao saborear esse “tinto”, se fecharmos os olhos, se pararmos de olhar em redor, podemos, na nossa imaginação, lembrar os “Tequestas”, que era uma tribo de Nativos Americanos que já viviam por aqui há mais de mil anos, mesmo antes da era Cristã, que tiveram a infeliz sorte de ser um dos primeiros povos a ter contacto com os europeus, depois deste facto, claro, foram a pouco e pouco desaparecendo. Por volta do ano de 1566, Pedro Menéndez de Avilés, ao serviço do reino de Espanha, navegou por aqui reivindicando toda esta área, chamando-lhe Florida Espanhola e, muitos anos e muitos combates depois, tanto no mar como nas dunas de areia, quando o reino de Espanha fez um tratado com a Inglaterra cedendo-lhe toda esta área, já pouco restava deste povo, tinham desaparecido quase por completo, e nós, a tal pessoa comum, dizemos, “é Miami”.


Se caminharmos pela Miami Beach Boardwalk, que é uma avenida em frente ao oceano Atlântico, em “Miami Beach”, deparamos com uma equipa de fotógrafos que estão protegidos pelos célebres ”guarda-costas”, à espera que a equipa de maquilhadores prepare o rosto de determinada “vedeta”, a preparem-na para ser fotografada, com gestos de aparência, como sendo uma paragem normal, em qualquer esplanada de café, que depois vai correr mundo, dizendo que fulano ou fulana está de férias em Miami, passando uns dias, aí podemos lembrar que aquele local foi onde esteve erguida uma Missão Espanhola, que Pedro Menéndez de Avilés, quando aqui desembarcou, deu ordens para ser erguida, davam-lhe o nome de Missão, mas na verdade era um pequeno forte, armado, habitado por alguma população treinada para combate, pois toda esta área a que hoje chamam Miami, naquele tempo foi sempre um lugar de combate, não só frequentado por corsários, vulgo “piratas”, onde até mais tarde foi palco durante muito tempo da “Segunda Guerra Seminole”, que colocava frente a frente um povo que por aqui vivia em paz, usufruindo do que a natureza lhe oferecia, com o governo de então, e nós, a tal pessoa comum, dizemos, “é Miami”.

A Segunda Guerra Seminole foi o resultado de um Tratado assinado por um pequeno número de Seminoles, por volta do ano de 1832, que exigiu aos índios que abandonassem as suas terras na Florida dentro dos próximos três anos, movendo-se para oeste. Claro que os Índios, considerando-se os verdadeiros donos das suas terras, não as abandonaram e, três anos depois, portanto por volta de 1835, o Exército dos Estados Unidos chegou para fazer cumprir o tratado, nessa altura os Índios estavam prontos para a guerra. Um tal Major Francis Dade marchou com o seu Destacamento de Exército, de Fort Brooke para Fort King, não esperando que apenas 180 guerreiros Seminoles, liderados pelos chefes Micanopy, Alligator e Jumper os atacasse, onde apenas um militar sobreviveu à emboscada, talvez para poder contar como tudo aquilo aconteceu, e nós, a tal pessoa comum, dizemos, “é Miami”.

Voltando a Miami Beach Boardwalk, mais um pouco à frente está um grupo de fotógrafos, com as suas máquinas apontadas a determinada varanda, pois pela tardinha vai haver lá “festa um pouco extravagante”, onde vão aparecer de vez em quando algumas caras conhecidas, que podem ser do desporto ou de Hollywood, quase sem roupa, debruçando-se na referida varanda, com poses estudadas, também para que essas imagens corram mundo, mas não vamos esquecer a tal “vedeta” que se preparava para ser fotografada, de que já falámos, talvez com um copo na mão, cheio de bebida, com pedras de gelo, muito florido, com uma rodela de limão ou laranja, em cima, pendurada de lado no copo, aí, vendo o limão ou laranja, temos que lembrar, na nossa imaginação, Julia Tuttle, que era uma rica produtora de citrinos, nativa de Cleveland e que ainda hoje mantém a distinção de ser a única mulher fundadora de uma grande cidade, onde os primeiros relatos descrevem a zona como um promissor deserto, que nos primeiros anos do seu crescimento chamavam "Biscayne Bay Country", e hoje é Miami, e nós, a tal pessoa comum, dizemos, “é Miami”.

Já nos estávamos a desviar da guerra, não vamos cortar o fio à meada, como se dizia no nosso tempo, as campanhas da “Segunda Guerra Seminole” foram uma demonstração notável da guerra de guerrilha Seminole. Os chefes Micanopy, Alligator, Jumper e mais tarde Osceola, dirigindo menos de 3000 guerreiros, pelos pântanos e areias desta área da Flórida, lutaram contra quatro generais norte-americanos e mais de 30.000 soldados. A Segunda Guerra Seminole durou 7 anos, foi a guerra mais feroz travada pelo governo dos Estados Unidos contra os Índios americanos, que gastou mais de 20 milhões de dólares, deixando mais de 1500 soldados mortos, não contando as baixas na população civil, que foi incontornável, assim como a relação para gerações futuras, que ficaram marcadas, entre o branco e o Índio Americano, e nós, a tal pessoa comum, dizemos, “é Miami”.

Tirando toda esta guerra do pensamento, pelo menos por momentos, Miami também pode ser apreciada e fotografada cá de cima, viajando no seu moderno sistema de metropolitano, com pontes sobre os canais e infraestruturas ao longo das ruas e avenidas, deste modo podemos lembrar, na nossa imaginação, Henry Flagler, um magnata dos caminhos de ferro, a quem posteriormente Julia Tuttle convenceu, não se sabe com que meios, a expandir os seus comboios até à região, talvez para transporte para o exterior do produto das suas plantações de citrinos.

Voltando à guerra, Julia Tuttle e Henry Flagler eram amigos, trabalhavam em conjunto, não como muitos anos antes, durante a “Segunda Guerra Seminole”, à medida que as hostilidades se arrastavam, as forças dos Estados Unidos, talvez frustradas, voltavam-se para medidas, algumas desesperadas, para ganhar a guerra, como por exemplo o chefe Osceola que foi capturado e preso quando se reuniu com as tropas dos Estados Unidos para pedir uma trégua, reivindicando e querendo falar de paz.

Com este procedimento, os Estados Unidos, com o chefe Osceola preso, estavam confiantes que a guerra terminaria em breve, mas isso não aconteceu, embora o chefe Osceola tivesse morrido na prisão no ano de 1838, outros líderes Seminoles continuaram a batalha, por mais alguns anos, e nós, a tal pessoa comum, dizemos, “é Miami”.

Uf, tanta guerra e tanto Miami, vamos caminhar para oeste, parar na “Calle Ocho”, beber um “tinto”, que é um café negro, numa caneca sem asa, feito com meios ainda artesanais, temperado com açúcar, da verdadeira cana de açúcar.

Tony Borie, Março de 2016
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15806: Atlanticando-me (Tony Borié) (8): Tunica, uma aldeia do Mississippi

Guiné 63/74 - P15825: Inquérito 'on line' (40): Num total de 126 respostas, quatro razões principais são apontadas em termos de "problemas" das NT logo no início da guerra: (i) Deficiente instrução (73%); (ii) Deficiente equipamento (63%); (iii) Cansaço (62%); e (iv) Instalações inadequadas (61%)


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (,Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > A LDM 300, encalhado em terra, à espera da maré-cheia. Foto do álbum do José Colaço (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65).


Foto (e legenda): © José Colaço (2014). Todos os direitos reservados.



OPINIÃO: LISTA DE PROBLEMAS NO TO DA GUINÉ, LOGO EM 1963 (COM-CHEFE, BRIG LOURO DE SOUSA)... 


Resultados finais do nosso inquérito 'on line' [ou 'em linha] 

1. Deficiente instrução das tropas e quadros  > 92 
(73.0%)

2. Deficiente equipamento das unidades no terreno  > 79 
(62,7%)

7. Cansaço das NT, sempre ansiosas por acabar a comissão e voltar para a metrópole  > 78 (61,9%)

6. Instalações inadequadas  > 77 
(61,1%)

4. Abastecimento (material, munições, víveres e água)  49 
(38,9%)

3. Falta de pessoal / insuficiência de efetivos  > 35 
(27,8%)

5. Falta de enquadramento / aproveitamento militar dos guineenses  > 34 
(27.0%)


8. Outros problemas não referidos acima (pelo Com-chefe Louro de Sousa)  > 24 
(19,0%)

Votos apurados: 126
Sondagem fechada, 4/3/2016, 17h36

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de março de 2016 >  Guiné 63/74 - P15819: Inquérito 'on line' (39): Camarada, qual a tua opinião sobre os três a cinco principais problemas das NT no TO da Guiné ? 112 de nós já respondemos...E tu ? Podes responder até 6ª feira, dia 4, 17h36