terça-feira, 20 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16505: Agenda cultural (502): Rescaldo da inauguração da exposição de pintura de Adão Cruz, levada a efeito no passado dia 17 de Setembro de 2016, no Museu de Ovar (Carlos Vinhal)

Um aspecto da exposição
Foto: © Dina Vinhal

No passado sábado, dia 17 de Setembro de 2016, foi inaugurada no Museu de Ovar uma exposição de pintura do nosso camarada Adão Cruz, Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68).

Muito antes da hora prevista para a inauguração, já o artista se via rodeado por amigos e admiradores. Entre os presentes encontravam-se médicos de várias especialidades, engenheiros, advogados, arquitectos, escritores, poetas, oficiais militares de carreira, camaradas da Guiné, professores e licenciados das mais diversas áreas, artistas plásticos, músicos, designers, fotógrafos, industriais e empresários, trabalhadores do comércio, indústria e agricultura… e crianças. Nas palavras do próprio, uma verdadeira República Popular da Arte.

Quando cheguei à porta do Museu dirigi-me directamente ao camarada Adão Cruz que me reconheceu de imediato com sendo o Carlos Vinhal do Blogue Luís Graça. Trocámos aquele abraço entre ex-combatentes da Guiné e foi como se nos conhecêssemos há muito tempo.

O acto de inauguração da exposição foi um êxito, com a sala repleta, essencialmente de amigos do pintor.

Seguem-se algumas fotos do evento retiradas do facebook do camarada Adão Cruz, da autoria de José Lopes:



 Adão Cruz solicitado pelos amigos

 Alguns dos livros de pintura de Adão Cruz

Ainda houve tempo para uma conversa com o Carlos Vinhal, camarada da Guiné, como foi apresentado aos amigos

A sala foi pequena para tanta gente que quis estar presente no acto de inauguração da pintura de Adão Cruz.

Até deu para o casal Vinhal encontrar um "colega" da Universidade Sénior de Matosinhos, no caso, um médico anestesista, colega do Dr. Adão Cruz no Hospital de Sto. António.

 A sempre agradável presença feminina

O Dr. Adão Cruz, tendo à sua esquerda o Director do Museu de Ovar, Prof. Manuel Cleto, que fez a apresentação do artista.

Chegada a vez de o artista usar da palavra, começou por agradecer a presença dos amigos, dissertando sobre a sua qualidade de médico, cujos conhecimentos adquiriu com o estudo e prática, até atingir a especialidade de Cardiologista, e a de artista que será o resultado da transmissão genética ou dom com que nasceu. Dizemos nós, que é preciso nascer-se com muita sensibilidade para se pintar e escrever como Adão Cruz. Na exposição, cada quadro, ou grupo dedicado a determinado tema, era ladeado por textos poéticos alusivos, tão belos quanto as obras pictóricas.

Um aspecto da exposição


Quatro das obras expostas
Fotos: © José Lopes
Legendas: Carlos Vinhal

Esta placa perpetua a iniciativa de artistas e mecenas que ajudaram a recuperar esta sala, tornando-a polivalente para receber exposições e se assistir a palestras. Note-se que o Museu de Ovar é de iniciativa privada, não tendo por isso qualquer ajuda oficial. Na placa pode-se ver o nome de Adão Cruz, que não tendo nada que o ligue a Ovar, é um dos Amigos deste Museu.
 
Recordação de uma tarde diferente e bem passada, que deu a oportunidade de conhecer pessoalmente, numa só pessoa, um camarada da Guiné e um excelente pintor e escritor.

Fotos: © Dina Vinhal
Legendas: Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 12 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16482: Agenda cultural (495): Lançamento do livro "Cabo Verde e Guiné-Bissau: As Relações Entre a Sociedade Civil e o Estado", da autoria do Prof. Dr. Ricardino Dumas Teixeira, dia 15 de Setembro de 2016, pelas 17h30, no Auditório da CPLP - Rua de S. Mamede (ao Caldas), n.º 21 - Lisboa

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16504: O cruzeiro das nossas vidas (23): Depois da "comissão de serviço" em Nova Lamego", a família Barata regressou a casa, no T/T Uíge, em março de 1971 (Adelaide Barata Carrêlo, filha do ten SGE José Maria Barata, CCS/BCAÇ 2893, 1969/71)




















Fotos: © Adelaide Barata Carrêlo (2016) Todos os direitos reservados.
[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O T/T Uíge, o paquete da Companhia Colonial de Navegação (CCN), onde a pequena Adelaide de Jesus Barata, de 7 anos, regressou a Lisboa, em março de 1971, com o pai, tenente José Maria Barta, a mãe, a irmã gémea Sofia e o irmão Rui...

Na lista dos passageiros de 1ª classe vamos também encontrar o nosso conhecido alf mil médico Joaquim Manuel Pinheiro Vidal Sariava  (1936-2015) e a esposa (mais dois filhos menores, a Isabel Cristina e o Luís Miguel).

O T/T Uíge (onde também eu viajaria para a metrópole quinze dias depois, em 17/3/1971, mais os meus camaradas metropolitanos da CCAÇ 12!...) levava desta vez 1281 passageiros, distribuidos por 3 classses:  58, na 1ª; 128, na 2ª;  e 1095 na 3ª.

O "programas das festas" chegou-nos à mão, em formato pdf, através da nossa grã-tabanqueira Adelaide Barata Carrelo, com a seguinte nota, e com a data de hoje:

Amigo Luís, mais uma recordação do nosso regresso da Guiné. Viemos no UIGE, como podes ver. Beijinhos, Adelaide.

"Delícias da Húngria" (sic) [, Hungria, palavra grave ou paroxítona, mas nome de um país do bloco soviético que era hostil ao Portugal de então]  foram servidas à sobremesa no jantar de despedida. A orquesta tocou, também para despedida, a "Tristesse" [Tristeza], do polaco Frederico Chopin (Estudo Opus 10, nº. 3 em mi maior, composto em 1832),...  Seguramente que os  acordes românticos do piano do salãio de festas da 1ª classe  do  T/T Uíge não devem ter chegado aos porões da 3ª classe onde vinham os heróis da Pátria... LG
___________________


Nota do editor

Último poste da série > 13 de junho de 2015 >  Guiné 63/74 - P14740: O cruzeiro das nossas vidas (22): A viagem no Alenquer, a chegada, o desembarque e o rumo ao destino (José Martins)

Guiné 63/74 - P16503: Notas de leitura (881): “Memórias de um Esquecido”, por José Cerqueira Leiras, edição de autor, 2003 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,

Tenho vindo a acumular provas de que a guerrilha se manifestou de forma acesa e contundente pelo menos a partir do segundo semestre de 1962. Destruir vias de comunicação, incendiar tabancas, o recurso ao assassínio de comerciantes, passou a ser moeda corrente no Sul da Guiné. Os sublevados ainda vêm mal equipados mas o seu poder intimidador irá revelar-se tão forte que as populações ou fogem para o mato ou para pontos do litoral, onde julgam encontrar defesa.
O relato de José Leiras é nesse aspeto eloquente: o que ele viu em Fulacunda, enquanto Cabo da CCAÇ 153, enquanto Chefe de Posto em Encheia, de 1963 a 1964.
Os historiadores não podem prescindir de consultar as histórias destas unidades para preencher as lacunas existentes. Fala-se sempre em 20 de Janeiro de 1963 como o início da guerra de guerrilhas, hoje sabe-se que não é verdade. Valia a pena pôr branco no preto.

Um abraço do
Mário


De Cabo do Exército a Chefe de Posto: na Guiné, entre 1961 e 1964

Beja Santos

“Memórias de um Esquecido”, por José Cerqueira Leiras, edição de autor, 2003, é um contributo precioso para conhecer melhor a Guiné a fermentar a luta armada, e sentir os sinais da primeira fase da guerrilha. (*)

José Leiras, do Alto Minho, escreve memórias da sua vida, vamos cingirmo-nos aos preparativos para a Guiné, o durante e o logo depois. Assentou praça em Março de 1960 na RAP 2 na Serra do Pilar, dali saiu imediatamente para o antigo Metralhadoras 3, segue para Coimbra, para o RI 12 e daqui arrancou para o Depósito Geral de Adidos, no Largo da Graça, em Lisboa. Anda muito à boleia entre Lisboa e o Porto, o namorico assim o obriga. Em 27 de Maio de 1961 chega a Bissau, vem num contingente de três aviões militares. O comandante de companhia é o Capitão Curto. Vão para Santa Luzia, a caserna ainda tem o chão em terra, as janelas ainda não tinham vidros, nem porta havia. De Bissau seguem para Fulacunda, que ele vai apresentado conforme sabe. A viagem que fazem é demonstrativa da paz existente. Vão por terra de Bissau para Fulacunda em viatura, passam pelo Biombo, prosseguem por Mansabá, depois Bafatá, Saltinho, Xitole e Bambadinca, e daqui a Fulacunda, região de Beafadas, mas onde não faltam Balantas, Mandingas, Mancanhas e alguns cabo-verdianos. Começam a desmatar em volta do acampamento para fazer um quartel novo. Escreve:

“Passámos 15 dias com machado e serra na mão a cortar árvores e a limpar cerca de 1500 cajueiros e mangueiros. Uma vez o terreno limpo, começámos a fabricar os blocos de terra amassada com palha brava, e que depois de secar ao sol umas semanas são maus duros que betão armado. Tempos depois, o capitão empregou alguns pretos e começou-se a construir uma caserna nova, entretanto já tínhamos ocupado o celeiro da vila e mais três pequenas casas de telha à europeia e aí instalámos dormitórios, enfermaria e depósito de munições. Para a cozinha montámos um grande barracão em troncos e ramos de palmeira e assim ficou para sempre em provisório”.
Tentou fazer negócios com a criação de porcos. Tudo correu mal.

Nem tudo é o sétimo céu, começam a chegar notícias de que a subversão passara a rondar Fulacunda. Pela primeira vez refere a sua unidade, a CCAÇ 153 (**), acabara-se o sossego, todos os dias e todas as noites saíam patrulhas de reconhecimento. Declara que houve uma emboscada quando iam buscar água, morreu o soldado 224/60, António Vilares. Vão à tabanca de Dada e trazem alguns prisioneiros, terá havido represália do PAIGC que incendiou e destruiu completamente a tabanca levando para o mato toda a população válida. A seguir é dinamitada uma ponte que atravessava um pequeno afluente do rio Fulacunda, ficaram cortadas as comunicações com Buba, onde se encontrava a CCAÇ 152.
Refere que Buba era muito bonita e airosa, tinha bom clima e boa água, e um importante cruzamento de estradas para Empada, Catió e a fronteira da Guiné-Conacri. Reconstruiu-se a ponte que dois meses mais tarde foi novamente destruída, o que levou a enviar um pelotão para Empada e uma Secção para Aldeia Formosa. O desassossego continua, foi descoberta uma casa de mato cerca de Buba-Tambó, montou-se emboscada, houve mortos, feridos e prisioneiros, o Soldado António Ribas morreu em combate. Com a tropa desmoralizada, o Capitão Curto manda-os descansar em Bolama, um pelotão de cada vez. E observa, acerca de Bolama:

“Apesar de pequena e desprezada é ainda hoje a cidade da Guiné mais tipicamente portuguesa, com as suas ruas estreitas e calcetadas em pedra ou paralelos”.~

Estavam em férias e tiveram que ir a S. João, os guerrilheiros tinham incendiado e destruído aquele ponto de passagem no ponto extremo do Setor de Fulacunda. Sucederam-se combates em Nova Sintra, as populações dispersam-se. O pelotão é destacado para Catió, os ataques são constantes. Começam a aparecer também comerciantes assassinados. Em Março de 1962, casa-se por procuração. Em 1963, já está em Bissau, a mulher acompanha-o. Logo a seguir a CCAÇ 153 embarca para Lisboa, José Leiras foi ao palácio falar com o Governador Peixoto Correia que já lhe tinha destinado o comando do Posto Administrativo de Encheia. Aplica-se ao trabalho e faz o recenseamento das 30 tabancas existentes, cobrou impostos, mandou efetuar a plantação de dezenas de mangueiros à beira da estrada principal, reparou-se o posto sanitário. E escreve:

“Com a mão-de-obra negra, orientei os trabalhos e então construiu-se uma pequena pista para que lá pudesse ir uma avioneta levar correio. Pelos trabalhos efetuados, éramos muito queridos lá na terra só que o terrorismo naquela zona começava também a dar sinal de vida e em pouco tempo alastrou”.

A mulher está grávida e a sofrer de paludismo, tem de regressar a Portugal. Na coluna para Bissau, entre Encheia e Binar há uma emboscada, um camião civil carregado de arroz e mancarra saltou pelos ares com o rebentamento de uma mina. Mais um soldado morto. No regresso a Encheia, e pela estrada de Bissorã, via Mansoa, depara-se um camião civil a arder. 10 quilómetros à frente, duas árvores atravessadas e mais adiante uma grande vala cortando por completo a estrada.

A guerra é indisfarçável, os fuzileiros chegam a Encheia. José Leiras vai a Bissorã falar com o administrador e pedir reforços, tudo lhe é recusado. No regresso, escapa por um triz a uma saraivada de balas. Em Encheia, há alvoroço todos os dias, gente a fugir para o mato. É nisto que se dá um ataque à povoação, muitas moranças destruídas pelo fogo, o comércio saqueado, todo o gado roubado e pessoas levadas para o mato. O comerciante Francisco Beira Mar é assassinado. José Leiras consegue chegar ao posto e resiste ao fogo dos guerrilheiros, apesar de ferido, pois no jipe foi atingido por várias balas numa perna. Na manhã seguinte, toca-se o clarim para a formatura e hasteia-se a bandeira portuguesa. A situação de Encheia é de uma enorme desolação. José Leiras arranja um voluntário para ir a Bissorã avisar a tropa, esta levou cinco horas para fazer 24 km pois na estrada havia dezenas de árvores atravessadas para além das valas. Ferido, é levado para o hospital, nessa altura as cuidadoras são religiosas. São-lhe extraídas as balas e dias depois vai de avioneta até Bissorã. Passa a noite de Natal de 1963 em Bissorã, no dia seguinte parte para Encheia, já lá está um pelotão. Caminhamos para o fim das vicissitudes do Chefe de Posto em Encheia. No fim do mês de Março de 1964, é mandado apresentar ao novo Governador, Contra-Almirante Vasco Rodrigues. Põe-se ao caminho e apresenta-se ao Governador. Vinha coberto de poeira vermelha, apresentou-se de arma às costas e duas granadas no bolso da camisa. O Governador não escondeu a sua indignação, repreende-o com aspereza, pois devia apresentar-se de farda branca e boné de pala. Convocara-o para lhe dar um louvor, como já não merecia, ia transferi-lo de castigo para o Posto de Cacine. E ele escreve:

“Senhor Governador, o meu louvor pode guardá-lo para V. Exa. como recordação minha, eu queria era aumento de salário e com respeito a ir para Cacine de castigo, vá para lá você que tem tiroteio de dia e de noite para se distrair mas não leve o fato branco porque está sujeito a manchá-lo de sangue e desde já apresento a minha demissão”.

Demorou alguns meses a regressar, os transportes vêm pejados de gente em retirada para a metrópole, andou alguns meses a trabalhar como motorista de camião da Tecnil, em Bissalanca. Em Junho desse ano chega a Lisboa.

Como é evidente, é indispensável ler a história da CCAÇ 153 (**) para procurar averiguar o que há de fidedigno nestes episódios. Parece mais que demonstrado que houve guerrilha acesa a partir de 1962, a data ícone de 20 de Janeiro de 1963 só pode significar que é o ponto de partida para flagelações, mas durante largos meses de 1962 acumulam-se as provas de fugas e raptos de população, assassinatos de comerciantes, atos de destruição de pontes e telégrafos, as comunicações foram sendo anuladas e os civis aproximando-se das povoações do litoral. Isto no Sul. O testemunho parte de Fulacunda. Em Encheia, assistimos, já em 1963 a formas de destruição coincidentes com as que se perpetraram no Sul. E em 1964 disseminara-se a luta armada. Testemunhos como o de José Leiras abonam a intensidade de uma guerrilha que foi recrudescendo até encontrar formas de contenção com nomes próprios: o terror do helicóptero lobo-mau, as operações das forças especiais, os bombardeamentos intensos no interior das matas de difícil acesso. Curioso seria perceber o que é que José Leiras esperava, depois de ter experimentado a guerra no Sul, de seguir em terreno tão atribulado, uma carreira de funcionário colonial.
____________

Notas do editor

(*) Último poste da série de 16 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16495: Notas de leitura (880): Os Cus de Judas, por António Lobo Antunes (2) (Mário Beja Santos)

(**) Sobre a CCAÇ 153, temos no nosso blogue dezena e meia de referencias. Clicar aqui. Temos também meia dúzia de referências ao cap Curto, José Curto ou José Carreto Curto, hoje tenente general reformado. As suas memórias escritas seriam importantes para se perceber melhor este período de terror e contra-terror dos anos de 1962/63.

Guiné 63/74 - P16502: Tabanca Grande (495): Jorge Ferreira, ex-alf mil, 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego e Buruntuma, 1961/63), nosso grã-tabanqueiro nº 728...


Projeto de capa para o livro, profusamente ilustrado, e a ser publicado em breve, "Buruntuma: algum dia serás grande. Guiné, Gabu, 1961-63", da autoria de Jorge Ferreira, que foi alf mil da 3ª CCAÇ, tendo estado em Buruntuma com o seu pelotão (20 metropolitanos e 20 guinenses) entre  novembro de 1961 e julho de 1962. A 3ª CCAÇ estava sediada em Nova Lamego.

Aqui na foto, o Jorge Ferreira aparece com o régulo de Buruntuma, que era tenente de 2ª linha, junto ao marco fronteiriço ("República Portuguesa: Província da Guiné"). O seu próximo livro tem inegável interesse documental e etnográfico.

Buruntuma, sendo uma localidade fronteiriça, tinha posto da PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado. O Jorge Ferreira conheceu outras localidades do leste da Guiné, como Pirada e o célebre comerciante Mário Soares. O Jorge, na 3ª CCAÇ, em Nova Lamego, lembra-se ainda do  ten mil médico António  Sancho, mais tarde conhecido cirurgião plástico.



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Buruntuma > 1961/62 > 3ª CCAÇ > O alf mil Jorge Ferreira, fotografado junto ao armazém da mancarra (que ainda hoje existe, em ruinas).



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Buruntuma > 1961/62 > 3ª CCAÇ > O alf mil Jorge Ferreira, junto à incipiente rede de arame farpado do destacamento... Para alguns de nós, Buruntuma era o "cú de Judas" da Guiné... Hoje temos mais de 70 referências a Buruntuma no nosso blogue... Com a entrada do Jorge Ferreira temos ter seguramente mais e enriquecer o nosso espólio fotográfico...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Buruntuma > 1961/62 > 3ª CCAÇ > O alf mil Jorge Ferreira


Fotos: © Jorge Ferreira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Jorge Ferreira, com data de 15 do corrente:

Caro Prof. Luis Graça e Companheiro:

Muito sensibilizado pelo caloroso acolhimento que me dispensou, envio-lhe como combinado a mini versão da "maquete" do meu livro.

O CV e as minhas fotos serão enviadas oportunamente.

Com consideração e grato pela atenção.

Jorge Ferreira


2. Mensagem do Jorge Ferreira de 16 de junho passado:

Boa noite.  Prof. Luís Graça

Os meus agradecimentos pela gentileza do seu acolhimento ao meu contacto telefónico de hoje.

Como lhe referi, tenho em fase de conclusão um Livro de Fotografias sobre Buruntuma (1961/62) que tenciono publicar no último trimestre deste ano. Entretanto estou dialogando com duas entidades prestigiadas o seu parocínio. Porém, com ou sem patrocínio, o Livro será publicado.

No fim do corrente mês a "maquete" para entregar na Gráfica estará concluída e depois seguir-se-á o necessário diálogo sobre as provas gráficas.

Como na 1ª quinzena de Julho estarei ausente no estrangeiro, gostaria de após o meu regresso conhecê-lo pessoalmente e abordar o tema do Livro, de acordo com as suas disponibilidades de tempo.

Grato pela atenção, apresento-lhe os meus melhores cumprimentos.

Jorge Ferreira




Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Posição relativa de Buruntuma, junto à fronteira coma  Guiné-Conacri > Carta de Buruntuma > Escala 1/50 mil (1957)


3.  Comentário do editor L.G. :

Jorge: Como combinado, aqui vai o link com a carta / mapa de Buruntuma, escala 1/50 mil de 1957...

Foi um prazer conhecer-te, camarada... Como mandam as boas regras do blogue, tratamo-nos doravante por tu, como camaradas que fomos no passado e que continuamos a ser, no presente. E deixa de títulos, postos, idade ou outras barrreiras à nossa comunicação.  São as regras do blogue (*).

Camaradas da Tabanca Grande: o Jorge, veteraníssimo camarada que esteve um ano em Buruntuma, entre  novembro de 1961 e julho de 1962,  quando ainda a guerra não tinha começado oficialmenmte, tem um livro lindíssimo sobre aquela terra e as suas gentes que ficaram no nosso coração... Prometi dar a notícia, em primeira mão, no nosso blogue... Conhecemo-nos há dias, pessoalmente, embora já desde meados de junho que temos vindo a falar ao telefone. Pedimos, há tempos, amizade na página do Facebook da Tabanca Grande, mas falta apresentá-lo formal e condignamente no nosso blogue. 

Eu e o Jorge Ferreira, que mora no concelho de Oeiras, para além da Guiné, temos várias coisas em comum: a frequência do ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde ele se licenciou depois de ter vindo da Guiné, (e onde eu frequentei o 1º ano da licenciatura em ciências sociais, em 1975/76, na mesma alturta em que lá esteve o cap cav Salgueiro Maia); vários amigos do Instituto de Informática do Ministério das Finanças e da DGOA - Direção Geral de Organização Administrativa); a paixão pela fotografia, etc...  Trabalhou, depois do regresso, em maio de 1963,  da Guiné , nos serviços mecanográficos do exército até 1972 onde teve, entre outros, como colega o Manuel Barão da Cunha, conhecido escritor da guerra de África, be, como o seu irmão Francisco.

O Jorge [da Silva] Ferreira, que passa a ser o nº grã-tabanqueiro nº 728 (**), tem um blogue de fotografia que merece ser divulgado e conhecido.  É um homem culto e viajado. e que cultiva a memória. No seu blogue, diz com modéstia que não é  "um fotógrafo profissional nem mesmo um amador". Descreve-se  apenas como um" caçador de imagens" (...) "que desde muito jovem se sentiu atraído pela fotografia, passando a fazer parte do [seu] quotidiano". Retomou a fotografia depois de enviuvar há 5 anos, fazendo do seu blogue também uma tocante homenagem à sua companheira de uma vida,  Gabriela, e mãe do seu filho (que, se não erro, vive nos EUA).

Sobre a sua comissão de serviço na Guiné, para onde foi mobilizado em 1961, escreveu:

(...) "A minha experiência de comando de um pelotão integrando militares portugueses e nativos, em igual número, foi extremamente enriquecedora e, embora em clima de guerra, moldou-me fortemente o carácter e levou-me a acreditar que a multirracialidade é um dos pilares em que deve assentar a sã e pacífica convivência entre os diferentes povos e raças da Humanidade.

"Durante os 25 meses em que permaneci neste pedaço de solo africano foi minha companheira inseparável, nos bons e maus momentos, uma câmara KONIKA S que me permitiu captar a diversidade étnica e religiosa do “chão” que corresponde à actual Guiné Bissau, verdadeiro 'moisaco humano polícromo', e o convívio harmonioso de brancos e negros ainda que em cenário de conflito armado.

"Estas imagens pela importância que revestem para mim, encontram-se agrupadas autonomamente em 'MEMÓRIAS' tal como foram captadas há cerca de 50 anos sem qualquer manipulação e por isso com as deficiências resultantes da sua 'velhice'.

"Finda a Comissão, regressei a Portugal. Entretanto conclui os 2 anos que faltavam para obter a minha licenciatura [em ciências sociais e políticas], abracei a carreira profissional na Área das TI [Tecnologias da Informação], concretamente como Técnico e posteriormente como Gestor de Sistemas de Informação, e constitui FAMíLIA, tornando-me exclusivamente Repórter fotográfico da Vida familiar, registando os seus momentos mais marcantes, férias, nascimento do filho e dos netos, convívio com os Amigos e viagens por Portugal e pelo Mundo". (...)


Feita esta breve apresentação (, complementada com um resumo do seu CV profissional, abaixo reproduzido), desejamos-lhe o melhor sucesso para o seu livro e uma agradável e frutuosa estadia na nossa Tabanca Grande, à sombra do nosso mágico e fraterno poilão.






4. Informação sobre a 3ª CCAÇ (José Martins, nosso colaborador permanente, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70):

3ª Companhia de Caçadores Indígenas:

 (i) esta unidade foi constituída em 1 de Fevereiro de 1961, como unidade da guarnição normal do CTIG;

(ii) era formada por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local;

(iii) iniciou a sua formação adstrita à 1ª CCAÇ I;

(iv) em 1 de agosto de 1961, com a constituição de dois pelotões, substitui a 1ª CCAÇ I na guarnição de Nova Lamego;

(v) desloca elementos para guarnição de várias localidades do Setor Leste, por períodos e constituição variáveis, sendo de destacar as localidades de Che-Che, Béli e Madina do Boé;

(vi) passou a guarnecer, em permanência,  as localidades de Béli e Madina do Boé instalando, em 6 de maio de 1963, um pelotão em cada localidade;

(vii) em 1 de abril de 1967 passa a designar-se por Companhia de Caçadores nº 5, com sede em Canjadude.
_______________

Notas do editor:


(**) Vd. postes da série O Nosso Livro de Estilo:

22 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8588: O Nosso Livro de Estilo (1): Política editorial do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

12 de agosto de 2011 >Guiné 63/74 - P8662: O Nosso Livro de Estilo (2): Comentar (nem sempre) é fácil)...

7 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10770: O Nosso livro de estilo (7): Cerca de 400 abreviaturas, siglas, acrónimos, expressões idiomáticas, gíria, calão, crioulo... Para rever, aumentar, melhorar...

domingo, 18 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16501: Blogpoesia (469): "O alpendre"; "Vou abrir minhas janelas" e "Melro na gaiola", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas de sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


O alpendre

Aquelas caravelas expostas ao sol,
Batidas pelo vento, de madeirame carcomido,
Metade frestas, metade ar,
Conservam secas,
Mesmo com chuva,
As espigas que a terra deu.

Pululam pelas encostas minhotas,
Junto das eiras,
São tantas quantas as casas
Dos lavradores.

Me lembro delas
E das tardes calmas,
De abrigo à chuva,
Jogando as cartas,
Devorando fruta
E outras façanhas,
Nossos segredos,
Quando era pura a liberdade…

Mafra, 16 de Setembro de 2016
Ouvindo Chopin

************

Vou abrir minhas janelas...

Raiou o sol. Vou abrir-lhe as janelas,
de par em par.
Preciso do seu calor e sua luz.
A humidade não traz saúde.
E a escuridão esconde o mal.

Exulam os meus olhos de alegria.
Abraço a vida que me sustém.
Esconjuro para longe a tristeza de outras eras.
É quase o tempo de Natal.

Abraço as nuvens em alvoroço
Como um perdido.
Bendigo e oro pelas almas minhas que Deus levou.

Bar "setemomentos" em Mafra, 18 de Setembro de 2016
9h37m

Jlmg

************

Melro na gaiola

Pareço um melro na gaiola,
Tentando forçar a porta,
Em busca da liberdade.

Nela, não me vem a sapiência
Que faz cantar poemas
Na cadência que eu desejo.

Ninguém num cárcere se sente capaz
De elevar a voz
Ou de ouvir a poesia.

Só com paz e em plena liberdade
Se expande a alma rumo ao bom e belo
Que a vida dá...

Mafra, 13 de Setembro de 2016
19h29m

Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 11 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16474: Blogpoesia (468): "Magnos mistérios"; "O meu quintal esquadrinhado" e "O não crente", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16500: (Ex)citações (317): Porto Balana era uma designação da Força Aérea, julgo que o Exército nunca lá terá ido (Miguel Pessoa, Coronel PilAv Reformado)

1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 14 de Setembro de 2016:

Caros editores

Dou-vos esta informação por mail pois pretendo incluir uma imagem alusiva, o que não seria possível através de um comentário no Poste.

Apareceu no Poste 16494 (I Parte do texto sobre a ejecção do TCor. Costa Gomes em Gandembel) um comentário do nosso camarada Alberto Branquinho que diz que deve haver um engano e o Porto Balana deverá ser o destacamento de Ponte Balana.

Não é bem assim, eram duas coisas diferentes. Acredito que o pessoal do Exército nunca se tenha apercebido da existência do Porto Balana.

O que acontece é que quando o corredor do Guilege chegava ao Rio Balana havia um embarcadouro onde se avistavam com frequência pirogas. Nesse ponto os guerrilheiros transferiam alguma da carga que vinha pelo trilho para as pirogas e essa carga seguia depois "via fluvial" pelo Rio Balana acima em direcção à área de Salancaur.

A Força Aérea andava sempre a tentar detectar alguma actividade neste ponto e chegámos a partir algumas caixas com o helicóptero armado.~

No meu tempo (fins de 1973?) eu próprio estive envolvido em algumas missões a esse local com os Fiat G-91.

Julgo que o Exército nunca lá terá ido. A designação "Porto Balana" é da Força Aérea.

Junto uma imagem que mostra os dois pontos nas imediações do aquartelamento de Gandembel.

Abraço
Miguel Pessoa

Zona do aquartelamento de Gandembel
Infogravura: Miguel Pessoa (2016)
____________

 Nota do editor

Último poste da série de 1 de setembro de 2016 Guiné 63/74 - P16436: (Ex)citações (316): Em Fá Mandinga e Missirá, costumava declamar, de Reinaldo Ferreira, o poema "Receita para fazer um herói" (Jorge Cabral, ex-alf mil art, Pel Caç Nat 63, 1969/71)

Guiné 63/74 - P16499: Memória dos lugares (347): Samba Juli, Sansancuta e Demba Tacobá, tabancas fulas em autodefesa, a sudeste de Bambadinca, para as quais foi destacado por mês e meio, em 20/7/1969, o 3º pelotão da CPM [, Companhia de Polícia Militar,] 2537 (Bissau, 1969/71), a que pertencia o sold cond auto Jerónimo de Sousa, hoje secretário geral do PCP


Foto nº 1 > Samba Juli


Foto nº 2 > Samba Juli


Foto nº 2 A  Samba Juli > Canto superior esquerdo


Foto nº 2 B > Samba Juli > Canto superior direito


Foto nº 2 C  > Samba Juli > Canto inferior esquerdo


Foto nº 2 D > Samba Juli > Canto inferior direito


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > c. 1969/70 > Samba Juli, tabanca fula em autodefesa, do regulado de Badora... A tabanca era já guarnecida por valas, em todo o seu perímetro (linha a verde), e por duas fiadas de arame farpado (linhas a amarelo)... Havia ainda abrigos, construídos ou em construção, em cada em dos cantos do perímetro e eventualmente no eixo central (retângulo a vermelho). A tabanca de Demba Tacobá não deveria ser muito diferente.

Sabemos que em fevereiro de 1969, aquando o desastre do Cheche, a CCAÇ 2405 estava sediada em Galomaro, com um pelotão em Samba Juli, outro em Dulombi e um terceiro em Samba Cumbera. Samba Juli fazia parte de um conjunto de tabancas fulas, em autodefesa no regulado do Corubal, ao longo da estrada Bambadinca-Xitole, onde se incluía Dembataco e Moricanhe (a oeste da estrada), Samba Culi, Sinchã Mamajã, Sare Adé, Afiá, Candamã, entre outras (a leste)...

Tudo nomes que ainda ressoam estranhamente nas nossas cabeças: em muitas delas contávamos as estrelas à noite e esperávamos o alvorecer,  não sem alguma ansiedade... Nós e os nossos nharros da CCAÇ 12... Em dezembro de 1969, Beja Santos também veio, e Bambadinca, a Samba Juli, fazer um transporte de doentes, com o seu Pel Caç Nat 52, quando já tinha deixado Missirá e foi para a sede do BCAÇ 2852... A lealdade dos fulas (ou a sua aliança política com os tugas contra o PAIGC) era paga com estes e outros serviços: transporte de doentes, transporte da mancarra, reforço da autodefesa... Eles confiavam em nós, nós confiávamos deles.. Foi por isso que não os deixámos à mercê do terrível Mamadu Indjai...

Foto do álbum do Humberto Reis, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)


Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís & Camaradas da Guiné]



1. Em 10 de julho de 1969, a CPM; [, Companhia de Polícia Militar,] 2537, a que pertencia o sold cond auto Jerónimo de Sousa (hoje secretário-geral do Partido Comunista Português), tendo chegado ao CTIG em finais de maio de 1969, "cedeu um pelotão para reforço do BCaç 2856, que se instalou em Bafatá", sede do Comando de Agrupamento 2957, comandado pelo cor inf Hélio Felgas...

O pelotão terá ido de Dakota de Bissau para Bafatá.  Dez dias depois, em  20 de julho de 1969, este pelotão, comandado por um alferes, "seguiu para o setor do BCaç 2852 [, Bambadinca, Setor L1], para organizar a autodefesa de Samba Juli, Sansacuta e Demba Tacobá"...  

Segundo entrevista dada por Jerónimo de Sousa à revista "Visão" (edição nº, 1216, de 22/6/2016), esta missão ter-se -á prolongado por 47 dias,  "após o que recolheu para Bissau" [, portanto, em princípios de setembro de 1969].

Não era "normal" uma companhia de polícia militar (CPM) "alinhar no mato",  e para mais logo no início da comissão...  Já em 7 de julho de 1969,   esta CPM 2537 (Bissau, junho de 1969 / fevereiro de 1971; comandante: cap cav Hernâni Anjos Moás, hoje cor cav ref) tinha destacado  efetivos para reforço temporário (mês e meio) dos destacamentos de Rossum, Uaque, Jugudul e Infandre, no setor do BCaç 2885 (Mansoa, 1969/71).

Em ambos os casos eram missões para as quais as CPM  não se encontravam preparadas nem dispunham do material necessário: CPM 2537, mais concretamentem, foram confiadas "missões  de reforço às tropas de quadrícula e montagem da autodefesa de algumas tabancas" (nas região do Oio e de Bafatá).

No início da estação das chuvas do ano de 1969, as tabancas dos regulados de Padada (como Madina Xaquili), Corubal (Afiá, Candamã), Cossé e Badora, ficaram seriamente ameaçadas pela   ofensiva do IN, e nomeadamente pelo  bigrupo comandado por Mamadu Indjai, um grande chefe de guerrilha (que comandava o setor do Xime/Xitole). Spínola cometera um grave erro ao desguarnecer, com a retirada de Beli, Madina do Boé e Cheche, a defesa da margem direita do Rio Corubal... tornando mais vulneráveis os regulados de Padada, Cossé, Corubal e Badora...

No mês de Julho de 1969, a actividade do IN no Sector L1 (Bambadinca) foi intensíssima com ataques ou flagelações a diversas subunidades e tabancas, ou emboscadas nas imediações (indicam-se a seguir as localidades e entre parênteses o dia)... Grande parte destas ações têm a assinatura do comandante do PAIGC, na região, o temível Mamadu Indjai. Aqui vai uma listagem das ações do IN, no setor L1 (dia do mês de julho entre parênteses):

Dulombi (1),
Paia Numba (10),
Padada 2E4 (14),
Missirá (15),
Cansamba (15),
Madina Alage (15),
Cansamba (20),
Dulombi (24),
Mansambbo (24),
Xime (24),
Madina Xaquili (24),
Quirafo (25),
Xime (26),
Mansambo (27),
Madina Xaquili (28),
Dulombi (29),
Mansambo (30)
e Candamã (30)...

Demba Taco, Samba Juli e Sansancuta foram as 3 tabancas por onde o 3º pelotão da CPM 2537, o do Jerónimo de Sousa,  foi dividido. O pelotão era comandado por um alferes que acabou de ser evacuado, de Bambadinca para o HM 241 e, mais tarde, para a metrópole.

Um mês antes tinha  siodo enviado à pressa o alf mil  pel rec info Fernando Gouveia para Madina Xaquili, setor de Galomaro... Era um "homem de secretaria", não era um operacional, colaborador direto do cor inf Hélio Felgas,  comandante do Cmd Agr 2957 (Bafata, 1968/70)...  É preciso perceber que, na época, Spínola mobilizou toda a malta disponível para defender o chão fula, no seu flanco sul, face à ameaça do Mamadu Indjai... 

Jerónimo de Sousa e o seu pelotão não foram, pois, vítimas de nenhuma ação disciplinar, como se poderia deduzir, erradamente, do texto da "Visão", assinado pelo jornalista Filipe Luís.

Segundo Jerónimo de Sousa, Demba Tacobá (vd. carta de Duas Fontes) (nâo confundir com  Dembataco, no subsetor do Xime)  , foi a tabanca que lhe coube em sorte... Na altura nem arame farpado tinha... Os PM tiveram de abrir valas e  viver em condições precárias nas  moranças (palhotas) que lhe foram destinadas. 


Guiné > Carta da província (1961) > Escala 1/500 mil... Posição relativa das tabancas de Samba Juli e Demba Tacobá a sudeste de Bambadinca. Sansancuta ficava entre as duas.

sábado, 17 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16498: Tabanca Grande (494): Manuel Fernando Dias Oliveira, ex-Soldado Apontador de Morteiro do Pel Mort 2138 (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71), 727.º Grã-Tabanqueiro da nossa tertúlia

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo Grã-Tabanqueiro Manuel Fernando Dias Oliveira, ex-Soldado Apontador de Morteiro do Pel Mort 2138, (Buba, Aldeia Formosa, Nhala, Mampatá e Empada, 1969/71), com data de 15 de Setembro de 2016:

Caro Luís Graça, boa noite.

Eu sou o Oliveira, Soldado Apontador de Morteiro NM 06364668.
Fiz a minha Comissão na Guiné, no período de 1969/1971, tendo o meu Pelotão de Morteiros 2138 sido desmembrado pelos Aquartelamentos de Buba (sede), Nhala, Mampatá, Aldeia Formosa e Empada.

 Pel Mort 2138 - "SEMPRE EXCELENTES E VALOROSOS"

Embora eu já vos acompanhe há alguns anos, só agora tomei a iniciativa de pedir o meu Registo. Já sou conhecido em algumas das vossas páginas, no que diz respeito ao nosso Pelotão, embora com a Alcunha de “Brasinha”.


Meu nome completo é Manuel Fernando Dias Oliveira, natural da Freguesia de Fajozes, Concelho de Vila do Conde, Distrito do Porto.
Vivo em Braga há quase trinta anos e sou membro ativo da Liga dos Combatentes, Delegação de Braga.

Com isto peço com muito gosto o reconhecimento como Tabanqueiro.
Fernando Oliveira (Brasinha)


2. Comentário do editor

Caro Oliveira, bem vindo à nossa Tabanca Grande. És o primeiro camarada do Pel Mort 2138 que quer fazer parte da nossa tertúlia, o que te traz responsabilidade acrescida, fazeres uma apresentação mais ou menos exaustiva da tua Unidade. Até hoje não tínhamos nenhuma entrada com o Pel Mort 2138.

Falando em termos mais pessoais, ambos somos do mesmo Concelho de Vila do Conde, embora eu só fosse nascer a Azurara, voltando ao fim de 15 dias para a minha terra de coração, Matosinhos. Também sou membro dos Corpos Directivos do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, com o cargo de 1.º Secretário da Mesa da Assembleia Geral.

Posto isto, só me resta, em nome da tertúlia e dos editores, deixar-te um abraço de boas-vindas e votos de que colabores mandando-nos as tuas histórias e as tuas fotos.

O camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 de setembro de 2016 Guiné 63/74 - P16465: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, nascido no Porto, a viver no Brasil há mais de 40 anos, grã-tabanqueiro nº 726: "Não fui Cabo Cripto, fui sim do Grupo de Material e Segurança Cripto: éramos cinco a trabalhar num 'cofre' [bunker], no Quartel General, em Bissau (1963/66)... Já não me lembro do nome desses camaradas"... (E, depois como civil, até 1974, foi o homem dos sete ofícios!)

Guiné 63/74 - P16497: Memória dos lugares (346): Em abril de 1963, eu fui, com uma secção, de Taibatá (subsetor do Xime) até Satecuta (subsetor do Xitole), atravessando a mata do Fiofioli, e falei com o chefe e a população da tabanca de Satecuta, espantados por nos ver... Regressei pelo mesmo caminho, a tempo de almoçar a Taibatá... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

1. Comentário de Alcídio [José Gonçalves] Marinho,  ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65); vive no Porto; é membro da nossa Tabanca Grande desde 23/9/2011 (*)


A MATA DO FIOFIOLI (*)

Em fim de abril de 1963, o nosso pelotão (3º), com apenas duas Secção, a 2ª (Fernando Condez) e a 3ª (a minha), estando a 1ª destacada em Paunca (Victor Lezaola), e comandados pelo alferes mil Cardoso Pires, fizemos vários patrulhamentos abaixo do Xime, um a dois por semana. 

Ora, num desses primeiros patrulhamentos,  foi-nos destinado deslocarmo-nos à mata do Fiofioli. Eu já tinha ouvido falar da referida mata, na 3º  classe da escola primária, quando estudámos a geografia das colónias. 

Aliás,  já em Santa Margarida,  quando esperávamos o embarque para o Ultramar, tinha explicado, aos militares do nosso pelotão, vários aspectos (fauna, flora, tempo, etc) sobre África, pois havia lido o livro "África",  do Henrique Galvão.

Assim, partimos de Bafatá, paramos em Bambadinca, em Amadelai, no Xime, e quando chegamos ao entroncamento para a Ponte do Inglês, junto ao rio Corubal, viramos á esquerda para Taibatá. Aí o Alferes chamou-me e disse:
- Ò Marinho, você é capaz de ir até Satecuta, que nós ficamos aqui e preparamos o almoço ?!
Respondi: 
- Ok,  eu vou, não há problema.

Para esclarecer, eu no primeiro patrulhamento, com apenas três dias da Guiné, tinha comprado numa loja de Bafatá  (Casa Correia ou casa Barbosa), na Avenida Principal, logo abaixo da Transmontana, uma panela de alumínio,  com capacidade para alimentar cerca de 20 homens, para não comermos ração de combate, como queria o furriel vagomestre (Ramiro Gomes)... Comprávamos batatas ou arroz e requisitava-se atum (lata de 2.5 kg)  ou polvo seco (cesto).... Ou até uma granada no rio e tínhamos peixe. Pedi na Mecânica, para me fazerem uma trempe, para assentar a panela e,  com uns gravetos,  toca a cozinhar.

Lá avançamos então  para a mata do Fiofioli. A primeira impressão, á época, foi que era uma mata diferente das outras, que já conhecíamos, pois as árvores eram muito altas (20 ou 30 metros ou mais), a luz coava-se através das folhas, muito ténue, tudo escuro, e o chão em muitos locais era liso ou tinha tufos de ervas e arbustos rasteiros.


Com cautela redobrada e atentos, lá seguimos pela picada até Satecuta. Ao chegarmos à tabanca, o pessoal (homens, mulheres e crianças) ficaram espantados, por nos ver. Falei com o chefe da tabanca, através do cabo Mamadu Baldé (fula-forro), que nos recebeu muito bem.

Regressámos pelo mesmo caminho, onde nos esperava o resto do pessoal,onde almoçámos.
De tarde, fomos à Ponte Varela, à confluência do Corubal e do Geba, em frente à bolanha do Enxalé.

Mais tarde, tocou-nos a atravessar o Fiofioli, quando estivemos destacados no Xitole (fim de maio, junho, julho e meio de agosto de 1963).
Ab
Alcídio Marinho
CCaç 412 - Abril/1963-Maio/1965



Mapa (esboço) do Sector L1, ao tempo do BCAÇ 2851 (1968/70), do BART 2917 (1970/72) e da CCAÇ 12 (1969/71)... Vd. posição relativa de Taibatá, Fiofioli e Satecuta... De Taibatá a Satecuta, em linha reta, deveriam ser uns 25 km.

Observações:

NT= Nossas Tropas;
Badora, Bissari, Corubal, Cuor, Xime = Regulados;
RGeba, RCorubal = Rio Geba, Rio Corubal;
N, W, S, L= Quatro pontos cardeais: norte, oeste, sul, este;
IN= Inimigo;
1 = Um bigrupo (50/60 guerrilheiros);
2 = Dois bigrupos (90/100 guerrilheiros);
A/B = 1 grupo de artilharia (morteiro 82, canhão s/r 75 e 82) + 1 grupo especial de bazuqueiros (RGP) (Mangai…).

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)
________________________

Notas do editor:


(**) Último poste da série >  14 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16489: Memória dos lugares (345): O destacamento e a jangada de João Landim, no Rio Mansoa (José Nascimento / Francisco Gamelas / Leonel Olhero / Alcídio Marinho)