domingo, 1 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17812: Blogpoesia (531): "Primavera de letras"; "Homens amados" e "Festejar a vida...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Saída para o mar da traineira Viatodos


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Primavera de letras

Como pétalas do céu,
Caem letras às cores.
Enchem o chão de tapetes tão lindos,
Parecem jardins.
Passam escritores de caneta na mão.
Uns são poetas.
Outros autores.
Ficam perdidos.
Lhes brotam ideias
Como se fossem cardumes.
Se põem a pescá-las
Com tanta abundância.
Enchem os sacos.
E as levam para casa.
Depois, ao serão,
Sentados à mesa,
Calor da lareira,
Uma por uma,
Põem-se a escolhê-las,
Desenham palavras,
Conforme as ideias.
Umas dão histórias.
Outras dão versos.
Qual delas mais linda.
Milagre de rosas
E contos de fadas.

Berlim, 24 de Setembro de 2017
9h22m
Manhã cinzenta e molhada
Jlmg

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Homens amados

Homens amados avançam destemidos sobre as ondas pelo mar sem fim.
Vão armados. Muita fé e muita esperança.
Virá cheio o seu barco.
Cobrirá a praia no regresso de fartura.
Afugentarão a fome dos seus lares.
Seus filhos irão à escola tão alegres.
Brincarão o dia inteiro.
Enquanto os pais andam na faina, desde a madrugada.
Suas mulheres comprarão na feira, de chita alegre, suas blusas e saias rodadas.
O forno a lenha dará o pão para a semana inteira.
E, aos Domingos, haverá almoço farto e melhorado.
Bendito mar da esperança e da fartura.
Bendita a Senhora da Boa Hora,
Na capela frente ao mar!...

Ouvindo concerto nº 2 de Rachmaninov por Hélène Grimaud e Cláudio Abado
Berlim, 28 de Setembro de 2017
8h22m
Jlmg

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Festejar a vida...

Vamos festejar o nascer o dia, depois duma noite de luar de lua cheia,
Sorver a brisa verde que vem do mar.
Bailar ao vento, como dançam as andorinhas, em graciosos arcos de beleza.
Vem aí o sol da abundância semeando calor e vida nas planuras mais agrestes.
Abramos nossos braços, em abraços verdadeiros.
Sirvamos o amor da amizade a todo o mundo.
Brindemos à alegria que brota fresca em fonte pura.
Abramos os nossos olhos vivos aos fulgores tão belos do horizonte.
Cultivemos a arte da simpatia com sorrisos francos de abundância.
Sejam puros nossos instintos no rigor severo da amizade.
Sejam doces nossas palavras para quem vai ao nosso lado.

ouvindo Love Story
Berlim, 30 de Setembro de 2017
5h53m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17793: Blogpoesia (530): "Soleira da porta"; "Amigo como nenhum..." e "Paraíso perdido...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

sábado, 30 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > Dois camaradas açorianos, de quem infelizmente não sabemos os nomes.


Foto: © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Está na altura, caros leitores, de reunir as peças, dispersas, do "nosso cancioneiro"... E já são algumas dezenas: são quadras ao gosto popular, são sonetos, são versos decassílabos parodiando os "Lusíadas", são textos poéticos, livres, são hinos, são fados, etc.

Foram produzidos ao longo da guerra (1961/74),  mas também no pós-guerra... e nalguns casos, muito depois do nosso regresso.  No essencial, têm um "sentido coletivo", ou procuram interpretar um "sentir coletivo", centrando-se na tropa e na guerra, e tendo por cenário a Guiné.

Nem  todos estes textos poéticos eram canções (como o "Cancioneiro do Niassa",  por exemplo). Uns tinham (ou poderiam ter tido)  suporte musical, outros não.  Preocupámo-nos sobretudo com a recolha das letras que correm o risco, isso, sim, de se perderem para sempre... Num caso ou noutro, conseguimos identificar a música que lhe estava associada (, em geral, era parodiada, como acontecia com o "Cancioneiro do Niassa").

Este material, independentemente da qualidade literária, tem interesse documental,  tem um grande riqueza socioantropológica,  fala de nós, das nossas vidas na Guiné, de uma geração anónima, esquecida, mal tratada, fala de lugares perdidos e estranhos, fala inevitavelmente da trilogia "sangue, suor e lágrimas",  mas tamnbém fala de coragem, de camaradagem,  de saudade, etc.

A análise de conteúdo desta documentação ficará para os especialistas. Mas, queremos desde já, que os nossos leitores continuem a comentar. E sobretudo queremos continuar a alimentar esta série. Acreditamos que há ainda muitas "canções e outros poemas de guerra" esquecidos no "baú da memória" dos ex-combatentes que fizeram a guerra da Guiné (1961/74)...

As referências a este tópico já são muitas, mesmo assim, no nosso blogue, Haverá, naturalmente, duplicações e sobretudo problemas de classificação temática:

cancioneiro (62)
Cancioneiro da Guiné (5)
Cancioneiro de Bambadinca (3)
cancioneiro de Bedanda (2)
cancioneiro de Canjadude (3)
cancioneiro de Gadamael (1)
Cancioneiro de Gandembel (10)
Cancioneiro de Mampatá (4)
cancioneiro do Cachil (1)
Cancioneiro do Niassa (4)
Canções do Niassa (4)
´
E ainda:

As músicas das nossas vidas (20)

blogpoesia (559)
poemário (19)
poesia (200)



2. Eduardo Manuel Simas, um poeta popular açoriano

Vamos (re)começar por uns versos de matriz popular açoriana, Em 14 de junho de 2008, recebemos do António Graça de Abreu (ex-alf mil, SGE, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar1972/74) uma mensagem tendo por anexo  un conjunto de 4 dezenas de quadras, da autoria de um militar açoriano, da CCAÇ 4740, que esteve com ele em Cufar.

Em Cufar, o António tinha convivido com, entre outros, os militares (na sua maioria açorianos) da CCAÇ 4740. Estes versos que agora se (re)publicam, em forma de quadras ao gosto popular, de sete sílabas métricas, algumas  de pé quebrado, já constavam do seu livro de memórias,  Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Edição: Guerra & Paz, 2007), pp. 151-156.

Eis o que o Antóonio escreveu na altura no seu "Diário da Guiné":

Cufar, 3 de Novembro de 1974

Entre os soldados açorianos meus vizinhos, o Eduardo Manuel Simas [nº mec. 04296572]é poeta. Descobrimos afinidades e o rapaz veio mostrar-me uns versos da sua autoria, bem melhores do que os meus. Como acha que eu sou mais entendido nas coisas da arte poética, pediu-me que lhe corrigisse os erros do português e melhorasse as quadras. Elas aqui estão (...).


Em 26 de junho de 2008, foram republicados no nosso blogue, com a seguinte nota;  "é uma espécie de romanceiro, em que se relata a pobre vida de um militar que vai para a guerra. É um género literário que tem uma larga tradição na nossa poesia popular (veja-se, por exemplo, A Nau Catrineta)."

 Na altura, abrimos uma série, a que chamámos Cancioneiro de Cufar, na esperanaça de que outras  recolhas pudessem ainda aparecer, relacionadas com Cufar e o sul da Guiné. De qualquer modo, estes e outros versos merecem ser reunidos numa única série, a que passamos a chamar "O cancioneiro da nossa guerra". A seleção é da nossa responsabilidade.

O Eduardo Manuel Simas é natural de  São Miguel, Açores, vive em Lomba da Maia, concelho da Ribeira Grande.  Na CCAÇ 4740, era soldado atirador de infantaria, e pertencia ao 2º pelotão, que era comandado pelo alf mil inf António Octávio da Silva Neto (,segundo a preciosa informação que nos é dado pelo portal da CCAÇ 4740, criado e mantido pelo ex-fur mil Serv Mat Mec Auto, Mário Fernando Lima de Oliveira, a quem agradecemos também as fotos do nosso poeta, de ontem e de hoje; outro dos editores do portal é o nosso grã-tabanqueiro Armando da Silva Faria, ex-fur mil at imf, também da CCAÇ 4740).

É de sublinhar a importância que as saudades da família e das ilhas bem como a fé cristã tinham na capacidade de sofrimento e de resiliência da generalidade dos nossos camaradas açorianos, sobretudo nos momentos de maior provação e dor, numa terra, a Guiné, que lhes é completamente estranha e hostil.

Quando a manhã nasceu,
Cercámos o inimigo,
Foi a Fé que me valeu 
Porque Deus vinha comigo.

Querem homens para a guerra, 
A padecer fel e dores, 
Queremos sair desta terra, 
Queremos ir para os Açores.

Assim fui tendo Fé, 
Pedindo a Deus que me ajude 
Pr’a que ao sair da Guiné
Leve a vida e a saúde.


Na altura, deixámos expresso, a ambos, ao autor e ao António (, que é ele próprio um tradutor de poesia chinesa e poeta de grande talento, sensibilidade e cultura, com vários livros publicados), o nosso obrigado pela produção,  recolha, tratamento e divulgação destes versos  que merecem ser  melhor nconhecidos, divulgados e preservados.

Por outro lado, gostaríamos de ter notícias do Eduardo Manuel Simas, e convidá-lo a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande. Espero que esteja bem, de boa saúde, e que continue a viver em São Miguel. Descobrimos, com a ajuda do Carlos Cordeiro,que ele tem página no facebook. Vive em Lomba da Maia,  Ribeira Grande. (Já agira acrescente-se que o professor Carlso Cordeiro crou um página, aberta, no Facebook, "Antigos Combatentes Açorianos".

Estas quadras também já foram publicadas no portal da CCAÇ 4740 (na secção "Se bem me lembro"), sob o título "Assim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude". (Segundo o Armando Faria,  os versos foram  publicados na integra, com a devida autorização do seu autor, no livro "Leões de Cufar, A Historia da Companhia C.CAÇ.4740").

Nesta versão, fizemos  revisão de texto, não nos limitando à melhoria da pontuação.  Título e notas também são da nossa responsabilidade.  Nalguns versos, que não têm as regulamentares sete sílabas métricas (por ex., "passados dois meses" ou "dias bem, dias mal")  fazemos pequenas alterações [entre parênteses retos]... Espero que tanto o autor, Eduardo Manuel Simas, como o seu  "padrinho literário", o António Graça de Abreu,  não levem a mal: achamos que as quadras ficam mais fluentes e com melhor oralidade... (A versão original continua disponível no nosso blogue, no poste P2988 (*).

Feliz a CCAÇ 4740 que teve um poeta, talentoso, que deixou em verso um pouco da sua história por terras dos Açores e da Guiné. Muitas outras subunidades mobilizadas para o CTIG (, para não dizer mesmo a maioria), não tiveram ninguém que as cantasse em verso!... Honra, pois, ao nosso Eduardo Manuel Simas, cujo nome queremos juntar à lista de A a Z dos membros da nossa Tabanca Grande!.. Ele só precisa de nos dar o devido consentimento...

Sobre a CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74) temos já cerca de 4 dezenas de referências no nosso blogue. Esta subunidade também  tem um sítio na Net.


3. O Cancioneiro da Nossa Guerra (1) > 


Assim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude:
cancioneiro da açoriana CCAÇ 4740



por Eduardo Manuel Simas




É escrito com sangue e dor
Aquilo que vou falar,
E com o maior fervor
Agora vou começar.

Com licença, meus senhores,
Minha história eu vou contar,
Quando eu saí dos Açores
Para ir pr’ó Ultramar.

Quando à Terceira cheguei
E segui para o quartel,
Logo em mim recordei
A ilha de São Miguel.

Sentia uma coisa estranha,
Sem saber compreender,
Coisa esquisita e tamanha,
Difícil de entender.

O tempo se foi passando,
Dias bem [e] dias mal,
E fomos continuando,
Soldados de Portugal.

Passados [p'ra aí] dois meses,
Lá fomos jurar bandeira.
Sofremos, [pá,] mas às vezes
Parecia uma brincadeira.

Quando um dia na parada,
À noite, a silêncio tocou,
Veio a notícia [inesperada]
Que o comandante contou.

Com umas folhas na mão,
Más notícias veio dar
O nosso [bom] capitão:
- Vão [todos] para o Ultramar!.

[Passados] dez dias mais
[Lá] fui [eu] a São Miguel,
Despedir-me de meus pais,
Eu, Eduardo Manuel.

Ó meu Deus, eu vou partir
Sem saber se isto é justo,
Qual o dia em que hei-de vir,
Vou viver com tanto custo.

Quanto à nossa viagem
Melhor não podia ser,
Com espanto e [com] coragem
Vendo o que tinha que ver.

Corrido cerca de um mês,
Partimos para o mato,
Lá fomos [p'ró] Cantanhez
Onde não parava um rato.

Na LDG embarquei
E belezas eu não vi,
Aquilo em que eu pensei
Foi na terra onde nasci.

Os dias se vão passando,
Dão vontade de chorar,
As horas vou recordando,
Passo a vida a disfarçar.

Na primeira operação
Que [ao mato] fomos fazer,
Deu-me um baque [no] coração,
O que veio a acontecer.

Quando os homens voltaram,
Três grupos da operação,
Logo as minas rebentaram,
Meu Deus, [que] grande traição!

Passou palavra o primeiro,
Diz-me lá o que é que queres,
Vai chamar o enfermeiro
Pr’a vir tratar os alferes.

Ó meu Deus, o que seria,
Quem serão os desgraçados?
Foram para a enfermaria
Três alferes estilhaçados.

Lá ficaram mutilados,
Os infelizes sem sorte,
Turras serão apanhados
E todos irão à morte.

Que tristeza e amargura,
Tanta vez aconteceu,
Morrer uma criatura
Pelas mãos de um irmão seu.

Meus versos não levam cunho
Do que eu amo ou adoro,
Eles são o testemunho
Do que canto, do que choro.

Assim se passa esta vida,
Horas tristes a chorar,
Se a dor fosse esquecida
Eu poderia cantar.

Sofrer vinte e quatro meses,
Um soldado nada tem,
Agonias, tantas vezes,
Só Deus sabe, mais ninguém.

Eu sei que estes versos são
Uma coisa escrita ao [de] leve,
São pobres, sem perfeição,
Como a pena que os escreve.

Estive quase a dar um tiro,
Primeiro dia de Agosto,
Ó que noite de martírio,
Passei a noite no posto.

Meus olhos no firmamento,
Horas e horas, ou mais,
Vieram-me ao pensamento
Os meus [mui] queridos pais.

No dia 9 de Agosto
Fomos pró mato arreados,
Vamos voltar com o gosto
De não sermos apanhados.

À saída do quartel,
Eu pensei na minha cama
E, pensando em São Miguel,
Caí enterrado em lama.

Que será preciso mais,
Estamos aqui como uns parvos,
Tiram-se os filhos aos pais
E fazem deles escravos.

Quando a manhã nasceu,
Cercámos o inimigo,
Foi a Fé que me valeu
Porque Deus vinha comigo.

Lá por fora o dia inteiro,
Sem qualquer resultado,
Perdidos num cativeiro
Entre capim alteado.

Ao quartel, quando chegámos,
Sem forças e cheios de fome,
[Coitados,] quase não falámos,
Fogo dentro nos consome.

Querem homens para a guerra,
A padecer fel e dores,
Queremos sair desta terra,
Queremos ir para os Açores.

Dia 7 de Setembro,
Saímos ao anoitecer,
Eu não quero que me lembre
Tantos homens a sofrer.

Era tanta a nossa mágoa
E com tantos embaraços,
Apanhámos forte água
Que pareciam estilhaços.

A 23 de Dezembro,
Ó mãezinha, muito querida,
Eu nem quero que me lembre,
Parecia o fim da vida.

À noite, dois pelotões
Saíram todos armados
E com nove foguetões (**)
Lá fomos nós atacados.

O fogo [lá]  acabou
Sem nos causar [nenhum] mal,
Nossa Senhora salvou
Os soldados de Portugal.

Isto foi acontecido,
Queiram todos acreditar,
Quanto [nós temos] sofrido
Nesta vida militar.

Que vida tão rigorosa,
Que [a todos] nos faz pasmar,
Que vida tão perigosa,
Soldados do Ultramar.

Assim [eu]  fui tendo Fé,
Pedindo a Deus que me ajude
Pr’a que, ao sair da Guiné,
Leve a vida e a saúde.


Eduardo Manuel Simas
____________

Notas de L.G.

(*) Vd. poste d e26 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2988: Cancioneiro de Cufar (1): Um poeta açoriano da CCAÇ 4740, Eduardo Manuel Simas (António Graça de Abreu)

(**) Vd. também poste de  17 de outubro de  2008 > Guiné 63/74 - P3328: Memórias literárias da guerra colonial (7): O baptismo de fogo de A. Graça de Abreu, em Cufar, aos 17 meses (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P17810: Historiografia da presença portuguesa em África (94): Sentença arbitral do Presidente Ulysses Grant na questão de Bolama (Mário Beja Santos)

Ilha de Bolama
© Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
É sobejamente conhecida a disputa que ocorreu no século XIX entre a Grã-Bretanha e Portugal pela posse de Bolama. Para os britânicos, era uma peça importante, na linha costeira entre a Gâmbia e a Serra Leoa. Falhara a colonização que tivera à frente Philip Beaver, morreram às centenas.
A sentença arbitral é uma bela peça para os usos diplomáticos do tempo. E faz inequivocamente parte da história de Portugal e da Guiné-Bissau, o político português que coordenou a operação foi premiado com o título nobiliárquico de Duque de Ávila e Bolama, vai ser o mau da peça quando proibiu as Conferência Democráticas do Casino, que tanto prestígio trouxeram a Antero de Quental.
Mas é uma outra história.

Um abraço do
Mário


Monumento aos aviadores italianos, com a legenda “De Benito Mussolini à cidade de Bolama”, o mais importante monumento da chamada arquitetura fascista na Costa Ocidental de África


Sentença arbitral do Presidente Ulysses Grant na questão de Bolama

Ulysses Grant

Tendo sido atribuídas ao Presidente dos Estados Unidos as funções de árbitro em virtude do protocolo da conferência realizada em Lisboa, em 13 de Junho de 1868 entre os Ministros os Negócios Estrangeiros de S. Majestade Fidelíssima El-Rei de Portugal e o Enviado Extraordinário de S. Majestade o Rei da Grã-Bretanha no qual foi convencionado que as respetivas reivindicações dos dois Estados à Ilha de Bolama e outros pontos da África Ocidental fossem submetidas à arbitragem e decisão do Presidente dos Estados Unidos da América, que deveria resolver em última instância e sem apelação.

E tendo o árbitro, de acordo com o mesmo protocolo, nomeado uma entidade com o fim de estudar cuidadosamente cada uma das alegações apresentadas pelas duas partes; E considerando que a dita Ilha de Bolama e os ditos territórios vizinhos foram descobertos por um navegador português em 1446; que muito antes do ano 1792 estava feito um estabelecimento em Bissau, no Rio Geba e mantido até hoje debaixo da soberania portuguesa; que no ano de 1699, pouco mais ou menos, foi constituída uma colónia portuguesa em Guínala, no Rio Grande, que em 1778 era uma razoável povoação habitada somente por portugueses que ali tinham vivido de pais para filhos; que a linha da costa de Bissau para Guínala, passando pelo Rio Geba compreende toda a parte continental em frente da Ilha de Bolama; que a Ilha de Bolama é adjacente ao continente e tão próximo que os animais a atravessam nas marés baixas; que desde 1772 até hoje, Portugal reivindicou os seus direitos à mesma ilha; que a ilha antes de 1792 não estava habitada nem ocupada com a exceção de alguns acres na ponta Oeste, onde uma tribo indígena fazia algumas plantações; que os direitos de Inglaterra derivam de uma cessão feita em 1792 pelos chefes indígenas, numa época em que a soberania de Portugal estava já estabelecida na parte continental e na ilha; que o Governo Português não desistiu dos seus direitos, e hoje em dia ocupa a ilha com uma colónia de perto de 700 habitantes; que, tendo a Grã-Bretanha tentado confirmar os seus direitos depois de 1792 com novas concessões dos chefes indígenas, nenhuma delas foi reconhecida por Portugal; e considerando que não são precisos mais esclarecimentos em relação a qualquer dos pontos discutidos: 
Eu, Ulysses S. Grant, presidente dos Estados Unidos, julgo e decido que os direitos do Governo de S. Majestade Fidelíssima o Rei de Portugal à Ilha de Bolama na Costa Ocidental de África e a uma porção do continente em frente da Ilha, estão provados e estabelecidos.

Feito em triplicado na cidade de Washington, em 21 de Abril de 1870.

U. S. Grant
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17801: Historiografia da presença portuguesa em África (93): a questão dos missionários católicos na Guiné (Armando Tavares da Silva, historiador)

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17809: Tabanca Grande (447): António Delmar Pereira, ex-Soldado Escriturário da 4.ª Repartição/QG/CTIG, Bissau, 1966/68, 755.º tertuliano do nosso Blogue



1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo tertuliano, António Delmar Pereira, ex-Soldado Escriturário da 4.ª Repartição/QG/CTIG, Bissau, 1966/68, com data de 25 de Setembro de 2017:

Assunto: Inscrição na Tabanca Grande

Fui Combatente do "ar condicionado" na Guiné de Novembro de 1966 a Novembro de 1968. 

Para lá, fui no navio "Alfredo da Silva; para cá, vim no navio "Uíge". 

A minha Especialidade foi a de Escriturário e desempenhei funções, nos 24 meses, na 4.ª Repartição do Quartel General, na cidade, perto da "5.ª Repartição" (Café Bento), onde gastei parte do tempo, quando me "desenfiava". 

Fui com a «patente» de soldado, em "rendição individual", render alguém que provavelmente "lerpou", mas a companhia desse alguém estava para embarcar para a Metrópole e eu safei-me do "mato". 

Como teclava bem, lá me aguentei. 

Era conhecido pelo Delmar d'Âncora, por ser natural de Riba de Âncora e fazer uns desenhos à d'Vinci: diziam no gozo. 

Andei 2 anos na Escola Comercial Patrício Prazeres; 4 anos na Escola de Artes Decorativas António Arroio; 4 anos na Escola Industrial Machado de Castro. 

Desempenhei funções de desenhador industrial; diretor de obras; diretor comercial, entre outras. Estou reformado.




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2. Comentário do editor:

Caro Delmar,

Sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande, entra e instála-te para, caso queiras, começares a escrever as tuas memórias de guerra, mesmo que vividas no "ar condicionado" de Bissau, nos anos 66 a 68. Conta-nos como era a cidade no teu tempo, como se convivia, locais mais emblemáticos, divertimentos, etc. Não te esqueças de enviar fotos.

Um caso parecido com o teu, o do nosso camarada Ribeiro Agostinho, meu particular amigo, que também foi em rendição individual para a Guiné. Quando chegou a Bissau, a Unidade dele tinha regressado à Metrópole no dia anterior. Como tu, também ele ficou no QG, mas na CCS. Por pouco não vos tereis cruzado já que ele é de 68 a 70.

Sabemos que tens um Blogue, "Memórias de um combatente do ar condicionado", que já espreitámos. Se não importares, havemos de importar algumas publicações tuas para este, agora também teu, Blogue.

Também te encontrámos no facebook, até já sou teu amigo desde há minutos. É aqui: https://www.facebook.com/antoniopereira.pereira.522

Segundo escreves, és minhoto de uma das zonas mais bonitas do norte de Portugal, Vila Praia de Âncora, mas parece que "emigraste" para Lisboa, talvez à procura de melhores oportunidades de vida. Tiveste variadas actividades profissionais, estando agora a viver o merecido descanso, situação comum à quase esmagadora maioria de nós. Bem merecemos.

Estás apresentado formalmente à tertúlia, ocuparás o 755.º lugar.

Não posso esquecer de te enviar um abraço em nome da tertúlia e dos editores. Recebe um abraço pessoal do co-editor

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17766: Tabanca Grande (446): António Acílio Quelhas Antunes Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 (Bula) e da CCAÇ 17 (Binar), 1973/74, que passa a ocupar o lugar n.º 754 da tertúlia

Guiné 61/74 - P17808: Memória dos lugares (366): em 1947, Canchungo ainda não se chamava Teixeira Pinto, nem a vila de Gabu era Nova Lamego... Xime e Xitole escreviam-se com "ch" e o Quebo (futura Aldeia Formosa) nem aparecia no mapa....


Viagem ministerial e Obras do V Centenário do Descobrimento da Guiné.
Composição e desenho de A. T. Mota [1947]

Excertos da carta da Guiné,  elaborada por 2º tenente Teixeira da Mota, com o itinerário percorrido (linha a cheio com setas) pelo subsecretário de Estado das Colónias, em fevereiro de 1947, com indicação das obras construídas no âmbito do V Centenário do Descobrimento da Guiné (*)

Fonte: Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, vol II - Número Especial, [Comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné], 1947, 454-455 pp. [O nº completo está disponível "on line" aqui]

Infogravura: Adapt. pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)

1. Como se pode ver, em 1947, Canchungo ainda não se chamava Teixeira Pinto, nem a vila de Gabu era Nova Lamego... Ambas já eram sede de circunscrição administrativa

Xime e Xitole escreviam-se com "ch" e o Quebo (futura Aldeia Formosa) nem aparecia no mapa.... Tudo indica que o aportuguesamento de alguns destes topónimos seja posterior, embora provavelmente ainda sejam no tempo do governador-geral  Sarmento Rodrigues, futuro ministro das colónias (e,depois, do Ultramar).

O jornalista Norberto Lopes, do "Diário de Lisboa", fez este mesmo percurso nesta data, e esteve em Canchungo e em Gabu. Vindo de Bolama, São João, Fulacunda e Buba, a caminho de Bambadinca e Bafatá. passou pelo Chitole... (e, antes de cambar o rio Corubal, passou pela tabanca Portugal, na margem esquerda). (**)

Guiné 61/74 - P17807: Notas de leitura (999): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (2) (Mário Beja Santos)

Banco Nacional Ultramarino de Bissau

Segunda recensão dos relatórios que o Banco Nacional Ultramarino (BNU), da então Guiné Portuguesa, enviava periodicamente para Lisboa, e que Mário Beja Santos descobriu por acaso nos arquivos da Caixa Geral de Depósitos, onde, além dos relatórios de contas, se fazia menção às ocorrências de ordem social e política naquele território ultramarino.

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
Embora se lastime não estarem disponíveis quaisquer dados do BNU em Bolama entre 1903 e 1916, a partir dessa data surge documentação estuante, apreciações que raiam o assombroso de um gerente de uma vila guineense para a sede do Banco do Império.
Recorde-se que por essa época, mais propriamente em 14 de Junho de 1917, vai abrir a agência do BNU em Bissau, o BNU já tem um vasto conjunto de agências: Lourenço Marques, Inhambane, Quelimane, Moçambique, Bolama, S. Vicente e S. Tiago, S. Tomé, Luanda, Moçâmedes, Nova Goa e Macau, irá ainda conhecer a expansão. Abre em Bissau com mobiliário emprestado, a abertura da agência foi recebida com o melhor acolhimento e até júbilo pelos comerciantes. Por esta época também, vai começar a renhida competição entre quem é mais importante - Bolama ou Bissau.
Os cronistas do BNU da Guiné não se cansarão de tomar partido, de dizer abertamente o que pensam.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (2)

Beja Santos

Mal começa a leitura da parte anexa ao relatório do ano de 1917 da agência de Bolama (onde cabem referências a 1916), apercebemos-nos rapidamente que aquele funcionário tem plena liberdade para dizer verdades como punhos, tecer opiniões sobre a realidade colonial, seguramente que estava autorizado para usar de tal franqueza, do mesmo modo como fala da competência dos funcionários da agência.

Oiçamo-lo a falar da colónia em plena I Guerra Mundial:
“Nenhuma das nossas colónias está atrasada como a Guiné. Província naturalmente rica, de uma grande fertilidade cortada por rios e canais que bem poderiam ser aproveitados, quando cuidados, facilitando as comunicações e transportes, com uma população numerosa cuja cifra exata ou mesmo aproximada ainda hoje se desconhece, a uma distância curta da metrópole, tão descurada tem sido e continua a ser que penaliza não haver progredir quando o seu progresso seria relativamente fácil de se acentuar se um programa de fomento se pusesse em prática, por singelo que fosse. Na situação em que se encontra e avaliando o seu movimento comercial pelos dados estatísticos, pode dizer-se sem receio de desmentido que este movimento é insignificante comparado com o que poderia ser se as circunstâncias em que a província estará fossem bem aproveitadas”.

Refere a falta de transportes marítimos para a exportação, a melhoria de movimento comercial em 1916, as exportações de coconote e mancarra, a primeira aumentara, a segunda diminuíra. Houvera em arroz, borracha, couros e cera, ligeiros aumentos nas quantidades exportadas. Havia carestia de artigos importados. Entende o gerente que a província está no seu início de vida e que se impõe fazer alguma coisa de útil. Tece o seu diagnóstico:
“A agricultura limita-se às sementeiras de mancarra e arroz feitas pelos indígenas por processos muito rudimentares. Indústrias não há. Vias de comunicação existem, mas como os rios e canais se não limpam nem cuidam de qualquer forma; as comunicações dentro da província são muito demoradas e um telegrama nunca é transmitido sem ser mutilado ou adulterado; estamos à mercê apenas do cabo submarino inglês que de vez em quando se interrompe e assim permanece durante meses, como tem acontecido nos últimos anos. A alfândega tinha os seus serviços mal organizados; veio recentemente para aqui um funcionário das alfândegas de Angola, comissionado para a pôr em ordem, mas até agora apenas tem criado dificuldades e disposto os serviços de forma a cobrar mais emolumentos que anteriormente. O município de Bolama não cura das comodidades dos munícipes. Tudo aqui falta; não há condições higiénicas, tudo está desprezado, tudo é indolência. Bolama tem excelentes condições naturais para ser uma cidade salubre mas não passa de uma aldeia que apresente como principal característica o desleixo e a incúria. Os serviços públicos estão mal feitos; o pessoal é, em regra, péssimo e em grande parte desonesto. A sanidade não preocupa às autoridades médicas. A preocupação principal aqui é a política de raças e a pessoal dos governadores ou outras entidades que formam coteries (associações de interesse comum) por meio de intriga, favores à custa do Estado, etc.
No arquipélago de Bijagós, em algumas ilhas, principalmente em Canhambaque, o indígena está em rebelião armada; parece que há interesse em prolongar este estado de coisas e embora haja constantes perdas de vidas do lado das forças fiéis nada se tem feito de importante para pôr termo a tal rebelião.
Sabemos que o governo não dispõe de munições e os rebeldes também não o ignoram; não será para admirar que a rebelião alastre porque uma grande parte da população gentílica está numa submissão aparente.
As principais funções administrativas, judiciais, militares e técnicas estão na maioria sendo desempenhada por interinos.
A justiça não inspira confiança”.

Esta a linguagem crua do relatório enviado para Lisboa. O gerente não se coíbe de se pronunciar sobre o governador num ofício reservado que envia para a gerência do BNU em Lisboa em 9 de Julho de 1916, onde reza o seguinte:
“Conforme o nosso telegrama de 4 decorrente, o governador (José Andrade Sequeira) pediu a demissão. Embarca neste vapor. Parece que o motivo foi ter dispensado o Capitão Teixeira Pinto de tirocínio para major em recompensa dos serviços prestados à Guiné e elogiado os oficiais que entraram na campanha de Bissau, acrescido de diversas portarias que o governo da metrópole lhe mandava publicar, que embora justas, eram vexatórias para Sua Excelência. Assim que foi conhecido o pedido do governador, lia-se em todos uma satisfação como se fossem libertos de um grande pesadelo.
A maior desgraça da Guiné seria o regresso deste governador que enquanto aqui esteve só fez perseguições, injustiças e protegeu amigos, absolutamente nada tendo feito de útil para a Província. Dormia quando toda a gente estava acordada, levantava-se às 13h para almoçar, deitando-se em seguida novamente para se levantar pelas 6h a fim de jantar e depois jogava ele e a trupe até altas horas (2, 3, 4 e mais da manhã).
Os amigos que lhe são sinceros dizem que não é ele o culpado mas sim os que o rodeavam. Ultimamente parecia que estava doido e com o seu ajudante portou-se como tal”.

O BNU de Bolama reconvertido em Hotel de Turismo

Mas há ainda outros acontecimentos em 1916 que merecem comentários políticos por parte do gerente de Bolama, talvez o pano de fundo que antecede as informações que se reportam atrás. O assunto do ofício é um comício público e refere uma reunião em defesa do governador e de aplauso à sua obra administrativa, a data é de 21 de Fevereiro portanto anterior ao seu pedido de missão, comício promovido por alguns chefes de repartição. Escreve que o comício foi concorrido na sua maioria por gentio e alguns dos oradores falaram em crioulo atacando a guerra de Bissau. E não se coíbe de comentar: “A política aqui com o atual governador está numa crise aguda fervilhando a intriga e a calúnia de tal forma que não é fácil prever onde poderá chegar este estado de coisas”. E faz a previsão do que irá acontecer em 1917, a guerra nos Bijagós, a soberania portuguesa era alvo de desrespeito. Informa igualmente Lisboa que na região de Cacheu o gentio se recusa a pagar o imposto de palhota.

Veremos seguidamente o relato que o gerente faz da guerra nos Bijagós em 1917 e o seu relatório referente a 1917 e 1918, mais uma vez de uma franqueza que não é difícil de classificar como inusitada de gerente de uma pequena colónia para a gerência do Banco do Império.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior da subsérie BNU de 22 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17786: Notas de leitura (997): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 25 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17796: Notas de leitura (998): “A França contra África”, por Mongo Beti; Editorial Caminho, 2000 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17806: Parabéns a você (1319): António Bastos, ex-1.º Cabo At Inf do Pel Caç Ind 953 (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17797: Parabéns a você (1318): Amílcar Mendes, ex-1.º Cabo Comando da 38.ª CComandos (Guiné, 1972/74) e António Medina, ex-Fur Mil Art da CART 527 (Guiné, 1963/65)

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17805: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (21): O meu pelotão em Cufar (I)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 >  Malta do 3.º pelotão...(1)  


Foto nº 1A  > Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 >  Malta do 3.º pelotão,,,. (2)... À esquerds, o Santos...



Foto nº 1 B >Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 >  Malta do 3.º pelotão...  (3)


Foto nº 2A > Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > Os 1ºs cabos do meu pelotão, 3.º pelotão... Eu, ao centro.


Foto nº 3>  Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > 3.º pelotão... Com o Santos e a equipa de morteiro (1)...



Foto nº 3 A>  Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > 3.º pelotão...(2)... O Santos ao centro.


Foto nº 3B >  Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > 3.º pelotão...(3)



Fotógrafo de serviço...
Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mais fotos do   álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1.º semestre 1973) e comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74).

São fotos do pessoal do 3º pelotão, que ele comandava... Podemos perguntar o que é feito destes homens, destes camaradas, alguns  muito provavelmente terão emigrado para as Américas, logo depois do regresso da Guiné, seguindo rotas antigas da diáspora açoriana.

2. Sobre o soldado Santos (fotos nº 1 e 3), diz o autor:

"O Santos era uma figura emblemática do 3º pelotão e até da companhia. Era um tipo com uma força física acima da média e muito respeitado por essa razão. Lembro uma ocasião em que estava a companhia a divertir se a fazer luvas com um equipamento de boxe trazido para Cufar pelo capitão
[mil inf, João Gaspar Dias Da Silva] para o Valente dos Santos e ninguém queria fazer luvas com ele. Fui eu a vítima escolhida por ele  e não pude recusar. Está à minha direita e, apesar da reputação, era um homem leal e bem formado. A equipa de morteiro eram os restantes e eram a equipe de morteiro 60 que fazia parte da organização de um pelotão de caçadores, o mais baixo era o cabo,  os outros dois eram soldados, mas infelizmente não recordo os nomes."

Segundo o Luís Mourato Oliveira, o nome e o apelido deviam ser Antóniio dos Santos....  De acordo com a preciosa informação que nos é dado pelo portal da CCAÇ 4740, criado e mantido pelo ex-fur mil Serv Mat Mec Auto, Mário Fernando Lima de Oliveira,  há  um António Manuel Martins dos Santos, soldado atirador de infantaria, do 3º pelotão, com paradeiro desconhecido, depois de ter emigrado para os EUA.

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Vd. mais postes anteriores, relativos à CCAÇ  4740 e a Cufar:

4 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17650: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (19): Amigos e camaradas de Cufar - Parte II: O Rivoli, soldado do Pel Canhão s/r 3079, antigo jogador de hóquei em patins do Campolide

21 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17500: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (18): Amigos e camaradas de Cufar - Parte I

23 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17388: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (17): Uma farra "açoriana" em Cufar.. ou o "universo concentracionário" em que viviam as NT

27 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17291: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (16): o Pel Caç Nat 67,em Cufar, 1973

21 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17267: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (15): Tabancas de Cufar e Matofarroba

Guiné 61/74 - P17804: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (4): 3.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Có, Pelundo, Canchungo, Bachile e Cacheu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (4)

3.º DIA: DIA 01 DE ABRIL 2017 - BISSAU, SAFIM, BULA, CÓ, PELUNDO, CANCHUNGO (EX-TEIXEIRA PINTO), BACHILE E CACHEU

Depois de uma noite bem dormida e tomado um bom pequeno-almoço, eis-nos a sair, manhã cedo, do aparthotel Machado e a dirigirmo-nos aos 4 jeeps, para passarmos o nosso primeiro dia fora de Bissau, tendo a opção feita sido a do percurso acima indicado e com regresso pelo mesmo itinerário, no final do dia, com a excepção do pessoal de um dos jeeps que preferiu irem para a zona de Bissorã.

Passada a localidade de Safim, encaminhámo-nos para a povoação de João Landim, lado sul da nova ponte, denominada Amílcar Cabral, que atravessa o Rio Mansoa, em direcção ao norte do País, para o que tivemos que pagar por jeep uma portagem de 500 francos guinéus, a que correspondem, mais ou menos 75 cêntimos.

Antes de entrarmos em Bula, virámos para poente em direcção à cidade de Canchungo, não sem que antes passássemos pelas povoações de Có e Pelundo, locais onde, no tempo em que lá estivemos, havia um destacamento de tropas portuguesas em cada uma delas, mas onde decidimos parar somente no regresso.
A cidade de Canchungo, recebeu-nos em dia de feira local, que se estendia desde o seu largo a quase toda a avenida principal que, desse largo se dirige para sul até às instalações do antigo nosso quartel, parte do qual se encontra actualmente ocupado por tropas do exército da Guiné e onde logo fizemos uma pequena passeata a pé, para conhecer e apreciar o constante movimento de pessoas, procurando vender e comprar os produtos expostos, que iam desde as roupas, até aos produtos alimentares, onde sobressaía o arroz.
Cidade pequena, com o piso das ruas e do largo a ser quase todo em terra batida, apesar de num ou noutro ponto se avistarem pequenos indícios de já ter passado por ali algum asfalto, o passeio deu-nos ainda tempo para marcarmos o almoço num restaurante local, que alguns colegas já conheciam de outras idas anteriores.

Concluído esse pequeno passeio, decidimos avançar para norte em direcção à cidade do Cacheu, situada na margem sul do rio com o mesmo nome, passando pela povoação do Bachile, localidade que também decidimos visitar só no regresso.
A maioria dos edifícios da cidade do Cacheu, onde alguns dos colegas, que connosco viajavam, tinham cumprido parte da sua vida militar na Guiné, encontram-se bastante degradados e alguns até em ruínas, principalmente os que as nossas tropas tinham ocupado, realidade que todos nós pudemos confirmar e ver repetida na maioria das povoações onde há 44 e mais anos, também existiram aglomerados populacionais com outra dimensão e outro estilo de vida.
O edifício da antiga messe de oficiais, ainda se apresenta minimamente apresentável, bem como a fortaleza construída junto ao Rio Cacheu e em frente à qual está a ser concluído um edifício de 4 andares que, ao que lá nos informaram se destinará a um hotel!!
Outro edifício, recentemente construído e que visitamos, é o Museu da Escravatura e do Tráfico Negreiro, local onde estão expostas peças e objectos relativos a esse tráfico de escravos nos séculos XVIII e XIX e que dali eram enviados, principalmente, para a América do Sul, mas também para a América do Norte e a Europa.

Bebida uma cervejita num pequeno e modesto bar, situado junto ao cais e no qual se encontra abandonada uma Lancha de Desembarque Média (LDM) da Marinha Portuguesa, que foi utilizada pelas nossas tropas para os movimentos de transferência de militares entre os diversos locais que nós defendíamos nas margens do Rio Cacheu, concluímos a visita a esta pequena cidade do norte da Guiné.

Saídos do Cacheu, dirigimo-nos novamente para Canchungo, parando alguns minutos na pequena povoação do Bachile, onde no meu tempo se encontrava instalada a Companhia de Caçadores 16 (CCAÇ 16), comandada por um meu colega, Capitão Miliciano (do qual não me recordo o nome), com quem convivi, durante alguns dias em Bissau por alturas do dia 25 de Abril de 1974 e dias seguintes, Companhia esta que era composta por 24 militares brancos, a maioria graduados e por cerca de 140 soldados guineenses.

Arrancámos para o Canchungo, onde chegámos cerca das 13,00 horas, cumprindo a hora que na ida tínhamos combinado para o almoço.
Para que conste, o nosso almoço constou de anho assado, mas eu e outro colega optamos por frango à cafrial, que mais não era que meio e pequeno frango assado, acompanhado por batatas fritas.
Uma curta paragem e visita ao Pelundo e a Có, completaram o nosso circuito, que terminaria no final do dia no Aparthotel Machado em Bissau.

Foto 23 - Safim (Guiné-Bissau): Foto desta vila tirada em 1973 e de costas para Bissau, com a capela de Safim, quase tapada pela placa com a indicação da estrada que segue em direcção a Bula (para a esquerda), indo a rua da direita, rumo às povoações do leste e sul da Guiné. Passados 44 anos, esta configuração rodoviária, ainda se mantém
Foto: Com a devida vénia ao camarada António Rogério Rodrigues Moura

Foto 24 - Safim (Guiné-Bissau): Mercado de rua, junto à estrada que, de Bissau, que aqui diverge para o norte (Bula, Binar, Bissorã, S. Domingos, Susana e vizinho Senegal), para nascente (Mansoa, Bafatá, Gabu, Mansabá, Farim e vizinho Guiné-Conaky) e para sul (Buba, Quebo (ex-Aldeia Formosa), Catió, Cufar,…)

Foto 25 - Bachile (Guiné-Bissau): Um dos nossos jeeps, com pessoal a bordo, atravessando a ponte metálica “Alferes Nunes”

Foto 26 - Bachile (Guiné-Bissau): Antigo quartel desta localidade, actualmente reconstruído e adaptado a salas escolares

Foto 27 - Canchungo (ex-Teixeira Pinto): Grupo de colegas almoçando num restaurante local e constituído, em rotação, da esquerda para a direita: Isidro, Samouco, Leite Rodrigues, Ferreira, Rebola, Vitorino, Barbosa, Cancela e os braços do Rodrigo. O lugar vazio, à esquerda, é o meu e o prato é o tal “Frango à Cafrial”. O outro é o do fotógrafo Monteiro.

Foto 28 - Canchungo (ex-Teixeira Pinto) (Guiné-Bissau): O Leite Rodrigues e eu, com 3 dos quatro motoristas dos nossos jeeps: O Didji, o Armando e o Jorge, antes do almoço no mesmo restaurante

Foto 29 - Canchungo (ex-Teixeira Pinto): Casas da avenida que liga a Praça Principal ao antigo Quartel. Repare-se no mau estado do pavimento do arruamento, em terra, e na degradação de algumas casas
Foto: Com a devida vénia a Panoramio

Foto 30 - Canchungo (ex-Teixeira Pinto): Foto de uma das muitas carrinhas de transporte público de pessoas e de mercadorias

Foto 31 - Cacheu (Guiné-Bissau): Fortaleza da cidade onde se encontram “armazenados”, nos quatro cantos, alguns dos antigos descobridores portugueses
Foto: Com a devida vénia a Triplov.com

Foto 32 -Cacheu (Guiné- Bissau): Foto aérea da Fortaleza e da marginal da cidade junto ao Rio Cacheu
Foto: Com a devida vénia a Guiné-Bissau TV

Foto 33

Foto 33A  - Cacheu (Guiné-Bissau): Os colegas de jornada: Barbosa, Vitorino, Rodrigo, Azevedo, Isidro e Monteiro, em frente às instalações da antiga Messe de Oficiais do Batalhão do Cacheu

Foto 34 - Cacheu (Guiné-Bissau): O Rodrigo, o Angelino e o Barbosa, num pequeno e único bar local

Foto 35 - Pelundo (Guiné-Bissau): Torre de defesa do quartel, à entrada da localidade

Foto 36 - Có (Guiné-Bissau): À sombra da mangueira, nesta pequena aldeia entre o Pelundo e Bula

Fotos: A. Acílio Azevedo

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17802: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (3): 2.º Dia, a cidade de Bissau - continuação (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17803: Memória dos lugares (365): Canchungo, depois Teixeira Pinto, de novo Canchungo... Quando, porquê e por ordem de quem? (A. Marques Lopes, cor DFA, ref, ex-alf mil, CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro, 1967/68)


Fonte: António Carreira (1947), com a devida vénia

1.  Reprodução parcial do poste de 7 de setembro de 2005 > 

Guiné 63/74 - P160: Teixeira Pinto ou Canchungo ? (Afonso Sousa / Marques Lopes)

Mensagem de A. Marques Lopes:

[A. Marques Lopes, coronel DFA, na reforma, ex-alf mil, CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro (1967/68), um dos 10 primeiros membros da nossa Tabanca Grande]

É tendência nossa, quando nos referimos a Teixeira Pinto, dizer "agora Canchungo". Descobri, recentemente, que estaria mais certo dizermos "novamente Canchungo".

É que o nome daquela terra da Guiné chamou-se Canchungo desde os tempos mais remotos. Assim é referida em alguns livros em meu poder quando narram as campanhas do capitão João Teixeira Pinto de 1912 a 1915. Nomeadamente em "A Guiné Através da História", da autoria do Coronel Leite de Magalhães, publicado pela Editorial Cosmos com o n.º 34 da sua colecção Cadernos Coloniais (sem indicação de data de publicação), e em "História da Guiné - Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936", de René Pélissier, publicado pela Editorial Estampa em 1997 (dois volumes).

A imagem que vos envio é retirada de um mapa inserto no livro "Vida Social dos Manjacos", de António Carreira, editado pelo Centro de Estudos da Guiné Portuguesa em 1947. António Carreira foi, nessa altura, administrador da circunscrição de Cacheu, à qual pertencia a povoação de Canchungo.

Mais tarde, ainda não descobri quando, é que foi dado a Canchungo o nome do "pacificador" Teixeira Pinto (que acabou por morrer no combate de Negonamo, em Moçambique, quando continuava a "pacificar").

Os guineenses, natural e logicamente, baniram o nome de Teixeira Pinto e repuseram o nome original da povoação.

A. Marques Lopes



Guiné > Região do Cacheu > Mapa de Teixeira Pinto (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Teixeira Pinto, vila, sede de circunscrição administrativa, e Canchungo, povoação indígena (com mais de 50 casas).

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)



2. Comentário do editor:

Em 19947, quando lá esteve o jornalista do "Diário de Lisboa", Norberto Lopes, o nome da povoação era Canchungo... E o administrador da circunscrição era o António Carreira, cuja ação o jornalista, de resto,  muito elogia por estar em consonância com a política do governador geral, o comandante Sarmento Rodrigues  (*). 

Julgo que a terra, capital dos manjacos, passou a chamar-se "Teixeira Pinto", ainda no tempo do governador-geral Sarmento Rodrigues, talvez em 1948... Mas a povoação indígena, Canchungo, continou a existir...

Alguns topónimos guineenses foram "aportuguesados" nessa época: Aldeia Formosa (Gebo), Nova Lamego (Gabu Sará), etc... Mas poucos, se compararmos este território com outros que foram "colónias de povoamento" (Angola e Moçambique),.

O nosso amigo Armando Tavares da Silva prometeu-me mandar, no próximo fim de semana, cópia de uma relação de 1948 com os nomes aportuguesados das diversas povoações das Guiné. Ele vai ver se fala lá da tabanca Portugal. Essa relação pode esclarecer a mudança de designação de Canchungo para Teixeira Pinto. (**)

Note-se que na carta de Teixeira Pinto (1953) (Escala 1/25 mil), coexistem os dois topónimos: Teixeira Pinto, sede de circunscrição administrativa, uma vila "europeia", e  Canchungo, a "povoação indígena" (com mais de 50 casas)...
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Notas do editor:

(*) Vd. Norberto Lopes: "Narrativas da Guiné ((6): Uma vila que nasce e uma vila que morre: o futuro brilhante de Canchungo e opassado glorioso de Cacheu. "Diário de Lisboa", nº 8702, ano 26, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1947, pp. 1 e 9. [ Consult em 27/9/2017}. Disponível em http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=05780.044.11053

(**) Último poste da série > 25 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17795: Memória dos lugares (364): Quem se lembra (ou ouviu falar) da tabanca de Portugal, a seguir aos rápidos de Cusselinta e à Ponte Carmona (em ruínas) (carta do Xitole, 1955)? Seria distinta de "Gã Portugal" que terá existido, também na margem esquerda do Rio Corubal, mas na península de Gampará... (Luís Graça / Cherno Baldé / Alcídio Marinho / Luís Branquinho Crespo / Luís Marcelino / Mário Pinto / António Murta)