segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18101: Manuscrito(s) (Luís Graça) (133): O Natal das crianças que já fomos (e somos)…








Lisboa > Praça do Comércio > Iluminações de Natal > 2 de dezembro de 2017




Lisboa > Fonte Luminosa da Alameda   Dom Afonso Henriques > 17 de dezembro de 2017 > "Lisbonland; onde o Natal acontece"...Espetáculo de Natal de videomapping 4 D,

  [ Promovido pela Associação de Turismo de Lisboa e Câmara Municipal de Lisboa, criado e produzido pelo ateliê OCUBO, LISBONLAND é uma projeção de Natal 4D com jatos de fogo em sincronia com diversas imagens projetadas, que pretende contar a todos uma divertida e inesperada história de Natal. Este espectáculo conta ainda com a participação, virtual,  da fadista Cuca Roseta.  Espetáculo para todas as idades, e em especial avós e netos... ]


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




O Natal das crianças que já fomos (e somos)…

Em todos os Natais nasce a esp’rança
De que p’ro ano o mundo seja melhor,
E de qu' haverá um novo portador

Da mágica mensagem de mudança.

E a gente senta-se à mesa na crença
De qu' já nasceu o novo salvador,
Com ele a cura p’ra toda a doença,
Tudo rimando com paz e amor.

Qu’ importa se a gente não lê História,
E, se a lê, p’lo Natal faz a limpeza
Desta nossa selectiva memória.

Deixemos, pois, à solta, essas crianças,
Que já fomos, e co’ elas a luz acesa
Das nossas melhores e doces lembranças!


Alfragide, 18 de dezembro de 2017,
Luís Graça e Maria Alice Carneiro



PS - Um feliz e santo Natal 
para todos os nossos amigos e camaradas
e que o ano de 2018 seja um bom ano,
se não puder ser o melhor,
para cada um e para todos vós!
__________________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18100: Notas de leitura (1024): Tera Sabi, receitas da gastronomia tradicional guineense, 2.ª Edição (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,

Não é a primeira vez que aqui se fala de Tera Sabi. Sucede que a 2.ª edição, datada de 2013 e que se encontra com facilidade nas lojas do comércio justo, tem mais 28 novas receitas de pratos e doces típicos e inclui sumos. Não conheço mais sugestivo repertório da gastronomia tradicional guineense. Temos aqui a grande angular dos pitéus cujos ingredientes são limão-lima, a malagueta, o óleo de palma, o peixe e os frutos do mar, a galinha, a cabra, o porco, o carneiro; mas também os milhos, a mandioca, o inhame, a batata-doce, ramas e folhas de plantas silvestres. 

Não são esquecidos os sumos de mandiple, ondjo com folhas de hortelã, fole, cabaceira, veludo, farroba, tambarina e limão. O que espanta é como este valiosíssimo património, e seguramente uma vasta clientela interessada pelos valores desta gastronomia, não acordam empreendedorismo numa restauração que, parece-me, está fadada ao sucesso.

Há restaurantes de comida angolana e cabo-verdiana, não há um só restaurante para estes maravilhosos pitéus guineenses. Não é de espantar?

Um abraço do
Mário


Tera Sabi, receitas da gastronomia tradicional guineense, 2.ª Edição (2013)

Beja Santos

Preparado e editado no quadro do projeto “Kil ki di nos ten balur”, é o resultado de uma parceria entre a Tiniguena e o CIDAC, cofinanciado pela União Europeia e pelo IPAD. Esta edição de 2013, que se encontra facilmente nas lojas do comércio justo, apresenta-se com mais de 28 novas receitas. Foi redigido com base nas receitas recolhidas por ocasião dos eventos gastronómicos realizados no Bairro Belém e durante as pesquisas de gastronomia tradicional Crioula, Manjaca, Fula, Balanta e Bijagó, promovidas pelo Centro de Recursos do Espaço da Terra, entre 2005 e 2011.

O texto introdutório de Tony Tcheka, reputado jornalista e admirável poeta, é de uma grande beleza, indutor de aventuras para conhecer alguns dos grandes prodígios da gastronomia guineense:

“Estávamos a começar mais um ano e como é normal em qualquer parte do mundo animados de uma justa e certa esperança. Em boa verdade nestas bandas a esperança é finalmente ver a nossa Guiné irromper das amarras de malfitu di nega bay dianti (praga de recusar sistematicamente o progresso). E ser terra sabi (terra boa, saborosa). E ser terra de paz – a grande firkidja (alicerce) do desenvolvimento.

Sim, um ano novo estava a começar – 2012. Já tínhamos dobrado Janeiro com a sua moleza, mas sobretudo marcado pelo prematuro desaparecimento do chefe de Estado. Era já Fevereiro, tinha acabado de regressar à terra depois de mais um ano de ausência. Desenhava-se o quadro de eleições antecipadas, um teste à democracia. Mas o país teimava em acreditar, participando, criando.
Era ainda Fevereiro. Tinha-me chegado às mãos o anúncio da ONG Tiniguena (esta terra é nossa!) de passar o testemunho ou seja passar o legado da geração fundadora à geração nova. Nesse mesmo mês de Fevereiro um cooperante amigo brindou-me com uma publicação editada pela Tiniguena, “Guiné-Bissau-Terra Sabi”, um livro de receitas, um total de 35 receitas recolhidas junto de um corpo de cozinheiras de mão cheias, mestres no manuseio do di buli (colher de pau). São 50 páginas que falam da diversidade do mosaico cultural e etnográfico que compõe a Guiné-Bissau”.

Tony Tcheka disserta sobre o que se passa no cabaz de kacry (quando se põe o kacry – um crustáceo – numa cabaça, os que estão em baixo tendem a puxar os que estão em cima para que não possam trepar, e daí a utilização da expressão popularizada de “kacry no cabaz” para referir uma sociedade que não deixa construir um futuro melhor). Saúda esta nova edição, exulta com as novidades da gastronomia Bijagó e Balanta que tem pratos típicos com muito a ver com rituais religiosos.

No povo Bijagó sobressai o primado do arroz, óleo de palma, produtos do mar (moluscos, mariscos, peixe) destaque para o ligron (lingueirão). E há também a mancarra e o feijão Bijagó, que ajudam a preparar pratos deliciosos. A gastronomia Balanta destaca-se pelo arroz, milho, peixe, marisco, folhas e raízes. São concelebradas as iguarias à base de carne de porco e de vaca.

E Tony Tcheka acrescenta mais um elemento: 

“As etnias Bijagó e Balanta também se cruzam e destacam em outras artes. São exímios escultores. Os primeiros dão forma à madeira em peças etnográficas mágico-religiosas e os segundos trabalham-nas para fins utilitários e decorativos”.

O dietista Fanceni Henriques Baldé acrescenta algumas palavras ao valor alimentar:

“A culinária crioula, a primeira apresentada, por ter uma vocação mais nacional, é fruto da mestiçagem dos paladares das etnias que povoam tradicionalmente a Guiné-Bissau e de outros povos que aqui foram marcando a sua presença, em particular os portugueses e os cabo-verdianos. Os crioulos estão presentes sobretudo nas cidades e nas zonas que sofreram maior influência da colonização portuguesa, em particular Bissau, Bolama, Cacheu, Farim e Geba.

A gastronomia Manjaca é das mais apreciadas, sendo os Manjacos reputados como grandes cozinheiros. Habitando predominantemente na zona costeira, na região de Cacheu, utilizam muito os frutos do mar na confeção dos seus pratos, onde o óleo de palma é omnipresente.

Em contraste, os Fulas, mais presentes no interior do país, onde os recursos tendem a escassear, fazem uso de diversos cereais e de uma grande variedade de plantas que cultivam nos quintais ou extraem do mato, tornando a sua alimentação mais rica e equilibrada em termos nutricionais.
A gastronomia Balanta é, por sua vez, um espelho do pragmatismo e do modo de ser deste grupo étnico maioritário nas regiões de Tombali e de Oio. Os pratos tradicionais da etnia Balanta distinguem-se pela sua simplicidade e predomínio de alimentos energéticos caraterísticos do vigor deste povo e da sua forte ligação ao campo.

Por seu turno, a cozinha tradicional Bijagó está envolta em rituais e simbologias religiosas, que determinam e explicam não só os ingredientes usados como também os modos de confeção, os temperos e até os utensílios usados para servir cada prato. Devido à sua proximidade com o mar e o com o mato, o povo Bijagó, etnia que povoa tradicionalmente o arquipélago dos Bijagós, é conhecido pelo uso dos produtos do mar e silvestres, em particular o óleo de palma”.

O leitor prepare-se para ser confrontado com o sabor ácido do limão-lima, a malagueta, o arroz, o óleo de palma, os milhos, a mandioca, o inhame, a batata-doce, mas também os legumes como o baguitche, a candja, o djagatu.

Tenho para mim que as melhores canjas do mundo dão pelo nome de canja de cacry e a canja de ostra conhecida por pitchipatche. Qualquer dia ponho anúncio no jornal:

“Procuro cozinheira guineense que me prepare um panelão de pitchipatche. Favor só responder se souber onde devo comprar gandim, cuntchurbedja e escalada. Mas se souber preparar porportada de ostras terá preferência”.

Livro especialmente destinado a quem gosta de caldo de chabéu com manga verde, unto de peixe com folha de mandioca, e muitas dezenas de outras receitas. Não conheço melhor livro para testemunhar os sabores associados à gastronomia tradicional guineense.

Que maravilha, esta 2.ª Edição de Tera Sabi!
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18090: Notas de leitura (1023): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (13) (Mário Beja Santos)

domingo, 17 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18099: Blogues da nossa blogosfera (84): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (5): "Lágrima de Sol" e "Dentro do Meu Caderno"


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos estas duas publicações da sua autoria.

LÁGRIMA DE SOL

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ

O sol vem sempre, vermelho e quente.

O sol não mente, queimando a sede e roendo a fome de tanta gente inocente e sem nome.

Também o sol vem sempre, pálido e frio.

O sol não mente, congelando a sede e empedrando a fome, ainda que a gente o não veja e pareça ausente.

E também o deserto, o deserto não mente, o deserto sempre aberto na alma desta gente, ainda que pareça certo o caminho em frente.

Vem sempre a dor na secura das carnes, a dor não mente, ainda que ao mundo pouco importe a dor que dói a tanta gente.

E também a dor da alma não mente o sofrimento no esbugalhar dos olhos, ainda que a mente enlouqueça e até se esqueça de que é alma de gente.

E morre a paz, a paz podre não mente, ainda que na vaga esperança da sorte não seja mais do que a paz da morte.

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DENTRO DO MEU CADERNO

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ

Dentro do meu caderno há uma pena branca de palavras e gestos cansados, de inocência a prazo ao longo do tempo.

Dentro do meu caderno há mensagens desamparadas como os dedos verdes das estrelas, ora inquietas no mar incerto, ora plácidas no mar sereno.

Sempre assim foi no meu caderno, criador de silêncios nos desertos de um poema.

A beleza embriagada de mel nasce dentro do meu caderno, sobre as águas de um mar de sol poente.



De tanto azul fiz um barco pintado de sonhos, e na cama infinda deste mar, perdi o respeito pelo silêncio do teu corpo.

Dentro do meu caderno cai a chuva no cristal do pensamento, embaciando nossos corpos e nossos mundos.

Dentro do meu caderno, para que servem vozes se não sabemos cantar?
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18070: Blogues da nossa blogosfera (83): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (4): "O menino de brilho nos olhos" e "Minha terra mãe"

Guiné 61/74 - P18098: Blogpoesia (544): "Pintar com água...", "Cada um seu jeito..." e "A voz cala para se ouvir o coração...", poemas de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Pintar com a água…

Me apronto diante da tela de brocha na mão.
Um balde de água. Esfrego os olhos.
E começo.
Me percorre na mente uma bola de cores.
Jogo a água como quem chapinha à sorte.
Bate na tela. Se espalha e escorre. Com sulcos.
Desenha figuras feéricas de cor.
As linhas são veias azuis.
Com ramos. Folhagens de verde.
Reflexos de seda flamejando à luz.
Abordo o quadro como se fosse pintor.
Aliso aqui, desfaço e emendo.
A figura aparece. Envolta em luar.
A leveza é total.
Sinto um tremor.
Abala-me a espinha.
Na testa me escorre suor.
Me estranho. O único quadro pintara em criança.
Uma ponte e um rio,
Com guache e pastel.
A água é que nunca…

Berlim, 12 de Dezembro de 2017
19h34m
Jlmg

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Cada um seu jeito…

Tantas portas e janelas tem o edifício da existência.
Umas se escancaram prontamente.
Entrada livre.
Outras, só com chave e marcação da hora.
Reservas.
Depende do recheio e conteúdo a preservar.
Há sempre riscos.
Bom seria não ser preciso…
Mas é assim.
Ainda hoje as pirâmides do Egipto conhecidas escondem segredos e enigmas por decifrar.
E, o mais sério, é que, talvez, fazem falta à Humanidade.
A presença desta sobre a terra não é obra do acaso.
Tem um sentido.
E, parece, ainda há muito que descortinar…

Ouvindo Brahms, concerto piano e orquestra, por Yuja Wang
Berlim, 15 de Dezembro de 2017
8h27m
Jlmg

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A voz cala para se ouvir o coração...

A voz se cala.
Os olhos fecham.
A mente pára.
Só assim se ouve o coração.
Suas palavras são as obras.
Sua linguagem é activa.
Se conjuga no presente e no futuro.
Seu alimento é o amor.
Sem classes nem fronteiras.
Tem sempre a porta aberta.
Sua moeda é o bem.
Sem distinção.
Viver na graça,
Sua filosofia.
Compreender e perdoar
É o seu chão.
O seu sol é a alegria.
Natal é todo o ano…

Berlim, 16 de Dezembro de 2017
11h25m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18068: Blogpoesia (543): "Criação...", "Deus passou pelo Alentejo..." e "Asas negras...", poemas de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18097: Parabéns a você (1357): Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18092: Parabéns a você (1356): António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto do HM 241 (Guiné, 1968/70)

Guiné 61/74 - P18096: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte II: Zona portuária de Bissau e o heli do Spínola a dizer adeus ao T/T Uíge, em 4/8/1969


Foto nº 504


Foto nº 504 A


Foto nº 504 B


Foto nº 601 > Guiné> Bissau > 1969 > Estuário do Geba, navios da marinha portuguesa e, ao fundo , Bissau velha, e à esquerda, não visível na foto, a ponte.cais.


Foto nº 601 A



Foto nº 601 > Guiné > Bissau > 1969  > Vista de Bissau velha nas proximidades da Amura e da ponte cais (não visíveis na foto).... Nesta imagem; à esquera, é fácil identificar o edificio da Alfândega,


Foto nº 601 C > Uma LDP - Lancha de Desembarque Pequena


Foto nº 601 D >  Outra LDP - Lancha de Desembarque Pequena


Foto nº 513

Guiné > Bissau > 1969 > Zona portuária 

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


Guiné > Bissau > s/d > Imagem da ponte-cais, do edifício da Alfândega, à direita, e da fortaleza Amura, à esquerda...

Pormenor de: Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 119" . (Edição Foto Serra, COP 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL).


1. Continuação  da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira [, que foi alf mil, SAM – Serviço de Administração Militar, CCS – Companhia de Comando e Serviços, Chefe do Conselho Administrativo, BCAÇ 1933, mobilizado pelo RI 15, Tomar, e que esteve no CTIG, em Nova Lamego e São Domingos, 1967/1969; é economista, reformado] (*)

Legendas:

Foto 601
– Foto tirada a bordo de um Patrulha, onde almocei a convite do Comandante, e tive a oportunidade de fotografar a Base Naval em Bissau da nossa Marinha de Guerra.

Foto 513 – Outra série de fotos que tenho, o Uige a afastar-se, Bissau a ficar ao largo, e o Heli do Spínola a sobrevoar o Uige, num último adeus às tropas. Nostalgia deste dia [4/8/1969].

Foto 504 – Tenho uma série destas fotos. É o dia 4 de Agosto de 1969, o dia da saída da Guiné. Eu tinha passado a noite anterior no Uige, e por isso de manhã cedo estava lá em cima a ver chegar as lanchas LDG, LDM e LDP, carregadas de tropas vindas do interior e que encostaram ao navio, vinha tudo ao molhe e fé em Deus, 

Tive a sorte de ver algumas e assim fotografei a chegada, o içar da carga para o barco, um momento inesquecível, e como foi tirada com os slides, só foram revelados em Agosto e iam para França, e assim ficaram quase 50 anos. 

Nunca ninguém do BCAÇ 1933 e do BCAÇ 1932 e outras Companhias e Pelotões, as viu, muitos poderão agora recordar a sua chegada em 4 de Agosto e entrada para o Uige, naquelas condições degradantes. Esta série de fotos que tenho da chegada das lanchas a encostarem ao Uige e depois a serem içadas, são realmente uma questão de sorte, eu estar no sitio certo à hora certa. Nenhum dos protagonistas, éramos cerca de 700 militares, conhece estas fotos, muitos vão rever-se nelas, um dia que as possam ver. Mandarei mais, pois acho que são momentos inesquecíveis, independentemente da força da imagem em si mesma.
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Guiné 61/74 - P18095: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I: Piche, novembro de 1967: eu, o alf mil médico Lema Santos, um homem grande de Piche e o comandante do aquartelamento local


Guiné > Região de Gabu > Piche > "Novembro de 67 em Piche junto a um monumento religioso; à esquerda um homem grande lá da terra, pertencia lá à religião cujo templo é o fundo da foto, depois temos o capitão, comandante da companhia de que não me lembro o nº, estou eu, o nosso médico Alf mil médico Lemos Santos, eu. Virgilio Teixeira, e ao meu lado direito um cabo do meu batalhão que me lembro bem dele, mas não sei o nome nem o que fazia em concreto na nossa Companhia.]

[Nessa data. novembro de 1967, devia estar em Piche, a CCAV 1662: mobilizada pelo RC 7, partiu para o CTIG em 1/2/1967 e regressou em 19/11/1968: esteve em Nova Lamego e Piche; cmdt:  cap mil art António de Sousa Pereira]

Foto: © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Teixeira [, que foi alf mil, SAM – Serviço de Administração Militar, CCS – Companhia de Comando e Serviços, Chefe do Conselho Administrativo, BAT CAÇ 1933, mobilizado pelo RI 15, Tomar,  e que esteve no CTIG, em Nova Lamego e São Domingos, 1967/1969; é economista, reformado]

Data: 5/12/2017

Assunto:Fotos da Guiné 1967/69

Caro Luís Graça

Já partilhamos alguns contactos em 2013 e 2014, eu disse que voltava e agora talvez queira partilhar algumas fotos do meu álbum de cerca de 5000 fotos da Guiné - entre 67 e 69. Tenho sido incentivado, porque pessoas com quem partilho, acham que são inéditas e únicas algumas.

Não sei como isto se processa, mas eu tenho de mandá-las para este endereço e daí são selecionadas e postadas, com direitos de autor,

Vou enviar algumas, à sorte, são muito pesadas, mais de 20 MB, são imagens digitalizadas, umas de fotos e outras de slides.

Gostaria de saber do interesse disto para o blogue.

Aguardo comentários
Obrigado
Ab., Virgilio Teixeira


2. Resposta do nosso editor LG, na volta do correio:

Virgílio:

Que bom saber notícias do camarada, ao fim de quatro 4 anos e meio...Vejo que se abrem novas perspetivas de colaboração no blogue, que é de todos nós, e está sempre de "portas e janelas" abertas... Por razões pessoais e familiares, que eu entendi e respeitei, o Virgílio não quis prosseguir , em agosto de 2013, o desenvolvimento dos contactos com os editores.

Mas, como vê, o nosso blogue continua de pé, "ativo,produtivo e saudável", com 10 milhões de visitas e 762 membros registados (a que chamamos "grã-tabanqueiros", ou sejam, membros da Tabanca Grande)...

O Virgílio não precisa de convite para "entrar"... Nem tem que "entrar"... Claro que gostaríamos de tê-lo connosco, "formalmente", tanto mais que não temos nenhum camarada do seu batalhão, o BCAÇ 1933 (!)... Temos apenas 5 (cinco!) referências ao seu batalhão...

Desse batalhão, conheço, de vista o José Aparício, que foi comandante da CCaç 1790, tragicamenmte ligada ao desastre de Che-Che, no rio Corubal, em 6/2/1969, mas nunca me contactou para participar no blogue... Também há dias, falando com o meu amigo (e ex-camarada da Reserva Naval), o engº Manuel Lema Santos, fiquei a saber que o seu irmão esteve como alferes miliciano médico no BCAÇ 1933, o Virgílio deve estar recordado dele....

A missão do nosso blogue é fundamentalmente a de partilhar memórias (e afetos...) entre antigos e camaradas de armas da Guiné....E, como a gente gosta de dizer, a nossa tabanca (, ou seja, a nossa comunidade virtual) é suficientemente grande para nela todos cabermos... com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos separa (ou pode separar)....

As memórias do Virgílio não se podem... perder!...E o seu álbum fotográfico, pela amostra que vi, é valiosíssimo!... Já descarreguei as fotos que me mandou, e vou guardá-las até receber as instruções do Virgílio... Uma das nossas 10 regras editoriais é o respeito pelos direitos de autor...Temos que encontrar uma forma de lhe atribuir os créditos fotográficos... E tem desde já essa garantia da nossa parte... No caso de não querer ser identificado pelo seu nome e apelido, podemos recorrer às iniciais V. T. ou pura e simplesmente referirmos a sua pessoa como "um camarada devidamente identificado" que nos pediu "reserva de intimidade"...

O Vírgílio dirá o que é mais confortável e conveniente para si...Continue entretanto a mandar-nos fotos, sempre com legendas (datas e locais...), se possível...

Um abraço do camarada Luís Graça.... Boa reforma, boa saúde, boas festas!

PS - O BCAÇ 1933, mobilizado pelo RI 15 (Tomar), partiu para o CTIG em 27/9/1967, e regressou a 4/8/1969. Esteve sedeado em Nova Lamego,  Bissau e S. Domingos. Cmdt:  ten cor if  Armando Vasco Campos Saraiva;  ten cor inf Renato Nunes Xavier.  Companhias de quadrícula:

(i) CCAÇ 1790 (Fá Mandinga, Madina do Boé, Nova Lamego, São Domingos). Cmdt:  cap inf  José Ponces de Carvalho Aparício;

(ii) CCAÇ 1791 (Bissau,  Encheia,  Bula, Bambadinca, Susana). Cmdt: cap inf António Maia Correia;

(iii) CCAÇ 1792 (Farim, Saliquinhedim, Colibuia, Aldeia, Formosa, Bissau). Cmdt: cap mil art  António Manuel Conceição Henriques; cap art  Ricardo António Tavares Antunes Rei; cap inf Rui Manuel Gomes Mendonça.


3. Resposta, com data de 7 do corrente, do Virgílio Teixeira (que já me manifestou entretanto que não há problema em que o seu nome apareça no blogue, de resto os seus camaradas de batalhão conhecem-no bem, já que ele tem ido a alguns dos convívios anuais):

Camarada Luis Graça

Obrigado pela resposta. Realmente temos aqui uma janela aberta, para entrar e sair. Este blogue é um mundo, eu entro muitas vezes neste blogue, alias ele aparece sempre que se coloque uma palavra de Guiné ou coisa parecida no Google. Mas quando começo a ver nunca mais largo, vejo tudo, as histórias, os vídeos, o que se fala de tudo, e confesso que me comovo e emociono ao ponto de, quando dou por mim,  estou com os olhos molhados e as lágrimas a correr. Não tenho vergonha disso, apesar da minha idade, eu já disse que esta fase da minha vida foi absolutamente marcante [...].

Mas todos os dias me lembro e de alguma forma penso na Guiné, mal acordo de manhã estou com isso na cabeça, e já lá vão 50 anos. Por isso os meus familiares sabem que sofro, e não querem ouvir falar deste período da minha vida, embora me acompanham quando lhes peço. Posso dizer que no último encontro em Viseu em Abril deste ano, fizemos a cerimónia completa dos 50 anos do Batalhão, uma cerimónia muito marcante.

Pois eu consegui levar comigo toda a família, a minha mulher, que sempre me acompanha, os 3 filhos e 3 cônjuges, e mais os 4 netos. Fomos 9 pessoas, reparei que os restantes elementos estavam a comentar isto. Agora julgo que já fiz a minha parte, eles viram aquela malta toda - velhos, idosos, gordos, carecas, cabelos brancos como eu, e gostaram do convívio.

É pouco,  5 referências [no blogue]  ao BCAÇ 1933, quando estiveram sob o seu comando pelo menos 17 Unidades em Nova Lamego - Companhias, Pelotões, Milícias, Comandos Africanos, AML Daimler, Canhão s/r, Morteiros, etc.

Vou começar pelo fim.

O Dr. Lema Santos [, o alf mil médico,]  conheci-o ainda em Santa Margarida, ele fazia parte do nosso Batalhão. Eu fui com o Comandante de avião militar em 20 de setembro de 67, cheguei a Bissau a 21, e no dia 23 já estava em Nova Lamego, a fazer velórios a militares mortos em combate. Foi o meu baptismo, e isto impressionou-me. 

Mais tarde, o BCAÇ 1933 partiu em 27 de setembro  e chegou a 4 de outubro de 1967. O médico foi neste contingente. Voltamos a encontrar-nos novamente em Nova Lamego, por pouco tempo, pois ele foi para um aquartelamento em Piche  - 40 a 50 km de Nova Lamego...  Eu fui muitas vezes em coluna militar a Piche, e estivemos lá juntos por poucas horas. Depois ele veio a Nova Lamego,  talvez uns 30 dias, para substituir o médico do Batalhão, dr. Cortez, que foi de férias. Aí já almoçava e jantava com ele na messe de oficiais. 

Ele voltou para Piche, por isso só nos voltamos a encontrar já no Uíge no dia 4 de agosto de 1969. Era um bom homem. Não o vi mais, sei que esteve em alguns encontros anuais da malta, mas não estive nesses, nunca o voltei a ver. Espero que esteja bem, ele deve ser pouco mais velho do que eu, eu vou fazer 75 no próximo mês, fui com 24, ele deve ter 1 a 2 anos mais.

Tenho várias fotografias com ele, mas só encontrei esta digitalizada, foi captada em novembro de 67 em Piche junto a um monumento religioso. Está o capitão,  comandante dessa Companhia que não me lembro o nº [, CCAV 1662 ?], estou eu, o Lema Santos, e um homem grande lá do sítio. Se tiver possibilidades pode mandar para ele ou através do irmão esta foto, que ele não tem de certeza, e deve querer lembrar-se, bem como os seus familiares. É uma oferta minha e até pode ser publicada. Mando-lhe um grande abraço e um 'até sempre'.

Eu tenho,  como disse, muitas fotos e 500 slides, e estou há uns meses a mandar digitalizar alguns, pois tenho de selecionar aqueles que mais me dizem a mim, vai com tempo. Depois estou a legendar tudo, datas, locais, e objectivo da foto. É um trabalho longo. 

Depois estou a organizar tudo por 'temas' e numerar as fotos por antiguidades, eu sei mais ou menos tudo de cabeça, posso não saber o dia ao certo, mas o mês sei de certeza. Essas que mandei já estavam todas legendadas, só que fui a um ficheiro sem legendas e tirei à sorte.

Vou selecionar algumas e vou mandando, e o amigo Luís vai colocando no blogue. Pode indicar o nome, o Batalhão, os locais o que interessar para melhorar o blogue, e ver se aparece mais gente do meu Batalhão.

As histórias que tenho estão no livro que nunca mais acabo, tenho de ter muita paciência para contar algumas passagens, eu já escrevi tudo, só que isso tudo tem 300 páginas, dum total de 2500 páginas da Minha Vida.

Sobre o Aparício, era realmente o comandante da CCaç 1790, e esteve lá em Madina do Boé entre fevereiro de 68 e 6 de fevereiro de 69, quando se dá aquela tragédia. Eu já li muita coisa sobre isso, e há muitas versões dos acontecimentos. O agora coronel Aparício, na reserva, tem ido a todos os encontros da Companhia e do Batalhão. Ele já foi ao Cheche algumas vezes, já filmou e acompanhou equipas incluindo cientistas, no intuito de encontrar o local dos poucos corpos que se encontram enterrados, mas não foi ainda possível. 

Essa tragédia marcou-me muito, pois estava lá muita tropa que esteve comigo em Nova Lamego pelos menos de outubro de 67 até fevereiro  de 68. Eu não vi nada, e o Comando do meu Batalhão estava nessa altura em S. Domingos, o nosso comandante ten cor {Armando Vasco Campos] Saraiva já tinha sido evacuado, foi apanhado a poucos metros numa emboscada ao fundo da pista e pisou uma mina, que lhe deixou as pernas ao dependuro, e estilhaços entre as pernas. Eu vi-o nesse estado a ser levado de Helli para Bissau. Só o voltei a ver passados mais de 15 anos. Já morreu entretanto.

O [José] Aparício esteve como Comandante Geral da PSP em Lisboa, em determinada época. Nos encontros ele nunca falou deste caso do Cheche, eu penso, mas não tenho certeza nenhuma, que ele carrega essa culpa do que aconteceu, pois ele era o comandante da companhia [, a CCAÇ 1790], mas como esta operação englobou outras companhias para segurança, aviação, Marinha, etc, deve haver um mais alto responsável por toda a operação. Mas eram os homens dele, e isso ele não vai nunca esquecer. Há militares que lá estiveram nesse desastre, que não conseguem falar do assunto, ficam chocados e entram em convulsão. 

E por agora é tudo, vamos falando e vou seguindo as instruções, pois eu não sei trabalhar muito bem com estas coisas, sei consultar, mas não sei como entrar sozinho.

E em retribuição aqui vai o meu desejo de Boa Saúde, Boa Reforma também e Boas festas de Natal e Novo Ano. O mesmo para o camarada Carlos Vinhal.

Um abraço do Camarada
Virgilio Teixeira


4. Nova mensagem do Virgílio Teixeira, com data de 13 do corrente:

Bom dia, caros Luis Graça e Carlos Vinhal:

Vou enviar algumas fotos para publicação, e como não sei qual é a melhor forma, vou identificar cada e dar algumas dicas sobre a mesma, depois façam o melhor.

Eu não me importo da identificação, e assim podem ser, se assim o entenderem e for usual, desta forma que era os nomes porque nós eramos conhecidos. Neste caso - Virgilio Teixeira, Alf Mil do SAM, RI 15/Bat Caç1933, Guiné 67-69, Nova Lamego, São Domingos.

Obrigado
Virgilio Teixeira

Guiné 61/74 - P18094: Em busca de ... (285): Camaradas do meu pai, João Arindo Canha, que pertecenceu ao Pel Caç Nat 57, e esteve em Cutia, na região do Oio (Henrique Canha)


Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1/500 mil > Região do Oio > Detalhe: posição relativa de Cutia no triângulo Bissorã- Mansabá- Mansoa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)



Guiné > Região do Oio > Cutia > Pel Caç Nat 57 (1971 / 74) > Destacamento de Cutia

Foto: © Jorge Picado (2013). Todos os direitos reservados [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Mensagem do nosso leitor  Henrique Canha:

Data: 11 de dezembro de 2017 às 19:56

Assunto: Cutia, Guiné

Caríssimo Sr. Luís Graça,

O meu nome é Pedro Henrique Canha e estou a contactá-lo devido ao seu blog "Luís Graça & Camaradas da Guiné". O meu pai, João Arlindo Canha, foi guerrilheiro no Ultramar, tendo pertencido ao Pelotão de Caçadores Nativos nº 57 em Cutia, Guiné.

Ao longo dos anos foi-me contando imensas histórias dos seus anos na guerra e dos seus camaradas. Agora, infelizmente, o seu estado de saúde não é o melhor e por isso iniciei uma busca de antigos irmãos de armas dele porque o meu pai sempre expressou um enorme desejo em voltar a falar com alguns deles.

Com este e-mail, o meu intuito era perguntar-lhe se por acaso chegou a conhecê-lo ou se me poderá encaminhar para algum grupo que me ajudasse a encontrar ex-combatentes que poderão tê-lo conhecido.

Muito grato pelo seu tempo, envio-lhe os meus melhores cumprimentos.

Henrique Canha


2. Pedido ao nosso colaborador permanente, José Martins, com data de 11 do corrente:

Zé: mais uma "prenda de Natal"...Vê o que temos no blogue sobre o Pel Caç Nat 57 e informa diretamente o filho do nosso camarada... Há coisas que não podem esperar... Depois publicamos no blogue... Ab, Luís

PS - Para já,  só temos duas (!) referências ao Pel Caç Nat 57.... Temos referência a outros, uns mais  (Pel Caç Nat 52, 53, 63...) do que outros (Pel Caç Nat 50, 58, 59, 61, 67...). Sobre Cutia, temos cerca de 3 dezenas de referências. Por lá também passou o Pel Caç Nat 61. (**)

 O meu/nosso amigo da família, António Baldé, o pai da "Alicinha do Cantanhez", voltou para a sua terra, vive agora em Caboxanque, foi do Pel Caç Nat 56...

Temos também o Fernando Paiva, de Amarante, o Carlos Vinhal deve ter o email dele...

Pel Caç Nat 50 (5)
Pel Caç Nat 51 (21)
Pel Caç Nat 52 (176)
Pel Caç Nat 53 (54)
Pel Caç Nat 54 (39)
Pel Caç Nat 55 (15)
Pel Caç Nat 56 (20)
Pel Caç Nat 57 (2)
Pel Caç Nat 58 (7)
Pel Caç Nat 59 (3)
Pel Caç Nat 60 (15)
Pel Caç Nat 61 (4)
Pel Caç Nat 63 (92)
Pel Caç Nat 65 (12)
Pel Caç Nat 67 (3)
Pel Caç Nat 69 (2)
Pel Caç Nat 70 (1)


3. Resposta do nosso colaborador permanente, José Martins:

Boa noite, Henrique

O Luís Graça remeteu-me o mail que acabo de receber, para ver como poderia ajudar.

Como no blogue não temos referência ao Pelotão de Caçadores Nativos nº 57, procurei obter elementos noutros locais.

É difícil encontrar camaradas deste tipo de subunidades, uma vez que são unidades com cerca de 30 a 40 elementos. Europeus era o comandante (alferes), 3 sargentos, normalmente furriéis, e alguns cabos e soldados especialistas.

Chegavam a essas subunidades após mobilização em rendição individual. Como havia uma rotação dos seus elementos europeus, uma vez que os africanos ficavam mais tempo nesses pelotões, o contacto perdia-se e com o passar dos anos até a lembrança desaparecia.

Pelos elementos de que disponho, o nosso camarada João Arlindo Canha, deve ter estado em Cutia entre Maio de 1971 e Agosto de 1974. 

Como Cutia dependia, creio, de Mansabá, junto uma nota das unidades que passaram por ali, pode ser que o pai se lembre de alguma e, então, poderemos usar essas unidades como filtro de pesquisa.

Entretanto, duas coisas poderão ser feitas de imediato:

1º - Nos marcadores existentes no lado esquerdo da página do blogue, procurar Cutia. Clicando abre os textos que existem sobre a localidade. Servirá para matar saudades e relembrar algo já esquecido.

2º - No link «http://ultramar.terraweb.biz/Form_09Procura.htm» há um formulário para procurar camaradas da Guerra de África. Preenchendo o tal formulário, pode ser que alguem que tenha tido algum amigo em Cutia, ou que alguém da época apareça e tenha contacto com outros camaradas.

De momento é o que se nos afigura possível. Este assunto também vai ser objecto de um texto no blogue. Poderemos ter sorte.

Ver a seguir a listagem das unidades de Mansabá, após 1970:
  

Infogravura: José Martins / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)

Espero ter podido ajudar, apesar de não haver grandes novidades.

Votos de Boas Festas.

José Martins
Canjadude - Guiné - entre Junho/68 e Maio/70
____________

Notas do editor:

(*)bÚltimo poste da série > 13 de dezembro de  2017 > Guiné 61/74 - P18083: Em busca de... (285): Camaradas dos Pel Mort 4579; 4580 e 4581/BCAÇ 3884 (Bafatá, 1973/74) (Carlos Vieira, ex-Fur Mil do Pel Mort 4580)

(**) Vd. poste de 27 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12512: O nosso livro de visitas (174): Camarada não identificado, pertencente ao Pel Caç Nat 61 de Cutia, comandado pelo ex-Alf Mil Simeão Ferreira que hoje é médico nas Termas de Monte Real

(...) Por exclusão de partes tratar-se-á do ex-Fur Mil João Luís dos Santos Pimenta que desembarcou em Bissau em 14JUN70 chegou ao Pel Caç Nat 61 nesse mês, então sediado em Cutia e na dependência da CCaç 2589/BCaç 2885, para substituir o camarada João António Pina que terminou a comissão em 20JUL70.

Os Fur Mil José António Rodrigues Amorim (desembarcou em Bissau no mesmo dia e apresentou-se possivelmente no mesmo dia que o Pimenta), substituiu o camarada José Rosa Matos França (fim de comisão em 02JUL70) e Armando Barbosa de Sá (desembarcou em Bissau em 20JUL70, apresentando-se nesse mês) que substituiu o camarada Mário Jorge Fernandes (fim da comissão em 02LUJ70).

O Alf Mil Simeão Duarte Martins Ferreira (desembarcou em Bissau em 17AGO70 apresentando-se nesse mês), substituiu o camarada Rodrigo Lopes, de quem não tenho recordação, (fim de comissão em 29JUL70).(...)

sábado, 16 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18093: Bibliografia (44): “Os Papéis do Inglês”, por Ruy Duarte de Carvallho; Círculo de Leitores, 2002 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
A literatura lusófona é por de mais surpreendente. Podia fazer-se aqui o corolário de nomes impressionantes da lusofonia, de Cabo Verde a Moçambique, quedemo-nos nesse vulto espantoso que é Ruy Duarte de Carvalho, homem de sete ofícios, romancista inclassificável, expressão que não deve meter medo a ninguém, uma obra gigantesca como "Húmus", de Raul Brandão, também é inclassificável, mas é um dos pilares da literatura portuguesa da primeira metade do século XX. O que avulta neste livro é o deslumbramento de Angola, um mundo em que ainda há guerra civil, mas é o olhar do antropólogo que tudo excede e que põe o leitor num convulsivo labirinto africano.

Um abraço do
Mário


Os Papéis do Inglês, por Ruy Duarte de Carvalho (1)

Beja Santos

Ruy Duarte de Carvalho, angolano de origem portuguesa, nasceu em 1941 em Santarém. Viveu parte da infância e da adolescência em Moçâmedes. Temporariamente, viveu em Lourenço Marques e em Londres, no início dos anos de 1970. Regente agrícola, antropólogo, realizador de televisão, cineasta, artista plástico, poeta e ficcionista.

“Os Papéis do Inglês”, por Ruy Duarte de Carvallho; Círculo de Leitores, 2002, é um livro de difícil classificação, talvez uma novela às avessas, relato de viagens com dormências e reminiscências, páginas de um diário onde se imiscuem a polivalência e o autorretrato. A fazer fé do que teria acontecido, entre o imaginário e a factualidade real, estamos perto do natal de 1999, o autor saiu para a mata para fotografar pedras, enganou-se no caminho, andou às voltas e assim começa a história, a narração de um inglês que se suicidou no interior mais fundo de Angola, aí começa essa história “que até hoje me anda a trabalhar a cabeça, desde que esbarrei com ela num livrinho da autoria dessa fascinante personagem da nossa história comum, o muito ativo e irrequieto Capitão Henrique Galvão”. É uma história que se conta no acampamento e o que lhe anda na memória do tal livrinho de Henrique Galvão, edição de autor, no ano de 1929 com o título Crónicas de Angola, tem a ver com um cidadão inglês retirado do mundo, de boas famílias e caçador de elefantes, Perkings de seu nome ou Sir Perkings, como Galvão entendeu chamar-lhe. História burlesca e arrepiante, que se conta em poucas frases. O inglês abate com arma de fogo um obscuro grego, companheiro de profissão. Procura depois o posto administrativo mais próximo, a 100 quilómetros de distância, apresenta-se à autoridade portuguesa. O chefe do posto esquiva-se à ocorrência e só depois de muita insistência acaba por regista a ocorrência. O inglês, em liberdade, regressa ao seu acampamento. Espalham-se as interpretações do que terá acontecido, chega-se mesmo a dizer que o grego fora assassinado pelo inglês e este devorado por um jacaré, depois de atirar-se às águas do Cuando, com uma grande pedra atada aos pés. O que se conta é a imaginação? E o autor estica o fio da intriga: “E hoje, já que nunca mais deixei de me ver ligado à coisa, julgo que sei tudo. E não vou ter descanso, conheço-me, enquanto não reduzir a ideia a objeto, ou a ato”.

Sem parcimónia, biografa Henrique Galvão, que muito escreveu, que foi funcionário colonial altamente polémico e até se apossou do paquete Santa Maria, já em guerra aberta com Salazar. Conta depois que o pai o mandou ir buscar uns papéis que já não tinham interesse nenhum mas havia entre eles manuscritos antigos comprados a um ganguela (pequena etnia do planalto central de Angola). A viagem é um pretexto para abrir caminho para outros pretextos, fez-se a viagem à procura dos papéis, encontram-se imensas pessoas. Nisto, já se passou o Natal e volta-se ao estranho caso do inglês, estamos em 1909 numa reunião de professores universitários em que se discute a antropologia social, nele participou Archibald Perkings. Entra outro sujeito na história, Radcliff-Brown, também antropólogo social. A história emaranha-se, há traição à fidelidade conjugal, Archibald Perkings sai de Londres e ruma a Angola. Se tudo já estava emaranhado, agora labirinta-se, aparece um belga, interessado em pontas de marfim, aparece também Artur Virgílio Alves Reis, descrito ao pormenor e autor da maior burla bancária que até hoje houve em Portugal com o seu Banco de Angola e Metrópole, os personagens aproximam-se uns dos outros, e o autor especifica o território desse acampamento que é o local de encontro:
“Ocorre com uma precisão cinematográfica a cena que vai seguir-se. É o cair da tarde e há uma luz doce e aberta que se estende a Oeste pela anhara até lá muito longe e anuncia já a noite que está para vir, noite do Leste, vibrátil e imensa, capaz de acolher os uivos de todas as vigílias todas de um continente inteiro. O acampamento está instalado numa ligeira vertente que a oriente se introduz pela mata de acácias altas e depois a encosta à estreita corrente de água que passa logo em baixo e se vai alargar, mais a Sul, numa pequena lagoa de onde depois volta a sair o curso da ribeira. Uma barraca de pau-a-pique, onde habita o grego, está quase encostada à mata. As tendas das visitas foram armadas deste lado e é aí, debaixo de um toldo também de lona, que têm passado os dias. A tenda do inglês está montada mais em cima, do lado oposto, e entre ela e os telheiros onde se cozinha há um extenso terreiro que abre para o horizonte da anhara. É para aí que está a ser levado agora, por um homem que saiu da cozinha e entrou na tenda do inglês, um objeto, que o belga e os americanos, de longe, olham muito atentamente, porque talvez lhes custe acreditar que se trata mesmo do que estão a ver: uma estante de música. Há mais pessoas atentas ao movimento do homem que ele dispõe no centro do terreiro (…) O inglês sai da sua tenda com um violino na mão esquerda e o respetivo arco na direita. Uma mestiça muito jovem, moça ainda, com uma saia e uma blusa gastas, vem também do alpendre das cozinhas, descalça, com um caixote e um banquinho, põe o caixote ao lado da estante da música e senta-se no banquinho, a pouca distância. Entalha a roda da saia entre as pernas compridas, assenta os cotovelos nos joelhos, apoia a cara nas mãos em concha e fica assim, de frente, a olhar para o inglês, que entretanto arruma na estante uma folha de papel que o homem do princípio lhe entrega na mão antes de se colocar, por sua vez, ao lado, quase colada às pernas do branco, de cócoras e pronto para dedilhar um quiçanje que trouxe agora consigo. Vai começar o concerto”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18065: Bibliografia (43): “Mário Pinto de Andrade, Uma entrevista dada a Michel Laban”, Edições João Sá da Costa, 1997 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18092: Parabéns a você (1356): António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto do HM 241 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18089: Parabéns a você (1355): Francisco Santos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18091: Agenda cultural (622): No centenário de Manuel Ferreira (1917-1992): sessão de evocação, Lisboa, CCB, sábado, 16, 15h00... Coordenação de João B. Serra, participação dos escritores Ana Paula Tavares (Angola) e Filinto Elísio (Cabo Verde)... Leitura de textos do histórico introdutor, na universidade, dos estudos sobre literatura africana de expressão portuguesa





Dia Literário Manuel Ferreira


CCB - Centro Cultural de Belém, Lisboa, sábado, dia 16, pelas 15h00, no Centro de Congressos e Reuniões, piso 1. Entrada livre, mediante a disponibilidade da sala:

(i) sessão coordenada por João B. Serra (historiador, docente do ensino superior, progamador cultural);

(ii) participação da escritora angolana Ana Paula Tavares e do escritor cabo-verdiano Filinto Elísio;

(iii)  testemunho e leitura de textos de Manuel Ferreira, por Deolinda Pereira de Barros.


Factos relevantes sobre Manuel Ferreira (1917-1992) (e alguns pouco onhecidos do grande público):

(iv) foi o introdutor dos estudos sobre literatura africana de expressão portuguesa em 1974, na universidade, tendo produzido uma extensa bibliografia sobre o tema e publicado diversas antologias de autores de Cabo Verde, São Tomé, Guiné, Angola e Moçambique;

(v) cultivou também a ficção, inscrevendo as suas obras principais, romance e conto, na paisagem social cabo-verdiana;

(vi) fez uma carreira militar, que o levaria a Cabo Verde (durante a II Guerra Mundial, entre 1941 e 1946), a Goa (1948-1954) e a Angola (1965-1967);

(vii) pertenceu à direção da Sociedade Portuguesa de Escritores, desde 1961 até à sua violenta extinção pelo governo de Salazar, em 1965;

(viii) foi o primeiro diretor de programas culturais da RTP, a seguir ao 25 de Abril.

Tem uma dezena de referências no nosso blogue.


Caldas da Rainha > Museu José Malhoa > 22 de julho de 2017 >  Inauguração da exposição temporária "Manuel Ferreira: capitão de longo curso" >  O curador João B. Serra, ao centro, tendo do seu lado direito o presidente da CM de Caldas da Rainha e à sua esquerda o diretor do museu....


Caldas da Rainha > Museu José Malhoa > 22 de julho de 2017 >  Exposição temporária "Manuel Ferreira: capitão de longo curso" >  Imagem do liceu do Mindelo, onde estudou o furriel miliciano Manuel Ferreira. Chegou a São Vicente em outubro de 1941, integrado num batalhão expecidionário do RI 7 (Leiria). No liceu conhecria, entre outros, além da sua futura esposa, Orlanda Amarílis, o jovem Amícal Cabral (1924-1973),  sete anos mais novo... O Amílcar era da turma da  da turma da Orlanda.  Manuel Ferreira concluiu aqui o antigo curso liceal (secção de letras).  Casou no Mindelo e teve aqui o seu primeiro filho.


Caldas da Rainha > Museu José Malhoa > 22 de julho de 2017 > Exposição temporária "Manuel Ferreira: capitão de longo curso" > Imagem do RI 5,  cuja secretaria Manuel Ferreira (1917-1992) chefiou, entre 1954 e 1958, e por onde muitos de nós passámos, antes de ir parar à Guiné, durante a guerra colonial (1961/74)...Escritor e investigador, e mais tarde capitão SGE Manuel Ferreira (Leiria, 1917 - Oeiras, 1983) passou por aqui, já depois de ter estado no Mindelo, São Vicente, Cabo Verde (e 1941-1946), e na Índia Portuguesa (1948-1954).

Foi neste quartel, em 1957, quando chefiava a secretaria regimental, e nesta cidade onde viveu 4 anos, que ele escreveu o seu livro de contos, "Morabeza" (publicado no ano seguinte, em 1958).  Será depois  ser transferido para Lisboa. Em 1962, sai o seu primeiro romance de temática cabo-verdiana, o "Hora di Bai". E em 1965 é mobilizado para Angola. como tenente SGE, tendo feito parte até então da direção da extinta Sociedade Portuguesa de Escritores.




Caldas da Rainha > Museu José Malhoa > 22 de julho de 2017 >  Exposição temporária "Manuel Ferreira: capitão de longo curso" >  Imagem do então sargento Manuel Ferreira, colocado no RI 5, em 1954. Viveu nas Caldas da Rainha nesse período de 1954 a 1958. A sua presença é lembrada na exposição. A PIDE vigiava-o discretamemte... como se pode ver na informação que acima se reproduz.


Fotos (e legendas): Luís Graça  (2017).  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]. (Com a devida vénia ao curador da exposição, o nosso amigo João B. Serra.)

Guiné 61/74 - P18090: Notas de leitura (1023): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (13) (Mário Beja Santos)

Hotel do Turismo em Bolama, foi primitivamente a filial do BNU, que aqui se criou em 1903


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
Aqui se registam os documentos que confirmam o afundamento de Bolama, a cidade revela-se, aos olhos de muitos, como sede de um funcionalismo excedentário, pouco motivado, muito entregue a intrigas, e fazendo negócios por conta própria.
Os relatórios de 1927 e 1928 são denunciadores de que o comércio está profundamente  anémico e sem soluções, perdeu-se o arrojo e a vontade de crescer ou irradiar negócios. É uma estagnação que relatórios subsequentes confirmarão, a agonia era irreparável, Bissau ganhara sua posição. No entanto, demorará cerca de uma década a impor-se a transferência.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (13)

Beja Santos

1928 é um ano de tremendas dificuldades para a Guiné, está em curso uma tentativa da reconstrução das finanças locais, houve redução de efetivos militares e cortes na administração, como já se referiu. No entanto, há elementos da agricultura e da exportação que devem ser examinados com prudência. Na sua História da Guiné, René Pélissier chama à atenção para a entrada em vigor, em Julho, do Regime do Indigenato e comenta o seguinte: “Nesta época, segunda parece, os régulos e os chefes desempenham um papel intermediário muito apreciado pela Direção dos Assuntos Indígenas, sobretudo em país muçulmano. Compensam, assim, a redução do quadro administrativo, mas é claro que não são mais que a sombra do seu poder de outrora. O poder militar e político dos chefes indígenas está morto com a prisão de Abdul Indai, em 1919”. Em nota de rodapé, Pélissier relata o drama do régulo Monjur, do Geba. Em 1908, é um aliado cortejado pelo Governador Muzanty. Mas, em 1917, a Administração confiou já uma parte do Gabu aos seus inimigos. É reinstalado na plenitude das suas prerrogativas em 1918-1919. Se bem que cobiçado por certos membros da sua prolífica família, o seu poder é ainda suficientemente sólido para que Monjur seja solicitado para combater em Canhabaque, em 1925. Mas em 1927 é demitido e expulso do Gabu, ao tempo de Velez Caroço.

No seu relatório de 1927, o gerente da filial em Bolama debruça-se expressamente sobre a produção. O governo pretendera com a criação da Granja Agrícola e a Estação Pecuária transformar a produção na Guiné. O relator manifesta-se cético: “A riqueza da colónia ainda e apenas consiste na produção indígena, não nos desparece que a granja possua facilidades especiais de vulgarizar novos métodos culturais ou novas culturas entre os indígenas da ilha em que se instalou, quanto mais entre os de toda a colónia; e fomentadora da cultura de fazendas de administração europeia, parece-me colidir a sua ação contra um facto irremediável: a pobreza do solo da Guiné, que dificulta, se não proíbe, a organização de tais empresas. A Estação Zootécnica enferma das mesmas dificuldades com o prejuízo de ser a cultura pecuária restrita às regiões da colónia habitadas pela população Fula, e constituir uma daquelas verbas de exportação que, sendo úteis não são fundamentais, pelo que a sua criação não conta, sequer, para prevenir uma futura crise económica. A distribuição de sementes, talvez o único processo de fomento intensivo da produção, limitou-se este ano à mancarra recebida pelo Estado, trata-se de um quantitativo demasiadamente pequeno para produzir bons resultados. Se o Estado não aumentou a importância das coberturas da colónia quanto ao desenvolvimento da produção, também não diminuiu a sua utilização no que toca às suas despesas em pessoal, há um funcionalismo superabundante. Pelo contrário, a despesa alguma coisa aumentou desde o termo do governo do senhor Capitão António Saldanha, não só com a criação de lugares, mas especialmente com a chamada à colónia de funcionários em missão sempre cara”.

O gerente chama à atenção as medidas tomadas para aumentar as receitas, com o agravamento das pautas aduaneiras e o aumento do preço dos serviços. Houvera aumento de vencimentos, o governo da colónia devia sete mil contos, criara-se a contribuição industrial, era previsível que não podia ser muito pesada, os agentes económicos já estavam sobrecarregados com outras tributações. E questionava-se se os funcionários não iriam pedir um novo aumento de vencimentos tendo em conta a previsão do agravamento do custo de vida com todas as medidas que estavam a ser postas para aumentar as receitas. E manda um recado para Lisboa: “Salvo melhor parecer, talvez se esteja a governar um pouco com o espírito que dominou durante a época da desvalorização, durante a qual o comércio pagava a diferença de tributos com a diferença do valor das notas. Na época da desvalorização, o comércio não sentia o peso dos progressivos encargos; e o Estado enganado com a riqueza aparente das colónias, agravava sem cessar os impostos. O resultado foi muito grave. É certo que a dificuldade na obtenção de dinheiro já se nota, embora levemente".



Muda de assunto para alertar Lisboa sobre uma questão muito premente, o da mudança da capital para Bissau e tece o seguinte comentário:
“Se com essa mudança se fizerem todas as economias em pessoal que a transferência torna possível, certamente que, apesar daqueles aumentos, apesar da paralisação do desenvolvimento agrícola, larga margem ficaria para o fomento indispensável da colónia.
Este projeto, posto em discussão pública por uma mensagem da Associação Comercial e Comissão Urbana de Bissau, já o conhecem V. Exas. nos seus fundamentos, nos seus processos e nos seus objetivos, pois em devido tempo vos enviámos a mensagem citada.
Não pode deixar de notar-se que, se a transferência da capital se tivesse feito, acompanhada das respetivas economias, se se tivessem distribuído 500 toneladas de mancarra e se se tivesse deixado o comércio livre de mais encargos no momento decisivo da solução da sua crise, a transição do estado económico e financeiro da colónia teria sido quase resolvida. Se a situação não é isenta de cuidados, também não é isenta de esperanças. Oxalá estas se confirmem”.

No relatório do ano seguinte, de novo se notifica que o comércio bolamense se mantém anémico e por isso o que nos diz sobre a situação da praça é pouco lisonjeiro:
“O meio comercial de Bolama não tem tido variantes e portanto continua sendo o que já era há mais de dez anos. Não se regista nenhum movimento progressivo, nem tão pouco sombra de atividade capaz de reagir contra a inação que carateriza esta praça.
Nos meses de Fevereiro a Abril há um esboço de animação, mas que logo se extingue para todo o resto do ano. Mesmo nesse período de maior movimento ao balcão, só têm saída os artigos gentílicos, tais como panos, tabaco, aguardente, vinhos e pouco mais.
A casa portuguesa de maior reputação é a firma António Silva Gouvêa, Lda, mas cujo movimento, ainda assim, é incomparavelmente inferior ao que já tivera outrora. As restantes casas comerciais, excetuando as estrangeiras, limitam-se a importar cerveja e artigos de mercearia, alguns dos quais são adquiridos em Bissau, para revenda em Bolama. Nenhum destes pequenos comerciantes tem iniciativa e espírito de concorrência, o que faz com que todos vendam os mesmos artigos e nas mesmas condições. São medrosos e excessivamente egoístas. Só transacionam em artigos cujos lucros lhes estejam de antemão assegurados. A insuficiência de cultura, entre eles, também é coisa notável.
A praça de Bolama podia exportar muito coconote e óleo de palma, que vem dos Bijagós em dongos e outras embarcações costeiras, realizando lucros apreciáveis. Mas tal não acontece, porque o comerciante em Bolama não se sujeita a qualquer risco e, assim, mas compra o produto, vai vendê-lo imediatamente a quem lhe pague qualquer coisa acima do seu custo, e que, no geral, é sempre uma casa estrangeira que, estando subordinada à sua casa principal, em Bissau, para ali o manda em lanchas. É por este motivo que Bolama não figura, por assim dizer, no quadro das exportações, quando é certo que muitos géneros poderiam exportar, dando assim provas de vitalidade e de progresso”.

Anunciava-se, pelo relato económico, a decadência de Bolama, as razões invocadas pelos comerciantes que se tinham dirigido ao ministro das Colónias não surtiram efeito, a realidade impunha-se às conveniências de alguns. O relatório de 1929 irá confirmar estas péssimas previsões.

(Continua)
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Notas do editor

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