quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18318: Humor de caserna (41): Em dia de namorados: a história do Pequenitaites e outros camaradas avantajados... Ou quando os homens (e as mulheres...) não se medem aos palmos... (Virgílio Teixeira / Luis Graça)

Virgílio Teixeira, São Domingos, 1969
1. Comentário do Virgílio Teixeira, ex-alf mil SMS, CCS/BART 1933 (Nova Lamego e  São Domingos, 1967/69), hoje economista reformado, a viver em Vila do Conde (*)

Estou farto de me rir, até as lágrimas me caem pela cara. Faço ideia esses Cabucanos, não foi no tempo em que lá estive, ainda fui a Cabuca até fins de Fevereiro de 1968. Depois voltei lá em Outubro de 1984, mas não encontrei nada, a não ser uma Tabuleta à beira dum lago, a alertar da mosca TséTsé, pode este nome parecer-se com outras conotações mas não é.

Eu andava para falar do assunto, mas agora aproveito, e espero que não seja nenhum desses que participaram no concurso. Eu tinha em Nova Lamego um Furriel Algarvio, que me veio parar de paraquedas ao meu estaminé de trabalho. Não sei de onde veio, mas tenho algumas fotos com ele que um dia vou publicar, pois fazem parte de um álbum de recordações. Pois ele um dia, estávamos a conversar e a beber qualquer coisa, lá no Club de Nova Lamego. Ele lamentava-se, ele tinha ainda menos do que a minha altura, usava bigode e tinha ares de quem andava na zona. E disse-me mais ou menos isto: Que não conseguia ter relações com nenhuma rapariga, pois, exactamente como aconteceu ao Pequinitates, elas fugiam, ele disse que tinha um instrumento que era uma aberração e tinha imensos complexos por causa disso. Nunca confirmei tal facto, pois não era médico nem psicanalista, nem tinha interesse em ver a sua ferramenta.

Li num livro, que aliás recomendo a todos, do autor Manuel Arouca que se chama ' Deixei o meu coração em África' que narra a história de um Pelotão Daimler que foi destacado para Guilege 'A terra da morte', como lhe chamava o autor do romance, mas com realidades que eu encaixava perfeitamente, por me parecerem reais, muitas delas, em especial no que tocava a beber muito. Tinha lá também um 'probe xoldado' lá do Sul do lado de lado Tejo, e que tinha esse problema, até tinha casado antes de ir para a Guiné e a mulher ficou tão traumatizada, que nunca mais o quis ver. 

Ela acabou por se enrolar com um ex-fuzileiro enquanto ele estava na Guiné, e a sorte dele foi também bem pior, acabou por se suicidar com o desgosto da mulher porque acabou por saber tudo. Não vou alimentar mais este assunto, mas vale a pena ler este livro porque é para rir a bandeiras despegadas, por cenas inimagináveis.

Um bom dia de namorados para todos,

Virgilio Teixeira


2. Comentário do nosso editor LG (*):
Luís Graça > Bambadinca, 1970


Meu caro Zé Ferreira, grande escritor do "pícaresco"...

O  teu poste ganhou o prémio do melhor "cegada" da 3ª Feira Gorda de Carnaval... Confesso que também eu não consegui conter o riso, ao ler (e imaginar) as "cenas" dos dois concursos... 

Como é Carnaval, ninguém leva a mal. O Carnaval é, de resto, desde tempos imemoriais, a transgressão, o desregramento, o excesso, o não-senso... E depois os nossos leitores não são propriamente "meninos de coro"...Tu tens o grande talento de saber pegar... no "material" com potencialidades humorísticas e construir com ele uma pequena grande história.

Só tu na nossa Tabanca Grande, mais o "alfero Cabral", têm o dom ou o sentido do burlesco (que há/havia nas situações de guerra como a nossa...). Por burlesco, entenda-se "aquilo que incita ao riso por ser ridículo"... 

Na realidade, a história do Pequenitaites só vem confirmar "a teoria de que os homens não se medem aos palmos", por um outro lado, e de que "ser o mais avantajado, pode nem sempre ser uma vantagem em termos evolucionários", por outro...

Não tenhamos pudor de contar coisas aparentemente tontas como estas ("Concurso da Mama Firme", "Concurso... de piças") ou outras ainda mais "estúpidas", que se faziam no CTIG, nas nossas casernas dos nossos "campos de concentração"(que eram, afinal, para todos os efeitos, os nossos aquartelamentos...). 

Foi o sentido do burlesco que, de certo modo, nos ajudou a salvar a nossa sanidade mental no TO da Guiné...

O problema é que poucos de nós têm o talento do Zé Ferreira de saber contar estas históricas pícaras sem cair... no ridículo, no mau gosto ou no "hard core"! (**)
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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 21 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16864: Humor de caserna (40): Granadas, loiras e inofensivas, apreendidas no Aeroporto de Lisboa (José da Câmara, ex-Fur Mil)
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Guiné 61/74 - P18317: Bibliografia de uma guerra (86): “Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre; Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017 (4) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,

Não é de mais insistir, ao findar estas notas de recensão, que se trata de um estudo profundíssimo, rigoroso, porventura o melhor pano de fundo que possuímos na historiografia portuguesa contemporânea sobre a política externa portuguesa no pós-guerra face aos novos ventos da História - o surto independentista que se difundiu nos grandes e pequenos impérios coloniais.

Trata-se de uma organização admirável dos principais factos, respostas, hesitações, manobras de adiamento, quebra de alianças, informações alarmantes que chegavam ao Estado Novo por via de vozes autorizadas. Tudo em vão, a doutrina era inflexível, ou tudo ou nada, "a pátria não se discute". É neste ecrã de 15 anos de espera e turbilhão que em 1961 eclode a guerra colonial que levou o regime urdido por Salazar ao fundo. Demorará décadas a aparecer ensaio tão qualificado como este de Valentim Alexandre.

Um abraço do
Mário


Contra o vento: uma obra-prima da historiografia portuguesa (4)

Beja Santos

“Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre, Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017, é indubitavelmente um dos principais acontecimentos da edição historiográfica de 2017.

O investigador Valentim Alexandre tem sobejas provas dadas na área da história colonial, este seu opulento (e a partir de agora incontornável) levantamento é o fecho de abóbada, a consagração da sua carreira. Passamos a dispor, a partir deste trabalho, de uma sequência bem articulada para a cronologia os principais eventos que contextualizam o Império Português no pós-guerra, ressaltando a primeira ameaça, a crise de Goa (1954-1955), segue-se a pormenorização dos dados da grande veja da descolonização e a resposta dada pelo Estado Novo: o luso-tropicalismo – a política indígena, uma incipiente industrialização, as formas precárias de deslocação da população branca, nomeadamente para colonatos, a ONU como a principal arena a confrontar o império português, os atritos com o Vaticano, a reorganização dos dispositivos militares; e a manutenção das inquietações no Oriente, um tanto à semelhança de que ocorrera no decurso da II Guerra Mundial, mas agora fruto das descolonizações: Goa, Macau e Timor, devido ao aparecimento da União Indiana, da República Popular da China e da República da Indonésia.

Este último apontamento passa em revista, no período compreendido entre 1955 e 1960, como se procuravam superar riscos, ameaças e tensões no Oriente (Goa, Macau e Timor) e ter em consideração a matérias das conclusões apresentadas pelo autor.

Quanto a Goa, a diplomacia portuguesa sentia que já pouco podia contar com a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. No encontro entre Foster Dulles e Paulo Cunha, o Secretário de Estado norte-americano recordou ao Ministro dos Negócios Estrangeiros português a posição do país em relação ao colonialismo: direito à independência, evitando-se a todo o transe independência prematuras para quem ainda não estivesse preparado para assumir as inerentes responsabilidades.

Em 1956, Salazar prepara um documento para o Conselho de Estado, não ignora que no Conselho Legislativo goês, a maioria dos membros eleitos constituía uma verdadeira oposição ao governo. Silva Tavares, Secretário-Geral do governo da Índia enviará uma carta a Sarmento Rodrigues onde escrevera:

“Continuo a pensar que a ideia da integração é impopular. Porém, não se pode inferir que todos sejam pela unidade com Portugal. Desde os partidários de uma restrita autonomia até aos partidários da independência e aos que só sentimentalmente gostam de falar em autonomia sem no fundo a desejarem, há as mais variadas cambiantes”.

Salazar sublinhou esta frase. Orlando Ribeiro também elaborou um extenso relatório sobre a sociedade da Índia Portuguesa, documento bastante pessimista: Goa aparecera a seus olhos “como a terra menos portuguesa de todas as que vira até então, menos portuguesa do que a Guiné”.

E, mais adiante:

“Ao contrário da África portuguesa, onde há o maior cuidado em empregar expressões como Metrópole e metropolitano, em Goa opõe-se esta província a Portugal e o Goês cristão opõe-se a português. É corrente sermos assim designados por gente muito próxima de nós na fala e nos usos, mas alheia ao nosso sentido de pátria. Pátria para o Goês é Goa”.

Valentim Alexandre detalha a evolução das tensões, a euforia efémera da sentença do Tribunal Internacional de Haia no processo interposto por Portugal contra a União Indiana em 1956, por alegada violação do direito de passagem entre Damão e os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, dando razão a Portugal. A vitória durou pouco tempo, em Dezembro de 1960 as resoluções da Assembleia Geral da ONU sobre a “outorga da independência aos países e aos povos coloniais” constituíram um momento de viragem, as posições coloniais tinham os dias contados.

O autor igualmente explica como a política da República Popular da China assegurou temporariamente a posição portuguesa em Macau, mesmo sujeita a restrições e todo o processo timorense é detalhado.

 Atenda-se ao valor das conclusões desta vastíssima obra. Tendo saído indemne da II Guerra Mundial, o regime sabia que a ordem internacional estava radicalmente alterada, o sopro anticolonial não só rapidamente se espalhara pela Ásia, era ínsito à Carta das Nações Unidas e constituía elemento de referência nas políticas norte americana e soviética.

Portugal começa por não estar isolado na conceção da independência às colónias, mas deu-se uma evolução nas políticas britânica e francesa, os seus impérios desagregaram-se. Numa tentativa de atualização, o Estado Novo substitui as colónias por províncias ultramarinas, procura ir abolindo o conceito de indígena e do trabalho forçado, como o autor observa:

“Fruto da Repressão e da ausência de liberdades, a pax lusitana era um dos temas prediletos da propaganda do regime, que nela via a comprovação da excelência da colonização portuguesa e da sua especificidade”.

Dá-nos conta da ameaça que impendia sobre Macau e quanto a Goa, Lisboa recusava a mínima cedência de soberania, quais que fossem as garantias de respeito pelas identidade de Goa e pela influência cultural nela exercida pela metrópole.

Chegados a 1955, ninguém na cúspide do Estado Novo ignorava as crescentes ameaças que se avolumavam sobre o império. Até 1958, prevalecia a noção de que sob os territórios de África era um perigo a longo prazo. Subitamente, esfumou-se a ilusão. O regime procurava remoçar a mística imperial, confortar a tese da especificidade de Portugal como nação pluricontinental, foi alimento para consumo interno.

Perante um perigo iminente de diferentes contestações dos movimentos independentistas, o regime monolítico procurou modificar as forças armadas e a PIDE passou a ter muito mais trabalho em África. No campo da política interna, Salazar nunca aceitou hipóteses de entendimento com grande parte da oposição que até poderia ter cooperado numa frente comum na defesa do Ultramar. O mais longe que Salazar quis ir constou na sua aceitação de um plano de reformas, mostrou-se aberto a modificações da estrutura administrativa do Império, como sempre tudo muito lento e aferrolhado.

E assim termina este valiosíssimo trabalho:  

“Só o abalo produzido pelo início da Guerra Colonial, em 1961, dará o impulso necessário a reformas de fundo, com a abolição legal do indigenato e do trabalho forçado. Ainda em 1959-1960, avultam, mais do que o reformismo, o acréscimo da repressão, com as vagas de prisões, nomeadamente em Angola, e os massacres, na maior parte já com intervenção das Forças Armadas, que então marcam a vida das colónias portuguesas do continente africano, bem como Timor. Longe de se contraporem, reforma e repressão não passavam de duas faces das mesma política, tendente a preservar a soberania nacional sobre o Império – como os tempos iniciais da guerra em Angola, em 1961, tornariam evidente”.

Esta notável investigação é de leitura obrigatória, como se depreende.
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Notas do editor:

Vd. postes anteriores de:

10 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18198: Bibliografia de uma guerra (82): “Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre; Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017 (1) (Mário Beja Santos)

17 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18221: Bibliografia de uma guerra (83): “Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre; Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017 (2) (Mário Beja Santos)
e
24 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18246: Bibliografia de uma guerra (84): “Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre; Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017 (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 31 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18271: Bibliografia de uma guerra (85): “O céu não pode esperar”, por António Brito; Sextante Editora, 2009 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18316: Manuscrito(s) (Luís Graça) (138): a vida são dois dias e o carnaval são três


Foto e texto: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [. Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


CARNAVAL

por Álvaro Campos / Fernando Pessoa

A vida é uma tremenda bebedeira.
Eu nunca tiro dela outra impressão.
Passo nas ruas, tenho a sensação
De um carnaval cheio de cor e poeira...

A cada hora tenho a dolorosa
Sensação, agradável todavia,
De ir aos encontrões atrás da alegria
D'uma plebe farsante e copiosa...

Cada momento é um carnaval imenso
Em que ando misturado sem querer.
Se penso nisto maça-me viver
E eu, que amo a intensidade, acho isto intenso.

De mais... Balbúrdia que entra pela cabeça
Dentro a quem quer parar um só momento
Em ver onde é que tem o pensamento
Antes que o ser e a lucidez lhe esqueça...

[...] Julgo-me bêbado, sinto-me confuso,
Cambaleio nas minhas sensações,
Sinto uma súbita falta de corrimões
No pleno dia da cidade (...)

Uma pândega esta existência toda...
Que embrulhada se mete por mim dentro
E sempre em mim desloca o crente centro
Do meu psiquismo, que anda sempre à roda...

E contudo eu estou como ninguém
De amoroso acordo com isto tudo...
Não encontro em mim, quando me estudo,
Diferença entre mim e isto que tem

Esta balbúrdia de carnaval tolo,
Esta mistura de europeu e zulu,
Este batuque tremendo e chulo
E elegantemente em desconsolo...


[...]

Excertos “Carnaval” in: Álvaro de Campos - Livro de Versos . (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, pp. 81/82.




A vida é um entrudo chocalheiro

por Luís Graça

A vida é um teatro,
A vida é um anfiteatro grego antigo,
A vida é um jogo de máscaras,
A vida é ora tragédia, ora drama, ora comédia,
A vida é representação e transgressão...
... Mas nunca digas que a vida é uma merda!

Representas múltiplos papéis no teu palco, 
enquanto a vida flui, do nascer ao morrer. 
Papéis que tu escolhes, uns,
e outros que te impõem. 
Quem é o encenador ?
Quem escreve o guião ?
Quem te faz a máscara, a tira e a põe?
E o chocalho, para não te perderes no teu mundo imaginário ?
Às vezes és ator, canastrão,  
e vaidoso dono da ribalta e do proscénio e do cenário,
outras, mero e reles figurante.

Representas diversos papéis, bem ou mal mascarado,
ora emboscador, ora emboscado,
ora presa, ora predador,
ora herói, ora vilão,
ora sedutor, ora apanhado,
ou simples gato e rato.
Muitas máscaras chegaram-te até aos dias de hoje:
 a "toga" do senhor juiz, "cego, surdo e mudo", 
que decide da tua vida e da tua morte; 
o "capuz" do carrasco, que te enforca; 
o "traje académico", na universidade, 
separando o sabichão do mestre do pobre aprendiz; 
o "camuflado", 
"farda" militar, que te impõe a unidade de comando-controlo 
e a hierarquia entre os combatentes,
na tropa e na guerra;
os "paramentos" do celebrante da missa cristã, o sacerdote, 
as "vestes" do feiticeiro, 
ambos fazendo a ponte entre dois mundos 
que, só por magia, ou pela fé, se tocam, 
a terra e o céu, 
o sagrado e o profano; 
ou ainda a "bata branca" do médico ou da enfermeira, 
que não é apenas uma peça de vestuário de trabalho,
ou o "título" que te eleva até ao trono ou ao altar,
mostrando a tua cabeça alguns centímetros acima da multidão.

Das máscaras do terror do passado 

às máscaras de hoje 
que te ajudam a exorcizar o medo de viver e morrer, 
ou a virar o medo do avesso, 
como diria o poeta Miguel Torga,
o medo que é inerente à condição humana, 
a do "homem sapiens sapiens",
no terror do tsunami,
no absurdo da guerra,
no estertor da morte...

Mas a máscara também está associada à festa, à terra,
aos tambores, à gaita de foles, aos chocalhos, 
ao pão, ao queijo de ovelha e de cabra, 
aos enchidos, ao vinho... 
Porque não há festa sem o pão 
e o vinho e a música,
a  transgressão, 
o entrudo,
o carnaval,
o terreiro,
esse fantástico chão que foi e ainda é o teu chão,
de Trás-os-Montes ao Algarve,
e os caretos de Podence, Grijó e Lazarim..,
Sim, a vida é um entrudo chocalheiro,
a vida são dois dias,
e o carnaval são três...

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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18315: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (25): o fotógrafo e as suas "máscaras"):



Foto nº 1 > Semelhanças: dois "periquitos"


Foto nº 2 > Um fotógrafo atento...


Foto nº 3 > Máscara (1)



Foto nº 4 > Máscara (2)


Foto nº 5 > Máscara (3)


Foto nº 6 >  No mato (1)


Foto nº 7 > No mato (2)


Foto nº 8 > Exercício matinal  junto ao "Solar do Gringo", a morança do alf mil inf António Octávio da Silva Neto  


Foto nº 9 > Com 66 kg (1)


Foto nº 10 > Com 66 kg (2)

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 (1972/74) > 1973 > O fotógrafo... fotografado


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mais fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar,  1973, até agosto) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Stor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)


Lisboeta, tem raízes na Lourinhã, pelo lado materno. Durante a sua comissão no CTIG foi sempre um apaixonado pela fotografia... Mas também se deixou fotografar. Ei-.lo aqui com as suas diversas máscaras, e algumas de sofrimento (fotos nºs 9 e 10).
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18213: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (24): ronco balanta em Cufar, a festa de circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos')

Guiné 61/74 - P18314: (Ex)citações (328): Regresso de Iemberém, viagem até Bissau, das 3h às 10h da manhã... O Pepito continua no coração de muita gente do Cantanhez... Estive em Guileje, no dia 7. É sempre com emoção que ali paro... Mando-vos cinco fotos em homenagem a todos aqueles de vós que ali muito sofreram (Anabela Pires)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica.Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também conhecida por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG..

Em segundo plano, vê-se o nicho que ao tempo da CCAÇ 3477 (1971/77), "Os Gringos de Guileje", abrigava a  imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres. A CCAÇ 3477 era, na alturam, comandada pel cap mil Abílio Delgado, nosso grã-tabanqueiro.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Era a aqui a porta de armas, com a passadeira VIP feita com garrafas de cerveja dando acesso à pista de aviação, ao tempo da CCAÇ 3325 (Jan 1971/Dez 1971), "Os Cobras de Guileje", de que era comandante o cap inf Jorge Parracho.


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Pormenor da passadeira VIP feita com garrafas de cerveja...


Foto nº 4 > > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guildje > Interior da capela, da CART 1613 (1967/68), entretanto  renascida das cinzas, graças ao empenho da população local, da AD, do Pepito e do Domingos Fonseca, e da boa vontade de alguns velhos tugas, o "grupo de amigos da capela de Guileje", com o apoio do Blogue Luís Graça & Canmaradas da Guiné. A data da sua inauguração oficial foi 20 de janeiro de 2010 (com a presença de nossa amiga Júlia Neta, viúva do Zé Neto, entre outra gente ilustre)... Guileje voltou a ser um local de paz, de fé, de solidariedade, de (re)encontro, de ecumenismo, de esperança.  Não sabemos se tem sido utilizado mais vezes em atividades de culto. Em 2010 foi consagrada pelo bispo de Bafatá.

A imagem de Nossa Sra de Fátima foi oferecida e trazida, em março de 2010,  pelos nossos camaradas e grã-tabanqueiros António Camilo e Luís Branquinho Crespo,


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de  Tombali > Guileje > Núcleo Museológcio Memória de Guiledje > A placa original, restaurada, que estava afixada na parede da capelinha, ao tempo da CART 1613 (1967/68), "Os Lenços Verdes", comandada pelo cap art Eurico Corvacho (falecido em 2011).

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 7 de fevereiro de 2018 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje

Fotos: © Anabela Pires (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1, Mensagem de Anabela Pires, com data de ontem, às 19:00:

[Anabela Pires, janeiro de 2012, em Catesse, no sul da Guiné-Bissau, foto acima,  de Pepito... Nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; está lá de novo, desde 18 do corrente; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]

Caro Luís,

Só hoje [, dia 12,]  ao chegar li o teu email em que me pedias para saber notícias do pai da Alicinha e do seu avô (*). Foi uma pena mas na noite anterior à partida deitei-me bem cedo e nem computador levei para Iemberém. 

Consegui lá chegar [, a Iemberém,] e regressar sã e salva! Fiz parte da viagem de autocarro e para cá de 7place (tipo táxis coletivos) e o resto num jipe que está em Iemberém - fizeram o favor de me ir buscar e levar a Quebo pagando eu somente o gasóleo. 

Foi um regresso muito emotivo mas que eu precisava de fazer para encerrar o capítulo que tinha sido suspenso pelo Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 e depois com o desaparecimento do nosso tão estimado Pepito deste mundo.

Penso que para as pessoas de lá também foi reconfortante saberem que, apesar de eu só lá ter estado 3 meses,  regressei para as visitar. Como podes imaginar,  o Pepito esteve sempre presente nas nossas conversas. É daquelas pessoas que,  mesmo não estando fisicamente,  estão sempre nas nossas memórias e nos nossos corações e, quando digo "nossos",  refiro-me também a muitas, muitas pessoas de Cantanhez. 

Hoje estou muito cansada (saí de Iemberém às 3 horas da manhã e cheguei a Bissau às 10 - a estrada de Quebo até Guileje está muito pior do que há 6 anos!) mas quero dizer, a todos aqueles que aqui muito sofreram na guerra colonial, que faço sempre uma paragem em Guileje, em vossa homenagem.

Vou sempre à capelinha que,  embora tenha agora por fora um ar muito abandonado, mantém a imagem de Nossa Senhora intacta. Quero dizer-vos que fico sempre encantada com o "passeio" feito de garrafas de cervejas enterradas e que ainda se mantém em muito bom estado (bem hajam por não terem partido e espalhado todo aquele vidro!). É sempre com grande emoção que ali paro. 

Aqui há uns meses li, por acaso, um livro chamado "Deixei o meu coração em África", de Manuel Arouca (só o consegui comprar na Internet) cujo cenário principal é exatamente Guileje na época da guerra. Esta leitura só aumentou o meu desejo de regressar. Tenho a certeza de que muitos de vós gostarão de o ler. 

Por hoje só vos envio 5 fotos que tirei agora em Guileje. (**)

Um enorme abraço para tod@s,
Anabela Pires
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P18313: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (48): Clube de Cabuca



1. Em mensagem do dia 3 de Fevereiro de 2018, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais uma memória boa da sua guerra, desta vez não dele propriamente dita mas do Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil da 2.ª CART/BART 6523.


MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA

48 - Clube de Cabuca
 
Sempre que eu e o camarada Ricardo Figueiredo comentamos as “Memórias boas da minha guerra”, ele fala da sua vivência no “Clube de Cabuca “(73/74), onde tudo de bom acontecia, com sério destaque para o caso da Rádio “No Tera”.

Agora, que tive conhecimento desse período admirável, vejo-me na agradável obrigação de registar este pequeno contributo para a História Colectiva da Guerra do Ultramar.

A todos os obreiros daquele louvável trabalho, presto a minha singela e devida Homenagem!

Os militares da 2.ª CART/BART 6523, logo que instalados em Cabuca, destacaram-se pelo seu espírito de camaradagem e solidariedade.



No “Clube de Cabuca”, os seus esforçados associados  assumiram a criação do Jornal, da Biblioteca, da “Tele-Escola” e de muitas actividades de desporto e recreio. Todavia, foi a criação da rádio “No Tera” que teve mais impacto junto dos militares da 2.ª CART.  “Os Abutres”.

Extracto de um texto publicado no Jornal “ O Abutre” 


“Parece-me mentira mas é pura verdade. 
Eu que ando nestas andanças desde 1961 e tendo cumprido duas comissões em Moçambique e uma em Angola, sempre estive no mato integrado em Companhias Operacionais, nunca encontrei um punhado de bons rapazes que em vez de pensarem em si próprios, pensam antes de mais nada nos outros, que, por motivos vários, não tiveram a felicidade de poderem ir mais além na sua cultura. Pois graças a esse punhado de rapazes, que arregaçaram as mangas e sem olharem a sacrifícios de toda a ordem, especialmente pelo isolamento em que vivemos, esses rapazes, dizia eu, já puseram a funcionar aulas para a 4ª Classe e Ciclo Preparatório, uma Biblioteca onde já temos um número de livros muito engraçado e onde todos nós podemos requisitá-los para melhor passarmos os nossos momentos de ócio e iremos ter um Jornal diário do Porto, Jornal de Notícias (não esquecer que 60% do pessoal é nortenho), e três vezes por semana o Jornal A Bola. Montaram um Posto Emissor Interno, que quando só podemos estar nos respectivos abrigos nos proporciona umas horas de boa música, um Campeonato de Futebol inter-Pelotões e ainda o nosso jornal “O Abutre”.

Foi só isto que este punhado de rapazes já fizeram, e segundo parece ainda não querem parar por aqui….”

Adelino A. Monteiro
1.º Sarg. Art.

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Rádio “No Tera” 

GoodMorning Vietnam!

Quem não se lembra deste filme de sucesso, parodiando peripécias da guerra dos americanos em terras do Vietnam? Para nós, os ex-combatentes, este filme sobre a guerra despertou-nos, desde logo, alguma e evidente curiosidade.


Foi o grande actor Robin Williams quem deu vida a esta intervenção permanente junto dos militares, através de uma estação de rádio instalada em Saigão. Embora o filme tenha sido realizado em 1987, o seu enredo diz respeito ao período de intervenção militar entre 65 e 67. 

O que ninguém se lembra é que, quase na mesma altura, na Guiné e, também, em teatro de guerra, se viveram grandes momentos de paródia guerreira, relatados na Rádio “No Tera”.



O seu grande dinamizador foi o despromovido Carlos Boto, que, condenado disciplinarmente, cumpria a sua 3ª comissão de serviço.

Foi ele quem pediu ao Cap. Vaz o aparelho de rádio RACAL que, devidamente afinado, passou a transmitir em onda curta 25 M, nas bandas dos 12.900 e 13.700 KHZ/s. Transmitia ainda em 31 M na banda dos 9.200, na onda marítima e na onda média.

A rádio era liderada por Carlos Boto (Produção, Direcção e Montagem), e contava com a colaboração de Zé Lopes (Discografia),Toni Fernandes (Sonoplastia), Arménio Ribeiro (Exteriores) e Victor Machado (Locução).



- Ráaadiiiooo… “No Tera”!!! … Boa Tarde… Cabuca! – gritava repetidamente o locutor de serviço, logo após a entrada do sucesso musical - Pop Corn (https://www.youtube.com/watch?v=mBDgfBunNyc). E anunciava:
- Já de seguida: - Múuusicaaa na picadaaa - programa de discos pedidos.
- Mais logo, depois do noticiário das 21,00, teremos: - Resenha desportiva
- E a partir das 22.00: - Concurso surpresa.


Repórteres da Rádio "No Tera" entrevistam o Furriel Quim Fonseca, responsável pela habitual celebração/transmissão da Missa Dominical em crioulo

A Rádio “No Tera” era um orgulho para todos os Cabucanos, incluindo os seus verdadeiros indígenas. Toda a gente acompanhava a Rádio e nela colaborava dentro das suas possibilidades.

A rádio PIFAS, sediada em Bissau, que cobria todo o espaço militar guineense, chegou a fazer referências de elogio ao bom desempenho da Rádio “No Tera”.

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Concurso polémico

Durante uns dias, a rádio anunciou o “Concurso Mama Firme”. Esperava-se, desta forma, classificar e premiar as medidas peitorais das mulheres Cabucanas. Diga-se de passagem que a tropa se esforçou imenso para que as suas conhecidas, especialmente as suas lavadeiras, ali viessem expor o seu porte. O Carlos Boto, que fora o promotor da ideia, esteve quase a levar um enxerto de porrada do corpulento milícia Jeremias, devido às insistências junto de sua mulher.

Quem também não gostou da ideia, foi o Chefe de Tabanca Mamadu, que lembrou os radialistas de que às mulheres de Cabuca estava vedada a participação em concursos de beleza. E justificou:
- Poderíamos premiar a beleza interior porque somos nós que a fazemos e não a beleza exterior, porque essa é um produto de Deus.

Decepcionados pelo fracasso, os promotores da iniciativa, reunidos de emergência, resolveram considerar a informação do Chefe de Tabanca e alterar para um “Concurso de …Piças”.

Naquele dia, a emissão da rádio abriu excepcionalmente às 15H00, por forma a poder publicitar massivamente a forçada alteração do concurso anunciado.

Foi no refeitório, por volta das 17,30, que se iniciou o evento. Para começar, ninguém queria mexer em piça alheia. Teve que ser o Oficial Dia, António Barbosa, a assumir a função de Juiz Árbitro, Decididamente, sacou a faca de mato e traçou sobre a mesa uma linha para servir de medida limite para admissão ao concurso. E avisou:
- Quem não chegar ao traço, fica logo de fora e quem o ultrapassar mais, ganhará uma garrafa de whisky.

Não levou muito tempo a que aparecessem alguns a “experimentar” a medida. Porém, não satisfeitos, voltavam para trás, e exercitavam-se a “tocar ao bicho”, na esperança de que ele crescesse de forma satisfatória. Aliás, ninguém abdicou de se exercitar ali…descaradamente. Numa das mesas viam-se o Matosinhos, o Carvalho e o Maia em acção, ao mesmo tempo que olhavam afincadamente para a mesma revista… erótica.

Quem não se desenrascava era o Zé Faroleiro, cuja fama e porte de machão eram bem conhecidos. Por mais festas que fizesse ao animal, não conseguia despertá-lo.
- Ó filhos da puta! Badalhocos!!!– gritou o Vagomestre, surgindo dos lados da cozinha. E acrescentou:
- Não tendes vergonha de sujar a mesa onde comeis, com pintelhos e pingos??? Francamente!!!

O concurso ficou pontualmente suspenso, precisamente quando havia algumas dúvidas quanto ao vencedor. Furioso, o Vagomestre chamou o básico Pequenitaites, ajudante da cozinha:
- Ó Faxina, vem cá. Traz um pano húmido e limpa esta mesa.

Quando este se aproximou, tomou conhecimento das medidas que apontavam para o possível vencedor. De repente, exclamou:
- Se é assim, eu podia ganhar!

A gargalhada foi geral. Mas o básico aproximou-se e, um tanto envergonhadamente, abriu a braguilha, sacou o marmanjo e, meio encoberto pelo pano da limpeza, pousou-o sobre a mesa.

Como o Pequenitaites parecia que não atingia a medida maior, logo alguns intervenientes (os mais avantajados) tentaram afastá-lo. Porém, o básico subiu para um pequeno tijolo de barro para poder chegar com os testículos ao tampo da mesa e poder competir em condições de igualdade.
- Ei pá!!! Foda-se!!! Mas que grande piça!!! – exclamaram abismados, os presentes.

Todas as outras murcharam e… ficaram desclassificadas.

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Notas:

1 - A Rádio “No Tera” veio a ser suspensa por ordem do Capitão Vaz. Quando esteve programada a visita de Spínola a Cabuca, a Rádio “No Tera”, além de anunciar essa deslocação do Governador-Geral da Guiné, incentivava os militares a limparem as instalações e a esmerarem-se na sua apresentação. Ora, como é de calcular, esta incúria foi manifestamente prejudicial em termos de segurança e bastante comprometedora junto das Forças Inimigas.

2 – Doze anos depois do regresso, o Ricardo Figueiredo teve a oportunidade de saber da boca do Pequenitaites que o tamanho do seu pénis só lhe trouxera dissabores. Confessou-lhe que as namoradas se assustavam e que a mulher que mais amara trocou-o por um lingrinhas que era conhecido por “Pilinha de Gato”.
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18251: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (47): O Zé Manel de Mampatá - Poeta da Régua (2)

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18312: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 26 (O primeiro castigo no mato) e 27 (O paludismo)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > O 1º cabo cond autor José Claudino da Silva, ostentando um bigode que não era "regulamentar"...

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda]

Nasceu em Penafiel, em 1950, foi criado pela avó materna, reside hoje na Lixa, Felgueiras. Tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado. Tem o 12.º ano de escolaridade. 

Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção). Tem página no Facebook: é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante.  É membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

Sinopse:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;
(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,

(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772;

(viii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(ix) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(x) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(xi) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xii) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda;

(xiii) ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogram as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xiv) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xv) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 26 e 27


[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


26º Capítulo  > O PRIMEIRO CASTIGO NO MATO 

[O capº 25 -  As Mensagens Natalícias - já aqui foi reproduzido em poste de 22 de dezembro último (**)]

No dia 25 de Abril de 2017, para comemorar o dia da liberdade, fui convidado a discursar, perante uma plateia onde até deputados do parlamento europeu marcaram presença, além de outras ilustres figuras da política, da arte e da cultura de Portugal. As minhas primeiras palavras foram: - Olho para vós e tenho a sensação de que estou ao mesmo nível de todos. É isso que nos permite a democracia. Sermos todos iguais.

No dia 25 de Outubro de 1972, o 1º cabo condutor, (éramos dois) encarregado da cantina, soube qual o castigo que apanhou: 10 (DEZ) dias de detenção.

As funções dele eram a de servir os camaradas com os produtos existentes na cantina e também a população civil. Não me perguntem porquê, mas regras ditavam que na cantina não se podia estar com a cabeça tapada. Em contrapartida, fora da cantina não podíamos andar de cabeça destapada.

Querem saber qual foi o crime? O 1º cabo exigiu a um dos senhores Alferes que tirasse a boina da cabeça. Fez isso sem estar em sentido e sem pedir por favor. O senhor Alferes participou o sucedido ao comandante que, muito ao jeito dos militares, ajuizou e condenou o pobre 1º cabo.

Parece-lhes ridículo? Eu já tivera um castigo na Metrópole, embora muito mais leve, por assobiar. Enchera 20 flexões.

O meu colega estava-se nas tintas para os 10 dias de detenção; tínhamos sido todos condenados a um exílio, num presídio penitenciário, por dois anos, só que o castigo impedir-nos-ia, no caso de o pretendermos, passar o mês de férias a que tínhamos direito, ao fim de um ano de comissão, na Metrópole.

Não será necessário afirmar que a disciplina, mesmo naqueles confins do mundo, era duma exigência tal que torturava. Admito que com o decorrer do tempo foi aliviando um pouco mas, nos primeiros meses, até formatura diária era obrigatória, com o uniforme completo e a barba feita. Arrotava-se de náusea.

Como já frisei, tinha deixado crescer bigode, porém, como na foto da caderneta militar tal não constava, fui obrigado a cortá-lo ou teria de fazer um requerimento superior.

Aproveito para lhes contar um caso divertido, precisamente com a caderneta. Não podendo usar bigode, interroguei o capitão se podia ter a altura que tenho, ou se deveria usar a que a caderneta mencionava. É que eu meço um metro e setenta e seis e na caderneta consta que meço um metro e meio. Não me proibiu de usar a minha altura real.

Juro que nos encontros anuais de ex-combatentes, já me apeteceu enfiar um barrete na cabeça do ex-alferes mas ele iria dizer-me que eram outros tempos e só cumpriu ordens. Era assim, por muito estúpidas que as ordens fossem.


27º Capítulo  > O PALUDISMO


Não acreditei minimamente no que tinha escrito quando, após estes anos, li que tinha passado de 63 para 58 quilos em quatro dias e acreditei menos quando também li que tinha atingido 41 graus de febre.

Está ali escarrapachado na carta:

“Apanhei o paludismo, nem tenho forças para escrever! – Não digas à minha avó” - dizia eu.

Dois dias depois, já pesava apenas 56 quilos. Isto estava a ficar complicado.

Acreditem que já vários colegas que tinham estado com essa doença, alguns dos quais, como também já vos disse, por serem analfabetos era eu que escrevia por eles, me proibiam que dissesse aos familiares, principalmente pais, algo que fosse grave e que os pudesse afligir.

Tínhamos consciência de que eles nada poderiam fazer para nos ajudar,  por isso, para quê atormentá-los com os nossos problemas?

Era, pois, natural que até nesse aspecto tenhamos aprendido a contar com a lealdade de uns para com os outros, e, mais uma vez, tive sorte.

O Leal e o Moreira cuidaram de mim, alimentando-me o melhor que puderam. Também o Lopes, enfermeiro, dos poucos alentejanos da companhia, que desviava vitaminas para mim e me obrigava a tomar MILO. No batalhão, tínhamos um excelente médico que vinha de 15 em 15 dias, e enfermeiros que faziam da sua profissão uma missão de coragem, de abnegação e sacrifício, em nome de todos nós. Enfermeiros que participavam nas operações no terreno, que além das armas e munições, para sua defesa, tinham de carregar a pesada mochila de medicamentos e que, em caso de ataque, pura e simplesmente não se podiam abrigar, pois tinham de socorrer os feridos. Eram esses os nossos anjos brancos, embora nos tratassem com o camuflado vestido. 

O paludismo não me venceu nem a nenhum dos soldados da companhia. Recordo que até esta data dois colegas já tinham sido evacuados por contraírem hepatite. Dizia-se que tinham feito de propósito para adoecerem. Não acredito

Agradeço aos meus amigos e à magnífica equipa de saúde da minha companhia que, por vezes, e em circunstâncias extremas, socorreram e trataram, com uma sensibilidade fora do comum, todos, e creio que fomos mesmo todos, que em algum momento daqueles dois anos precisaram dos seus serviços. Ficámos a dever-vos ser mesmo muito amigos.

[Continua]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18280: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 23 e 24: A partir de outubro de 1972, aumentei a requisição (quinzenal) de cervejas: de 5 ml para 6 mil... Por outro lado, fiquei chocado quando pela primeira vez ouvi dizer que éramos colonialistas...

(**) Vd. poste de 22 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18122: O meu Natal no mato (43): as mensagens natalícias de 1972, gravadas pela RTP a 23 de outubro... E se a gente morresse, entretanto ?...Como não tinha pai nem vivia com a minha mãe ou com os meus irmãos, tive de dizer “querida avó” e mais umas balelas obrigatórias... (José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)



Guiné 61/74 - P18311: Notas de leitura (1040): “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes; Chiado Editora, 2015 (4) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,
Chegou o momento de desvelar o modelo político unificador. Estou absolutamente seguro que propostas tão entusiasmantes levarão a um estudo mais aprofundado, tal o entusiasmo que o autor põe nas suas propostas.
Não quero despedir-me desta obra gémea à dissertação de doutoramento do Dr. Livonildo sem dizer, haja a ingenuidade que houver em todo o emaranhado do modelo político unificador, que ele se revela bem intencionado e que não lhe podemos atribuir todas as responsabilidades por erros crassos que o trabalho evidencia. Noutros tempos, havia júris onde os membros estudavam o conteúdo da dissertação e dividiam tarefas entre si. Fica-se com a dúvida de que algum daqueles membros, e mesmo do arguente, soubesse alguma coisa sobre o que é a Guiné-Bissau e a cornucópia dos seus problemas.

Um abraço do
Mário


Uma proposta para novo modelo de governação na Guiné-Bissau (4)

Beja Santos

A obra intitula-se “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes, Chiado Editora, 2015. O autor concluiu a licenciatura e o mestrado em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e em 2014 terminou o doutoramento em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona do Porto. A dissertação e a tese serviram de base a este livro, que é prefaciado por António José Fernandes, professor catedrático de Ciência Política.

Não se escondeu, desde o primeiro texto de recensão aqui publicado, que se põem sérias reservas à organização deste trabalho. Carece totalmente de sentido transplantar para obra literária o conteúdo de uma dissertação de doutoramento. Propõe-se no livro ir falar de um novo paradigma de governação na Guiné-Bissau, apõe-se o subtítulo à obra de “Um manual de ciência política para a Guiné-Bissau e para África” e faz-se percorrer centenas de páginas com uma orgia de citações, desfilam pensadores a falar de ciência política, de filosofia, de direito constitucional, e muitíssimo mais, o resultado é calamitoso, e não se pode contestar que o Dr. Livonildo trabalhou afincadamente, mesmo quando escreve erros crassos, que houve que apontar.

Vamos finalmente ao modelo que ele nos propõe. A razão pelo modelo unificador, observa ele é que desde 1240 até 2015 nenhum modelo político conseguiu estabilizar o povo, território e aparelho do poder do Estado guineense. É de arrepiar o que acaba de se escrever, já que o Estado guineense existe de facto desde 1974, não sei como será possível enfileirar todos estes séculos de História no mesmo tipo de análise. O modelo preconizado destina-se a agregar todos os elementos que constituem o Estado – território, povo e aparelho de poder, a sua finalidade é o preenchimento das lacunas que afetam a política e o pensamento político guineense nas suas múltiplas facetas. O que escreve adiante é inenarrável num qualquer texto de recensão e não sei mesmo qual a natureza de um artigo presumivelmente científico que dê claridade a tais propostas. Um só exemplo começa por o modelo triangular ou o modelo de Duplo Mandato de Governação Alternado com duas fases de 9 ou 6 anos, composto por um Governo de Base Democrática, por uma Área de Estudos que é um Órgão Consultivo Multidisciplinar Imparcial e um Tratado Político de Governação.

Num segundo bloco, irá ser representado pelo modelo de rodas dentadas ou modelo de engrenagem, que será composto pela Nova Etapa Democrática com um mandato de 6 ou 5 anos, e que se desdobrará num bipartidarismo perfeito típico dos EUA ou do Reino Unido, só com dois ou três partidos políticos, articulando com um Governo de Manutenção e Coordenação de um mandato com 3 ou 2 anos, mantendo-se o Órgão Consultivo Multidisciplinar Imparcial e um Tratado Político de Governação. Num terceiro bloco, integrará o Modelo Político Federal com duração de 6 ou 5 anos e com a legitimação do bipartidarismo e bipolarização típicos dos EUA. O leitor deverá atender a todas estas siglas, os seus acrónimos vão ser usados com fluência daqui até ao final do livro. É indispensável, quem o diz é o autor, pôr termo aos desnortes das segundas voltas, é de rejeitar a representação proporcional e de procurar pôr cobro à existência do multipartidarismo de partido dominante, o PAIGC anda por toda a parte, mesmo nos outros partidos, como anteriormente observou o autor. Com ardor, emite as suas opiniões:  
“Vale a pena apostarmos no escrutínio maioritário de uma volta para escolher abertamente os 3 ou 2 partidos políticos e governantes para fazerem parte do arco da governação da Guiné-Bissau. Isto é, se o Estado e os cidadãos guineenses querem baixar drasticamente os 40 partidos políticos para 2 ou 3 partidos políticos, deverão adotar um verdadeiro instrumento para proceder a uma lipoaspiração da sua vida política”.

Segue-se uma longa enumeração em torno dos sistemas políticos do governo. Os anciãos merecem respeito, os chefes tradicionais deverão ser bem acolhidos e ouvidos. Instala-se primeiro o modelo triangular, avança-se para a segunda fase, põe-se em funcionamento o modelo unificador. O autor lembra os efeitos negativos da filosofia colonial, baseada depois na estratégia de mobilização e de adesão à luta armada, está aqui a matriz ideológica que ainda hoje envenena a Guiné-Bissau. E a autor descarrega uma sentença:
“O facto de Amílcar Cabral ter considerado a descolonização como um processo de luta contínua, não apenas política ou até económica, mas também profundamente psicológica, leva-nos a crer que Amílcar Cabral conhecia de antemão o pesado fardo que os guineenses iam carregar por muitas décadas”.
A Guiné tem que mudar de mentalidades, deve universalizar a língua portuguesa e a crioula e respeitar 8 áreas-chave prioritárias para o desenvolvimento do país: educação, saúde, justiça e apoio social; agricultura, ciência/tecnologia/energia; direitos humanos e ambiente; defesa e segurança/cultura, etnia e religião/autarquias locais, património e turismo; cooperação e relações internacionais; sociedade civil, organizações não-governamentais. A seguir, o Estado guineense poderá proceder à descentralização de poderes e à desconcentração dos serviços de defesa e segurança. Dentro da originalidade do pensamento do Dr. Livonildo chegámos a um ponto de uma nova estratégia: a Guiné-Bissau deve ceder uma das suas ilhas para a instalação de uma base militar a uma potência amiga de Portugal – de preferência o Reino Unido – pelo seu passado histórico. Não se assombre o leitor, é que o Reino Unido mete medo à França, quer estar perto da Gâmbia. Dentro deste enquadramento da geoestratégia político-militar da Guiné-Bissau, é preferível, numa primeira fase, apoiar os rebeldes Felupes contra o Senegal e depois convidá-los, integrá-los e transformá-los a partir do terceiro bloco do modelo unificador, quando a Guiné for um Estado federado. Mas há outras hipóteses e valências:  
“Se o Senegal precisar de apoio do Estado guineense para apaziguar os rebeldes Felupes, deve conceder contrapartidas vantajosas ao Estado da Guiné-Bissau, tais como beneficiar da sua energia para resolver o problema crónico da Guiné-Bissau e conceder à Guiné-Bissau mais de 50% do litígio do petróleo que o Senegal ganhou contra a Guiné-Bissau”.

Estamos a chegar à cúpula do modelo, a Guiné-Bissau deverá adotar uma atitude de Estado coordenador. Se até aqui a narrativa pode ser encarada como uma obra capaz de ombrear com a ficção científica, a partir daqui Franz Kafka, todo o sistema norte-americano será apreciado da base ao topo, ponderada a possibilidade de haver duas câmaras e cita-se Cícero:
“Um governante não deve aumentar os impostos – a menos que não haja mesmo alternativa. Os governantes devem perceber de alguns princípios: nunca comecem uma guerra injusta e a corrupção destrói um país. A ganância, o suborno e a fraude minam um país a partir do seu interior, deixando-o fraco e vulnerável”.

Na reflexão final o autor reitera que procurou tratar os principais temas de forma clara e objetiva e orgulha-se de ter apresentado um modelo político e inovador, sem precedentes, baseado em teorias/práticas de modelos já existentes, mas com uma nova configuração e fundamentação. Enfim, o modelo unificador está pronto para ser submetido à análise e ao debate, irá abrir uma frente de combate. Anota grandes dificuldades:
“Os intelectuais guineenses foram educados e socializados no seio do velho paradigma, pelo que terão dificuldade em aceitar este novo modelo político de governação”.

Cá estaremos para acompanhar esse galvanizante debate e procurar vislumbrar as saídas que se abrem para o modelo unificador do Dr. Livonildo.
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Notas do editor:

Poste anterior de 5 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18286: Notas de leitura (1038): “Modelo Político Unificador, Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau”, por Livonildo Francisco Mendes; Chiado Editora, 2015 (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 9 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18304: Notas de leitura (1039): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (21) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18310: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XV: Parte pesos, nosso alfero...


Foto nº 4 > Cacheu, 1968 > Monumento


Foto nº  5 > Bissau, julho de 1969 > À espera do Uíge


Foto 6 > São Domingos, 1969> Eu, junto a um piroga e atrás a "ilha maldita" dos felupes


Foto nº 1 > São Domingos, 1968 > Eu com criança ao colo


Foto nº 2 > Nova Lamego, 1967 > Cães, "djubis" e eu de motorizada


Foto nº 3 > São Domingos, 1969 > "Eu e os meus amigos"...


 Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado [, foto atual à direita]. (*)


Mensagem de 25 de janeiro último:

Bom dia Luís,

Obrigado por tantas lições, estou a aprender muita coisa, e aceito tudo de bom grado, não fico a fazer de conta, sei que errei na raça, por isso já fiz um comentário. Quero mesmo falar em etnias, isso é que está certo. E o dicionário diz tudo.

As legendas do P18252 (**) estão mais ou menos certas. Na foto das Felupes [336 A], dizes que uma delas parece um homem, e é capaz de ser, embora pelo traje comparando com as outras pode ser uma Felupe, menos bonita, mais velha, mas não tenho a certeza.

As 3 meninas e menino da Mocidade Portuguesa [335], estive a ver melhor, elas são «mestiças» ( está correcto o termo? ) e, se se comparar com o novo administrador de Posto cujas fotos já foram publicadas, e numa outra em que aparece a mulher dele numa festa do 1º de Janeiro, ela parece também «mulata» e deu filhos e filhas mulatos também, pois ele é mesmo negro da Guiné.

Pelos trajes de cerimónia, o menino tem parecenças com o pai, e posso ter feito esta foto num Domingo qualquer em que poderia ter havido qualquer festa, ou roncos. Os slides não têm data, eles só foram revelados muito mais tarde, quando vim de férias à metrópole e eram mandados para Paris, eu li isso nas caixas. As datas algumas eu sei bem, mas em centenas de slides pode escapar algumas datas. De qualquer forma só apareceram a partir do final do 1º Semestre de 68 e até final da comissão.

Fico satisfeito com as visualizações das fotos do meu álbum, sem fim... Por isso vou mandar mais algumas das infindáveis fotos do tema «fotos 027 - as minhas fotos pessoais ».

[Nas fotos que reproduzes acima], pode-se ver já o meu instinto paternal, e o carinho que proporcionava aos miúdos locais, eles não me largavam, queriam fotos e andar na minha motorizada, e queriam sempre uns «Pesos":
- Nosso Alfero, parte 2 pesos e meio! - era assim sempre...

Eu não ligava ao dinheiro e podia dar algum do que tinha a mais, pois realmente ganhava-se bem, e não tinha pensão na Metrópole, era tudo para gastar em copos, nas melhores marcas de tabaco mundiais, nas fotos, nas compras de câmaras e artigos fotográficos, canetas, relógios, recordações, 2 motorizadas, e em dezenas de garrafas das melhores bebidas brancas que eu tinha à minha disposição... Bons tempos!

Li o que contaste sobre o 'Pepito' casado com a Isabel Levy, quando puderes manda então essa história toda, vou gostar de certeza. Eu logo a seguir enviei um email para a Isabel Levy, aquele que eu tinha em 2014, mas ele veio como não entregue, significa que ela não recebeu ou já mudou de correio electronico. Se me facultares uma forma de voltar a contactá-la era bom, reactivar a nossa conversa. Foi pena a morte do Pepito, mais novo do que eu.

Obrigado e vamos falando,

Um Oscar Bravo ( Não sei se foi a brincar, mas eu sou também Óscar!)

Mais fica na mesma um
Ab

Virgilio
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 5 de fevereiro de 2018 > uiné 61/74 - P18287: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XIV: o dia em que eu queria ir de motorizada, de Bissau a Mansoa... e a Mansabá!

(**) Vd. poste de 25 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18252: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XII: Mulheres e bajudas (4): São Domingos, "chão felupe", 1968: na festa e no trabalho