Foto nº 3 / 10 > Sete elementos do bigrupo, com o comandante à esquerda (em 2º lugar)... O jovem porta-estandarte oparece usar pistola à cintura... Três elementos, incluindo o comandante, devem ter trocado os seus chapéus por boinas castanhas das NT...
Foto nº 10 A /10 > Outros elementos do bigrupo com garrafas de cerveja... ou aguardente de cana (ou vinho de palma)...
Foto nº 4 A /10 > O Fur mil Sérgio cumprimenta o cmtd do bigrupo... Dá para perceber, pelos detalhes do fardamento, que terá havido entretanto "troca de galhardetes" (é uma confusão de boinas, quicos e gorros...). Os guerrilheiros trazem, como calçado, botas de lona, uns, ou sandálias de plástico, outros. Estão equipados com a Kalash.
Foto nº 2 A/10 > O "alteirão" é o fur mil Sérgio, metropolitano, do Pel Caç Nat 52... e dá um "jeitinho" para que a bandeira dos "visitantes" também caiba na fotografia...
Foto nº 5 / 10 > Alguns elementos do bigrupo com as praças, metropolitanas, do Pel Caç Nat 52, com alguns populares à volta, naturalmente "curiosos" e "expectantes"...
Foto nº 5 A / 10 >
Foto nº 6A /10 > Nem faltou o apontador do RPG-7...
Foto nº 6 B / 10
Foto nº 7A /10 > Que "promessas" ou "ameaças" terá feito o comandante do bigrupo (ou de zona) ?
Forto nº 7 /10 > Comício, numa tabanca nos arredores de Missirá. talvez Sancorlá ou Salá, a noroeste, já no limitedo regulado do Cuor.
Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 52 > c. julho de 1974 > São "10 fotos para a história"... As NT "deixam-se fotografar" com uma delegação do PAIGC, que vem (sempre) armada, em "visita de cortesia" ao destacamento e tabanca de Missirá, na sequência do processo de cessar-fogo e negociação da paz...
1. Continuação da publicação das fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)
Lisboeta, bancário reformado, tem raízes na Lourinhã (Marteleira e Miragaia), pelo lado materno. Durante a sua comissão no CTIG foi sempre um apaixonado pela fotografia... Fotografou quase tudo... e neste caso algumas das últimas cenas da presença portuguesa no TO da Guiné.
São 10 fotos ("slides" digitalizados) da visita, a Missirá, de um grupo do PAIGC, ou menos que um bigrupo. Missirá era o destacamento mais a norte, no regulado do Cuor, do setor L1 (Bambadinca). Provavelmente estes homens do PAIGC pertenciam à base de Sara-Sarauol, no Morés, a noroeste de Madina / Belel (aonde fui, com o Beja Santos, na sequência da Op Tigre Vadio, iniciada em 30 março de e terminada em 1 de abril 1970).
2. E porque uma imagem às vezes precisa de "mil palavras", aqui vai, a nosso pedido, "o texto e o contexto" destas 10, em mensagem que nos mandou o autor, com a data de 10 do corrente:
Luís:
Aqui vai, tal como me pediste, uma pequena descrição dos acontecimentos que deram origem aos encontros com o PAIGC que estão documentados nas fotografias que contigo partilhei e assim estão à disposição dos camaradas do blogue.
Foto nº 9/10 (*):
No grupo está à minha esquerda está comandante do bigrupo, a seguir está o furriel maçarico do Pel Caç Nat 52, natural da Guiné. É o João [, devida ser de etnia papel, de Bissau, tinha o 5º ano do liceu]. À esquerda do João, o "pequenino" do PAIGC é o comissário politico e a seguir o homem grande de branco é Malan Soncó. Dos cabos europeus não me recordo o nome. Está também um milícia de Missirá [, na ponta direita, na primeira fila de pé]. Segue um texto em anexo.
Um abraço, Luís
3. Os últimos dias do Pel Caç Nat 52: contactos com o PAIGC
por Luís Mourato Oliveira
A esta incursão do IN seguiram-se outras de morteiro e até uma tentativa de assalto em golpe de mão em pleno dia, evitado pelas mulheres dos soldados que, quando lavavam a roupa junto ao Geba, detectaram a progressão do IN na bolanha, o que nos permitiu escorraçá-los, dado estarmos numa posição superior e estrategicamente mais favorável.
Na sequência destes acontecimentos tivemos informação com origem em civis, familiares de soldados do pelotão, que o IN preparava um novo assalto ao destacamento. A informação pareceu-me fiável porque os soldados confiaram absolutamente nas narrativas dos civis e inclusivamente fizeram uma cerimónia ritual na qual, para além de juntarem palhas de colmo de cada tabanca e pólvora de uma munição de cada militar, eu incluído, com que fizeram uma fogueira, procederam à leitura do Corão.
Isto aconteceu dia 23 de dezembro de 1973 e, no dia seguinte, apesar de ser véspera de Natal, pensando que seria nessa data que o IN poderia aproveitar para atacar, saímos em patrulhamento para confirmar as informações recebidas.
Detectámos a coluna IN que se dirigia na nossa direcção, talvez a três quilómetros a Norte do destacamento, e montámos uma emboscada imediata.
Dada a proximidade da coluna IN, a última secção de caçadores do Pelotão, ao contrário da primeira, posicionou-se com algum afastamento do trilho. A primeira secção, da qual eu fazia parte, ficou a cerca de talvez dez ou quinze metros da zona de morte e tivemos ocasião de verificar que o IN não tinha intenções de atacar Mato de Cão. Era um grupo onde inclusivamente vinha um adolescente e que tinha ido caçar, pois eram portadores de vários macacos-cães que transportavam.
A última secção desencadeou a emboscada e o destacamento que acompanhava a nossa deslocação no terreno fez fogo de protecção de morteiro 81 para Norte da nossa posição, em pontos previamente assinalados no plano de tiro.
O contacto durou poucos minutos e, em virtude da nossa flagelação de morteiro estar a bater na zona de assalto, o destacamento estar completamente desguarnecido e verificar que a intenção do IN não era agressiva, não efectuámos a perseguição ao IN e regressámos a Mato de Cão.
Na sequência destes acontecimentos e do ataque efectuado pelo IN na zona de Enxalé a um barco de munições com destino a Bambadinca, e que explodiu nesse ataque, o Pel Caç Nat 52 tentou a intercepção da força atacante, progredindo na mata do Enxalé mas sem resultado. Passámos então a ter uma acção de vigilância muita activa na navegação do Geba e detectámos e aprisionámos uma canoa IN que transportava arroz e tabaco adquiridos em Bambadica e que tinham como destino (penso eu, que a memória vai falhando) [a base de ] Sára.
A tripulação da canoa foi interrogada, deu informações claras que as provisões se destinavam ao PAIGC, que tinham uma base militar com anti-aérea e onde estava aquartelado um bigrupo. Fizemos apreensão de todas as mercadorias transportadas, pagámos o arroz apreendido após pesado a sete pesos o quilo e libertámos os tripulantes, explicando-lhes que se tratava de um gesto de boa vontade, que se alteraria caso as acções do PAIGC continuassem agressivas para com Mato de Cão.
Deveria ter resultado esta acção [psicossocial...], pois nunca mais sofremos qualquer ataque e também nunca mais bloqueámos o esquema logístico do PAIGC. (**)
Após o 25 de Abril, todos nos apercebemos que os dias da guerra estavam a chegar ao fim, que a nova ordem politica iria finalmente reconhecer o direito dos colonizados à independência e que a tropa iria regressar a casa para bem de todos e felicidade das famílias.
O PAIGC também não teve dúvidas do que seria o futuro próximo e, nesta altura, o Pel Caç Nat 52 que tinha sido deslocado para Missirá, através de elementos da população, recebeu o pedido para visitar a tabanca.
Ponderando as consequências futuras para os nossos soldados que tinham sido leais, que acreditavam ser Portugueses, que, sendo militares profissionais alguns há oito anos em combate, não tinham outra perspectiva de ganhar a vida, que apelidavam o IN de “bandido” e que não compreendiam como um acontecimento longínquo no dia 25 de Abril também poderia afectar as suas vidas, decidi que deveria a qualquer custo aproximar os soldados do meu pelotão dos soldados do PAIGC, para que os antigos inimigos se conhecessem pessoalmente, que se fosse possível confraternizassem para que o futuro fosse o menos doloroso, sobretudo para aqueles que eu tinha comandado e com quem tinha criado laços de estima e amizade.
O PAIGC avisou o dia da visita e deslocaram-se a Missirá um comissário político e alguns soldados. Entraram, com confiança, fardados e com equipamento militar, conversaram e confraternizamos como combatentes numa guerra que tinha acabado. Bebemos cerveja, aguardente de cana e, a quem a religião proibia, cocas e cerveja sem álcool.
Nessas conversas, um soldado do PAIGC em conversa comigo, disse-me “ alfero já te conhecia, um dia vi-te na mata.” Respondi que “não acredito, se me tivesses visto ias usar a Kalash”, então ele justificou “ alfero, nós tínhamos atacado o barco das munições, a tropa correu de Mato de Cão para nos apanhar, mas já tínhamos gasto todas as munições e ficámos escondidos até se irem embora”....
Trocámos histórias como esta, fizemos “selfies” [, "avant la lettre"...] com armas trocadas (!) e até disputámos um jogo de futebol de cinco entre as NT e o ex-IN onde eu fui guarda-redes, não permitindo mais uma vez que naquele jogo o IN levasse a melhor...
Estas visitas levaram a várias reacções, alguns aceitaram sem qualquer relutância estes encontros, mas não esqueço a tristeza que levou ao choro compulsivo o soldado e grande companheiro Jalique Baldé, cuja família tinha sido vítima do PAIGC numa acção de recrutamento na sua tabanca a que ele escapou por estar a caçar. Recordo que foi o Jalique, enorme soldado e caçador, que detectou o IN quando este se dirigia na nossa direcção dia 24 de dezembro de 1973 e, se não fora ele, teríamos sido nós a cair na emboscada.
Na sequência destes encontros que se tornaram normais, fomos convidados para assistir a um comício organizado pelo PAIGC, dirigido à população de Missirá e aos soldados e milícias da guarnição, e aceitámos estar presentes.
Presidiram ao comício o comissário político bem como o chefe militar da zona e esteve presente grande parte da população civil da zona.
Na minha experiência politica levei o pelotão bem fardado e armado e foi-me pedido pelo comissário politico que os soldados poderiam assistir ao comício mas não deveriam estar armados, o que me deixou apreensivo, mas, dada a forma como me foi transmitido o pedido e ao relacionamento anterior, aceitei que as nossas armas ficassem numa tabanca [, morança,] à guarda e irmos desarmados. Felizmente tudo decorreu com normalidade e, findo o comício e as fotografias que considero históricas, recolhemos as armas e regressámos a Missirá.
A última missão que recebi na Guiné foi, a pedido do PAIGC ao comandante do batalhão de Bambadica [, BCAÇ 4616/73] (***), que me deu ordem de participar numa cerimónia simbólica do içar da bandeira do PAIGC numa localidade a norte de Missirá, provavelmente Salá ou Sancorlá [, a noroeste de Missirá, vd. mapa a seguir]
Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)
O meu pelotão [, o Pel Caç Nat 52,] tinha sido desmobilizado após os acontecimentos de agosto de 1974 em que algumas tropas africanas se rebelaram tendo a CCAÇ 21 [... e não 22], tomado o quartel de Bambadinca e sequestrado, eu incluído, o pessoal europeu com ameaça de fuzilamento, caso não recebessem contrapartidas pela desmobilização (episódio já relatado no blogue) [Vd. poste com depoimentos de Fernando Gaspar e Luís Mourato Oliveira] (****).
Por essa razão, e obedecendo às ordem do comando, dirigi-me ao local da cerimónia, apenas acompanhado pelo soldado condutor que me foi dispensado, sendo recebido com algum descontentamento pelos quadros do PAIGC que queriam dar alguma ênfase à cerimónia do içar da sua bandeira naquela localidade.
Foram estes os últimos dias do Pel Caç Nat 52. Estas memórias trazem-me sempre tristeza e remorso pela forma em que deixámos na Guiné os nossos irmãos de armas africanos que ficaram sem qualquer apoio ou negociação, à mercê dos antigos inimigos.
Quero ter fé que o processo de integração que me foi possível iniciar, minimizou ou talvez até tenha evitado as consequências que todos nós conhecemos e que tiraram a vida a muitos que, ombro a ombro, connosco suaram e sangraram num conflito que atempadamente se poderia ter evitado se os nossos dirigentes da época tivessem a noção que o curso da história não se pode travar apenas com armas.
Luís Mourato Oliveira
________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 9 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18504: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte I
(**) Vd. postes anteriores com fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, respeitantaes ao setor L1, tiradas em lugares como Bambadinca, Mato Cão, Fá Mandinga e Missirá:
9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor
11 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17126: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (13): Visita de cortesia a Fá Mandinga, onde ainda pairava o fantasma do famoso "alfero Cabral"...
22 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17073: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (12): Bambadinca (a "cova do lagarto", em mandinga) e algumas das suas gentes
21 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17068: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (11): Bambadinca, o porto fluvial, onde atracavam os heróicos e lendários "barcos turras"
23 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16981: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (10): 28 de outubro de 1973, dia de festa ecuménica, a festa do fim do Ramadão (Eid-ul-Fitr) no... Mato Cão
14 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16954: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (9): cenas do quotidiano do destacamento de Mato Cão
9 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16936: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (8): o comandante do destacamento de Mato Cão "travestido" de... mandinga
23 de dezenmbro de 2016 > Guiné 63/74 - P16873: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (7): o destacamento de Mato Cão - Parte III: a construção da tabanca
12 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16828: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (6): o destacamento de Mato Cão - Parte II
7 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16808: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (5): o destacamento de Mato Cão - Parte I
4 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16797: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-al mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (4): A nosso Natal de 1973, onde não faltou nada, a não ser o cartão de boas festas dos nossos vizinhos de Madina / Belel
(***) Vd. poste de 18 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14894: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXV: fevereiro de 1973: três meses depois do fim da comissão, faz-se a sobreposição com os "piras" do BCAÇ 4616/73, o "batalhão liquidatário" (mar / ago 1974)
O BCAÇ 4616/73, mobilizado pelo RI 16, partiu para o TO da Guiné em 30/12/1973 e regressou a 16/9/1974. Esteve sediado, a CCS e o Comando, em Bambadinca. Foi comandado pelo ten cor inf Luís Ataíde da Silva Banazol e depois pelo ten cor inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira. Tem como unidades de quadrícula a 1ª C/BCAÇ 4616/73 (Mansambo e Xime), 2ª C/BCAÇ 4616/73 (Xime, Bambadinca) e 3ª C/BCAÇ 4616/73 (Farim, Jumbembém e Farim).
(****) Vd., poste de 13 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9892: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (10): Em Bambadinca, em agosto de 1974, eu (e outros camaradas) fui sequestrado, feito refém e ameaçado de fuzilamento por militares guineenses das NT... Cerca de 40 horas depois, o brig Carlos Fabião veio de helicóptero com duas malas cheias de dinheiro, e acabou com o nosso pesadelo (Fernando Gaspar, ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BCAÇ 4518, 1973/74)
Luís:
Aqui vai, tal como me pediste, uma pequena descrição dos acontecimentos que deram origem aos encontros com o PAIGC que estão documentados nas fotografias que contigo partilhei e assim estão à disposição dos camaradas do blogue.
Foto nº 9/10 (*):
Foto nº 9/10 |
No grupo está à minha esquerda está comandante do bigrupo, a seguir está o furriel maçarico do Pel Caç Nat 52, natural da Guiné. É o João [, devida ser de etnia papel, de Bissau, tinha o 5º ano do liceu]. À esquerda do João, o "pequenino" do PAIGC é o comissário politico e a seguir o homem grande de branco é Malan Soncó. Dos cabos europeus não me recordo o nome. Está também um milícia de Missirá [, na ponta direita, na primeira fila de pé]. Segue um texto em anexo.
Um abraço, Luís
3. Os últimos dias do Pel Caç Nat 52: contactos com o PAIGC
por Luís Mourato Oliveira
Foto nº 8 B /10 (*) |
Os meus primeiros encontros com o PAIGC, enquanto comandante do Pel.Caç Nat 52, não decorreram, como calculas, na forma de uma cordial e amigável confraternização social.
Imediatamente após a minha chegada
ao destacamento do Mato de Cão, recebemos a "visita" do então IN que nos quis saudar com uma flagelação com canhão sem recuo. O ataque, como os outros que se seguiram, era desencadeado da orla de mata que abraçava uma bolanha a oeste do planalto onde estava instalada a guarnição de Mato de Cão.
A sudoeste do planalto, junto à estrada para Bafatá e junto ao Geba, havia apenas uma tabanca que albergava apenas uma família de civis. No cume do planalto não existiam infra-estruturas a que pidéssemos chamar aquartelamento, pois limitavam-se a quatro abrigos subterrâneos suportados por “cibes” [troncos de palmeira] e cobertos por bidões com areia.
Havia ainda uma construção precária em chapa ondulada que servia de depósito de géneros, cozinha e refeitório dos europeus e uma pequena tabanca [morança] de adobe que designávamos de “enfermaria” e era utilizada pelo maqueiro africano de que não tenho o nome na memória (já passou muito tempo). As outras construções eram tabancas [moranças] de palha e colmo onde viviam os soldados africanos e respectivas famílias e uma mais pequena de que existem fotografias no blogue e onde eu habitei durante o período que lá estive.
A esta incursão do IN seguiram-se outras de morteiro e até uma tentativa de assalto em golpe de mão em pleno dia, evitado pelas mulheres dos soldados que, quando lavavam a roupa junto ao Geba, detectaram a progressão do IN na bolanha, o que nos permitiu escorraçá-los, dado estarmos numa posição superior e estrategicamente mais favorável.
Na sequência destes acontecimentos tivemos informação com origem em civis, familiares de soldados do pelotão, que o IN preparava um novo assalto ao destacamento. A informação pareceu-me fiável porque os soldados confiaram absolutamente nas narrativas dos civis e inclusivamente fizeram uma cerimónia ritual na qual, para além de juntarem palhas de colmo de cada tabanca e pólvora de uma munição de cada militar, eu incluído, com que fizeram uma fogueira, procederam à leitura do Corão.
Isto aconteceu dia 23 de dezembro de 1973 e, no dia seguinte, apesar de ser véspera de Natal, pensando que seria nessa data que o IN poderia aproveitar para atacar, saímos em patrulhamento para confirmar as informações recebidas.
Detectámos a coluna IN que se dirigia na nossa direcção, talvez a três quilómetros a Norte do destacamento, e montámos uma emboscada imediata.
Dada a proximidade da coluna IN, a última secção de caçadores do Pelotão, ao contrário da primeira, posicionou-se com algum afastamento do trilho. A primeira secção, da qual eu fazia parte, ficou a cerca de talvez dez ou quinze metros da zona de morte e tivemos ocasião de verificar que o IN não tinha intenções de atacar Mato de Cão. Era um grupo onde inclusivamente vinha um adolescente e que tinha ido caçar, pois eram portadores de vários macacos-cães que transportavam.
A última secção desencadeou a emboscada e o destacamento que acompanhava a nossa deslocação no terreno fez fogo de protecção de morteiro 81 para Norte da nossa posição, em pontos previamente assinalados no plano de tiro.
O contacto durou poucos minutos e, em virtude da nossa flagelação de morteiro estar a bater na zona de assalto, o destacamento estar completamente desguarnecido e verificar que a intenção do IN não era agressiva, não efectuámos a perseguição ao IN e regressámos a Mato de Cão.
Na sequência destes acontecimentos e do ataque efectuado pelo IN na zona de Enxalé a um barco de munições com destino a Bambadinca, e que explodiu nesse ataque, o Pel Caç Nat 52 tentou a intercepção da força atacante, progredindo na mata do Enxalé mas sem resultado. Passámos então a ter uma acção de vigilância muita activa na navegação do Geba e detectámos e aprisionámos uma canoa IN que transportava arroz e tabaco adquiridos em Bambadica e que tinham como destino (penso eu, que a memória vai falhando) [a base de ] Sára.
A tripulação da canoa foi interrogada, deu informações claras que as provisões se destinavam ao PAIGC, que tinham uma base militar com anti-aérea e onde estava aquartelado um bigrupo. Fizemos apreensão de todas as mercadorias transportadas, pagámos o arroz apreendido após pesado a sete pesos o quilo e libertámos os tripulantes, explicando-lhes que se tratava de um gesto de boa vontade, que se alteraria caso as acções do PAIGC continuassem agressivas para com Mato de Cão.
Deveria ter resultado esta acção [psicossocial...], pois nunca mais sofremos qualquer ataque e também nunca mais bloqueámos o esquema logístico do PAIGC. (**)
Após o 25 de Abril, todos nos apercebemos que os dias da guerra estavam a chegar ao fim, que a nova ordem politica iria finalmente reconhecer o direito dos colonizados à independência e que a tropa iria regressar a casa para bem de todos e felicidade das famílias.
O PAIGC também não teve dúvidas do que seria o futuro próximo e, nesta altura, o Pel Caç Nat 52 que tinha sido deslocado para Missirá, através de elementos da população, recebeu o pedido para visitar a tabanca.
Ponderando as consequências futuras para os nossos soldados que tinham sido leais, que acreditavam ser Portugueses, que, sendo militares profissionais alguns há oito anos em combate, não tinham outra perspectiva de ganhar a vida, que apelidavam o IN de “bandido” e que não compreendiam como um acontecimento longínquo no dia 25 de Abril também poderia afectar as suas vidas, decidi que deveria a qualquer custo aproximar os soldados do meu pelotão dos soldados do PAIGC, para que os antigos inimigos se conhecessem pessoalmente, que se fosse possível confraternizassem para que o futuro fosse o menos doloroso, sobretudo para aqueles que eu tinha comandado e com quem tinha criado laços de estima e amizade.
O PAIGC avisou o dia da visita e deslocaram-se a Missirá um comissário político e alguns soldados. Entraram, com confiança, fardados e com equipamento militar, conversaram e confraternizamos como combatentes numa guerra que tinha acabado. Bebemos cerveja, aguardente de cana e, a quem a religião proibia, cocas e cerveja sem álcool.
Nessas conversas, um soldado do PAIGC em conversa comigo, disse-me “ alfero já te conhecia, um dia vi-te na mata.” Respondi que “não acredito, se me tivesses visto ias usar a Kalash”, então ele justificou “ alfero, nós tínhamos atacado o barco das munições, a tropa correu de Mato de Cão para nos apanhar, mas já tínhamos gasto todas as munições e ficámos escondidos até se irem embora”....
Trocámos histórias como esta, fizemos “selfies” [, "avant la lettre"...] com armas trocadas (!) e até disputámos um jogo de futebol de cinco entre as NT e o ex-IN onde eu fui guarda-redes, não permitindo mais uma vez que naquele jogo o IN levasse a melhor...
Estas visitas levaram a várias reacções, alguns aceitaram sem qualquer relutância estes encontros, mas não esqueço a tristeza que levou ao choro compulsivo o soldado e grande companheiro Jalique Baldé, cuja família tinha sido vítima do PAIGC numa acção de recrutamento na sua tabanca a que ele escapou por estar a caçar. Recordo que foi o Jalique, enorme soldado e caçador, que detectou o IN quando este se dirigia na nossa direcção dia 24 de dezembro de 1973 e, se não fora ele, teríamos sido nós a cair na emboscada.
Na sequência destes encontros que se tornaram normais, fomos convidados para assistir a um comício organizado pelo PAIGC, dirigido à população de Missirá e aos soldados e milícias da guarnição, e aceitámos estar presentes.
Presidiram ao comício o comissário político bem como o chefe militar da zona e esteve presente grande parte da população civil da zona.
Na minha experiência politica levei o pelotão bem fardado e armado e foi-me pedido pelo comissário politico que os soldados poderiam assistir ao comício mas não deveriam estar armados, o que me deixou apreensivo, mas, dada a forma como me foi transmitido o pedido e ao relacionamento anterior, aceitei que as nossas armas ficassem numa tabanca [, morança,] à guarda e irmos desarmados. Felizmente tudo decorreu com normalidade e, findo o comício e as fotografias que considero históricas, recolhemos as armas e regressámos a Missirá.
A última missão que recebi na Guiné foi, a pedido do PAIGC ao comandante do batalhão de Bambadica [, BCAÇ 4616/73] (***), que me deu ordem de participar numa cerimónia simbólica do içar da bandeira do PAIGC numa localidade a norte de Missirá, provavelmente Salá ou Sancorlá [, a noroeste de Missirá, vd. mapa a seguir]
Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)
O meu pelotão [, o Pel Caç Nat 52,] tinha sido desmobilizado após os acontecimentos de agosto de 1974 em que algumas tropas africanas se rebelaram tendo a CCAÇ 21 [... e não 22], tomado o quartel de Bambadinca e sequestrado, eu incluído, o pessoal europeu com ameaça de fuzilamento, caso não recebessem contrapartidas pela desmobilização (episódio já relatado no blogue) [Vd. poste com depoimentos de Fernando Gaspar e Luís Mourato Oliveira] (****).
Por essa razão, e obedecendo às ordem do comando, dirigi-me ao local da cerimónia, apenas acompanhado pelo soldado condutor que me foi dispensado, sendo recebido com algum descontentamento pelos quadros do PAIGC que queriam dar alguma ênfase à cerimónia do içar da sua bandeira naquela localidade.
Foram estes os últimos dias do Pel Caç Nat 52. Estas memórias trazem-me sempre tristeza e remorso pela forma em que deixámos na Guiné os nossos irmãos de armas africanos que ficaram sem qualquer apoio ou negociação, à mercê dos antigos inimigos.
Quero ter fé que o processo de integração que me foi possível iniciar, minimizou ou talvez até tenha evitado as consequências que todos nós conhecemos e que tiraram a vida a muitos que, ombro a ombro, connosco suaram e sangraram num conflito que atempadamente se poderia ter evitado se os nossos dirigentes da época tivessem a noção que o curso da história não se pode travar apenas com armas.
Luís Mourato Oliveira
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 9 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18504: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte I
9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor
11 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17126: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (13): Visita de cortesia a Fá Mandinga, onde ainda pairava o fantasma do famoso "alfero Cabral"...
22 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17073: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (12): Bambadinca (a "cova do lagarto", em mandinga) e algumas das suas gentes
21 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17068: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (11): Bambadinca, o porto fluvial, onde atracavam os heróicos e lendários "barcos turras"
23 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16981: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (10): 28 de outubro de 1973, dia de festa ecuménica, a festa do fim do Ramadão (Eid-ul-Fitr) no... Mato Cão
14 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16954: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (9): cenas do quotidiano do destacamento de Mato Cão
9 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16936: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (8): o comandante do destacamento de Mato Cão "travestido" de... mandinga
23 de dezenmbro de 2016 > Guiné 63/74 - P16873: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (7): o destacamento de Mato Cão - Parte III: a construção da tabanca
12 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16828: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (6): o destacamento de Mato Cão - Parte II
7 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16808: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (5): o destacamento de Mato Cão - Parte I
4 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16797: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-al mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (4): A nosso Natal de 1973, onde não faltou nada, a não ser o cartão de boas festas dos nossos vizinhos de Madina / Belel
(***) Vd. poste de 18 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14894: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXV: fevereiro de 1973: três meses depois do fim da comissão, faz-se a sobreposição com os "piras" do BCAÇ 4616/73, o "batalhão liquidatário" (mar / ago 1974)
O BCAÇ 4616/73, mobilizado pelo RI 16, partiu para o TO da Guiné em 30/12/1973 e regressou a 16/9/1974. Esteve sediado, a CCS e o Comando, em Bambadinca. Foi comandado pelo ten cor inf Luís Ataíde da Silva Banazol e depois pelo ten cor inf Joaquim Luís de Azevedo Alves Moreira. Tem como unidades de quadrícula a 1ª C/BCAÇ 4616/73 (Mansambo e Xime), 2ª C/BCAÇ 4616/73 (Xime, Bambadinca) e 3ª C/BCAÇ 4616/73 (Farim, Jumbembém e Farim).