quarta-feira, 6 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19557: (Ex)citações (351): Manel Pereira, amigo e camarada. Reencontro em Monte Real. (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 


Manel Pereira, amigo e camarada 

Reencontro em Monte Real 

As díspares situações individuais pelas quais passamos ao longo das nossas vidas, leva o homem a cruzar destinos diferentes quebrando-se laços de amizades que dantes foram férteis em convívios ocorridos no nosso dia a dia. 

O Manel Pereira é um amigo e camarada de armas em solo guineense com o qual travei conhecimento em princípios de vidas quando abraçávamos as nossas carreiras profissionais, ou seja, quando entrámos para a antiga Caixa de Previdência e Abono de Família dos Serviços Médicos Sociais do Distrito de Lisboa, Avenida dos Estados Unidos nº 39, no dia 25 de junho de 1975. 

Quis o destino que partilhássemos a mesma Secção laboral e que, naturalmente, nos tornássemos amigos próximos. No ano de 1976 compartilhámos o mesmo prédio no Bairro Comendador Joaquim Matias nº 39, em Paço de Arcos, eu no 1º A, ele no 8º F. 

No meu Morris 1000, de cor branca, viajámos pelas ruas de Lisboa, convivemos, traçámos planos futuros, colocámos como meta a continuação dos estudos e fomos curiosos assistentes em efémeras reuniões de jovens onde a finalidade passava pelos exames “ADOC”, tendo estes como intuito principal uma entrada na faculdade. 

Assistimos, também, a momentos revolucionários onde a afirmação do povo reclamava direitos. Lisboa, nesses tempos, apresentava-se como o ponto fulcral de imensas reivindicações. Lembro-me das noites de manifestações e dos estridentes bramidos oriundos de uma multidão que não cansava os pulmões entoando um cântico que simplesmente afirmava: “O povo é quem mais ordena”, como cantava o saudoso Zeca Afonso. 

Ou, de uma noitada passada às portas do quartel de os “RALIS” reclamando porventura uma chamada às armas que visava defender um povo que reclamava somente justiça. Enfim, devaneios de uma época onde o clamor da juventude se enquadrava com a revolta de antigos combatentes que sentiam na pele o quão difícil fora a luta armada travada no interior das matas em terras de além-mar. 

O tempo, nesse tempo, impunha pausas e sempre que possível lá caminhávamos por outros trilhos. Recordo, com uma inquestionável saudade, noites em que nós jovens, acompanhados pelas esposas ou companheiras, curtíamos as noitadas com idas às casas de fado, por exemplo. Numa noite calma, agora já não o é, marchámos, a pé, rumo ao Bairro Alto e desembocámos no “Faia” onde ao sabor de linguiça assada acompanhada com jarros de vinho tinto, ouvimos o grande fadista Carlos do Carmo. 

Nesta panóplia de recordações viajo por aquela “Lisboa menina e moça menina… Cidade mulher da vida”, onde proliferava “o homem das castanhas”, ou as vendedeiras ambulantes que vendiam fruta por toda a cidade, ou as varinas que transportavam canastras com peixe fresco à cabeça apregoando o pescado, sendo a capital lusitana, nessa época, um polo de atração que mexia com a irrequieta mocidade. Era o tempo das calças à “boca de sino”, dos cabelos compridos e das camisas ajustadas ao corpo. 

Do nosso relacionamento de amizade, que durou cerca de três anos, jamais trocámos conversa detalhada sobre a nossa estadia na Guiné. Aliás, falámos do tema pela rama e não em profundidade. Mas, como proclama o povão no seu provérbio popular “não há bela sem senão”, daí que passados mais de 40 anos concluíssemos que afinal o Manel passou, esporadicamente, pela Companhia sediada em Madina Mandinga e pertencente ao meu BART 6523, localizado em Gabu. 

O Manel Pereira, limiano de gema, natural de Ponte de Lima, integrou a CCAÇ 3547 e pertenceu ao grupo “Os Répteis de Contuboel”. 

Guardo do Manel a sua extrema sensibilidade aquando se deslocou, de propósito, de Ponte Lima a Lisboa para marcar presença na apresentação do meu último livro – AVC Recuperação do Guerreiro da Liberdade – um evento que teve lugar na Casa do Alentejo no dia 21 de outubro de 2017. 

Foi o reencontro de dois velhos camaradas de armas que cruzaram destinos diferentes, seguindo-se Monte Real por altura do nosso convívio anual (2018) do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

Nessa manhã em que o sol brilhava intensamente, dissecámos pormenores das nossas comissões na Guiné e dos muitos pormenores que a guerra nos proporcionou. Claro que o Manel confirmou a sua passagem por Madina Mandinga, falou de “Os Répteis de Contuboel”, da sua atividade operacional, de momentos em que as dificuldades impunham a máxima prudência de entre outras saídas para o mato com o seu pessoal. 

Ah, meu amigo Manel, somos, afinal, as tais pequeníssimas partículas de orvalho que, mesmo em dispersão, lá vão marcando vidas de antigos combatentes de uma Guiné onde conhecemos o teor dos flagelos, sendo a nossa mente, por enquanto, portadora de armamento pesado onde os sinos um dia tocarão a rebate para anunciarem uma fatídica emboscada que nos enviará para a tal viagem sem regresso. 


Um abraço, camaradas 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados. 
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 61/74 - P19556: Historiografia da presença portuguesa em África (153): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Julho de 2018:

Queridos amigos,
Ficamos com uma grande dívida de gratidão com o Dr. Damasceno Isaac da Costa, ofereceu-nos um detalhado relato sobre a presença portuguesa, talvez tenha sido o primeiro funcionário colonial a referir com minúcia a vila de Geba, vê-se claramente que lutou junto das autoridades para que se desse uma reviravolta no deplorável estado da salubridade pública, sem titubeios, frontal, dirige-se ao Presidente da Câmara Municipal de Bissau e pede-lhe providências, não deixando de notar que quem ganhou foi a inércia, o deixa andar.

Um abraço do
Mário


Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (5)

Beja Santos

Este relatório consta dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa e foi oferecido pelo seu filho Pedro Isaac da Costa ao antigo administrador de Bissau, António Pereira Cardoso, autor de um conjunto apreciável de documentos, muitos deles de leitura indispensável para conhecer a vida administrativa da Guiné, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1950.

Este relatório, como se verifica pelo seu fecho, foi copiado pelo filho do autor. E diz-se que é de estranhar que tendo sido escrito em 1884 se refere a factos de 1888.

Atenda-se ao tempo: a Guiné é há pouco província autónoma, a presença portuguesa é muito mitigada, no fundamental está circunscrita a Bolama, capital da Província, Bissau, Cacheu e escassos presídios; o Dr. Damasceno produziu um documento ímpar, desvela a vida em Bissau, não esconde as condições degradantes da habitação e alojamento das tropas, dá-nos um curioso registo da vida no presídio de Geba e escalpeliza os aspetos dominantes da higiene e salubridade públicas.

Vejamos o que ele diz sobre a alimentação:
“Os habitantes da vila intramuros (está a falar de Bissau) não apresentam diferença de alimentação dos europeus; não acontece porém o mesmo com os indígenas cuja alimentação é especial. A base da alimentação dos indígenas é o arroz fervido em água e misturado com o caldo de baguiche, leite de vaca ou carne de porco corrupta, azeite de palma ou memberem (caldo de arroz) temperado com sumo de limão e malagueta. Alimentam-se também de milho, feijão, mandioca, batata, peixe seco e corrupto. O indígena conforma-se com os reveses da fortuna, mas o que se lhe torna sensível muitas vezes durante o dia é a ausência de bebidas alcoólicas. Os indígenas, pela sua natural indolência, têm pouca propensão para o trabalho; há, todavia, alguns que exercem profissões de ferreiros, sapateiros, carpinteiros, tecelões, marinheiros, oleiros e pedreiros.
As mulheres ocupam-se em pilar o arroz e em outros trabalhos e afazeres domésticos, aos quais se entregam quotidiana e incansavelmente para sustentar os vícios do homem em cuja companhia vivem. O indígena não é ambicioso, contenta-se com o que ganha e não se sujeita ao trabalho enquanto tiver com que alimentar-se”.

Mudando o rumo das suas observações, dá-nos um quadro bastante negativo da limpeza das ruas e das habitações, bem como dos cemitérios:
“Sobre o estado higiénico da povoação e cemitério, dirigi à Câmara Municipal e aos administradores do concelho o seguinte ofício:
A salubridade de uma povoação depende em grande parte das condições higiénicas em que a mesma se acha. A vila de Bissau é considerada insalubre mais que nenhum outro ponto da Guiné, o que é devido não somente às más condições climatéricas como às más condições higiénicas […] sou a indicar a V. Ex.ª. algumas medidas que convém sejam adoptadas com a máxima urgência. Existem dispersos na vila muitos pardieiros que além de imprimirem uma má aparência e ameaçarem o seu desabamento sobre os prédios vizinhos, são altamente prejudiciais à salubridade pública, pois que servindo eles de depósito de imundícies de toda a espécie aos indolentes constituem outros tantos focos de insalubridade. Além dos mencionados pardieiros, existem na vila muitos lugares públicos que, pelo mau estado em que se acham, contribuem igualmente como aqueles para a insalubridade.

O cemitério municipal acha-se num deplorável estado, aquele lugar onde repousam as venerandas cinzas dos nossos semelhantes está cheio de pedras e ervas daninhas, o seu solo em vez de plano é desigual; as sepulturas não se distinguem do resto do terreno, à excepção de oito, por se acharem cobertas irregularmente com alguma porção de terra; elas não possuem cruzes ou marcas funerárias que assinalem a época do enterramento, circunstância esta gravíssima, sobretudo quando se trata de proceder às exumações.
Atrás do cemitério, e junto à povoação dos Grumetes, existe uma pequena extensão de terreno, onde se nota um grande número de sepulturas, das quais doze são recentes, sendo naquele lugar, segundo me consta particularmente, inumados cadáveres de indivíduos falecidos extramuros. Fora deste sítio, existem dispersas várias sepulturas de indivíduos falecidos intra e extramuros, segundo me consta.
O cemitério, e a vasta campada que o circunda, representa, pois, um outro foco de insalubridade. 

Do que fica exposto, resultam as seguintes indicações que convém que sejam adoptadas com urgência: destruir os pardieiros; destruir por meio de incineração os monturos e proceder à limpeza dos lugares públicos; expurgar o cemitério de ervas e pedras, nivelá-lo, colocar cruzes sobre as sepulturas, inscrevendo nelas a época do falecimento; proceder aos precisos arruamentos e à cultura de plantas apropriadas enquanto não esteja concluindo o regulamento que estou confeccionando para os cemitérios; proibir expressamente que os cadáveres dos cristãos falecidos nesta vila, quer intra quer extramuros, sejam enterrados fora do cemitério municipal; construir um outro cemitério ao lado do actual e onde deverão ser inumados os cadáveres dos indivíduos não-cristãos.

Convém notar-se que a Câmara Municipal para a execução das medidas higiénicas possui um orçamento e um código de posturas, aquele aprovado pelo Conselho de Província e este pelo de Cabo Verde, em 1872. No código de posturas a que me refiro deparam-se as seguintes importantes disposições: é proibido ter nas ruas couros podres ou outro qualquer objecto que exale mau cheiro; é proibido criar porcos ou leitões dentro de cada habitação, nos quintais ou pátios ou em edifícios ali existentes; é igualmente proibido ter ou conservar porcos ou leitões amarrados ou presos na rua ou à porta da casa de morada ou de qualquer estabelecimento.
Infelizmente, nenhuma providência se vê tomada pelas respectivas autoridades para dar cabal cumprimento a estas importantes mas triviais disposições da higiene.”

De seguida, centra a sua atenção na vida hospitalar, é igualmente crítico, não esconde o estado desolador das instalações:
“Existe na vila, descrito no orçamento da Província com a denominação de enfermaria e funciona numa casa particular arrendada pelo Governo. Possui duas enfermarias com nove metros de comprimento e seis de largura, um quarto para os enfermeiros, um dito para a secretaria, um dito para os doentes particulares, um dito para a farmácia, dois ditos para a arrecadação de roupas e utensílios de farmácia e um dito para a cozinha. Todo o edifício é circundado pelo lado interno por uma varanda e está limitado por um muro de dois metros. O pavimento inferior deste edifício serve para armazenar diversas mercadorias que dão entrada na Alfândega. Todos os higienistas são unanimemente concordes que sendo os hospitais estabelecimentos insalubres de primeira ordem devem ser situados pelo menos a 200 metros de distância da povoação mas o de Bissau acha-se situado no centro da povoação. A povoação fundada em terreno mais baixo, que o circunda, e estando demais o hospital, como fica dito, no centro da povoação, a ventilação é insuficiente. O facto de servir o pavimento inferior do edifício para armazenar as mercadorias dá margem a que as enfermarias não possam ser lavadas como devem. Os soldados de guarda de Alfândega apresentam-se repetidas vezes embriagados, passando toda a noite a gritar e a cantar e esta circunstância lamentável tem dado lugar a que os doentes não tenham o sossego que o seu estado de saúde reclama.
Julgo conveniente que o hospital seja removido para um local afastado da povoação e que o edifício possua todos os requisitos exigidos pela lei higiénica”.

Veremos como, no termo do seu importantíssimo documento, o Dr. Damasceno apresenta uma lista de plantas medicinais e tece considerações gerais, seguramente uma das peças mais importantes do seu relato.

(Continua)



Imagens retiradas do livro “Guiné Portuguesa”, Luís António de Carvalho Viegas, 1936.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19535: Historiografia da presença portuguesa em África (151): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19555: In Memoriam (341): Falecimento, no passado dia 3 de Março, do 1.º Sargento João da Costa Rita da CART 2732 (Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art MA)

Acabou de chegar ao meu conhecimento, via José da Câmara, também este um amigo e camarada de armas dos Açores, combatente na Guiné, a triste notícia do falecimento, no passado dia 3, do "nosso" Primeiro Rita, com quem partilhei imensas horas enquanto estive "impedido" na Secretaria da Companhia e mesmo como Furriel Miliciano.

Apesar de mais velho, e pertencente ao "Quadro Permanente das FA", era um camarada que tudo fazia para nos integrar, respeitando-nos e fazendo-se respeitar. São inúmeros os episódios em que demonstrou estar sempre do lado dos milicianos. 
A sua experiência foi muito importante principalmente para os Furriéis especialistas da Companhia, ajudando-os na parte burocrática, muito mais complexa, por vezes, que a operacional.
Se bem se lembram, a CART 2732 esteve muitas vezes sem Comandante, sendo nestes intervalos os nossos alferes milicianos a assumir o seu comando. Nestas alturas sempre tiveram da parte do 1.º Rita a melhor colaboração e lealdade.

Mansabá, dia de aniversário do Cap Mil Jorge Picado. O 1.º Rita é o primeiro à direita
Foto: Jorge Picado


Com a devida vénia ao jornal Correio dos Açores

Mantive desde sempre contacto com o Chefe Rita, como lhe chamávamos, tendo-o visitado, inclusive, quando em 2006 estive nos Açores. Ainda falei com ele neste Natal de 2018, nada me levando a acreditar que era a última vez que o ouvia dizer: - Então senhor Carlos?

Tinha um sentido de humor apurado. Entre muitas "tiradas", retenho algumas como por exemplo ele ser o único branco nos Açores (era natural da ilha do Faial mas vivia na Terceira), e falar da árvore do macarrão, existente unicamente naquelas ilhas, em contraponto aos imensos arrozais da Guiné. Quando desaparecia algum papel na secretaria, dizia sempre que alguma vaca o tinha comido. Tendo prestado serviço na então Índia Portuguesa, onde foi prisioneiro de guerra, dizia-nos que lá as vacas andavam por tudo quanto era sítio e que ninguém as podia maltratar. Comiam tudo que apanhavam, tal era a fome, incluindo papel.

Ponta Delgada, 21JUL2006. Eu e o 1.º Rita

À sua esposa, filhos, netos e demais familiares, quero deixar, em meu nome pessoal e dos elementos da CART 2732, principalmente dos que mais de perto lidaram com ele, as mais sentidas condolências.

Foi um bom Homem. 
Que descanse em Paz

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19517: In Memoriam (340): Até sempre, 'comandante' Jorge Rosales (1939-2019)

Guiné 61/74 - P19554: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (1): a ansiedade da partida e o calor humano da chegada, em 2 de março de 2019

Luís Oliveira
1. Texto do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): é bancário reformado, foi praticante e treinador de andebol; vai estar 3 meses como voluntário na Guiné-Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambuno âmbito de um projeto da associação sem fins lucrativos ParaOnde, que promove o voluntariado em Portugal e no resto do Mundo. (*)

Esta é a primeira crónica que ele nos prometeu escrever para o blogue da Tabanca Grande, e que nos acaba de chegar... 


2. Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (1): a ansiedade da partida e o calor humano da chegada, em 2 de março de 2019


A partida para Bissau, marcada desde Dezembro, parecia nunca mais chegar. Detesto as longas esperas, sobretudo quando a caminhada é uma incógnita e fértil em surpresas que até poderão não ser as melhores.

Depois as conversas com os amigos:

­‑ Tás é tótó, agora o velhadas quer ir para a Guiné! Pensas que tens vinte anos...isso era dantes, agora estás lixado, vais levar com os mosquitos, com a lagartada, pensas que tens a EPAL, estás f…! Tem mas é juizo e passa o bilhete a outro, os guineenses já nem falam português, nem te percebem!

E os dias foram passando lentamente, a ansiedade aumentando até que, tal como há quarenta e cinco anos atrás, chegou aquela tranquilidade que me protege nas alturas mais complicadas, passei a dormir melhor, a obsessão do embarque ficou distante e a partida, e tudo o que surgiu a seguir, passou a ser uma data de calendário com uma nota em agenda: “!Voo TAP TP1479, 17.40 do dia 2 de Março”.

E lá estava eu no aeroporto, convencido a ficar fechado naquele contentor voador durante quatro horas, sem direito a soltura, sujeito ao ar forçado e à simpatia das hospedeiras. Nem quero falar do que chamaram “jantar”, porque por sinal tratou-se apenas de um pormenor. O “pormaior” foi o assalto que a companhia de bandeira nacional fez a todos os passageiros cujas malas de cabine não cabiam na reduzida forma que criaram com o fim sacar cento e cinco Euros a todos os desprevenidos.

A minha mala de cabine que voou para Londres, Barcelona, Madrid, Roma, Milão nunca pagou um Euro e apresentava a medida certa, desta vez ou dilatou com o calor ou a TAP temia a sua dilatação no espaço aéreo Guineense e cobrou a quem podia e a quem não o podia fazer. Passageiros houve que deixaram a bagagem para que a mala apresentasse a elegância exigida pela bitola TAP.


Escola Privada Humberto Braima Sambu >  O novo uniforme dos alunos. 
Cortesia da Página do Facebook da Escola.  21 de novembro de 2018


Chegados a Bissau, digo chegados porque a Silvia Barny, voluntária do ParaOnde, também viajou neste voo e, após recolhidas as bagagens, tivemos a emotiva surpresa da recepção. Além do director da escola, o professor Humberto Braima Sambu e alguns professores, um numeroso grupo de alunos com o uniforme da escola cantaram as boas vindas e proporcionaram um acolhimento extraordinário.

Estava na Guiné das minhas memórias, o mesmo povo, a mesma simpatia daqueles que nunca deixarão de ser irmãos.

Bissau, 5 de Março 2019


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Nota do editor;

(*) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19482: Ser solidário (222): O nosso camarada Luís Mourato Oliveira parte dia 2 de março para Bissau, para fazer voluntariado durante 3 meses, através da organização sem fins lucrativos "ParaOnde"... E qualquer ajuda humanitária adicional pode ser encaminhada para (e seguir por conta de) a loja "Paris em Lisboa", no Chiado

Guiné 61/74 - P19553: Dando a mão à palmatória (30): o cap inf Cirilo de Bismarck Freitas Soares, natural de Matosinhos, morreu em 26/5/1965, quando atingido por fogo inimigo numa emboscada na zona de Piri, norte de Angola (Morais Silva, cor art ref)

1. Mensagem do nosso camarada António Carlos Morais da Silva, cor art ref [, foto à esquerda, quando cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar; no TO da Guiné, foi instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972; estamos a aguardar que ele aceite o nosso convite para se sentar à sombra do poilão da Tabanca Grande, no lugar nº 784]

Data: 2 de março de 2019 00:19
Assunto: Correcção


Caro Dr Luís Graça

No texto biográfico enviado, o Cap Inf Cirilo de Bismarck Freitas Soares é dado como tendo falecido pela deflagração de uma mina A/C. (*)

Dos contactos tidos com o filho do senhor capitão Bismarck e com o ex-capitão da CCaç 464/BCaç 467, Coronel Joaquim Leão Repolho, concluí que a morte ocorreu por ter sido atingido por fogos IN que emboscaram a viatura em que ele se deslocava.

Assim sendo, reenvio a ficha biográfica corrigida pedindo a sua republicação no site que dirige.

Lamento o erro cometido (**) mas a falta de informação no processo individual levou-me a adoptar o texto que encontrei em

http://ultramar.terraweb.biz/Memoriais_concelhos_Matosinhos_Matosinhos_CiriloBismarckFreitasSoares.htm.

Os meus cumprimentos e a minha disponibilidade

Morais Silva

www.moraissilva.pt
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Notas do editor:


terça-feira, 5 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19552: Agenda cultural (675): Inauguração da Exposição de Pintura e Poesia "...Como um dia de Primavera nos olhos de um prisioneiro", de Adão Cruz, dia 8 de Março de 2019, pelas 18h00, na Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo, em S. João da Madeira

C O N V I T E




INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO DE PINTURA E POESIA  
“…COMO UM DIA DE PRIMAVERA NOS OLHOS DE UM PRISIONEIRO”, DE ADÃO CRUZ

Caro(a)s Amigo(a)s, 
No âmbito da Campanha da Poesia à Mesa 2019, é com imenso gosto que enviamos um convite para a inauguração da exposição de Pintura e Poesia “…Como um dia de primavera nos olhos de um prisioneiro” de Adão Cruz, no próximo dia 8 de março, sexta-feira, pelas 18h00, na Biblioteca Municipal. 

Contamos com a sua presença.

Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo
Rua Alão de Morais, 36
3700-021 S. João da Madeira
Blog: http://bibliotecasjmadeira.blogspot.pt
Facebook: https://www.facebook.com/biblioteca.sjm

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1 - O Dr. Adão Cruz, foi Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68),

2 - Adão Pinho da Cruz nasceu no lugar de Figueiras, freguesia de Castelões, concelho de Vale de Cambra, em 1937. 
- Licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, especializado em Cardiologia e sub-especializado em ecocardiografia. 
- Prestou serviço militar na Guiné, entre 1966 e 1967, como alferes médico. 
Usando palavras suas: a profunda vivência da guerra e o profundo contacto com uma população miserável, constituíram uma das mais ricas e marcantes experiências da sua vida
- Apanhado pela explosão do 25 de Abril, não fugiu ao novos deveres de cidadania criados pela Revolução e, nomeado pelo Governador Civil de Aveiro, exerceu durante um ano as funções de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Vale de Cambra. 
- É membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, da Sociedade Europeia de Cardiologia, da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos e foi também membro da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos. 
- Para além da sua actividade como médico, é escritor e pintor, com diversos livros publicados, de contos, poemas e pinturas. 
- Fez várias exposições, individuais e colectivas, realizadas em Portugal e no estrangeiro. 
- Principais obras publicadas: 
Esta Água Que Aqui Vem Dar (poemas e pinturas-1993), Vem Comigo Comer Amendoim (contos, ilustrados por Manuel Cruz-1994), Palavras e Cores (prosa poética e álbum de pinturas-1995), Adão Cruz – Tempo, Sonho e Razão (álbum de pinturas e textos de Albano Martins e César Príncipe-2003), Nova Ponte Sobre um Velho Rio (conjunto de três pequenos volumes de poesia, com capas sobre pinturas do autor-2006), Adão Cruz – Hora a hora rente ao tempo (álbum de pinturas e texto do autor-2007), Adão Cruz – Um gesto de silêncio (álbum de pinturas e poemas, com texto do autor -2010), VAI O RIO NO ESTUÁRIO, poemas de braços abertos (poesia e textos) e VAI O RIO NO ESTUÁRIO, cores de braços abertos (pintura e texto do autor).

(Com a devida vénia a "A Viagem dos Argonautas")
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Março de 2019 > Guiné 61/74 - P19550: Agenda cultural (674): Convite para a apresentação do livro "Orando em verso II", de Joaquim Mexia Alves, dia 30 de Março de 2019, pelas 15h00, no Mosteiro de Santa Clara - Monte Real (Joaqim Mexia Alves)

Guiné 61/74 - P19551: Convívios (887): XXXVI Encontro Nacional dos ex-Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447 - Brá, 1964-1974, a levar a efeito no dia 11 de Maio de 2019, na Tornada, Caldas da Rainha (Lima Ferreira, ex-Fur Mil do BENG 447)

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DOS EX-OFICIAIS, SARGENTOS E PRAÇAS DO BENG 447, BRÁ, 1964-1974

DIA 11 DE MAIO DE 2019

TORNADA - CALDAS DA RAINHA


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19520: Convívios (886): Encontro do pessoal do BCAV 3846, a levar a efeito no próximo dia 17 de Março de 2019, no Cartaxo (Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf.º)

Guiné 61/74 - P19550: Agenda cultural (674): Convite para a apresentação do livro "Orando em verso II", de Joaquim Mexia Alves, dia 30 de Março de 2019, pelas 15h00, no Mosteiro de Santa Clara - Monte Real (Joaqim Mexia Alves)

C O N V I T E



1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de 4 de Março de 2019:

Meus amigos
O meu segundo livro está editado e até já começou a ser vendido. No entanto a apresentação do mesmo só será feita no dia 30 de Março.

Estão todos convidados para a apresentação do meu livro "Orando em Verso II".

A receita da venda deste livro, (depois de deduzidas as despesas de edição), será inteiramente entregue às Irmãs Clarissas de Monte Real, para ajudar as obras do Mosteiro que recentemente construíram em Timor.

O livro pode ser adquirido também enviando um mail para orandoemverso@gmail.com e na resposta serão dadas todas as indicações para o poder receber em casa.
Ainda restam alguns, poucos, exemplares do primeiro livro, "Orando em Verso", cuja receita de venda foi e é entregue à Paróquia da Marinha Grande para a construção do Centro Pastoral de imensa necessidade para a paróquia. Pode ser adquirido também com envio de mail para o mesmo endereço electrónico acima referido.

Muito obrigado a todos pelo vosso apoio e colaboração.

Envio também convite e poster feitos pela Paulus para o evento.
Se quiserem colocar nos blogues respectivos agradeço e as Irmãs Clarissas também.

Abraços amigos e gratos do
Joaquim Mexia Alves
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Nota do editor

Último poste da série de1 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19541: Agenda cultural (673): Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, 2-5 de março de 2019... Porque A Vida São Dois Dias, e o Carnaval São Três... E Portugal Não é Só Lisboa ... E Eu Vou Lá Estar!... (Luís Graça)

segunda-feira, 4 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19549: Estórias avulsas (93): Histórias do vovô Zé (1): As nossas andorinhas (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

1. O nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2019, enviou-nos uma bonita história sobre as andorinhas. Conversa entre avô e netos que nos devia sensibilizar a todas a preservar a natureza.


Histórias do vovô Zé

As nossas andorinhas

https://youtu.be/QrrawrmJkOM

Passados mais de setenta invernos, lá vinha de novo mais uma ansiada primavera. Das coisas boas do inverno pouco havia a recordar. Não fora a quadra natalícia, por excelência a dos dias de maior aconchego e afecto familiar, e apenas recordaríamos a chuva teimosa, o frio penetrante e os dias pequeníssimos daquela estação anual.

A primavera era anunciada com a chegada das andorinhas e o friorento vôvô-Zé, sempre ansioso, passava o tempo a olhar o céu na expectativa de as ver chegar. Ele sabia que todos os anos por volta do dia 20 de Março elas se instalavam no seu espaço, para dar início a mais um admirável ciclo das suas vidas. Para ele, até parecia que, com a chegada das andorinhas, lhe estava garantido mais um ano de vida. Nos últimos anos, talvez devido ao aquecimento global da Terra elas, por vezes, têm vindo mais cedo uns dias. Foi o caso daquele ano em que coincidiu a chegada da primeira andorinha, na última semana de Fevereiro, precisamente com o dia de mais um aniversário do avô Zé.
Mal os netos chegaram para a festa do aniversário, já o avô babado lhes contava a grande novidade:
- Já chegou a primeira andorinha, a exploradora! Acordei cedo a ouvi-la chilrear poisada no fio eléctrico que passa diante da janela do meu quarto. Ela não se calou enquanto não me viu feliz a dar-lhe as boas-vindas.
- E as outras, vôvô-Zé, quando chegam? – Perguntava o pequeno Dudu (de 6 anos). Logo ele a quem o avô costumava levantar várias vezes para, pasmado de curiosidade, espreitar os ninhos.
- Esta apenas vem cá dormir mas não todas as noites. Penso que vai ver se encontra locais disponíveis para os demais familiares. Alguns deles devem ser bem longe daqui. No ano passado, tivemos aqui cinco ninhos com cinco filhotes, excepto um que teve só quatro. Fazendo as contas, vemos que a exploradora vai ter muito que fazer. O que lhe vale é que devem chegar para a ajudar mais duas ou três dentro de poucos dias.


Mais interessada em pormenores, a Kika (de 9 anos), uma excelente aluna na escola primária, parecia querer enriquecer os conhecimentos que já possuía nessa matéria. E questionava:
- Mas, ó vôvô-Zé, assim já devíamos ver mais andorinhas. Onde andam as outras?
- Olha, tenho a certeza absoluta que temos descendentes daqui da nossa Casa dos Aidos, espalhados pelo norte de Portugal. Às vezes penso até que também estão na Galiza. Há já uns anos, fiquei a dormir numa pensão em S. João da Pesqueira e, de manhã, querendo admirar melhor aquela lindíssima paisagem duriense, subi a um ponto alto da povoação, que ficava dentro de uma vinha. Fiquei tão satisfeito que não queiras saber. Um pequeno grupo de andorinhas, a chilrear, fez círculos sobre mim, tal e qual como me costumam fazer aqui no quintal, quando chegam. Fiquei convencido de que elas me conheciam.

Entusiasmados com o tema, seguiram para o alpendre para verem se a andorinha lá estava. Até as gémeas Rita e Carmo, com três anitos apenas, lá seguiam os mesmos passos curiosos.
- Aquele ninho continua destruído. Já não me lembro o que aconteceu – Observou o Dudu.
- Foi devido a um ataque do milhafre. Não foi, vôvô-Zé? Lembrou a Kika.
- Sim, foi num dia em que ouvimos as andorinhas a gritar muito. Lembro-me que o Malhadinho saltou de repente dos meus joelhos e correu para a varanda. Ao segui-lo, ainda vi o milhafre a fugir. Descemos ao alpendre e encontrámos três filhotes novinhos, ainda com as penas pequenas. Haviam caído dois, ali, dentro da gamela do moinho eléctrico e um, aqui, no chão.

Ao ver a muita atenção dos quatro irmãos, filhos da Ana e do Abel, o avô continuou:
- Quando peguei nesses filhotes, os pais choravam e pediam muito para que eu tivesse muito cuidado com eles. Vi que um dos ninhos estava vazio, arranjei-o com as palhas mais finas e mais fofinhas, caídas do seu e coloquei-os lá dentro. E eles, caladitos, lá ficaram muito quietinhos. No ano seguinte, quando as andorinhas haviam chegado, fui vê-las pousadas sobre os arames, antes de decidirem começar a trabalhar. Algumas aproveitaram para me olharem atentamente, talvez para saberem se estava a ficar muito velho ou verem se estava doente. Porém, duas delas fugiram cheios de medo, a gritar devido à minha aproximação e eu afastei-me para não as incomodar. Já no jardim, vejo-me sobrevoado pelas quatro andorinhas que quase me tocaram. Para mim, fiquei com a certeza de que os pais já tinham explicado aos filhos que fora este velhote quem os salvara no ano anterior. Acenei-lhes com um gesto de simpatia e elas lá foram subindo aos esses e a chilrear de satisfação.
- Mas, ó vôvô-Zé, não foram três as que salvaste? – Observou a Kika.
- Sim. É natural que uma tenha morrido. Talvez, aquela que caiu ao chão. Também te digo que muitas não aguentam as grandes viagens que fazem até África. Por outro lado, são muitas as que morrem por comerem mosquitos envenenados por alguns produtos químicos que são espalhados para desinfecção dos campos e para limpeza das ruas. Antigamente só se usavam adubos caseiros e produtos orgânicos, biodegradáveis e bastante seguros.

Entretanto, chegaram as duas netas de Vila do Conde, filhas da Beatriz e do Zé-Tó. Após algum entusiasmo neste reencontro, já se ouve a Inês de 12 anos (uma intelectual em potência), a neta mais velha, a explicar:
- É verdade. Há dias a minha professora esteve a explicar várias coisas sobre esse assunto. Agora, procura-se gananciosamente a reprodução intensiva através de produtos sintéticos que até são nocivos para a saúde e para a natureza. Por sua vez, os nossos governantes, na ânsia de mostrar as ruas e caminhos limpos, também aplicam pesticidas desmesuradamente. Com as chuvas, dá-se o arrastamento desses produtos para os rios e fontes, provocando o seu envenenamento e, também, o desaparecimento dos peixes e de outros seres vivos úteis à natureza.

A irmã Francisca de 10 anos (a super- activa), sempre agarrada à Kika, também ajudou no tema e lembrou que na Casa do Couto, do avô David e da avó Maria José, de Barcelos, também existem ninhos de andorinhas.


Nesta Casa dos Aidos, onde nasceu a avó Gilda, ela lembra-se bem do alpendre com mato para fazer estrume e dos aidos do gado à volta, no rés-do-chão da casa. Talvez devido às moscas ali produzidas, esse tipo de casas de lavoura, sempre tinham ninhos por perto, debaixo das varandas. Agora, que o gado já não existe, nem os matos no alpendre (cimentado), as andorinhas continuam a vir fazer os seus ninhos. Pensamos que isso se deve ao seu sentido de posse, de defesa das suas tradições e da sua afectividade à casa dos seus antepassados. Normalmente, elas são merecedoras da nossa grande admiração e de toda a simpatia. Diz-se, até, que as casas com andorinhas são abençoadas. Muitas dessas casas já não as têm, porque alguém as perseguiu ou mal tratou. Pois, aqui, elas mandam. Sim, elas é que são donas desta casa. Se esta casa tem mais de duzentos anos, imagine-se quantas gerações delas, já cá passaram. E se elas vivem em média cerca de 7 anos, teremos mais de 30 gerações em equiparação, o que, transferido para a nossa média de vida de 70 anos, daria qualquer coisa como 2.100 anos!


Em Julho e Agosto, as andorinhas novas sobem para apanhar os ventos marítimos. É o período de preparação/musculação para poderem seguir a grande viagem continental. E à medida que a data de partida se aproxima, elas reúnem, para organizar essa grande viagem colectiva. Primeiramente reúnem aqui a sua família mais chegada, umas 25 ou mais e, depois, umas 80 a 100. Talvez, já com os familiares mais afastados, que vêm descendo do norte. Depois, juntam-se muitas centenas junto da igreja matriz, ocupando extensões enormes de fios eléctricos, durante cerca de dois dias.


O vôvô-Zé ainda acrescentou:
- Já me tenho levantado da cama para vê-las em reunião madrugadora, a planearem a sua longa viagem. É impressionante a sua educação e a disciplina democrática que elas nos mostram. Estão todas sobre os arames da antiga ramada e voltadas para o centro do alpendre. Só se ouve uma a “falar” que, por sua vez, “dá a palavra” a outra e… a outra. Um dia ouço algumas a “avisar” de que está alguém a espreitar. Mas, a chefe deve tê-las acalmado, informando-as de que eu não lhes faria mal algum. Fui buscar a máquina e quando procurava uma boa posição para as fotografar, elas partiram e devem ter suspendido ou terminada a assembleia.
- Mas, ó vôvô-Zé, por que é que elas vão embora, se nós não lhes fazemos nenhum mal?- Lamentava-se o Dudu.
- Porque com o frio do inverno não existem moscas e mosquitos e elas precisam de comer muitos. Por isso, vão para a África passar o nosso inverno e que lá faz muito calor.



Já voltado para os filhos, nora e genros que se juntaram, o vôvô-Zé comentava:
- Em Setembro, podemos continuar a sentir o clima agradável e a ouvir os vários pássaros teimando no prolongamento dos dias felizes do Verão. Porém, quando as andorinhas partem, parece que tudo muda e que já nada é como dantes. Sinto um ligeiro calafrio que se irá acentuar nos meses de inverno e que só me “ressuscitará” a partir de finais de Fevereiro, não por celebrar mais um aniversário mas, isso sim, por ver chegar de novo as nossas andorinhas.
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Nota do editor

Último poste da série de16 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19105: Estórias avulsas (92): Triste memória de guerra (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

Guiné 61/74 - P19548: Notas de leitura (1155): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,
Na sequência das análises que se tem feito a um importante livro que é uma homenagem a um grande investigador, Patrick Chabal, dois autores apreciam as instituições da sociedade rural e a sua proverbial estabilidade que agora estão em mudança graças a vários fatores: a arbitrariedade dos preços do caju, a crescente procura de trabalho no exterior, a ameaça de segurança alimentar (entenda-se o risco e não haver comida para todos, até agora tem havido, a ameaça permanente é a subnutrição).
Outros dois autores dão-nos um quadro bem curioso do pluralismo religioso e da convivência interétnica, que permite a previsão de que não há condições para a presença avassaladora do terrorismo e fundamentalismo islâmico.
Por último, outro autor aborda a descriminação de género, um dos aspetos mais grotescos do incumprimento das promessas de Amílcar Cabral, isto quando a mulher combateu ao lado do homem, destemidamente, na luta de libertação.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau: de Micro-Estado a Narco-Estado (3)

Beja Santos

“Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016, é constituído por um acervo de estudos dedicados à memória de Patrick Chabal, falecido em Janeiro de 2014, e que idealizou até ao fim dos seus dias a organização desta obra com Toby Green. Obra constituída por três partes (fragilidades históricas; manifestações da crise e consequências políticas da crise) convocou nomes importantes da historiografia da Guiné-Bissau no plano internacional como Toby Green, Joshua B. Forrest, Philip J. Havik, entre outros.

A introdução e a primeira parte, dedicada às fragilidades históricas, motivaram os dois primeiros textos.
Iniciamos hoje a segunda parte, centrada nas manifestações de crise. Marina Padrão Temudo e Manuel Bivar Abrantes retomam a questão da estabilidade social e do modo de viver rural. Tenha-se em conta o que outros autores já referiram: o caráter suave do Estado da Guiné-Bissau, a sua ineficácia no processo de elaboração de políticas, o seu gradual desfasamento fazer chegar as instâncias do PAIGC à sociedade rural, aos poucos a participação política foi-se restringindo; foram exíguos os investimentos na agricultura, soçobraram as medidas de nacionalização do import/export e a nacionalização das terras não passou de uma utopia. Para estes dois autores as sociedades rurais guineenses foram resilientes, fizeram frente aos desaires do Estado, resistiram às suas prepotências e irresponsabilidades com a política agrícola. Mas o conflito político-militar de 1998-1999 apanhou as sociedades rurais já na monocultura do caju, as deslocações maciças de população desestabilizaram as formas de viver, uma coisa é a pobreza com alimentação e mesmo focos de subnutrição, outra coisa é subitamente as tabancas do interior serem confrontadas com insegurança alimentar. Até recentemente, estes pequenos agricultores e os ponteiros conseguiam uma harmonia precária entre a comida de subsistência e a produção de troca e a exportação, nomeadamente o caju.

Está devidamente estudado que a intervenção colonial não desarticulou, dentro de certos limites, este precário equilíbrio nas sociedades rurais. O amendoim foi o produto de exportação por excelência entre 1846 e 1974. Houve igualmente exportação de arroz para a Europa, que se iniciou na década de 1930, a guerra de libertação inverteu esta tendência. Distinguem-se fundamentalmente os modos de sobrevivência alimentar dos povos animistas (com os Balantas e os Manjacos à cabeça) dos muçulmanos. Seja como for, é na diversidade étnica que se encontram formas complementares destes sistemas de modo de vida que integram cereais, coconote, óleo de palma, arroz, com uma correspondente economia de troca, onde pode entrar carne, pescas, frutos e outros produtos. A guerra de 1998 levou a que mais de 200 mil guineenses urbanos tenham procurado refúgio nos campos, houve que encontrar acolhimento e amortecimento ao choque de providenciar comida em tão grandes quantidades aos refugiados. Os autores abordam o fenómeno das pontas exploradas ao tempo em que houve financiamentos durante o processo de ajustamento estrutural, agravou as desigualdades sociais e criou uma nova elite política e financeira que, de um modo geral não pagou ao Estado os créditos concedidos pelas linhas generosas desse dinheiro vindo do exterior. Os autores fazem uma análise demorada das mudanças sociais que se estão a operar na vida comunitária cuja evidência é a explosão migratória, a perda da autoridade dos mais velhos e o crescente número de casamentos interétnicos. A monocultura do caju está a revelar-se um desastre, os agricultores estão cada vez mais dependentes de compradores que jogam com as baixas cotações do mercado internacional, a Índia está a tornar-se um feroz competidor e o mercado dos cereais é cada vez mais instável. As mudanças em curso estão a reduzir a solidariedade nas comunidades rurais.

Bem curioso é o artigo de Ramon Sarró e de Miguel de Barros sobre a convivência entre credos religiosos, entre crentes monoteístas e animistas. É crescente a presença da religião na esfera pública e o pluralismo de opiniões é uma moeda corrente. Os autores dão como exemplo a povoação de Enxalé onde há 8 diferentes línguas, uma mesquita, uma igreja católica, um templo protestante, neopentecostais e balobeiras, membros do movimento profético Kyang-yang, onde se misturam elementos simbólicos do Islão, da cristandade e da religião Balanta. Eles analisam historicamente o mapa religioso da Guiné-Bissau a partir das etnias, das práticas religiosas, para concluir que até ao presente têm funcionado com sucesso todos os processos de mediação entre convicções religiosas, acentuando que em pleno conflito político militar todos os atores se reuniram fazendo um apelo à paz.

O último artigo é da responsabilidade de Aliou Ly que analisa as relações de género na Guiné-Bissau destacando que todas as promessas de Cabral no campo da promoção da mulher têm sido ignoradas pelos sucessivos poderes, ao longo de 40 anos. A mulher continua marginalizada do sistema político, o seu contributo nas estruturas sociais e económicas está praticamente limitado ao trabalho braçal e a obedecer sem reticências ao homem, estão sub-representadas no sistema educativo, administrativo e nas instituições políticas de todo o tipo. Estuda o impacto da marginalização da mulher na Guiné pós-independente, a despeito de muitas licenciadas que se impõem no mundo dos negócios. As leis contra a discriminação de género não são respeitadas, é notória a resistência masculina como se mantêm inúmeras desigualdades de classe e étnicas que agravam a condição da mulher. Nos primeiros anos da independência ainda se falava nas heroínas como Titina Sila, referindo-se sempre com respeito mulheres como Francisca Pereira ou Carmen Pereira. O autor atribui responsabilidades a este fenómeno discriminatório logo à governação de Luís Cabral, teria começado aqui o círculo vicioso da desigualdade de género e da imposição da ordem masculina. Os homens emigram para os países limítrofes, as mulheres ficam com cada vez mais trabalho na tabanca e na vida familiar. O paradoxo de tudo é que Amílcar Cabral tinha prometido que se construiria um país com igualdade e melhor vida para todos.

O próximo e último artigo centra-se na diáspora guineense depois de 1998, as consequências políticas da crise e o aparecimento do Narco-Estado e Toby Green apresenta as suas conclusões.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 25 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19526: Notas de leitura (1153): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 1 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19543: Notas de leitura (1154): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (75) (Mário Beja Santos)

domingo, 3 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19547: Blogpoesia (610): "De tristezas e alegrias", "De bico no chão" e "Não sou marinheiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Póvoa de Varzim - PasseioAlegre
Com a devida vénia a "O Poveiro"


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


De tristezas e alegrias

Fazem parte de sua história, tristezas e alegrias.
Lisboa nasceu dum feliz encontro e ousadia.
Seduzido pela beleza, assentou arraiais aqui Ulisses, há muitos séculos.

Misto de saudade, audácia e de sonho.
Deixou o Mediterrâneo tacanho e lançou-se ao mundo.
Com vontade de regressar. Prometera.

Chegado ao oceano imenso, virou para o norte.
Sempre rente à costa.
Logrou um rio largo de que não sabia o nome.
Avançou nele.
Duas margens sumptuosas. Verdes.

Quando o viu alargar demais, receou ir dar ao mar.
Atracou e subiu a colina.
Que haveria de se chamar a Mouraria.

E, desarmado, ali se instalou com a comitiva.
Tão afáveis as gentes que vieram saudá-los que nunca mais tiveram coragem de se ir embora.
Excepto, Ulisses.
Para cumprir o juramento de amor à sua esposa. Penélope.
Assim nasceu Lisboa que deu ao rio o lido nome que ainda mantém.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar Castelão em Mafra, 26 de Fevereiro de 2019
8h40m
Jlmg

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De bico no chão

Pareço um pião, rombudo,
às voltas, de bico no chão.
Ando e cirando.
Velas ao vento.
Moinho parado no alto do monte.

Não adianta clamar.
A chuva ou vem ou não vem.
Por mais que se reze.
A terra está seca.
Uma sede maluca.
Arde e não seca.

Se não fosse o passado
A dizer como é,
Morria de susto.

Às duas por três,
Rebentam os céus,
Se desfazem em água,
O chão floresce
E a vida retorna.

dia cinzento

Bar "Caracol", arredores de Mafra,
27 de Fevereiro de 2019
9h20m
Jlmg

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Não sou marinheiro

Não sou marinheiro mas vivo do mar.
Me cura seu sal.
Me adormece acordado.
Faz-me feliz.
Me põe a sonhar.

Não sou nada sem ele.
Me reviro de dor quando não o oiço bramir.
Companheiro de sempre.
Desde menino a chorar.
Minha Mãe me levava,
ao romper da manhã.

Dois mergulhos gelados
pelas mãos do banheiro.
Garantiam-me rijo
por um ano a viver.

Póvoa de Varzim, que saudades eu tenho.
Do Agosto-Verão, à beira do mar.

Aqueles rochedos medonhos,
revestidos de conchas,
Me guardam segredos,
nas vazias marés.
Mexilhões com fartura.
Nunca mais acabar.
Jantaradas de graça.
Como sabiam a sal.

Nunca fui marinheiro.
Como eu gosto do mar!...

Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19524: Blogpoesia (609): "Parecemos diferentes", "Tardes de Lisboa" e "Renovar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19546: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte V: Catió, o quartel e a vida da tropa


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O João em cima de Daimler, uma autometralhadora ligeira.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Messe de oficiais em Catió. Jogando King. O cor Matias supervisiona a jogatana.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Qartel: o armazém de combustíveis


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O "artista"... bem "emoldurado"

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Com o Cabo Quarteleiro Mourão, responsável pelo armazém da Companhia


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Café do  libanês Jassi em Catió: quatro alferes, da esquerda para a direita: Sasso, Gonçalves, Cardoso e eu.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  Na esplanada do Café do  libanês Jassi.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Escrevendo para casa no meu quarto, partilhado com o cap Alexandtre-



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  "Fazendo turismo" nos arredores de Catió. O João Sacôto em primeiro plano, na base do bagabaga.


Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo... Foi alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC [Direção Geral de Aeronáutica Civil]. Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Estudou no Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas). É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011.


2. Continuação da publicação do seu álbum fotográfico: no poste anterior publicámos as primeiras fotos da vila de Catió, que era sede de circunscrição.

Lembre-se que a CCAÇ 617 esteve em Catió de 1 março de 1964 até 22 de setembro de 1965, altura em que assume a responsabilidade do susector do Cachil, por troca com a CCAÇ 728. Será rendida pela CCAÇ 1424, em 16 de janeiro de 1966, preparando.se depois para regressar à metrópole.

Quanto à operação Tridente, o João esclareceu-nos o seguinte:

"(...) Ainda bem que perguntas, para não haver mal entendidos, que detesto. Nós tínhamos acabado de chegar a Bissau (éramos uns “maçaricos” muito inexperientes), a nossa companhia teve uma participação na operação Tridente muito reduzida, creio que unicamente com uma secção de apoio logistico, comandada pelo furriel Carlos Cruz, também nosso tabanqueiro." (...)

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Nota do editor:

Ýltimo poste da série > 28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19539: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IV: Catió: as primeiras impressões