segunda-feira, 25 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23460: Nota de leitura (1468): “A desmobilização dos combatentes africanos das Forças Armadas Portuguesas da Guerra Colonial”, por Fátima da Cruz Rodrigues, na revista Ler História, n.º 65 de 2013 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Dezembro de 2019:

Queridos amigos,
Afinal, a historiografia contemporânea não virou as costas aos temas das guerras que travámos em África, este trabalho de Fátima da Cruz Rodrigues comprova que há investigação e não se recusam os temas mais delicados, no caso vertente a desmobilização dos combatentes africanos. Dir-me-ão que não há nada de novo debaixo do sol, mas reconheça-se que é um compêndio de factos e dados sem obliterações ou ambiguidades. No tocante à Guiné, é sabido que houve a tentativa de dar opção às tropas especiais para virem para Portugal, e não se iludiram os riscos de eles permanecerem na Guiné logo a seguir à independência. A generalidade teimou em receber salários até dezembro de 1974. Não se pode iludir que se entrou em luta política em Portugal e que a descolonização na Guiné constituiu um facto de importância menor, havia a descolonização em Moçambique e em Angola a fazer. As autoridades guineenses não respeitaram os Acordos de Argel, é do domínio público. Algo devia ter acontecido, depois de novembro de 1984, e sobretudo quando Nino Vieira mostrou as valas onde estavam os fuzilados, para reinstalar uma política de "paz e perdão", o que não veio a acontecer, e tomaram-se então iniciativas de organizações, como a Associação dos Comandos, que foram reais contributos para salvar vidas. Nada ganhámos em ter ignorado, nós próprios, em ter feito uma política de paz e perdão com toda a descolonização, mas isso é outra história.

Um abraço do
Mário



A desmobilização dos combatentes africanos das Forças Armadas Portuguesas

Beja Santos

A revista Ler História, n.º 65 de 2013, inclui um artigo de Fátima da Cruz Rodrigues intitulado “A desmobilização dos combatentes africanos das Forças Armadas Portuguesas da Guerra Colonial”. É um trabalho que nos permite deter uma visão de conjunto sobre a evolução da africanização da nossa guerra colonial e como ocorreu a desmobilização.

Atenda-se aos números avançados pela autora. “No ano que antecede o início da guerra, em 1960, eram 6500 os militares do Exército Português mobilizados em Angola. 5000 desses soldados pertenciam ao então denominado recrutamento local. Até ao final do ano de 1961, estes valores sofrem uma profunda transformação. Rapidamente se inverteu a proporção dos números dos soldados mobilizados em Angola. O número dos soldados africanos, que eram de 5000 no final de 1960, manteve-se o mesmo até finais de 1961, enquanto o número de soldados expedicionários aumentou de 1500 para 28 477. No final desse mesmo ano, a maioria dos soldados mobilizados nos três territórios pertencia ao recrutamento vindo de Portugal. Apenas 18,21% dos 49 422 soldados mobilizados, pertenciam ao recrutamento local”.

Recorde-se que no início da guerra houvera desconfiança quanto à africanização, temia-se que se dessem infiltrações de terroristas nas nossas Forças Armadas em Angola, ou mesmo deserções. Os anos passaram, a guerra prolongou-se e a africanização da guerra aconteceu. Mas com a exceção da de Moçambique, onde a africanização só se tornou um facto real a partir de 1971. Mas voltemos aos números enunciados pela autora. “Em termos globais, e de acordo com os valores disponíveis, entre 1961 e 1973 foram recrutados aproximadamente 1 milhão e 400 mil soldados para a guerra. Mais de 400 mil desses homens faziam parte do recrutamento local, ou seja, aproximadamente um terço dos efetivos”. Tornaram-se notórias as dificuldades de aumentar o número de efetivos, por razões simplesmente demográficas e também pela sangria das emigrações. E, gradualmente, foi-se reconhecendo a mais-valia das forças africanas no conhecimento dos territórios, das línguas e de outras caraterísticas locais, e não foi despicienda a economia que este recrutamento acarretava.

Outra tese abonou a africanização: usar os elementos locais para conquistar as populações locais. Outro fator pode ser tido como preponderante, como a autora assinala. “Se a africanização das Forças Armadas deu resposta a necessidades económicas e a interesses estratégicos de caráter militar, o que parece é que serviu igualmente para demonstrar e promover a ideia de que Portugal era, de facto, uma nação pluricontinental e plurirracial sustentando, assim, a defesa da manutenção do domínio português nos territórios africanos”. E a autora refere a legislação que levou à abolição do estatuto do indigenato, era necessário procurar agradar à comunidade internacional.

A nível interno, também se procurou dar uma certa visibilidade aos combatentes africanos das nossas Forças Armadas. E a autora disseca esta evolução em Angola, Moçambique e Guiné. Vamos pôr o foco, obviamente, na Guiné. “Na Guiné as forças irregulares tinham a designação oficial de milícias, embora algumas tenham passado pela designação de caçadores nativos, e podiam ser normais ou especiais. As primeiras eram reservadas à autodefesa da população e, em 1966, já existiam 18 formadas em companhias. As segundas foram criadas pelo general Spínola e eram organizadas em grupos de combate. Spínola não se limitou a introduzir essa mudança nas forças operacionais da Guiné. O que o distinguiu, e que constituiu um caso que nunca se repetiu nos outros dois territórios, foi ter procurado que as distinções entre os soldados portugueses e locais terminassem, argumentando que a discriminação dos africanos envolvia riscos para Portugal. Outra especificidade do seu mandato foi ter criado os comandos africanos, uma força de elite estruturada de modo semelhante às unidades de comandos já existentes na Guiné e nos outros dois territórios em guerra. A Guiné foi também o único território onde foram constituídos dois destacamentos de fuzileiros especiais africanos”.

Iniciado o processo de desmobilização dos combatentes africanos, em cada um dos teatros de operações surgiram problemas delicadíssimos, conforme a autora expõe.

“Na Guiné, embora o processo da negociação da transferência de poderes tenha sido menos controverso do que o de Moçambique e sobretudo o de Angola, em contrapartida, foi o território onde a desmobilização dos soldados africanos registou mais problemas e onde, após a independência, os antigos combatentes mais sofreram as consequências por terem pertencido à força colonial. Se o facto de existir um único movimento de libertação envolvido nas negociações para a transferência de poderes poderá ter contribuído para a possibilidade dos antigos combatentes africanos integrarem o novo exército nacional fosse posta de parte, tal como aconteceu em Moçambique, considera-se que o papel que lhes foi atribuído durante a guerra, sobretudo nos seus últimos anos, constituiu um dos fatores que mais terá condicionado o desenrolar dos episódios conturbados da sua desmobilização e que evoluíram para situações dramáticas em certos momentos da história da Guiné independente.

Ainda durante as negociações, os combatentes africanos das nossas Forças Armadas, especialmente os Comandos, começaram a ser objeto de várias suspeitas segundo as quais estariam a preparar-se para apoiarem uma invasão a Bissau. Os problemas com os antigos combatentes africanos da Guiné começam quando as autoridades portuguesas procedem ao seu desarmamento, segundo o estipulado no Acordo de Argel. Algumas unidades começaram por recusar-se em entregar as suas armas mas acabaram por fazê-lo após lhes serem dadas certas garantias. Pouco tempo após a partida dos portugueses, começaram as discriminações, as perseguições, a prisão e a execução de antigos combatentes das nossas Forças Armadas de origem guineense.

Neste território, embora as Forças Armadas tenham sido sempre em menor número do que em Angola e Moçambique, o seu envolvimento na guerra foi de grande destaque, sobretudo desde que se formaram os Comando africanos. Mas o lugar de destaque que lhes foi atribuído na guerra, não decorreu, unicamente, do facto de terem sido formadas na Guiné, unidades exclusivamente compostas por africanos, incluindo os seus comandantes, nem tão pouco por terem participado em numerosas operações de caráter ofensivo. O que distingue as Forças Armadas na Guiné foi a sua integração num ‘projeto político destinado a alterar o status quo existente’.”


E a autora também recorda que o protagonismo concedido a estas forças africanas enquadrava-se no projeto mais amplo de Spínola em que competia aos guinéus defender e lutar pela manutenção da presença portuguesa em África. Spínola concebera um exército africano de caraterísticas “nacionais” tendo em vista provavelmente uma futura federação de Estados de língua portuguesa, era dentro dessa lógica que foram criados os congressos do povo e o programa “por uma Guiné melhor” era uma das bases da tese federalista de Spínola. Daí o PAIGC considerar uma ameaça permanente estes combatentes, independentemente de não ter havido nenhum génio político capaz de gerar um movimento de “paz e perdão”, como na África do Sul.

A autora reconhece que o Estado Português não se demitiu totalmente das suas responsabilidades em relação a estes homens, comprometendo-se a pagar indemnizações e reformas, durante a transferência de poderes. Por razões diversas, assobiou-se para o lado, minimizando os perigos para os combatentes que ficaram nos seus países. Devido ao Direito Internacional, Portugal pouco podia fazer depois das independências. E muitos dramas permanecem.

Imagem retirada do jornal Público, com a devida vénia.
Capitão João Bacar Djaló, 1.ª Companhia de Comandos Africanos.
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23451: Nota de leitura (1467): "A Minha Vida Militar", por José Costa; edição de autor, 2016 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23459: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (95): PSP / 7ª Companhia Móvel de Polícia: selecção de fotos da visita a Bissau, de Américo Tomás (em 2/2/1968) e de Marcelo Caetano (em 14/4/1969) (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Guiné > Bissau > 2 de fevereiro de 1968 > Início da visita do presidente da república, alm  Amério Tomás à Guiné > Do lado esquerdo, há uma oficial da PSP / 7.ª Companhia Móvel de Polícia empunhando um rádio portátil


Guiné > Bissau > 2 de fevereiro de 1968 > Início da visita do presidente da república, alm Américo Tomás à Guiné > Em primeiro plano, dois elementos da sua segurança, de óculos escuros, que tanto podem ser da agentes da PIDE, como da PSP / 7.ª Companhia Móvel de Polícia.


Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau > Aeroporto de Bissalanca > Do lado direito, em segundo plano, dois agentes da PSP / 7.ª Companhia Móvel de Polícia.


Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau > Aeroporto de Bissalanca > Do lado esquerdo, em primeiro plano, um batedor que tanto podia ser da Polícia Militar como  da PSP / 7.ª Companhia Móvel de Polícia, mais dois agentes da PSP em segundo plano, do lado direito.
 

Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau > Em primeiro plano, ao centro, um agentte da PSP / 7.ª Companhia Móvel de Polícia.


Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau > Em primeiro plano, um oficial daPSP / 7.ª Companhia Móvel de Polícia com dois elementos que parecem ser representantes da administração da cidade (a farda não parece ser da marinha). 


Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau > 
Do lado direito, assinalado a amarelo, um agente do recrutamento local, que tanto pode ser da Polícia Administrativa  como da PSP / 7.ª Companhia Móvel de Polícia.


Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau > Do lado esquerdo, assinalado a amarelo, um agente, do recrutamento local, que tanto pode ser da Polícia Administrativa  como da PSP / 7.ª Companhia Móvel de Polícia.


Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau > Do lado esquerdo, em primeiro plano, mais um graduado da PSP / 7.ª Companhia Móvel de Polícia.


Guiné > Bissau > 14 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau > Em primeiro plano, de costas, elementos da PSP / 7.ª Companhia Móvel de Policia.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Virgílio Teixeira, com data de ontem, 24, às 22h51:

Em continuação do que escrevi (*), fui procurar algumas fotos dos meus álbuns e descobri as que estou a enviar.

São as visitas de Américo Tomaz, em 02-02-68,  e de Caetano, em 14-04-69, à Guiné.

Não tenho a  certeza mas há aqui fardas cinzentas e boné o que não era normal nas Forças Armadas, aí presumo serem de polícias. Peço que façam a vossa observação, e digam se são ou não de Polícia Local.

Abraço, 
Virgílio Teixeira

2.  Seleção de fotos, com elementos da PSP,  do álbum do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. Excertos de diversos postos relativos às visitas à Guiné, de Amério Tomás (iniciada em 2/2/1968) e Marcelo Caetano (14/4/1969);

(...) Américo Tomaz  (**) chegou ao Porto de Bissau a bordo do navio Funchal, tendo sido recebido por uma enorme multidão da população civil, e representantes dos 3 ramos das Forças Armadas, com especial relevância para a Marinha e Fuzileiros, bem como a Polícia Civil , a Polícia Militar, a Força Aérea, os Comandos e o Exército em geral, além das entidades oficiais da época, entre eles o General Arnaldo Schulz, Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.

Feita a recepção, a comitiva percorreu de automóvel em primeiro lugar a Estrada Marginal do Porto de Bissau, depois outras ruas mais importantes, como a Avenida da República que leva até ao Palácio do Governador. Ao longo de todo o percurso nas bermas da estrada e ruas encontrava-se grande número de pessoas guineenses apoiando com bandeiras, danças e outros roncos o Presidente de Portugal Almirante Américo Tomaz.

A população recebeu bem o nosso Presidente da República, demonstrado por vídeos e pelas fotos de arquivo do Arquivo Histórico Militar, e pelas minhas fotos pessoais de minha autoria.

Não estive em todo o lado porque não era possível, as dificuldades de passar barreiras eram enormes, não entrei no cemitério onde se realizou uma cerimónia, mas ainda assim pude fotografar a 2 metros o Almirante Américo Tomaz, e esposa Gertrudes, Spínola, Ministro do Ultramar e tantas outras individualidades, incluindo os seguranças da PIDE. (...)

Marcelo Caetano (***), chegou a Bissau, em 14 de abril de 1969, no âmbito de um périplo pelo Ultramar português, em guerra (Angola, Moçambique e Guiné). No dia seguinte, 15, ele partiria para Luanda:

(...) Tendo viajado em avião da TAP, desembarcou em Bissalanca, onde era aguardado por uma enorme multidão, e pelas autoridades militares e civis da províncica, incluindo elementos da PSP / 7.ª Companhia de Polícia Móvel. Recorde-se que o com-chefe e o governador geral da província eram então o general António Spínola, já com um ano de Guiné (desde 20 de maio de 1968).

Depois das boas-vindas e recepção protocolar ao ilustre visitante, a comitiva percorreu de automóvel o percurso entre o aeroporto de Bissalanca e a cidade de Bissau, uns 10 quilómetros aproximadamente, sendo visível ao longo de todo o percurso nas bermas da estrada um grande número de guineenses, apoiando com bandeiras e outros adornos e roncos o "homem grande" de Lisboa.

Pelo que pude observar, a população recebeu bem Marcelo Caetano. Não estive em todo o lado porque não era possível, dadas as dificuldades de passar barreiras que eram enormes, mas ainda assim pude fotografar Marcelo Caetano no carro nas Avenidas de Bissau.(...)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste 24 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23458: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (94): A sede da PSP e 7ª Companhia Móvel de Polícia era no bairro de Bandim (José L. S. Gonçalves / Amílcar Mendes / Carlos Pinheiro / Valdemar Queiroz / Virgílio Teixeira)

(**) Vd. postes de :

26 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18358: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XIX: Visita ao território, do Presidente da República Almirante Américo Tomás, com início em 2/2/1968 - Parte I

27 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18360: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XIX: Visita ao território, do Presidente da República Almirante Américo Tomás, com início em 2/2/1968 - II (e última) parte

(***) Vd. postes de:

15 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18320: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVI: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 24 de abril de 1969 (I)

16 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18323: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVII: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 24 de abril de 1969 (II)

17 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18326: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVIII: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 14 e 15 de abril de 1969 (III)

domingo, 24 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23458: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (94): A sede da PSP e 7ª Companhia Móvel de Polícia era no bairro de Bandim (José L. S. Gonçalves / Amílcar Mendes / Carlos Pinheiro / Valdemar Queiroz / Virgílio Teixeira)


Foto nº 1A > Guiné  > Bissau > 2 de Março de 1968 >  Dia da Polícia. Parada em frente ao Palácio do Governador (Pormenor)


Foto nº 1 > Guiné  > Bissau > 2 de Março de 1968 >  Dia da Polícia. Parada em frente ao Palácio do Governador.  


Foto nº 2 > Guiné > Bissau > 2 de Março de 1968 >  Dia Comemorativo da PSP em Bissau. Da esquerda para a direita: Chefe Campante,  Comissário Fernandes, Chefe Cruz e Chefe Martins.


Foto nº 3 > Guiné  > Bissau > 1967 >   Traseiras da 7ª Companhia Móvel de Polícia (CMP), no Bairro Bandim



Foto nº Foto nº 4 > Guiné  > Bissau > 1967 > Elementos da população nas  traseiras  da 7ª Companhia Móvel de Polícia (CMP), no Bairro Bandim

Fotos do álbum do chefe da PSP Virgílio Campante. Cortesia de Arquivo Digital"Aveiro e Cultura" e do José Gonçalves


1. Mensagem de José Luís da Silva Gonçalves, que pertenceu à 2ª C/BCAV 8230/73  (Olossato e Bissau, jun74/out74) (*):


Data - 24 jul 2022 13:20
Assunto - Onde parava, em Bissau,  a PSP e a 7ª CMP

Meu caro Luis Graça, hoje, ao ler o artigo de Alberto Helder (**), fiquei curioso, porque também não me recordo de ter visto nenhum PSP, quando estive em 1974,  integrado na 2ª Companhia do BCAV 8230/73, em Bissau, aquartelados no quartel da Amura.

Naquele tempo já os edifícios principais eram guardados por patrulhas mistas do PAIGC e das nossas tropas.

Quando li o artigo no Blogue, comecei a fazer pesquisa na internet e fui parar ao Arquivo Digital "Aveiro e Cultura", do Agrupamento de Escolas José Estêvão (AEJE), onde realmente obtive alguma informação, da qual extraí umas fotos, que provam, que realmente existiu a 7ª Companhia Movel da Polícia, e que mando em anexo (vd. fotos acima)

A localização do aquartelamento, segundo pude constatar, era nas traseiras do Bairro Bandim (seria no nosso tempo o Pilão?) (Fotos nº e 4).

As fotos que vou enviar-te são de 1967 e de 1968, da autoria do Chefe Campante. A foto nº 1ª refere-se ao desfile do dia da Polícia, e na 2ª podem-se ver o Chefe Campante (autor das fotos),  Comissário Fernandes, Chefe Cruz e Chefe Martins.

Não vou dar por encerrado este assunto, e tentar dar resposta ao Alberto Helder, em algumas questões que ele colocou, tentando através do meu grupo de "Veteranos da Guerra Colonial do Concelho de Almada".

Abraço grande, José Gonçalves

2. Outros esclarecimentos, colocados na caixa de comentários do poste P23456 (**):

(i) Amilcar Mendes:


A 7ª CM da PSP de Bissau estava localizada em Bandim, fronte ao grande depósito de água, que se avistava ao longe.

Fui lá almoçar algumas vezes com um amigo PSP de Lisboa.


(ii) Carlos Pinheiro;

Tenho estado a fazer um apelo à minha memória, que já não é o que era, mas penso que no meu tempo de Bissau (1968/70), terão existido duas esquadras da PSP na cidade, A principal não me consigo recordar onde era, mas a segunda, constituida por agentes locais, com farda da PSP ou muito idêntia, era perto do Pelicano. Se estiver errado, desde já as minhas desculpas. 

Um abraço para todos os camarigos.


(iii) Valdemar Queiroz:

Do que me lembro, nunca vi nenhum agente da PSP, ou farda parecida, a fazer giros em Bissau.

Da vez que estive de serviço em Brá, fui ao Quartel da PSP junto do Depósito da Água, que tinha uma cantina visitada pela tropa.

Julgo que o policiamento civil, melhor dizendo "resolver" problemas civis, nas localidades mais populosas era feito pelos sipaios. Por exemplo,  em Bafatá os sipaios podiam multar quem andasse descalço (!),,, Sim, e a multa era a compra de um chinelos de meter o dedo.

24 de julho de 2022 às 17:29


(iv) Virgílio Teixeira:

(...) Em relação à minha estadia na Guiné Portuguesa (depois, CTIG - Comando Territorial e Independente da Guiné) entre os anos de 1967-1969, dei conta de alguns polícias brancos, fardados como na metrópole, junto a alguns sítios que me lembro, mas nunca falei com algum, talvez porque era bem comportado:

- No mercado local que frequentava:
- No BNU onde ia regularmente;
- No Aeroporto quando embarcava e desembarcava;
- Junto ao Palácio do Governador;
- E inevitavelmente ao redor do 'grande Pilão';
- E  talvez nas ruas e como sinaleiros, mas não tenho certezas.

Talvez haja mais mas não me lembro, como acontece não me lembrar de ver a Policia Militar, é estranho mas é assim.

Sobre as localizações da esquadra ou esquadras da Policia, vou mais para os lados do mercado de Bandim, tenho uma vaga ideia, que pode ser errada, e só me lembrei por alguém a referir aqui.

Nunca fui apresentar nenhuma 'queixa' à Policia!

Nos outros locais, quer em Bafatá onde fui muitas vezes, Nova Lamego, ou São Domingos, como sendo sedes de circunscrições, não havia Policia mas sim os chamados sipaios, que faziam parte da administração local.

Espero ter dado algum contributo.

Fiquem bem, e haja saúde para todos.

Virgilio Teixeira
Ex-Alferes Miliciano d
o SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego, Bissau e S. Domingos, 21set67 /  4ago69).

24 de julho de 2022 às 18:29



Planta da cidade de Bissau já no pós-independência (c. 1975/76). Localização dos bairros populares Bandim, Alto Crim e Pilão. Cortesia de A. Marques Lopes (2005).  

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)

___________

Notas do editor:

(*) Sobre a 2ª C/BCAV 8320/73:

(i) unidade mobilizadora: RC 3, Estremoz;

(ii) comandantes: Cap Mil Grad José Manuel Santos Jorge | Cap Inf António dos Santos Vieira
(iii) chegou a Bissau, nos TAM,  em 22/6/1974 e regressou a 14/10/74;

(iv) seguiu de imediato para o Olossato, a fim de substituir a CArt 6254/72, assumindo a responsabilidade do subsector de Olossato com um pelotão em Ponte Maqué, em 4/7/74 e ficando integrada no seu batalhão;

(v) Em 7/9/74, após desactivação e entrega dos aquartelamentos de Ponte Maqué e Olossato, foi colocada em Bissau, na dependência do seu batalhão até ao seu embarque de regresso;

(vi) o BCAV 83290//3 ficou integrado no dispositivo de segurança  protecção das instalações, sob dependência do COMBIS, constituindo o sub-comando Amura, a partir de 9/9/74 (em 20/8/74, por extinção do COMBIS, passou à dependência directa do Comando-Chefe.

Guiné 61/74 - P23457: Blogpoesia (777): "Ontem à noite… quem diria", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

© Pintura de Manel Cruz


Em mensagem do dia 15 de Julho de 2022, o nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68) enviou-nos este seu pema a que deu o títuo de "Ontem à noite... quem diria:


Ontem à noite… quem diria

A poesia era o espaço entre a inocência e o dia
uma espécie de alforria
redimindo à boca da sorte
o silêncio de mil noites.
Vago sentimento de uma consciência acordada
pelo gemido do vento
poesia real fundida e refundida
sensual e nua.
A vítima que há dentro de nós
procura sempre o amor
na densidade dos processos
na empatia do sofrimento.
Nada mais relativo-magnético do que o sofrimento
movimento de tudo
senhor do silêncio vivo que arde dentro do poeta.
A poesia distorce a relação com a vida
e abraça o sonho parasita do amor verdadeiro
e cada um tem dos restos de si próprio
a elegante ideia de uma identidade interior.
A poesia é assim… ontem à noite... quem diria.


adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23442: Blogpoesia (776): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte II

Guiné 61/74 - P23456: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (93): (i) A 7.ª Companhia Móvel de Polícia atuava também fora de Bissau? (ii) Onde se situava, em Bissau, a sede ou o aquartelamento principal da PSP? (Alberto Helder)

 
A PSP acaba de comemorar 155 anos de
existência.  A sua origem remonta a 2/7/1867, em que
foi criada a Polícia Cívica de Lisboa e do Porto,
Esteve também presente nos teatros de operações da
guerra do ultramar através das 
Companhias Móveis de Polícia (CMP), entre 1960 
e 1974. No TO da Guiné, havia a 7ª CMP, 
sediada em Bissau

1. Mensagem de Alberto Helder, autor do blogue "Alberto Helder":

Data - domingo, 26/06/2022, 16:31

Assunto - Estado da Índia: 466 anos de história | Solicitação: 
a Companhia Móvel de Polícia da Guiné

Ilustre e Nobre Amigo
Luís Graça.

Boa tarde!
Espero que esteja bem assim 
como os seus familiares e amigos.
 Por cá, felizmente já estamos 
libertos do vírus da moda.

Com os melhores cumprimentos dou conta que acabei de publicar ontem no meu blog, o último episódio da série “Estado da Índia-466 anos de história”, cuja tarefa foi iniciada em 27 de setembro de 2021, e, para efeitos 
de divulgação, coloco-a à sua disposição, se assim o entender.

Entretanto, vou iniciar as correspondentes pesquisas para avançar com o novo projeto, complexo, enorme e histórico, intitulado: “As Companhias Móveis de Polícia no Ultramar”, as quais foram mobilizadas para Angola (9), Moçambique (3) e Guiné-Bissau (1) e que foram envolvidos mais de 7.500 agentes policiais, tendo ocorrido, infelizmente, cerca de 60 óbitos e atribuídas perto de 50 Medalhas de Cruz de Guerra.

É sobre este tema que solicito, por favor, que me esclareça o seguinte: dado que os elementos das unidades policiais que estiveram em Angola e Moçambique fizeram os seus serviços não só nas Capitais de Distrito, nas suas Esquadras, como em postos policiais sediados noutras localidades e em muitos outros lugarejos, onde tiveram baixas em combate, nas operações que faziam em conjunto com o Exército, já os agentes que estiveram na Guiné (7.ª Companhia Móvel de Polícia), e segundo as suas Ordens de Serviço, os locais das suas patrulhas eram nas: 
  • Instalações da Sacor,
  • Central Elétrica,
  • Mãe d’Água, 
  • Palácio do Governo, 
  • Emissor de Radiodifusão, 
  • CTT, 
  • Armazéns de arroz, 
  • Mercado Municipal, 
  • Banco Nacional Ultramarino (BNU), 
  • Tribunal Judicial, 
  • Aeroporto, 
  • Junta Autónoma dos Portos, 
estruturas situadas, penso, na cidade de Bissau. 

E nos arredores? Como em Bafatá, Bór e Ilha das Galinhas, haviam postos policiais? Ou noutras localidades? Os agentes da Guiné-Bissau participavam nas operações militares com o Exército? (*)

Peço, pois, o especial favor de me facultar as suas preciosas informações, assim como indicar onde se situava o aquartelamento principal da Polícia de Segurança Pública (PSP) em Bissau. (**)

Muito e muito obrigado pela sua importante e valiosa informação.

Saudações de apreço, consideração e respeito.
Alberto Helder
 

2. Comentário do nosso editor LG:

Obrigado, Alberto Helder pelo contacto. Pedimos desculpa pelo atraso na resposta. E damos-lhe os parabéns pelos trabalhos que tem publicado.  

Temos, infelizmente, pouca informação sobre a 7.ª Companhia Móvel de Polícia (temos apenas 3 referências à 7.ª CMP, e outras tantas à PSP), a sua orgânica, a sua área de atuação, o seu historial, etc. 

Pessoalmente não me lembro de ver, fora de Bissau, uma farda da PSP. E em Bissau, via-se o polícia sinaleiro e pouco mais. Não sei onde era a sede da PSP, em todo o caso não seria longe do Pilão (**).

 Fora de Bissau, a nível das circunscrições e postos administrativos, havia a polícia administrativa, constituída por elementos locais (vulgo "cipaios").  Mas julgamos que muitas das suas funções acabaram, com o tempo,  por ser assumidas pelo exército e/ou pelas milícias. E, se calhar em Bissau, pelas próprias Companhias de Polícia Militar.

Nos livros da CECA (Comissão de Estudo para as Campanhas de África), e no que diz respeito à Guiné,  há escassas referências à 7.ª CMP (***), onde em novembro de 1973 haveria problemas de recrutamento de elementos europeus e de enquadramento. O COMBIS (Comando de Agrupamento de Bissau) é reforçado com a Companhia de Milícias Urbana (sic), subunidade de que sabemos muito pouco ou nada.

Na Ilha das Galinhas, onde havia uma "colónia penal e agrícola" (transformada em prisão política com a guerra) não sabemos se os guardas prisionais pertenciam à PSP.  O mais provável é que pertencessem à  PIDE.  Era, pelo menos, a polícia política que transportava os presos. O nosso camarada  José António Viegas foi fur mil do Pel Caç Nat 54, Guiné, 1966/68, tendo integrado a guarnição militar da  ilha das Galinhas. É a mais pessoa mais indicada para esclarecer este ponto (****). 

Sobre Bafatá, há que ter em conta que passou a concelho em 1964 e a cidade em 1970. Tirando Bissau e depois Bafatá, não havia cidades  no antigo território da Guiné portuguesa, contrariamente a Angola e Moçambique.  Não me lembro, no meu tempo (1969/71),  de  ver em Bafatá elementos da PSP ou da 7.ª CMP,  Em Bolama, antiga capital, também não devia haver. A Bor nunca fui.

Espero que nossos leitores possam ajudá-lo melhor do que eu. Esperemos pelos seus contributos. Boa saúde, bom trabalho. LG

3. Em comentário a este poste,  o José Manuel Cancela (que vive em Penafiel) acaba de nos informar, às 10h51 de hoje,  o seguinte:
 
Pelo que recordo, a Companhia Móvel de Polícia estava aquartelada à saìda do Alto de Crim.

Fui lá várias vezes almoçar, porque era mais barato que o restaurante quase em frente, o "Arquinho", e melhor que o rancho geral no Depósito de Adidos. Pelo que me foi dito pelos militares da PSP,  faziam rondas em volta de Bissau de G-3 na mão, e pouco mais...
__________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23305: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (93): Projecto “Querido Pai”, que tem como objectivo investigar e dar a conhecer o modo como os militares mobilizados em África mantiveram uma relação com os filhos que ficaram na Metrópole (Joana Ponte e Ana Vargas)

(**) Vd. poste de 26 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9101: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (7): Um acidente... no Pilão

(...) E aí fomos os dois andando em busca de lugares conhecidos com o A.T., caminhando de pernas abertas, e deixando um rasto de merda... E os dois, às gargalhadas. Lá chegámos ao pé do quartel da PSP onde entrei para chamar um táxi para o levar para o hospital militar onde recebeu um banho de antibióticos e mais não sei quantos medicamentos.

O resto deste acidente: o taxista que chegou quando viu o estado em que estava o A. T., disse logo:
- Não senhor, não entra no carro, nunca mais tiro esse cheiro do assento!

Por sua vez, os cabrões da PSP não deixaram o A. T. usar os seus chuveiros. Lá consegui uma mangeira da PSP. O A.T. despiu-se e eu de mangeira na mão a dar-lhe um duche como se estivesse a lavar um cavalo (...)


(...) b. Forças Amigas

A PSP tem tido o encargo da defesa dos pontos sensíveis referidos. Porém, a partir de Novembro de 1973, os guardas europeus da 7ª CMP - Companhia Móvel de Polícia são, na sua quase totalidade, soldados no cumprimento do serviço militar obrigatório, com pouca idade, experiência e prática de serviço.

Este facto, aliado à fraca capacidade de enquadramento, tornam impossível à PSP continuar a garantir satisfatoriamente a segurança e defesa de todos os pontos sensíveis.

c. Reforços e cedências

(1) Reforços

O COMBIS passa a ser reforçado com a Companhia de Milícias Urbana. (...)

(****) Vd. poste de 16 de março de  2015 > Guiné 63/74 - P14374: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (27): Ainda sobre o cantor José Carlos Schwarz (Bissau, 1949 - Havana, 1977) e a letra da canção "Djiu di Galinha" [, Ilha das Galinhas] (Helena Pinto Janeiro, historiadora)

sábado, 23 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23455: (Ex)citações (411): Cuidado com o "fogo amigo", cuidado com o dilagrama, cuidado com a granada defensiva... (António J. Pereira da Costa / Luís Graça)

1. Comentários 
ao poste P23450 (*):

(i) António J. Pereira da Costa 

As granadas de mão defensivas era de difusão / utilização restrita. Eram perigosas, como se recordam, pois semeavam estilhaços ao fim 4-5 segundos depois de lançadas. Os dilagramas que as usavam tinham também uma utilização restrita, muito cuidadosa e o número de homens que os carregavam era pequeno, talvez um em cada Gr Comb,  em média. 

Em todas as minhas guerras usei uma Granada Defensiva e como armadilha e não lançada. As incendiárias eram úteis nos golpes-de-mão e as ofensivas eram uma pequena carga explosiva que se usava também em golpes-de-mão...

22 de julho de 2022 às 16:30

(ii) Tabanca Grande Luís Graça:

Concordo inteiramente contigo, Tó Zé: o primeiro morto (ou um dos primeiros mortos) da 1ª Companhia de Comandos Africanos, que estava em formação em Fá Mandinga, setor de Bambadinca, no 1.º semestre de 1970, foi um furriel, cortado ao meio ao pisar uma mina A/P... Levava o cinturão carregado de granadas defensivas... que rebentaram por simpatia.

Vi o seu corpo na nossa capela (que funcionava como casa mortuária)... Nunca levei uma granada defensiva para o mato... Alguns dos nossos, da CCAÇ 12, primeiros feridos foram provocados por falha na utilização do diligrama, num golpe de mão... Não fui atingido por milagre..."Branqueámos" o acidente para salvar a pele ao alferes... (que, por capricho, quis ser ele a levar o dilagrama)... Histórias tristes...

22 de julho de 2022 às 22:23

(iii) António J. Pereira da  Costa:

(...) Quer se queira, quer se não queira, o recurso a certas armas de apoio - morteiros 60, LGF 8.9 e dilagramas - deveria ser feito com muito cuidado e, num contacto próximo com o In não tinham aplicação imediata.  

Atenção aos dilagramas que batiam nas árvores e... caíam mais perto. Além disso, a precipitação do lançamento deu lugar a desastres. Por mim descartei o LGFog 8,9 por ser pesado, incómodo e, em emboscadas sofridas ou montadas, de utilização problemática. Contudo, em ataques "ao arame" podia revelar-se útil. Já o lança-rockts 37 mm tinha utilidade e, se bem usado, era muito eficaz. Mas este não está nas estatísticas. (...)

23 de julho de 2022 às 10:12

(iv) Tabanca Grande Luís Graça;

Ver o meu conto:

21  de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19705: A galeria dos meus heróis (28): Alfa Baldé, apontador de dilagrama, morto por "fogo amigo"... (Luís Graça)

(...) E de repente, o capim. O capim alto. O sangue. O capim pisado e empapado de sangue. Pobre Alfa, morto por um dilagrama dos nossos. Alguém branqueou a tua morte no relatório da operação. Alguém salvou a honra da companhia. Alguém safou o teu/meu comandante de uma porrada do Spínola. Um dilagrama rebentou no ar, na tua cara, nas nossas caras. Um dilagrama dos nossos. O teu dilagrama, empunhado pelo nosso "alfero"...

Não, não sei o que lhe deu, ao "alfero", para à última hora ter decidido tirar-te o dilagrama e ter-te confiado o prisioneiro, que estava à guarda do Mamadu Camará. (...)


(v) Tabanca Grande Luís Graça:

Um verdadeiro "boomerang", o dilagrama, nas matas cerradas da Guiné... Deve haver para aí muitas outras histórias de mortos e feridos graves devido ao "fogo amigo" do dilagrama... E não só: eu apanhei com o "cone de fogo" de um LGFog 8,9 (!), na resposta a uma emboscada... Podia ter lerpado, se estivesse ainda mais perto do raio da bazuca. (...) (**)

Guiné 61/74 - P23454: Os nossos seres, saberes e lazeres (514): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (60): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 5 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Junho de 2022:

Queridos amigos,
Conheci a Lagoa, o Vale das Furnas e o Parque Terra Nostra na semana que precedeu o Natal de 1967, foi paixão à primeira vista, não há visita a esta ilha mágica sem peregrinação a este recanto de inumeráveis belezas. Ofereceram-se depois o livro "Um Inverno nos Açores e um Verão no Vale das Furnas", obra dos irmãos Joseph e Henry Bullar, edição antiga, de 1949, ardeu numa tempestade de fogo na Guiné, em março de 1969, tenho dado voltas para o reencontrar, consta que vai ser reeditado finalmente. Oferecido por João Hickling Anglin, tinha bonita dedicatória, um relato amorável de um irmão que acompanha outro muito doente, que ali vinha restaurar forças e salvar os pulmões, uma bonita coletânea de observações sobre aquela gente que vivia exclusivamente da terra e que para eles tinham uma estranha alegria de viver, até nas suas manifestações de fé e no langor das suas danças. Venho aqui com uma imensa alegria, banhar-me nestas águas férreas, calcorrear o parque, deambular entre as fumarolas e mastigar um cozido de louvar a Deus.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (60):
De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 5


Mário Beja Santos

Chegou a hora de arrumar algumas recordações desta inolvidável visita. Percorri alguns dos lugares que me são mais queridos em Ponta Delgada, de jardins a museus; de autocarro andei pela zona da Bretanha e fui até aos Mosteiros, um itinerário que vai da costa sul à costa norte; palmilhei a Lagoa, aí encontrei um monumento aos antigos combatentes, registei os mortos na Guiné; houve viagem meteórica na região da Povoação, tinha saudades do Faial da Terra, já percorri em toda a sua extensão a Lagoa das Furnas, o dia de hoje é todo ele para o Vale das Furnas (ou será Vale Formoso das Furnas?), estou cheio de ansiedade por fazer o primeiro passeio pelo Parque Terra Nostra, estou num território onde não há praias mas há plátanos, cedros, metrosideros, inúmeras camélias, as mais delicadas variações cromáticas, já me foi dado fruir paisagens a perder de vista e de se perder a vista nela, agora é tudo uma concentração dos rugidos vulcânicos e de floresta exótica, expressiva do mundo inteiro. Ao gizar o programa desta visita tão breve ainda pensei peregrinar pelas três principais lagoas, começando pelas Sete Cidades e acabando no Fogo. Mas rendi-me, seria uma insensatez passarinhar e fingir que ver, estou feliz com a decisão, de assentar arraiais nas Furnas, sei que é um dos lugares mais conhecidos, estimado pela grandiosidade do conjunto, há aquele esplendor do que é avistado no Salto do Cavalo ou no Pico do Ferro, mas já estou como li no guia turístico, “as Furnas não são um lugar para se dizer o que é, mas para ser ver como é”.
Estamos, pois, no fundo da cratera de um vulcão, quem se perde nesta imagem, ainda por cima não marcada por todos aqueles vapores das fumarolas que tanto impressionam o turista, até pode não atender que lá ao fundo na costa arribaram os povoadores, foram desbastando toda aquela massa florestal, bem impressionados com estes rugidos infernais como seguramente tomariam como um aviso de Deus. Aqui há águas termais, toda esta serrania penhascosa em derredor, sente-se o quente e o húmido, é a Corrente do Golfo que marca toda a ilha, toda a região arquipelágica. Não se imagina vendo esta imagem que a escassos metros a terra treme e ruge, as lamas revolteiam-se, e ali ficamos especados a inalar vapores enxofrados.
É um espetáculo incansável, deu-me para pensar que os tais povoadores e os donatários julgaram ver até um dia chegar uma explicação científica, as Furnas estão hoje no concelho da Povoação, e o povoamento iniciou-se exatamente naquela costa entre a Povoação e Fila Franca do Campo, um cronista, de nome Gaspar Frutuoso, deixou-nos o registo desses tempos primordiais. Eu pasmo-me sempre com todo este caleidoscópio que S. Miguel oferece, as distinções marcantes entre o que se vê no Nordeste, na Fajã de Baixo ou na Fajã de Cima, na Ribeira Grande ou na Ribeira Quente, nos Fenais da Luz ou nas Sete Cidades ou na Lagoa do Fogo ou em Água Retorta, parece que o bom Deus aqui engendrou um puzzle de altos e baixos, do cachoar oceânico, daquelas reentrâncias que parecem destinadas à pura meditação. Feita esta cogitação para os meus botões, parto para o Parque Terra Nostra, atenção é a primeira visita.
É um dos mais belos parques ao cimo da Terra, espraia-se por 12 hectares, tem mais de 2 séculos de vida. Tudo começou em 1775 quando o Cônsul dos Estados Unidos em S. Miguel, Thomas Hickling, aqui mandou construir a sua residência de verão, havia então 2 hectares. Em meados do século XIX iniciou-se o engrandecimento do parque, criaram-se jardins de água, plantaram-se alamedas e canteiros, vieram especialistas que procederam à construção do atual canal serpentiforme, deram ordenamento a grutas e avenidas e caminhos e chegaram plantas de vários continentes. O empresário Vasco Bensaúde adquiriu como complemento do Hotel Terra Nostra.
Estão aqui reunidos exemplares das principais plantas endémicas da ilha de S. Miguel, no jardim da flora endémica e nativa dos Açores. Prepare-se o visitante para o passeio paradisíaco neste jardim que tem tanto de exótico como de botânico, é uma sensação única andar a mirar a coleção de fetos, as vireyas, originárias da Malásia, daqui são provenientes os rododendros, saltamos para as azálias, na altura deste passeio estavam exuberantes em branco, vermelho e amarelo, vale a pena determo-nos a ver estas encostas que parecem cobertas de musgo, o que não falta aqui são araucárias, é indispensável ir até à coleção de camélias, temos aqui 800 exemplares de diferentes espécies e cultivares de camélias.
Monumento dedicado ao Marquês da Praia e de Monforte
Uma bela alameda, puxando um pouco pela imaginação até se pode pensar que estamos numa atmosfera asiáticas, o viajante sente-se consolado, sabe que chegar, contemplar e partir é uma história interminável, há sempre uma infinitude de ver e rever, logo aquelas calçadas onde estão em permanente diálogo o branco e o preto, as altitudes dos picos, o chá, o ananás e as hortências, os miradouros, as pastagens, os portos, as lombas e as canadas, ter o privilégio de ver passar os romeiros, estar sentado e ter tempo para que as cores da paisagem se matizem com as nuvens navegantes. E aqui neste Vale das Furnas há um cozido sem igual, até o estômago está em festa.
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Notas do editor

Poste anterior de 16 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23434: Os nossos seres, saberes e lazeres (512): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (59): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 4 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 21 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23449: Os nossos seres, saberes e lazeres (513): Retomadas as festividades à Senhora de Antime, em Fafe (Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro)

Guiné 61/74 - P23453: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XXXIV: António Eugénio da Silva Sampaio, alf inf (Bragança, 1893 - França, CEP, 1918)



António Eugénio da Silva Sampaio (1893-1918)



Nome: António Eugénio da Silva Sampaio

Posto Alferes de Infantaria

Naturalidade: Bragança

Data de nascimento: 24 de Janeiro de 1893

Incorporação: 1916 na Escola de Guerra (nº 512 do Corpo de Alunos)

Unidade: Depósito de Infantaria, Regimento de Infantaria n.º 30

Condecorações

TO da morte em combate: França (CEP)

Data de Embarque: 8 de Janeiro de 1918

Data da morte: 9 de Abril de 1918

Sepultura: França, Cemitério de Richebourg l`Avoué

Circunstâncias da morte: Na batalha de 9 de Abril foi ferido gravemente e feito prisioneiro tendo sido, mais tarde, encontrado o seu cadáver no campo de batalha.





António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem


1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 10 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23064: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XXXIII: Manuel Augusto Farinha da Silva, ten inf (Lisboa, 1892 - França, CEP,1918)

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23452: In Memoriam (441): João Moura, ex-Fur Mil Mec Auto da CCS/BCAV 2922 (Piche, 1970/72) (Hélder Sousa)

IN MEMORIAM

João Moura, ex-Fur Mil Mec Auto
CCS/BCAV 2922 (Piche, 1970/72)


Em mensagem de 21 de Julho de 2022, o nosso camarada Hélder Sousa, (ex-Fur Mil TRMS, TSF - Piche e Bissau, 1970/72), dá-nos conta do falecimento de João Moura, ex-Fur Mil Mec Auto da CCS/BCAV 2922:

Caros amigos:

Estive no velório do Veríssimo Ferreira onde, para além de mim próprio, apresentei e deixei registadas as condolências em nome do Blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné".

Já vi que a filha Cristina publicou umas fotos na página do Facebook, acompanhando um pequeno texto.

Entretanto, nesta manhã, quando abri o computador para ver como estava o trânsito para me deslocar a Loures, deparei com mais uma notícia de falecimento de camarada nosso. Tratou-se da informação de "há sete minutos" dizendo ser a esposa de João Moura, BIa Capote Moura,  que tinha falecido "nesta noite", de 20 para 21, portanto.

O João Moura foi o Furriel Mecânico da CCS do BCAV 2922 de Piche, 70/72. Homem de São Martinho do Porto, que propagandeava com gosto e orgulho, bom homem, bom camarada, amigo, pessoa esclarecida.

Lembro que esteve num almoço em Monte Real, em 2014, de que envio duas fotos em que está junto ao Francisco Palma.

Isto está a ficar complicado!
Hélder Sousa´

PS - Tinha página no Facebook.
IX Encontro da Tabanca Grande > Monte Real, 14 de Junho de 2014 > Francisco Palma e João Moura, ambos do BCAV 2922

Aos familiares, camaradas e amigos do João Moura, apresentamos as nossas mais sentidas condolências.

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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23445: In Memoriam (440): Veríssimo Luz Ferreira (1942-2022), ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1422/BCAÇ 1858 (Farim, Mansabá, K3 e Bissau, 1965/67)