
Queridos amigos,
Havia que acompanhar à última morada uma grande amiga, residente na fímbria de Frankfurt, filho e nora acolheram-me numa localidade a dezenas de quilómetros, Idstein, uma muito agradável surpresa, um impressionante património de séculos idos, cidade próspera onde pontificaram os condes de Nassau-Idstein até chegarem os senhores da Prússia. Procurei reter imagens dessa arquitetura esplêndida, sempre alvo de restauros, tem um belo jardim que data do século XVI, tudo cuidado desde o velho celeiro, à antiga caserna dos bombeiros, à praça do mercado, até a presença romana. Deslumbrou-me a igreja protestante onde se preza a união das igrejas, tem um teto coberto de 38 quadros da Escola de Rubens representando cenas bíblicas do Novo Testamento, é a necrópole dos condes e príncipes de Nassau. Amanhã começo a rever Frankfurt, tive sorte com o tempo, temperaturas quase sempre negativas mas sem neve.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (96):
Algures, na Renânia-Palatinado, em Idstein, perto de Frankfurt – 1
Mário Beja Santos
Fui despedir-me de uma velha amiga, em Offenbach, pertinho de Frankfurt, filho e nora deram-me cama e mesa, a partir do aeroporto de Frankfurt tive um acolhimento topo de gama. São ambos profissionais de saúde, bem se esforçaram por me abrir portas e dar-me mobilidade para andar na região. Começo em Idstein, foi território da Casa Nassau-Idstein, a partir do século XIII. Idstein foi residência de condes e soberanos até ao século XVIII, depois vieram os Prussianos, foi sempre importante e daí ter liceu, seminários, escolas agrícolas e de construção, no fim do século XVIII era mesmo uma cidade próspera, sobretudo na indústria dos curtumes.
O tesouro patrimonial de Idstein assenta fundamentalmente nestes belíssimos edifícios que datam dos séculos XV ao XVIII com os travejamentos em madeira, impressionantemente restaurados, por vezes com magníficas esculturas em madeira, andamos pelo centro histórico embasbacados, principalmente na Praça do Rei Adolfo. Na companhia da filha dos meus amigos, uma guia competente, começamos a digressão pela torre do castelo conhecida por Torre das Feiticeiras.
A torre é de uma beleza extraordinária, uma construção em diferentes fases, primeiro em 1170, depois 1240, mais à frente 1500, seguiram-se as extensões no século XVIII até obter a sua arquitetura atual em 1810. Vítimas de fanatismo religioso, houve perseguição a pessoas chamadas feiticeiras e foram queimadas, no fim do século prestaram uma homenagem às vítimas de tão medonha perseguição, com esta placa alusiva.
Em terras germânicas fala-se sempre em castelo a propósito destas residências senhoriais, aqui viviam os Nassau-Idstein, o palácio teve o seu esplendor entre os séculos XVII e XVIII. Na brochura que pude ler, refere-se que os tetos em estuque são magníficos.
Por cima da entrada do castelo temos uma escultura denominada Os Brasões da Aliança (cerca de 1630), para comemorar o primeiro casamento do conde Johannes com Sibylla Magdalena de Baden-Durlach.
Placa comemorativa que indica que o castelo, a partir de 1946, se tornou uma instituição de ensino.
Estamos em pleno centro histórico, o salão de Idstein, o único rei alemão da casa Nassau, Adolfo (1250-1298) foi quem lhe deu o nome, foi praça de mercado, e também foi sempre um ponto central da cidade.Uma outra perspetiva do centro histórico com fontanário
Chama-se a Casa Killing, data de 1620, é aqui que funciona o turismo e o museu municipal, está dotada de magníficas esculturas ornamentais, é hoje propriedade da municipalidade.Chama-se a Casa Inclinada, data de 1727, tem quatro andares, aqui funcionou a farmácia de Idstein de 1736 a 1745, houve erros arquitetónicos que explicam a sua inclinação, conheceu um restauro em profundidade no fim do século XX.
Nunca me fora dado a ver uma joia do barroco como esta, trata-se da igreja protestante unitária, é este o nome que tem desde 1917, para celebrar os 100 anos da fusão entre as igrejas reformada e luterana. É um edifício que data do século XIV, as alterações de fundo ocorreram até ao princípio do século XVIII. A arquitetura exterior é muito sóbria, num contraste absoluto com o seu interior barroco, primam as cores intensas nos quadros da escola de Rubens tanto no teto como nas paredes, têm opulentas colunas, marcadas, um altar de colunas salomónicas, um riquíssimo púlpito e fontes batismais em mármore polido do rio da região, o Lahn.
Um pormenor do teto e das paredes
Uma vista da igreja a partir do altar, veja-se a zona do primeiro andar que permitia farta assistência às cerimónias religiosas; os candelabros são de época recente. Um aspeto curioso do teto é que funciona como uma Bíblia ilustrada.Pelo caminho, uma ruela apertada, um vestígio dos tempos medievais
Um pormenor do relógio da igreja protestante da cidade
Uma breve visita ao museu municipal, quadro do rei Adolfo, o único soberano da Casa Nassau-Idstein
Fica aqui o essencial de Idstein, uma cidade com muita vida que inclui na sua periferia onze comunas autónomas, Idstein situa-se ao norte da região Reno-Meno. A etapa seguinte é a primeira visita a Frankfurt.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 19 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26703: Os nossos seres, saberes e lazeres (677): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (201): O que fica na bagagem do viajante e se retira do fundo da gaveta (Mário Beja Santos)