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terça-feira, 27 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26853: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte V: aqui sinto-me em casa, encontro tias, primos, vizinhos, colegas de escola e do liceu...

 

Foto nº 1 _ Paragem no autocarro dos "Transportes Urbanos Militares" na Amura


Foto nº 2 > Restaurante Pelicano



Foto nº 3 > Ronda (Café e Pensão)


(Cortesia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


O Carlos Filipe Gonçalves, Kalu Nhô Roque (como consta na sua página no facebook):

 (i) nasceu em 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde; 

(ii) foi fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74; 

(iii) ficou em Bissau até 1975; 

(iv) radialista, jornalista, historiógrafo da música da sua terra, escritor, vive na Praia; 

(v) membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, nº 790;

 (vi) tem 23 referências no nosso blogue.(*)


Mais extractos de "Recordações de um Furriel Miliciano, Guiné 1973/74". Fotos relacionadas com o Texto: Paragem do autocarro na Amura (nº1). Restaurantes Pelicano Nº 2) e Ronda (nº 3).

Voltamos a chamar atenção para a ausência de notas de rodapé, essenciais para situar o leitor com informação adicional. Isso é devido à não aceitação pela formatação no Facebook.


Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) (*)


Parte V: em Bissau, sinto-me em casa, encontro tias, primos, vizinhos, colegas de escola e do liceu...


Logo depois da minha chegada a Bissau nas primeiras semanas fui.... à  descoberta de Bissau, tenho encontros imprevistos...
.
O recém-chegado de Lisboa à Guiné sofre um choque térmico, que provoca suores, estamos sempre melados! No final de um dia de trabalho anseia-se por mais um banho; no meu caso, já vou no terceiro depois dos de manhã cedo e do meio-dia! E haverá mais um, antes de dormir. 

Perfumado e bem vestido «à civil», passo pela messe para o jantar, depois é rumar a Bissau, para uma bica num café qualquer, conversar, distender…

Na rotina que se vai instalar, jantar fora tem muitas opções de restaurantes: perto do QG na estrada de S. Luzia está o “Santos” com bons vinhos, bifes e mariscada… O camarão e ostra são baratíssimos! 

Há,  em Bissau, restaurantes afamados como “Solar do 10” ou “Pelicano” com uma esplanada frente ao porto de Pidjiguiti, beneficia do ar fresco que vem do rio Geba. Aliás, opções não faltam! O convívio no restaurante permite a fuga do ambiente do quartel e dos pratos «beras» que constituem o menu do jantar: normalmente peixe frito com arroz, de tempos a tempos, pastéis de bacalhau, que a malta chama ironicamente «pastéis de batalhau» por conter mais batata que bacalhau. 

É bom dizer, na situação de “comissão de serviço” em que as pessoas são enviadas obrigatoriamente para as PU (províncias ultramarinas) há uma permanente contestação e resistência a tudo e mais alguma coisa. Mandam-se bocas por tudo e por nada, o pensamento está centrado em passar os dias, chegar ao fim da comissão e o regresso a casa.

Apanhar o autocarro dos “Transportes Urbanos Militares” para Bissau, logo depois do jantar, passou a ser um hábito de todos os dias. O autocarro vai sempre cheio, muitas vezes temos que esperar pela volta, para se encontrar um lugar na próxima viagem. Há várias paragens… Eu, e quase toda a malta, descemos na Amura, um imponente forte, velho de séculos onde está instalado o Comando Chefe. Trata-se de um ponto central, há um pequeno largo e comércio à volta.

 Quando se desce do autocarro, depara-se logo em frente com uma loja de roupas e artigos de luxo, em cuja montra, marca presença um imponente poster, publicidade de relógios «Citizen» no qual se vê o musculado Charles Bronson, um actor de cinema, muito afamado na época. Esta zona é o «down town», conhecida entre os locais, por “Bissau Velho”, onde há muitas lojas e um comércio florescente.

Aqui se encontram o afamado Café Bento, uma esplanada ladeando a avenida principal, e o restaurante Pelicano em frente ao Geba. Estão todos cheios de gente e muito movimento. Se não encontrávamos um lugar ali perto no Bento, eu os meus camaradas militares, deambulávamos pela cidade, às vezes, passávamos pelo Café Ronda a meio da longa avenida principal; subindo mais, um pouco, chegávamos ao Café Império, ali ao lado na praça do mesmo nome. Em frente via-se o Palácio do Governador, no meio da praça está um monumento, um obelisco, se não me engano, evoca o dia da raça, ou será os descobrimentos?

Associação Comercial,
Industrial e Agrícola de Bissau
.

Fonte: Cortesia do Blogue  Luís Graça &
Camaradas da Guiné
Naqueles primeiros dias da minha chegada, estávamos sentados no Café Império, quando ouvimos música e vimos uma movimentação de pessoas num prédio imponente em frente. Fomos ver! Descobrimos que havia uma festa. Era no prédio da Associação Comercial que contava com luxuosas instalações. 

Atrevidamente entramos, subimos, ao primeiro andar, deparamos com um grande salão que está todo enfeitado com balões e serpentinas… há poucas pessoas a dançar, nem nos ligam. Descubro então que se trata de um baile de Carnaval! É que a minha chegada a Bissau, naquele início do mês de Março, coincidiu com o Carnaval e eu nem sabia! 

Naquele ano, a Terça Feira Gorda caiu no dia 6 de março (de 1973). Nesta festa, toca-se música de gira-discos/aparelhagem, ouço Luís Morais e Bana, ambos cabo-verdianos, música angolana… 

Esta festa de Carnaval neste edifício, relembra-me logo o “Grémio”,  um clube social na minha longínqua cidade do Mindelo. Relembro Cabo Verde…, mas, sinto-me em casa, em Bissau!

Nos dias seguintes, faço a habitual ronda por Bissau ao fim do dia. Ainda não se completou uma semana desde a minha chegada, quando ao sair do autocarro, ouço uma voz a chamar: "Kalú! Kalú!"... Volto e dou de caras com o Espim, um amigo que conheço de Cabo Verde. Abraços, risadas, uma agradável surpresa. Ele pergunta logo: “Por aqui? Quando chegaste?” Respondo: “Estou cá na tropa, cheguei semana passada!” Ele explica logo: “Estou cá, desde há cerca de dois meses! Passei num concurso e vim trabalhar no BNU. Somos quatro, todos de Cabo Verde!” 

Abandonei logo os meus camaradas militares, acompanho o Espim, sentamo-nos logo ali em frente na pequena esplanada “Zé da Amura”. Espim é meu velho colega dos tempos do liceu em S. Vicente, tem esta alcunha «espinho» porque é muito alto e magro. Fez logo questão de me mostrar que já consegue dizer umas coisas no crioulo da Guiné, mas logo retomamos a conversa no nosso crioulo de S. Vicente. 

Ele leva-me depois ali ao lado, à casa de pessoas conhecidas com quem ele já se familiarizou, sou apresentado, há muita conversa, descubro então mais dois colegas dos tempos do liceu, um deles, militar (Adriano Almeida) já em final da comissão, também trabalha no quartel-general, o outro (Manuel Rosa), filho de cabo-verdianos nascido na Guiné, mas esteve a estudar em Mindelo, fora meu colega no liceu, está prestes a ser incorporado, deverá ir para o Centro de Instrução Militar em Bolama.

 Abraços, evocações de velhas recordações, muita conversa… não resisto em dizer ao leitor mais uma vez: sinto-me em casa!

A partir de então, a cada dia que passa, vou conhecendo mais gente de Cabo-Verde e encontro familiares: duas tias, um primo da minha mãe e seus filhos, etc. etc. Natural, pois, há ligações familiares antigas com a Guiné, a minha mãe contava que a avó paterna dela, era da Guiné… até encontro laços familiares no quartel! 

Certo dia, sou abordado pelo comandante do BINT (Batalhão de Intendência) que susto! Afinal era só para perguntar: "O nosso furriel de onde é?" Respondo: "de S. Vicente de Cabo Verde".  E aí, o nosso major me diz que fez uma comissão em S. Vicente (em Cabo Verde), é casado com uma cabo-verdiana e dá-me pormenores… Vi logo que a esposa era a filha de um familiar meu, do ramo dos Lopes da Silva! Dou-lhe o nome e o nosso major, fica espantado! Eu conhecia muito bem o pai da esposa , que era compadre do meu padrasto! Mas, hierarquia «oblige» o tratamento continuou, o da praxe: ele lá, eu cá, continência, bom dia/boa tarde, meu major!

Venho depois a saber, muitas repartições e serviços da administração pública de Bissau, têm cabo-verdianos, no BNU são quase todos cabo-verdianos! Verifico mais tarde, há muitos cabo-verdianos, instalados desde muitos e muitos anos na Guiné! Passo a ser convidado para festas, almoços com familiares, pouco a pouco vou-me inserindo na sociedade guineense.

 Começo então a tomar contacto com a organização social na Guiné. Como em Cabo Verde, em Bissau fala-se o crioulo nas conversas familiares e informais, o português é uma língua formal, de relações oficiais e de respeito. E há as línguas das etnias, há programas na rádio em crioulo e nessas línguas depois das 7 da noite ; não entendo nada do que dizem. As etnias residem e agrupam-se por bairros…. Entre os da mesma etnia, fala-se na sua língua, com outros fala-se em crioulo. Com o tempo irei aprender a distinguir vagamente as sonoridades de algumas línguas… 

Teresa Schwarz [escritora, viúva do peota e cantor José Carlos Schwarz], que viveu desde os inícios dos anos 1970 em Bissau tem a mesma percepção, explica: 

“A pequena burguesia (de Bissau) era constituída por famílias originárias de Cabo Verde e de Portugal. Os guineenses vivendo na «praça» eram poucos. Esses últimos vinham (à cidade), trabalhavam e retornavam à tarde às periferias (tabancas que rodeiam Bissau). Os lazeres eram piqueniques, festas, bailes onde a música cabo-verdiana primava.”

Pelos cabo-verdianos na tropa no mato, recebo notícias do que por lá se passa.

Nos próximos meses, vou encontrar mais cabo-verdianos, são militares que estão no mato, mas que volta e meia estão de folga em Bissau, ou então a caminho de férias em Cabo Verde. É então, o momento de convívio, comezainas de camarões, ostras… e beber umas cervejadas para espantar o calor. Locais de convívio não faltam em Bissau. Nas conversas, alguns falam da situação no mato, outros nem por isso. 

O CT é um velho amigo desde a escola primária, era meu vizinho em S. Vicente, estava colocado em Galomaro. Ele conta-me que os ataques dos «turras» eram quase sempre à hora do almoço ou do jantar e comentou: “Não imaginas como isso nos afecta psicologicamente! Quando soam os primeiros tiros de canhão sem recuo ou mísseis, vamos todos para o abrigo. Muitas vezes ficamos sem almoçar ou jantar!” 

Diz-me depois a rir: “Olha, eles até descobriram o meu nome!” Perguntei: "Quem?" Ele responde: “Os turras! Olha, há dias, atacaram à hora do almoço e depois foram-se embora! Quando voltávamos do abrigo, vimos um papel pregado no arame farpado que circunda o quartel. No papel, estava escrito: o meu nome e a frase «Cathorr de dôs pé»! Tradução: cão de duas patas! (uma alusão ao colaboracionismo com a tropa). 

Claro que os colegas portugueses não entenderam nada, pois não sabem a minha alcunha e a frase estava em crioulo!” Já o JL nunca conta nada, fala pouco. Quando nos encontramos, gosta é de pedir uma garrafinha pequena de whisky, daquelas para meter nos bolsos, que têm à volta de 250 ml… Derrama o conteúdo num copo cheio de gelo e vai bebendo calado…

 Outro, amigo militar que estava no mato, era o JC, também um velho amigo de infância e do liceu em S. Vicente. Ele era das “operações especiais”, logo estava sempre à pega. Lamentava-se das operações difíceis no Cantanhez, Cacine e outros locais no Sul… Dizia, aquilo era o «Catanhezname»! Uma referência ao Vietname. Mas, ele era sempre muito vago, não descia aos pormenores e eu não insistia. 

O ZC era fuzileiro, outro velho amigo de infância e dos tempos do liceu. Quando vinha a Bissau, era aquela confraternização, mas ele também era parco nas informações, apenas dizia: “Eh pá! Na última missão foi porrada e mais porrada! Felizmente estou vivo!” Certa vez percebi vagamente que teria sido uma operação no Norte… em Guidage como veremos mais à frente.

(...)

(Revisão / fixação de texto, parènetses retos, links, título, negritos: LG)
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P26852: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (13): Comissão liquidatária e Esferográficas Parker

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


42 - COMISSÃO LIQUIDATÁRIA

Terminada a permanência em Nova Sintra, rumamos a Tite para completar os vinte e dois meses de comissão. Como não tinha funções a executar relativamente à minha especialidade, o sargento da CCS colocou-me a fazer serviços da guarda e integrado numa equipa a fazer picagem à pista de aviação. Não estava nada interessado naquilo, mas ainda fiz por duas vezes a picagem. Quanto ao serviço da guarda não fiz nenhum.

Ouvi dizer que estava em formação a comissão liquidatária e ofereci-me para ser o representante da minha companhia, o que foi aceite. Era coordenada pelo Major Martins Ferreira, 2.º Comandante do Batalhão e composta por um representante de cada uma das companhias operacionais. A minha missão era ir junto dos diversos serviços (Intendência, Material, Transmissões e Saúde) resolver ou acelerar a resolução de autos pendentes, relativos a autos instaurados, por perdas, deterioração de géneros, desgaste de peças das viaturas, dos rádios, material de saúde, bem como os resultantes da atividade operacional. As questões relacionadas com o armamento e fardamento seriam mais tarde tratadas pelo 1.º e 2.º Sargentos. Fomos para Bissau e ficamos instalados no Quartel de Santa Luzia.

Por determinação do major, tinhamos de estar todos os dias às dez horas da manhã, à porta do seu quarto. Assim fiz durante os dois primeiros dias, mas depois deixei de comparecer porque o major só muito depois das onze é que resolvia aparecer. Como os serviços abriam às oito horas, a manhã estava perdida e à tarde o movimento era maior, portanto mais complicado. Comecei a ir àqueles serviços à hora de abertura. Tive a sorte de em alguns serviços encontrar gente conhecida da escola de Gaia e da Oliveira Martins, no Porto e até da Tranquilidade, onde trabalhava na vida civil., que me resolveram a grande maioria dos autos. Aqueles que não consegui, mas que foram poucos, ficaram para ser tratados pelos sargentos.

No final de tarde estava a beber umas cervejas num café da baixa, após ter realizado mais um circuito pelos serviços, quando o furriel Graça que era, digamos, o adido em Bissau do Batalhão, veio ter comigo e disse: “ó pá estás tramado, o major quer dar-te uma porrada e quer que compareças amanhã“. Assim fiz. Quando o major me viu, do alto dos seus galões vociferou, "ó pá,  que merda é esta, passas os dias no café a beber cerveja e trabalhar nada?". 

Respondi dizendo que ele estava enganado, pois começava a trabalhar às oito horas e que já tinha a maior parte dos autos resolvida e apresentei provas. “Mas como isso é possível?” disse ele. Contei-lhe da rede de contactos que tinha feito, ficou surpreendido e até invejoso. Disfarçadamente pediu que o acompanhasse no dia seguinte e que o apresentasse aos meus amigos. Assim foi feito e ele lá começou a resolver os seus autos. Passou a jogar a bola rente ao solo, tanto assim que me convidou para um jantar e uma ida ao cinema. Fomos os dois e lembro que o filme era “A Piscina” com Allan Delon e Romy Shneider.

Numa das vezes que fui ao Hospital Militar, ao Serviço de Saúde, ao passar junto à varanda de uma das enfermarias, ouvi gritar pelo meu nome, "ó primo Silva". Só podia ser o Zé Pedro, o candidato a árbitro de futebol. Estava internado em tratamento e a aguardar intervenção para retirar estilhaços de granada alojados nas costas.

Junto cais do Pidjiguiti
Margem esquerda do rio Geba.
Inicio zona sul da Guine pantanosa


43 - ESFEROGRÁFICAS PARKER

Durante a permanência em Nova Sintra e com a minha gestão na cantina, os lucros resultantes da exploração, eram aplicados na aquisição de bens que minimizassem as nossas dificuldades e recordo a compra de ventoinhas para os diversos abrigos. Saídos de Nova Sintra já não havia em que gastar o dinheiro em caixa. De acordo com o alferes Martinho e dado que estava em Bissau na comissão liquidatária, pesquisei em várias lojas artigos com interesse. A melhor solução encontrada foi adquirir esferográficas Parker e com a concordância do alferes comprei uma para cada militar, mais ou menos cento e cinquenta. Foi gravada a inscrição CCAV 2483.


Zona comercial libanesa
A esferográfica
Ilhéu do Rei no meio do rio Geba

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26820: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (12): O meu acidente

Guiné 61/74 - P26851: Convívios (1033): Rescaldo do Encontro do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), levado a efeito no passado dia 24 de Maio de 2025, em Arganil (Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav)

1. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (1970/1971), com data de 26 de Maio de 2025:

Caros amigos
Votos de ótima saúde.

Realizou-se um convívio de camaradas do BCAÇ 2885, que esteve sediado em Mansoa.
Anexo algumas fotografias para publicitação no blogue se assim o entenderem.
O evento ocorreu junto ao Santuário do Mont´Alto no concelho de Arganil, distrito de Coimbra.

O Santuário (mariano) culmina numa capela situada a 615 metros de altitude (no mais alto do cômoro), onde os peregrinos se dirigiam (outrora único caminho) em romaria e devoção, passando por 6 Ermidas dedicadas a vários Santos. As Ermidas servem como descanso e alívio, em virtude de ser caminho comprido e escabroso por o monte ser muito alto.
O santuário assume-se também, como um miradouro privilegiado, proporcionando vistas deslumbrantes sobre o rio Alva, a serra do Açor e os campos circundantes.

Um grande abraço
Ernestino Caniço


Foto 1 - Aspecto da sala
Foto 2
Foto 2 e 3 > Entradas servidas no exterior
Foto 4 > Ex Alf Ernestino Caniço, ex-Alf Jacinto Rodrigues, ex-Cap Jorge Picado, ex-Alf Martinez
Foto 5 > Jorge Picado, César Dias
Foto 6 > César Dias
Foto 7 > Jorge Picado
Foto 8 > César Dias
Foto 9 > Ernestino Caniço, Jacinto Rodrigues, Jorge Picado, Martinez
Foto 10 > Jacinto Rodrigues, Ernestino Caniço
Foto 11 > César Dias, Ernestino Caniço, Jacinto Rodrigues
Foto 12 > Jorge Picado, Martinez, ex-Fur Filipe

Fotos enviadas e legendadas por Ernestino Caniço. Editadas por CV
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Nota do editor

Último post da série de 26 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26848: Convívios (1032): No rescaldo do nosso encontro (Famílias Crisóstomo & Crispim + amigos), Torres Vedras, Convento do Varatojo, 25/5/2025 (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P26850: (De) Caras (232): Mamadu Baio & Amigos, 16ª edição do "Junta-te Ao Jazz", Palácio Baldaya, Benfica, Lisboa, 25 de maio de 2025... Como disse o Mamadu Baió (viola baixo, voz, compositor): "a música não tem fronteira, nem tem cor, não tem raça"


Vídeo: 2' 13" Fonte: You Tube > Luís Graça > @Nhabijoes (2025)



 


 Vídeo: 2' 50" Fonte: You Tube > Luís Graça > @Nhabijoes (2025)
 

Foto nº 1 > Em primeiro plano, três grandes músicos da "escola de Tabatô" (Bafatá. Guiné-Bissau): o Mamadu Baio (ao centro, voz e viola baixo, além de compositor), um Djabaté, primo do grande Kimi Djabaté (cora e voz) e o Demba (balafom)


Foto nº 2 > O Demba, bafalom (que o João Graça também conheceu em Tabatô, em dezembro de 2009)


Foto nº 3 > O Mamadu Baio, e em segundo plano um angolano (cujo nome não fixei, mas que trabalha também com o Paulo Flores, é  um musico talentoso que toca vários instrumentos)


Foto nº 4 > O único branco (oriundo dos "Melech Mechaya", extinto grupo de música klemer, toca violino)


Foto nº 5 > O Nhanhero... (uma relíquia)



Foto nº 6 > Cabeçalho da 16ª edição do festival "Junta-te Ao Jazz", Lisboa, Palácio Baldaya, 23-25 de maio de 2025


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Mamadu Baio

1. Nunca tinha ido ao Palácio Baldaya, em Benfica, Lisboa. Nem ao festival "Junta-te ao Jazz", organizado pela Junta de Freguesia de Benfica (*). Fui ontem, 25 maio, no último dia. E para ver e ouvir o Mamadu Baiô + Amigos... 

Pois, meus caros, foi um "show de música" (!), com a escola de Tabatô, cheia de jovens talentos, a vir ao de cima...

É tudo gente da diáspora africana... Tabatô tem 35 dezenas de referências no nosso blogue. Desde sempre temos apoiada a música e os músicos da Guiné-Bissau, dando nomeadamente a conhecer os seus trabalhos, atuações, espectáculos, projetos, etc.

 Contribuimos (alguns de nós) também numa campanha de angariação de fundos para a edição do 1º CD do Mamadu Baio, em Portugal. O dinheiro recolhido (mais de 3 mil euros) está em boas mãos e vai permitir que esse sonho se concretize.  Esperemos que em breve...Mas é tudo muito lento e difícil para estes nossos amigos africanos, ou se origem africana
 ( O Mamadu e português  pelo casamento.)

É uma pena que estes jovens músicos, que esperam musica por todos os opostos da ele, que começaram logo a beber música com o leite materno, tenham que andar a trabalhar na construção civil, para sobreviver, aqui (e no resto da Europa). (**)

Dois destes músicos são membros da Tabanca Grande, o Mamadu Baio (ex-Super Camarimba) e o João Graça (ex-Melech Mechaya). 

O João Graça, também médico, oncopsiquiatra, tem apoiado, de muitas maneiras maneiras, os nossos amigos guineenses músicos. É conhecido e acarinhado por todos eles. E há anos que toca com eles (e nomeadamente com o Mamadu Baio, que conheceu em Bissau, em dezembro de 2009).

Gostei do desempenho do Mamadu Baio e dos seus amigos. E o reportório que foi escolhido, estava adequado ao evento e ao local, ao ar livre,  em tarde de sol, mesmo que tenha coincidido com a final da Taça de Portugal em Futebol ( estavam as ruas desertas quando cheguei a casa).

Já sugeri, em tempos ao Mamadu (que canta em mandinga) que faça sempre antes, no início de cada canção, uma pequena sinopse ou resumo das letras: cada canção conta uma história. Tabatô é uma aldeia de "griots" ou "djidius" que no antigo império do Malu e depois no reino de Gabu eram trovadores, músicos ambulantes, levando as notícias às tabancas, divulgando as lendas e narrativas de reis, guerreiros e heróis... Em suma, eram as redes sociais daqueles tempos, anteriores à ocupação colonial dos europeus.

Recorde-se que o João Graça, quando esteve na Guiné-Bissau, em dezembro de 2009, passou  uma noite memorável em Tabatô. (***) Disse ele que foi uma das experiências mais marcantes da sua vida.  Nessa altura ele terá conhecido o melhor da Guiné, teve mais sorte que o pai, que quarenta anos antes conheceu o pior, ou seja, a guerra.


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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26840: Agenda Cultural (886): Entrada livre... O nosso grão-tabanqueiro, luso-guineense, Mamadu Baio & Amigos (incluindo o João Graça, violino, mais 5 guineenses), amanhã, dia 25, no Palácio Baldaya, Estrada de Benfica, 701, Lx, às 17h30, na 16ª edição do festival "Junta-Te Ao Jazz"... Encerra, às 18h30, com o grande Paulo Flores, a voz angolana do kizomba, do semba, da resiliência e da esperança

(***) Vd. poste de 13 de maio de 2011 > Guiné 83/74 - P8261: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (11): 15/16 de Dezembro de 2009, uma noite de magia e de emoções, entre os Jacancas de Tabatô, da família de Kimi Djabaté, com a mais universal das linguagens, a música

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26849: Notas de leitura (1801): "A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa", por António Duarte Silva; Afrontamento, 1997 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
É extensíssima a bibliografia que António Duarte Silva incorpora neste seu primeiro volume, quando o escreveu não era propriamente um recém-chegado ao mundo da investigação, possuía também tarimba universitária, fora assistente do ISCTE e da Faculdade de Direito de Lisboa, assistente da Escola de Direito e assessor científico da Faculdade de Direito de Bissau, possuía escritos sobre Direito Constitucional, Direito Colonial e Descolonização. 

Estruturado de uma forma singular, este seu primeiro livro faz desenvolver uma narrativa que se prende com o gérmen nacionalista até à fundação do PAIGC, como Amílcar Cabral foi o dínamo da estratégia, da formação, da abertura à comunidade internacional para a sensibilizar quanto às razões que assistiam às lutas do PAIGC, sempre entremeando o direito, a política e a luta militar, esta obra de referência levar-nos-á até ao contexto que foi reconhecida a Guiné-Bissau e a sua admissão nas Nações Unidas. O autor estava assim a preparar a maturação de uma tese sobre o pensamento e a ação de Cabral que agora está traduzida numa nova obra de referência e que se intitula Amílcar Cabral e o FIm do Império.

Um abraço do
Mário



A independência da Guiné-Bissau e a descolonização portuguesa (1)

Mário Beja Santos

António Duarte Silva [na foto à direita] é indiscutivelmente o investigador com mais créditos no estudo no pensamento e ação de Amílcar Cabral, no direito e política, abrangendo o seu centro de investigação, a independência da Guiné-Bissau e o processo jurídico-político da descolonização da Guiné-Bissau, toda a sua obra maneja com alta perícia estes domínios. 

O seu primeiro livro é exatamente o que vamos analisar, A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, Afrontamento, 1997, um trabalho de longo fôlego, assente em quatro partes: 

  • colonialismo e nacionalismo na Guiné; 
  • o ato inédito no direito internacional da declaração unilateral de independência; 
  • como se processou a descolonização portuguesa; 
  • e, igualmente, como teve lugar a formação do Estado.

Como é obrigatório, o autor apresenta a pequena parcela da Costa da Guiné explorada pelos portugueses a partir do século XV, como se foi modelando, à escala universal, o sentimento de mudança (de colonização para descolonização), assistiu-se à quebra das amarras das potências coloniais e dos povos tutelados; como se deu o despertar do nacionalismo em terras da Guiné, apareceu o Partido Socialista da Guiné, que pouco fez e pouco durou, irrompe a figura de Amílcar Cabral, a importância dos contactos que ele estabeleceu em Lisboa com outros estudantes africanos de colónias portuguesas, a sua presença como engenheiro na Guiné, onde, um ano depois de ele ter regressado a Lisboa, se tentou se criar um Movimento para a Independência Nacional da Guiné (MING), que Rafael Barbosa, que será figura fundamental do PAIGC até 1962, comentará que não passou de um campo de experiência.

Tudo irá mudar em 1959, mas no ano anterior um conjunto de nacionalistas decidiu formar um Movimento de Libertação da Guiné. A 3 de agosto de 1959, dão-se os trágicos acontecimentos do Pidjiquiti, haverá mortos de número indeterminado, tem lugar a 19 de setembro de 1959 uma reunião em Bissau, em que está presente Amílcar Cabral, em que se tomam importante decisões: deslocar a ação para o campo, mobilizando os camponeses, preparar-se para a luta armada e transferir parte da direção para o exterior. 

Ainda hoje não está historicamente aclarado a formação do PAI, dada como ocorrida em 1956. Entretanto, tem lugar a formação pelos movimentos nacionalistas da criação de organizações unitárias contra o colonialismo português, o autor dá-nos o quadro de toda esta construção, e assim chegamos à Conferência de Túnis em que em declaração pública Cabral fala da motivação da luta de libertação nacional; estamos em 1960, o líder do PAIGC passa a viver em Conacri, Rafael Barbosa é o condutor da mobilização de jovens guineenses que são encaminhados para a República da Guiné; em janeiro de 1961 partem dez militantes do PAIGC com destino à Academia Militar de Nanquim, China, irão tornar-se os principais comandantes de guerrilha, caso de Osvaldo Vieira, João Bernardo Vieira, Constantino Teixeira, Domingos Ramos ou Francisco Mendes.

Nos primeiros dias de outubro de 1960, o ainda PAI realizará em Dacar uma reunião de dirigentes, é nesse evento que foi adotada definitivamente a sigla PAIGC, aprovados os programas dos partidos, que tinham sido elaborados por Cabral, escolhida a bandeira do PAIGC, também por sugestão de Cabral; enviada uma vez mais ao Governo português a proposta de abertura de negociações, e a não haver deferência por parte do Estado português, teria início a luta armada. 

O quadro ideológico em que se irá mover Cabral irá diferir do proposto por outros intelectuais, líderes políticos ou líderes revolucionários. Embora sensível a paradigmas internacionais, Cabral irá cimentar o seu pensamento, no dizer de Mário de Andrade, pela convergência quanto à identidade cultural, ao nacionalismo, à identidade nacional, à guerra popular de longa duração, a uma nova ordem social, à natureza e ao controlo do futuro Estado independente.

Desde muito cedo que o líder do PAIGC busca apoios nesta altura fundamentalmente em África, URSS e países não alinhados. No início, Moscovo temia que o PAIGC estivesse dominado por tendências para os chineses. Conacri gera facilidades e dá ajuda concreta. 1962 é o ano em que Rafael Barbosa é preso na Guiné, é desmantelada a organização do PAIGC em Bissau e desencadeada a sublevação nas regiões do Sul. 

A luta armada propriamente dita inicia-se em janeiro do ano seguinte. O Ministro da Defesa, general Gomes de Araújo, numa entrevista a um jornal em julho de 1963 refere a preponderância do PAIGC no Sul, dizendo que tinham penetrado numa zona correspondente a 15% da superfície da província. 

Em meados desse ano, a guerra atingiu as florestas do Oio, tudo se vai complicar na zona Centro-Norte, é uma comoção demográfica impressionante com populações fugidas, tabancas abandonadas e destruídas, a vida administrativa e a atividade comercial profundamente afetadas.

 Nesta fase da luta, o PAIGC ainda tem um concorrente, a FLING, irá diluir-se a partir de 1965. O autor explica como Cabral procurou defender a sigla da unidade Guiné-Cabo Verde.

O período de 1964 a 1968 corresponde à unificação do poder civil e militar, Arnaldo Schulz é simultaneamente Governador e Comandante-Chefe, vai seguir e intensificar uma manobra de disposição de destacamentos e povoações em autodefesa, foi uma tentativa de agrupar a população que não quis expressamente ficar na órbita da guerrilha, se bem que no decurso de toda a guerra tenha vindo a avultar a problemática do duplo controlo. 

Neste período, consolida-se a posição do PAIGC no Sul, na região do Morés, os grupos do PAIGC atuavam praticamente no Sul abaixo do Geba e a Oeste do Corubal; Schulz e os seus comandos militares pronunciavam-se a favor do recurso às tropas de elite, ao reforço do poder aéreo e naval, foi favorável à africanização da guerra constituindo pelotões de caçadores nativos e pelotões de milícias, mais tarde companhias de caçadores , os efetivos militares metropolitanos foram crescendo, isto enquanto o PAIGC ia ganhando uma certa superioridade no armamento, na capacidade de flagelação, minagem das estradas e de muitos trilhos, obtendo um certo êxito na paralisação da atividade económica em certas regiões.

Nos cinco anos do Governo seguinte, tendo à testa Spínola, este pretendeu alterar significativamente a estratégia portuguesa, despachou para a metrópole um bom punhado de quantos militares, remodelou o dispositivo fazendo retirar a presença portuguesa sobretudo em áreas do Sul e na região Leste, no Boé. 

Pretendeu desde a primeira hora que se fizesse um esforço de contra penetração nas zonas fronteiriças, numa extensa ação psicológica fez lançar empreendimentos a que se deu o nome de reordenamentos populacionais, abriu caminho para os chamados Congressos do Povo, uma hábil forma de auscultação e uma simulação de democracia direta, iremos ver proximamente em que contexto dominante se foi montando uma estratégia conducente que levasse à independência, as iniciativas de Spínola para se chegar a um entendimento de autodeterminação, como se chegou à operação de declarar unilateralmente a independência e o apoio internacional imediato ao que se passou algures no leste da Guiné em 24 de setembro de 1973.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 26 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26847: Notas de leitura (1800): "Gil Eanes: o anjo do mar", de João David Batel Marques (Viana do Castelo: Fundação Gil Eanes, 2019, il, 131pp.) - Parte I: A história do navio-hospital da frota bacalhoeira (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P26848: Convívios (1032): No rescaldo do nosso encontro (Famílias Crisóstomo & Crispim + amigos), Torres Vedras, Convento do Varatojo, 25/5/2025 (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Torres Vedras > Convento do Varatojo > 25 de maio de 2025 > Convívio das famílias Crisóstomo & Crispim > A Vilma e o João, os organizadores do encontreo (o último tinha tamb´+em aqui, em outubro  de 2021, ainda na pandemia)

Foto:  © João Rodrigues Lobo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Torres Vedras > Convento do Varatojo > 25 de maio de 2025 > Convívio das famílias Crisóstomo & Crispim > Um momento lúdico-musical, depois da missa
 

Fotos:  © João / Vilma Crisóstomo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagens do luso-americano João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, cidadão do mundo:

Data - 26 maio 2025 11:33  

Assunto - No rescaldo do convívio das famílias Crisóstomo & Crispin + amigos e camaradas da Guiné

Meus caros,

O que segue é um follow-up a um comentário que enviei ao excelente trabalho/reportagem fotográfica sobre o convento de Varatojo e encontro de ontem pelo nosso João Rodrigues Lobo. ( Post 26844).

Eu já tinha convidado os nossos Luís Graca e Beja Santos a fazerem uma visita a este vestuto convento onde eu mesmo passei um ano, 1960, se me não engano. As fotos do João Lobo e anotações/descrições do Luís Graca creditam a minha afirmação de que uma visita e um ou dois posts sobre este convento no nosso blogue eram devidos …

Envio-vos, por E mail cópia desse comentário para vocês ( depois das fotos) pois acredito que nem todos têm tempo de visitar o blogue todos os dias. E vocês são todos "gente especial" que merecem esta especial atencão e muito mais.

Envio mais algumas fotos , estas tiradas já depois de todos nos termos dado o abraço mata-saudades. Na primeira foto aparece o Rodrigues Lobo, já com a letra na mão preparando-se para cantar…
Um meu sobrinho, artista de muita imaginação trouxe uma “G3” que ele fez duma raíz… ( última foto)

O ambiente e entusiasmo vividos são evidentes numa mensagem que recebi esta manhã dum primo meu ( que também esteve em Montariol!) e que copio
Abraço,
João
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Mensagem de Vitor Baptista (meu primo):

Muitos parabéns pelo êxito da organização e muito obrigado pelo empenho, dedicação, energia e cuidado que consagraste a este tão genuíno e puro encontro de familiares Crispins e Crisóstomos. Foste inexcedível. Os nossos agradecimentos sao também extensivos à Vilma que tão generosamente se disponibilizou para participar sempre com um sorriso de extrema gentileza.

Obrigado. Aceita um grande abraço e beijos da Elvira.
Obrigado.
Vitor
 

2. Comentário ao poste P26844 (*):

João Crisóstomo, Nova Iorque, de momento em Portugal

Mas que grande ( e agradável) surpreza quando me apareceu um indivíduo a apresentar-se como um "camarada, Membro da nossa Tabanca", à procura do Luís Graça! E logo vim a saber que vive em Torres Vedras! fiquei de boca aberta!... puxa vida! não tenho desculpa! Não fazia idéia que este senhor era nada mais nada menos do que o João Rodrigues Lobo, bem conhecido no nosso blogue! E ainda por cima vive em Torres Vedras!

Agora , sem jeito e cheio de remorços, pois nem uma fotografia tomámos juntos, resta-me pedir desculpas e pedir que me ligue ( deixei o meu cartão com os meus dados).A verdade é que estava tão excitado e ocupado para que o encontro dos meus ( Crispins, Crisóstomos e amigos) decorresse bem que não sabia para onde me virar. Mas valeu a pena, pois parece que todos os presentes ( pelo menos assim me diziam com grandes e apertados abraços e outras mostras de regozijo) viveram este momento com tanta alegria como eu. Além dos meus familiares vieram algumas pessoas/ e amigos de Lisboa e outros lugares mais longínquos que com um entusiasmo evidente juntaram as suas vozes , com o acompanhamento de acordeão e direção do nosso também tabanqueiro Rui Chamusco , cantando " Oh minha terra , onde eu nasci",  "O mar enrola na areia", "Tia Anica do Loulé", "Alecrim, alecrim aos molhos" e  outras cantigas duma maneira tão entusiasmada e contagiante que até a própria Vilma (que diz não saber falar português)  berrava a todos os pulmões... e agora já ninguém a quer acreditar,
 dizem que "ela está a mentir" quando diz não saber falar português...

Gostei muito também da fotos que o Lobo tirou. Bom trabalho, que merece parabéns. Já tinha dito ao Luís Graça e Beja Santos para virem a Varatojo: que valia bem a pena uma visita e um ou dois posts. Creio que estas fotos do João Lobo e respectivas anotações pelo nosso Luís Graça mostram que eu tinha razão.

E Muito Obrigado pelas antecipadas mensagens anunciando o encontro.

João Crisóstomo, Nova Iorque, de momento em Portugal

segunda-feira, 26 de maio de 2025 às 07:36:00 WEST
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Guiné 61/74 - P26847: Notas de leitura (1800): "Gil Eanes: o anjo do mar", de João David Batel Marques (Viana do Castelo: Fundação Gil Eanes, 2019, il, 131pp.) - Parte I: A história do navio-hospital da frota bacalhoeira (Luís Graça)


Gil Eanes, o anjo do mar
 = Gil Eanes, the angel of the sea / João David Batel Marques. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eanes, 2019. - 131, [1
] p. : il. ; 22 cm. - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-989-99869-7-8


Foto da capa: "Campanha de 1955. O Comandante Tenreiro visita o lugre 'Argus'. Da esquerda para a direita:  Imediato José  Luís Nunes de Oliveira (Codim), Comandante Henriqie Tenreiro, Capitão Adolfo Simóes Paião Júnior e Piloto Francisco Teles Paião" (pág. 132)

Estes e outros livros  (mais de 4 dezenas de livros e redordações: medalhas, catálogos,. gravuras, t-shirts,  etc.) relacionados com a pesca de bacalhau e a indústria naval podem ser comprados "on line" na loja virtual da Fundação Gil Eanes

Os produtos são enviados à cobrança pelos CTT e apenas em Portugal Continental. (Incluindo livros do Valdemar Aveiro, que tem 13 referências no nosso blogue; do João David Batel Marques; do António Trabulo, que foi médico no Gil Eanes; do Ângelo Silva, que foi enfermeiro; do investigador Senos da Fonseca, que é cunhado do capitão Jorge Picado; e outros).


O Navio-Hospital Gil Eanes (pág. 82)~

1. Nunca fui marinheiro nem pescador... Mas nasci à beira-mar. E o mar está no meu ADN, pelo lado paterno (o dos "Maçaricos", de Ribamar, Lourinhã).  Tenho uma grande admiração pelos nossos antepassados que foram "empurrados" para o mar para sobreviverem e garantirem a independência do seu pequeno rectângulo. Foi o mar que nos salvou e e foi o mar que nos perdeu... Hoje estamos de costas virados para ele... Mas isso é outra história...

Tivemos uma grande frota bacalhoeira. Tivemos uma grande frota da marinha mercante... Nunca tivemos uma grande frota de guerra, pelo menos nos últimos dois séculos... 

E tivemos o "navio-hospital" Gil Eanes,  que eu já visitei duas vezes (a última muito recentemente), desde que foi colocado, em 1998,  em exposição na antiga doca comercial de Viana do Castelo, transformado em espaço museológico. 

É um motivo de orgulho para os vianenses e para todos nós, que já fomos uma grande potência marítima, mas temos um défice de memória nesta (com noutras matérias, incluindo a da guerra colonial / guerra do ultramar, que se desenrolou a milhares de quilómetrros da nossa casa paterna).

O Gil Eanes é também motivo de orgulho para as gentes do alto Minho porque foi justamente construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. (Temos no blogue vários camaradas que trabalharam nos ENVC, a começar pelo Sousa de Castro,  o nosso  grão- tabanqueiro nº 2 (e que trouzxe com ele mais caamaradas de trabalho e da guerra da Guiné.)


O Gil Eanes iniciou a sua atividade como navio-hospital em 1955, apoiando durante décadas (até 1973), a frota bacalhoeira portuguesa que atuava nos bancos da Terra Nova e Gronelândia.  


Era um navio polivalente, tinha múltiplas funções, embora a principal fosse a assistência médico-hospitalar

  • estava equipado com bloco operatório;
  • inha enfermaria para 74 doentes;
  •  dispunha de 2 médicos e de um equipa de enfermagem permanente (pág. 47).


Do Gil Eanes diremos ainda que, para além da assistência médica,  exercia também outros tipos de assistência: 

  • religiosa (com capelão a bordo) (pág. 54);
  • afetiva (correio, comunicação por rádio/fonia entre as tripulações da frota e as famílias) (pág. 55);
  • material (transporte e fornecimento de isco,  de diversos aprestos e material de pesca, mantimentos, gasóleo, água doce, ferros, amarras, etc.) (pág.  56);
  • oficinal (reparação e manutenção de equipamentos) (pág. 57)...


Era também:

  • navio capitania (pág. 58);
  • navio quebra-gelos (pp. 58-64);
  • navio rebocador (pp. 65/67).

Desativada a frota bacalhoeira, o Gil Eanes ficou a apodrecer, criminosamente, nas docas de Lisboa, durante muitos anos. Até ser resgatado e devolvido â sua cidade... 


(,,,) Em 1998, a Fundação Gil Eanes (...) considerando-o património cultural e afetivo da cidade, resgatou-o da sucata por cerca de 250 mil euros, após uma inédita campanha que envolveu todos os estratos sociais vianenses.


Em 31 de Janeiro de 1998, foi recebido festivamente na Foz do Lima, onde, depois de limpo e restaurado, foi aberto ao público, assumindo-se como pólo de atratividade para Viana do Castelo.

A reconversão transformou-o num espaço museológico, integrando salas de exposição, sala de reuniões e loja de recordações." (...)


Mas isso é uma história para contar em próximo poste. 


Em 132 páginas, e profusamente ilistrado, este livro fala-nos  diretamente da epopeia do Gil Eanes que é também a da frota do bacalhau. Como se pode ler ma página da Fundação Gil Eanes, atual proprietária do navio:


(...) A história do Gil Eannes é, como a do Gonçalo da Ilustre Casa de Ramires, uma boa fatia da história de Portugal mas vista de Viana do Castelo.

Tudo começou com um povo de marinheiros que se habituou, desde que D. Dinis fez um tratado com o rei Inglaterra, a comer e a gostar de bacalhau. Ora, como o consumo crescia, houve um vianense que resolveu procurar noutras paragens o poiso do "fiel amigo". E, com a descoberta de Fagundes, que assim se chamava o ousado vianense, o "amigo" tornou a sua presença ainda mais "fiel" à nossa mesa. Mas os portugueses andavam agora ocupados com os açúcares, a Guerra da Restauração, o ouro e os diamantes, com as Índias, as Áfricas e os Brasis...

Quando isto falhou, passaram a vender vinho fino e madeira... E, se continuavam a comer bacalhau, era à "pérfida AIbion" que o compravam.

Até que, na reconstrução nacional por que em boa parte passou o fim do século XIX, surgiram capitalistas suficientemente empreendedores para armar navios destinados a pescar aquilo que se tomou um hábito alimentar insubstituível dos portugueses. O que também tornara o investimento por demais seguro: a mão de obra era barata e o consumo garantido.

Mas também as condições de trabalho eram péssimas (diríamos hoje desumanas). Pobres e mal alimentados, suportando um frio glacial a bordo dos lugres e dos dóris, os homens padeciam de doenças dos aparelhos digestivo e respiratório, furunculoses e reumatismo. 


Como a safra era de cinco meses, os homens, além da falta de carinho das famílias, suportavam a doença meses a fio. E, se sobrevinha uma apendicite ou um acidente cardio-vascular... Tantos lá ficaram no mar frio onde tinham ido grangear o sustento dos filhos! (...)

(Continua)



Para saber mais

Pagána do Facebook Navio-Hospital Gil Eanes


(Continua)
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Nota do editor: