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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27185: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (36): Filatelia da Guiné

1. Mensagem do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 25 de Agosto de 2025:

Bom dia para todos.
Continuando a minha série, envio mais algumas fotos de selos da Guiné para publicares no nosso blogue.

Abraço
João Moreira






(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 28 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27162: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (35): Filatelia da Guiné

Guiné 61/74 - P27184: S(C)em Comentários (76): Que disparate!... Claro que usámos napalm, bombas de 300 litros e 80 litros (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; hoje ten gen ref)


Tem 122 referências no blogue;
membro da Tabanca Grande
desde 14/1/2009

1. Comentário de António Martins Matos, ex-ten pilav, BA12, Bisslanca, 1972/74, ao poste P27179 (*):


Que poste mais disparatado!

Claro que usámos napalm, amiúde, de 80 e 300 litros,

O napalm não é americano, é mundial, uma mistura, feita no momento;

Portugal não produzia napalm? O napalm cozinha-se, de manhã, como no filme; O napalm era uma arma como outra qualquer, só passou a ser proibido em 1980.

As munições de fósforo também foram usadas, serviam para marcar alvos à aviação.

No meu livro, “Voando sobre um ninho de Strelas”, foto da página 311, uma napalm, 
já com espoleta metida, pronta a ser largada.

Quanto ao ChatGPT, uma merda.
Cumprimentos
AMM


quarta-feira, 3 de setembro de 2025 às 16:56:37 WEST



Capa da 2ª edição, "Voando sobre um ninho de Strelas" 
(Lisboa, Edições Ex-Libris,  2020, 458 pp, il.)´ 


2. Comentário da Tabanca Grande Luís Graça (*):

Alguns excertos do livro “Voando sobre um ninho de Strelas” (1ª ed. Lisboa: BooksFactory,
2018, 375 pp. ), do nosso amigo e camarada, ten gen pilav António Martins Matos, que sempre nos habituou a falar de maneira franca e frontal (**):

(…) Em resumo, lá tivemos que nos aguentar com o GINA [Fiat G.91] R-4 [armado com 4 metralhadoras 12.7](…), tinha-nos dado mais jeito o R-3 dos canhões [,de 30 mm,] para, no Ultramar, não termos de andar a brincar às guerras (p. 62).

Algumas vezes foram utilizadas duas napalms de 300 litros e duas de 80 litros. Nunca soube o peso exato desta configuração, acho que já estaria fora do permitido, coitado do “Gina”, … arrastava-se pela pista (p.66).

O avião era abastecido com 3600 libras (1800 litros). (…) Numa missão normal para a zona Sul ou Norte, normalmente conseguíamos estar até cerca de uns quinze minutos na área. No ponto mais afastado da Base (região de Buruntuma) e sem depósitos exteriores, o tempo que se podia estar sobre o objetivo era… zero (p. 67).

quarta-feira, 3 de setembro de 2025 às 18:51:40 WEST

(Revisão / ficação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 3 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27179: Casos: a verdade sobre... (54): Napalm, fósforo branco e outros incendiários no CTIG - Parte I: O que diz a IA / ChatGPT

Guiné 61/74 - P27183: "Una rivoluzione...fotogenica" (10): Vítima de napalm ou um caso de vitiligo ? Mais uma foto polémica do húngaro Bara István (1942-2025), alegadamente tiradas nas "áreas libertadas" do PAIGC em 1969

 


Foto nº 1A


Foto nº 1


Fotpo nº 1B
Ex-Guiné Portuguesa > s/l > 1969 > Uma das 7 dezenas de fotos da visita do foto jornalista húngaro István Bara (1942-2025), da agência noticiosa estatal MTI (Magyar Távirati Iroda), que esteve alegadamente embebbed com forças do PAIGC, no mato, em 1969/70, em "áreas libertadas".

Nesta imagem, da sua fotogaleria, mostram-se "os efeitos do napalm"... Pelo menos, a legenda (em húngaro) é isso que diz explicitamenmte: " István Bara: Napalm áldozata. Guinea-Bissau, 1969" (em português: "István Bara: vítima de napalm. Guiné-Bissau, 1969").

O fotojornalista da MTI (a agência noticiosa estatal húngara na época)  não diz onde foi exatamente tirada a foto (podia ter sido na Guiné-Conacri). A sua página (comercial) foi descontinuada há uns largos anos, sendo entretanto   capturada em 2009 pelo Arquivo.pt.

O fotógrafo morreu recentemente aos 83 anos.

Numa análise mais atenta e detalhada da imagem, com a ajuda da IA, concluimos que estamos perante um caso aparentemente de grosseira ignorância (clínica): tudo indica que se trataria de um caso de vitiligo (despigmentação da pele, comum em pessoas de pele escura, deixando manchas brancas), confundida intencionalmente ou não com queimaduras por napalm (que em geral atingem também outras partes do corpo, com o peito, o pescoço, a cara, o coro cabeludo... e não apenas as mãos... e deixam marcas profundas)

Temos de admitir o princípio da presunção da inocência, neste caso, da santa ignorância ... Mas a nós "cheira-nos", no mínimo, a aproveitamento propagandístico (*)... 

Sabemos que o PAIGC e sobretudo o seu líder histórico, Amílcar Cabral (Bafatá, 1924- Conacri, 1973) sempre beneficiou de uma "boa imprensa", a nível internacional, e nomeadamente nalguns países europeus, como a Suécia, a Itália ou até a França. Sem esquecer os países da Europa de Leste...

Foto: Foto Bara (com a devida vénia...)


1. Perguntámos ao assistente de IA / ChatGPT:
 
Pele escamada, despigmentada, branca, nas mãos de um africano, guineense de Bissau... Doença dermatológica ? O fotógrafo diz que foi vítima de napalm, em 1969... A vítima não foi atingida na cara, só nas mãos. O que é estranho... Ignorância ? Encenação fotográfica ? É mais que provável... O fotógrafo, húngaro, oriundo de um país do bloco soviético, esteve em 1969, nas "regiões libertadas" do PAIGC.  Não seria o primeiro caso de um fotojornalista manipulador, sem ética, usando encenações. 

A foto está aqui: 

https://blogueforanadaevao
tres.blogspot.com/2008/04/guin-6374-p2723-poemrio-do-jos-manuel-6.html
2. Resposta do Chat Português:

O caso que descreves levanta várias questões interessantes, tanto médicas como históricas e políticas.

(i) Aspeto dermatológico

  • Pele esbranquiçada e descamada nas mãos pode corresponder a várias condições:

    • Vitiligo (perda de pigmento, comum em pessoas de pele escura, deixando manchas brancas);

    • Ictiose (pele muito seca e escamosa);

    • Dermatite crónica (por contacto ou alergia);

    • Cicatrizes de queimaduras (mas estas costumam deixar pele lisa, brilhante e retraída, não apenas esbranquiçada).

  • Napalm: provoca queimaduras gravíssimas, destrói tecidos até ao osso; é pouco provável que atingisse apenas as mãos e deixasse a cara completamente intacta, sobretudo num conflito; além disso, as sequelas típicas são cicatrizes grossas, quelóides e retrações, não simplesmente pele branca e escamosa.

(ii) Contexto histórico e propaganda

  • Em 1969, o fotógrafo húngaro István Bara,a partir de Conacri, esteve nas "zonas libertadas" do PAIGC, num contexto de guerra colonial e guerra de propaganda.

  • Fotógrafos do bloco soviético muitas vezes produziam imagens com grande carga ideológica, destinadas a mobilizar a opinião pública internacional contra  Portugal.

  • Há registos de encenações e manipulações em várias coberturas de guerra, e o facto de o fotógrafo ter "fama de manipulador" reforça a suspeita.

(iii) A foto em questão

  • Na imagem, o que se vê parece mais compatível com vitiligo ou outra doença dermatológica crónica do que com sequelas de napalm.

  • A narrativa do fotógrafo (registo de um sobrevivente de napalm que ficou apenas com mãos brancas) é pouco verosímil clinicamente.

  • O objetivo pode ter sido produzir um símbolo visual de “crueldade colonial” para consumo internacional.

Portanto, a explicação médica mais provável é vitiligo ou ictiose

A explicação histórica mais plausível é que se trata de uma manipulação narrativa (ou mesmo encenação) feita pelo fotógrafo para reforçar a propaganda do PAIGC e do bloco soviético.

3. Pedimos ao ChatGPT, em português ( a IA dos pobrezinhos... que é por enquanto de borla) para fazer uma análise detalhada da fotografia em si (textura da pele, marcas visíveis, consistência com queimaduras vs. doenças dermatológicas). Aqui vai a resposta.

 Fiz uma análise cuidada da fotografia (link do blogue que me enviaste). Eis alguns pontos técnicos e médicos:

(i)  Textura da pele nas mãos

  • A pele aparece esbranquiçada, seca e descamada.

  • Não se observam cicatrizes espessas, retrações ou deformações, típicas de queimaduras graves.

  • O formato dos dedos mantém-se normal: em queimaduras profundas de napalm, é quase inevitável haver retracção cicatricial e perda de elasticidade.

(ii) Distribuição das lesões

  • Afeta principalmente o dorso das mãos, enquanto a face e os braços parecem poupados.

  • Isto é muito estranho para queimaduras de combate: o napalm adere à pele e espalha-se rapidamente, atingindo zonas expostas como a cara, pescoço e tronco.

  • A distribuição é muito mais compatível com vitiligo (que costuma atingir mãos, face, pés) ou ictiose/dermatite.

(iii) Consistência fotográfica

  • O contraste exagerado da foto (preto/branco) pode ter sido usado para acentuar o branco das mãos, criando um efeito dramático.

  • Nada indica lesões recentes; parecem condições crónicas e não traumáticas.

(iv)  Contexto político

  • A legenda sobre “vítima de napalm” não corresponde ao aspeto clínico real.

  • É altamente provável que tenha sido uma encenação ou interpretação manipulada pelo fotógrafo, István Bara, reforçando a narrativa de propaganda anticolonial.

Conclusão:

A fotografia não mostra sequelas de napalm, mas sim uma doença dermatológica crónica (provavelmente vitiligo). A explicação de queimadura é insustentável do ponto de vista médico e serve apenas a um propósito propagandístico.

4. Segue-se uma comparação lado a lado com imagens reais de queimaduras de napalm vs. vitiligo, para visualizar melhor as diferenças

 

Aqui tens um conjunto de imagens que ajudam a visualizar melhor a diferença entre queimaduras de napalm e alterações típicas de vitiligo:

  1. Primeira imagem: mostra uma vítima com queimaduras graves:  pele irregular, com áreas aparentemente destruídas e retrações visíveis, características compatíveis com lesões profundas por napalm ou substâncias semelhantes.

  2. Segunda imagem: retrata vitiligo nas mãos: manchas bem delimitadas, brancas e lisas, sem cicatrizes ou retrações.

  3. Terceira imagem: imagem histórica da Kim Phuc, a “Napalm Girl”, a menina do napalm, com queimaduras extensas acompanhadas de cicatrizes e áreas deformadas.

  4. Quarta imagem: outra representação de queimaduras de napalm, com textura visceral e evidente sofrimento físico. 

Comparação clínica

(i) Aparência das queimaduras de napalm

A ação do napalm envolve queimaduras profundas de segundo a terceiro grau, a temperaturas entre 800 e 1 200 °C, causando destruição extensiva da pele e dos tecidos subjacentes. Resultam frequentemente em escaras, ulceras, formação de queloides e contraturas, que impedem o movimento das articulações e deixam cicatrizes espessas e deformantes Wikipedia  Reddit.
  • Um testemunho histórico descreve vítimas com pele em “crosta púrpura”, ausência de orelhas ou lábios, olhos opacos — um quadro extremamente grave Reddit.

  • Vítimas como Kim Phuc passaram por anas de cirurgia profundas, com mobilidade reduzida, dor crónica e necessidade de tratamento durante dezenas de anos hrw.org | People.com | Wikipedia | The Guardian   l  Medium.

(ii) Aspecto do vitiligo

  • O vitiligo é uma condição autoimune crónica que destrói melanócitos, levando à formação de manchas bem delimitadas, lisas e esbranquiçadas, frequentes em mãos, pés, rosto e outras áreas expostas Wikipedia | MSD Manual | saafp.org.

  • Essas áreas não são doloridas nem apresentam cicatrizes; são simplesmente despigmentadas e se mantêm estáveis ou progridem lentamente patient.info | aafp.org.

  • Frequentemente aparecem em padrões simétricos, com bordas nítidas e ausência de textura alterada aafp.org.


Conclusão comparativa

CaracterísticaQueimaduras de NapalmVitiligo
Aparência
da pele

Cicatrizes espessas, deformações, retrações 

Manchas brancas, bem delimitadas, lisas
Textura / mobilidadePele rígida, retração, limitação de movimentoPele suave, sem alteração de textura

Tempo
de evolução
Lesões traumáticas
e agudas
Condição crónica, evolução gradual

A fotografia que mencionaste — mãos brancas, escamosas, mas com estrutura normal e sem sinais de cicatrização grave — corresponde muito mais às características do vitiligo do que a queimaduras de napalm.

Isso reforça a suspeita de que a legenda de “vítima de napalm” é, no mínimo, clinicamente questionável e possivelmente parte de uma encenação ou narrativa manipulada. (**)

(Pesquisa: LG | Assistente de IA / ChtaGPT) (Revisão / fixação de texto, negritos: LG)
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Notas do editor LG:

(*) Vd.  poste de 3 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27179: Casos: a verdade sobre... (54): Napalm, fósforo branco e outros incendiários no CTIG - Parte I: O que diz a IA / ChatGPT

Guiné 61/74 - P27182: Felizmente ainda há verão em 2025 (30): A "política de terra queimada": a guerra peninsular (1807-1814) e a guerra colonial no CTIG (1963/74) - II (e última) Parte



PAIGC > "O Nosso Livro 2ª Classe".  Reprodução da Lição nº 8 - Morés, pp. 28-29. O manual era também um instrumento de propaganda e doutrinação política.  É óbvio que o PAIGC nunca poderia ter, a céu aberto, um tabanca no Morés (ou no Cantanhez ou no Fiofioli)....Mas a lição era também para ser "lida" pelos amigos suecos e outros... E quem elaborava estes manuais não tinha verdadeiro conhecimento do terreno nem da luta de guerrilha, procurando sobretudo glorificar o Partido (sic) e dar um retrato idealizado, heróico e até romântico da vida nas "áreas libertadas"...  

Sabemos, infelizmente, como eram "as escolas, os hospitais e os armazéns do povo" nas áreas sob controlo IN... Mas também sabemos que a guerra de contraguerrilha (ou antissubversiva) era implacável... A palavra de ordem era sempre, para nós, operacionais: (i) aniquilar o inimigo; (ii) destruir todos os seus meios de vida; e (iii) recuperar/ aprisionar a população sob o seu controlo... Como em todas as guerras, em todos os tempos...


Um exemplar deste manual escolar do PAIGC, "O Nosso Livro - 2ª Classe", foi-nos remetido em 2007,  pelo correio, pelo Paulo Santiago (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72).  O livro foi elaborado e editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)...  (Só faltava o SPM, quer dizer, o código postal.)

A  primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

Não é novidade para ninguém que a Suécia (a par da Noruega,  Holanda e outros países da Europa do Norte) foi o país ocidental que mais apoiou o  PAIGC, durante a guerra de guerrilha, não só política e diplomaticamente, como em termos financeiros e logísticos  (nomeadamente, no campo da educação, saúde, alimentação, transportes e comunicação).

Foto: © Luís Graça  (2007). Todos os direitos reservados. Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Na Guiné-Bissau, as queimadas faziam (e ainda fazem)  parte de uma prática ancestral: eram utilizadas sobretudo para renovar a fertilidade dos solos e criar novas zonas de pastagem para o gado. Era uma técnica agrícola comum em várias regiões de África, adaptada ao clima de estação seca e às necessidades das comunidades locais.

Todavia, durante a guerra colonial (e em especial entre 1963 e 1974), essa prática assumiu um carácter diferente. Tanto o PAIGC como o Exército Português recorreram à chamada “política da terra queimada”. 

Nada, afinal,  que não se tenha visto antes em outras guerras do século, ou até mesmo no passado (como a guerra peninsular, 1808-1814) (*).

No caso da Guiné, as práticas de "terra queimada", utilizadas pelos dois contendores,  incluíam:
  • Fogo posto no capim (ervas altas e secas), no tempo seco, dificultando a movimentação, aproximação e/ou ocultação do inimigo, eliminação de possíveis pontos de emboscada, etc ;
  • Bombardeamentos (recorrendo inclusive a bombas, granadas e balas  incendiárias) que destruíam aldeias, plantações e meios de subsistência (de um lado e do outro);
  • Criação de zonas devastadas para privar o adversário de apoio logístico e alimentar (por exemplo bolanhas, esconderijos, hortas ou pontas, poços, cais acostáveis, pontões, poços, linhas de telefone...);
  • Abate indiscriminado de gado vacum,  suino e caprino  bem como de todos os animais de criação (galinhas e até cães);
  • Destruição de culturas (mancarra) e de  todas as reservas alimentares (arroz) ...
Este uso da terra queimada teve consequências graves:
  • Ambientais e geográficas: destruiu importantes extensões de savana arbustiva, floresta e biodiversidade;
  • Sociais e demográficas: obrigou populações inteiras a deslocarem-se; riscou do mapa muitas tabancas (veja-se as cartas militares elaboradas na década de 50, antes do início da guerra; compare-se as tabancas que existiam e as que desapareceram com o início da guerra);
  • Económicas: dificultou a agricultura, com o abandono de bolanhas, e limitou a criação de gado, levando à desnutrição e à fome.

Algo que era uma prática tradicional de uso agrícola, já de si devastadora para o ambiente, com  degradação dos solos, etc.,  transformou-se, no contexto da guerra, numa estratégia militar destrutiva.

O uso do napalm (e/ou outras bombas incendiárias como o fósforo branco), por parte da FAP, terá sido limitado.   Contrariamente ao que aconteceu, por exemplo,  na Argélia e no Vietname... De resto, a escala era outra.

Mas também temos falado aqui pouco do tema, o uso de napalm e outras bombas incendiárias na Guiné, no contexto da política  de "terra queimada". 

O assunto está, de resto,  mal documentado e prestou-se no passado  (e ainda hoje) a relatos fantasiosos e propagandísticos.

 (i) Contexto histórico

O nosso blogue,
 outros testemunhos de antigos combatentes, bem como fontes académica reportam que tanto os guerrilheiros do PAIGC quanto as forças portuguesas recorriam ao fogo, tanto através de bombardeamentos aéreos (FAP) e artilharia  como pela queima deliberada de capim e vegetação seca, para dificultar as movimentações adversárias e destruir infraestruturas. 

O ataque a tabancas fulas, com balas incendiárias, por exemplo, era vulgar por parte do PAIGC no meu te,mpo (1969/71).
  
 
(ii)  Destruição de recursos e animais domésticos

Além das queimadas e bombardeamentos, tanto o Exército Português como o PAIGC recorreram a métodos que visavam privar o inimigo e as populações civis de recursos básicos.

Entre essas práticas destacavam-se:

  • abate indiscriminado de gado bovino, suino e caprino,além de criação doméstica ( galinhas, etc.) que representavam a riqueza e sustento das tabancas  (nas chamadas "áreas libertadas");

  • destruição de arrozais, "pontas" (hortas) e palmeirais,  pilares da subsistência alimentar;

  • O incêndio de celeiros e depósitos de arroz, essencial na dieta guineense.

(iii) Consequências imediatas
  • Fome generalizada, desnutrição: ao destruir  o gado e os alimentos, a guerra atingia diretamente os mais vulneráveis, mulheres, crianças e idosos;
  • Deslocações forçadas: aldeias inteiras foram obrigadas a abandonar as suas terras para procurar sobrevivência noutras zonas;
  • Colapso económico local: ao destruir os animais e colheitas, a base produtiva da sociedade rural guineense foi desmantelada.
(iv) Exemplos e relatos

Testemunhos de ex-combatentes portugueses e relatórios de operações como a Op Lança Afiada, lembram que as operações de “limpeza” incluíam não só a queima do capim, mas também o abate sistemático de animais e destruição de outros víveres, como arroz, deixando as tabancas devastadas.

Um antigo guerrilheiro do PAIGC relatou que muitas vezes, depois de uma ofensiva da tropa, regressavam às tabancas e encontravam os celeiros queimados e os animais mortos, como forma de pressão psicológica para afastar a população do apoio à guerrilha.

Nas memórias orais recolhidas em comunidades guineenses, ainda hoje se recorda o período da guerra como “o tempo da fome e do fogo”.
 

2. A Operação Lança Afiada (8–19 de março de 1969, Setor L1, Bambadinca)

(i) Contexto e Objetivos

Operação Lança Afiada foi uma das grandes operações de “limpeza” executadas pelo Exército Português no setor Leste (L1), região de Bambadinca, em março de 1969. Contou com cerca de 1 300 efetivos (incluindo oficiais, sargentos, praças, milícias e carregadores)  sob comando do coronel Hélio Felgas blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

O objetivo declarado era eliminar, capturar ou expulsar o IN (inimigo), aprisionar a população sob o seu controlo,  e também destruir os recursos de vida com os quais as populações ali se sustentavam, forçando seu retorno sob controle português.

(ii) Impacto sobre gado e arroz

Durante a operação, foram destruídas numerosas tabancas,  queimados arrozais e mortos milhares de animais,  incluindo gado e animais domésticos, como parte da estratégia de terramoto na subsistência.

(iii) Condições e consequências humanas

A operação decorreu sob calor extremo ( entre 39 °C e 44 °C à sombra, e até 55–70 °C ao sol) com os soldados frequentemente revoltados com as rações fornecidas (classificadas como "intragáveis"), gerando uma sede extrema e problemas alimentares sérios; após o segundo dia, muitos já não conseguiam comer, e havia sinais de desnutrição e esgotamento.

Muitos soldados foram evacuados:  110 foram retirados por desidratação, desnutrição, esgotamento físico ou stress psicológico.

(iv) Resultado tático e retaliações

Combatentes do PAIGC e populações civis conseguiram atravessar o rio Corubal juntamente com um mínimo de víveres  (como cães, porcos e galinhas), escapando da operação (não havia tropa na margem esquerda do rio, nomeadamente fuzileiros e paraquedistas, como tinha sido recomendado pelo cérebro da operação, o cor inf Hélio Felgas).

Além disso, conforme relatos posteriores, o PAIGC retaliou com flagelações, embora a distância e furtando-se ao contacto directo,  mostrando desse modo que a operação esteve longe de  neutralizar os seus bigrupos ( o número de baixas foi escasso face aos meios utilizados pelas NT). E dois meses e meio depois, em 28 de maio de 1969,  o quartel de Bambadincs, sede do BCAÇ  2852, foi atacado em força. 

Resumo sintético: abate de gado 
e destruição de arroz


Aspecto | Detalhes

  • Abate de gado e animais: morte em massa de bovinos e outros animais domésticos, visando destruir os meios de sustento das comunidades

  • Destruição de arrozais: arroz, celeiros e culturas queimadas, comprometendo gravemente a produção local de alimento. (Foram destruídas muitas toneladas de arroz.)

  • Condições extremas: altas temperaturas, rações de combate inadequadas, esgotamento e elevada necessidade de água resultaram em evacuações de soldados (cerca de 15%) .

  • Resposta do IN: populações fugiram com alguns dos seus parcos haveres, atravessando o Rio Corubal para a região de Quinara, e o PAIGC manteve, no essencial, a mobilidade e a capacidade de reação.

Conclusão

A Operação Lança Afiada, em março de 1969, foi um marco na guerra colonial e um exemplo claro de como a política de "terra queimada" se manifestou de forma devastadora. 

Ao dizimar  o gado e destruir dezenas de toneladas de arroz, as NT militares visavam desestruturar a base económica e alimentar das populações. 

De qualquer modo,  as dificuldades enfrentadas pelas NT,  aliadas à resiliência da guerrilha e população sob o seu controlo (estimada em alguns milhares) demonstraram os limites transversais dessa estratégia. Deixaram-se, de resto, de fazer  grandes operações como esta,  pelo menos no sector L1 e no meu tempo.

Tratou-se de uma operação onde se foi a lugares míticos (ou mitificados desde o início da guerra, como a mata do Fiofioli, junto ao Corubal), mas ninguém encontrou médicos e enfermeiras cubanas... Hospitais (?) de campanha, sim (ou melhor, pequenos postos e toscos postos sanitários),  mas já abandonados, uns meses antes. 

Destruíram-se muitas toneladas de arroz, mataram-se milhares de animais, queimou-se tudo o que era tabanca e "barracas"... 

Em contrapartida, houve 24 flagelações do IN, mas os guerrilheiros seguiram a regra básica da guerrilha: primeiro, retirar quando o inimigo, ataca: segundo, e quando possível, atacar, quando o inimigo retira...

 O autor do relatório, irritado, queria que os tipos do PAIGC se apresentasse de peito feito às balas e dessem luta...

O mais caricato (e hilariante, se fosse caso para rir) desta operação é que o pessoal deitou fora... as intragáveis rações de combate e desatou a comer... leitão assado no espeto!... E até poupou algumas vacas, que trouxe para os seus aquartelamentos...

Este é um cínico relato da dura condição da guerra da Guiné, vista pelo lado da hierarquia militar. O relatório tem a chancela do então Cor Hélio Felgas, já falecido como maj gen ref, Torre e Espada, considerado um dos mais brilhantes oficiais da sua geração.  

Tem  críticas veladas, se não mesmo picardias,  ao Comandante-Chefe, ao Quartel General, à Marinha e à Força Aérea...

 O seu relatório é uma peça de antologia.  Dizia-se que o Hélio Felgas sempre se batera ao lugar de Spínola. O desastre de Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, manchou a sua reputação.  O falhanço da Op Lança Afiada foi outra machadada no seu prestígio.  Tornou-se um azedo crítico do spinolismo. 

 
 (Revisão / fixação de texto: LG)
 
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Guiné 61/74 - P27181: Parabéns a você (2414): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488 / BCAV 490 (Mansoa, Bafatá e Jumbembém, 1963/65) e José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Mata dos Madeiros, Bassarel e Tite, 1971/73)


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Nota do editor

Último post da série de 3 de Setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27178: Parabéns a você (2413): Luís Gonçalves Vaz, Amigo Grã-Tabanqueiro, ex-Fur Mil PE (EPC, 1983/84)

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27180: Historiografia da presença portuguesa em África (495): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, primeiros meses de 1940 (51) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Março de 2025:

Queridos amigos,
Estamos em guerra,há´restrições, preparam-se as comemorações dos Centenários, estreou-se a Mocidade Portuguesa em Bissau, a aviação sobrevoa diariamente os Bijagós, não se sabe exatamente para quê (parece existir a lenda que havia bases de submarinos alemães, infraestruturas criadas à socapa por comerciantes dessa nacionalidade), inaugura-se o monumento à pacificação de Canhabaque, lê-se no despacho do governador que o dito monumento foi pago pela população Bijagó, os processos disciplinares continuam e estou certo e seguro que o leitor lerá com espanto o processo disciplinar do Dr. Petronilho, tomada a decisão pelo Conselho Disciplinar, o governador Carvalho Viegas quis dar a volta ao texto, o ministro das Colónias, Vieira Machado, não aceitou parte da argumentação do governador e explica categoricamente porquê, é prosa que merece reflexão.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Colónia da Guiné, primeiros meses de 1940 (51)


Mário Beja Santos

O ano anuncia-se com as festas da Restauração de dezembro e a chegada da Mocidade Portuguesa a Bissau, assim se escreve no Boletim Oficial n.º 1, de 2 de janeiro, e escreve Carvalho Viegas:
“No dia primeiro de dezembro último, data em que na Colónia foi celebrado com vibrante entusiasmo e patriotismo o aniversário da Restauração de Portugal, foi-me dado o prazer de apreciar a exibição de vários pelotões da Companhia de Polícia Indígena e das classes de ginástica infantil e de adultos da Mocidade Portuguesa numa magnífica parada que empolgou, mostrando-se à altura dos objetivos das respetivas organizações, pelo garbo primoroso da sua apresentação;
Considerando que os exercícios militares efectuados no campo de jogos da cidade de Bissau pelos referidos pelotões revelaram, pela correcção, disciplina e desenvoltura na execução dos variados números do programa, apreciáveis cuidados, zelo e dedicação dos graduados dessa formação e bem assim boa vontade dos indígenas que assim vêm adquirindo hábitos de disciplina e amor pela defesa da Bandeira de Portugal;
Considerando que o desfile nas ruas e no mencionado campo de jogos e os exercícios de ginástica rítmica executados pelas referidas classes da Mocidade Portuguesa suscitaram a atenção geral do público e provocaram aplausos do público unânimes e sinceros, devido ao entusiasmo que despertaram nas populações juvenis pelos exercícios de cultura física, pelo que é justo pôr em relevo que esses resultados foram alcançados pelo esforço e dedicação do funcionário Adolfo de Oliveira, determino: que sejam louvados os oficiais, sargentos e praças, da companhia de polícia indígena e Adolfo de Oliveira.”


Ponto curioso, é até agora não esclarecido, sabendo nós que estavam a ser tomadas medidas de vigilância das fronteiras, dá-se a informação que estava a ser sobrevoadas quase diariamente o arquipélago dos Bijagós, impunha-se a maior moderação no gasto de combustíveis.

No Boletim Oficial n.º 11, de 26 de fevereiro, voltamos às medidas disciplinares, emanam do gabinete do governador. Escreve-se que em 7 de novembro do ano anterior, o funcionário Odorico Gomes de Pina fora punido com doze meses de inatividade por se terem verificado, na sua gerência, como encarregado da Circunscrição Civil do Gabu, sobretudo quanto a emendas e rasuras nos livros de contabilidade e ainda à falta de concordância entre documentos e lançamentos a eles respeitantes; e ainda mais, falta de encerramento de contas da cobrança de impostos de palhota, falta na prontidão na entrega dos fundos do Estado, etc., etc. O arguido vem agora recorrer com novos elementos de prova e o Governador Carvalho Viegas tece a seguinte crítica:
“Mais uma vez sou forçado a registar a forma deficiente como os funcionários defendem nos processos disciplinares que lhes são instaurados, alguns certamente de má fé o fazendo, para depois, julgados os processos apenas com os elementos de prova que oportunamente ofereceram, virem apodar de injusta a decisão da entidade que puniu. No recurso, Odorico Gomes de Pina não terá dado respostas satisfatórias, e o inspetor dos serviços da fazenda considera que havia para ali muita desorganização, escrituração feita à pressa e por quem não tem a obrigação de conhecer os serviços administrativos, etc., etc., não substituindo nenhuma dúvida acerca da irresponsabilidade do recorrente. Dá-se em parte provimento ao recurso alterando-se a pena."


No Boletim n.º 31, de 29 de julho, voltamos a Canhabaque, vai-se falar no monumento construído pelos indígenas, é uma narrativa de glorificação:
“Tendo sido colocado interinamente como chefe de posto de Canhabaque, em 10 de agosto de 1939, José d’Assenção Júnior, o qual inteligentemente tem desenvolvido uma política de atracção fundada na justiça, bondade e interesse pela vida indígena, demonstrando assim uma nítida compreensão de qual deve ser a nossa atuação e finalidade sobre povos ainda num atrasado estado de civilização;
Considerando que o mesmo funcionário manifestou um claro conhecimento dos seus deveres e ainda pôs uma absoluta lealdade e disciplina nas directrizes recebidas do governador da colónia, quanto à orientação da política indígena, a bem do aperfeiçoamento da sua vida material e psíquica;
Considerando, ainda, que tendo os indígenas patenteado o desejo de realizarem qualquer acto que ficasse ligado às suas crenças religiosas e que perdurasse aos olhos de todos como afirmação segura de início de uma era de amizade perpétua com o Governo português, o mesmo funcionário soube traduzir essa mesma ideia e desejo numa feliz representação material que à crença do indígena se impusesse, dando-lhe assim um ambiente de religiosidade.”


Tudo isto para dizer que foram os Bijagós que pagaram o monumento onde se glorifica a ação militar das operações realizadas em 1936. E o governador louva José d’Assenção Júnior. O monumento foi inaugurado no lugar de In-Orei, Canhabaque em 31 de março de 1940, muita gente presente, coube ao governador descerrar o referido monumento que se achava coberto com a bandeira nacional.

Neste mesmo Boletim Oficial se volta às questões disciplinares, desta vez após um recurso entreposto pelo médico Dr. António dos Santos Petronilho. Indo aos factos, o administrador da circunscrição civil de Bafatá participara que o delegado de saúde procedia sem consideração pela sua profissão em detrimento de pessoas cuja saúde lhe está entregue e que abandonou, aos cuidados do enfermeiro indígena, o chefe de posto Eiras, atacado de pneumonia, recusando-se a ir vê-lo apesar da insistência do doente e do administrador. O Dr. Petronilho requereu um inquérito aos seus atos como delegado de saúde. Diz a acusação que o médico se recusara a visitar o chefe de posto Cruz Eiras e que por motivos da sua recusa o doente foi obrigado a solicitar os socorros médicos de Bissau, apenas entregue ao cuidado do enfermeiro, o doente veio a falecer; o delegado não cumpria com zelo e assiduidade os seus deveres profissionais, tinha um feitio por vezes ríspido e ganancioso, cobrando pelas suas visitas.

Na defesa, alega que no mesmo dia em que recebera o telegrama lhe chegara a notícia de um outro caso através do sírio Jamil, faltava em Bambadinca óleo canforado, eletrargol e linhaça, e só após ter entregue ao portador esses medicamentos é que o dito Jamil lhe disseram eu tinha vindo chamar o arguido para ir ver um chefe de posto Eiras, ora o arguido estava com a temperatura de 38ºC e acessos palustres, respondeu que não podia ir ver o doente mas que no dia imediato viesse buscá-lo, iria então visitar o doente e regressar a tempo de presidir à mesa eleitoral de Bafatá… E porque torna e porque deixa, e até porque o arguido, por motivos que brigam com a sua dignidade está e estará de relações cortadas com o pessoal do administrador, este, sem nenhuma consideração pelo médico pretendia requisitar para seu uso o carro que se pusera à disposição do arguido.

O instrutor do processo, ponderados todos os argumentos, não deixa de frisar que a circunstância do arguido estar de relações cortadas com o administrador não pode anular o sentimento do dever profissional, acresce que estava provado que o Dr. Petronilho tinha mostrado pouco zelo e assiduidade no exercício da sua profissão, daí a proposta de aplicação do castigo de 181 dias de inatividade. O governador manteve o castigo em recurso, diz que há duas partas distintas na acusação: uma, diz respeito ao caso do Chefe de Posto Eiras e a outra trata do procedimento em geral do recorrente. Quanto a não ter ido socorrer o chefe de posto, há divergência de opiniões; analisando o telegrama, não se vê que fosse pedida urgência ao recorrente e não se explica porque é que o administrador, em vez de regressar o carro de Bambadinca a Bafatá para levar o recorrente, pediu, para Bissau, a ida de um médico.

O documento é longo, o governador considera que há para ali acusações vagas e genéricas e observa cabalmente:
“Ter este ou aquele feitio não é infração, as infrações ou omissões influenciadas pelo mau feitio é que podem cair sob a sanção disciplinar. Se o recorrente infringiu as disposições da tabela dos honorários, é indispensável dizer-se-lhe quais os casos em que as infringiu, para eu poder ou justificar-se ou convencer-se de que errou e deve corrigir-se.”


O governador pede a anulação do teor de algumas alíneas, mas dá como comprovadas certas irregularidades, havendo que reformular a instrução. Acontece que o ministro das Colónias, Vieira Machado, exara o seguinte despacho:
“Tenho muita pena não poder estar de acordo com o Conselho, mas não posso admitir que por questiúnculas pessoais um médico não cumpra o seu dever. O médico podia muito bem ir no automóvel com o administrador e não falar com este, com quem estava de relações trocadas. O facto de utilizar o mesmo meio de locomoção, sobretudo em África e nas circunstâncias que constam no processo, não implicava um reatamento de relações. Pelo critério seguido pelo médico, não tomava ele assento num carro elétrico ao lado de um desconhecido, porque o simples facto da vizinhança aplicaria relações pessoais. Isto não quer dizer que aprove o procedimento do administrador, antes pelo contrário, entendo que lhe deve ser instaurado um processo disciplinar. Anulo o processo quanto às acusações de duas alíneas desde a audição do arguido para poderem ser feitas as averiguações propostas que afinal se julgar qual a pena que se deve aplicar, é ponto assente para mim que o médico não pode deixar de ser castigado.”

Monumento à Pacificação de Canhabaque, onde se lê “Àqueles que tombaram pela civilização”, fotografia de Francisco Nogueira, publicada no livro Arquitetura dos Bijagós, Tinta da China, com a devida vénia

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 27 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27157: Historiografia da presença portuguesa em África (495): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, 1939 (50) (Mário Beja Santos)