Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 17 de julho de 2015
Guiné 63/74 - P14888: Parabéns a você (936): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492 (Guiné, 1971/74) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14870: Parabéns a você (935): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)
quinta-feira, 16 de julho de 2015
Guiné 63/74 - P14887: Da Suécia com saudade (49): O visitante sueco de Bambadinca e Nhabijões, em janeiro de 1974, o jornalista e ativista político Christopher Jolin (1925-1999) (José Belo)
1. Mensagem do José Belo, régulo (e único) súbdito da Tabanca da Lapónia:
[ foto atual à esquerda: José Belo, ex-alf mil inf, CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); atualmente é cap inf ref e vive na Suécia há quase 40 anos]
Data: 15 de julho de 2015 às 15:20
Assunto: O visitante sueco
O jornalista sueco Christopher Jolin (*), após a publicação do livro "Vänstervridningen" ("Manipulacäo à esquerda"),tornou-se figura representativa de algo contra-corrente na sociedade sueca dos finais dos anos sessenta.
Crítico violento, näo só dos comunistas mas também dos sociais democratas representados pela pessoa e ideias políticas de Olof Palme [1927-1996] que, segundo ele, empurravam cada vez mais a Suécia para um caminho errado.
Não foi por acaso que o jornal de grande tiragem "Svenska Dagbladet" (de centro direita, ligado ao capital) escreveu entäo :"Cristopher Jolin merece a gratidão da nação".
Surgiram numerosos artigos em outros jornais com comentários como:
(...) Foi com a posterior ascensão de António Oliveira Salazar ao Poder que as relações entre os dois países entraram numa fase de algum congelamento e por vezes de tensão. A Suécia tinha-se transformado numa das nações mais ricas da Europa, com elevado perfil internacional e entrara numa fase de empenho nos esforços em prol da democracia, nomeadamente nas antigas colónias portuguesas. Assim a pressão internacional contra a colonização e o apoio aos movimentos de libertação, directo e indirecto (mas nunca em armamento) criou frequentes embaraços às autoridades portuguesas, nomeadamente nos fora internacionais (nomeadamente nas Nações Unidas).
Foi nesta fase que foram sendo desenvolvidos contactos com a oposição portuguesa ao regime. Em 1967 ocorreram os primeiros contactos de responsáveis do Partido Social Democrata sueco com Mário Soares, figura proeminente na luta contra o regime. Mário Soares foi então convidado a visitar Estocolmo pelo então primeiro-ministro sueco Tage Erlander. Durante a visita manteve encontros com Olof Palme, que seria posteriormente eleito PM, e criou deste então laços pessoais com um dos mais destacados democratas suecos. Palme viria a ser o primeiro Chefe de Governo estrangeiro a visitar Portugal depois da revolução de 25 de Abril de 1974, pressionando os políticos portugueses a organizarem eleições para uma Assembleia Constituinte no ano seguinte. Desde então iniciou-se um período de visitas recíprocas.
Foi igualmente nos anos imediatos à revolução, que para os democratas suecos, apresentavam sinais preocupantes, que Olof Palme decidiu promover um encontro de chefes de Governo e líderes social-democratas europeus para uma conferência em Estocolmo "a fim de salvar a democracia em Portugal"... O encontro realizou-se no Verão de 1975 e entre os presentes estavam, para além do anfitrião, Olof Palme, o alemão Willy Brandt, Harold Wilson da Grâ-Bretanha, Ytzhak Rabin, de Israel, e constituiu "uma das maiores junções de força de sempre da social democracia europeia". (...)
Data: 15 de julho de 2015 às 15:20
Assunto: O visitante sueco
O jornalista sueco Christopher Jolin (*), após a publicação do livro "Vänstervridningen" ("Manipulacäo à esquerda"),tornou-se figura representativa de algo contra-corrente na sociedade sueca dos finais dos anos sessenta.
Crítico violento, näo só dos comunistas mas também dos sociais democratas representados pela pessoa e ideias políticas de Olof Palme [1927-1996] que, segundo ele, empurravam cada vez mais a Suécia para um caminho errado.
Não foi por acaso que o jornal de grande tiragem "Svenska Dagbladet" (de centro direita, ligado ao capital) escreveu entäo :"Cristopher Jolin merece a gratidão da nação".
Surgiram numerosos artigos em outros jornais com comentários como:
(i) "o livro mais importante do ano";
(ii) "uma análise a frio e factual da propaganda comunista na Suécia,e não menos na TV";
(iii) "crítica violenta contra todas as cedências à esquerda";
(iv) "uma assustadora demonstração do que são as forçaas revolucionárias numa sociedade democrática";
(v) "um desafio ao monopólio da opinião"...
O autor passou entäo a ser apreciado abertamente pela direita parlamentar, bem estabelecida na área da governação, representada pelo partido Moderater (centro direita), com várias passagens pelo governo, sendo a última em 2014.
A aproximacäo pública de Cristopher Jolin a agrupamentos extremistas e racistas como o "Bevara Sverige Svenskt" ("Mantém a Suécia...sueca") [, vd. cartaz à direita] levou a um afastamento táctico do centro direita parlamentar em relação ao autor.
O governo da ditadura [, em Portugal], no seu crescente isolamento internacional, procurava apoios propagandísticos neste tipo de personalidades em que um profundo racismo ,e anti-semitismo, acabavam sempre por se sobrepor ao legítimo direito de opiniar e divulgar as suas ideias e críticas anti-socialistas ou anti-comunistas.
Perante a tão divulgada política de integração racial em todos os territórios administrados por Portugal, estas contradições pontuais somavam-se a toda uma aproximação táctica e estratégica com o racismo sul-africano e rodesiano.
Ao analisarem-se figuras controversas como Cristopher Jolin e o seu lugar na sociedade sueca actual, ou dentro de uma perspectiva histórica, não se pode esquecer a importância da Rússia como inimigo tradicional. Isto, sendo a Rússia dos séculos XVI e XVII, a Rússia dos comunistas, ou a actual Rússia de Vladimir Putin.
A aproximacäo pública de Cristopher Jolin a agrupamentos extremistas e racistas como o "Bevara Sverige Svenskt" ("Mantém a Suécia...sueca") [, vd. cartaz à direita] levou a um afastamento táctico do centro direita parlamentar em relação ao autor.
O governo da ditadura [, em Portugal], no seu crescente isolamento internacional, procurava apoios propagandísticos neste tipo de personalidades em que um profundo racismo ,e anti-semitismo, acabavam sempre por se sobrepor ao legítimo direito de opiniar e divulgar as suas ideias e críticas anti-socialistas ou anti-comunistas.
Perante a tão divulgada política de integração racial em todos os territórios administrados por Portugal, estas contradições pontuais somavam-se a toda uma aproximação táctica e estratégica com o racismo sul-africano e rodesiano.
Ao analisarem-se figuras controversas como Cristopher Jolin e o seu lugar na sociedade sueca actual, ou dentro de uma perspectiva histórica, não se pode esquecer a importância da Rússia como inimigo tradicional. Isto, sendo a Rússia dos séculos XVI e XVII, a Rússia dos comunistas, ou a actual Rússia de Vladimir Putin.
São nestes alicerces de nacionalismo anti-russo que se baseavam (e baseiam!) muitos dos anti-comunistas e extremistas suecos dos anos da guerra fria e...actuais.
A política seguida pelo governo sueco em relação aos países bálticos, e não menos à Ucrânia. é espelhada por contínuas provocações militares por parte da Rússia,tanto no espaço aéreo como marítimo. Algumas quase provocaram incidentes graves que poderiam ter tido consequências imprevisíveis.
Um abraço do José Belo.
PS - Segue foto actual pois a outra já é.... pré-histórica! (**)
A política seguida pelo governo sueco em relação aos países bálticos, e não menos à Ucrânia. é espelhada por contínuas provocações militares por parte da Rússia,tanto no espaço aéreo como marítimo. Algumas quase provocaram incidentes graves que poderiam ter tido consequências imprevisíveis.
Um abraço do José Belo.
PS - Segue foto actual pois a outra já é.... pré-histórica! (**)
2. Comentário de LG:
Obrigado, Zé, sempre atento ao que se passa à volta... Já agora, dá uma vista de olhos a este texto da embaixada de Portugal em Estocolmo: "Breve abordagem histórica das relações diplomáticas Portugal - Suécia" (***)
Finalmente temos um endereço de email teu, atualizado... o teu enésimo endereço de email.
Vamos atualizar a tua foto. Estás com bom ar... de verdadeiro luso-lapão. Um xicoração fraterno.
Vamos atualizar a tua foto. Estás com bom ar... de verdadeiro luso-lapão. Um xicoração fraterno.
__________________
Notas do editor:
(**) Último poste da série > 7 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14228: Da Suécia com saudade (48): (Sobre)Viver na Lapónia (José Belo / Miguel Pessoa)
(***) Embaixada de Portugal em Estocolmo: "Breve abordagem histórica das relações diplomáticas Portugal - Suécia":
(...) Foi com a posterior ascensão de António Oliveira Salazar ao Poder que as relações entre os dois países entraram numa fase de algum congelamento e por vezes de tensão. A Suécia tinha-se transformado numa das nações mais ricas da Europa, com elevado perfil internacional e entrara numa fase de empenho nos esforços em prol da democracia, nomeadamente nas antigas colónias portuguesas. Assim a pressão internacional contra a colonização e o apoio aos movimentos de libertação, directo e indirecto (mas nunca em armamento) criou frequentes embaraços às autoridades portuguesas, nomeadamente nos fora internacionais (nomeadamente nas Nações Unidas).
Foi nesta fase que foram sendo desenvolvidos contactos com a oposição portuguesa ao regime. Em 1967 ocorreram os primeiros contactos de responsáveis do Partido Social Democrata sueco com Mário Soares, figura proeminente na luta contra o regime. Mário Soares foi então convidado a visitar Estocolmo pelo então primeiro-ministro sueco Tage Erlander. Durante a visita manteve encontros com Olof Palme, que seria posteriormente eleito PM, e criou deste então laços pessoais com um dos mais destacados democratas suecos. Palme viria a ser o primeiro Chefe de Governo estrangeiro a visitar Portugal depois da revolução de 25 de Abril de 1974, pressionando os políticos portugueses a organizarem eleições para uma Assembleia Constituinte no ano seguinte. Desde então iniciou-se um período de visitas recíprocas.
Foi igualmente nos anos imediatos à revolução, que para os democratas suecos, apresentavam sinais preocupantes, que Olof Palme decidiu promover um encontro de chefes de Governo e líderes social-democratas europeus para uma conferência em Estocolmo "a fim de salvar a democracia em Portugal"... O encontro realizou-se no Verão de 1975 e entre os presentes estavam, para além do anfitrião, Olof Palme, o alemão Willy Brandt, Harold Wilson da Grâ-Bretanha, Ytzhak Rabin, de Israel, e constituiu "uma das maiores junções de força de sempre da social democracia europeia". (...)
Guiné 63/74 - P14886: In Memoriam (234): Manuel Pescadinha Lazarino, ex-fur mil enf, CCAV 2748 (Canquelifá, 1970/72)... O funeral foi hoje de manhã, em Valado de Frades, Nazaré (Francisco Palma)
Nazaré > Valado de Frades > Homemagem a Manuel Pescadinha Lazarino, pessoa querida na terra, treinador de futebol. Foto: Cortesia do blogue de Alberto Latoeiro > Valado Minha Paixão
1. Mensagem de ontem, às 21h56, do nosso camarada Francisco Palma (ex-soldado condutor auto rodas, CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72):
A CCAV 2748, do BCAV 2922, cuja comissão decorreu de agosto de 1970 a maio de 1972, em Canquelifá, setor de Piche, zona leste da Guiné, está de luto pelo falecimento do seu camarada Manuel Pescadinha Lazarino, hoje [, dia 15,] pelas 5h00 da manhã.
O Lazarino foi furriel ebnferneiro em Canquelifá e, pelo que sempre fez por todos os membros da sua/nossa companhia, era querido e amado por todos.
Há de ser lembrado por todos nós pela sua capacidade de ajuda piscológica e pelos cuidados que nos prestou, curando as nossas mazelas físicas.
Paz à sua alma!
Descansa em paz, estimado camarada e amigo.
Condolências a toda a família, esposa e filhos.
R.I.P.
Francisco Palma
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14770: In Memoriam (223): Manuel Rocha Bento (Galveias, Ponte Sor, 1950 - Ponta Coli, Xime, 1972), fur mil at art, CART 3494, morto em combate, em 22/4/1972 (Alexandre Bento Mendes, seu sobrinho / Jorge Araújo, seu camarada de pelotão)
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14770: In Memoriam (223): Manuel Rocha Bento (Galveias, Ponte Sor, 1950 - Ponta Coli, Xime, 1972), fur mil at art, CART 3494, morto em combate, em 22/4/1972 (Alexandre Bento Mendes, seu sobrinho / Jorge Araújo, seu camarada de pelotão)
Guiné 63/74 - P14885: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (6): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte III): Álvaro e Helena do Enxalé, sejam bem-vindos à Tabanca Grande!...Oxálá / inshallah / enxalé nos possamos voltar a reunir mais vezes para partilhar memórias (e afetos)... Vocês passam a ser os grã-tabanqueiros nºs 695 e 696
Foto nº 1 - O grupo dos tabanqueiros de porto Dinheiro... Falta o fotógrafo, o Álvaro Carvalho
Foto nº 2 > De pé o Álvaro Carvalho... Sentados, Luís Graça, João Crisóstomo e o António Nunes Lopes (está convidado para integrar a nossa Tabanca Grande, mas não tem endereço de email, aguardo o da esposa)
Foto nº 3 > João, Luís e António Lopes, falando do Xime
Foto nº 4 > A Alice a Helena
Foto nº 5 > Luís, Helena e Eduardo: folheando um livro sobre a Guiné-Bissau, editado a seguir à independência, e que a Helena trouxe consigo
Foto nº 5 > Alice, Helena, Luís, Eduardo e Vilma (que ainda não fala português: entendemo-nos em inglês e francês)
Foto nº 6 > Três grandes amigos: João, Horácio e Milita
Foto nº 7 > Luís e João... Raramente o nosso editor aparrece aqui nas fotos de convívios, descontraído, sem máquina fotográfica... Nada como ter um fotógrafo de serviço... E que fotógrafo!
Foto nº 8 > A Dina e o Jaime
Foto nº 9 > Restauarante O Viveiro
1. Seleção de um lote de 100 fotos [, além de vídeos...] que o Álvaro e a Helena Carvalho, nos enviaram com a seguinte mensagem simpatiquíssima:
Álvaro e Maria Helena
2. Comentário de LG:
Tabanca do Porto Dinheiro, passaremos a chamar-lhe ponto de reencontro, dos sentimentos sinceros da Amizade.
A Helena do Enxalé e o Álvaro partilharam com excelentes seres humanos uma tarde onde os temas foram variados. À Vilma e ao João Crisóstomo pediuos-lhes o favor de serem sempre felizes... extensivo a todos.
Enfim recordar também é viver.
Um Abraço ao Grande Régulo Eduardo que se portou à altura, bem escolhido pelo Luís Graça.
Um Fraterno Abraço a toda a "equipa" presente que vamos citar pela ordem da foto de grupo, acima publicada: da esquerda para a direita, António Nunes Lopes, João Crisóstomo, Helena do Enxalé, Vilma Crisóstomo, Dina, Milita (primeiria fila); Eduardo Jorge Ferreira, Maria Alice Carneiro, Alexander Rato ], presidente da junta de freguesia de Ribamar,], Horácio Fernandes e Jaime Bonifácio Marques da Silva (segunda fila).
Um Abraço ao Grande Régulo Eduardo que se portou à altura, bem escolhido pelo Luís Graça.
Um Fraterno Abraço a toda a "equipa" presente que vamos citar pela ordem da foto de grupo, acima publicada: da esquerda para a direita, António Nunes Lopes, João Crisóstomo, Helena do Enxalé, Vilma Crisóstomo, Dina, Milita (primeiria fila); Eduardo Jorge Ferreira, Maria Alice Carneiro, Alexander Rato ], presidente da junta de freguesia de Ribamar,], Horácio Fernandes e Jaime Bonifácio Marques da Silva (segunda fila).
Álvaro e Maria Helena
Obrigado, Álvaro e Helena, pela completíssima e competentíssima cobertura fotográfica da reunião da Tabanca do Porto Dinheiro. Oxala/inshallah/enxalé nos possamos voltar a reunir, mais vezes, nesta ou noutras tabancas. O que vai acontecer seguramente a avaliar pela composição da nossa mesa.. Mais uma vez se comprova que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande. (Tabanca Grande é o nome da nossa comunidade virtual e real, de amigos e camaradas da Guiné, espalhados pelos quatros do mundo, Portugal, a Gun+e.Bissau e a diáspora lusófona).
Tiro o quico, à boa maneira da tropa, à espantosa naturalidade e grande generosidade com que vocês, Álvaro e Helena, se juntaram a nós, como se nos conhecêssemos há décadas e fôssemos velhos e bons amigos de há muito... É fruto deste sortilégio, desta magia, que é a "nossa" Guiné, essa terra verde e vermelha (e por extensão a Africa lusófona), que nos marcou a todos/as, nos tocou a todos/as, de diferentes maneiras, e cujo espírito procuramos reviver, preservar e promover, sentando-nos à sombra de um secular, protetor, fraterno, simbólico poilão, o poilão da nossa Tabanca Grande...
O Álvaro e a Helena passam, a partir de hoje, a constar na lista alfabética dos membros da nossaTabanca Grande, cujo nº se aproxima já dos 700 (mais do que um batalhão!) e donde já constam, além do meu nome, os nomes do Eduardo, do João, do Jaime, do Horácio, e da Alice... (Vd. fiolha de rosto do blogue, coluna do lado esquerdo).
Não é preciso "curriculum vitae", civil ou militar, bastam os dois amarem aquela terra e já terem bebido a água do Geba.. Eu mesmo faço questão de os apresentar, formalmente...
Como eu gosto de dizer, não é (felizmente!|) o Panteão Nacional, é melhor... é a nossa Tabanca Grande. O nosso objetivo é muito simples, é o de partilhar memórias (e afetos). E, por outro lado, muito sinceramente, penso que vale muito mais um camarada vivo (e quem diz camarada diz amigo), do que um herói morto...
Nenhum deles é camarada, mas são amigos da Guiné. Os camaradas tratamo-los por tu, o Álvaro e Helena, sem terem sido "tropa", merecem o mesmo tratamento: do general ao soldado, do almirante ao marinheiro, tratamo-nos todos por tu, porque é mais prático e desinibidor... Aqui não há títulos, académicos, sociais, profissionais, tirando os velhos postos do tempo da tropa (que nos ajudam a identificar a malta9... Trato, de resto, a maioria dos amigos da Guiné por tu como sinal de distinção e porque faço questão também que me tratem por tu...
Álvaro e Helena, sejam bem vindos, a esta e às demais tabancas sob a "jurisdição" da Tabanca Grande...
Que Deus, Alá e os bons irãs vos/nos protejam, a todos/as!... Luis
Tiro o quico, à boa maneira da tropa, à espantosa naturalidade e grande generosidade com que vocês, Álvaro e Helena, se juntaram a nós, como se nos conhecêssemos há décadas e fôssemos velhos e bons amigos de há muito... É fruto deste sortilégio, desta magia, que é a "nossa" Guiné, essa terra verde e vermelha (e por extensão a Africa lusófona), que nos marcou a todos/as, nos tocou a todos/as, de diferentes maneiras, e cujo espírito procuramos reviver, preservar e promover, sentando-nos à sombra de um secular, protetor, fraterno, simbólico poilão, o poilão da nossa Tabanca Grande...
O Álvaro e a Helena passam, a partir de hoje, a constar na lista alfabética dos membros da nossaTabanca Grande, cujo nº se aproxima já dos 700 (mais do que um batalhão!) e donde já constam, além do meu nome, os nomes do Eduardo, do João, do Jaime, do Horácio, e da Alice... (Vd. fiolha de rosto do blogue, coluna do lado esquerdo).
Não é preciso "curriculum vitae", civil ou militar, bastam os dois amarem aquela terra e já terem bebido a água do Geba.. Eu mesmo faço questão de os apresentar, formalmente...
Como eu gosto de dizer, não é (felizmente!|) o Panteão Nacional, é melhor... é a nossa Tabanca Grande. O nosso objetivo é muito simples, é o de partilhar memórias (e afetos). E, por outro lado, muito sinceramente, penso que vale muito mais um camarada vivo (e quem diz camarada diz amigo), do que um herói morto...
Nenhum deles é camarada, mas são amigos da Guiné. Os camaradas tratamo-los por tu, o Álvaro e Helena, sem terem sido "tropa", merecem o mesmo tratamento: do general ao soldado, do almirante ao marinheiro, tratamo-nos todos por tu, porque é mais prático e desinibidor... Aqui não há títulos, académicos, sociais, profissionais, tirando os velhos postos do tempo da tropa (que nos ajudam a identificar a malta9... Trato, de resto, a maioria dos amigos da Guiné por tu como sinal de distinção e porque faço questão também que me tratem por tu...
Álvaro e Helena, sejam bem vindos, a esta e às demais tabancas sob a "jurisdição" da Tabanca Grande...
Que Deus, Alá e os bons irãs vos/nos protejam, a todos/as!... Luis
Guiné-Bissau > O Enxalé... In šāʾ Allāh (em árabe: إن شاء الله, [in ʃæʔ ʔɑlˤˈlˤɑːh]), romanizado como Insha'Allah ou Inshallah ou Inshalá, é uma expressão árabe que quer dizer "se Deus quiser" ou "se Alá quiser". Deu "oxalá" (em português) e "ojalá" em castelhano.(Fonte: Wikipedia). Parte do coração da Maria Helena ficou lá, no Enxalé...
Infografia; Blogue Lu+is Graça & Camaradas da Guiné (2015)
PS - A Maria Helena Carvalho, mais conhecida por Helena do Enxalé, nasceu na Guiné, em 1951 (**). O pai, natural de Seia, o "Pereira do Enxalé", Amadeu Abrantes Pereira era uma figura muito conhecida e respeitada no território. Instalou-se estrategicamente no Enxalé, na margem norte do Rio Geba, frente ao Xime. Lá tinha uma destilaria de aguardente de cana. Fez uma escola e construiu uma pequena capela. Amílcar Cabral foi visita da casa. bem como o poderoso régulo do Enxalé, Abna Na Onça. capitão de 2ª linha. E alguns futuros guerrilheiros do PAIGC tiveram o Pereira como patrão.
Em 1962, e com o início da guerrilha, o Pereira mudou-se para Brá. No Enxalé, a dificuldade maior era a livre circulação e o abastecimento da matéria.priama, a cana de acúcar. Em 1958, se não erro, a Helena vem para Bissau e depois segue para a metrópole para poder estudar. Voltava à Guiné nas férias grandes. Foi educada por uma madrinha. Em 1974, com 23 anos, e já casada com o Álvaro, assiste ás festas da independência, sentindo-se perfeitamente em casa...
Entretanto, a mºae já tinha morrido e o pai acabava de falecer, algumas semanas antes, em agosto de 1974....Voltaria mais tarde à Guiné-.Bissau, creio que em 1989, para tratar de assuntos da família, incluindo o património edificado no Enxalé e em Bissau. Das coisas mais bonitas que lhe aconteceram e que ainda hoje recorda com orgulho e emoção foi verificar como o nome da sua família era respeitada pelas gentes do Enxalé: (i) o régulo veio com uma petição escrita para ela dar autorização aos habitantes locais para poderem continuar a colher os citrinos que continuavam a nascer na ponta; (ii) uma bajuda veio-lhe entregar as chaves de casa...
O casal vive e trabalha nas Caldas da Raínha. O pai do Álvaro era ourives. Ele mantém o negócio, que agora já passou para a terceira geração. Adora cicloturismo (apesar de um grave acidente que teve há anos) e fotografia. Tem "slides" da independência da Guiné-Bissau que me prometeu mostrar um dia quando passar lá por casa... Entretanto a Helena foi adoptada pela "rapaziada" que passou pelo Enxalé, nomeadamente a CCAÇ 1439 (1965/67) (*). Foi ela que organizou,, este ano, o convívio anual da companhia. É uma mulher de armas!...
Notas do editor;:
___________________
Notas do editor;:
(*) Último poste da série > 16 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14883: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (5): Somos cada vez menos, mas bons... Convívio anual do pessaol da CCAÇ 617, a que se juntou a CCAÇ 619 e o Pel Mort 942., Azeitão, Setúbal, 30/5/2015 (João Sacôto)
Vd. também poste de 14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14874: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (3): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte II): João Crisóstomo e António Nunes Lopes, do mesmo pelotão, da CCAÇ 1439, encontram-se 50 anos depois e falam, com emoção e dramatismo, da violenta emboscada que uma vez sofreram em Darsalame (Baio), no subsetor do Xime
Vd. também poste de 14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14874: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (3): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte II): João Crisóstomo e António Nunes Lopes, do mesmo pelotão, da CCAÇ 1439, encontram-se 50 anos depois e falam, com emoção e dramatismo, da violenta emboscada que uma vez sofreram em Darsalame (Baio), no subsetor do Xime
Guiné 63/74 - P14884: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte I - Do povoamento do ocidente africano até à luta armada do PAIGC
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), com data de 2 de Julho de 2015:
Amigo Vinhal:
Há já uns tempos que não comunicamos! Espero que tudo esteja bem contigo.
Respondendo aos apelos do Luís Graça para participar no Blogue, aqui vai o 1.º Capítulo da Primeira Parte do Trabalho "Como tudo Aconteceu".
Tencionava apenas iniciar a publicação do Trabalho quando estivesse concluído, o que vai demorar algum tempo.
Espero que seja do interesse do pessoal, uma vez que a 1.ª parte não trata da "nossa guerra". Esta será abordada na 2.ª parte.
Um abraço
Manuel Vaz
(Continua)
Amigo Vinhal:
Há já uns tempos que não comunicamos! Espero que tudo esteja bem contigo.
Respondendo aos apelos do Luís Graça para participar no Blogue, aqui vai o 1.º Capítulo da Primeira Parte do Trabalho "Como tudo Aconteceu".
Tencionava apenas iniciar a publicação do Trabalho quando estivesse concluído, o que vai demorar algum tempo.
Espero que seja do interesse do pessoal, uma vez que a 1.ª parte não trata da "nossa guerra". Esta será abordada na 2.ª parte.
Um abraço
Manuel Vaz
COMO TUDO ACONTECEU
PARTE I
DO POVOAMENTO DO OCIDENTE AFRICANO ATÉ À LUTA ARMADA DO PAIGC
(Continua)
Guiné 63/74 - P14883: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (5): Somos cada vez menos, mas bons... Convívio anual do pessaol da CCAÇ 617, a que se juntou a CCAÇ 619 e o Pel Mort 942., Azeitão, Setúbal, 30/5/2015 (João Sacôto)
XII Encontro anual do "veteraníssimo" pessoal da CCAÇ 617, a que se juntou a CCAÇ 619 e o Pel Mort 942 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), > Vila Nova de Azeitão, Setúbal, 30 de maio de 2015... Sentados, em primeiro plano, dois camaradas da Tabanca Grande: o Carlos Alberto Cruz (à esquerda) e o João Sacôto (à direita)
Foto: © João Sacôto (2015). Todos os direitos reservados.
Luis: Se for viável, gostaria que publicasses esta fotografia, tirada no almoço deste ano de pessoal que chegou à Guiné em Janeiro de 1964 (51 anos passados, somos cada vez menos). Foi o o XXII almoço da CCaç 617. Como somos poucos, juntamo-nos cada vez mais. [O convívio foi para os lados de Azeitão, Setúbal],
Um abraço,
JS
Nota do editor:
Último poste da série > 15 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14882: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (4): Os amigos e amigas que nos ligaram ao nosso mundo (José Teixeira)
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Guiné 63/74 - P14882: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (4): Os amigos e amigas que nos ligaram ao nosso mundo (José Teixeira)
1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 12 de Julho de 2015, onde nos fala dos amigos que, de alguma maneira, foram o suporte moral de muitos de nós, combatentes, enquanto em campanha.
Caríssimos
Não foram apenas a família e as namoradas que nos ligaram ao mundo do lado de cá da guerra, como podem ver nos anexos.
Abraços
Zé Teixeira
OS AMIGOS E AMIGAS QUE NOS LIGARAM AO NOSSO MUNDO
Alguma coisa se tem escrito sobre as noivas e namoradas que viram os seus “amores” partirem para Guerra Colonial. Seguiam-se normalmente cerca de dois anos de separação em que o amor e os afectos eram alimentados pelas cartas e “bate-estradas”, vulgo aerogramas. Tempo de sofrimento. Tempo que nunca mais passava.
Um camarada meu recebia um montão de cartas sempre que a avioneta chegava com notícias frescas. A sua namorada assumiu o compromisso de lhe escrever todos os dias e ...ele correspondia de igual modo. Teve azar o Miguel. Uma mina traiçoeira roubou-lhe uma perna. Os seus gritos de dor eram entremeados com gritos de desespero porque pensava que ela, a sua querida, não ia querer um manco como marido. Felizmente o drama acabou bem. Hoje são um casal feliz.
E, quantas vezes, o tempo que teimava em não passar, fazia arrefecer o calor desse amor jurado e selado com beijos de saudade. Namoradas que, cansadas de esperar, por quem nunca mais chegava, mandaram o parceiro dar uma volta ao bilhar grande, para desgosto e sofrimento deste. O contrário, creio bem, que também aconteceu.
Os que conseguiram vencer esta difícil etapa tiveram com certeza uma recompensa proveitosa.
As madrinhas de guerra e o seu excelente papel no apoio aos seus afilhados. Algumas, deixaram-se apanhar pelo “cupido” e transformaram-se com o andar dos tempos em namoradas e até esposas. Outras, assumiam o papel de madrinhas de guerra como uma missão humana quando não patriótica. Elas eram raparigas novas cheias de vida, quantas vezes com compromissos de namoro assumidos com outro, eram mulheres casadas e até velhinhas.
Recordo o caso da madrinha de guerra de proveta idade, já avó e viúva que decidiu entrar nesta roda. Deu o seu nome a uma revista fofoqueira da época e lá lhe apareceu um candidato. Ao fim de algum tempo o “atrevidote” pediu-lhe uma fotografia, que teimava em não chegar. Depois foi mais longe e pediu em namoro. Claro que recebeu uma carta da senhora a dizer que aceitava o seu pedido de namoro.
Aproveitou para lhe enviar uma fotografia pessoal e informou-o do seu estado civil. Calculem o estado de espírito com que ficou o nosso camarada.
Havia ainda os amigos e amigas, sem qualquer rótulo, que nos acompanharam com a sua palavra escrita, naquele tempo de sangue, suor e lágrimas.
Há dias em conversa com uma amiga e esposa de um camarada combatente na Guiné, ao tempo, estudante na ESBAP – Escola Superior de Belas Artes do Porto, hoje uma conceituada pintora da nossa praça, disse-me ela que, em determinado ano escolar, os rapazes da sua turma desapareceram. Apenas ficou um porque era deficiente motor. Os outros “voaram” todos para a Guerra Colonial. A turma ficou vazia. A colega e amiga, tomou a iniciativa de manter uma ligação de carinho e amizade com os desventurados estudantes que desde há vários anos eram os seus amigos do dia-a-dia, assumindo o compromisso de lhes escrever a contar as novidades da escola e da terra. A linguagem que utilizou foi a que eles como estudantes de Belas artes melhor entendiam. O desenho com arte e imaginação, como se pode ver nas imagens.
Um dos colegas com quem ela se correspondeu, muitos anos depois, recordou esta forma de estar e devolveu-lhe com carinho alguns dos belos desenhos que recebera na selva africana, que aqui se reproduzem.
Eu fui dos que tive a sorte de ter alguém que de vez em quando me presenteavam com notícias frescas do meu País. Muito lhes devo pela sua presença fraterna e amiga que de vez em quando, dava sinais de vida, a lembrar-me que eu não estava só. A sua forma de escrita era diferente. Liberta de sentimentos amorosos e preocupações, enviavam notícias, comentários, contos e ditos, enfim!
Transportavam-me de novo ao meu mundo.
Acabada a guerra. Regressado ao ninho de afectos. Abraços distribuídos. Algumas cenas do outro mundo, contada. E a vida recomeçou. Cada um de nós seguiu o seu caminho. A amizade e a gratidão, essas ficaram cá dentro de nós, estejam eles ou elas onde estiverem.
Nunca mais pensei nesses amigos e amigas como os tais que se preocuparam com o meu bem-estar durante a guerra. Apenas a amizade ficou mais solidificada.
José Teixeira
Nota do editor
Primeiros postes da série:
26 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14799: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (1): Carta aberta aos camaradas da Tabanca Grande: o que fiz (e não fiz) como cofundador e dirigente da associação APOIAR (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)
Caríssimos
Não foram apenas a família e as namoradas que nos ligaram ao mundo do lado de cá da guerra, como podem ver nos anexos.
Abraços
Zé Teixeira
OS AMIGOS E AMIGAS QUE NOS LIGARAM AO NOSSO MUNDO
Alguma coisa se tem escrito sobre as noivas e namoradas que viram os seus “amores” partirem para Guerra Colonial. Seguiam-se normalmente cerca de dois anos de separação em que o amor e os afectos eram alimentados pelas cartas e “bate-estradas”, vulgo aerogramas. Tempo de sofrimento. Tempo que nunca mais passava.
Um camarada meu recebia um montão de cartas sempre que a avioneta chegava com notícias frescas. A sua namorada assumiu o compromisso de lhe escrever todos os dias e ...ele correspondia de igual modo. Teve azar o Miguel. Uma mina traiçoeira roubou-lhe uma perna. Os seus gritos de dor eram entremeados com gritos de desespero porque pensava que ela, a sua querida, não ia querer um manco como marido. Felizmente o drama acabou bem. Hoje são um casal feliz.
E, quantas vezes, o tempo que teimava em não passar, fazia arrefecer o calor desse amor jurado e selado com beijos de saudade. Namoradas que, cansadas de esperar, por quem nunca mais chegava, mandaram o parceiro dar uma volta ao bilhar grande, para desgosto e sofrimento deste. O contrário, creio bem, que também aconteceu.
Os que conseguiram vencer esta difícil etapa tiveram com certeza uma recompensa proveitosa.
As madrinhas de guerra e o seu excelente papel no apoio aos seus afilhados. Algumas, deixaram-se apanhar pelo “cupido” e transformaram-se com o andar dos tempos em namoradas e até esposas. Outras, assumiam o papel de madrinhas de guerra como uma missão humana quando não patriótica. Elas eram raparigas novas cheias de vida, quantas vezes com compromissos de namoro assumidos com outro, eram mulheres casadas e até velhinhas.
Recordo o caso da madrinha de guerra de proveta idade, já avó e viúva que decidiu entrar nesta roda. Deu o seu nome a uma revista fofoqueira da época e lá lhe apareceu um candidato. Ao fim de algum tempo o “atrevidote” pediu-lhe uma fotografia, que teimava em não chegar. Depois foi mais longe e pediu em namoro. Claro que recebeu uma carta da senhora a dizer que aceitava o seu pedido de namoro.
Aproveitou para lhe enviar uma fotografia pessoal e informou-o do seu estado civil. Calculem o estado de espírito com que ficou o nosso camarada.
Havia ainda os amigos e amigas, sem qualquer rótulo, que nos acompanharam com a sua palavra escrita, naquele tempo de sangue, suor e lágrimas.
Há dias em conversa com uma amiga e esposa de um camarada combatente na Guiné, ao tempo, estudante na ESBAP – Escola Superior de Belas Artes do Porto, hoje uma conceituada pintora da nossa praça, disse-me ela que, em determinado ano escolar, os rapazes da sua turma desapareceram. Apenas ficou um porque era deficiente motor. Os outros “voaram” todos para a Guerra Colonial. A turma ficou vazia. A colega e amiga, tomou a iniciativa de manter uma ligação de carinho e amizade com os desventurados estudantes que desde há vários anos eram os seus amigos do dia-a-dia, assumindo o compromisso de lhes escrever a contar as novidades da escola e da terra. A linguagem que utilizou foi a que eles como estudantes de Belas artes melhor entendiam. O desenho com arte e imaginação, como se pode ver nas imagens.
Um dos colegas com quem ela se correspondeu, muitos anos depois, recordou esta forma de estar e devolveu-lhe com carinho alguns dos belos desenhos que recebera na selva africana, que aqui se reproduzem.
Eu fui dos que tive a sorte de ter alguém que de vez em quando me presenteavam com notícias frescas do meu País. Muito lhes devo pela sua presença fraterna e amiga que de vez em quando, dava sinais de vida, a lembrar-me que eu não estava só. A sua forma de escrita era diferente. Liberta de sentimentos amorosos e preocupações, enviavam notícias, comentários, contos e ditos, enfim!
Transportavam-me de novo ao meu mundo.
Acabada a guerra. Regressado ao ninho de afectos. Abraços distribuídos. Algumas cenas do outro mundo, contada. E a vida recomeçou. Cada um de nós seguiu o seu caminho. A amizade e a gratidão, essas ficaram cá dentro de nós, estejam eles ou elas onde estiverem.
Nunca mais pensei nesses amigos e amigas como os tais que se preocuparam com o meu bem-estar durante a guerra. Apenas a amizade ficou mais solidificada.
José Teixeira
(Cortesia de uma amiga que, ao tempo da guerra colonial, era estudante de belas artes. JT)
____________Nota do editor
Primeiros postes da série:
26 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14799: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (1): Carta aberta aos camaradas da Tabanca Grande: o que fiz (e não fiz) como cofundador e dirigente da associação APOIAR (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)
13 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14872: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (2): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte I): organização 'impex' do Eduardo Jorge Ferreira (ex-1º cabo inf, do exército luso-britânico que se cobriu de glória na batalha no Vimeiro, em 21/8/1808; ex-alf mil, PA, Bissau, Bissalanca, BA 12, 1973/74)
14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14874: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (3): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte II): João Crisóstomo e António Nunes Lopes, do mesmo pelotão, da CCAÇ 1439, encontram-se 50 anos depois e falam, com emoção e dramatismo, da violenta emboscada que uma vez sofreram em Darsalame (Baio), no subsetor do Xime
14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14874: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (3): Convívio da Tabanca de Porto Dinheiro, 12 de julho de 2015 (Parte II): João Crisóstomo e António Nunes Lopes, do mesmo pelotão, da CCAÇ 1439, encontram-se 50 anos depois e falam, com emoção e dramatismo, da violenta emboscada que uma vez sofreram em Darsalame (Baio), no subsetor do Xime
Marcadores:
aerogramas,
amigos,
as nossas mulheres,
bate-estradas,
Buba,
CCAÇ 2381,
correspondência,
Empada,
José Teixeira,
madrinhas de guerra,
Mampatá,
Quebo
Guiné 63/74 - P14881: Convívios (696): Rescaldo do encontro do pessoal da CART 6250/72, levado a efeito no passado dia 11 de Julho em Oliveira do Bairro (António Murta)
1. Em mensagem do dia 13 de Julho de 2015, o nosso camarada António Murta,
ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), fala-nos do último convívio do pessoal da CART 6250, levado a efeito no passado dia 11 em Bustos - Oliveira do Bairro.
No passado dia 11 de Julho de 2015, teve lugar em Bustos - Oliveira do Bairro, mais um almoço-Convívio da Cart 6250 de Mampatá e eu estive presente como convidado, uma deferência especial do Carvalho de Mampatá que muito agradeço.
Foi a primeira vez que participei num destes eventos e fiquei muito satisfeito. Desde logo, por poder abraçar os ex-camaradas de infortúnio e de farras, mais de 40 anos depois da separação na Guiné. Referindo apenas alguns, dada a impossibilidade de os referir a todos, dou nota dos seguintes camaradas presentes: o próprio Carvalho de Mampatá e a esposa Fátima, o José Manuel Lopes da Régua, o Pereira Nina da Covilhã (ex-Fur Mec) e a esposa, o Leça (José Eduardo Alves, ex-Condutor auto) e a esposa, e o Comandante Luís Marcelino, que teve de se ausentar cedo devido a compromissos, mas que não se furtou a honrar com a sua presença todos os ex-camaradas e suas famílias.
Foi uma tarde muito animada e rica de são convívio, não faltando as eternas discussões na tentativa de recuar no tempo até aos belos anos da nossa juventude, ainda que perturbada pelo belicismo que nos agarrava ali na Guiné.
No final, pediu-me o Carvalho de Mampatá que desse eu a notícia aos Grã-Tabanqueiros e, assim, agradeço que a publiquem se antes não vos chegar pedido semelhante de “cronista” mais legítimo.
Junto algumas fotografias (se acharem muitas, eliminem algumas, por favor).
Um abraço para toda a Tabanca Grande.
António Murta.
O Comandante Luís Marcelino despede-se de todos, chamado a outro compromisso. O Zé Manel Lopes bate-lhe no ombro mas está pesaroso, tal como os demais.
O baile: só neste enquadramento, três pares de senhoras dão um pezinho de dança. Os senhores seus companheiros estão à parte a discutir se em Abril/74 a guerra colonial estava, ou não, perdida.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 9 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14855: Convívios (695): Mais um Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, dia 23 de Julho em Cascais (José Manuel Matos Dinis / Jorge Rosales)
Almoço-Convívio da CART 6250 de Mampatá (1972-74)
No passado dia 11 de Julho de 2015, teve lugar em Bustos - Oliveira do Bairro, mais um almoço-Convívio da Cart 6250 de Mampatá e eu estive presente como convidado, uma deferência especial do Carvalho de Mampatá que muito agradeço.
Foi a primeira vez que participei num destes eventos e fiquei muito satisfeito. Desde logo, por poder abraçar os ex-camaradas de infortúnio e de farras, mais de 40 anos depois da separação na Guiné. Referindo apenas alguns, dada a impossibilidade de os referir a todos, dou nota dos seguintes camaradas presentes: o próprio Carvalho de Mampatá e a esposa Fátima, o José Manuel Lopes da Régua, o Pereira Nina da Covilhã (ex-Fur Mec) e a esposa, o Leça (José Eduardo Alves, ex-Condutor auto) e a esposa, e o Comandante Luís Marcelino, que teve de se ausentar cedo devido a compromissos, mas que não se furtou a honrar com a sua presença todos os ex-camaradas e suas famílias.
Foi uma tarde muito animada e rica de são convívio, não faltando as eternas discussões na tentativa de recuar no tempo até aos belos anos da nossa juventude, ainda que perturbada pelo belicismo que nos agarrava ali na Guiné.
No final, pediu-me o Carvalho de Mampatá que desse eu a notícia aos Grã-Tabanqueiros e, assim, agradeço que a publiquem se antes não vos chegar pedido semelhante de “cronista” mais legítimo.
Junto algumas fotografias (se acharem muitas, eliminem algumas, por favor).
Um abraço para toda a Tabanca Grande.
António Murta.
O Comandante Luís Marcelino despede-se de todos, chamado a outro compromisso. O Zé Manel Lopes bate-lhe no ombro mas está pesaroso, tal como os demais.
Olha o gajo! Não deixa passar nada!... – parece dizer o Carvalho de Mampatá.
Ah! O belo queijo da Serra!, deleita-se o Pereira Nina.
O nosso poeta de Mampatá, José Manuel Lopes, e o nosso fermero Carvalho de Mampatá.
Zé Manel Lopes e o Leça
O Andias, animador de serviço, impõe a sua prosápia sem admissão de recurso.
Animação musical.
O baile: só neste enquadramento, três pares de senhoras dão um pezinho de dança. Os senhores seus companheiros estão à parte a discutir se em Abril/74 a guerra colonial estava, ou não, perdida.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 9 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14855: Convívios (695): Mais um Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, dia 23 de Julho em Cascais (José Manuel Matos Dinis / Jorge Rosales)
Guiné 63/74 - P14880: Os nossos seres, saberes e lazeres (106): Tomar à la minuta (8) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 12 de Junho de 2015:
Queridos amigos,
Onde vivo passa regularmente o comboio que vai ou vem do Entroncamento, tudo começou com o ramal da Lamarosa-Tomar, em 1928, e depois de mil peripécias de uma cidade pujante de agricultura e indústria insistir, décadas e décadas a fio, para que Lisboa lhe desse o necessário caminho-de-ferro.
Saio de casa e ali bem perto na Estrada de S. Lourenço ou do Padrão tenho belos monumentos maltratados e em espaços pouco amigáveis para uma visita com tempo, a velha estrada Real é bastante cruel com os pedestres, não se recomenda tais passeatas, o pedestre pode ser colhido mortalmente por veículos ligeiros ou pesados. É por aqui vamos agora passear, com a promessa de recomeçar na Mata Nacional dos Sete Montes.
Um abraço do
Mário
Tomar à la minuta (8)1
Beja Santos
Arnaldo C. Coelho, primo da minha tia-avó Lucília, envia-lhe notícias de Tomar no fim da monarquia, para o seguinte endereço, África Ocidental, Luanda, Lucala. Anos depois, em Malange, nasce a minha mãe. Guardo numa caixa de sapatos postais maravilhosos, desde esta época até aos anos 1930, uns dirigidos à menina Gigi, a minha mãe, outros para a minha avó, até em férias na Figueira da Foz, e até encontrei um postal endereçado à Rua Newton, Bairro Brás Simões, depois Bairro de Inglaterra, hoje integrado no Bairro das Colónias, onde eu nasci. Pais, irmãos, sobrinhos e primos, todos se correspondiam; e eu acabo por ser um felizardo, herdei bilhetes-postais de Tomar, com o convento, a Corredoura, os jardins da Avenida Marquês de Tomar, a Fábrica do Papel do Padro, este timbrado com um selo com a efígie do rei D. Carlos.
A epopeia do caminho-de-ferro chegar a Tomar começa na monarquia constitucional e conhece concretização em 1928, o caminho-de-ferro veio pela Lamarosa. Puseram-se inúmeras hipóteses: de Tomar pela Lousã, de Tomar pela Foz do Alge e Pedrógão, de Tomar por Dornes, de Tomar por Ourém, de Tomar por Torres Novas. Ganhou a ligação ao Entroncamento. A estação ferroviária de Tomar foi construída na Várzea Grande, após a decisão de construir o ramal Lamarosa-Tomar. Em Lucala, em Vila Salazar, em Malange, em Luanda, os meus avós iam conhecendo esta caminhada por bilhetes-postais, hoje assombrosos.
Pego no fio à meada de novo no aqueduto do Convento de Cristo, ou dos Pegões, Filipe I quis obsequiar o local onde foi coroado com uma conduta majestosa, é uma estrutura aparentada aos aquedutos de Elvas e Évora, temos aqui 6 quilómetros, 180 arcos de volta perfeita, 2 mães d’água. E quando o aqueduto desemboca no convento é num tanque de rega. As obras do aqueduto findaram em 1619. E agora desço até à estrada de S. Lourenço, ainda não falei das maravilhas próximas de onde habito.
Aqui ficam imagens da fonte de S. Lourenço, parte integrante do complexo de S. Lourenço, há a capela, o padrão e mais à frente temos outro padrão, o de D. Sebastião. Até às autoestradas e ao desafogo viário que leva até Coimbra e outras Beiras, esta era a estrada de Lisboa e seguramente um dos eixos fulcrais da circulação Norte-Sul. O que é deplorável é o abandono, o esquecimento, a degradação dos monumentos. Andar a pé aqui nas bermas correm-se riscos de vida, não são poucos os atropelamentos e estamos a falar da entrada de uma cidade, e estamos a falar de monumentos de grande carga simbólica. Compreende-se o carinho que merecem o Convento de Cristo e a sua charola, as muralhas do castelo, o centro histórico. Mas é inaceitável esta marginalização de monumentos indelevelmente ligados a um período áureo de Tomar.
Em 10 de Agosto de 1385, as hostes do Condestável D. Nuno Álvares Pereira e as do Mestre de Avis encontram-se aqui e depois marcham para Aljubarrota. Os reis da casa de Avis estreitarão laços com Tomar, logo D. Duarte e o Infante D. Henrique, regedor da Ordem de Cristo, vive perto da charola e ativa o Paço dos Estaus. Estamos portanto numa área nobre, a estrada de S. Lourenço ou do Padrão, foi sempre bastante arborizada, era um regalo para o olhar e para dar sombras frescas. O professor José-Augusto França acha que aqueles azulejos adossados à capela são coisa indecorosa. Falando por mim, acho-os enternecedores, é uma azulejaria inocente, e ainda por cima tem o condão de chamar à atenção para os automobilistas, é extremamente difícil parar aqui. E para visitar a capela tem que se contactar previamente o turismo.
Sigo agora de perto o que se escreve na brochura “Tomar: lugares e memórias”, que O Templário editou em Agosto de 2008. Aqui se diz que o denominado Padrão de D. Sebastião foi erguido em 1567 para comemorar a edificação e consolidação da estrada Real entre Lisboa e Porto. O monumento é formado por alto plinto retangular, na face virada para a estrada grava-se uma inscrição alusiva à sua edificação, e o latim trocado por miúdos reza: “O juiz de fora, tendo dado princípio a esta obra no reinado de D. Sebastião I, terminou-a ao largar o cargo no ano do nascimento de Cristo de 1567”. E a informação ainda diz que, sobre este pedestal, e tendo a separá-lo uma moldura, ergue-se o fuste escalonado, em forma de pirâmide, rematado por simples ábaco coroado de um pequeno coruchéu. É tempo de pôr os olhos em coisas da mãe natureza, até porque Tomar é pródiga em arvoredo e lazeres para os passantes. Há um parque inconfundível, à beira da encosta onde se assoma o castelo, a Mata Nacional dos Sete Montes, da Várzea Grande já falámos, mas a Várzea Pequena e o Mouchão têm estado silenciados. E estas belezas naturais dialogam com marcas de progresso industrial, a cidade teve saboarias, fiação, moagens. Há belos edifícios recuperados e que são contadores de História, são bem dignos de uma visita demorada, a partir dos Lagares d’El Rei.
(Continua)
____________
Nota do editor
1 - Vd. poste anterior de 8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14849: Os nossos seres, saberes e lazeres (104): Tomar à la minuta (7) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 11 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14865: Os nossos seres, saberes e lazeres (105): Sou reformado a tempo inteiro, mas... nas horas vagas escrevo, pinto, aperfeiçoo o Inglês e sou secretário geral da Anetta – Associação Nacional das Empresas e Técnicos de Trabalhos em Altura (José Melo)
Queridos amigos,
Onde vivo passa regularmente o comboio que vai ou vem do Entroncamento, tudo começou com o ramal da Lamarosa-Tomar, em 1928, e depois de mil peripécias de uma cidade pujante de agricultura e indústria insistir, décadas e décadas a fio, para que Lisboa lhe desse o necessário caminho-de-ferro.
Saio de casa e ali bem perto na Estrada de S. Lourenço ou do Padrão tenho belos monumentos maltratados e em espaços pouco amigáveis para uma visita com tempo, a velha estrada Real é bastante cruel com os pedestres, não se recomenda tais passeatas, o pedestre pode ser colhido mortalmente por veículos ligeiros ou pesados. É por aqui vamos agora passear, com a promessa de recomeçar na Mata Nacional dos Sete Montes.
Um abraço do
Mário
Tomar à la minuta (8)1
Beja Santos
Arnaldo C. Coelho, primo da minha tia-avó Lucília, envia-lhe notícias de Tomar no fim da monarquia, para o seguinte endereço, África Ocidental, Luanda, Lucala. Anos depois, em Malange, nasce a minha mãe. Guardo numa caixa de sapatos postais maravilhosos, desde esta época até aos anos 1930, uns dirigidos à menina Gigi, a minha mãe, outros para a minha avó, até em férias na Figueira da Foz, e até encontrei um postal endereçado à Rua Newton, Bairro Brás Simões, depois Bairro de Inglaterra, hoje integrado no Bairro das Colónias, onde eu nasci. Pais, irmãos, sobrinhos e primos, todos se correspondiam; e eu acabo por ser um felizardo, herdei bilhetes-postais de Tomar, com o convento, a Corredoura, os jardins da Avenida Marquês de Tomar, a Fábrica do Papel do Padro, este timbrado com um selo com a efígie do rei D. Carlos.
A epopeia do caminho-de-ferro chegar a Tomar começa na monarquia constitucional e conhece concretização em 1928, o caminho-de-ferro veio pela Lamarosa. Puseram-se inúmeras hipóteses: de Tomar pela Lousã, de Tomar pela Foz do Alge e Pedrógão, de Tomar por Dornes, de Tomar por Ourém, de Tomar por Torres Novas. Ganhou a ligação ao Entroncamento. A estação ferroviária de Tomar foi construída na Várzea Grande, após a decisão de construir o ramal Lamarosa-Tomar. Em Lucala, em Vila Salazar, em Malange, em Luanda, os meus avós iam conhecendo esta caminhada por bilhetes-postais, hoje assombrosos.
Pego no fio à meada de novo no aqueduto do Convento de Cristo, ou dos Pegões, Filipe I quis obsequiar o local onde foi coroado com uma conduta majestosa, é uma estrutura aparentada aos aquedutos de Elvas e Évora, temos aqui 6 quilómetros, 180 arcos de volta perfeita, 2 mães d’água. E quando o aqueduto desemboca no convento é num tanque de rega. As obras do aqueduto findaram em 1619. E agora desço até à estrada de S. Lourenço, ainda não falei das maravilhas próximas de onde habito.
Aqui ficam imagens da fonte de S. Lourenço, parte integrante do complexo de S. Lourenço, há a capela, o padrão e mais à frente temos outro padrão, o de D. Sebastião. Até às autoestradas e ao desafogo viário que leva até Coimbra e outras Beiras, esta era a estrada de Lisboa e seguramente um dos eixos fulcrais da circulação Norte-Sul. O que é deplorável é o abandono, o esquecimento, a degradação dos monumentos. Andar a pé aqui nas bermas correm-se riscos de vida, não são poucos os atropelamentos e estamos a falar da entrada de uma cidade, e estamos a falar de monumentos de grande carga simbólica. Compreende-se o carinho que merecem o Convento de Cristo e a sua charola, as muralhas do castelo, o centro histórico. Mas é inaceitável esta marginalização de monumentos indelevelmente ligados a um período áureo de Tomar.
Em 10 de Agosto de 1385, as hostes do Condestável D. Nuno Álvares Pereira e as do Mestre de Avis encontram-se aqui e depois marcham para Aljubarrota. Os reis da casa de Avis estreitarão laços com Tomar, logo D. Duarte e o Infante D. Henrique, regedor da Ordem de Cristo, vive perto da charola e ativa o Paço dos Estaus. Estamos portanto numa área nobre, a estrada de S. Lourenço ou do Padrão, foi sempre bastante arborizada, era um regalo para o olhar e para dar sombras frescas. O professor José-Augusto França acha que aqueles azulejos adossados à capela são coisa indecorosa. Falando por mim, acho-os enternecedores, é uma azulejaria inocente, e ainda por cima tem o condão de chamar à atenção para os automobilistas, é extremamente difícil parar aqui. E para visitar a capela tem que se contactar previamente o turismo.
Sigo agora de perto o que se escreve na brochura “Tomar: lugares e memórias”, que O Templário editou em Agosto de 2008. Aqui se diz que o denominado Padrão de D. Sebastião foi erguido em 1567 para comemorar a edificação e consolidação da estrada Real entre Lisboa e Porto. O monumento é formado por alto plinto retangular, na face virada para a estrada grava-se uma inscrição alusiva à sua edificação, e o latim trocado por miúdos reza: “O juiz de fora, tendo dado princípio a esta obra no reinado de D. Sebastião I, terminou-a ao largar o cargo no ano do nascimento de Cristo de 1567”. E a informação ainda diz que, sobre este pedestal, e tendo a separá-lo uma moldura, ergue-se o fuste escalonado, em forma de pirâmide, rematado por simples ábaco coroado de um pequeno coruchéu. É tempo de pôr os olhos em coisas da mãe natureza, até porque Tomar é pródiga em arvoredo e lazeres para os passantes. Há um parque inconfundível, à beira da encosta onde se assoma o castelo, a Mata Nacional dos Sete Montes, da Várzea Grande já falámos, mas a Várzea Pequena e o Mouchão têm estado silenciados. E estas belezas naturais dialogam com marcas de progresso industrial, a cidade teve saboarias, fiação, moagens. Há belos edifícios recuperados e que são contadores de História, são bem dignos de uma visita demorada, a partir dos Lagares d’El Rei.
(Continua)
____________
Nota do editor
1 - Vd. poste anterior de 8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14849: Os nossos seres, saberes e lazeres (104): Tomar à la minuta (7) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 11 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14865: Os nossos seres, saberes e lazeres (105): Sou reformado a tempo inteiro, mas... nas horas vagas escrevo, pinto, aperfeiçoo o Inglês e sou secretário geral da Anetta – Associação Nacional das Empresas e Técnicos de Trabalhos em Altura (José Melo)
Subscrever:
Mensagens (Atom)