sexta-feira, 17 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4203: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (6): É uma alegria a notícia de que se vai ser pai

1. Mensagem de António Paiva (*), ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 11 de Abril de 2009:

Caros Luís, Carlos e Virgínio

Como é do conhecimento de todos, o vencimento de um soldado na Guiné era fraquinho, com o prémio de especialidade que era de 500 pesos sempre ajudava a reforçar um pouco mais a algibeira. No hospital ainda tínhamos mais uma vantagem que era de três em três meses lhe podermos acrescentar mais 500 pesos com a dádiva de 0,500 litro de sangue, não dava para grandes aventuras, mas ia dando para umas cervejas, umas sandes, de vez em quando uns jantares fora e uns copitos na cidade.

Aos que eram casados, talvez isso não lhes fosse permitido, pois tinham que deixar cá para sustento da sua cara-metade uma parte elevada do seu vencimento.
Por este motivo vou contar o que se passou com um camarada:

Dormíamos na mesma caserna, eu na cama de cima e ele na de baixo mesmo ao lado, era o vizinho do r/c esquerdo, muito bom rapaz. Como era casado não se podia estender muito, se estava de serviço não estava na cama, se não estava de serviço lá o víamos estendido na cama ocupando o seu tempo com a leitura de umas revistas.
Nunca foi menino que se visse na Cantina a beber uma cerveja ou a comer uma sandes, não fumava e se por vezes o desafiássemos logo respondia que não podia, porque tinha a mulher para sustentar.
Não se podia dizer que fosse mau marido, pois tinha muito em conta o sustento de sua mulher.

Em Novembro de 1968, pela hora do almoço, quando estou a entrar na caserna, dou conta de haver uma grande alegria no seu interior. Fiquei surpreso, o meu vizinho do r/c esquerdo, estava alegre e bem disposto, queria pagar uma cerveja a alguns companheiros de caserna, não era para menos, pois tinha na mão uma carta da mulher a dizer-lhe que já era pai de um rapaz.

Posso dizer que fui um dos premiados. Sem ele, 4 ou 5 juntámo-nos e pensámos no caso.
Ele chegou ao hospital em Dezembro de 1967.
Ele era Enfermeiro.
Esqueci-me de lhe perguntar que data tinha a carta, podia-se ter atrasado na viagem.

Um Abraço
António Paiva
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Vd. poste de 5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4143: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva ) (5): A Justiça Militar ou um processo... kafkiano

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