domingo, 6 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P255: Em bom português (1): Guileje e não Guiledje (Luís Graça)

Consulta ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:

1. Pergunta:

Povoação no Sul da Guiné-Bissau, na região de Tombali, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, Guileje foi um importante aquartelamento das tropas portuguesas durante a guerra colonial.

Construído em 1964, foi sitiado e tomado pelo PAIGC em 22 de Maio de 1973. No tempo do colonialismo, escrevia-se Guileje (vd. a carta da Guiné, dos Serviços Cartográficos do Exército, 1961).

Os guineenses e os cooperantes portugueses na Guiné-Bissau têm hoje tendência para escrever Guiledje ou até Guiledge. Vd. por exemplo, a página pessoal de Fernando Casimiro (Didinho) ou a página de uma organização não-governamental como a AD - Acção para o Desenvolvimento, que tem em curso justamente o Projecto Guiledje .

Pergunto ao Ciberdúvidas: qual é a grafia correcta?

Luís Graça, Portugal

2. Resposta:

Como diz - e atestam os registos mais credíveis que cita (1) - , sempre se escreveu Guileje. Portanto, a grafia Guileje, sem o d, é a única corre(c)ta, dado que em português normal não existe grupo consonântico dj, nem tch, o modo correspondente.

Por isso, é incorre(c)to igualmente escrever "Tchecoslováquia", em vez de Checoslováquia, apesar de em checo a palavra começou por tal som, grafado C (um c com acento circunflexo invertido). Mas o som tch foi o do ch em português até ao princípio do século XIX, e ainda hoje se ouve no Norte do Portugal.

Resumindo, é mesmo assim que se deve continuar a grafar o nome desse aquartelamento das tropas portuguesas durante a guerra colonial, na Guiné-Bissau: Guileje. A corruptela do "dje" (e a do "g") pressupõe um mau domínio da ortografia da nossa língua, com outros conhecidos infelizes exemplos - como é essoutra (má) tendência (no caso, em Angola) de se ter passado a escrever com as letras Ku nomes e topónimos que em português sempre se escreveram, e escrevem, com Qu.
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(1) Também era assim que se grafava no título do excelente documentário "De Guileje a Gadamael - o corredor da morte", da autoria do jornalista José Manuel Saraiva e do realizador Manuel Tomás, exibido no canal de televisão português SIC, em 1998.

Ciberdúvidas
11/10/2005

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