segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P370: CCAÇ 2636 (Có, 1969/70) (5): Gastando o primeiro par de botas e as letras do alfabeto

Texto João Varanda (ex-furriel miliciano da CCAÇ 2636, Có)

Os primeiros quatros meses de actividade operacional da CCAÇ 2636 (Có, 1969/70)


No Sector do CAOP - 1

A Companhia chegou a Có em 4 de Novembro de 1969, tendo no dia seguinte participado na protecção aos trabalhos em curso na estrada Có-Pelundo, ao lado da CCAÇ 2584, já com alguma experiência.

A protecção aos trabalhos de estrada (intitulada Operação Via Livre), para além do desgaste físico, exigia às tropas empenhadas longas progressões a pé, quilómetros de picagem. Teve contudo um aspecto altamente positivo: a familiarização com a mata e com a técnica de pesquisa de engenhos explosivos, pelo processo da picagem.

Viu-se, assim, a Companhia empenhada nos trabalhos de estrada sob um horário rigoroso: saída às 5,00 horas da manh, chegada por volta das 14,00 horas com reflexos inevitáveis no regime alimentar pela quase sobreposição das suas refeições básicas diárias.

Passado algum tempo a Companhia com alguma experiência de mato, entrou na actividade propriamente dita (Operações de contra – penetração)


Em 1969

Operação Via Livre – Início em 5 de Novembro de 1969 – Duração 1 dia.

Finalidade - Evitar que o IN fizesse investidas contra os trabalhadores e consequentemente atrasar os trabalhos de estrada.

Devido ao adiantado dos trabalhos e para protecção das máquinas de Engenharia esta CCAÇ, conforme a progressão dos trabalhos, embarracou em Tel e mais tarde em Dimpel.

Esta Operação foi constituída pelas seguintes acções:

Valongo - Protecção trabalhos de capinagem estrada Có - Bula, região Ponta Valentim – Plama. Início às 5,30 horas da manhã do dia 5 de Novembro de 1969. Resultado: Sem contacto

Velhice - Idem, região Plama. Início 5,30 horas da manhã do dia 6 de Novembro de 1969. Resultado: Sem contacto

Vigarizar - Protecção trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região Plataforma. Início 5,30 horas da manhã do dia 7 de Novembro de 1969.
Resultado: Sem contacto

Vírgula - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Bula, região Plama – Bieio . Início 5,30 horas da manhã do dia 8 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto

Vintém - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có - Pelundo região 4,5 km a Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 9 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vantagem - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, cruzamento estrada velha com estrada nova. Início 2,00 horas da manhã do dia 11 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Viscoso - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região cerca de 0,5 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas do dia 11 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vitrola - Idem, região 5,600 km. Oeste de Có. Início 5,30 do dia 12 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto

Vitrina - idem, região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 12 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto

Valéria - Idem, região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 13 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Valete - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem no cruzamento da estrada velha com estrada nova. Início 2,00 horas da manhã do dia 13 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto

Virgem - Patrulha e emboscada nas tabancas: Bedasse – Bejimate – Cassama – Cantintanha e Utanque. Início 2,00 da manhã do dia 13 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto

Varsóvia - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem região de Tel, região cerca de 2,00 km. Sudoeste de Catora. Início 2,00 horas da manhã do dia 14 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto

Valente - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 14 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto

Viena - Patrulha e emboscada na região cerca de 3,00 km. Nordeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 14 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vácuo - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem na região a cerca de 11,00 km. Oeste de Có. Início 2,00 horas da manhã do dia 15 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vacina – Protecção dos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região cerca de 8,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 15 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vagão - Segurança afastada região de Tel a cerca de 1,5 km. A Sudoeste de Catora. Início 2,00 horas da manhã do dia 16 de Novembro de 1969.
Resultado: Sem contato

Vagabundo - Protecção trabalhos de capinagem estrada Có – Pelundo região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 16 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Valgio - Patrulha nocturna na região a cerca de 2,00 km. Nordeste de Có. Início 19,30 horas da noite do dia 16 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Valioso - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem região cerca de 10,00 km. Oeste de Có. Início 2,00 horas da manhã do dia 17 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Valido - Protecção trabalhos de capinagem estrada Có – Pelundo região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 17 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vicente - Protecção descontínua cerca de 4,00 km. Nordeste de Catora, região de Tel. Início 3,00 horas da manhã do dia 18 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto.

Violino - Protecção aos trabalhos de capinagem estrada Có – Pelundo e picada pedreira de Tel, região cerca de 8,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 18 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vocação - Patrulha e emboscada região Calonque. Início 5.30 horas da manhã 30 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vitreo - Patrulha e emboscada região cerca de 4,00 km. Norte de Catora (Quedanga). Início 5,30 horas do dia 1 de Dezembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vitelo - Patrulha e emboscada região Quete e Dulequene. Início 5,30 horas da manhã do dia 2 de dezembro de 1969. Resultado: sem contacto

... A rotina da actividade operacional lá continuou ao longo do mês de Dezembro, sem contacto nem vestígios do IN:

Vitelo (2), Verruga (3), Vagoneta (4), Vagem (4), Vapor (9), Varal (11), Varandas (12), Via Livre 25 (13), Vareira (14) , Varina (20), Varredoura (24)...

E em 1970, a CCAÇ continuou o seu suplício de Sísifo, com mais patrulhas e emboscadas, em acções sempre designadas, obsessivamente, por termos começados por V:

Vaselina - Patrulha e emboscada região de Tel. Início 6,00 horas do dia 1 de Janeiro de 1970.
Resultado: sem contacto.

Vassalagem- Patrulha e emboscada região de Tel. Início 6.00 horas da manhã do dia 3 de Janeiro de 1970. Resultado: sem contacto.

Vaticano - Patrulha região Pelundo 4B8. Início 5,30 horas do dia 4 de Janeiro de 1970.
Resultado: sem contacto


Intercalada com a protecção da estrada, viu-se a CCAÇ 2636 empenhada em operações de contra penetração:

Operação Dália Velha

– Realizada em 9, 10 e 11 de Janeiro de 1970.

Comandante Capitão Miliciano de Infantaria: Manuel Medina e Matos.

Finalidade: Bater toda a Península de Quedanga – Pieme, procurando detectar e aniquilar quaisquer elementos IN na região.

Evolução da Acção: A força iniciou a progressão para o ponto de referência 309, inflectiu para o ponto 306, iniciando uma batida para Norte (área de Quedanga) onde emboscou os trilhos que dão acesso à mesma.

A força caminhou para o ponto de referência 307, onde se encontrou um acampamento IN, já destruído pelas NT na região de Pelundo 5F – 6 – 63 junto à bolanha. Depois de ter pernoitado no referido ponto, a força caminhou para o ponto de referência 309, deste para o 308 onde detectou um acampamento IN, com 13 palhotas e abandonado no máximo há 3 dias, na região Pelundo 5 – G5 – 65.

Iniciada a busca foram encontrados diversos documentos, utensílios vários e 125 cartuchos de 9 m/m escondidos nos ramos das palmeiras. Depois da busca feita, a força iniciou a progressão para o ponto de referência 311 e daí para a base em Dimpel em fim de missão sem contacto.

Depois da operação realizada esta mereceu as seguintes considerações feitas pelo Exmº. Comandante das Forças Territoriais de Có:

"A operação foi bem dirigida, cumprindo-se o planeamento anteriormente estabelecido".
Também mereceu as seguintes considerações do Exmº. Comandante do CAOP 1:

"Não se oferecem comentários ao planeamento e à execução da operação. O Comandante da força conduziu a acção com determinação e tenacidade cumprindo o planeamento e explorando os indícios detectados".

Mas as acções continuaram em Janeiro de 1970: Veículo (13), Verbo (19), Velhaco (20), Velhinha (20), Veneno (24), Venera (26), Venida (27), Verbena (30)... E em Fevereiro: Verdugo (4), Vermute (10), Verniz (11), Vertical (14), Vertigem (19), Vegetal (21), Vespa (21)...

Entretanto, parece que se esgotou a letra V e recorreu-se à úlima do alfabeto, o Z:

Zelar - Protecção aos trabalhos de reparação de bolanha em Ponta Luís Cabral. Início 7,00 horas da manhã do dia 25 de Fevereiro de 1970.

Apenas na acção Velhaco (Patrulha com emboscada na região da Peconha – Bacar, com início pelas 4,30 horas da manhã do dia 20 de Janeiro de 1970) houve um contacto ligeiro com o inimigo: em sinal de registo da nossa passagem, o IN saudou-nos com uma rajada de costureirinha... Agradecemos e ripostamos com umas boas morteiradas de morteiro 60.

Operação Incrível Almadense

Realizada em 22, 23 e 24 de Janeiro de 1970.

Comandante – Manuel Medina e Matos – Capitão Miliciano de Infantaria.

Finalidade: Bater toda a Península de Quedanga – Pieme, procurando detectar e anular quaisquer elementos inimigos que se revelem e destruir todos os meios de vida.
Evolução da Acção: A força iniciou a progressão em 22 de Janeiro de 1970 às 4,00 horas da manhã em direcção ao ponto de referência 306. Eram 11,00 horas quando foi detectado o acampamento inimigo assaltado pelas NT. na operação “Cesário Verde” (C.Caç. 2584). Foi passada uma rápida busca durante a qual foram detectados 5 buracos cobertos onde estavam enterrados elementos inimigos. Mais tarde a força emboscou o trilho Quedanga – Pieme. No dia seguinte caminhou para os pontos de referência 307,308, e 309 e daí para a base de Có em fim de missão sem contacto.

Após esta operação a mesma mereceu as seguintes considerações do Comandante das forças territoriais de Có:

“Operação bem dirigida “. Notou-se a preocupação de reconhecer antigos acampamentos, na procura de novos indícios de presença do inimigo.

Nota: Esta operação deu-nos um gozo especial, já que eramos periquitos atrevidos, pois no ponto 307 onde encontramos um acampamento inimigo já destruído pelas nossas tropas na região de Pelundo 5F-6-63 junto à bolanha, foi local e serviu para pernoitarmos (sinal de desprezo pelas tropas do PAIGC), mas deu para perceber que o grupo inimigo era reduzido uma vez que este se encontrava entre quatro palmeiras e coberto por tarrafo e parte do nosso grupo de combate pernoitou fora daquele palco.

Operação Nunca Falha

Realizada em 30 e 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro de 1970.

Comandante: Manuel Medina e Matos, Capitão Miliciano de Infantaria.

Finalidade: Bater toda a Península da Peconha procurando detectar e aniquilar quaisquer elementos inimigos na região.

Evolução da acção: A força saiu de Có para o ponto de referência 337 e daí para o ponto de referência 336 (Peconha). Desta ponto (Peconha) a força saiu para o ponto 335 indo emboscar próximo à bolanha no ponto 333. Levantada a emboscada e depois de contornada a bolanha a força atingiu o ponto 331 indo pernoitar a 1 km. a Norte de Bacar. No dia seguinte a força seguiu para Bacar onde emboscou os trilhos Bacar – Peconha, Bacar – Beloi – Có e a cambança para Dulaquete.

Pelas 15,00 horas a força seguiu para Igate depois de Beloi onde emboscou. No dia seguinte pelas 6,00 da manhã a força seguiu para Có em fim de missão sem contacto.
Depois da operação realizada esta mereceu as seguintes considerações feitas pelo Exmº. Comandante das Forças Terrestes de Có:

"A operação foi bem conduzida cumprindo-se o planeamento anteriormente realizado, tendo o Comandante da CCAÇ 2636 demonstrado mais uma vez determinação e tenacidade no cumprimento da missão".


Operação Melhor Êxito

Realizada em 15, 16 e 17 de Fevereiro de 1970.

Comandante: Luís Mendes Alferes Miliciano de Infantaria.

Finalidade: Bater toda a Península da Peconha.

Evolução da acção: A força saiu de Có e dirigiu-se para o ponto de referência 329, seguiu para Bacar onde emboscou os trilhos Bacar – Peconha e Bacar – Beloi – Có.

Seguiu depois para Igate onde emboscou o trilho Igate – Peconha, no dia seguinte dirigiu-se para os pontos de referência 336,335 e 334 onde emboscou a cambança para Ponta Matar. Levantada a emboscada a força deslocou-se para Sul e em Beloi emboscou o trilho Có – Beloi – Bacar. No dia seguinte dirigiu-se para Có em fim de missão sem contacto.

Resultado: sem contacto


Operação Ovo Grande

Realizada em 25, 26 e 27 de Fevereiro de 1970.

Comandante Manuel Medina e Matos – Cap. Milº. de Infª.

Finalidade: Bater toda a Península da Peconha, procurando detectar e aniquilar quaisquer elementos Inimigos na região.

Evolução da acção: A força saiu de Có para o ponto de referência 333 onde emboscou a cambança para Ponta Matar. Depois de levantada a emboscada, a força circundou o Norte da Península, seguiu para o Sul de Bacar onde montou nova emboscada junto à bifurcação dos carreiros que vêm da Peconha e Beloi., pelas 19.00 horas a força seguiu para Igate onde pernoitou. No dia seguinte a força deslocou-se para a cambança da Peconha onde montou nova emboscada. Levantada a mesma a força progrediu até à Bolanha e contornou a Península até ao ponto de referência 329. Pelas 19.30 horas a força emboscou o carreiro Có – Beloi – Bacar e no dia seguinte pelas 6.00 horas a força dirigiu-se para o Aquartelamento de Có em fim de missão sem contacto.

A actuação da Companhia de Caçadores 2636 no Sector da AOP – 1 mereceu a seguinte citação elogiosa do Exmº. Comandante do BCAÇ 2884 transcrita na Ordem de Serviço nº. 51 de 2 de Março do BCAÇ 2884:

“Que muito me apraz distinguir todo o pessoal da C.Caç. 2636, pela disciplina, preparação militar, espírito de sacrifício e dedicação demonstrada em todas as missões, serviços e actividade operacional intensa em que foi empenhada durante a sua permanência temporária de 4 meses na zona de Có.

"Constituída por um conjunto de graduados briosos comandados por um Capitão do Quadro de Complemento, desembaraçado, muito dedicado, leal, perfeitamente enquadrado e compenetrado da missão que superiormente lhe fora determinada, a C. Caç. 2636, pelo seu aprumo militar, valor cívico e moral e muito há a esperar em novas missões em que for encarregada”. A presente citação foi considerada como sendo dada pelo CAOP – 1 na sua Ordem de Serviço nº. 8 de 21 de Março de 1970.

Assim foram passados quatro meses, onde por terra fomos a tudo quanto era sítio. Sem conta os kms. percorridos. Gastámos o primeiro par de botas, e no dia 2 Abril de 1970 partimos para nova aventura: o Sector Leste – Bafatá esperava por nós.

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