Naturalmente que, como todos aqueles que por ali passaram (pelo menos grande parte deles), fiquei "apanhado" e tenho uma certa "paranóia" por aquelas terras e aquelas gentes. Digo mesmo que, se é que existe vida para além da morte, certamente em outra encarnação terei sido africano e guineense, pois que, tendo vivido também alguns anos em Angola, as saudades daquele pequeno país são muito maiores.
Ainda não tive a oportunidade de voltar lá, mas acalento a esperança de nos anos mais próximos vir a concretizar essa ambição. Até porque alguns antigos soldados africanos do meu Grupo, em Bedanda, têm insistido para que os visite.
Depois desta pequena apresentação, passo então aos pontos que lhe queria transmitir.
Como estou aposentado do MNE [Ministério dos Negócios Estrangeiros], tenho agora mais algum tempo para me dedicar ao que gosto.
Assim, como "navego" muito na Net, procurando também assuntos relacionados com a Guiné, descobri o seu Blog, que está fenomenal e pelo qual gostaria de o felicitar, de que é pena esteja muito dirigido a zonas em que eu não estive e datas diferentes das minhas. Mas, à parte tudo isso, o que ali encontro, incluindo os links, me dá uma satisfação indescritível e me provoca uma tal nostalgia que se transforma em prazer masoquista.
Como verifiquei que apresenta algumas cartas topográficas da Guiné de uma colecção, de que o Engº Humberto Reis que verifiquei ter completa, de que eu apenas tenho 67 cartas, e que me acompanharam sempre, desde que embarquei para a Guiné, em 1966, pensei que talvez fosse interessante entre todos conseguirmos digitalizá-las e introduzir a totalidade da colecção no site. Não me importarei de despender o tempo necessário para tal, visto que, como disse atrás, estou aposentado.
Quanto a fotos, lamento desiludir, se por acaso pensou que eu poderia contribuir, mas nesta fase é-me de todo impossível, visto que as muitas que eu tirei quando por lá andei, acabaram por ficar em Angola, Henrique de Carvalho (hoje Saurimo), destruídas por terem sido apanhadas em fogo cruzado entre os militares da FNLA e do MPLA quando ambos os movimentos, em Setembro de 1974, procuravam ao controle de toda a área da Diamang, na Lunda. Foi um grande erro, de que procuro não me culpar, tê-las levado comigo, mas... "como o que não tem remédio..."
Tenho esperança de que durante o próximo ano de 2006 possa vir a conseguir algumas dos meus camaradas da CCAÇ 1621 que, ao fim de todos estes anos consegui, depois de muitas tentativas, vir a saber que sistematicamente se encontram em almoços de confraternização, que eu desconhecia (98% do pessoal era do Minho e Trás-os-Montes), e também durante o 10 de Junho, durante as cerimónias junto ao Monumento aos nossos mortos, em Pedrouços. Eu mesmo vou lá todos os anos, mas até hoje ainda não tinha encontrado nenhum dos estiveram comigo. Claro... mudam as feições... e os cabelos de cor.
Mas como estou a tentar contactar todos o que me seja possível, mesmo os da CCAÇ 6 que, sendo uma companhia de africanos (guarnição normal), apenas tinha alguns naturais da Metrópole, andando a fazer pesquisas, tanto no Arquivo Histórico Militar, como nas Unidades, pode ser que venha a conseguir algo que possa servir como achega para o Blogue-Fora-Nada ou para algum dos "sites" relacionados. Você decidirá.
Bem e para terminar esta já longa mensagem, vou apenas juntar duas fotos minhas, uma de 1968, tirada em Bissau, e outra mais recente como complemento à minha introdução/apresentação, inicial visto que também tive o prazer de o conhecer, através do seu site pessoal.
Com os melhores cumprimentos, ficarei a aguardar qualquer resposta que entenda, no seguimento do que acima lhe expus.
2. Caro (se me permite?!) Dr. Luis Graça.
Afinal, contrariando o que na mensagem anterior disse, parece que não tinha razão quanto a não haver nada acerca dos locais por onde passei. E tenho que dar a mão à palmatória.
São 2h30 [do dia 21 de Dezembro] e, como sempre, no silêncio da noite, por vezes acendem-se as luzinhas... metaforicamente falando. E não é que fui encontrar, através do Google, uma referência que me levou ao seu blogue com o endereço do Gabu onde vim a encontrar o meu amigo, que não vejo há muito tempo, mas que sei ter deixado a vida militar, por ter sido atingido pela deflagração de uma mina e ter ficado com deficiência auditiva, já como Capitão e a comandar a CCAÇ 6, em Bedanda, por alturas de 1973?
Pois mas a "graça" disto está no facto de em 1968 (talvez fins de 1967) quando eu estava em Bedanda, nos apareceu por lá, a fim de receber treino operacional e fazer o tirocínio da Academia Militar, o Gastão Silva, ainda como Alferes. E, nós milicianos, a receber ordens dele... Já viram isto... Dum periquito... E esta, hem?!
A curiosidade é que ele depois de 5 anos vai "cair" na mesma companhia, de guarnição normal, a comandá-la como Capitão. Não posso afirmar, mas certamente foi lá encontrar alguns dos que fizeram a guerra com ele ainda como Alferes, porque eu, em 1968, fui encontrar alguns que ali se encontravam desde 1963, e com quem, reconheço aprendi muita coisa, embora tivesse sido lá colocado já com 8 meses de experiência de mato. Estou a lembrar-me do Elmano Francisco Sanó (Fodé), que depois de ter sido premiado com várias Cruzes de Guerra, Prémios Governador, e promoções por distinção a Cabo e a Furriel, entre outros, acabou por vir a falecer vitima de doença.
Bem, mas neste momento já me encontro a divagar. Talvez por ser tarde na noite. Disciplinando-me... Vou retirar-me!
Cumprimentos e até outra oportunidade.
Hugo Moura Ferreira
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