Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 31 de dezembro de 2005
Guiné 63/74 - P388: Em perigos e guerras esforçados... (Afonso Sousa)
Guiné > Barro > 1970 (?) > Monumento em homenagem ao 1º Cabo Enfermeiro João Baptista da Slva, da CART 2412, morto em combate, em Bigene, em 21 de Setembro de 1968.
Mandado erigir, em Barro, pela CART 2412 (1968/70)
© Afonso M. F. Sousa (2005)
1. Achei bonito o gesto do nosso camarada Afonso Sousa (ex-furriel miliciano de transmissões da CART 2412, que andou por Bigene, Binta, Guidage e Barro, nos já longínquos anos de 1968/70) de se lembrar de um camarada morto em combate, em Bigene, e que os seus camaradas não quiseram esquecer, erigindo-lhe um singelo monumento de homenagem... (Será que resistiu ao tempo e às intermitências da guerra e da paz, do ódio e do amor ? Será que ainda hoje pode ser fotografado em Barro ?).
Raramente falamos deles, dos nossos mortos, dos mais de dois mil camaradas que não voltaram connosco, na viagem de regresso à pátra, a casa (e dos quais cerca de 1240 cairam em combate).
No final do ano de 2005, no ano da fundação da nossa tertúlia de amigos e camaradas da Guiné, é bonito, e mais do que bonito, é justo que nos lembremos dos nossos mortos. Há muitas maneiras de os evocar, pela imagem e pela palavra. E quem souber rezar, que reze (sempre) por eles. Eu, que não sou crente, também rezo por eles, à minha maneira, trazendo aqui, e por sugestão do Afonso Sousa, as duas primeiras estrofes do Canto I dos Lusíadas, do nosso genial (e às vezes tão mal amdado...) Luís de Camões:
As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando;
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Os Lusíadas (I, 1-2)
A presente foto também foi inserida na página do nosso camarada Jorge Santos, sobre A Guerra Colonial, na secção "Monumentos", por sugestão do Afonso Sousa, iniciativa de um e outro que eu sou o primeiro a aplaudir. L.G.
2. Mensagem do Afonso Sousa:
Obrigado ao "grande" Luis Graça pela gentileza das palavras que teve a amabilidade de inserir como moldura desta lembrança singela.
Para o fim a que nos propusemos não poderiamos ter tido melhor sorte. O Luis é o homem certo no lugar certo ! ...e reparem que estes trabalhos já são referência na WIKIPÉDIA !...
Já agora aproveitava para pedir ao querido amigo A. Marques Lopes se poderia confirmar-nos se na sua última estada em Barro pôde verificar se este monumento ainda lá existia (situava-se junto à picada Bigene-Barro, a cerca de 50 m do edifício da secretaria e comando, para o lado de Bigene e logo a seguir à enorme mangueira contígua ao edifício).
3. Resposta do A. Marques Lopes:
Amigo Afonso Sousa
Não, esse monumento já não estava lá em 1998, quando estive em Barro. Na altura não deu para falar sobre essas coisas (eu desconhecia, aliás, a existência desse monumento). Mas estou a projectar voltar lá em Março deste ano de 2006, desta vez com mais calma, assim espero. Hei-de perguntar ao Cacuto Seidi (se é que ainda está vivo...) ou a quaisquer outros como é que ele desapareceu e hei-de tirar fotografia do local.
Abraços
A. Marques Lopes
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