Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 >
Espectacular vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste. Do lado esquerdo, para oeste, era a pista de aviação e o cruzamento das estradas para Nhabijões (a oeste), o Xime (a sudoeste) e Mansambo e Xitole (a sudeste).
De acordo com a fotografia, em frente, pode ver-se o conjunto de edifícios em U: constituía o complexo do comando do batalhão e as instalações de oficiais e sargentos.
Do lado direito, ao fundo, a menos de um quilómetro corria o Rio Geba, o chamado Geba Estreito, entre o Xime e Bafatá. O aquartelamento de Bamdainca situava-se numa pequena elevação de terreno, sobranceira a uma extensa bolanha (a leste). São visíveis as valas de protecção, abertas ao longo do perímetro do aquartelamento.
Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
© Humberto Reis (2006)
Texto de L.G.:
A Op Hálito (11 de Novembro de 1968) foi outra das operações dramáticas que aconteceram no Sector L1, no tempo do Carlos Marques dos Santos, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69).
Foi a última coluna logística de Bambadinca para o Xitole, entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969. A partir daí a estrada, no troço Mansambo-Xitole, ficou interdita. As NT sofreram duas emboscadas, tendo que recorrer a apoio aéreo para poder prosseguir. Os picadores foram obrigados, sob a força das armas, a continuar a picar o itinerário: "Cerca das 16.00h foi feita uma distribuição de munições e obrigaram-se coercivamente os picadores a continuarem a picagem"... Destas duas emboscadas resultaram 1 morto, 1 desaparecido e 12 feridos, além de danos materiais em viaturas e armas.
Eis um extracto da História do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70), Cap II, páginas 8-12.
Op Hálito:
Iniciada em 11 de Novembro de 1968, às 5.00h, com a duração de 2 dias, para coluna de reabastecimento Bambadinca-Xitole. Tomaram parte na Operação as seguintes forças:
Cmd – Cmdt BCAÇ 2852 (Tenente-coronel Pimentel Bastos)
Dest A – CART 2339 [Mansambo], a 3 Gr Comb; CART 1746 [Xime], a 2 Gr Comb:
Dest B – CART 2413 [Xitole], a 2 Gr Comb; Pel Caç Nat 53 [Bambadinca]; 1 Gr Comb Ref Cmd Agr 1980; Esq Pel AM Daimler 2046 [Bambadinca]; 1 Esq Pel Mort 1192 [Bambadinca]; 1 Secção de Milícia do Pel Mil nº 103 [Moricanhe].
Destacamento A
A coluna 1 do Dest A chegou a Mansambo às 18.00h do dia 10 de Novembro de 1968. A coluna 3 do Dest A saiu de Mansambo às 5.00h do dia 11 em direcção ao objectivo, picando a estrada e fazendo marcha apeada todo o pessoal.
Às 7.30h um dos grupos de combate da CART 2339 ficou emboscado no trilho dos turras (XIME 7B5).
Às 8.00h iniciou a desobstrução do itinerário retirando as abatizes situadas aproximadamente a 3Kms da Ponte dos Fulas.
Às 9.00h a coluna atingiu o objectivo montando a segurança para a cambança, ficando a aguardar a chegada da coluna 2.
Foi explorado um trilho, com vestígios da passagem frequentes e recorrentes (?) que atravessa a estrada e se situa na orla da mata que fica perto da Ponte dos Fulas.
Às 9.15h todo o dispositivo de segurança e preparativos para a cambança [do Rio Pulom] estavam montados.
A coluna nº 2 saiu de Bambadinca às 4.30h. Depois de picar a estrada até Mansambo, seguiu para o objectivo onde chegou às 9.30h.
Destacamento B
Entretanto comunicou da margem oposta [do Rio Pulom] que deviam aguardar até serem rebentadas algumas minas encontradas nos seus acessos.
A cambanca foi iniciada às 10.30h, tendo sido utilizados 4 barcos de borracha e uma jangada, estando a cambança terminada às 13.30h. Os rádios CHP-1 e THC - 736 deixaram de funcionar.
Às 14.00h a coluna iniciou a retirada, tendo a cerca de 2 Kms da Ponte dos Fulas (XIME 7C-2) sido emboscada do lado Oeste por grupo IN estimado em 40/50 elementos. Esta emboscada foi iniciada pelo accionamemto de uma mina A/C comandada e simultaneamente pelo lançamento de granadas de Mort e LGFog, tendo dois destes últimos atingido duas viaturas GMC, uma das quais ficando imobilizada.
A emboscada foi feita no princípio do regresso da coluna tendo a ela ficado sujeitos o Pel Caç Nat 53 e 2 Gr Comb da CART 2339, durante cerca da 30 minutos, tendo as NT reagido pelo fogo e manobra.
Tratados os feridos, apagado um foco de incêndio manifestado numa das viaturas atingidas, atrelada a que ficara imobilizada, [foi depois] procurado na ausência do PCV contacto com qualquer um dos postos fixos de Bambadinca, Mansambo e Xitole, [tendo-se] conseguido a ligação com este último, por onde foi feito o pedido de apoio de fogo da aviação de Bambadinca – Agrupamento.
Iniciada a marcha com todo o pessoal apeado, pouco tempo depois nova emboscada IN do mesmo lado da estrada e com os mesmos efectivos e armamento (Mort 60, Met Lig e Armas Aut).
Quando decorria a segunda emboscada, apareceram no local dois bombardeiros T-6 que acompanharam a progressão da coluna até ao pontão do Rio Jagarajá (XIME 7A7), foi estabelecido contacto com o PCV.
Cerca das 16.00h foi feita uma distribuição de munições e obrigaram-se coercivamente (sic) os picadores a continuarem a picagem. Prosseguiu-se a marcha recolhendo o Gr de Comb, que estava emboscada no trilho dos turras.
A coluna chegou a Mansambo cerca das 19.00h, tendo às 19.30h seguido para Bambadinca com todos os feridos.
Por falta de ligação meios-rádio não foi utilizado no patrulhamento da estrada o Pelotão do Comando do Agrupamento, o que motivou um esforço maior para as forças apeadas (1).
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Nota de L.G.:
(1) As NT sofreram 1 morto (soldado milícia do Pel Mil nº 103, Mamadu Silá, morto em combate; 1 desaparecido em combate (Sold Mil do Pel Mil nº 103, Togane Embaló; 12 feridos, sendo 5 da CART 2339, 4 do Pel CAÇ Nat 53, 2 da CCS do BCAÇ 2852 e 1 do Pel Mil nº 103).
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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