domingo, 2 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6296: PAIGC: Como se vivia nas regiões libertadas (1): Chegam descalças, andrajosas, às vezes com filhos pequenos às costas a chupar os peitos secos e mirrados... (António Graça de Abreu, Alf Mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa, Cufar, 1972/74)


Guiné > PAIGC > 1970 > Algures, numa região libertada. Guerrilheiros e população. A guerra de libertação teve muito pouco de romântico. Os militares portugueses que combateram o PAIGC na Guiné, sabem quão duras eram as condições de vida, tanto dos seus combatentes como da população sob o seu controlo, nas regiões libertadas, ou seja, dentro das fronteiras do território da antiga província portuguesa da Guiné ... A foto é do fotojornalista húngaro Bara István (n. 1942) que visitou, a partir de Canacri,  algumas dessas regiões, no sul, em 1970, embebbed nas fileiras do PAIGC.

Foto: Foto Bara (com a devida vénia...; em princípio, a sua fotogaleria é do domínio público)


1. Vamos dar início a uma série sobre as condições de vida nas chamadas regiões libertadas do PAIGC. Vamos começar por relatos, documentos, testemunhos do lado dos que combatiam o PAIGC, os portugueses e os seus aliados. Infelizmente, falta-nos a versão do outro lado. Vamos fazer um esforço por reunir também aqui fotos e outros documentos do PAIGC, bem como dos seus amigos internacionais. Vamos começar com um excerto do livro de memórias do nosso camarada e amigo  António Graça de Abreu, que foi Alf Mil do CAOP 1 (Canchungo, Manosa e Cufar, 1972/74).




António Graça de Abreu > Mansoa, 3 de Maio de 1973

Na região de Mansoa, as NT capturam mais elementos IN, ou aparentados com os guerrilheiros, do que em Canchungo. Normalmente chegam ao nosso CAOP com um aspecto lastimável, a subnutrição, as doenças, a miséria têm tomado conta deste pobre povo que vive nas regiões libertadas.

Os prisioneiros são quase sempre mulheres que se deslocam às povoações controladas pelas NT, a fim de venderem por exemplo mancarra (amendoim), óleo ou vinho de palma, e são capturadas nas estradas ou nos caminhos em volta dos nossos aquartelamentos.

Chegam descalças, andrajosas, às vezes com filhos pequenos às costas a chupar os peitos secos e mirrados. Dói, só de olhar. São interrogadas, é-lhes pedido todo o tipo de informações sobre os acampamentos, o armamento, as aldeias controladas pelo IN onde vivem os seus maridos, os seus familiares. Como é natural, estas mulheres falam muito pouco e também magoa o coração ver como são tratadas. É minha tarefa comprar-lhes uns trapinhos novos para tapar o corpo, umas sandálias de plástico para protegerem os pés.

Também se capturam elementos IN dos sexo masculino. Há dias um deles, que gozava de um regime de semi-liberdade, foi apanhado a fugir do quartel, já do outro lado do arame farpado, Deu a desculpa de que ia cagar.

Alguns prisioneiros são utilizados como guias nas operações das NT contra os santuários IN. Quando começa o tiroteiro, têm o hábito de escapar e de se refugiar na mata, por isso, às vezes seguem à frente das NT levando uma corda grande amarrada em volta da cintura. Se tentam a fuga procurando desligar-se da corda, são por norma abatidos.

Fonte: António Graça de AbreuDiário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra e Paz, Editores, SA, 2007, p. 94.

14 comentários:

Anónimo disse...

TENHAM VERGONHA E NÃO BRINQUEM COM COISAS SÉRIES NÃO REBAIXEM AQUELES QUE NO SEU PAÍS LUTAVAM PELA SUA LIBERTAÇÃO E DA ESCRAVIDÃO DOS COLONIZADORES PORTUGUESES, ENTÃO E NÓS COMO VIVIA-MOS A GRANDE MAIORIA DEBAIXO DO CHÃO COMO RATOS E COM RATOS HÁ MISTURA É VER CERTOS TEXTOS DOS NOSSOS CAMARADAS E BASTAVA VER COMO VINHA-MOS DAS PATRULHAS, MAS HÁ AINDA CERTOS CAMARADAS QUE SÃO COMO A AVESTRUZ ENTERRAM A CABEÇA NA ARREIA PARA NÃO VEREM A VERDADE DOS FACTOS, TODOS SABIA-MOS QUE TINHA-MOS A GUERRA DA GUINÉ PERDIDA, ERA SÓ UMA QUESTÃO DE TEMPO, TALVEZ ATÉ POUCOS MESES DEPOIS DO 25 ABRIL, E TEMOS VÁRIOS EXEMPLOS DE COMO ESTAVA-MOS A PERDER A GUERRA, GADAMAEL, GUILEJE, GUIDAJE, COPÁ, ETC. ETC. E TODOS SABEMOS O PORQUÊ DA ANTI-AÉREA EM PIRADA, POIS JÁ SE FALAVA DOS MIGS RUSSOS E CAMARADAS DIGAM LÁ COMO NOS DEFENDIA-MOS DESTE AVIÕES DIGAM LÁ SE ESTAVA-MOS PREPARADOS PARA UMA GUERRA AÉREA, FALAR NISTO ATÉ ME DÁ VONTADE DE CHORAR ERA OS NOSSOS VELHINHOS FIATS CONTRA OS MIGS E DEPOIS TINHA-MOS QUE VIR DE LÁ A NADO, NÃO ME VOU ADIANTAR MAIS, PARA NÃO DIZER AQUILO QUE CERTOS CAMARADAS NÃO GOSTAM DE OUVIR. E AGORA PODE-ME DAR NA CABEÇA QUE EU JÁ ESTOU POR TUDO, JÁ NÃO TENHO MEDO DE DIZER AQUILO QUE SINTO AO VER CERTOS TEXTOS NO NOSSO BLOGUE.

UM ABRAÇO DO TAMANHO DA GUINÉ PARA TODA A TABANCA.

AMILCAR VENTURA, EX-FURRIEL MILº. MECÂNICO AUTO DA 1ª. COMPª. DO BCAV 8323 BAJOCUNDA 73/74

Anónimo disse...

Pelo que percebi, trata-se da transcrição de uma passagem do diário da comissão militar na Guiné de António Graça de Abreu, depois vertido no livro "Diário da Guiné: lama, sangue e água pura". Não há, no texto, qualquer desvalorização da "causa" por que lutavam os guerrilheiros nem se trata de um olhar retrospectivo já conhecedor, pois, da evolução dos acontecimentos. É a visão, naquele local e naquele tempo, de um jovem alferes miliciano que se emociona com a miséria e a desgraça alheias. E, bem lido o texto, as NT nem saem muito bem na fotografia - antes pelo contrário.
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Obrigado Graça de Abreu.

Trazes aqui uma verdade, que muita gente quer escamotear.

Já escrevi da humanidade entre os próprios guerrilheiros.

Já reescrevi a desumanidade de Nino Vieira, obrigando toda a produção de arroz da Ilha do Como a ser entregue no Cantanhez, ao contrário da sensibilidade de Joãosinho Guade e Pansau Na Isna ao permitirem as mulheres irem vender o seu arroz a Catió, para comprarem as suas roupas, medicamentos e outros artigos de sua necessidade.
Já escrevi muito sobre os habitantes das Tabancas junto a Cufar e da forma como eram tratadas. Até transporte aério tinham para o Hospital de Bissau.Que Colonialistas estes.

As palavras do Sr. Ventura apenas merecem os seguintes reparos:

_Os nossos camaradas viviam como ratos, por causa da gasolina roubada!
_Não seria o sr.também que denunciava ao PAIGC. O caçador pai do Seco Umaru?
_Quem é que tem a cabeça na areia e o cérebro não evolutivo? Este sr. não sabe nem quer ver é? É problema dele.
Não pode é vir aqui expelir veneno. Debata as suas idéias com honestidade.
_Gostava de ver como ele chegava das patrulhas sendo mecânico.
_Sr. Ventura leia o livro do Djaló.
_Sr. Ventura hoje que se sabe tanto sobre a guerra e o 25 de Abril, abra a mente. Não fique cristalizado agarrado aos Bidons. Seja honesto!

Mário Fitas

Manca Mulas disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

EU JÁ SABIA QUE IA HAVER REPAROS DESTA NATUREZA E TAMBÉM JÁ SABIA E SEI QUEM VAI FAZER ESTES REPAROS, MAS
AS VOSSAS PALAVRAS NÃO ME DIZEM NADA,NA VOSSA CABEÇA A DEMOCRACIA NÃO EXISTE
, NÃO PODE HAVER NINGUÉM COM OPINIÃO CONTRÁRIA HÁ VOSSA A ISSO CHAMA-SE DITADURA E É O QUE O SALAZAR FAZIA, ALGUNS DE VOCÊS AINDA PENSAM QUE NÃO EXISTIU O 25 ABRIL E QUE AINDA VIVEM NO TEMPO DO SALAZAR E POR ISSO FORAM PARA ÁFRICA DEFENDER A VOSSA PÁTRIA E AINDA NÃO QUISERAM VER QUE O QUE ESTAVAM DEFENDENDO NÃO ERA A PÁTRIA MAS SIM A COLONIZAÇÃO DO SALAZAR SOBRE OS AFRICANOS E QUEM É DE OPINIÃO CONTRÁRIA É TRAIDOR, COMO SE A GUINÉ NÃO ERA A MINHA PÁTRIA COMO SOU EU O TRAIDOR, ENTÃO E VOCÊS O QUE SÃO, ESTAVAM NUM PAÍS QUE NÃO O VOSSO A MATAR OS HABITANTES, RESPEITEM AS OPINIÕES CONTRÁRIAS SE QUEREM SER RESPEITADOS PORQUE SENÃO E PASSO A FALAR TAMBÉM NA VOSSA LINGUAGEM DE INSULTO, E DEPOIS VAMOS VER QUEM FICA HÁ FRENTE, SE PENSAM QUE EU SOU UM COITADINHO ESTÃO REDONDAMENTE ENGANADO, EU NO MEU COMENTÁRIO NÃO INSULTEI NINGUÉM, DISSE A MINHA OPINIÃO SOBRE O TEXTO DO GRAÇA ABREU É A MINHA OPINIÃO E ENTÃO PORQUE NÃO A RESPEITAM E PARTEM LOGO PARA O INSULTO, PELOS VISTOS NÃO SOU EU QUE ESTOU A MAIS, MAS SIM ALGUNS CAMARADAS DE GUINÉ QUE NÃO SABEM RESPEITAR A OPINIÃO DOS OUTROS, EU SEI QUE MUITA TINTA AINDA VAI SER ESCRITA POR CAUSA DESTE MEU COMENTÁRIO, MAS CAMARADA DE GUINÉ MÁRIO FITAS, COMO NÃO TENS ARGUMENTOS PARA TUA DEFESA PARTES LOGO PARA OS INSULTOS, PORQUÊ!, JÁ NÃO FALO DO OUTRO COMENTÁRIO, POIS OS FRACOS É QUE SE ESCONDEM POR DETRÁS DO ANONIMATO, NÃO TÊM A CORAGEM DE DAR A CARA, BEM VOU ACABAR POIS TENHO QUE ME GUARDAR COM O QUE VIRÁ A SEGUIR, MAS MESMO ASSIM EU FICO CÁ A PENSAR COM OS MEUS BOTÕES, PORQUÊ QUE EU NÃO POSSO TER ESTA OPINIÃO E VOCÊS PODEM TER A VOSSA.

UM ABRAÇO DO TAMANHO DA GUINÉ PARA TODA A TABANCA.

AMILCAR VENTURA EX-FURRIEL MECÂNICO AUTO DA 1ª. COMPª. DO BCAV 8323 BAJOCUNDA 73/74

JD disse...

Camaradas,
Parece que é difícil preservar a serenidade quando a tropa anda dispersa.
Na guerra como na vida, disparar em todas as direcções, em qualquer oportunidade, não é de bom conselho. Não é eficaz, gastam-se as munições, e podemos ser apanhados à mão.
O texto do AGA (que não desminto)reflete, apenas, uma impressão ocasional, sobre um acontecimento que podem ter-lhe contado. Todos sabemos que as práticas ali relatadas não eram o dia-a-dia, nem caracterizaram o comportamento das NT. Embora, também sei, houve factos invulgares absolutamente reprováveis.
Como em todas as guerras.
Peço contenção nas intervenções.
Abraços fraternos
JD

Anónimo disse...

Caro Sr. Ventura,

Limitei-me a por questões!
E referi exemplos verdadeiros.

Já que não quer ler o Amadu Djaló, pelo menos vá ao Blogue e leia "Pami na Dondo a Guerrilheira".

Quanto à verborreia do Salazar!
Eu não quero entrar em questões políticas, pois não é o Blogue o local certo, e tão pouco foi criado para isso.Mas já que demonstra tanta ofensa sobre as questões por mim postas.Já que fala tanto no 25 de Abril, permita-me só três questões:

_conheceu o Sindicalismo antes do 25 de Abril?

_Onde estava em 1973 quando a TAP foi invadida pela polícia de choque?

_Onde estava na madrugada e na tarde do 25 de Abril?

Sr. Ventura! Não diga asneiras homem.
Os tempos evoluem e nós temos de abrir o pensamento. Aqui! Acabou!

Portanto, como democrata, estou ao dispor para debater (fora deste blogue é claro)todas as questões políticas que entender.

Mário Fitas

Antonio Graça de Abreu disse...

Quanto aos comentários do Ventura, nada a dizer, a não ser Viva o nosso Sporting, e um conselho: escreve com menos erros de português e melhora um pouco o teu entendimento do mundo.

Agora o Zé Dinis, que sei ser outra pessoa, escreve no comentário acima:

"O texto do AGA (que não desminto)reflete, apenas, uma impressão ocasional, sobre um acontecimento que podem ter-lhe contado. Todos sabemos que as práticas ali relatadas não eram o dia-a-dia, nem caracterizaram o comportamento das NT".

Desmentir o meu texto?
São factos, vivências minhas, na nossa secção do CAOP 1 onde os prisioneiros estavam sob nossa custódia e eram interrogados.
Tudo visto e sentido, "claramente visto."
Dizes:
"Um acontecimento que podem ter-lhe contado". Qual acontecimento?
Contado por quem? Mas eu não estava lá, ao lado da Caboiana, do Morés, do Cantanhez?

Uma coisa é absolutamente certa. A Guiné que conheci 72/74 foi com certeza diferente da que muitos camaradas viveram em 1965,68 ou 70.
E claro que se cometeram muitas atrocidades, de parte a parte.
Mas o que é uma é uma guerra?

Uma coisa eu sei. A esmagadora maioria das centenas de milhares de portugueses NT que tiveram a desventura de ir parar à Guiné durante dois dos melhores anos das suas vidas, foram tudo menos bandos de criminosos.
Por isso este blogue existe e não temos vergonha do nosso passado nem de nos retratar aqui.
Um abraço,
António Graça de Abreu

Joaquim Mexia Alves disse...

Não vejo em que é que o texto do Graça de Abreu não corresponda à verdade?

Quem encontrou populações destas m«no emio da mata sabe que isto corresponde à realidade.

Se eles não tinham condições também não lha podiam dar!

Nós que às vezes tinhamos melhores condições em sedes de Batalhão, por exemplo, também por vezes falhávamos nessa ajuda às populações!

Isto é a guerra na sua frieza!

E como sempre quando há guerra,quem se "lixa" mais são as populações, que não foram ouvidas nem achadas para o conflito, mas servem sempre de "moeda de troca", ou de "propaganda" para ambas as forças em conflito, seja na Guiné ou na Jugoslávia, ou em qualquer parte do mundo.

Quanto aos comentários do Ventura, não vale a pena sequer comentar!

Um abraço camarigo para todos

JD disse...

Caro António,
Numa coisa estamos de acordo: a esmagadora maioria dos mobilizados não fomos bandos de criminosos. E era isso que eu queria acentuar. Do que te conheço, também me parece que não praticarias sevícias para obter uma "verdade". Mas lá nos CAOP's, seguramente sabias mais do que eu.
Fiz 3 prisioneiros na Guiné, 2 na fronteira em Canquelifá, o outro em Bajocunda. Nenhum sofreu fisicamente, nem me importei de saber deles depois. Em combate na minha cabeça pairava a vontade de acabar com os filhos-da-puta todos. Após isso, sereno, um preto era como um branco, um ser. Acho que não seria capaz de ir para além do que a lealdade impõe. Porque entre inimigos também devemos ser leais, e compostarmo-nos com ombridade.
Um abraço
JD

Luís Graça disse...

Maigos e camaradas:

Vamos lá recentrar o debate... Não estão em causa os aspectos ideológicos, morais ou políticos da "luta de libertação" conduzida pelo PAIGC... Queremos tão apenas documentar, descrever, analisar, expor, conhecer... as condições de vida das populações que viviam no interior da Guiné, fora do nosso controlo administrativo e militar..

Por exemlo, quando lá estive (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), calculava-se que a população (fulas, balantas e mandingas) controlada pelas NT, no Sector L1 / Zona Leste, fosse da ordem dos 15 mil, enquanto que o PAIGC teria cerca de 5 mil (sobretudo balantas, mandingas e beafadas)...

Eu, que contactei com população de um lado e do outro, sei que as condições de vida não eram fáceis, tanto nas tabancas em auto-defesa (fulas) como nas tabancas sob duplo controlo (nomeadamente balantas)... Mas mesmo assim eram
melhores do que nas regiões libertadas, mais sujeitas à guerra, aos bombardeamentos, ao isolamento, etc.

Não me interessa a propaganda de um lado e do outro... Interessam-me os relatos tanto quanto possível objectivos, incluindo fotos e outros documentos...

Entre nós não há tabus... Ou há ?

Luís Graça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
manuel amaro disse...

Camarada Comandante Luís.

Não é grave.
São as crises de crescimento.
O Blogue tem que saber viver com as convicções de cada um.
E o Comandante tem esse papel muito importante, que é conciliar António Graça de Abreu, Mário Fitas e Mexia Alves... com o Amílcar Ventura.

O Blogue é GRANDE...

Um Abraço

Manuel Amaro

admor disse...

Este texto não tem nada de especial para levar as pessoas a fazer conjecturas da natureza que estão a ser feitas. O que foi relatado não é nada de especial nem tampouco do outro mundo.
Eu constatei isso mesmo por uma ou duas vezes nos carreiros de Canja depois de fazerem a cambança do rio Cacheu ao pretenderem passar para o Senegal, diversos velhos, homens e mulheres com algumas crianças foram aprisionadas pelos nossos grupos de combate. E porque se apresentavam naquele estado de magreza total e decadência física os nossos soldados faziam como o camarada Ventura pediam a todos os barris de leite que vinham na ração de combate juntamente com os concretos de fruta e as sardinhas
e tudo aquilo que o nosso pessoal achava dispensável para lhes oferecer para os desgraçados não morrerem de fome pelo caminho enquanto os trazíamos para o nosso aquartelamento.
Por este motivo continuo a dizer que aquilo que o camarada António G. Abreu narra nada tem de especial, apesar de não ser o dia a dia da Guiné.

Com um grande abraço para todos,
Adriano Moreira - Cart. 2412 "SEMPRE DIFERENTES" Bigene Binta,Guidaje e Barro. 1968/70.