1. Mensagem de Armando Fonseca (ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64), com data de 5 de Fevereiro de 2011:
Caro camarigo Carlos Vinhal
Aqui estou para descrever mais um capítulo dos meus arquivos; se acharem por bem publiquem para conhecimento de todos os camarigos da Tabanca.
Armando Fonseca
O Alenquer retoma o contacto (3)
Actividades do Pel Rec Fox 42 em Janeiro e Fevereiro de 1964
Autometralhadora
No dia 21 de Janeiro pelas 07h30 o Pelotão FOX 42 saiu de Bissau, com destino indefinido, passando por Mansoa, Mansabá foi chegar a Bafatá por volta das 17h30.
A marcha foi vagarosa e cheia de precauções devido às possibilidades de sofrer emboscadas ou de encontrar minas, mas chegamos sem anormalidades, pernoitando aí para prosseguir no dia seguinte.
No dia seguinte às 07h30 lá seguimos rumo a Sul agora acompanhados por pessoal da CCav 154 que estava sediada em Bafatá, chegando ao Saltinho pela hora do almoço. O percurso foi muito vagaroso visto seguirem à frente dos carros camaradas a pé com detectores de minas e até picando a estrada com sabres para ser certificada a ausência de minas, entretanto a meio do percurso houve um pequeno ataque seguido por largada de abelhas que deixou todos desnorteados uns para cada lado e ainda houve camaradas mordidos pelas abelhas, mas, depois de tudo reorganizado seguimos a viagem.
Depois do almoço saímos do Saltinho com destino a Aldeia Formosa e, entretanto veio ao nosso encontro o Pelotão de Reconhecimento Fox 888 que estava sediado naquela localidade junto com uma companhia de caçadores da qual não me lembro o número.
À nossa chegada não havia pão e muito menos vinho, mas lá comemos qualquer coisa e fomos procurar acomodarmo-nos para aí permanecer algum tempo.
Mas no dia 23 logo pelas 07h45 lá íamos outra vez, agora a caminho de Buba para aí pernoitar. Durante a tarde foram feitas duas saídas aos arredores em reconhecimento e no dia seguinte foi então o regresso a Aldeia Formosa com mantimentos para aquele destacamento, visto que o transporte era feito de barco até Buba e depois por terra para abastecer os destacamentos daí dependentes.
Durante as saídas para de reconhecimentos nos arredores de Buba, o alferes de minas e armadilhas aproveitou para efectuar algumas operações nos caminhos que se julgava serem percorridos pelo IN.
A dormida em Buba foi no chão com uma manta por colchão, visto aquele destacamento não estar preparado para receber mais um pelotão e os condutores das viaturas que se destinavam a trazer as cargas.
Durante os dois dias que se seguiram não houve nenhuma saída mas no dia 27 lá fomos até Guileje fazer um reconhecimento, onde nada existia além de laranjeiras carregadas de frutos e algumas bananeiras com bananas que mesmo muito verdes, depois de uns dias embrulhadas em papel dentro da mala do carro, já marchavam.
Havia também alguns ananases mas muito poucos. Nesta altura Guileje não passava de um matagal com algumas árvores de fruto pelo meio.
Foram passando os dias com algumas saídas a Buba escoltar as viaturas que iam buscar mantimentos até que; no dia 4 de Fevereiro pelas 02h30 da manhã lá vamos a caminho de Guileje agora para montar um aquartelamento onde ia ficar instalado um pelotão de caçadores e alguns milícias fulas com as suas famílias.
Nos dias que se seguiram foi a preparação do aquartelamento a capinagem a montagem de tendas e depois o inicio das construções e a preparação dos terrenos onde mais tarde foi feita a pista para as avionetas aterrarem e levantarem voo.
Durante esta permanência no dia 13 foi o meu Pelotão deslocado a Bedanda para deitar fogo através das balas incendiarias, das metralhadoras instaladas no meu carro, a umas casas de mato que se encontravam muito perto do rio que separava a zona onde estavam as nossas tropas e o reduto do IN. O rio era a baliza, nem os militares passavam para lá nem o IN se aventurava a passar para cá, no entanto, haviam constantes ataques a morteiro de ambas as partes.
Os dias foram passando com algumas idas a Aldeia Formosa e a Buba e a partir de certa altura chegou informação de que o IN iria dinamitar a ponte sobre o rio Balana e então nunca mais se juntaram os dois pelotões Fox do mesmo lado do rio; quando nós passávamos para um lado o pelotão 888 passava para o outro.
Já veio descrito em postes anteriores o trágico final do destacamento de Guilege e aparece agora descrito o início da formação deste mesmo destacamento.
Segue-se depois Gantoré e Gadamael mas fica para um próximo episódio.
Com um abraço para todos
Armando Fonseca
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7668: O Alenquer retoma o contacto (2): Os primeiros grandes sustos (Armando Fonseca)
1 comentário:
Grande sortudo,grande "passeata",que inveja.Eu também fiz esse percurso--Bissau-Banbadinca-Saltinho-Quebo-Mampatá-Guilege-Gadamael e vice-versa, mas só foi em 2006,porque quando lá estive em 73-74, bem é melhor nem sequer pensar nisso...apesar de tudo deu-me um grande gozo fazer o percurso--Mampatá-Guilege-Gadamael( se calhar uma grande palermice da minha parte), mas para quem esteve em Guilege ou Gadamael nos últimos anos da guerra provavelmente compreenderá.
C.Martins
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