1. Mensagem de Natal do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 13 de Dezembro de 2012:
Meus caros Editores
Não sei se, sabendo que dizem que o blogue “é um cadáver adiado”, este manterá a tradição de publicar mensagens natalícias. No entanto, aqui vai a minha mensagem, antecedida de um pequeno comentário, ficando, obviamente, a vossa consideração.
José Martins
Todos necessitamos de um “Amós”
Amós, que significa “aquele que ajuda a carregar o fardo”, é também nome de um profeta da antiguidade, que escreveu o livro que tem o seu nome e está incluído no Antigo Testamento.
Os textos da Bíblia, no meu entender de cristão dos menos informados, têm de ser “actualizados” à luz dos novos tempos, pelo que, até o nome de povos e povoações, não devem ser tomados pelos que hoje, mas deve-se fazer “uma actualização para o que hoje se passa”.
Ao escrever o texto que anexo, “como mensagem de Natal”, lembrei-me do Profeta Amos, e num texto sobre o mesmo, encontrei os sete pecados de “Israel”. Uma “pequena fotografia dos tempos actuais:
• "Vendem o justo (tsaddîq) por prata": desprezo ao devedor
• “O indigente ('ebyôn) por um par de sandálias": escravização por dívidas ridículas
• “Esmagam sobre o pó da terra a cabeça dos fracos (dallîm)": humilhação/opressão dos pobres
• “Tornam torto o caminho dos pobres ('anawim)": desprezo pelos humildes
• “Um homem e seu filho vão à mesma jovem": opressão dos fracos (das empregadas/escravas)
• “Se estendem sobre vestes penhoradas, ao lado de qualquer altar": falta de misericórdia nos empréstimos
• “Bebem vinho daqueles que estão sujeitos a multas, na casa de seu deus": mau uso dos impostos (ou multas).
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_de_Am%C3%B3s
Natal, mas para quando?
Pensei, por muitas e variadas razões que a “todos nós” dizem respeito, não enviar votos de Boas Festas a ninguém. Achei que não devia fazê-lo.
Porém, mudei de opinião. Se em 1968 e 1969, em plena guerra na frente Leste do território da Guiné, não só enviei esses desejos aos familiares e amigos, assim como distribuí esses desejos a todos os camaradas de armas, mesmos aos soldados que professam a Fé Islâmica, porque não fazer o mesmo?
Desejar PAZ, na GUERRA cruel em que nos colocaram.
A foto, retirada de um postal que me “caiu” nas mãos, foi o mote. Reparem:
Não há “Sagrada Família”. Há a “Mãe e o Filho”. Onde está o PAI?
Não se vê, mas adivinha-se:
Partiu, procurando trabalho noutro local/país; partiu porque se tornou impraticável a reconciliação em penúria; partiu porque roubou para dar de comer ao filho, e agora está preso; partiu porque cumpriu a lei da vida; partiu, porque simplesmente partiu…
A mãe mostra o seu filho ao poder reinante. Mostra o desamparo do seu filho, sem sequer ter abrigo ou um pequeno conforto. Mostra o seu filho aos grandes desta terra, que se baixam, sentando-se no chão, procurando uma zona de conforto.
Faço votos de que a posição que assumem, na foto, não seja uma posição de observação da cena que se lhes apresenta. Faço votos de que, finalmente, se apercebam do que vai pelo mundo, do que sofrem as crianças e adultos, despojadas de tudo, até de um sorriso.
Para todos os amigos, conhecidos e desconhecidos, votos do Natal possível, lembrando as palavras de Lucas, Evangelista (Lc 19:45-46) “Então, entrando ele no templo, começou a expulsar os que ali vendiam, dizendo-lhes: - Está escrito: A minha casa será casa de oração; vós, porém, a fizestes covil de salteadores”.
José Marcelino Martins
12 de Dezembro de 2012
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10825: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (2): um abraço fraterno a todos quantos formam esta grande família, a que me orgulho de pertencer (Felismina Costa)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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4 comentários:
Caro José Martins:
É linda a tua mensagem, gostaria de a ter escrito.
Que as luzes da justiça, da solidariedade e da paz, pregadas pelos justos através dos tempos, se não apaguem! Mas os ventos estão fortes ...
Um abraço de Boas Festas
Manuel Joaquim
Olá José Martins.
"...sofrem as crianças e adultos, despojadas de tudo, até de um SORRISO".
UMA GRANDE VERDADE.
Obrigado pelos votos de Boas Festas.
Um abraço, Tony Borie.
Caro amigo José Martins,
O que escrevestes chega ao coração.
Criança sem sorriso é uma criança sem rosto e sem Natal. É verdade!
A nós adultos compete-nos não deixar morrer a esperança de um dia vermos o sorriso de volta na cara daquela criança.
Um bom Natal para ti e para os eus. Haja Bons Anos.
Um abraço amigo,
José Câmara
Amigo Zé Martins
Obrigada pela sensibilidade expressa, pelo lembrar os que são obrigados a deixar os filhos para procurar o pão, privando-os da sua companhia, conforto e segurança...
Que outros Natais, cheguem mais risonhos, mais justos...mais felizes!
Abraço fraterno e solidário.
Felismina
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