sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10838: Conto de Natal (8): Oportunidade para mudar de vida (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), com data de 18 de Dezembro de 2012:

Meus camarigos Luís, Carlos, Eduardo e Virginio e todos os camarigos da Tabanca Grande
Os meus votos de um Santo e Feliz Natal e os desejos de um Novo Ano bem melhor do que este que está a acabar.

A vós deixo este "presente" de Natal: o meu Conto de Natal de 2012

Um abraço sempre camarigo do
Joaquim Mexia Alves


CONTO DE NATAL 2012*

Oportunidade para mudar de vida

A tarde chegava rapidamente ao fim. Era Inverno, e por isso mesmo, muito cedo o Sol baixava por entre as árvores. Estava cansada, muito cansada!
Tinha passado todo o dia à beira da estrada, à espera, numa vida em que se tinha embrenhado e a envergonhava, mas da qual não arranjava forças para sair. E diziam que a prostituição era uma vida fácil! Pior ainda, pois tinha que à noite ir para aquele bar, fazer de conta que estava bem-disposta e gostava daquela vida! Reconhecia que o enorme cansaço que sentia era muito mais psíquico, do que físico.

Há tempos que a ideia de sair daquela vida, era um constante pensamento, que em todos os momentos lhe tirava o descanso e o pouco bem-estar que ainda pudesse sentir. Lembrava-se bem do namoro com aquele rapaz, que parecia ter tudo o necessário para acabar num feliz casamento. Depois engravidou, e começaram as complicações. Ele apresentou-lhe aquele “amigo” e quando deu por si estava num bar a beber taças de suposto “champagne”, com homens que não conhecia. Daí até ao sexo pago foi um instante! Vá lá, tinha resistido ao aborto, e aquela filha que estava em casa, era agora a sua única razão de viver.

Ao princípio tudo pareceu fácil, e até se convenceu que não fazia mal nenhum a ninguém, nem a ela própria. Já que tinha aquele corpo, aproveitava-o para ganhar dinheiro e depois … Depois haveria de sair daquela vida. Tantas promessas daquele patife! Era preciso agora ganhar dinheiro, dizia ele, e depois quando tivessem um “pé-de-meia”, partiriam para outras paragens onde não os conhecessem, e haviam de viver felizes.

Mas não era possível fazer nenhuma poupança, porque ele tirava-lhe tudo o que trazia para casa, para gastar com os amigos. E quando o que trazia deixou de chegar para tudo o que ele queria, começou a obriga-la a ir para a estrada, onde ainda se sentia mais aviltada e destruída. Há já há algum tempo que sentia vergonha de si própria e agora que os anos iam passando preocupava-se muito mais com o futuro da sua filha, e com o facto de um dia ela poder saber o que era a sua vida.

Veio-lhe à memória a casa dos seus pais. Não era gente com dinheiro, mas era gente de amor e lembrava-se bem do carinho com que a tratavam, (era filha única), e dos exaustivos conselhos do seu pai acerca daquele namorado que, dizia ele, não prestava para nada. Mas a juventude que julga tudo saber, tinha-a levado a sair de casa para seguir o seu grande amor! Grande amor??? Se pudesse agora ver-se livre dele, seria o melhor presente de Natal que alguém lhe podia dar, porque, lembrou-se, era dia 24 de Dezembro, véspera de Natal, a noite dos presentes em casa dos seus pais.

Uma tristeza profunda estremeceu-a! Não, não iria passar mais esta noite de Natal naquele bar, vivendo aquela vida! Tomou uma decisão e disse para si mesma: Vou passar por casa à hora que ele não está, (deixo um recado com uma desculpa qualquer), pego na menina, e vou passar a noite de Natal a casa dos meus pais, pois tenho a certeza de que me hão-de receber.

Tomada a decisão, pareceu-lhe sentir um alívio imenso no cansaço que a assolava. Chegou a casa, tomou um banho rápido, desejando que mais do que o corpo, lhe fosse lavada a “alma” para se poder encontrar com os seus pais. Escreveu uma qualquer desculpa num papel, pegou na filha e saiu rapidamente para a casa da sua infância, que ficava numa terra muito próxima.

Passado pouco tempo já batia à porta da casa onde tinha crescido e brincado com tanta felicidade. A porta abriu-se, e, ao espanto inicial, sucederam-se quatro braços que a apertavam e esmagavam de amor! Já na sala começou a ensaiar um discurso de desculpas, de justificação, mas os seus pais disseram-lhe com carinho para se calar, sentar no sofá, pôr os pés em cima da mesa pequena e descansar, porque se tinham apercebido do seu enorme cansaço.

Pegaram na neta e foram para o quarto ao lado. Ela sentiu-se num casulo de amor! Um calor inexplicável fazia-se sentir no seu coração e ela fechou os olhos desejando que aquele momento nunca mais acabasse. Sem saber como, viu-se de repente no meio da praça da sua terra e muita gente à sua volta, gesticulando e gritando. Percebeu que a insultavam, lhe chamavam prostituta e que a queriam expulsar da sua terra. Cheia de medo e vergonha, as lágrimas corriam-lhe pela cara abaixo.

Viu então um homem que se destacou do meio de toda aquela gente, e com uma voz cheia de força, mas de carinho também, disse: Aquele que de vocês que nunca errou ou cometeu nenhum mal, pegue no braço dela e leve-a até aos limites aqui da terra. E ao dizer isto, aquele homem olhava-os nos olhos, firmemente.

Lentamente deixaram de se ouvir gritos, todos aqueles homens e mulheres baixaram as cabeças e começaram a sair da praça, em silêncio. Então o homem aproximou-se dela, enxugou-lhe as lágrimas com os seus dedos e disse-lhe: Pelos vistos ninguém te expulsou! Também eu não te expulso, antes te abraço! Vai à tua vida, mas muda-a enquanto podes! 

Pareceu-lhe que o homem lhe pegava no braço, mas quando acordou percebeu que era o seu pai que delicadamente lhe dizia: Anda, vem comer, a ceia de Natal está na mesa!

Lembrou-se da catequese em criança e da passagem bíblica em que queriam apedrejar a mulher adúltera, e percebeu que num sonho Deus lhe tinha “falado”, e dado uma nova oportunidade para a sua vida. Tinha finalmente a força de que necessitava para pôr fim àquela vida! Soube naquele momento que tudo tinha mudado e que não voltaria a fazer da sua vida a desgraça que até então vivia. E alegrou-se, por ela, pela sua filha, pelos seus pais.

Feliz aproximou-se da mesa e a sua mãe disse-lhe: Como estavas a dormir, foi a tua filha que colocou o Menino Jesus no presépio.

Olhou para os seus pais com todo o carinho de que era capaz, pegou na sua filha ao colo e disse: O Menino Jesus já não está no presépio. Está no meu coração!

Marinha Grande 10 de Dezembro de 2012

Com este Conto de Natal, desejo a todas as amigas e todos os amigos que lêem este blogue um Santo Natal, na paz e no amor de Deus em suas famílias.
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste publicado no Blogue Que é a Verdade? do nosso camarada Joaquim Mexia Alves

Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10836: Conto de Natal (7): Um Natal ainda mais triste (Domingos Gonçalves)

6 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Camarigo, ex Camarada e Amigo

Um Santo Natal e Um Feliz Ano Novo.


Gostei do teu conto, da maneira de,como dizes, te servires das palavras de Jesus; ...quem nunca pecou que atire a primeira pedra...para escreveres teu conto. Com um pequeno senão meu Caríssimo Amigo Joaquim, se fosse Jesus (que é Pai, Filho e Espírito Santo)não diria á mulher, á filha, para ir e acabar enquanto podia com aquela vida.
Recebia-a como o seu pai terreno...Puta é filha e que interessa isso? Quem nunca pecou...se assim se prostituir é pecado. Não penso eu e, se o fosse, seria de perdão, mais ainda em tal dia.

Um abraço, T.

joaquim disse...

Meu caro Torcato

Obrigado pelas tuas palavras.

Não vou, obviamente, envolver-me numa discussão de Doutrina cristã contigo, pois de acordo com essa Doutrina, ou te netendi mal, ou não tens razão no que dizes.

O próprio Jesus na passagem do Evangelho que serviu à "solução" deste conto, diz: «Vai e de agora em diante não tornes a pecar.»
Jo 8, 11

Ora isto significa sem dúvida, «muda de vida», pois perdoar já Ele tinha perdoado, tal como no meu conto: «antes te abraço»

Um abraço

Henrique Cerqueira disse...

Caro Camarada Joaquim Mexia Alves.
O teu conto tem tudo a ver com a nossa realidade .É para mim muito difícil comentar a "moralidade" da estória pois que são tantos os motivos afetos a essa vida que já se torna muito difícil ajuizar.No entanto a minha moral me diz que nessa ou outra atividade "marginal"á nossa sociedade terá sempre de haver o perdão e a ajuda possível no reencaminhamento de uma vida "normal"e em especial pelos pais e amigos, desde que seja essa a vontade da pessoa em questão.
Não me alongo mais e bem aja Joaquim o teres voltado.
Um abraço e BOM NATAL
Henrique Cerqueira

Torcato Mendonca disse...

-----Também eu não te expulso, antes te abraço! Vai à tua vida, mas muda-a enquanto podes!------

------ «Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» ------


Olá Meu Caro Joaquim

Que interesse tem a pequena frase que pode alterar tudo?
Ele perdoa sempre, não é.

Sou ou somos Cristãos. Eu de um modo, Tu, Caro Amigo, segues de outro modo e aceitas a Hierarquia da Igreja.
Eu não aceito e para "falar" com ele, como para falar com meu falecido Pai, não necessitava intermediários. Respeito-te e quem como tu pensa e pratica.

Um Santo Natal com Amor e mais Solidariedade entre os Homens.Não só.

Um abraço amigo do,
Torcato
## nunca discutiria Doutrina Cristã contigo...falaríamos e eu talvez revivesse o que há muito esqueci...mas estou de bem comigo e com Ele.

joaquim disse...

Com cereteza meu caro Torcato.

Apenas que o teu comentário "obriga-me" a responder que eu não "aceito" a hierarquia da Igreja, mas a própria Igreja com tudo que Ela contém, tendo sido instituida pelo próprio Cristo.

Ah, e já agora, quando uso o termo discutir num comentário a ti dirigido utilizo-o sempre na sua expressão mais nobre, que é a troca de ideias, ou seja o diálogo, que ambos tanto prezamos.

Um grande e amigo abraço.

joaquim disse...

Caro camarigo Henrique Cerqueira

Obrigado!

A "moralidade" da história é a esperança de uma vida melhor, em tudo o que a vida possa conter!

Feliz Natal com um abraço amigo