Caro mano Carlos, amigos e camaradas,
Junto encontrarão mais uma pequena artigo do que foi a minha viagem por terras da Lusitânia e do convívio das CCaç 3326, 3327 e 3328.
Se algum camarada, e muito especialmente destas três companhias, estiver interessado em mais fotos do convívio, agradeçco que me contactem.
Para todos os meus votos de boa saúde.
Abraço transatlântico.
José Câmara
As Companhias de Caçadores 3326, 3327 e 3328 reuniram em convívio
Esta nossa viagem por terras da Lusitânia foi meticulosamente preparada pelo casal Fur. Mil. João e Fernanda Cruz. Para além dos já referidos encontros com o Juvenal e o mano Carlos e a muito simpática esposa Dina*, a simbiose entre a paisagem natural e histórica permitiu que eu e a minha esposa vivêssemos momentos de êxtase indescritíveis. Portugal é lindo em ambas vertentes!
Por terra de Óbidos, durante a Feira Medieval, tivemos a oportunidade de observar um povoado parado no tempo. Muralhas bem mantidas, pórtico altaneiro, ruas limpas, casario pintado, estabelecimentos asseados, muitos estudantes estrangeiros, vestidos ao rigor de épocas passadas, a viverem a história de Portugal. Os jovens portugueses pareciam contentes em observá-los. A ginjinha em copo de chocolate é uma autêntica delícia. Experimentei-a uma à entrada das muralhas. Quando saí tomei-lhe o gosto novamente.
No Castelo de Óbidos o tempo parou dentro das suas muralhas
Na serra do Buçaco fechámos os olhos e vimos os franceses a serem desbaratados e a regressarem a seu país cabisbaixos, derrotados. Não uma vez, mas três vezes. Agora, naquela serra vive-se o silêncio e a paz que as lindas árvores centenárias parecem pedir. As águias-reais nos seus voos majestosos são mais um ornamento a encher os olhos dos mais requintados. O belo Mosteiro, transformado em pousada turística, rodeado de belos e bem tratados jardins completa a paisagem.
O conjunto arquitetónico, o arranjo primoroso dos jardins e o silêncio da paisagem transformam Buçaco num lugar idílico.
Dali ao Luso foi um instante. Como antigamente, pela palma da mão, bebemos água da fonte. Adoro aquela água. É pena chegar aos EUA não ao preço da chuva, mas ao preço do ouro. O constante vaivém das pessoas a carregarem a água da fonte chamou-nos a atenção. Cinco garrafas por pessoa é o autorizado. A sombra do fim do dia convidava a um passeio por entre os jardins daquela bem tratada avenida. Foi isso que fizemos! Em Alcobaça, ficámos surpreendidos com a grandeza do Mosteiro que dá por aquele nome. A altura do Mosteiro, a beleza das suas colunas, a criatividade dos altares e dos túmulos levam-nos a outras épocas e a perguntar: como foi possível construir tanta magia, tanta beleza? No seu interior vivemos a história de um amor proibido. Os lamentos e as esperanças, os gritos da agonia da morte e os de revolta ecoam pela imensidão daquele espaço. Trágico, cruel! Os dois amantes, Pedro e Inês, conseguiram na morte a justiça que em vida lhes foi negada. Ficaram juntos! Como testemunha eterna têm a Cruz do Salvador.
Mosteiro de Alcobaça, conjunto harmónico de rara beleza: arquitetura, religião, história.
Na Nazaré, lá do alto da escarpa, apreciámos a bela e imensa praia e a imensidão do mar que a beija. Mas a nossa atenção foi mesmo para a Ermida da Memória. Ali fomos convidados pelo navegador Vasco da Gama, a ajoelhar-nos perante a veneranda imagem de N.ª Sra. da Nazaré. Dizia-nos ele que aquela Senhora, mais do que outra qualquer, o iria ajudar no seu grande empreendimento, a descoberta do caminho marítimo para a Índia. O resultado obtido certamente que é um grande testemunho da sua fé.
Monumento a imortalizar a passagem do navegador Vasco da Gama por Nazaré.
Ao sairmos da Ermida demos de caras com o D. Fuas Roupinho. Acabara de perseguir um veado que se atirara pela escarpa. Homem de grande fé, dava graças à N.ª Sra. da Nazaré por lhe ter salvado a vida, quando o seu cavalo refreou a corrida a tempo de não cair pela enorme falésia. A atestar as suas palavras lá estavam os sulcos feitos pelas patas da sua montada e a ponta da falésia criada pelo arrasto das pedras debaixo das patas do cavalo. Nas mesmas circunstâncias também teria feito agradecimento semelhante. Do veado, não sabia o que lhe tinha acontecido depois de cair daquelas alturas. Mas lá foi acrescentando que devia ser o mesmo que eu, algumas vezes, tivera na mira da minha G3, algures nas matas da Guiné. Assim, com esta simplicidade, se fez história e lenda através dos tempos.
No Sábado, dia 21 de Julho, marcámos presença em Reguengo do Fetal, no restaurante Pérola do Fetal. Um autêntico retiro, acolhedor, amplo, com excelentes espaços circundantes. Foi aqui que as CCaç 3326, 3327 e 3328 marcaram presença. Pela segunda vez, desde que saíram da Guiné, os militares destas companhias se reuniram em convívio. Companhias independentes, formadas no antigo BII17, Angra do Heroísmo, com destinos e comandos diferentes na Guiné, têm como elo de ligação mais importante a grande amizade que havia entre os seus militares.
Bolo comemorativo do convívio 2012.
Um convívio desta natureza, que no caso destas companhias deve ser raro, possivelmente único, só é possível com o máximo de colaboração entre aqueles que se encarregam de levar a bom porto um evento desta natureza. O José Santos, Cabo Enfermeiro da CCaç 3326, que acabou por não poder estar presente, o Fur Mil João Cruz da CCaç 3327 e o Fur Mil Victor Costa da CCaç 3328 foram os responsáveis por um convívio impecável na organização e no convívio social. Eles estão de parabéns por um evento muito bem conseguido.
Os Furriéis João Cruz e Victor Costa, dois dos responsáveis pelo convívio 2012.
Foram escolhidos os representantes de cada companhia para se dirigirem aos camaradas e seus familiares presentes. Das palavras proferidas, há que ressalvar o compromisso que nós, militares que fomos, ainda temos para com a história. Para além do reconhecimento e agradecimento pela presença de todos, foi recapitulada a história dos nossos convívios. Também se falou da nossa história ultramarina, quando fomos chamados a combater na Guiné. Foi relembrado que nenhum de nós tinha que se envergonhar por ter cumprido o seu dever.
José Câmara e o Alf Mil Francisco Magalhães, Cmdt do 4.º GCOMB
É sempre confortante reencontrar aqueles com quem convivi muitos meses, alguns bem difíceis, em terras da Guiné. Na chegada, o abraço é um matar saudade. No fim do convívio levámos os últimos abraços e as últimas palavras de esperança. A dolorosa despedida. Um até para o ano, possivelmente na linda Ilha de São Miguel.
O Alf Mil Ferraz e a Esposa. Mais atrás o Alf Mil Neves. Na mesa, José Câmara, Tesoureiro-Adjunto.
(Foto Cortesia de Luís Pinto)
A caminho de Lisboa fomos deixando os quilómetros para trás. E com eles fomos revendo, entusiasmados, as delícias sociais do dia. Chegámos à capital já noite e ali outro abraço de despedida aos meus bons e grandes amigos que, no convívio de 2010, nos tinham recebido na sua casa, no Algarve, o casal Luís Pinto e a Samara Araújo. Deles trago sempre um saco de bom companheirismo e camaradagem e amizade.
Já não conseguimos juntar todos para a foto da despedida.
Ainda nos estava reservada uma grande surpresa para aquela noite. O João Cruz levou-nos ao Monumento aos Mortos dos Combatentes do Ultramar. Ali, pela primeira vez, tive a oportunidade de apreciar o que o meu País fez pelos seus filhos, que não se coibiram de sacrificar a vida por ela. Aproveitei a oportunidade para lhes prestar a minha singela homenagem enquanto ex-militar e católico. Conversei um pouco com o Manuel Veríssimo, um garboso militar da CCaç 3327, cuja vida a Pátria requisitou e Deus chamou ao Seu regaço.
No regresso ao Hotel, o nosso Capitão Alves ainda esperava por nós. Tal como nos tempos da Guiné ele está sempre ao nosso lado. A noite já ía longa, mas isso não interessa. Havia que aproveitar todos os minutos. Finalmente a despedida. Ao Cap. Alves e ao casal Picanço que foi do Canadá, via Graciosa.
Um agradecimento muito especial aos nossos amigos João e Fernanda Cruz pelo cuidado e pelo carinho que puseram em todos os detalhes, para que nos sentíssemos como se estivéssemos em casa.
Já no avião que nos levava de regresso aos Açores, a minha madrinha de guerra, a minha esposa, ainda surpreendida com tudo o que nos acontecera de bom, e que foi muito, perguntou:
- Tu tens amigos maravilhosos. Como é possível tanta amizade ao fim de tantos anos?
Respondi:
- Esses amigos maravilhosos, que agora conheces, são parte de uma família muito especial. A amizade quando é baseada no respeito e na honestidade sobrevive independentemente das circunstâncias da vida.
A viagem até ao Faial ainda demoraria algum tempo. O corpo pedia um fechar de olhos. Foi isso que fiz sonhando com o próximo ano, com o próximo encontro.
Sim eu tenho amigos maravilhosos.
José Câmara
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 12 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10372: Blogoterapia (216): As amizades são para serem vividas (José Câmara / Carlos Vinhal)
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10814: Convívios (486): Almoço/Convívio de Natal da Tabanca dos Melros, ou o Último Voo de 2012 (Jorge Teixeira - Portojo)
1 comentário:
Olá José Câmara.
Faço minhas as palavras da tua madrinha de guerra, que é a tua amada esposa.
"Tú tens amigos maravilhosos. Como é possível tanta amizade ao fim de tantos anos?".
Li o texto e viajei contigo, obrigado pela viajem, e pelas imagens.
Um abraço do combatente amigo, Tony Borie.
Já me esquecia de te dizer, aqui na Florida é "calor de rachar", e se precisares de ajuda para "shovel snow", não contes comigo, pois já lhe perdi o jeito!.
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