Parte da capa da página do Público 'on lin', de 14/7/2013 > "Filhos do vento: guerra colonial; as histórias dos filhos que os portugueses deixaram para trás". Uma reportagem dos enviados especiais do Público à Guiné Bissau, Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende.
1. A pedido a da jornalista do Público, Catarina Gomes, que tem procurado dar voz aos "filhos do vento" da Guiné-Bissau. Mensagem que nos chegou ontem:
Fernando Silva nasceu em 1968, Fátima Cruz em 1975, José Maria Indequi em 1971. São nomes que não vos dizem nada. Eu conheci-os. São filhos de ex-combatentes portugueses com mulheres guineenses que sonham em conhecer os seus pais, são adultos hoje com cerca de 30-40 anos que parecem tornar a ser crianças quando começam a falar do seu passado, do pai português de quem só ouviram falar mas cuja ausência os assombra. “Sinto-me meia-pessoa”, disse-me Fernando. Em apenas 10 dias na Guiné entrevistei mais de 20 filhos, tive que deixar muitos dos que me abordaram de fora. Posso dizer-vos que noite dentro, chegada ao hotel, tinha sempre mais alguém na recepção para me contar a sua história. Foi uma experiência avassaladora e emocional. Tinha meia dúzia de histórias antes de ir, lá havia sempre que conhecia alguém e mais alguém e mais alguém…
Contámos algumas destas histórias numa reportagem publicada no Público em Julho. Criámos um email, filhosdovento@publico.pt, para tentar ir além da reportagem e tentar unir estes dois lados, filhos e pais que eventualmente queiram procurar/encontrar os filhos. Não recebemos nenhum email de um pai. Recebemos emails de vários irmãos a quem os pais um dia contaram que deixaram lá um filho, alguns pais já tinham morrido, recebemos alguns emails de filhos guineenses que continuam à procura do pai vivendo em Portugal.
Passados quase 4 meses, por causa da reportagem, alguns destes filhos decidiram criar uma associação para tentarem ser portugueses e descobrir os pais. Muitos dos que me lêem conhecem a Guiné melhor que eu, saberão que pouco mudou, que é um dos mais pobres países do mundo, que nem Bissau tem luz à noite. Consigo a custo falar com eles ao telefone, obviamente que a associação não tem sede, site, email de correspondência. Penso que eles precisam de ajuda deste lado de cá, em Portugal. Pergunto se alguém quer ajudar nesta busca pelos seus pais? Alguém quererá dar apoio jurídico para que eles tentem tornar-se portugueses como sonham?
Como dizia um ex-combatente em conversa comigo sobre este assunto, “daqui a 15 anos a sua reportagem seria irrelevante, agora ainda é tempo”. (**)
Catarina Gomes, Jornalista Público
Passados quase 4 meses, por causa da reportagem, alguns destes filhos decidiram criar uma associação para tentarem ser portugueses e descobrir os pais. Muitos dos que me lêem conhecem a Guiné melhor que eu, saberão que pouco mudou, que é um dos mais pobres países do mundo, que nem Bissau tem luz à noite. Consigo a custo falar com eles ao telefone, obviamente que a associação não tem sede, site, email de correspondência. Penso que eles precisam de ajuda deste lado de cá, em Portugal. Pergunto se alguém quer ajudar nesta busca pelos seus pais? Alguém quererá dar apoio jurídico para que eles tentem tornar-se portugueses como sonham?
Como dizia um ex-combatente em conversa comigo sobre este assunto, “daqui a 15 anos a sua reportagem seria irrelevante, agora ainda é tempo”. (**)
Catarina Gomes, Jornalista Público
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Notas do editor:
(**) Último poste da série > 8 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12266: Filhos do vento (23): ...ou da ventania (Juvenal Amado)
2 comentários:
Camaradas
Ousei, um dia, mexer com tabus que terão, pressupostamente, caído no limbo do esquecimento. Porém, passados 40 anos sobre a minha comissão militar na Guiné, resolvi partir para temas que, em minha opinião, mexem com sensibilidades humanas. Nesta perspetiva, os textos sucintos que amiudadamente coloco neste nosso blogue, que deram origem ao meu livro, 5º, GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU 1973/74, contemplam verdades transversais a camaradas que, tal como eu, conheceram essas realidades no território guineense. Catarina Gomes, jornalista de "O PÚBLICO", pegou, e muito bem, na temática "filhos do vento" e conseguiu reunir um conjunto de gentes irmãs que sempre ambicionaram conhecer os rogenitores, sendo que os seus sonhos foram paulatinamente diluindo-se num horizonte tenebroso.
Penso, que a ajuda de camaradas que conheceram essa inquestionável verdade, será extremamente útil para o desenvolvimento de um tema que tem de facto pernas para andar.
Assim sendo, reforço o pedido da vossa ajuda no sentido de procurarmos casos verídicos, expondo o vosso exato conhecimento, tendo como finalidade única o redescobrir trilhos por nós palmilhados e jamais assumidos.
Conhecendo o mundo do jornalismo, assumo publicamente que a nossa ajuda será capital para que demos continuidade a um trabalho intenso que a Catarina Gomes, e o jornal "O PÚBLICO", assumiram.
Força, camaradas! Na Guiné esses homens e mulheres, frutos de amores ocasionais, já constituíram uma comissão numa tentativa, quiçá profícua, de um dia poderem eventualmente conhecer o homem que os colocou no mundo.
Um abraço, camaradas
Zé Saúde
Obrigada José Saúde, o autor da expressão filhos do vento. um abraço
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