quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12428: Manuscrito(s) (Luís Graça) (14): Não há vitórias na guerra... "Uma vitória é um imenso funeral", diz Lao Zi, no "Tao Te Ching", traduzido pelo António Graça de Abreu de quem a nossa Tabanca Grande tem muito orgulho...

1. Já aqui foi noticiada, em tempo oportuno, em maio passado, a sessão de lançamento, do grande clássico da cultura chinesa, o livro máximo do taoísmo filosófico, Tao Te Ching - Livro da Via e da Virtude, da autoria de Lao Zi (Lao Tsé), em  edição bilingue,  com tradução direta do chinês, prefácio e notas de António Graça de Abreu, prestigiado sinólogo e nosso estimado amigo e camarada. A edição é da Nova Vega, e contou com o apoio da Fundação Jorge Álvares.


Sobre o autor (i) e o tradutor (ii), diz a editora Nova Vega:

(i) Lao Zi terá nascido nos começos do século VI a.C. na China. Filho de pais pobres, foi-lhe posto o nome de Li-Peh-Yang. Contemporâneo de Confúcio, ter-se-á encontrado com este no ano 518 a.C. Pouco se sabe acerca dos seus primeiros anos salvo que foi zelador do Arquivo Real da cidade de Lo-Yang, cargo que exerceu durante muitos anos. Graças ao trabalho na Biblioteca Imperial pôde estudar muito e adquirir grandes conhecimentos. Logo que começou a emitir opiniões sobre filosofia e religião, conquistou o respeito e admiração de muita gente que começou a chamar-lhe Lao Tsé (Mestre Lao).


(ii) António Graça de Abreu, historiador, tradutor e poeta português, viveu vários anos em Pequim e Xangai. Da China trouxe o gosto pela descoberta, a procura de entendimentos da civilização e cultura clássica do velho Império do Meio. Tradutor para português dos maiores poetas dos trinta séculos de poesia chinesa, homens como Li Bai (ou Li Po), Wang Wei, Bai Juyi e Han Shan, António Graça de Abreu traz-nos agora a sua tradução do Tao Te Ching, de Lao Zi, obra máxima do taoismo filosófico, avidamente lida, comentada e analisada ao longo de mais de vinte séculos.

2. No essencial, o Tao Te Ching é constituído por um total de 81 poemas ou "capítulos", que formam um todo coerente e interligado.  A sua leitura e interpretação constituem um exercício intelectual fascinante. É um dos livros que recomendamos para oferta nesta quadra festiva, e que melhor se coaduna com o espírito de Natal deste ano de 2013, mais  um annus horribilis a que sobrevivemos, individual e coletivamente...

Nas livrarias (por ex., FNAC) o livro deve estar á venda por volta dos 19 €.  Tem um tradução esmerada do nosso António Graça de Abreu, além de utilíssimas e eruditas notas e uma magnífico prefácio. Pelo génio do Lao Zi e pelo incansável labor e saber do António Graça de Abreu, vale a pena desembolsar os 19 euros do nosso descontentamento... É um livro que seguramente nos irá dar força anímica e espiritual para enfrentar mais um duro ano, que aí vem,  de luta(s) contra a adversidade, a incerteza e o desânimo...

Para aguçar o apetite dos nossos leitores, aqui reproduzimos, a seguir, e com a devida vénia, dois dos capítlos, o 30 e o 31, os quais têm muito a ver connosco, veteranos de uma guerra, cruel, penosa e inútil, como foi a guerra colonial  na Guiné enter 1961 e 1974. Passados quatro décadas do seu fim, em 1974, poderíamos perguntar aos dois lados da contenda, guineenses e portugueses, ao Amílcar Cabral, ao 'Nino' Vieira, ao Spínola e ao Marcelo Caetano, se hoje fossem vivos, e aos milhares de guerrilheiros do PAIGC, e seus apoiantes, bem como aos "tugas", sobreviventes: 
- Meus senhores, valeu a pena ? 

Não penso que a resposta hoje fosse sim... Para os guineenses, a guerra (de "libertação"...) afinal não acabou em 1974... Como diz o Tao, "Quem se alegra em vitórias, / tem prazer em matar, / quem tem prazer em matar nunca está satisfeito"... Na guerra, em todas as guerras,  todos perdem. Não há guerras win-win, não há guerras em que todos saiam vencedores... E mesmo a alegada vitória, reivindicada por uma das partes, é "sempre um imenso funeral"... 

O Tao é sinónimo de sabedoria, que é muito mais do que o simples repositório do conhecimento e da ciência... A grande desgraça deste país e desta Europa é a falta de sabedoria da sua elite (mal pensante e pior) dirigente... Nas nossas escolas e universidades estamos a formar superespecialistas com muito high tech e pouco ou nenhum human touch... Já nem são verdadeiros cientistas... Muitos menos sábios, habitantes da cité savante... Um dia serão suplantados e devorados pelos robôs, as máquinas inteligentes, que estão a criar...  LG












Dedicatória do tradutor, no exemplar do livro que ofereceu ao nosso grã-tabanqueiro João Graça:

"Para o João Graça, filhos dos meus amigos, meus bons amigos são, com um forte abraço de admiração e toda a estima do António Graça de Abreu. Estoril, dez 2013".


3. Preço especial para a malta do blogue:

Gentileza do tradutor e prefaciador da obra, e nosso grã-tabanqueiro, António Graça de Abreu:

(...) Se algum dos nossos camaradas quiser o livro, até para oferecer a alguém, mande-me um mail. São 15 euros, portes incluídos e seguirá com uma bonita dedicatória de tempo de Natal.
Sou : abreuchina@netcabo.pt (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12319: Manuscrito(s) (Luís Graça) (13): Três histórias ganguelas, três pérolas da sabedoria angolana... E onde se fala da atualidade dos Baratas, dos Cavetos e dos Heróis

8 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Meu caro Luís

Nem sei o que te hei de dizer...
Mando-te o Tao Te Ching como prenda de Natal para o teu filho João que gosta muito destas coisas da sabedoria do Extremo Oriente e fazes-me aqui no blogue um poste tão elogioso que me deixa siderado.
O Lao Zi merece tudo, eu não, limitei-me a dar-lhe voz num português que creio ser escorreito e limpo.

Se algum dos nossos camaradas quiser o livro,até para oferecer a
alguém, mande-me um mail. São 15 euros, portes incluídos e seguirá com uma bonita dedicatória de tempo de Natal.
Sou : abreuchina@netcabo.pt.

Muito obrigado, Luís, por este teu poste, este teu texto sobre o Tao Te Ching, uma das obras-prima da literatura e do pensamento universal, com 25 séculos de existência, sempre moderno, sempre actual.

Abraço forte,

António Graça de Abreu

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luis,

Depois dos contos tradicionais dos Ganguelas (Angola) eis que nos tentas fazer beber um pouco da imensa sabedoria oriental dos TSE LAO.

No entanto, receio bem que seja uma corrida contra o tempo, o tempo moderno, capitalista, de sucesso rapido, mirrabolante, a despeito de todas as regras de moral e de boa educacao a antiga ou melhor a oriental.

A Europa engendrou muitas coisas boas, extraordinarias, mas também inventou muitas formas de pensar e de exercer o poder (penso aqui em Maquiavel) que hoje se traduzem numa grande desordem universal.

E caso para dizer, o mundo esta invertido e os valores também e quem nao acompanha esta perdido e quem acompanha esta desorientado e vive numa aureola fugaz de quimeras e miragens.

Um forte abraco,

Cherno Baldé (Chico de Fajonquito).

antonio graça de abreu disse...

Meu caro Cherno

Até foi a Europa que inventou a democracia, o menos mau de todos os maus sistemas políticos (disse Churchill), inventou também e tentou dar corpo aos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Com os resultados que sabemos.
O defeito é a qualidade dos homens, a
natureza humana onde tudo entra e cabe, o bom (sempre relativo) e o mau (igualmente sempre relativo),ambos tanta vez a aflorarem na mesma pessoa, onde entra e cabe o excelente depurado e o péssimo nojento,o Mandela e o Mugabe, o sonhador Amílcar Cabral e o realista ditador Bokassa. Enfim a espécie humana é a menos recomendável de todas as espécies, por isso a mais complexa, cruel e fascinante de todas.
O Tao ajuda a saber viver.
Escrevi no final do meu prefácio ao Tao Te Ching:

"O homem do Tao passa ao lado da guerra, da opressão, da inveja, das pequenas e grandes misérias do mundo. Assume-se como uma pessoa tolerante, humilde, em paz consigo próprio e com tudo o que o rodeia. Reconcilia-se com a vida e com o mundo.
Num contexto levemente diferente, recordo mais palavras do nosso padre António Vieira:

“Oh, se nós homens entendêssemos esta política natural e doméstica, e nos persuadíssemos a ela, quão descansada seria esta vida que nós, pelo desgoverno da nossa vontade, e pelos excessos da nossa vontade, fazemos tão cansada e trabalhosa!”

Abraço,

António Graça de Abreu



Luís Graça disse...

António, não tens que dizer nada. A justiça e o reconhecimento não se agradecem. Já reencaminhei o livro para o feliz contemplado, que seguramente vai adorar e aproveitar lo tu trabalho. Pelo meio, dei uma espreitadela e li quase todo o teu prefácio.

Agradeço, isso, sim, é tua gentileza para com a malta do blogue, disponibilizando, nesta quadra festuva, a um "preço de amigo", o livro (que é do Lao Zi e do António Graça de Abreu, toda a tradução é uma recriação...). para quem quiser

Luís Graça disse...

Cherno: Ainda não te respondi por falta de tempo, que é a coisa que mais nos aflige nos nossos países em que tudo se mercantilou, a começar pelo tempo: "time is money", diz o provérbio inglês. Capitalista, pois claro. O relógio foi a primeira coisa que se pôs nas estações os caminhos de ferro e no campanário das igrejas... Porquê ? Para o povo não perder o combopio nem a missa ? Nada disso, para o operário das fábricas ("mills and factories") aprender a "disciplina fabril"... Não foi a máquina a vapor que deu origem à revolução industrial, foi o "génio organizativo" do capitalista que comneçou por pôr debaixo do mesmo teto os "produtores" e impor-lhes a "disciplina fabrial" (que começa com o relógio)...

Meu caro Cherno: estoui preocupado com o crescente "isolamento" da Guiné-Bissau e temo pela segurança dos muitos amigos que lá tenho...

Leio com preocpuação as ultimas notícias:

(...) "Em comunicado, a TAP explicou que, "perante a grave quebra de segurança ocorrida na fase de embarque do voo da TAP TP202 de Bissau para Lisboa na madrugada do dia 10 de Dezembro, que implicou o embarque de 74 passageiros com documentos comprovadamente falsos, a rota Lisboa/Bissau/Lisboa encontra-se suspensa até uma completa avaliação das condições de segurança no aeroporto" da capital da Guiné-Bissau.

"Segundo adiantou o porta-voz da TAP nesta quinta-feira, a empresa está a estudar alternativas para os passageiros que tinham já voo marcado - estava agendada uma viagem para hoje à noite -, o que deverá ser anunciado antes do início da tarde.

"O secretário de Estado das Comunidades preferiu não avançar mais pormenores, referindo apenas que a questão é "muito delicada" e está a ser tratada "por via diplomática". (...)

http://www.publico.pt/economia/noticia/tap-prepara-alternativas-para-voos-suspensos-para-a-guinebissau-1616016

Um alfabravo para ti, Cherno. Saúde e esperança para o ano de 2014.

Luís Graça disse...

Cherno:

1. Ainda não te respondi por falta de tempo, que é a coisa que mais nos aflige nos nossos países em que tudo se mercantilizou, a começar pelo tempo: "time is money", diz o provérbio inglês. Capitalista, pois claro.

O relógio, em Inglaterra, foi a primeira coisa que se pôs nas estações os caminhos de ferro e no campanário das igrejas... Porquê ? Para o povo não perder o combopio nem a missa ? Nada disso... Foipara o operário das fábricas (o "loaboring man" que trabalhava nas novas "mills and factories") aprender a "disciplina fabril"...

Não foi a máquina a vapor, a tecnologia, que deu origem à revolução industrial, foi o "génio organizativo" do capitalista que comneçou por pôr debaixo do mesmo teto os "produtores" e impor-lhes a "disciplina fabril" (que começa com o relógio)...

2. Meu caro Cherno: estou preocupado com o crescente "isolamento" da Guiné-Bissau e temo pela segurança dos muitos amigos que lá tenho... Pode ser que tenhas outra versão dos acontecimentos mas o que se passou, há dias, no aeroporto +é "banditismo puro e duro"...

Leio com preocupação as últimas notícias:

(...) "Em comunicado, a TAP explicou que, "perante a grave quebra de segurança ocorrida na fase de embarque do voo da TAP TP202 de Bissau para Lisboa na madrugada do dia 10 de Dezembro, que implicou o embarque de 74 passageiros com documentos comprovadamente falsos, a rota Lisboa/Bissau/Lisboa encontra-se suspensa até uma completa avaliação das condições de segurança no aeroporto" da capital da Guiné-Bissau.

"Segundo adiantou o porta-voz da TAP nesta quinta-feira, a empresa está a estudar alternativas para os passageiros que tinham já voo marcado - estava agendada uma viagem para hoje à noite -, o que deverá ser anunciado antes do início da tarde.

"O secretário de Estado das Comunidades preferiu não avançar mais pormenores, referindo apenas que a questão é "muito delicada" e está a ser tratada "por via diplomática". (...)

http://www.publico.pt/economia/noticia/tap-prepara-alternativas-para-voos-suspensos-para-a-guinebissau-1616016

Um alfabravo para ti, Cherno. Saúde e esperança para o ano de 2014.

Anónimo disse...

A propósito dos passageiros de Bissau com documentos näo legais...
Terá a TAP acabado por sabotar a vinda para Portugal de setenta e tal Conselheiros Económicos... muito necessários nos tempos actuais?

Anónimo disse...

Sabotou sabotou, a tap fez isso tudo.