Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cananima > Na margem direita do Rio Cacine > 2 de março de 2008, visita ao sul do país no âmbito da Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008), O Pepito, ladeado à sua direita pelo Zé Teixeira e à sua esquerda pelo Domingos Fonseca. Para os seus amigos e colaboradores, ele era uma verdadeira "força da natureza"...
Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.
Pepito, em Guileje, 1/3/2008 |
Recebi, ao fim da manhã, a notícia, brutal, inesperada, da morte do nosso Pepito! (*)...
Ele tinha vindo de Bissau há duas semanas, numa viagem penosa de 12 horas, pela Air Maroc, e foi de imediato internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa (**). A suspeita era de hepatite A, mas o diagnóstico médico era mais grave...
O último email que tínhamos trocado, com ele ainda em Bissau, tinha data de 30 de janeiro último. Ele confirmou-nos que vinha cá, a Portugal, para estar nos anos da mãe, como sempre o fazia, religiosamente, todos os anos (***). Aproveitava o ensejo para fazer sua "revisão médica" anual. Mas desta vez, a mensagem trazia maus augúrios:
Amigo Luís:
Vou de facto para o aniversário da minha mãe (dia 14), mas sobretudo para varrer os hospitais e ficar de papo para o ar. É que estou com uma crise de hepatite que me dá dores e me tem cansado 24 horas por dia. Os médicos que consultei exigiram todos: REPOUSO. Para mim isso não é tratamento, mas castigo. Como tenho culpas no cartório, sou obrigado a obedecer. (...)
Amigos e camaradas, o som do bombolom, com a trágica notícia, já chegou à Guiné-Bissau e a Cabo Verde!... O Pepito morreu!... O Pepito morreu!... O Pepito morreu!... Do chão felupe ao chão nalu, passando pelo bairro do Quelélé um dor imensa varre a Guiné-Bissau, terra que o viu nascer, em 1949, e sobretudo que o viu regressar, a ele, à Isabel e à pequena Cristina, em 1975, para ajudar a construir um país novo!...
É uma perda imensa, irreparável, para todos nós, guineenses, cabo-verdianos e portugueses, seus amigos e admiradores!... Mais do que a obra, que há-de ser continuada por parte da vasta equipa da ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento, de que ele foi co-fundador e era o diretor executivo, é o seu exemplo, a sua lucidez, a sua boa disposição, a bonomia, a sua capacidade de organização e de trabalho, a sua força da natureza, o seu entusiasmo, o seu visceral otimismo, o seu carisma, a sua frontalidade, a sua coragem (física e moral)... que nos vão fazer falta, e de que já estamos a sentir saudade...
Há seres humanos que são insubstituíveis, nas equipas, organizações e comunidades a que pertencem... A morte, precoce, do Pepito vai-nos deixar um tremendo vazio, difícil de preencher... É por isso que nos recusamos a admitir que o Pepito nos deixou para sempre. E voltamos a tocar o bombolom, em todas as direções:
Há seres humanos que são insubstituíveis, nas equipas, organizações e comunidades a que pertencem... A morte, precoce, do Pepito vai-nos deixar um tremendo vazio, difícil de preencher... É por isso que nos recusamos a admitir que o Pepito nos deixou para sempre. E voltamos a tocar o bombolom, em todas as direções:
Pepito ca mori!... Pepito ca mori!... Pepito cá mori!
Carlos Schwarz da Silva, nascido em Bissau, em 1949, era filho de Augusto Silva (1912-1983), cabo-verdiano da ilha da Brava, advogado, jurista, estudioso dos usos e costumes dos fulas, mandingas e nalus da Guiné, poeta, contista, e de Clara Schwarz da Silva, que acabou de fazer, no dia catorze, 99 anos, sendo a decana da nossa Tabanca Grande.
Carlos Schwarz da Silva, nascido em Bissau, em 1949, era filho de Augusto Silva (1912-1983), cabo-verdiano da ilha da Brava, advogado, jurista, estudioso dos usos e costumes dos fulas, mandingas e nalus da Guiné, poeta, contista, e de Clara Schwarz da Silva, que acabou de fazer, no dia catorze, 99 anos, sendo a decana da nossa Tabanca Grande.
Para a Dona Clara Schwarz (que ainda não teve conhecimento da notícia, que vai ser devastadora para ela!), para a nossa querida Isabel [Levy Ribeiro], para os filhos do casal, a Cristina (Pepas), o Ivan e a Catarina, para as suas netas Sara e Clara, para os seus irmãos João e Henrique (Iko) e demais familiares, vai o nosso alfabravo (ABraço) apertado, fraterno e solidário na dor.
Mando também, em meu nome pessoal e da minha família (Alice, Joana e João, que estão consternados com a perda de um grande amigo e de um excecional ser humano), bem como da nossa Tabanca Grande, os meus profundos votos de pesar aos nossos amigos da AD, cujo trabalho merece todo o nosso respeito e admiração. Eu sei quanta esta terrível notícia os deixa inconsoláveis!
A funesta notícia deixa, também, os seus muitos amigos portugueses acabrunhados, infelizes inconsoláveis... O Pepito era um dos nossos grã-tabanqueiros da primeira hora, desde a I Série.
De qualquer modo, a melhor homenagem que podemos fazer, a quente, em cima da notícia deste terrível acontecimento, é reproduzir de novo, aqui, no nosso bogue, este texto autobiográfico admirável que é "A sombra do pau torto", que ele escreveu e nós publicámos em julho de 2008.
Até sempre, Pepito!
Até sempre, Pepito!
PS - Acabamos de saber, através da família, que o funeral é amanhã, às 16h00, no Cemitério de Barcarena, Oeiras (Rua Elias Garcia, EM 1351) [Vd. aqui localização no mapa]. O corpo será velado apenas pela família em cerimónia privada.
2. Texto autobiográfico > A sombra do pau torto (****)
por Carlos Schwarz, 'Pepito'
Julho de 2008
Aos meus Pais,
Clara Schwarz e Artur Augusto
que me transmitiram
a necessidade de recomeçar sempre,
ensinando-me a aprender
com a História da nossa Família.
[Negritos da responsabilidade do editor, LG]
2.1. A EUFORIA DOS PRIMEIROS ANOS
Às 2 horas da tarde daquele dia 26 de Maio de 1975, aterrávamos em Bissau. A Isabel e eu, pais da nossa ainda única filha, Cristina (**), aproveitávamos a boleia do último avião militar português que se deslocava ao jovem país independente para transportar, de regresso à ex-metrópole colonial, o resto de quase 500 anos de presença portuguesa na costa da Guiné.
A alegria de voltar a pisar solo africano fez esquecer o calor tórrido e húmido desta época do ano. A Guiné-Bissau declarara em Setembro de 1973 a sua independência, ainda em plena luta de guerrilha, e agora, menos de 2 anos depois era o País de todas as esperanças.
De um amontoado de casernas militares espalhadas por todo o lado, havia que construir um país de paz e progresso, com a mesma coragem com que um reduzido grupo de 5 homens havia iniciado e liderado, 20 anos antes, uma epopeia libertadora do colonialismo, em que poucos na altura acreditavam.
Como agrónomos entrámos no Ministério da Agricultura, na altura designado por Comissariado. Passámos os primeiros dias sentados num gabinete à espera que a direcção do Ministério decidisse onde iríamos ser “colocados” e o que iríamos fazer. Com o início da campanha agrícola, começou a distribuição de sementes de arroz e mancarra aos agricultores que tinham regressado ao país depois da guerra, vindos dos países vizinhos, e que precisavam delas para a produção alimentar.
Ofereci-me para essa missão e é assim que após uma primeira paragem em Bafatá para distribuir sementes de arroz, carrego 20 toneladas de mancarra com destino a Catió, sul da Guiné-Bissau. Ao chegar a Bambadinca, o condutor do camião redobra de cuidados e atenções. É que, na mesma estrada que ligava a Xitole e depois a Saltinho, tinham “saltado” poucos dias antes, 2 camiões dos “Armazéns do Povo” que se desviaram ligeiramente das bermas da estrada e pisado uma mina.
De olhos esbugalhados, não era só o condutor a dirigir o camião. Também eu o conduzia, sem pestanejar, mas sem pedal nem volante. Era o meu baptismo de “fogo” nas estradas da Guiné-Bissau que continuaram durante alguns anos a ameaçar todos os que a utilizavam, sem que isso impedisse os técnicos de abdicarem das suas missões patrióticas.
Nessa altura fazíamos tudo e ainda nos sobrava tempo. À noite dava aulas de Geografia no Liceu Nacional Kwame N’Kruma para os trabalhadores, enquanto de manhã participava na campanha de protecção da cultura do arroz invadida por uma praga de brocas que estava a pôr a produção alimentar em causa, para voltar à noite a integrar as numerosas equipas de jovens que procuravam neutralizar a invasão de grilos.
É nessa altura que conheço Djibril Aw, agrónomo maliano e especialista de arroz na ADRAO, que marcou decisivamente a minha concepção e atitude profissional. Com um profundo conhecimento da orizicultura africana, uma argumentação técnica clara e convicta, um notável sentido organizativo e uma prática baseada na percepção que os agricultores tinham da sua actividade e das condições em que trabalhavam, não centrada nos “gabinetes de trabalho” [onde], afirmava, se devia passar apenas o mínimo tempo necessário.
Foi ele que me conduziu à paixão pela orizicultura e seus sistemas de cultura, pela história do arroz africano, pela pesquisa e experimentação varietal, pelo estudo e compreensão do conhecimento ancestral dos povos guineenses que o praticam. Ensinou-me a exigência de nós, técnicos, sermos pragmáticos e concretos nas propostas que fazemos aos agricultores. Fez-me ver a importância e necessidade de conhecer as experiências e avanços dos países da zona, como forma de evitar perdas de tempo e meios, sobretudo para um país tão carente como a Guiné-Bissau. Visitei e conheci o Ghana, Mali, Guiné-Conakry, Nigéria, Burkina Faso, Senegal, Costa do Marfim, Libéria, Serra Leoa.
Levou-me a perceber que nas nossas circunstâncias, o essencial não é inventar, mas que a obra do artista se vê através da capacidade que ele tem em adaptar no seu país, as ideias e soluções que outros encontraram ou estão a desenvolver. O que aprendi com Djibril Aw foi determinante para a criação do primeiro departamento técnico do então Comissariado, o DEPA.
Percebendo que se ficasse à espera de directivas dos dirigentes, nunca sairia do ciclo de actividades avulsas e ocasionais prevalecentes, decidi iniciar em Dezembro de 1975, um programa de ensaios de arroz, a partir de 15 variedades fornecidas pela ADRAO. Negociei com a Central Eléctrica de Bissau, a título de empréstimo, um pequeno terreno e água desperdiçada. Era a primeira vez na minha vida que semeava qualquer coisa. Como técnico recém-formado estava em pânico, oscilando entre a falta de confiança no resultado e a expectativa de vir a ser um sucesso.
Já com a totalidade das variedades em plena floração, convido o Sub-Comissário para visitar o campo de ensaios.
À entrada do campo uma tabuleta dizia DEPA. Ele não olhou para o ensaio, fixou-se na tabuleta.
- O que é isto? - perguntou.
- É o Departamento de Experimentação e Produção de Arroz que criámos - respondi eu.
- E quem é que deu autorização para este nome?
- Escolha então você um outro - concluí eu.
Foi a partir daí que me comecei a aperceber do crime que havia sido cometido com a formação de quadros nos países do bloco soviético. Não do ponto de vista técnico, mas da cultura de passividade que “inculcava” ou “impunha” aos seus formandos. Saía-se de lá com o espírito de obediência passiva aos chefes, esperando sempre “directivas” vindas do alto sem nunca se estimular a capacidade criadora e inventiva dos técnicos, sob pena da mesma poder ser considerada um atentado à autoridade dos chefes e no interesse em substituí-los.
Os primeiros anos foram vividos neste clima, tendo mesmo um grupo destes técnicos, acabado por escrever um opúsculo intitulado “Os bem e os mal servidos do Ministério da Agricultura”. Aqui os técnicos eram divididos entre “socialistas”, os que estudaram nos países de Leste, e “capitalistas”, os que vinham de Lisboa.
Sucede que logo a seguir ao DEPA outros departamentos foram sendo criados, todos eles por técnicos que estudaram em Portugal e que traziam consigo a prática do “desenrascanso”, isto é, de não ficarem à espera que lhes dessem condições, mas serem eles próprios a criá-las. Esta postura havia sido adquirida nos movimentos estudantis e nas associações de estudantes geridas por recursos engendrados e inventados pela capacidade criadora dos líderes associativos para contrabalançar as perseguições políticas e o não-apoio do governo fascista português. Isto poderá ajudar a explicar a razão pela qual, apesar de ter havido tantos quadros técnicos superiores e médios, à quase totalidade vinda do Leste não tivesse correspondido um avanço dos programas de desenvolvimento agrícola.
É assim que, sem consultar nenhum dirigente superior do Ministério, não por querer pôr em causa a sua autoridade, mas apenas para evitar os bloqueios burocráticos que certamente seriam colocados, o DEPA cria em Janeiro de 1977 o Centro Nacional de Experimentação e Multiplicação de Arroz de Contuboel, junto ao rio Geba no Leste do País, e a Estação Orizícola de Caboxanque, em Maio de 1977, no Sul.
Era a primeira vez na história da Guiné-Bissau que se criavam dois centros de pesquisa vocacionados, numa primeira fase para a cultura de arroz e numa segunda para as outras espécies alimentares (feijão, mandioca, milho, sorgo, milheto, etc.).
Com base no que a equipa inicial do DEPA, o Alcalá Barbosa, o Malam Sadjo, o Joaquim Dias N’Djai e o Manlafi Mané, viu em Richard-Toll, no delta do rio Senegal, deu-se início pela primeira vez no país, em Janeiro de 77, à cultura do arroz na época seca. Das 300 famílias de agricultores que se inscreveram, apenas 12 iniciaram a preparação do terreno, a lavoura e a sementeira em viveiro. Todos os dias levantavam-se cedo e iam para os campos trabalhar. Atravessavam o centro da vila de Contuboel, ouvindo bocas de outros agricultores que não acreditavam que “o arroz se pudesse desenvolver sem receber água de cima”, isto é, sem ser das chuvas. Foram postas à prova as suas convicções ao ouvirem dizer diariamente que “estavam a trabalhar para nada” e “cansavam-se para acabar com o cérebro feito em pó”; era um teste às suas convicções e resistência.
Em Maio inicia-se a colheita. Uma excelente produção. Muito arroz num momento em que ninguém já tinha reservas de arroz em casa. Então os agricultores das 12 famílias passaram a sentar-se no mercado central, silenciosos, com os balaios (cestas) de arroz novo à frente, a ver os anteriormente descrentes, a correrem aflitos para as lojas a tentar comprar este cereal, base da sua alimentação. O olhar irónico e feliz dos que haviam sido postos à prova era uma verdadeira vitória que contagiou todos em especial nas tabancas à volta. Em 1990 eram já 12.500 pessoas envolvidas na dupla produção de arroz ao longo da bacia do rio Geba.
Tabanca de São Martinho do Porto > 21 de agosto de 2010 > Além de saber bem receber os seus amigos (na casa de verão da família, na praia de São Martinho do Porto onde passava férias, em agosto; ou em Bissau, na sua casa do bairro do Quelelé), o Pepito tinha também uma paixão clubística que o ligava, umbilicalmente, a Portugal: era uma adepto, afável, leal, constante, do SCP - Sporting Clube de Portugal... Nos bons e nos maus momentos, como de resto foi a sua vida de homem livre e de lutador de grandes causas.
Foto e legenda: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados.
2.2. A POLÍTICA DA DESILUSÃO
Amílcar Cabral, a nossa maior referência política, parecia adivinhar os efeitos que Bissau iria provocar nas convicções dos dirigentes políticos do Partido que havia liderado a luta pela independência, o PAIGC. Analisou como ninguém as falsas partidas das independências concedidas pelas potências colonizadoras europeias às suas colónias, nos anos 60. Seguiu e apercebeu-se em directo das atribulações de Sekou Turé na construção de um país que resvalou rapidamente para o autoritarismo, a repressão popular e as divisões étnicas.
Porque conhecia de avanço os perigos e escolhas com que a Guiné-Bissau se iria confrontar depois da libertação total do país e porque sentia que a guerra estava militarmente ganha, Amílcar Cabral dedicou os seus últimos anos de vida à procura de um modelo de organização de Estado que minimizasse os perigos que decorreriam de um sistema organizativo baseado no modelo autoritário, fosse ele colonial ou pós-independente.
Percebeu, antes de todos os outros, que Bissau poderia ser o princípio do fim dos valores de dedicação à causa popular, à solidariedade ideológica e a uma postura de vida baseada em princípios de dignidade e respeito. Chegou a equacionar a possibilidade de cada Ministério ser colocado em cada uma das oito capitais de região, como forma de promover um desenvolvimento descentralizado.
Não teve tempo para desenvolver este conceito. Foi assassinado em 1973 a mando de Spínola, com a conivência expressa ou por omissão de muitos outros sectores, entre os quais militantes do PAIGC e políticos da Guiné-Conakry que não toleravam a sua independência de pensamento e acção. O que é certo é que, ao entrar em Bissau, os líderes e quadros do PAIGC decidiram-se pelo repouso do guerreiro, não resistindo ao charme fatal de uma forma de vida cantada pelas sereias do tempo perdido.
Quando chego a Bissau em 1975, trazia comigo uma carta de apresentação de militante do PAIGC da célula de Lisboa, assinada pelo seu responsável, o caboverdiano Santana. Guardei-a sempre comigo. Apenas via nela um certificado da minha militância e não um atestado para ascender às instâncias superiores do Partido. Perdi-a em 1998 no conflito político-militar.
Assim comecei a militar na Juventude do Partido, a JAAC, onde conheci o melhor dirigente político que alguma vez me dirigiu: João da Costa. Homem de uma cultura fora do vulgar, sempre adoptou uma postura analítica e crítica em relação ao seu próprio partido, à acção dos combatentes da liberdade da pátria, à interpretação da História.
Com virtudes humanas excepcionais e grande capacidade de liderança, com ele aprendi muito do que sei sobre a criação de equipas de trabalho, a sua motivação, a democracia de ser sempre o último a falar e a tomar posições permitindo a cada um colocar as suas perguntas e exprimir as suas ideias. Intransigente na salvaguarda da dignidade e na disciplina, cultivava um relacionamento humano em que a amizade assumia sempre um lugar de primazia.
Recusando-se sempre a “vender a alma ao diabo”, é perseguido sistematicamente nos anos 80 e 90, com falsas acusações de tentativa de golpes de estado, defendido por um advogado vendido ao poder, acaba por morrer durante o conflito político militar de 1998-99. Continua a servir-me de referência de postura e coerência política.
A minha maior desilusão partidária acontece com o Golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980. Aos 30 anos de idade, da ideia que fazia do PAIGC, não cabia a resolução interna de problemas políticos de forma violenta. O debate devia sempre prevalecer. Neste caso, era o Primeiro Ministro [, João Bernardo 'Nino' Vieira, ] que dava um golpe ao Presidente [Luís Cabral,] que o havia escolhido, sem nunca o contestar abertamente ou nas instâncias do Partido.
Acabei por perceber mais tarde que, na realidade, o que estava em causa não eram divergências políticas, mas o assalto ao poder de uma ala retrógrada que havia perdido essa mesma batalha, sete anos antes, no assassinato de Amílcar Cabral. Incapaz de aceitar estes processos, dois meses mais tarde peço a demissão de dirigente da Juventude do Partido e abandono a vida partidária para me concentrar unicamente na luta política.
Outro momento duro de “engolir” veio alguns anos depois quando o Comandante Paulo Correia, combatente da luta pela independência é por duas vezes seguidas falsamente acusado de tentativa de golpe de estado, acabando miseravelmente assassinado por quem foi seu companheiro de armas durante longos anos.
Conheci Paulo Correia quando ele, depois de ter sido acusado pela primeira vez de tentativa de golpe de estado, é retirado de Ministro da Defesa e passa a Ministro da Agricultura.
Um dia, estando a passar férias em Lisboa, sou informado por um técnico do DEPA que um director do Ministério tinha desencadeado um ataque em força contra o DEPA, acusando-o de ser um “Estado dentro do Estado”, de não obedecer a ninguém e que tinha chegado a hora de pôr tudo na ordem. Regresso a Bissau e profundamente exaltado entro no gabinete do Ministro Paulo Correia a quem exponho de um só fôlego o meu protesto e revolta. Ouviu-me com atenção e toda a calma deste mundo.
Deixou-me acabar e não respondeu. Falou-me então durante uma hora, com todos os detalhes, sobre a forma como falsamente o envolveram na inventona de golpe de estado de que fora acusado. No fim olha para mim e diz: “já notaste que, depois disto tudo, estou aqui calmo e tranquilo?”. Acabara de me dar a resposta à minha revolta. Na realidade qual era a gravidade do meu caso, quando comparado com o dele, esse sim uma monstruosidade pelas consequências que viria a ter.
Saí com ele em visitas ao estrangeiro e habituei-me a apreciá-lo muito. Sempre o considerei como o melhor Ministro da Agricultura que tive, curiosamente o único que, por não ser agrónomo, fazia questão de ouvir todos antes de tirar as suas conclusões. Acabou por sair dali directamente para as masmorras da polícia onde foi assassinado conjuntamente com alguns outros combatentes pela independência.
Com o Golpe de 14 de Novembro de 1980 reintroduziu-se na história da Guiné a divisão étnica: no início a divisão era entre cabo-verdianos, apelidados de cavaleiros, e guineenses, chamados de cavalos. Esquecendo-se os seus promotores que uma vez estabelecida a primeira divisão étnica, outras se lhe seguiriam, surge a estigmatização dos balantas, tanto mística com o fenómeno iang-iang, como política com o caso Paulo Correia, prosseguindo com a divisão entre muçulmanos e animistas, e mais recentemente entre os naturais da cidade e os da tabanca. Tudo isto em função da conveniência e interesse da estratégia do líder político da ocasião.
Kumba Ialá, que viria a ser mais tarde Presidente, revelou-se neste domínio o maior, indo buscar algumas das carecterísticas menos ricas da idiossincrasia balanta, unificou-os à volta de conceitos demagógicos e populistas, em contraponto aos tempos idos de 'Nino' Vieira em que os membros do governo pouco variavam, limitando-se os seus titulares a mudarem de cadeira. Nessa ocasião, lembro-me de um Ministro que, com três pastas num só ano, bateu o recorde olímpico nacional.
Já o antigo animista Kumba Ialá, travestido agora de muçulmano com a designação de Mohamed Ialá Embaló, introduziu pela primeira vez o conceito de acesso universal ao governo, isto é, passou a promover a entrada para o governo de todos os cidadãos que se julgassem capazes e predispostos a serem ministros. Analfabetos houve que aproveitaram a ocasião… A partir dos anos 2000 assistiu-se à mais louca gestão de um Estado, de que há memória. No fundo até durou pouco tempo… porque, entretanto, o Estado desapareceu!
Foi nesse período em que tudo valia, que um dia, deixaram “cair” perto do meu local de trabalho um bilhete anónimo que dizia: ”neste fim de semana vais sofrer um atentado para te matarem”. Entendi isso apenas como uma tentativa de intimidação. Todavia, às 3 horas da madrugada desse dia, três ninjas (polícia especial armada), acorrentavam o velho guarda da casa e iniciam a tentativa de demolição das janelas. Só a intervenção determinante do nosso vizinho, Nelson Dias, nos salvou, a mim e à Isabel, perante o completo desinteresse da polícia que se escusara a prestar socorro. Os assaltantes, esses, nunca foram punidos, embora saiba que a polícia os identificou.
Tabanca de São Martinho do Porto > 13 de agosto de 2011 > O Pepito folheando, sob o olhar atento da sua mãe, Clara Schwarz, o livro sobre a baía de São Martinho do Porto, que lhe ofereceu o seu vizinho (e tabanqueiro) JERO, obra da autoria de Maria Cândida Proença (ed lit) [A Baía de São Martinho do Porto. Aspectos geográficos e históricos.Lisboa, Colibri, 2005]. A casa da família Schwarz é uma das mais antigas de São Martinho do Porto, remontando aos anos 20/30 do século passado.
Foto e legenda: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados.
2.3. O DESENVOLVIMENTO NO SEU LABIRINTO
Em 1991, incluído num grupo de guineenses do qual faziam parte José Filipe Fonseca, Nelson Dias, Isabel Miranda, Roberto Quessangue e Rui Miranda, entre outros, criámos uma organização não-governamental, a Acção para o Desenvolvimento (AD), que pretendia promover uma ética de desenvolvimento local centrada no homem e não no crescimento económico. A AD surgia assim para dar continuidade e potenciar de forma mais aberta as actividades de vulgarização do DEPA.
Num país de cerca de um milhão e meio de almas, onde coabitam 32 etnias, cada uma delas com as suas próprias culturas, organização social e sistemas de produção específicos, é entusiasmante ir descobrindo as suas diferentes lógicas de desenvolvimento e ao mesmo tempo participar com elas na procura de novos caminhos para o seu progresso.
Ao longo do trabalho nas zonas rurais fui-me apercebendo do quão errados e inadaptados são os métodos de concepção de desenvolvimento baseados na introdução dos chamados pacotes tecnológicos ou da visão estanque da promoção por culturas sem a compreensão dos sistemas de produção. A fraca capacidade dos pequenos agricultores impede-os de aderir à série de medidas propostas pelo pacote, o qual exige muito maiores recursos financeiros do que dispõem, ao uso de novas tecnologias que ultrapassam os meios humanos sobretudo familiares, e à mudança radical nos sistemas de cultura e produção, que vêm subverter profundamente os métodos tradicionais, impedindo o pequeno agricultor de controlar e gerir o seu próprio sistema de produção.
Mais difícil e eficaz é aliar uma boa capacidade de observação dos problemas com que os agricultores se debatem, aos diálogos informais com eles e usando o feelling que os agentes de desenvolvimento devem cultivar. Isto ajuda a compreensão do problema prioritário que se coloca e a procura de uma solução técnica ou tecnológica que se adapta ao seu modo de vida e trabalho.
Ouvi a muitos, sobretudo vindos de fora, que o nosso papel, enquanto agrónomos, é o de satisfazer as solicitações dos agricultores, elevando estes à categoria de semi-deuses, que tudo sabem e a quem tudo deve ser concedido. Creio que nada de mais errado existe. A postura mais realista e consequente é aquela em que o relacionamento entre agricultor e técnico se faz com os olhos situados ao mesmo nível, reconhecendo ambos que só da valorização dos dois tipos de conhecimentos, os tradicionais e os mais modernos, poderá haver avanço e progresso, construindo uma parceria baseada no respeito e complementaridade.
Alguns diletantes das questões do desenvolvimento partem do pressuposto que os agricultores tudo sabem e que as tabancas são um mar calmo sem conflitos e contradições internas, que os técnicos vêm subverter e perturbar com modernices. Em 1963, meu pai, Artur Augusto da Silva, no seu texto Pequena viagem através de África, já se referia a este tipo de pessoas que, com uma visão falsa e deformada, mal aportam à Guiné-Bissau ou a África em geral, começam logo a perorar e a fazer afirmações definitivas de quem já tudo aprendeu e tudo sabe.
Contava ele que “… ainda há poucos anos corriam na África Ocidental Francesa, umas notas de mil francos onde se via, em atitude de herói cinematográfico, um europeu, de largo chapeleirão colonial, camisa folgada, calções curtos e umas imponentes botas altas, empunhando uma arma e, arrogantemente, pisando um leão morto. Podemos dizer: a verdade da imagem correspondia ao exíguo valor da nota”.
Assim tenho visto passar pela Guiné-Bissau autênticas romarias de especialistas, pomposa designação que alguns se dão a si próprios ou que certas organizações internacionais atribuem a estes turistas do desenvolvimento. Lembro-me de um, do Banco Mundial, que feliz como uma criança dizia: “Aqui na Guiné-Bissau, sinto-me como o Pai Natal a distribuir presentes, dou dinheiro aqui, mais alí…”. Outros arranjam subsídios vitalícios para “turistarem” pela Guiné fora, recolherem duas ou três declarações avulsas, incluírem seis ou sete da sua autoria que muito ajudam a sustentarem e comprovarem as suas teses de partida que de forma cientificamente desonesta nunca ousam pôr em causa. À segunda publicação são já considerados especialistas, o que lhes permite frequentar e pavonear-se em colóquios e conferências internacionais afirmando a sua pesporrência científica.
No domínio do desenvolvimento rural, perfilhei desde o início a escola francesa, baseada numa visão global do território de desenvolvimento, da inclusão camponesa na pesquisa rural e na procura e seguimento do agricultor “fora-do-tipo”, como inovador de uma solução para um problema técnico, económico ou social que atinge uma comunidade. O facto deste último utilizar um sistema diferente pode significar que ele esteja a procurar a solução para o problema da falta de água, ou da diminuição da mão-de-obra familiar disponível, ou da falta de recursos financeiros para manter a sua unidade agrícola.
Como exemplo de um caso destes, recordo-me de um agricultor que redescobriu um processo de rega gota-a-gota, usando para isso uma grande cabaça de um fruto silvestre, por baixo da qual fez dois pequenos furos por onde escoava lenta e regularmente um fio de água que regava as suas bananeiras. Tinha encontrado, sozinho, uma forma de economizar a pouca água de que dispunha e respondido à reduzida quantidade de mão-de-obra familiar que não tinha na sua exploração.
Já de sentido inverso, a introdução nas tabancas de pequenas unidades de descasque de arroz e que representaram uma autêntica revolução para as mulheres, resultou exclusivamente da capacidade dos técnicos em identificar uma tecnologia localmente desconhecida que viesse aligeirar o seu penoso esforço físico de pilar o arroz, ganhar cerca de duas a três horas diárias de tempo que as mulheres passaram a utilizar noutras actividades sociais e produtivas, e a promover o associativismo de tipo mais moderno a nível das comunidades. Com estas descascadoras, as mulheres passaram a assumir-se como pessoas livres, afirmando-se que agora também elas se tinham libertado do seu colonialista: o pilão.
Uma das maiores dificuldades com que nos deparamos actualmente nos processos de desenvolvimento, é a da tentativa dos financiadores do Norte em padronizar, à sua imagem e semelhança, consideradas como modelos exemplares e de reprodução local necessária, métodos de programação, de intervenção, de organização e de avaliação, como se o progresso da humanidade se fizesse com roupagem pronto-a-vestir, informatizada ou robotorizada, e não com abordagens específicas caso a caso. A mudança de atitude de algumas organizações parceiras parecem querer abandonar a antiga cumplicidade existente na defesa de políticas progressistas de luta pelas populações mais excluídas e no combate político por uma sociedade mais justa, progressiva e solidária, para se deixarem deslumbrar e seduzir pelos modelos de organização e prioridades administrativo-financeiras de tipo neoliberal.
Tem-se a ideia de que certas ONG do norte se perderam no caminho, deixaram de crer nas suas vocações e se docilizaram perante as suas fontes de financiamento, assumindo um mero papel de executores, bons e baratos, das suas políticas governamentais. Para digerir o purgante, algumas passam anos a reestruturarem-se em termos de finalidades e formas organizativas, alimentando o espírito com supostos desafios novos, e acabamos por ter a sensação que, para essas organizações o essencial é que nós funcionemos administrativamente bem, em vez da obtenção de resultados que melhorem as condições de vida das comunidades locais.
Já a nível interno, do próprio país, certas elites políticas e intelectuais persistem numa cultura de recusa da discussão das grandes opções de desenvolvimento, da melhor forma de acabar com a pobreza e dos novos caminhos a trilhar, para se concentrarem nas formas de atingir um poder que sabem efémero e para o qual utilizam todos os meios, mesmo que violentos.
Esta situação assume proporções dramáticas quando se avalia o seu impacto junto das comunidades locais que apreendem rapidamente os sinais dessa cultura de confronto e intolerância e dela se começam a apropriar, introduzindo nas suas práticas as lógicas e os vícios que elas consigo transportam, traduzidos no recurso frequente à violência no seio das famílias e das tabancas como forma de resolver os problemas e contradições ou o obscurantismo da caça a pessoas normais acusadas de bruxaria. Surgem então as tendências tribalistas, de violência gratuita e ignorância.
Pratica-se hoje uma “amnistia sem rosto” para encobrir crimes que se foram cometendo ao longo destes anos, sem identificar e julgar os seus autores, erigindo a impunidade como objectivo político e valor cultural. Como ninguém foi condenado ou se assume como culpado, esta amnistia acaba por cobrir todos e ninguém, tanto os crimes políticos como os de sangue. Os que amanhã vierem a cometer quaisquer actos ilícitos, reclamarão os mesmos direitos que os seus antecessores tiveram, porque “para crime igual, impunidade igual”.
Quando em 1991, o ministro da agricultura de serviço resolveu impunemente aboletar-se com património do Estado e transferir o meio de transporte da coordenadora da pesquisa agrária do DEPA para o seu filho menor poder deslocar-se à escola, isto perante a completa passividade do governo, decidi abandonar a administração pública. Revoltado, expliquei a todos os agricultores e comunidades rurais com quem trabalhava, os contornos da arbitrariedade e a irreversibilidade da minha atitude. É então em Quebo que um velho Homem Grande e amigo me escuta com toda a atenção e perante a minha exaltação diz: “Nota que criaste demasiadas expectativas em relação a quem era e sempre foi medíocre. Julgaste ver o que não existia. Não te esqueças que a sombra de um pau torto nunca pode ser uma linha direita.”
Começava aí para mim, mais uma vez, uma nova vida, onde continuei a procurar viver os desafios do meu tempo. Depois do combate ao fascismo e colonialismo em Portugal, a luta pela instauração da democracia na Guiné-Bissau, a procura de caminhos alternativos ao neoliberalismo para um desenvolvimento justo e solidário e a participação no combate internacional à globalização enquanto expressão de desigualdades, exclusão e pobreza.
Na AD, a luta de uma organização que quer ser “ela própria” e não uma agência de execução de projectos ou de promoção de modas e clichés, sejam eles o ambiente, o género, a luta contra a pobreza, os desafios do milénio, etc... Colocarmo-nos lado a lado com as organizações progressistas do mundo, que se assumem com desafios de mudança, de procura de justiça social e de solidariedade entre as pessoas, povos e nações, integrando estas acções num ambicioso processo político de envolvimento dos actores locais na procura de respostas democráticas aos desafios do seu próprio desenvolvimento, na identificação de novas formas de organização do Estado que substitua o esclerosado e anacrónico aparelho herdado do colonialismo e retomado por um centralismo democrático, em tudo semelhantes.
O desenvolvimento implica ousar trilhar caminhos novos porque, no dizer do poeta, ao andar-se por caminhos já abertos e conhecidos não se perde nenhuma guerra, mas também não se ganha nada. É gratificante ter-se sido contemporâneo de um grupo de excelentes quadros que contribuíram para o surgimento e sucesso das primeiras vinte e cinco rádios e três televisões comunitárias da Guiné-Bissau que representam hoje a vanguarda neste domínio nos países africanos de expressão portuguesa; para a criação de escolas de tipo novo, designadas de verificação ambiental (EVA) em que é introduzido o princípio da prestação de serviços da escola à comunidade, a capacitação dos professores em ecopedagogia e a sua apropriação pelas populações rurais; o surgimento das primeiras associação de moradores dos bairros populares de Bissau.
Provavelmente um dos segredos do sucesso reside na capacidade de vivermos no coração das comunidades locais, tendo com elas o nosso único compromisso, sabendo identificar os seus problemas e anseios e, com eles, criar dinâmicas de apropriação de processos em que vão crescendo e amadurecendo. Este êxito decorre muito da postura de respeito, simplicidade de procedimentos e forte espírito de missão cultivado de forma natural pelos técnicos.
Outro segredo, poderá ser o facto de a imagem de eficácia resultar da não hipoteca dos resultados a discussões infindáveis e estéreis sobre procedimentos, tão do agrado dos que estão habituados a fazer o desenvolvimento a partir de manuais e computadores, menosprezando a capacidade das comunidades locais em elaborar e conceber elas próprias os seus procedimentos de análise e decisão.
Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > 20 de dezembro de 2009> Pepito, Isabel e a neta, filha da Cristina (Pepas)... Na festa de despedida do João Graça, médico e músico (que acabaca de passar duas semanas na Guiné-Bissau) e de celebração dos 37 anos de casados do... casal Silva...
Este lado mais intimista de um homem público mostra a sua faceta de pai dedicado e de avô babado... O casa tem 3 filhos e 2 netas, que por certo irão sempre honrar a memória e partilhar o melhor dos valores e do exemplo de vida do seu pai e avô. Foi ele próprio que escreveu, em julho de 2008: "Hoje as nossas duas netas, Sara e Clara, sabem que desistir é perder e recomeçar é vencer."
Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legenda: LG]
2.4. RENASCER SEMPRE
Em 1948, um ano antes de eu nascer o meu pai regressava à Guiné-Bissau, onde vivera em Farim a sua infância e, onde tal como os meus avós que lá haviam aportado no final do século XIX, se prendeu pelos encantos e tranquilidade destas paragens. Pressionado pela perseguição política da Ditadura de Salazar e desiludido com a derrota do Movimento de Unidade Democrática [MUD], procura em África aquela paz de consciência que o mundo europeu não lhe podia dar.
Com a minha mãe Clara e meus irmãos Henrique e João volta a nascer, entusiasmado com esta terra e suas gentes, tal como a família dos meus avós maternos renasceram do Gueto de Varsóvia e dos campos de concentração nazis. Saem da Polónia para Portugal para tudo começar de novo.
Já em 1966, a polícia política de Salazar prende-o no aeroporto de Lisboa acusando-o de ser membro do Partido que lutava pela independência da Guiné e Cabo verde, o PAIGC. Liberta-o cinco meses depois, impedindo-o de regressar a Bissau e obrigando-o a recomeçar uma nova vida.
No dia 24 de Setembro de 1973, em casa dos nossos camaradas caboverdianos Manuela e Sabino somos acometidos por uma alegria enorme ao ouvir na rádio BBC a notícia da declaração da Independência da Guiné-Bissau. Meio ano depois, no final da tarde do dia 25 de Abril de 1974, a Isabel e eu estávamos no cerco ao Quartel do Carmo, testemunhando a queda de 48 anos de fascismo e de quase 500 de colonialismo.
Um ano depois estamos, entusiasmados, em Bissau a começar a nossa vida. Primeiro com a Cristina, a nossa primeira filha e logo a seguir com o Ivan nascido em 1975 e a Catarina em 1980. Muitos anos depois, mais exactamente 18, o país é abalado por um violento conflito politico-militar. Os senegaleses, invasores, ocupam, pilham e destroem a nossa casa no bairro de Quelele. Somos obrigados a refugiarmo-nos em Lisboa. Quando 11 meses depois regressamos, não existe pedra sobre pedra das nossas memórias: fotografias, filmes, livros, recordações de toda a vida, haviam desaparecido.
Recomeçámos tudo mais uma vez, menos por convicção, mais por tradição. Hoje as nossas duas netas, Sara e Clara, sabem que desistir é perder e recomeçar é vencer.
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Notas do autor:
AD - Acção para o Desenvolvimento, ONG guineense
ADRAO - Associação para o Desenvolvimento da Orizicultura na África Ocidental
DEPA - Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola
Homem Grande - Sábio
Iang-iang- Movimento místico-religioso protagonizado por balantas
JAAC - Juventude Africana Amílcar Cabral
Mancarra - Amendoim
PAIGC - Partido Africano da Independência de Guiné e Cabo Verde
Tabanca - Aldeia
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Notas de L.G.:
(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12711: In Memoriam (177): Senhora Dona Maria da Graça (1922-2014), mãe do nosso editor Luís Graça
(**) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12695: (In)citações (61): Pepito, Clara, Isabel, estamos convosco! ...E fazemos votos para que o bom irã, acocorado no alto do poilão da nossa Tabanca Grande, ajude a dar força, ânimo e esperança à família Schwarz, nesta hora difícil (Luís Graça)
(***) 14 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12715: Parabéns a você (691): Senhora Dona Clara Schwarz, Grã-Tabanqueira, mãe do nosso amigo Pepito, que a partir de hoje fica a um pequeno passo do seu centenário
(****) 31 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: História de vida (12): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)31 DE JULHO DE 2008d. poste de
48 comentários:
Começa a seu penoso abrir qualquer uma das redes sociais.
Seja qualq for o meio, chegam-nos sempre noticias de factos que não terão reverso.
Desta vez foi o Pepito. Estive, apenas, uma vez com ele. Sabia que estava a almoçar com o Luis na universidade e acabei por conhecer, não só o Pepito, mas tambem o Zé Neto.
Curiosamente, neste momento, foi o primeiro e o último a partir.
Reposem em Paz, amigos. Nos por cá, enquanto nos deixarem, nos iremos lembrando de todos os que já partiram
Á familia quero deixar aqui o meu fraternal abraço e a certeza, pelo que conhecemos, que a sua passagem, por esta terra, não foi em vão.
O Pepito partiu. Fica a sua memória e a sua obra.
Amigos & Camaradas
Para mim, é mentira, Pepito ca mori.
Fiquei consternado com a informação da parte da manhã do Fortunato, pois eu ele estivemos com o Pepito 4ª feira dia 12 no Hospital Curry Cabral
Recordo com saudade este Homem amigo do seu amigo.
Apesar de sentir muitas dores 2º ele nos transmitiu, não deixou de receber-nos com o seu sorriso meigo que lhe era peculiar,dando-nos as suas dicas sobre como deveríamos proceder relativamente à ajuda humanitária que está a caminho de Bissau enviada pela Ajuda Amiga.
Despedimo-nos [ele sempre com um sorriso no seu semblante ] quando o médico apareceu para lhe dar alta tendo em vista seguir para casa para comemorar os 99 anos da Senhora sua mãe D Clara, nada fazendo prever este desfecho tão drástico tão repentinamente.
Descansa em Paz meu amigo Pepito
Á família enlutada um forte abraço de solidariedade e sentidos pêsames.
Carlos Silva
Vamos lembrar a sua vida cheia.
Vamos lembrar o homem Grande que acreditou sempre no seu povo e na transformação da sua terra.
Vamos sempre lembrar o seu riso franco e a sua capacidade de lutar contra a diversidade.
O Carlos Silva diz Pepito ca mori.
Tem toda a razão ele é dos que não morrem pois deixam viva a sua obra.
Há família enlutada, amigos e seu povo, deixo os meus mais sinceros sentimentos por esta grande perda
Transcrição da notícia no sítio AD - Acção para o Desenvolvimengto:
18 fev 2014 > O Pepito deixou-nos hoje
Faleceu hoje, vítima de doença, o fundador, inspirador e Diretor Executivo da AD, Carlos Augusto Schwarz da Silva, o nosso Pepito, o Pepito dos guineenses e do mundo.
Viveu e lutou pelos seus ideais, princípios e valores. Viveu e morreu como um ser livre.
Nunca pediu ou exigiu nada em troca, mas deu tudo o que tinha ao seu povo, tudo o que, como ser humano, teve: inteligência, brio, força de trabalho e generosidade. Defendeu e combateu, sempre e em todas as circunstâncias, quaisquer compromissos políticos ou outros que pudessem pôr em causa o compromisso que assumiu, livremente, com o seu povo.
Deixa-nos um legado imenso e impar.
A Isabel, sua esposa e companheira de sempre, a Pepas, Ivan e Catarina, seus filhos e aos outros membros da sua família apresentamos as nossas condolências e unimo-nos na sua dor.
O Pepito viverá sempre.
A família da AD
http://www.adbissau.org/o-pepito-deixou-nos-hoje
A familia do Pepito apresento os meus sinceros pêsames, a todos os seus amigos mais chegados o meu abraço solidário nesta hora triste.
Obrigado Pepito por teres feito parte desta familia também.
César Dias
Não sei que diga.
Não conheço os familiares, mas se este for meio adequado para exprimir os meus sentimentos, daqui os envio com todo o sentimento.
Recordarei sempre as peripécias da nossa viagem de jeep, em 1999, com ele a conduzir, desde Bissau até Varela e a despedida que nos fez na manhã seguinte, muito cedo, junto à fronteira com o Senegal (Casamança), quando partimos a caminho de Dakar. Retenho aquele sorriso entre doce e trocista no momento de dizer adeus.
Adeus, Eng. Schwartz.
Aberto Branquinho
Carlos Fortunato
18 fev 204 14:15
É sempre com tristeza que vemos partir grandes homens, como é o caso do Carlos Schwarz Silva, mais conhecido por "Pepito", que faleceu hoje dia 18-02-2014 no Hospital Curry Cabral.
A Guiné-Bissau fica mais pobre, com esta inesperada partida.
O Pepito foi sempre um homem com H grande, pela sua coragem, pela sua honestidade, pela sua amizade, pela sua lealdade, pelo seu empenho em ajudar os mais desfavorecidos, mas a sua grande obra, a criação da ONG AD, e o trabalho desenvolvido à frente da mesma como seu Diretor Executivo, falam por si, e por tudo isto, ele continuará a viver para sempre na memória dos seus amigos portuguesas, e guineenses.
As sentidas condolências a toda a sua família.
Anabela Pires
18 fev 2014 15:11
O povo da Guiné-Bissau perdeu hoje um dos seus enormes Homens
É com grande consternação que vos digo que o Pepito (Carlos Schwarz) faleceu hoje em Lisboa. Quem teve a oportunidade, ainda que por pouco tempo, de com ele ter trabalhado sabe a falta que fará ao povo da Guiné-Bissau. A visão que tinha do desenvolvimento do país, os projetos que buscava para o apoiar, a forma como os dirigia, o profundo conhecimento do seu povo e a forma frontal como com ele lidava, fez dele um líder tamanho. E triste é ele não ter visto o seu país virar a actual página - como ele o desejava. Que descanse em paz e que fique na memória e no coração daqueles que o conheceram.
Camaradas e Amigos: Não tive a oportunidade de privar com o Pepito, mas Gadamael juntou-nos no interesse pela criação do seu Núcleo Museológico. O entusiasmo que emanava das suas palavras apenas rivalizava com a força das suas ideias e o dinamismo da sua Ação… “Os Homens passam, mas a Obra fica” … mas o Pepito, por certo, não passa da memória dos amigos, dos conterrâneos, do seu povo a quem tinha feito a entrega de uma vida! … À família os meus sentidos pêsames e um grande abraço de solidariedade à AD. – Manuel Vaz
Prestei-lhe a minha homenagem na minha página pessoal no Facebook.
"A Guiné-Bissau perdeu um homem sério.
Acabo de saber que faleceu hoje, no Hospital Curry Cabral, Carlos Schwarz Silva.
Todos o conheciam por Pepito.
Era Director Executivo da ONG guineense AD - Acção para o Desenvolvimento.
Um homem de grande respeitabilidade, por todos estimado e considerado.
Os déspotas guineenses perderam um adversário.
O povo da Guiné-Bissau perdeu um homem que ao seu bem estar consagrou a vida.
Os portugueses perderam um amigo.
Muitos dos que pela Guiné passaram como militares, viram desaparecer quem trabalhou para manter vivos os laços entre os dois lados, e para manter viva a memória histórica e cultural."
armando pires
A Familia enlutada os meus respeitosos sentimentos.
Que descanse em paz este nosso
Amigo.
vasco santos
Embora não o tenha conhecido, este grande senhor faz parte da minha vida, porque nos une GUILE(D)JE...
Parte o Homem fica a sua Obra e a sua Memória...Adeus
Que descanse em paz.
Vai fazer muita falta à Guiné.
As minhas condolências aos familiares e restantes amigos.
Adriano Moreira
Eduardo Costa Dias
18 fev 2014 19:03
Caras amigas e caros amigos
Como as más noticias se propagam como o fogo na savana seca, muitos de vocês já estarão ao corrente. O nosso amigo Carlos Schwarz morreu esta manhã no Hospital Curry Cabral.
Tendo-se deslocado a Lisboa para estar junto da mãe, a Dra Clara Schwarz, na comemoração do seu 99º aniversario, o Carlos, desde há cerca de 15 dias, não fez outra coisa do que andar de exame em exame médico, afectado por uma doença maldosa que, num tempo relâmpago, hoje o tirou do nosso convívio.
Sobre os múltiplos combates e empenhos pela Guiné-Bissau que, nos últimos 40 anos, o Carlos Schwarz travou e promoveu - como militante da JAC, fundador e Director do DEPA, Director executivo da AD e mais recentemente grande dinamizador do Memorial do Cacheu - outros falarão.
Quero, contudo, deixar o testemunho de uma faceta, por antiga, mais esquecida. O Carlos Schwarz, no seu tempo de estudante do Instituto Superior de Agronomia, foi um importante dirigente associativo. Carlos Schwarz teve um papel destacado nas várias frentes em que o movimento associativo se desdobrou nos últimos anos da ditadura, incluindo na frente política, a frente do combate ao fascismo e ao colonialismo.
Como inúmeras vezes ele próprio o disse, foi daqui, da sua experiência de "associativo", que em boa parte tirou fôlego para os combates pela Guiné-Bissau e pela melhoria das condições de vida dos guineenses.
É desses já longínquos finais dos anos 1960-princípios dos anos 1970 que vem a minha amizade com a Isabel Levi Ribeiro e o Carlos Schwraz. Camaradas leais, amigos fixes, de uma vida.
Hoje, como provavelmente a outros amigos e amigas, a primeiro coisa que me veio à cabeça foi: Ouve lá, Schwarz, não te vás embora assim sem mais nem menos!
Até sempre camarada1
Ps - O funeral do Carlos Schwarz realiza-se amanhã à tarde, às 16:00 h., no cemitério da Barcarena,
Camaradas
Ninguém é eterno! Mas há partidas que deixam enormes vazios. O Pepito, que conheço virtualmente do nosso blogue, vi sempre nele um guineense aprumado, dedicado e interessado pelo chão que o viu nascer.
A notícia, triste e infeliz, deixou-me consternado. É hora de endossar os meus sentidos pêsames à família e amigos enlutados.
Resta honrar eternamente a sua memória.
Até logo, Pepito
Paz à sua alma.
À sua família e aos seus amigos o meu abraço forte e amigo.
Joaquim Mexia Alves
1. Teresa Almeida
Data: 18 de Fevereiro de 2014 às 15:35
Assunto: MENSAGEM
Para: carlos.vinhal@gmail.com
Boa Tarde meu Estimado Combatente Carlos Vinhal
Acabei de ler que faleceu hoje em Lisboa o Eng.º Carlos Schwarz (PEPITO) Eu sei que estava internado em Lisboa, mas não pensava que era assim tão grave. EU NÃO ACREDITO, MESMO QUE SE CONFIRME. Não tenho palavras. Falei várias vezes com ele, foi ele que ofereceu a esta Biblioteca os Livros escritos pelo Pai. A Mãe fez agora os 99 anos. Estou e vou ficar destroçada pelo falecimento deste Grande Homem. Faz falta. Vai fazer falta.
Um abraço muito amigo
Teresa Almeida
2. Carlos Esteves Vinhal
Data: 18 de Fevereiro de 2014 às 19:56
Assunto: Fwd: MENSAGEM
Cara amiga Teresa Almeida
A realidade é muito dura. O amigo Pepito morreu mesmo. Perde-se um grande homem da Guiné-Bissau, alguém que enfrentava tudo e todos para levar até ao fim os seus ideais de ser útil ao sacrificado povo do seu país. Podia estar em Portugal a usufruir de todo o conforto e segurança, mas preferiu estar onde fazia mais falta.
Consulte o nosso Blogue. O Luís já lhe dedicou um poste.
Clique aqui: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2014/02/guine-6374-p12738-in-memoriam-178.html
Receba um abraço
Carlos
Infelizmente estas coisas acontecem.
Conheci-o vagamente na visita que fiz à Guiné, aquando do anúncio de duas novas emissoras de rádio por parte da AD, e mostrava-se feliz no meio da sua gente, durante a cerimónia simples à sombra das árvores, onde se reunião famílias e gerações.
O Pepito viveu outra vida dieferente da nossa, mas que certamente lhe deu grandes razões de realização pessoal recheada das alegrias simples, que só os simples conseguem alcançar.
À sua Mãe apresento os meus sentimentos
JD
Pepito, amigo que conheci no ISA, na Associação de Estudantes de Agronomia, combatente, totalmente identificado com valores, princípios e entrega às causas da liberdade, em particular a da Guiné, seu país, onde mais tarde, na Guiné Bissau o encontrei, primeiro no DEPA e depois na AD, e recordo hoje, numa hora triste, como sempre recolhi, da sua presença o exemplo na determinação de fazer, de estudar, de caminhar com objectivos, de não desistir, de acreditar...tudo enraizado num projecto de amor à Guiné Bissau e ao seu povo...por isso "Pepito",os teus ensinamentos são a tua vida, o teu exemplo...por isso te recordo e sei, sabemos...que sempre viverás...um abraço a todos os teus
1. Patrício Ribeiro
18 fev 2014 21:02
Carlos.vinhal, Luís, Rosinha
Lá em casa, no Bairro do Quelelé.
Estamos reunidos mais de 200 amigos, desde a hora da triste noticia, a ouvir os cânticos do grupo coral da AD, no "silêncio" dos choros e gritos de tristeza.
Um choque muito grande para as pessoas em Bissau.
Ele tinha reuniões marcadas para os próximos dias.
São mais de 25 anos de amizade.
Um abraço, de tristeza
Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
2. Comentário de Carlos Vinhal
É mesmo, caro amigo Patrício Ribeiro.
Dizia-me há dias um camarada e amigo, muito próximo do Pepito: Vamos lá ver como vai ser com a AD se o Pepito faltar. E faltou mesmo. Pode ser que a máquina esteja oleada e não sinta muito a falta dele.
Segue um abraço e os votos de excelente saúde.
Carlos
Patrício Ribeiro
18 fev 2014 13h22
Caro Carlos.
As más noticias correm de pressa ...
Lá vai mais um amigo, um tabanqueiro, o Pepito...
Parte depois de uma grande obra na Guiné.
Esta manhã no hospital em Lisboa.
Estamos em Bissau todos muito chocados.
Um abraço.
Patricio Ribeiro
Homem de ação, mas também de pensamento, de valores, de sensibilidade e de companheirismo, amigo do seu amigo nos bons e nos momentops...
Ainda há um mês atrás o Pepito se tinha despedido do seu amigo Elísio, de Cabo Verde, nestes termos, tocantes, e que qualquer um dos seus amigos pdoeria escrever sobre ele, Pepito, neste dia em que nos deixa... São palavras de uma granmde nobreza de alma, que merecem ser aqui reproduzidas!... LG
_________________
Amigo Elísio, que os rápidos do Corubal te acompanhem sempre
11 Jan 2014
Deixaste-nos muito cedo e ainda havia tanto para fazer.
Guardo de ti a imagem forte de um combatente de convicções, determinado a vencer todas as dificuldades e fiel aos princípios políticos que sempre escolheste como teus.
Lembro-me do acompanhamento extraordinário que me reservaste na Praia quando em 1998 fui obrigado a sair de Bissau devido à guerra e me acompanhaste dia a dia, sempre preocupado para que nada me faltasse e dando-me a coragem que eu tanto precisava na altura.
Os combates que as nossas duas ONG travaram, a abertura da vossa rádio comunitária e tantos momentos que não esquecerei.
O convívio em Coli, ilha no meio do rio Corubal, onde acampámos e conversámos longas horas, agradavelmente, enquanto as águas dos rápidos corriam para a foz. Até adormecermos.
Hoje, resta-me recordar para sempre o valor da companhia que tu me fizeste, eu que não te sabia doente e que por isso não te pude retribuir a força que me deste, quando dela precisei.
À Dª Lina, tua mulher, aos teus filhos Hélida e Mário, aos teus camaradas de trabalho Avelino, Olívia, Jacinto Santos e Dionísio Pereira, envio os meus sentimentos de tristeza e da minha mulher Isabel, certos que continuaremos a comungar as ideias porque sempre te bateste.
Adeus meu amigo de todas as horas, de Cabo Verde.
Pepito
Sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento
http://www.adbissau.org/amigo-elisio-que-os-rapidos-do-corubal-te-acompanhem-sempre
Nestas ocasiões, quando se toma conhecimento assim de chofre com estas notícias, fica-se um pouco atordoado.
Pepito.
Depois de muitas lutas, canseiras e batalhas, acabas de perder a última guerra que travavas com a doença.
Agora descansas em paz.
A vida é efémera.
Uns despedem-se dela mais cedo do que outros. Mas todos seguirão o seu dia.
Para toda a Família as minhas sentidas condolências.
JPicado
Não conheci pessoalmente Pepito, mas mantivemos algum contato via telemóvel e da sua parte sempre houve um relacionamento cordial.
É perfeito o coração que soube esconder as suas lágrimas de quem lhes fez chorar.
Quer os nossos esforços sejam mais ou menos favorecidos pela vida, é necessário, quando nos aproximamos do seu termo, ter o direito de dizer "fiz o que pude."
à viúva Isabel e restante família, envio os meus sentidos pêsames.
Arménio Estorninho
Paz à sua alma!
As minhas condolências à Família, aos amigos, ao povo da Guiné
Felismina mealha
Reproduzido com a devida vénia do sítio da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH)
____________________
18 de Fevereiro de 2014
DESAPARECIMENTO FISICO DE ENG. CARLOS SCHWARZ: NOTA DE CONDOLÊNCIA
Foi com a profunda consternação que a Liga Guineense dos Direitos Humanos tomou conhecimento da morte de Eng. Carlos Schwarz, Ex-Ministro de Transportes do Governo de Unidade Nacional e membro fundador da ONG Accção para o Desenvolvimento.
O malogrado que no dia 18 de Fevereiro de 2014, deixou por força de destino, o mundo dos vivos, foi uma figura incontornável e que fazia parte de um leque reduzido de referências positivas da sociedade guineense.
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Engenheiro Pepito como é vulgarmente conhecido, marcou a história recente do país com a sua visão de desenvolvimento, criatividade e dinâmica de inovação, através das quais, empreendeu mudanças efectivas na sociedade guineese, um pouco por todo o país, de norte ao sul e de centro às ilhas.
Enquanto um verdadeiro agente do desenvolvimento e inconformado com o rumo que a sua terra natal tem seguido, Eng. Carlos Schwarz lutou até ao seu desaparecimento físico para inverter o curso dos acontecimentos. Ao longo do seu intenso percurso de vida Pepito foi um cidadão empenhado na defesa da democracia, da liberdade, associado ao seu profundo apego à Justiça e à dignidade da pessoa humana.
Igualmente, com a sua determinação e patriotismo inspirou a nova geração de quadros e contribuiu de forma ímpar para a valorização dos recursos naturais e desenvolvimento sustentável das comunidades locais.
Neste momento de dôr e de angústia, a LGDH apresenta as suas mais sentidas condolências à familia enlutada, à AD e ao povo guineense, pela perda de um homem que sempre fez da sua vida, um instrumento para o desenvolvimento da sociedade a que pertencia.
Que a sua alma descance em paz e na Glória para sempre!
Feito em Bissau aos 18 dias do mês de Fevereiro de 2014
A Direcção Nacional
http://www.lgdh.org/2014/02/desaparecimento-fisico-de-eng-carlos.html
O conhecimento que tive desta nobre pessoa, das suas capacidades de ouvir e fazer-se ouvir, vieram apenas dos escritos que fui lendo ao longo do tempo. Pela obra realizada e pelo muito que poderia vir a realizar, fica-se completamente atordoado com a notícia do seu falecimento. Não dá para entender, como essa obscura e tétrica morte, não tenha um compasso de espera para com aqueles que devem ficar entre nós, pela falta que fazem. A todos os familiares directos e a todos(muitos) amigos que com ele partilharam tamanha obra, apresento o meu respeito e condolências. Para o Carlos Schwarz (Pepito), o meu desejo de um eterno descanso. Ninguém o esquecerá por certo.
Foi com enorme tristeza, que tive conhecimento da morte de Pepito. Confesso, que não o conheci pessoalmente, mas através do nosso Blogue, fui acompanhando a actividade do Pepito, nas suas acções, em prol da "nossa" Guiné-Bissau e por tudo o que li sobre ele, julgo que o conhecia, sem o conhecer, porque era um ser humano, que devido ás suas características de Homem, entram nas nossas vidas e parece que o conhecia e convivia com ele á muito tempo. Dei os parabéns á Srº D. Clara e nunca me passou pela cabeça, que quatro dias depois estaria a dar á Família Schwarz, os meus sentidos pêsames. Paz á Sua Alma e que tenha o Eterno Descanso.
As minhas desculpas, mas o comentário anterior (Anónimo) é da minha autoria. Desculpem o lapso da falta de identificação, que não é meu timbre.
João Paulo Diniz
18 fev 2014 23:07 (
Triste pela info do falecimento do nosso Pepito.
Que repouse em Paz!
Soube agora e ainda não consigo acreditar que o grande Amigo se foi. Tristeza só. Ficam as memorias dos tempos desde os anos 80 em Caboxanque, Contubuel e Varela. Os meus sinceros pesames para Isabela, Pepas, Ivan e Catarina.
Marco Forster (no Brasil), mf@ecopsis.com
Não sei se há mais palavras do que aquelas que vão estando por aqui para referir este infeliz acontecimento.
Eu não tenho.
Tenho sim, a sensação de perda.
De perda de um amigo, de um exemplo de perseverança, de determinação, de um 'motor' sempre a funcionar com o objectivo de querer mais e melhor para o povo da Guiné.
Tenho, também a esperança que a sua morte não seja em vão. Que o seu trabalho e exemplo frutifiquem. Que as gentes da AD não desanimem. Que o trabalho tenha ganho consistência suficiente para agora seguir sem o Pepito mas podendo tê-lo como "bandeira".
Aos familiares, os meus sentidos pêsames.
Hélder Sousa
Manuel Joaquim através de Tabanca Grande Luís Graça, nossa página no Facebook;
Morreu o Pepito! ( engº agr. Carlos Schwartz da Silva). Estou desolado com esta notícia. Morreu alguém que eu muito admirava e que foi um extraordinário exemplo de cidadania, de dedicação e dádiva em prol do desenvolvimento do seu povo.
A Guiné-Bissau perdeu um dos seus cidadãos que mais falta lhe fará; ficou muito mais pobre. Diz o meu amigo Luís Graça no seu blogue: "Há seres humanos que são insubstituíveis nas equipas, organizações e comunidades a que pertencem. A morte, precoce, do Pepito vai-nos deixar um vazio difícil de preencher".
Até sempre, meu caro Pepito!
Para a Família, Amigos e Guiné, um
Abraço de profunda mágoa e de enorme solidariedade!
J.Cabral
marques de almeida Almeida
19 fev 2014 11:58
os meus sinceros pesamos para a família enlutada um abraço fraterno e solidário.
marques d'almeida
marques de almeida Almeida
19 fev 2014 11:58
os meus sinceros pesamos para a família enlutada um abraço fraterno e solidário.
marques d'almeida
Que, onde estiver, descanse em paz.
Depois de ler todos estes testemunhos, também fico chorando a sua morte.
Os mais sinceros pêsames para toda a sua família.
Tony Borie.
Chove em nós
Já não são os nossos avós: são os pais. Depois do pai da Xana, um cinquentão saudável e charmoso ter morrido no balneário do seu ginásio, da mãe da Rosa aos 51 anos ter sucumbido a um AVC, desta feita foi o pai da Catarina,
Morreu para muitos um homem importante. Um ícone da Guiné-Bissau.
Acho que não conheço muita gente que tenha conhecido heróis. Talvez, a Calinhas, avó da Catarina, que conheceu Fernando Pessoa e tem um livro autografado por ele. Fico sem fólego de cada vez que me lembro disto. Mas eu falo de heróis vivos, pessoas reais, que vestem calças de ganga e usam cachecóis do Sporting quando assistem aos jogos directamente do sofá. Eu conheci.
Conhecer o Pepito, era conhecer um herói.
Casou-se à revelia dos pais e, assim que nasceu a primeira filha, a família aterrou numa Bissau recém-independente, de onde era natural e onde queria mudar o (seu) mundo. Foi o pai da reforma agrária na Guiné, um político social por vocação e o maior impulsionador do desenvolvimento comunitário daquele país. Não queria dar peixe às pessoas mas ensiná-las a pescar. Não queria substituí-las, queria dar-lhes ferramentas. De Norte a Sul da Guiné, tabanca a tabanca, toda a gente sabia quem era o Pepito, o branco mais preto de que há memória. Viu-lhe ser pilhada a casa e a vida mil vezes e voltou a erguer tijolos, mobílias e a dignidade mil e uma. Dizia que "desistir é perder, recomeçar é vencer". Recusava ser comparado com o Che Guevara afirmando que "Morrer pela revolução é fácil, viver pela revolução é que é difícil". Ele viveu.
Morreu para muitos um homem importante. Um ícone da Guiné-Bissau.
Para nós morreu o Sr. Carlos, o Pepiro, o filho da Calinhas, o marido da Isabel, o pai da Pepas, do Ivan e, especialmente, o pai da Catarina. O pai de um de nós.
Sentiremos a falta do seu sorriso franco de cada vez que nos recebia em Oeiras ou em São Martinho, das histórias da Guiné e do ar embevecido quando ficava criança outra vez só por brincar com a neta com quem dançava música africana e embalava em crioulo. Sentiremos falta do tom propositadamente sério para nos intimidar, do porte de gigante e dos olhos vivos de cada vez que se falava do Sporting. Sentiremos falta da sua presença no quintal com vista para a baía em almoçaradas cheias de gentes vindas de todos os lados do Mundo com quem acabávamos por confraternizar porque a sua casa era como o seu coração: aberta a quem viesse por bem.
Hoje não chove lá fora mas chove em nós. Morreu para muitos um homem importante.Para nós morreu o único herói que conhecemos e, mais importante que tudo, morreu um pai. O pai de um de nós.
(Um beijo, Catarina. Gostamos tanto mas tanto de ti.)
Amigos e Camaradas
Associo-me a todos vós neste coro de dor e homenagem, na partida para o Além do Senhor Carlos Schwarz da Silva, nosso amigo Pepito, Homem Grande,que nos deixa um legado de grande valor, no seu saber e no seu exemplo de dedicação e serviço a favor do seu povo e da Guiné Bissau.
As minhas sentidas condolências à sua família e ao seus amigos.
A sua partida é um recomeçar de novo, na nova Vida da definitiva Pátria.
Um abraço de coragem para seguir em frente
JLFernandes
Idálio Reis
A efemeridade da vida. Aos 64 anos de idade, o Pepito deixou-mos mais sós. Morre ainda relativamente novo. A irreparável distanciação do nosso seio, é uma terrível notícia. Abrupta, agrilhoa contundentemente na pungência da dor.
Num ápice, uma folha de Outono tomba para sempre. Somos nada, perante tamanhas adversidades, e que nos espreitam e avassalam a todo o momento.
Com um itinerário técnico doado ao serviço de um dos PALOPs, à pobreza da Guiné-Bissau deixa-he um imenso hiato, uma ferida que os choros das suas tabancas não sara. Quanta falta para um pobre povo, porquanto a dádiva do clã Pepito é particularmente difícil em encontrar igualha. A sua dedicação à terra que o viu nascer, nas condições que todos nós antevemos, é exemplo raro de uma nobre causa, que só um homem de ímpares e altruísticas qualidades consegue sobrepujar.
O nosso Blogue, também fica mais pobre, pois a perda de um indefectível amigo é sempre uma fatalidade pesarosa.
O Pepito, de todo, não conseguiu resistir. Talvez, neste dia de o homenagear mais sentidamente, o do seu definitivo adeus, um turbilhão de sentimentos e comoções mais transparece nas preces que lhe endereçamos. Curvando-me em silêncio à perenidade da sua memória, cai furtivamente uma lágrima de uma profunda saudade.
À sua família, os meus sentidos pêsames. Até sempre grande Pepito. O teu amigo, Idálio Reis
José Rocha
19 fev 2014 21:42
Caro Luis
Lamento profundamente o falecimento do PEPITO.
Foi graças a ti que o conheci em 2008.
Homem preocupado com o seu País. Empenhado no seu desenvolvimento. Preocupado com o bem estar dos seus compatriotas.
A Guiné perdeu um Grande Filho, que tão cedo se partiu.
Não o esquecerei!
Para ti, que com ele conviveste de perto, os meus sentimentos de pesar.
Um abraço solidário.
José Rocha
O Público publica artigo da jornalista Catarina Gomes (a mesma do dossiè "Filhos do Vento") sobre o nosso querido amigo e grã-tabanqueiro Pepito... Com foto cedida pelo nosso blogue...
http://www.publico.pt/mundo/noticia/morreu-carlos-schwarz-da-silva-1624315
Um homem em luta contra “a sombra de um pau torto”
CATARINA GOMES 13:25
Carlos Schwarz da Silva, Pepito, como era conhecido na Guiné-Bissau, viveu uma vida feita de recomeços. (...)
Notícia da agência Lusa...
LG
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Morreu o guineense Carlos Schwarz, diretor da Ação para Desenvolvimento
Lusa
18 Fev, 2014, 18:35
O guineense Carlos Schwarz, diretor executivo da Ação para Desenvolvimento (AD), morreu hoje, em Lisboa, segundo noticia a própria organização não-governamental, na sua página na internet.
Mais conhecido como "Pepito", nascido em 1949, Carlos Schwarz foi deputado à Assembleia Nacional e ministro do Equipamento Social no governo de unidade nacional guineense, após o conflito político-militar de 1998/99.
Nos primeiros anos da independência da Guiné, foi coordenador do DEPA (Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola), instituição do Ministério da Agricultura, que promoveu as boas práticas agrícolas junto da população camponesa.
Engenheiro agrónomo de formação, "Pepito" fundou a AD para combater a fome e promover a cidadania e o desenvolvimento, sobretudo das populações mais rurais.
Neto de judeus polacos que sobreviveram ao gueto de Varsóvia e filho de um jurista guineense nacionalista preso pela polícia política do Estado Novo (PIDE), Carlos Schwarz era também um dinamizador cultural, tendo fundado rádios comunitárias, em cujos estúdios descobriu e gravou novos talentos musicais guineenses, e também a inovadora (para a região) televisão comunitária de Klelé, nome de um dos bairros de Bissau.
"Viveu e lutou pelos seus ideais, princípios e valores. Viveu e morreu como um ser livre", assinala a organização que fundou, que considera "imenso e ímpar" o seu legado.
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=717807&tm=7&layout=121&visual=49
O Expresso também publicou a notícia da Lusa:
http://expresso.sapo.pt/morreu-o-guineense-carlos-schwarz-diretor-da-acao-para-desenvolvimento=f856661
Isabel Levy
23 fev 2014 10:51
Olá Luis
tenho acompanhado o teu blog e as palavras amigas de quantos admiravam e gostavam do Pepito. Através de ti envio um abraço imenso para todos eles
um beijinho
isabel
Querida Isabel:
"Pepito ca mori"... Metaforicamente, é verdade, o Pepito não morreu, porque não pode morrer, faz-nos falta... Psicológica e culturalmente, isso ajuda-nos a fazer o luto... É a nossa maneira, africana e judaico-cristã de fazer o luto...
Quando se perde alguém que nos é muito querido (ou algo que, para nós é/era muito valioso), passamos por um processo de “luto” que pode ter, em geral, cinco fases, que não são lineares nem necessariamente lógicas e cronológicas:
(i) negação: é a primeira fase do luto, a primeira reação perante a perda, que não aceitamos racionalmente. “É impossível, não acredito”. O sofrimento causado por tal perda seria tão devastador, que nos leva a denegar, a recusar a realidade.
(ii) raiva: continuamos a não aceitar a perda, mesmo quando consumada…Sentimentos contraditórios de raiva e de inveja assalta-nos… Rejeitamos os pêsamos e as palavras de conforto dos outros. Mesmo quando se é crente, invetiva-se Deus: “Porquê eu, meu Deus!?”
(iii) negociação: começamos a ponderar a “hipótese da perda”… Se isso aconteceu mesmo, vou negociar, com Deus,com Jeová, com Alá, com o Irã ou com uma qualquer força superior que regula a vida dos seres humanos e do universo. Faço promessas ou sacrifícios para que tal não seja verdade…
(iv) depressão: acaba por surgir quando eu tomo consciência da realidade: a morte, a perda é inevitável, inexorável, inelutável. Uma profunda tristeza e angústia apodera-se de mim. Há uma vazio existencial. “Nunca mais te verei”… meu pai, minha mãe, meu marido, minha esposa, meu filho, minha filha, meu amigo, a “coisa amada”, o “objeto perdido”… Com o desaparecimento físico da pessoa (ou objeto), passo a sobrevalorizar as memórias a ela/ele associadas… As fotos, os vídeos, as cartas, as roupas, as palavras...
(v) aceitação: por fim, vem (ou deve vir, para que o luto não seja patológico) a aceitação da perda. “Morreu, mas morreu em paz, sem dor, com serenidade, com dignidade… E isso consola-me”… "Morreu, mas foi um grande exemplo para todos nós"... Prenchemos deste modo o tremendo vazio da perda. Aqui é muito importante o “suporte social”, o apoio dos outros, os ritos, as cerimónias… A “cerimónia do choro”, na Guiné, tem como objetivo levar à aceitação (racional, emocional e social) da morte ou da perda de alguém que nos é/era muito querido…
Este processo foi descrito e tipificado pela primeira vez pela “senhora morte”, Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004) (“On Death and Dying”, New York, 1969).
A família, os amigos, os colaboradores da AD vão ter que fazer o luto pela morte do Pepito... E a melhor maneira é celebrar, falando dele, do seu exemplo, da sua vida, da sua obra, dos seus sonhos e projetos, dando-lhes continuidade, se possível.
Um xicoração apertado. Luís, Alice, Joana e João
Jorge Camilo Handem jorgito.handem@gmail.com
24 fev 2014 10:56 (há 1 hora)
Bom dia Luís Graça,
Obrigado pela mensagem, é neste momento que precisamos de pessoas amigas.
Um forte Abraço da Família AD
Jorge Handem
Director de programas de formação da ONG AD
Maria Arminda Santos
20/02/2014
Migo Luis Graça.
Agradeço as notícias sobre o falecimento dos dois camarigos da Tabanca Grande.
Envio às suas famílias as minhas condolências e o eterno descanso para os seus familiares, nossos camaradas; o Pepito e o Major Fernando Brito.
Com os melhores cumprimentos,
Mª Arminda Santos.
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