quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17902: (D)o outro lado do combate (12): Amílcar Cabral e Sékou Touré, em setembro de 1972: alianças e dependências... Dos desertores do PAIGC à recolha de fundos... (Luís Graça)


Amílcar Cabral, secretário geral do PAIGC > c. 1970 > Foto  incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe, editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... A primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.


Comentários do nosso editor aos postes P17898, P17480 e P17537 (*) 


I. Jorge, também se escreve nas entrelinhas ... E até Deus escreve por linhas tortas, segundo a sabedoria popular. Pois, devo dizer-te que do teu paciente e valioso trabalho de leitor e analista da papelada do Amílcar Cabra (AC),  retive duas ideias: o PAIGC tinha problemas comuns com os governos de Salazar e, depois, de Caetano:

(i) a falta de efetivos era dramática e o nº de "refractários, faltosos e desertores" tirava-lhe o sono;

e, por outro lado, (ii) o patacão que não chegava para tudo, muito menos para "alimentar o ventre da guerra"...

Ambos os atores principais desta guerra tinham problemas demográficos, logísticos e orçamentais, o que é normal em todas as guerras... (Daí que todas as guerras têm um princípio, meio e fim,  mesmo a guerra dos cem anos...)..

Em relação ao primeiro ponto, leia-se com atenção uma das propostas que o AC faz ao seu anfitrião, Sekou Touré (ST):

(...) "Em cooperação com as autoridades locais, a JRDA [Juventude da Revolução Democrática Africana] e a Milícia Popular guineense [organização a quem foi oficialmente atribuído, a partir de 1969, um papel equivalente ao exército], recuperação imediata dos combatentes [do PAIGC] que desertaram [sic] da frente para se refugiarem na República da Guiné Conacri (Cadinhá, Djabada, Kanfrandi, Boké, Boffa, Koba, Conacri, Koundara, Gaoual, etc.). O seu retorno imediato às frentes da luta para serem reintegrados nas nossas Forças Armadas." (...)

O AC não escamoteia o problema: o PAIGC tem desertores e não são poucos, diluídos entre a população refugiada, em diversas prefeituras do território vizinho, mais próximas (são referidas explicitamente nove!)...

Não temos números sobre a "deserção" nas fileiras do PAIGC... Mas o problema devia ser "sério", senão mesmo "grave"...

Sabemos que o PAIGC, como no caso de outros movimentos revolucionários em África e por todo o mundo, não podia contar "só" com a militância política, o idealismo e a generosidade dos jovens, o sentimento anti-colonialista do povo, a consciência nacionalista, etc. Tinha que fazer uso de métodos menos "ortodoxos" como o recrutamento forçado, a coação, o rapto, a violência...

O AC não era ingénuo, conhecia bem a realidade da Guiné e de África...

Por outro lado, a vida no mato era duríssima (tanto para as populações sob controlo do PAIGC como para a guerrilha), havia uma refeição por dia, quando havia, as "barracas" (acampamentos do mato) não tinham estruturas fixas, as baixas eram elevadas, os cuidados médicos e de enfermagem muito precários, não havia hospitais no interior da Guiné, apenas "postos de primeiros socorros" na melhor das hipóteses, os feridos e os doentes levavam vários dias a chegar à Guiné-Conacri ou ao Senegal, a guerra prolongava-se sem fim à vista, o moral era necessariamente baixo...

Um homem insuspeito, que combateu ferozmente o PAIGC, como Alpoim Calvão, fez, em tempos, antes de morrer, numa entrevista que deu, uma implícita homenagem ao guerrilheiro do PAIGC que, embora melhor adaptado ao terreno do que os soldados metropolitanos portugueses, era frugal, combativo e sobretudo revelava uma grande capacidade de resiliência, resistência, sofrimento... (Os "meus homens", fulas, da CCAÇ 12, "desarranchados", levavam para dois dias de operações no mato duas mãos cheias de arroz cozido, embrulhado num lenço; nós, os graduados, metropolitanos, tínhamos direito a duas "malditas" rações de combate que, com o tempo e a experiência,. ficavam no quartel em Bambadinca...).

Jorge, um dia destes tens que pegar de novo  neste tema... que tem a sua "delicadeza". Ninguém gosta de falar de desertores, mas a verdade é também os incentivávamos a entregar as suas armas nos nossos quartéis... Não sei se a campanha foi frutuosa, mas houve casos.... Tu estiveste no Enxalé, e sabes do que falo: no teu tempo acolheram-se lá dezenas e dezenas de "refugiados", vindos do "mato"...

Enfim, há muitos mitos, de um lado e do outro do combate. Nós, que já não somos "meninos de coro" (, ou será que ainda os há ?), temos a obrigação de identificar e desvendar esses mitos... Por uma razão simples: é também a nossa história e a história não se faz com historietas da carochinha...


II. Para colmatar as "brechas" nas fileiras do PAIGC, e já que o recrutamento no interior da Guiné, passados os primeiros anos, deixou de ser possível, a base demográfica do PAIGC era cada vez mais restrita, circunscrevendo-se aos núcleos de população "refugiada" nos países vizinhos (Guiné-Conacri e Senegal)... e, em muito menor escala, em Cabo Verde (onde o PAIGC foi buscar sobretudo quadros, bons quadros, de resto).


Daí a explicação para este pedido, algo insólito, ao Sékou Touré:

(...) "Permissão para o recrutamento de jovens (de 17 aos 25 anos), cidadãos imigrantes do nosso país ou descendentes de imigrantes na República da Guiné Conacri.

a) – Concentração destes recrutas em Conacri.

b) – Formação acelerada, em Kindia, no campo de treino da OUA [Organização da Unidade Africana] (...) . A formação dos recrutas visa a sua integração nas frentes da luta." (...).

Kindia fica  a cerca de 130 km a nordeste de Conacri e já era então uma importante base militar da Guiné-Conacri. Era, pois, para lá que eram encaminhados os jovens guineenses da "diáspora", apanhados pelo recrutadores do PAIGC (,seguramente com a cobertura das autoridades da Guiné-Conacri). Temos que admitir que uma boa parte ou até uma grande parte desses jovens recrutas não iria de livre vontade para Kindia e depois para o interior da Guiné, sabendo como se tinha intencificado a guerra, de um lado e do outro. 

Estas propostas do AC ao ST datam 14 de setembro de 1972, quase dois anos depois da invasão de Conacri, em 22 de novembro de 1970 (Op Mar Verde) e a escassos 4 meses da conspiração contra o líder do PAIGC e do seu assassinato (em 20 de janeiro de 1973, em Conacri). Como sabemos, ainda hoje está por esclarecer o papel de ST no assassínio contra AC.


III.  Um dos problemas do AC é que não tinha diamantes nem petróleo. O AC teve que estender a mão à "caridade" internacional: os países do bloco soviético, a China. mas também a Suécia (a partir de 1969) e outros países e organizações ocidentais... A Suécia vai doar quase   6 milhões de euros (em avalor atual) ao PAIGC antes da independência, entre 1969 e 1973.

O Amílcar Cabral humilha-se claramente perante o Sékou Touré, estendendo literalmente a mão à "caridade" do seu anfitrião... para mais sendo a Guiné-Conacri, também ela, um país pobre... 

Era ingenuidade do Amílcar Cabral ou apenas uma forma (cínica)  de lisonjear um homem que, tanto quanto sabemos, tinha ciúmes da craveira intelectual e do prestígio internacional do histórico dirigente do PAIGC ? No fundo, seria uma forma de associar também o ST ao "sucesso" da luta que se travava no território vizinho...

Releia-se, com atenção, esta  outra proposta do AC ao ST:

(...) "No domínio financeiro

1. Comprar, ao melhor preço para o Ministério do Comércio, as quantidades de certos produtos de primeira necessidade (gasolina, sabão, fósforos, alguns tecidos, etc.) quando as nossas disponibilidades não ultrapassem as possibilidades para o consumo imediato.

2. Permissão para que o nosso Partido possa receber quotas (voluntárias) dos cidadãos do nosso país instalados [residentes] na República da Guiné Conacri, para o desenvolvimento da luta.

3. Realização, por intermédio do PDG. [Partido Democrático da Guiné], especialmente da JRDA [Juventude Revolucionária Democrática Africana], da CNTG  [Confederação Nacional dos Trabalhadores da Guiné] e da UNFG [União Nacional das Mulheres da Guiné], de festas, missões, quermesses, etc., para a obtenção de receitas destinadas à luta.

Estas medidas poderiam ajudar o nosso Partido, de modo significativo, a fazer face às exigências cada vez maiores da luta no domínio financeiro." (...)

Também nunca saberemos (, porque os principais dirigentes do PAIGC morreram e poucos  foram ao "confessionário da História"...) quanto rendeu ao PAIGC estas e outras formas de "recolha de fundos" na terra do Sékou Touré... Não acredito que o AC, homem inteligente, tivesse expetativas muito altas em relação  à recetividade e sobretudo à implementação destas propostas (e das outras propostas) apresentadas ao ST em setembro de 1972.

Enfim, é a leitura (seguramente superficial e descontraída...) que eu faço, dos documentos que tu, Jorge, tiveste  a pachorra e a gentileza de ler (em francês) e traduzir para nós...


IV. Jorge: uma guerra, como qualquer conflito, é sempre uma relação (de antagonismo) entre duas partes, ou atores (como dizem os sociólogos). Cada uma da partes, tem depois os seus apoios (externos, internos...) e os seus trunfos, os seus pontos fortes e fracos...No final, há que está melhor posicionado para negociar do que o outro...

Sékou Touré não deve ter sido um "aliado fácil" do Amílcar Cabral e do seu partido, mas é evidente que a Guiné-Conacri foi, desde o início, um "santuário", absolutamente imprescindível para o PAIGC (contrariamenet ao Senegeal de Senghor)... Sem essa retaguarda estável e relativamente segura (não obstante a invasão de Conacri em 22/11/1970...), nunca a luta de guerrilha teria ido tão longe...

É muito interessante o documento que divulgas, para conhecimento de todos nós, até porque é revelador das fragilidades do PAIGC a nível logístico, por exemplo.. O AC tinha plena consciência de que as bolanhas das "regiões libertadas" nunca poderiam alimentar a guerrilha e a população que vivia no mato, sem falar do "estado maior" e forças operacionais e de apoio em Conacri e nas bases de retaguarda, nas zonas fronteiriças.. Amilcar tem que negociar a compra de 100 toneladas de arroz ao "amigo e camarada" Sékou Touré... Ninguém faz a guerra de estômago vazio, apesar do "estômago espartano" do homem africano...

Quando Amílcar Cabral pede 100 toneladas de arroz para o seu pessoal instalado na Guiné-Conacri, incluindo os combatentes junto à fronteira, mesmo que o arroz seja "pago pelo Partido" (o mesmo é dizer, pelos "amigos" suecos, russos e outros...), isso coloca-o numa posição de subalternidade e dependência em relação ao Sékou Touré...

O papel e a personalidade deste homem ainda estão em grande parte por esclarecer.  O brilho intelectual e o prestígio do Amílcar Cabral, dentro e fora de África, deviam-no ofuscar...Amílcar Cabral era de outro planeta, da estatura de um Nelson Mandela... E o Sékou Touré apenas um aprendiz de ditador, com um passado de sindicalista e de nacionalista de "duro de roer" aos olhos dos franceses...

O maior erro de Amílcar terá sido, a meu ver, nunca ter percebido a "pedrinha do sapato" do PAIGC que era a liderança dos cabo-verdianos que estavam a anos-luz dos guineenses... Veja-se como os guineenses aplaudem o miserável golpe de Estado de 'Nino' Vieira contra Luís Cabral..., ditando o fim do mito da unidade Guiné-Cabo Verde... 'Nino' que eu conheci pessoalmente em 2008,  não era uma "estadista", não era um "líder", era apenas um "senhor da guerra", como milhares de "cabos de guerra" que emergiram no caos do pós-colonialismo,  por exemplo, o Ansumane Mané...

Mas... e o combustível para os camiões e os célebres BRDM-2, as viaturas blindadas anfíbias de patrulha e reconhecimento, que ainda hão de aparecer no fim da guerra para dar um arzinho da sua graça ? Chamar-lhes "carros de combate" é uma grosseria, é um insulto à arma de cavalaria... E, tal como as nossas velhas "latas" (as Daimler. as Panhard...), deveriam gastar 100 aos 100 ou mais... Não sei se eram a gasolina ou gasóleo...

Este assunto, das BRDM-2, já aqui mereceu honras de primeira página no nosso blogue... Mas convirá chamar a atenção para os incautos leitores: nesta altura, em setembro de 1972, o PAIGC não tinha viaturas blindadas, nem muito menos combustível para pôr a marchar a sua "cavalaria"... Em qualquer guerra, os "cavalos" são mais mais difíceis de "alimentar" do que os "infantes", para mais nas dificílimas condições de terreno e do clima da Guiné...

Jorge, não podes acabar este conjunto de três artigos sem nos dares algumas pistas sobre o seguimento das propostas: ficou tudo em águas de bacalhau, ou o Amílcar ainda conseguiu,  em vida, ver concretizadas algumas das suas propostas ?

Um abraço com todo o meu apreço pelo teu trabalho de pesquisa, roubado ao tempo de descanso e da família e... se calhar também ao "tempo do patrão"...(**)


Vd. postes anteriores:

17 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17480: (D)o outro lado combate (8): Regime de Sékou Touré e PAIGC: propostas de reforço da cooperação militar, elaboradas por Amílcar Cabral, 4 meses antes de ser assassinado (Jorge Araújo)

3 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17537: (D)o outro lado do combate (9): Regime de Sékou Touré e PAIGC: propostas de reforço da cooperação militar, elaboradas por Amílcar Cabral, 4 meses antes de ser assassinado (Jorge Araújo) - Parte II


7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, apesar de já cansados da guerra (e mais do blogue), a nossa curiosidade é um poço sem fundo...

Um das coisas que ainda gostaria de saber é quanto custou a guerra... A nossa e a do PAIGC... Não falo dos custos indiretos e ocultos... Falo dos cutos diretos, do "patacão", dos escudos, gastos em homens e material... E, já agora, onde fomos buscar o dinheiro, quem é que financiou a guerra, de um lado e do outro...

O Amícar Cabral, sabemos, não tinha diamantes nem petróleo, em sequer caju (naquele tempo)... E depois a guerra não começou "só" em 1963...

Abraço grande, Luís

Anónimo disse...

Caro Luís

e restantes camaradas (leitores).

A meio do ponto I, onde se lê: [...] "os feridos e docentes" ...

deve-se ler: [...] "os feridos e doentes".

Quanto às questões formuladas, prometo continuar a dar conta de factos/ocorrências, considerados(as) relevantes, como um modesto contributo à causa da historiografia da "guerra", independentemente do lado em que se posicionem os seus (principais) actores.

Abraço,

Jorge Araújo.

Antº Rosinha disse...

Para os guineenses não havia fronteiras.
As fronteiras riscadas no mapa dizem muito pouco aos grupos étnicos divididos artificialmente.
E neste trabalho do Jorge verificamos que os mancebos fugiam ao AC por entre os dedos, devido precisamente pela fluidez das fronteiras.
Era atribuida a Sekou Toure a ideia que só havia uma Guiné, e na verdade ele não estava muito longe da realidade local, pelo menos a sul e a norte acontecia coisa idêntica com a Casamance.
E ainda hoje aquelas fronteiras étnicas são muito difusas, e como a francofonia globaliza..."a Guiné (portuguesa)está feita ao bife".
Em Angola as fronteiras estavam bem definidas, excepto numas centenas de Klm. a norte, mas lá não havia um Sekou Toure, havia um corrupto Mobutu em guerra permanente com Tchombé e a PIDE resolveu quase sempre, não sei como.
Havia mais umas centenas de Klm de fronteiras a sudeste e Leste bem definidas com Rios e com etnias diferentes.
E a Sul além de parte fazer fronteiras através do rio Cunene e do rio Quando, havia 400 Klm de arame feito ou por alemães ou boeres, não sei concretamente, sempre vigiado pelos carcamanos, e que só os elefantes derrubavam aquilo de vem em quando.
Ao contrário da Guiné, a joia da coroa, Angola, estava razoavelmente defendida, o busilis estava mesmo na Guiné e em Amilcar que dominava os Suecos, Soviéticos/cubanos e com manha, também Sekou Toure.
Era aí, o nosso eleo mais fraco.
O facto de não haver petróleo nem diamantes na Guiné, é que AC só foi assassinado em 1973, com petróleo tal como em Angola, havia logo 100 cães a um osso, e AC...já era há muito tempo!
Tenho ideias feitas, feitas in loco, e já sou velho para mudar de clube.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Recorde-se o que o nosso camarada José Belo (a viver na Suécia há 40 anos), aqui escreveu:


(...) "Durante a guerra o governo sueco enviou para o PAIGC um total de 53,5 milhöes de coroas, ao valor actual [c. 5,8 milhões de euros]. Destinaram-se a financiar a maioria das actividades civis do partido: alimentacäo, transportes, educação, saúde, incluindo um vasto número de avultados fornecimentos às Lojas do Povo.

"A Guiné foi posteriormente incluída (como único país da África Ocidental) nos chamados 'países programados' para a distribuicäo da assistência sueca ao desenvolvimento. Recebeu durante o período de 74/75 a 94/95 2,5 mil milhões de coroas suecas [c. 270 milhões de euros], colocando a Suécia entre os 3 maiores assistentes económicos da Guiné-Bissau.

"A Suécia nunca deu nenhum cheque em branco ao PAIGC, tanto mais que Portugal era um dos seus importantes parceiros comerciais no âmbito da EFTA - Associação Europeia do Comércio Livre, a que ambos os países pertenciam, e de que foram membros fundadores. A Suécia só irá reconhecer a Guiné-Bissau como país independente... em 9 de agosto de 1974." (...)

5 DE NOVEMBRO DE 2014
Guiné 63/74 - P13849: Da Suécia com saudade (42): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte III)... Pragmatismos de Amílcar Cabral e do Governo Sueco, de Olaf Palme, que só reconheceu a Guiné-Bissau em 9 de agosto de 1974 (José Belo)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2014/11/guine-6374-p13849-da-suecia-com-saudade.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Diz o Rosinha:

"Tenho ideias feitas, feitas in loco, e já sou velho para mudar de clube."...

Sabes bem, "nosso mais velho", que aqui ninguém é obrigado a afinar pelo mesmo diapasão... A grande riqueza do blogue é a sua diversidade (da cor da pele à idiossincrasia de cada um...).

De resto, não somos um clube, e nem sequer a nossa Tabanca Grande tem portas e janelas...

Também a Guiné, a "nossa" Guiné (nunca faremos o "luto" por ela, já que ela não morreu, para nós, para ti...) não tinha fronteiras ou,se as tinha, foram marcadas no mapa a régua e esquadra, sem qualquer respeito pela história, a geografia, a cultura, a identidade dos povos...

Anónimo disse...

A quem quiser saber como foi, de facto, imposta a fixação dos limites da Guiné em 1886, aconselho a leitura do Capítulo VI do livro " A Presença Portuguesa na Guiné,...". De notar, a queda do governo no próprio dia em que foi expedido para Paris um telegrama a aceitar as condições francesas, e a posterior tentativa falhada do novo governo em reverter a situação, e o papel desempenhado pelo rei D. Luiz, até agora nunca revelado.
Em 1843, o que era considerada a Guiné Portuguesa, estendia-se da Ilha dos Mosquitos (foz da Casamansa) ao Cabo da Verga, a sul do país dos Nalus e do rio Nunes (ou Nuno). E, se esse limites tivessem sido fixados em rios, acontecimentos posteriores teriam certamente tido outro desenvolvimento.

Armando Tavares da Silva

Manuel Luís Lomba disse...

O ano de 1972 terá sido de turbulências no "balneário" do PAIGC, desde logo pelas fricções entre o Amílcar e o Luís, dizia-se por "sarilho de saias". Ao meter Inocêncio Cani e Momo Touré na prisão, sob a alçada de Osvaldo Vieira, para o melhor controlar e ao manter Nino Vieira, primo deste, sob rigoroso controle de Otto Schaft, Amílcar terá cavado a sepultura. Luís Cabral e Aristides Pereira sempre disseram, em discurso directo, que os dois primos, Osvaldo e Nino, foram os autores morais do seu assassínio.
Qual a interpretação de outros factos acontecimentais, em 1972?
Luís Cabral e Alpoim Calvão tornaram-se interlocutores para a resolução da guerra;
Amílcar desmontou a manobra diplomática pela expulsão de Portugal da ONU, da iniciativa de Sekou Touré;
Cerca de um mês após a proposta trazida à colação pelo Jorge Araújo foi à ONU;
etc.
Luís: Quanto custou a Guerra da Guiné? Cerca de 30% mais cara que a de Angola. O dinheiro nunca faltou, para a sua engorda.
A fonte do PAIGC manava em quase todo o mundo.
Em 1974, os stocks das reservas do Banco de Portugal eram de 950 ton. de ouro e de 14 meses de divisas...
Ab
Manuel Luís Lomba