domingo, 1 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18798: (Ex)citações (338): Quem não sabe beber, que beba m..., dizia um durão de Bambadinca... Mas, camaradas e amigos, era mesmo m... a famosa "água de Lisboa" que nos chegava aos nossos quartéis para matar a nossa dor e a nossa sede... (Luís Graça / Virgílio Teixeira)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Otubro de 2010 > Restos arqueológicos... uma garrafa de Bussaco (sumo de ananás ou laranja), marca que era (e ainda é) comercializada pela Sociedade de Refrigerantes Buçaco, Lda, empresa familiar fundada em 1921... Mas podia ser uma garrafa de vinho verde Casal Garcia, ao "ventre da guerra" não faltava anda do "uísque escocês" à "água de Lisboa"... Foto do nosso saudoso Pepito (1949-2012).

Foto (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018). Todos os direitos reservados


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1972/73) > Legenda: "Nesta foto está o Figueiral em frente (ao meio) de óculos escuros e a comer uma cabritada com a garrafa de Casal Garcia à frente. Eu estou do lado esquerdo da foto, com o frigorífico atrás de mim. De costas para a foto está o Pinto Carvalho. Do lado direito da foto, em primeiro plano está o Alferes Bastos, o homem do obus (Alf de Artilharia) e logo a seguir, portanto à esquerda do Figueiral, está um segundo tenente de que não me recorda o nome. Era habitual haver um abastecimento via barco por mês e que vinha sempre escoltado pela Marinha, ficando o Oficial instalado lá no quartel [, em Bedanda, na margem esquerda do Rio Cumbijã]"

Foto (e legenda): © António Teixeira (1948-2013) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados



 1. Um camarada nosso, que passou como eu por Bambadinca,  era pouco ou nada tolerante para com as bedeiras... dos outros, sobretudo quando mexiam com a sua "área de conforto"...  Costumava ele comentar, com ar sarcástico, nessas ocasiões em que o deus Baco falava mais alto que os outros deuses todos do Olimpo:  "Quem não sabe beber, que beba... merda!"... 

O adágio ficou, e acho que se tornou um dos 10 anti-mandamentos  do bar de Sargentos de Bambadinca... (O primeiro devia ser, se bem me lembro: "O camelo só bebe de oito em oito dias,  não sejas camelo"...).  Afinal, aprendemos a "beber", e a beber com conta, peso e medida, nessa grande escola que foi a tropa e a guerra... em matérias de álcoois etílicos... (Claro que hoje o mandamento é outro, por razões de saúde: Não sejas burro, sê camelo, bebe muita água...).

Também não vou citar, por razões óbvias, o nome do meu querido camarada... até porque é meu amigo e vizinho... e faz parte do 'quadro de honra' da Tabanca Grande!... Mas por outro lado, se ele me ler, e como sei que ele tem sentido de humor, não me vai por certo levar a mal... Nem ele nem ninguém, incluindo os "meninos copos de leite" que também os havia, embora poucos, no meu tempo...

Cardinas, cadelas, carpantas, carapantas, carraspanas, pifos, pielas, tosgas, bezanas, narsas, bubas, borracheiras... afinal, quem não as/os apanhou?  Do sacristão ao capelão, do básico ao senhor major, do furriel ao capitão, do corneteiro ao escritas... quem não apanhou o seu "pifozito"? 

Pretextos não faltavam: o calor, a distância, as saudades, a depressão, a solidão, a camaradagem, a festa, a guerra, a morte... E meios para matar a sede e a dor também não faltavam, do uísque ao vinho do Porto, da "água de Lisboa" até ao "vinho de cana", mesmo intragável que este fosse  para o palato mais avariado do "tuga"...

Uma ressalva: nunca se bebia sozinho, ninguém apanhava cardinas sozinho, era tudo ao molhe e fé em Deus... Uma garrafa era para se partilhar... Uns aguentavam-se melhor do que outros, os "velhinhos" tinham mais treino ou mais manhas do que os "periquitos"... Primeira regra de oiro: nunca faças misturas... Enfim, são tudo histórias para contar... aos bisnetos, se a gente lá chegar aos netos e depois aos bisnetos...

Os nossos soldados fulas, que eram abstémios por prescrição da sua religião muçulmana, bem nos avisavam: "Eh, furriel, água de Lisboa, manga de cabeça grande"!... O que eles não sabiam era que a "água de Lisboa" que chegava aos rios e braços de mar da Guiné, do Geba ao Cacine, do Corubal ao Cacheu, era mesmo uma... "merda". Ou uma "zurrapa", uma palavra que continuamos usar para dizer vinho mau, estragado ou que sabe mal...

Não se sabe muito bem qual a origem da palavra, mas pode ser do castelhano... "Zurrapa" [s. f., quer dizer, segundo o dicionário de castelhano, "brizna o pequeña porción de materia que se halla en los líquidos y que poco a poco se va sentando y formando poso" (...): "el café está lleno de zurrapas"].

"Vinho a martelo", também se dizia na época... Estava na moda, quando regressei da Guiné, o "vinho a martelo", uma mistura hidroalcoólica que era depois "queimada" nas destilarias da região, às claras ou às escondidas...

Também se falava em "vinho batizado" com água do cais do Beato, no estuário do Tejo... Era ali que ficavam os grandes armazéns de conhecidos comerciantes de vinhos,  a granel, que terão feito belas  fortunas a mandar pipas de vinho marado para o preto e para o tuga...

Costuma-se, de resto, citar, com ou ou sem rigor histórico, um destes homens que fizeram fortuna no tempo em que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses... Terá feito questão de lembrar, antes de morrer, aos herdeiros, filhos e netos, o segredo do sucesso da sua vida e dos seus negócios "Não se esqueçam, meus filhos, que das uvas também se faz vinho"... A história pode ser anedota, mas encerra uma verdade cruel...


2. Vinho de uvas, e bom... quem o bebeu na Guiné? Poucos, afinal, porque o bom era raro e caro... Mas temos aqui, no nosso blogue, alguns "expertos" nesta matéria... E que já aqui falaram há dias "de cátedra"sobre o tema (*)... 

Vamos lá recuperar alguns dos seus comentários, seria um pena "perdê-los" (**).

(i) Virgílio Teixeira:

(...) O que eu me lembro eram todas as bebidas alcoólicas, de todo o tipo até às mais caras, nem preciso de dizer os nomes pois era de tudo. O tabaco a mesma coisa, desde o Português Suave até ao Gitane e outras. Bebidas só me lembro das seguintes que eram misturadas com o álcool. Águas Perrier, Vichy, ambas francesas, e Castelo Portuguesa, para misturar com o Whisky. Depois a Tónica da Schweppes para o Gin, normalmente Gordon's.

Outras bebidas, tipo Fanta também me lembro, Laranjinha ou Laranjina C, Cocas, eu não era cliente destas bebidas doces. A laranjada Convento não me parece ter visto. Quase nem me lembro de que marca era a cerveja, normal ou bazuca, Sagres ou Cristal? Água apenas raramente bebia, só mesmo misturada com whisky e muito gelo.

Vinhos verdes também tinha, mas mandava vir para mim, de Bissau ou da Metrópole. Com isto fazia inveja e inimizades com os oficiais superiores que bebiam aquela zurrapa das pipas de vinho branco feito a martelo e misturadas com água do Rio Geba. Ninguém se embebedava com aquilo, além disso era servido 'ao quente'.

As latas de que falei de frutas da África do Sul, isso havia muita lata, mas não sei o nome de nenhuma marca, lamento. Estas latas, também nós a utilizávamos, como 'tipo chuveiro'. Na casa de banho, havia um bidão de 500 litros, do gasóleo, depois enchia-se diariamente de água que vinha dos camiões, como não havia sistema de chuveiro, utilizávamos estas latas de frutas para deitar pela cabeça abaixo e assim tomava-se o banho. Muito mais tarde inventou-se um sistema de os bidões ficarem por cima do telhado, uns tubos,  umas grelhas e uma torneira e lá tínhamos os chuveiros, um luxo. Só que no banho de fim de tarde era uma desilusão, a água saia muito quente, pois estava exposta ao sol, não servia. Então voltamos ao bidão no WC, para os banhos da tarde, e para os da manhã já servia o chuveiro, pois durante a noite não baixava mais do que 20º, talvez. Enfim, histórias. (...)

(ii) Tabanca Grande Luís Graça:

(...)" aquela zurrapa das pipas de vinho branco feito a martelo e misturadas com água do Rio Geba" (...). Dizes bem, Virgílio.

Foi na Guiné que eu, e muitos de nós, aprendemos a conhecer o "vinho verde branco"... Marcas como a Aveleda, as Três Marias, o Gatão, o Lagosta... eram muito procuradas. E eram caras, quase tanto como um garrafa de uísque novo... Aquela "trampa", gazeificada, fresca, sabia "pela vida"... E os otários pagavam 35 pesos por uma garrafa!... Um luxo!...

Ora, eu hoje suspeito que muito do vinho verde que a gente lá bebia era feito "a martelo"... Uma parte seria da minha região, a Estremadura Oeste, que tinha vinhos brancos, de baixo grau alcoólico... e que seguiam para o Porto, em camiões-cisterna, para depois serem misturados com os verdes, gaseificados e exportados para a Guiné, para a tropa, para o "tuga", para o "preto".

Hoje sou produtor de vinho verde, uma aventura que me aconteceu por via... uterina. E sei um pouco mais da história do vinho verde... Nos anos 60, pouco vinho branco se fazia, na região demaracada, a maior do país... talvez 10% no total... O forte era o "tinto", muito dele oriundo de "produtores diretos" como o Jaquet  (lê-se "Jaquê"...),  que resistiam a tudo o que eram doenças e não precisava de "tratamento"... Hoje é proibido, felizmente...

Fizeram-se grandes fortunas com os "engarrafados" e os "entalados", durante a "guerra do Ultramar".. Infelizmente é assim, em todas as guerras... O "vinho verde" (mas também as "conservas de peixe") foi o "volfrâmio" de alguns, poucos, que encheram os bolsos com a nossa fome e a nossa sede...

Nós, o Zé Soldado, fez a guerra, comeu e bebeu merda... Como sempre, em todas as guerras...


(iii) VirgílioTeixeira:

(..)" aquela zurrapa das pipas de vinho branco feito a martelo e misturadas com água do Rio Geba" (...)

Quero esclarecer que bebi muita daquela zurrapa, era vinho branco escuro, sem sabor, misturado com gelo, ou ao natural, com um pouco mais de álcool. O vinho verde, esse, mandava vir de vez em quando, e bebia mesmo na messe fazendo natural inveja, digo eu agora, mas não era essa a ideia.
Aquela zurrapa, normalmente, dava volta aos intestinos, e as diarreias e outros males intestinais eram devido também a esse vinho, isto para 'pessoas mais delicadas'!!!

Li que a malta da Intendência, brancos e pretos, nos barcos com os abastecimentos, furavam as pipas, bebiam metade e emborrachavam-se e depois para pôr ao nível juntavam água do rio, e por vezes álcool etílico e assim enganavam as tropas. E fizeram-se,  como bem dizes grandes fortunas às custas disto, mas quem nesse tempo pensava nisso? Eu não.


(iv) Tabanca Grande Luís Graça:

Também aprendemos a beber o "Mateus Rosé"... Em dia de festa, lá se puxava pela nota e mandava-se vir um "Mateus Rosé"... Que chique!... O dinheiro escorria, sujo e feio, era o "patacão da guerra"...


(v) Virgilio Teixeira:

Havia nos vinhos verdes vários tipos de 1.ª classe:

Em primeiro o Casal Garcia - já o bebia antes da tropa, e ainda hoje está na moda - o Gatão, o Aveleda e o Lagosta,  tudo dentro do mesmo nível.
Depois os 3 Marias, eram garrafas de 2.ª classe, eram de 1 litro, e não era de rolha, mas sim de cápsula. Vendia-se muito em Bissau, quando ia comer ao Zé d'Ámura os passarinhos fritos com molho picante, ele servia esse vinho e bebia-se uma garrafa num abrir e fechar de olhos. Os outros eram servidos nos melhores restaurantes, portanto mais caros, talvez fossem ao preço de uma garrafa de whisky da tropa.

O Mateus Rosé nunca bebi isso na Guiné, porque pensava que era doce. Aliás só comecei a beber cá depois da tropa, quando casei em 1970; lembro-me bem que nos dias 25 de cada mês - data do meu casamento e dia de receber o pré no meu emprego - ia a um restaurante na Povoa de Varzim - O Ricardo, hoje é mais um Tourigalo - comer uns camarões tigre fritos com piripiri, quando eles ainda eram relativamente baratos, e bebíamos uma garrafa de Mateus Rosé, e até fiz uma pequena coleção delas vazias. Coisas do passado.

(...) Transcrição de uma passagem do que escrevi no meu livro (inédito), acerca do vinho, copiei agora, e não está longe do que tinha dito atrás.

A mistura que faziam nas barcaças, era com água salgada, não era álcool etílico como disse, aliás se eles o tivessem bebiam mesmo álcool puro, penso eu!

O vinho gelado em garrafa e as invejas na messe de oficiais: Durante muito tempo eu mandava vir da metrópole caixas de vinho verde branco que era nessa altura o célebre Casal Garcia em garrafa ou então o Aveleda em botijas tipo garrafão redondas. E mais tarde vinha mesmo do comércio local de Bissau, caixas e caixas de vinho verde. 

O que era servido na messe de oficiais era de pipa, e era rasca, muito fraco, era misturado com água salgada e fazia-se negócio com ele, mas ainda bebi muito quando não havia outro e sinto ainda hoje esse cheiro e sabor, pois normalmente não estava gelado nem fresco por falta de frio nos frigoríficos, e por isso as canecas com essa bebida que vinham para a mesa eram acrescentadas de blocos de gelo das arcas, mais fácil de conseguir e por isso era meio vinho e meio água. 

Eu não gostava nada daquilo. Sinto ainda o sabor amargo desse líquido de cor castanha a que chamavam de vinho branco. As minhas garrafas eram metidas na arca frigorífica, e para mim vinha uma garrafa com vinho geladinho, às vezes até era mesmo congelado, e a pingar no copo, aquilo fazia uma inveja de morte a todos, mas em especial ao meu inimigo especial, o major Henriques, que no meio da refeição perguntava alto onde é que eu arranjava esse vinho, ao que eu respondia que o comprava com o meu dinheiro, mas ele insistia que isso custava muito, e eu lá lhe respondia que em vez de deixar a maior parte do meu vencimento em casa, ficava sim com ele todo na Guiné, e então preferia comer e beber bem em vez de ter dinheiro para quando regressasse, pois nem sequer sabia se regressava ou não. (...)
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18777: Fotos à procura de...uma legenda (106): "As sobras do rancho da tropa"... e as latas de conservas, "made in Portugal", que as crianças levavam à cabeça (Valdemar Queiroz / Museu de Portimão / Virgílio Teixeira)

(**) Último poste da série > 16 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18640: (Ex)citações (337): A propósito das deserções nas fileiras do PAIGC, há um provérbio africano que diz "Todos os cães podem ser bravos, mas são mais bravos dentro das suas moranças", o mesmo quer dizer, dentro dos seus "chãos" (Cherno Baldé, Bissau)

12 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O meu sogro, que chegou a mandar vinho verde tinto, em pipas, para o Brasil, tinha uma teoria: O vinho, em passando os Trópicos, alterava-se... SE calhar era o que se passava com a "água de Lisboa", dir-nos os nossos amigos e camaradas da Intendência.. E, a propósito, que nos perdoem aqui algumas atoardas... Afinal, quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre um ponto... Bato a pala aos "intendentes" que fi<eram tudo o que estava ao seu alcance para nos levar aos "comes & bebes" aos sítios mais desgraçados da Guiné,,,

Por exemplo, dos barqueiros dos barcos Rabelo é que se dizia que faziam um furinho no casco para tirarem um copo de vinho fino, quando as pipas iam, de barco, do Alto Douro até aos armazéns de Gaia... Depois essa história passou para a tripulação (guineense) dos "barcos turras# que nos levavam os comes & bebes... Mas, em abono da verdade, a "água de Lisboa" vinha em grossos garrafões empalhados, talvez de 20 litros ou mais, não sei se era fácil violá-los na viagem ou depois no destacamento... Se calhar era mais fácil "desviar" caixas de uísque e de cerveja... sobretudo no transporte em coluna, de um quartel para outro... Então se houvesse uma emboscada com mina, ainda melhor!

Anónimo disse...

Pois ao ler estes comentários já parti a moca a rir - melhor que chorar no molhado - isto são puras realidades, parece que estamos todos ao lado uns dos outros a falar do mesmo, da realidade. Vamos separar aqui os copos de leite, que não fazem parte desta jocosa conversa, que me desculpem, mas existem neste planeta Terra.
Por acaso as minhas pielas - vou apenas apanhar um dos imensos nomes dados à mesma coisa - já vêm de muito longe, não foi na tropa que comecei nesta lide de comes e especialmente de bebes. Segundo reza a história - está escrito no meu inédito livro - eu já comia ao pequeno almoço 'sopas de burro cansado' - uma malga de sopa, com broa ou casqueiro aos bocados, tudo bem ensopado de vinho tinto, talvez também a martelo, e açúcar amarelo. Tudo bem mexido, comia-se aquilo tudo e estávamos prontos para ir para a escola primária, e aprender a Tabuada, que hoje ninguém sabe de cor, talvez só com máquinas electronicas, calculadoras ou computador.
Depois nunca mais acabou, até hoje, não me tem faltado felizmente, vontade, saúde e algum dinheiro para continuar a beber aquilo que mais gosto. Vinhos maduros - tinto ou branco, e whisky ao natural, ainda daquele que mais bebia na Guiné - Johnny Walker - Red Label, e umas aguardentes bem fortes. Não sou dado a bebidas doces. tipo Vinho do Porto, licores etc.

Durante este percurso de vida, também aprendi, como bem diz um camarada aí neste excelente Poste, que não se devem fazer misturas, porque aí vai tudo ao charco. Mas como se pode e deve fazer para fugir a este modo de vida. Estamos, p.e. num aniversário de um filho ou neto, vem alguma coisa para a mesa, bebe-se por exemplo uma cervejita, depois vem os comes, e bebe-se uns copos de vinho, e nunca mais acabam, como é aniversário lá vem o bolo e o champanhe português ou francês tanto faz, bebe-se mais um copito e outro, depois o café e lá vem um charutinho acompanhado de um uisquezito, e a cabeça já está feita. Conduza quem estiver bem.

... (continua, porque há pano para mangas, e há tempo de sobra pois já não temos a bola nem o Bruno) ...
Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, a atualidade (política, desportiva, religiosa...) nunca é chamada para o nosso blogue... Devíamos viver como se tivéssemos sido "congelados" pelo tempo... Claro que não pode ser... Por exemplo, a nossa querida Guiné-Bissau e os nossos amigos e irmãos da Guiné sofrem, ao fim destes anos todos, pro incapacidade de os seus dirigentes (políticos e militares) encontrarem um rumo que os leve ao futuro... Neste momento, a Guiné-Bissau não tem presente nem futuro...

Mas ontem foi ontem e hoje é outro dia, como eu já tinha escrito no meu diário de ontem... "Quer Portugal ganhe ou perca hoje frente ao Uruguai, amanhã é outro dia... E o futuro que temos de ganhar, para nós, nossos filhos, netos e bisnetos... Esse é que o desafio fundamental, para Portugal, o Uruguai, a Guiné-Bissau e o resto da humanidade"...

Portugal tem mil anos e já foi campeão do mundo muitas vezes... Bebamos um copo à nossa saúde!

Antº Rosinha disse...

A fama do vinho a martelo era de tal maneira afamado na África colonial portuguesa que provavelmente até vinho de primeirissima qualidade se bebia, quem bebia, com desconfiança.

A fama era tão má, que quem não fosse habituado de novo a beber vinho, (europeu)em África apenas bebia cerveja que por sinal havia grandes fábricas (Angola e Moçambique), na Guiné nos finalmentes Manuel Vinhas da Sagres também construiu a CICER.

Para o vinho se deteriorar, se não tiver os tratamentos próprios (químicos), basta chegar a uma adega de um pequeno produtor à antiga, engarrafar em Barcelos ou em Monção um garrafão de vinho verde da região, sem tratamento, portanto, apanhar um comboio até Santa Apolónia, e já está o vinho estragado, intragável.

Salazar, ou talvez mesmo Dom Carlos, não sei bem, era proibido fazer qualquer bebida alcoólica para protecção do vinho e outras bebidas metropolitanas.

O que não acontecia com a Guiné. em que se fazia desde vinho de cajú, aguardente de cana, e se colhia o célebre vinho de palma, e se comercializava livremente.

No entanto clandestinamente o indígena angolano fabricava bebidas alcoólicas de tudo o que "mexia".

Vinho de palma, milho fermentado, abacaxi fermentado, cana de açúcar, etc. etc.

De vez em quando os chefes de posto e os cipaios lá tinham que destruir algum alambique,que era o nome técnico do equipamento usado para o efeito.

As quantidades de barris de madeira de 100 litros eram de tal ordem para África, que seria só por si uma enorme e riquíssima indústria.

Por fim o vinho já não ia em barris de madeira e garrafões de 5 litros com capacete de gesso, para ir a granel nos porões dos navios como se transporta o petróleo.

Quem se aproximava do porto de Luanda, só com cheiro a vinho ficava bêbado.

Eu só comecei a beber vinho regularmente depois dos 60 anos.

Foi mais quilolitros de cerveja .

Constava em Bissau que Nino "apadrinhou " uma indústria de importação de vinho em sociedade com uns fornecedores da região de Almeirim e que a água de Bissau era bastante apropriada para o efeito.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Curiosamente, naquele tempo a gente usava muito (, eu pelo menos usava e confesso que ainda uso...) a palavra "merda", o que dava muito jeito, dava para tudo: o país era uma merda, a tropa era uma merda, o vinho era uma merda, o governo era uma merda, a messe era uma merda...

Recordo-me de, ainda no meu primeiro blogue, o Blogue-Fora-Nada, ter publicado, em 23 de outubro de 2003, uma coisa do truculento Jota Lourenço, do Barreiro, um tipo que aparecia com frequência a comentar numa página que eu tivera antes, no defunto Terravista.pt, sobre questões de saúde e segurança no trabalho...

Dizia ele mais ou menos isto, a propósito de eucaliptos, incineração, ambiente, merda, tudo coisas que estavam na moda na época, ao virar do século:

Um país que não consegue resolver como tratar a merda que todos os dias caga, é um país sem futuro, é um país de merda ! ... Eu estou como aquele gajo que ia pela Av da Liberdade acima, a ler o "Diário de Notícias" (a primeira página tinha um título de caixa com um destaque do último discurso de Salazar: Para Angola, rapidamente e em força!). O homem comentava em voz alta:
- Que país de merda!...

Estávamos em 1961, logo a seguir aos trágicos acontecimentos no norte de Angola, como imaginam! Um Pide (ainda se lembram o que era a Pide ?, já não se lembram!) que vinha atrás do fulano, ouviu o insulto e deu-lhe ordem de prisão:
- Preso, eu ? , retorquiu o ruidoso cidadão que tinha a mania de pensar em voz alta.

- Pois, está a insultar a Pátria e o Governo da Nação!, respondeu o Pide.

- Ó senhor agente, desculpe lá, não tire conclusões apressadas!... P'ra já, eu não sou do reviralho, sou da situação... Benfiquista e bom chefe de família!... E depois estou a ler esta notícia de três linhas sobre Cuba, aqui no canto inferior direito. Imagine quem lá manda agora naquela merda... um tal barbudo de nome Fidel Castro. Ao que isto chegou!... Merda só pode ser Cuba, sr. agente!... Qu eu nem conheço, que nunca lá fui... Também nunca saí da parvónia...
- Ah!, tá bem, se é assim, tá bém... Siga o seu caminho!

Passados cinco minutos, o Pide que tinha reflexos lentos, como os dinossauros, deu uma corrida no encalce do fulano do jornal e voltou a abordá-lo, intimando-o, desta vez, com modos mais bruscos:
- Venha comigo!, temos muito que conversar na António Maria Cardoso (lembram-se ?, era a sede da Pide, para os lado do Chiado). Eu 'tive cá a pensar, a pensar, e o tal país de merda só pode ser... o nosso!

... E levou-o mesmo preso! Cabeça de Pide não era só para criar piolho!...

Jota Lourenço

28 OUTUBRO 2003
Estórias com mural ao fundo - XIV: País de merda que era aquele!

http://blogueforanada.blogspot.com/2003/10/estorias-com-mural-ao-fundo-xiv-pais-de.html

Valdemar Silva disse...

E, também, havia o conhaque Martell, mas nunca fui grande apreciador. Fui sempre
apreciador de 'bioxene' e o Dimple era o meu preferido.
Mas, a propósito de conhaque Martell parece que um francês Martell andou, nos finais do século XIX, pelos lados do Ribatejo e na zona oeste a fazer umas enxertias para tentar resolver o grave problema da filoxera e parece que conseguiu.
Depois, com o andar do tempo, as vinhas ficaram tratadas, mas o vinho era de má qualidade até se começar a dizer 'este vinho foi feito pelo martelo'.
Não sei se foi exatamente o que aconteceu, mas o meu compadre, talvez há mais de trinta anos, quando foi descoberta uma grande quantidade de sacas de açúcar para misturar no vinho muito fraco, comentava que a vigarice era feita para os lados da Marteleira e o povo arranjou logo maneira de chamar ao vinho daquela região 'vinho feito a martelo'.
Como a Freguesia da Marteleira pertence à Lourinhã, melhor que ninguém que o Luís Graça para comentar esta história do vinho feito a martelo.

Ab.
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

E também não faltava o Conhaque Remy Martin e Don Perrinhão, o champagne Perrier Jouet, tudo francês.
Quanto a uísques havia de tudo, o que bebia no dia a dia, ou seja, várias vezes ao dia, era Johnny Walker, até tinha debaixo da minha cama sempre uma garrafa para beber de noite quando acordava. Os velhos uísques, eram menos bebidos por mim, pois era um desperdício misturar aqueles néctares com água e gelo cheio de bactérias.
Para que conste, veio no meu barco - o Uige - 3 caixotes(caixas maiores do que os caixões normais) de madeira boa da guiné, carregados de dezenas de garrafas do que havia de melhor e que eu comprava a minha parte e a parte dos outros que não queriam. Fui buscar aquilo num camião alugado, uns tempos depois de ter chegado, veio uma carta a informar que tinham lá 3 caixotes com o meu nome e morada. E assim fui ao RAP2 da Serra do Pilar levantar a minha encomenda. Fiquei com uma garrafeira maior do que os bares abertos naquela época, depois bebia-se e estragava-se bom Martins 20 anos, que custa agora uma fortuna, deitava-se fora meios copos pela banca abaixo, enfim, outros tempos da juventude.
A madeira que era para fazer qualquer mobília, ficou a apodrecer na casa dos meus pais e nem sei o que fizeram àquilo.
Ficamos então a aguardar os comentários do nosso camarada Luís Graça sobre os vinhos feitos a martelo lá para os lados das terras dos dinossauros.
Para complementar, recebíamos 'vinhos - salvo seja!' em garrafões de 5 litros e em garrafões de 20 litros empalhados. Os homens dos barcos turras, sabiam bem como fazer para sacar o vinho e por lá água do rio.
Tenho umas fotos disso, talvez venha a mandar.
Os nossos camaradas da CCaç 1586, lá tinham a celebre Casal Garcia, e mais outras bebidas que não identifico, e umas caixas de medicamentos, penso eu de que!.

Ab.
Virgilio Teixeira


Antº Rosinha disse...

A propósito do termo "Merda", embora aqui e também na França, o povo e escritores o usem com frequência, parece que em francês soa mais naturalmente, não se os meus ouvidos ficaram viciados com os filmes franceses do antigamente, mas como quero dizer, é que de todos os poetas e escritores portugueses do nossa geração quem mais sonoramente propositadamente usou esse termo foi Ary dos Santos e cantado por Fernando Tordo:

"Que merda...deixaram fugir mais de 89".

(89 polícias da Pide)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Talvez tenhas razão, Rosinha, "merde" em francês, é mais chique, e até é capaz de ir bem acompanhada, "la merde", com poesia, caviar e champagne... Mas em Português, é mesmo merda, e da grossa, feia e mal-cheirosa... Se calhar somos mais terra-a-terra, simples, diretos, frontais, pragmáticos... Afinal, somos filhos da bosta, e crescemos na merda... LG

PS - Não sei por que é que, cheio de prúridos, pús a merda com o m... inicial. Porra, este blogue não era meninas e meninos de coro... É para coirões, como nós...

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Eis o que diz o nosso dicionário:


merda | s. f. | interj. | s. 2 g.

mer·da |é|
(latim merda, -ae)
substantivo feminino
1. [Calão] Excremento humano ou de outros animais.Ver imagem

2. [Calão, Depreciativo] Porcaria, sujidade.

3. [Calão, Depreciativo] Coisa sem qualidade, sem importância ou sem utilidade (ex.: tira essas merdas daí; o serviço do hotel é uma merda). = BODEGA, PORCARIA

4. [Calão] Situação muito difícil ou problemática (ex.: o sócio fugiu com o dinheiro e deixou a empresa na merda).

interjeição
5. [Calão, Depreciativo] Exprime descontentamento, contrariedade, impaciência, irritação, raiva, repulsão. = BOSTA

6. [Calão] [Teatro] Exprime votos de boa sorte.

substantivo de dois géneros
7. [Calão, Depreciativo] Indivíduo cobarde, amoral ou sem dignidade (ex.: ele é um merda). = MERDAS

8. [Calão, Depreciativo] Indivíduo sem préstimo ou habilidade. = ASELHA


de merda
• [Calão, Depreciativo] De má qualidade (ex.: que livro de merda!).

fazer merda
• [Calão] Cometer um erro, enganar-se (ex.: acho que fiz merda no teste). = ERRAR

• [Calão] Fazer algo sem qualidade ou profissionalismo (ex.: eles só sabem fazer merda).

mandar à merda
• [Calão, Depreciativo] Mandar embora em tom insultuoso.


"merda", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/merda [consultado em 02-07-2018].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar e Virgílio:

Falar do vinho a martelo, na minha terra, Lourinhã, nos anos 70, é me "doloroso", por muitas razões... Poupem-me, talvez um dia "abra o livro"... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio e Valdemar:

... Mas podemos continuar a falar dos vinhos, de mesa, licorosos, brancos, tintos, rosés, verdes, maduros, dos aperitivos, dos digestivos, etc., que a gente conheceu e, em muitos casos, aprendeu a gostar na Guiné... A lista (tipos de bebiba, produtores, marcas...) é be,m vinda, pode-se ir completando..E o Virgílio tem uma memória de elefante...

Por exemplo, vodca russo ? Sim, "vodca" e não "vodka"... Não me lembro de ver vodca na Guiné... Agora é que se vê à fartazana, nos bares, para fazer os tais "shots" com que a nossa miudagem se inicia na "noite"... Por mim, um uisquinho ainda vai, o vodca, não, muito obrigado...

Anónimo disse...

Vamos então comentar mais um pouco.
Vodka? Sim havia e muito por onde passei! Será que andei nos sítios errados?
Vou tentar escrever o nome sem recurso ao Google - Stolychnaya!!! Deve estar mal o nome, mas não é confundível com mais nada. E era made in Russia, acho que até dizia na etiqueta, como no James Bond: 'From Russia with love'. Bebi e trouxe nos tais caixões umas 4 garrafas, e hoje quando quero vodka compro no supermercado desta marca, nunca comprei doutra.
E também tínhamos o RUM, mas vou ter que consultar o meu livro (inédito) onde lá tenho tudo, ou quase tudo, escrito.
O Fidel Castro além do Peralta também mandou algumas garrafas de Rum para a malta, talvez não chegasse para todos...

Eu vou mandar os nomes todos do que sei.

Ab, Virgilio